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ELETROBRÁS IAB RJ
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Instituto de Arquitetos do Brasil
Departamento Rio de Janeiro
Presidente
José Antônio Muniz Lopes Presidente
Diretor de Tecnologia Dayse Góis
Ubirajara Rocha Meira Vice-Presidente e Diretor Financeiro
Armando Mendes
ELETROBRÁS PROCEL Diretora Administrativa
Programa Nacional de Conservação de Adriana Larangeira
Energia Elétrica Diretor de Comissões
Marco Leão Gelman
Departamento de Projetos de Eficiência Energética
Diretor Cultural
Fernando Pinto Dias Perrone
Jorge Costa
Divisão de Eficiência Energética em Edificações
Solange Nogueira Puente Santos
Equipe Técnica
Anselmo Machado Borba
Frederico Guilherme Souto Maior de Castro
José Luiz Grunewald Miglievich Leduc
Patricia Zofoli Dorna
Rodrigo da Costa Casella
Ficha catalográfica
c129 IAB RJ
28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (Caderno de boas práticas em arquitetura : v.7)
Inclui Bibliografia
Publicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda.
ISBN 978-85-87083-13-5
CDD 720.472
2 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética
SUMÁRIO
03 Apresentação Diretoria da Eletrobrás
04 Editorial Presidente do IAB
05 Reportagem Jornalista Rose Cintra
Ecovilas: condomínio ambientalmente sustentável
08 Documento Arquiteta Giselle Arteiro Nielsen Azevedo
Lições de um urbanismo equatorial
11 Documento Arquiteto Mauro Almada
Caraíba: o desafio de Joaquim Guedes
14 Artigo Arquiteto Carlos Murdoch e Arquiteta Adriana Figueiredo
Cidades
19 Boas práticas Arquiteta Lúcia Rainho
As tecnologias ambientais nas ecovilas: sustentabilidade na arquitetura
23 Ensaio Arquiteto Jacques Jayme Hazan
Ilhas energéticas
26 Dicas
27 Créditos
APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que a Eletrobrás, por meio do Procel Edifica, se une ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para a
publicação deste “Caderno de Boas Práticas em Arquitetura”. A busca de soluções arquitetônicas sustentáveis é objeto do cuidado
da empresa há mais de 20 anos. As edificações são, atualmente, responsáveis por quase metade da energia elétrica gasta em
nosso país, sobretudo em decorrência da utilização de sistemas artificiais de iluminação e climatização. Não se pode, portanto,
desconsiderar esse importante segmento ao se investir na racionalização de energia – caminho mais seguro para o futuro energético
do país.
O desenvolvimento tecnológico, ao longo da história, tem permitido ao homem vencer inúmeras limitações impostas pela nature-
za. Na arquitetura, a modernização se reflete em soluções nas quais os recursos técnicos substituem cada vez mais os elementos
naturais. Crescem o conforto e a independência das edificações em relação ao ambiente externo, mas também a demanda por
energia elétrica.
No Brasil, o incremento das estruturas para geração, transmissão e distribuição de energia se acentuou entre as décadas de 1950
e 1960, como reflexo da demanda gerada pelo desenvolvimento industrial e o crescimento urbano. Nessa época, também marcada
pela criação da Eletrobrás, o modelo de planejamento ainda trabalhava com a idéia de uma oferta sempre superior à demanda,
assegurando confiabilidade no suprimento. Não havia preocupação com os desperdícios, nem tampouco conhecimento sobre o
modo como a sociedade utilizava essa energia.
A história mostrou, no entanto, que a construção de grandes empreendimentos geradores de energia exige altos investimentos,
além de produzir impactos significativos no meio ambiente. No caso do modelo brasileiro, apoiado essencialmente em hidrelétri-
cas, as conseqüências incluem alagamento de áreas produtivas e necessidade de deslocamento de comunidades inteiras. O
desenvolvimento da consciência sobre os limites dos recursos naturais e financeiros transformou a racionalização em palavra-
chave.
Para investir nessa idéia, foi criado, em 1985, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com propostas
de ações para incentivar o uso eficiente da energia. A enorme representatividade do segmento de edificações no perfil do consumo
brasileiro, por sua vez, motivou a criação do Procel Edifica – Eficiência Energética nas Edificações, que vem ampliando e direcionando
as ações da Eletrobrás em prol da racionalização do uso da energia e do aproveitamento dos recursos naturais nas edificações.
Por meio do Procel Edifica, a Eletrobrás investe nos requisitos básicos para uma arquitetura mais integrada ao meio ambiente e
aos recursos naturais, desenvolvendo indicadores de eficiência energética, certificação de materiais e equipamentos, procedimen-
tos para regulamentação e projetos educacionais.
Disseminar boas práticas para soluções arquitetônicas sustentáveis é uma ação que vai ao encontro dos grandes ideais da
empresa. A Eletrobrás acredita no aprendizado e na consciência como caminhos para o crescimento sustentável do país. E
acredita, sobretudo, na capacidade humana de promover soluções que aliem o desenvolvimento tecnológico ao aproveitamento
dos recursos ambientais na construção de um futuro limpo.
Diretoria da Eletrobrás
Ecovilas 3
EDITORIAL
Prezado(a) Leitor(a),
Dayse Góis
Presidente IAB RJ
Ecovilas 5
Ecocondomínios x ecovilas
Energia fotovoltáica A luz do sol pode se converter numa fonte de eletricidade extre- • independência da rede elé-
mamente abundante, renovável e gratuita, através das placas trica
fotovoltáicas. Ao contrário dos coletores para aquecimento de
água, que se aproveitam do calor do sol, os painéis solares con- • durabilidade
vertem a luminosidade em corrente elétrica. As placas são cons- • baixa manutenção
tituídas de células fabricadas com cristais de sílica e outros com-
ponentes formando uma superfície sensível à luz. Quando os
fótons (partículas de luz) atingem as células das placas, uma
pequena corrente elétrica é gerada nas moléculas de sílica.
Os painéis solares geram eletricidade em 12 volts corrente con-
tínua, que fica armazenada nas baterias para o uso posterior. A
4 - Apesar de requerer um grande investimento, painéis corrente elétrica de um painel não é suficiente para a ligação de
fotovoltáicos ainda são uma das melhores alternativas para uma
independência da rede elétrica convencional.
qualquer aparelho mas, acumulada ao longo do dia, é uma fonte
abundante e confiável. Com a ajuda de um inversor é possível
continuar a usar os mesmos equipamentos 110 ou 220 volts en-
contrados no mercado. A energia em 12 volts corrente contínua
é mais segura, mais simples e não expõe ao perigo de grandes
cargas geradoras de choques elétricos letais. As placas
fotovoltáicas no Brasil têm um custo ainda muito elevado, mas
aceitando-se o fato de que um sistema independente dispensa a
conta de luz, o valor investido é compensado em pouco tempo
através da economia. Devido ao seu alto padrão de qualidade, a
durabilidade de uma placa solar ultrapassa a marca dos 20 anos.
Sistemas fotovoltáicos não geram resíduos nem ruído, nem qual-
quer outro tipo de poluição e se aproveitam de um espaço geral-
mente ocioso quando instalados sobre um telhado.
Aquecedor solar de baixo custo (ASBC) Baseado nos modelos de aquecimento solar encontrados no • baixo custo de investimen-
mercado, o aquecedor solar de baixo custo utiliza um mesmo to
princípio: o termossifonamento. Porém o grande diferencial do
sistema está no custo e na facilidade da montagem. Os modelos • redução de até 60% da con-
convencionais são construídos utilizando encanamentos de co- ta de energia elétrica
bre e corpo de alumínio, e a água quente fica armazenada num
boiler sob pressão, ou seja, o sistema é de custo elevado, sendo
acessível apenas às famílias da classe alta. As famílias de baixa
renda, grande maioria da população, utilizam unicamente os chu-
veiros elétricos responsáveis por grande fatia da conta de luz. O
sistema foi desenvolvido pela ONG "Sociedade do Sol", a sua
montagem é simples e rápida, e o custo reduzido o suficiente
5 - O ASBC é usado para aquecer toda a água utilizada no
Ecocentro Ipec para as famílias de baixa renda. Seus componentes são encon-
trados na maioria das lojas de materiais de construção do país.
Um sistema para uma família de cinco pessoas pode ser monta-
do em um fim de semana e com um custo muito baixo
Energia eólica Desde os primórdios, o vento vem sendo utilizado a serviço da • custo menor, relativamen-
humanidade. Dos barcos a vela dos primeiros navegadores até te, que dos sistemas fotovol-
os moinhos de fabricação da farinha, o vento está presente em táicos
cada passo da evolução humana. O princípio do cata-vento alia-
do à alta tecnologia deu origem às turbinas eólicas, muito utiliza- • fonte renovável
das em barcos, áreas costeiras e regiões de vento constante
para a geração de energia elétrica. A energia eólica é uma fonte
de energia renovável e que, se gerada em pequena escala, não
causa nenhum impacto ao ambiente e é excelente para siste-
mas híbridos (solar/eólica) em locais de pouca insolação ou re-
giões com grandes períodos chuvosos e de pouco sol. Ideal para
6 - Um esquema de um gerador eólico. regiões de ventos constantes, como no litoral brasileiro.
1
Material cedido pelo Ecocentro – Ipec
Ecovilas 7
Documento
Ecovilas 9
em especial o interessante método de
se iniciar as construções pelas cobertu-
ras, posto que o período chuvoso, na
região, perdura por nove meses ao lon-
go do ano.
11 - Os estudos de insolação.
Notas
nas completas de carpintaria, marcena- e frutíferas – para sombreamento dos 1. O período 1953-2003 se refere ao prazo de 50
ria, serralheria, pintura e estofamento espaços externos e de lazer –, uma vez anos, concedido pela União para exploração da
foram montadas no canteiro de obras, que as árvores nativas da floresta úmi- mina. A construção das instalações industriais,
promovendo-se, paralelamente, a forma- da, de grande altura, se apóiam natural- ferrovia e porto de embarque consumiu três anos:
ção de mão-de-obra especializada nes- mente umas nas outras, não resistindo 1954-57. Só então, iniciou-se a extração do mi-
nério. O primeiro embarque do produto ocorreu
ses ofícios. Excepcionalmente, as ferra- de pé quando preservadas isoladamen-
em 1957 e as jazidas se esgotaram antes de
gens anticorrosivas das venezianas mó- te ou mesmo se agrupadas em peque- 2003. Segundo o contrato assinado, após o tér-
veis, especialmente projetadas em alu- nos bosques, como se imaginou a prin- mino da concessão, todo o patrimônio instalado
mínio, foram importadas dos Estados cípio. A execução das obras, no Amapá, pela Icomi na região – exceto a Vila Amazonas,
Unidos, por não haver, à época, forne- ficou a cargo da Construtora Amaral & junto ao Porto de Santana –, reverteria para a
União. Serra do Navio transformou-se em Muni-
cedor capacitado no Brasil. Mello Mattos Ltda., de São Paulo, que
cípio em 1992; Santana, em 1987.
desenvolveu processos construtivos ade-
O projeto paisagístico do complexo op- 2. A nota curiosa é que, após longos debates,
quados à rusticidade, precariedade dos optou-se por equipar as casas operárias com ca-
tou, acertadamente, pelo desmatamento meios, e adversidade climática da região, mas, ao invés de redes, decisão esta que se
total da área a ser urbanizada, e o pos- mostrou acertada. Os caboclos só utilizam es-
terior replantio de espécies decorativas tas por não poderem comprar aquelas.
3. Foi construído um reservatório de água não
tratada, para usos industriais, com capacidade
de 10 milhões de litros, e uma estação de trata-
mento, com capacidade de 1,2 milhões de litros/
dia de água potável.
4. A estação de tratamento dos esgotos domés-
ticos foi dimensionada para 1,2 milhões de litros/
dia.
5. Não conseguimos ter acesso a dados posteri-
ores a 1995.
Referências bibliográficas
RIBEIRO, Benjamin Adiron. Vila Serra do Navio:
Imagem 12 - Detalhes de esquadrias 13- Mobiliário projetado comunidade urbana na selva amazônica, proje-
to do engenheiro-arquiteto Oswaldo A. Bratke.
São Paulo: Pini, 1992.
SEGAWA, Hugo & MAZZA DOURADO, Guilher-
me. Oswaldo Arthur Bratke. São Paulo:
ProEditores, 1997.
DRUMMOND, José Augusto. Investimentos pri-
vados, impactos ambientais e qualidade de vida
num empreendimento mineral amazônico: o caso
da mina de manganês de Serra do Navio
(Amapá). Revista História, Ciência, Saúde: Man-
guinhos, vol. VI (suplemento), set. 2000, pp. 753-
792. Disponível online em: www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702000000500002&lng=en&nrm=iso.
Ecovilas 11
18- Vista aérea da cidade nova de Caraíba.
Notas
truções mais simples são geminadas e comunidade local reivindica, desde 1985, 1. A empresa foi privatizada em 1994.
as mais sofisticadas implantadas em a emancipação do distrito e sua eleva- 2. Equipe: Carlos Milan, Domingos de Azevedo,
centro de terreno. A primeira opção, pre- ção a município. O clima local é semi- Joaquim Guedes & Liliana Guedes; participação
dominante, visa diminuir o número de fa- árido quente – BSh, na classificação de especial do Professor Cândido Mendes de
ces expostas à radiação solar e à brisa Köppen – caracterizado pela baixa umi- Almeida.
quente e seca da região. As fenestrações dade do ar (em torno de 60%), precipita- 3. A lavra a céu aberto terminou em 1998, mas
prevê-se que as reservas subterrâneas do me-
são escassas e com dimensões mini- ção escassa (399 mm/ano), e tempera- tal só se esgotarão em 2011.
mizadas, pelo mesmo motivo. Guedes tura média anual de 24,2° C., com a mé- 4. Louis-Joseph Lebret (1897–1966), o ‘Padre
propôs, ainda, que as ruas fossem som- dia das máximas alcançando 29,6° C. e Lebret’, era economista e frade dominicano fran-
breadas com arborização farta, o que, a média das mínimas 20,3° C. O perío- cês. Em 1942, criou o centro de pesquisas Eco-
infelizmente não foi seguido. do chuvoso, na região, ocorre apenas nomia e Humanismo, além de inúmeras associ-
ações voltadas para o desenvolvimento comu-
entre os meses de novembro a maio. nitário. Incrementou o debate das questões so-
Caraíba, atual Pilar, fica situada a ciais no âmbito da Igreja Católica e foi um dos
9°53’16" de latitude Sul e 39°57’40" de Num certo sentido, pode-se firmar que o inspiradores da encíclica Populorum Progressio
longitude Oeste, distante 48 km de Ja- projeto Caraíba foi o maior desafio que (1967), do pontificado de Paulo VI. Com François
Perroux, desenvolveu uma abordagem pioneira
guarari, a sede municipal (altitude 662 Guedes enfrentou em sua brilhante car- do planejamento territorial, relacionando as ques-
m; 29.097 habitantes em 2007; IDH de reira; uma oportunidade única de por à tões do ambiente físico-geográfico aos proble-
0,646, em 2000). Possui a maior renda prova as teses que sempre defendeu mas do desenvolvimento. Em São Paulo, fun-
per capita da região e o mais baixo nível com tanta paixão, sem jamais se afastar dou a SAGMACS – Sociedade de Análises Grá-
ficas e Mecanográficas Aplicadas aos Comple-
de desemprego do Nordeste. Por isto, a dos primados soberanos da razão. xos Sociais –, talvez o primeiro escritório de Pla-
nejamento Territorial do Brasil.
Referências bibliográficas
BIERRENBACH, Ana Carolina. A Caraíba de Jo-
aquim Guedes: a trajetória de uma cidade no
sertão. In Arquitextos nº 87, agosto de 2007 (re-
vista eletrônica). Disponível online em: www.
vitruvius.com.br/arquitextos/arq087/
arq087_02.asp.
Acessado em: 3 de setembro de 2008
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim
Guedes. São Paulo: Cosac & Naify Edições,
2000.
GABRIELA, Ana. Pilar, um oásis no sertão
baiano. Recife: I DoCoMoMo Norte-Nordeste,
2006.
GUEDES, Joaquim. Caraíba: cidade aberta e na-
tural na forma de se implantar e crescer. In A
Construção em São Paulo, nº 1.751, 31 ago.
1981.
GUEDES, Joaquim. Um projeto e seus cami-
nhos. Tese de Livre-Docência. São Paulo, FAU/
22 - Vista aérea de uma das praças. USP, 1981.
Ecovilas 13
Artigo
CIDADES
Carlos Murdoch
Arquiteto UFRJ, Professor da Universidade Estácio de Sá – Curso de Arquitetura
Adriana Figueiredo
Arquiteta UGF, MA. Sustainability Design – East London University DEGIB, Professora da Universidade
Estácio de Sá – Curso de Arquitetura
Metrópole? do assim aos que viriam a ser identifica- o gerenciamento do lixo. O relatório de-
dos como os Três Pilares da Sustentabil- monstra que o modelo urbano atual é
O futuro de nossas cidades depende di- idade2. absolutamente falho. Um novo modelo
retamente das ações que tomamos hoje. se torna necessário, o qual não seja
Como o mundo atravessa um rápido pro- Alcançar a sustentabilidade não é uma embasado na idéia de que o ambiente é
cesso de urbanização, é urgente que as tarefa simples. A complexidade das es- ilimitado em termos de recursos nem um
cidades alcancem padrões de sustentabi- calas, a variedade de formas urbanas, a buraco sem fundo para dentro do qual
lidade imediatamente. Em 1950, 30% da relação que cada cultura possui com o podemos empurrar todo o nosso lixo. Se
população mundial habitavam em áreas meio ambiente que a cerca e a multiplici- todas as nações do mundo utilizassem
urbanas. Em 2003, a proporção aumen- dade de questões econômicas sugerem tantos recursos quanto os principais pa-
tou para 48%. Em 2030, a previsão é de que é impossível se chegar a algum con- íses poluidores, seriam necessários três
que 61% da população será urbana1. senso. Não existe uma solução única ou novos planetas para sustentar nosso es-
tilo de vida atual.
A busca da sustentabilidade foi inserida caminho óbvio a ser seguido, porém exis-
Não é mais aceitável se falar em redu-
na agenda dos governos e das ONGs tem estratégias e soluções que podem
ções percentuais ou em neutralidade. As
(organizações não governamentais) a se adaptar às particularidades dos vari-
cidades e os edifícios devem possuir um
partir da Conferência da ONU para o ados contextos urbanos.
índice negativo de carbono.
Meio Ambiente Humano (1972) e, pos-
teriormente, na Comissão Mundial para Em 2006, o World Wildlife Fund (WWF)3
Ambiente e Desenvolvimento (1987) e no publicou o segundo relatório Living Um novo modelo urbano
encontro do Rio de Janeiro (Rio 92). Nes- Planet, uma análise de como a humani-
ses eventos foram definidas metas para dade está usando (e abusando) o plane-
as cidades, as quais deveriam objetivar ta. Esta análise cobre todas as nações Qualquer futuro modelo urbano deverá
a viabilidade econômica, a equidade so- do mundo através de dados comparati- ser sustentável em seu cerne. As eco-
cial e ainda contribuir para a proteção vos dos mais variados temas, tais como nomias devem prosperar e as pessoas
ambiental de todas as espécies, aderin- o uso de água, o consumo de energia e terem o direito a alcançar uma vida prós-
Ecovilas 15
A cidade de Kalundborg na Dinamarca é
um exemplo prático do conceito de me-
tabolismo circular e ecologia artificial de
Girardet. As companhias locais em coo-
peração com a municipalidade criaram
um sistema simbiótico, no qual os resí-
duos de determinada empresa são utili-
zados como combustível para outra.
Notícias do Leste – a
experiência de Dongtan
Metabolismo circular
27- Dongtan
ciais, parques urbanos) será implantada arrefecimento. Turbinas eólicas posicio- e 90, Bogotá vivenciava uma situação
nadas na periferia irão complementar a de cidade sitiada (similar ao Rio de Ja-
de forma a incentivar a movimentação
base energética da cidade. neiro de nossos dias). O poder do nar-
na cidade através de bicicletas ou do
cotráfico, a extrema violência urbana
transporte coletivo em detrimento do uso
adicionada à pobreza típica das metró-
do automóvel. População, consciência, poles latino americanas e ao estado de
carbono e simbiose guerra civil (Farc) pareciam condenar a
Transporte: A cidade será interco-
cidade (e o país) a um permanente esta-
nectada por uma rede de passagens ex-
Questões sustentáveis não podem ser do de caos social. O movimento “Bogo-
clusivas para pedestres. Apenas carros tá Cómo vamos”11, o qual tem por base
“carbono zero” poderão transitar pela ci- apenas tratadas pela tecnologia em si.
Vivemos em uma sociedade do “joga- uma relação transparente e colaborativa
dade. Redes intranet conectarão as pes- entre o poder público e a sociedade ci-
soas no intuito de incentivar o “transpor- fora” (descarte) onde o desperdício é a
vil, alterou profundamente o cenário vi-
te solidário” (a popular carona). Os veí- regra. Necessitamos de soluções que
gente. Ao tornar as contas públicas trans-
culos de transporte público (ônibus, bon- conectem e conscientizem as pessoas
parentes e discutir com a população so-
des e táxis aquáticos) serão movimen- no sentido do momento atual e das ne- bre o direcionamento dos investimentos
tados a partir de tecnologias como célu- cessidades de ação. A Cidade do Méxi- públicos, o movimento conseguiu atrair
las combustíveis. Motocicletas serão co e Bombaim estão entre as maiores e e encorajar o cidadão a considerar a ci-
proibidas, sendo substituídas por moto- mais poluídas cidades do mundo. Ainda dade como uma extensão de sua casa,
netas elétricas e bicicletas. assim, a produção de lixo per capita é incentivando a participação coletiva e o
menor do que em qualquer lugar na Eu- espírito de cidadania. O programa conta
Edifícios: A densidade populacional ropa. A explicação é de que a reciclagem hoje com 16 focos de trabalho: pobreza
será incrementada, porém com o gaba- é um meio de vida para milhões de pes- e igualdade; finanças públicas; educa-
rito limitado em oito pavimentos. A utili- soas. A despeito das condições nas quais ção; saúde; serviços públicos; cultura;
zação de cobertura vegetal será o pa- esse processo é efetuado, essa simbiose participação; mobilidade urbana; espa-
drão. Serão incorporados painéis material provocada pela escassez de ço público; meio ambiente; descentrali-
Ecovilas 17
zação; responsabilidade e cidadania; se- o desenvolvimento urbano exponencial rão vender seus créditos. Paradoxalmen-
gurança; gestão pública; desenvolvimen- do último século, fomos obrigados a im- te o elemento carbono, que é a base bi-
to econômico e habitação. As ações con- plantar soluções de infra-estrutura de ológica da vida como a conhecemos,
catenadas conseguiram resultados sur- curto prazo. Decisões relativas a inves- encarna uma nova trindade: nele está
preendentes. As mortes violentas caíram timentos urbanos permanecem basea- contida toda a nossa existência, nosso
à metade graças a medidas para a con- das predominantemente no imediatismo fim ou nossa salvação.
tenção da violência urbana: o orçamen- em detrimento do planejamento de lon-
to para segurança pública dobrou, foram go prazo. Ao invés de aplicarmos solu- Habitamos nada mais do que um plane-
fixadas metas jurídicas claras de com- ções ferroviárias ainda construímos es- ta, somos um só povo dividindo o mes-
bate ao crime, punições severas para a tradas; ao invés de construirmos túneis, mo ar, a mesma água, a mesma terra e
corrupção policial e a aplicação da lei a mesma luz do sol. A sustentabilidade
erigimos viadutos; ao invés de nos vol-
seca.
tarmos para fontes de energia reno- deve se transformar em um meio de vida
O espaço público acaba por refletir a al- váveis, ainda extraímos energia à quei- aceito de forma genérica, total e irrestrita,
teração do status quo. Um milhão de ma de petróleo, gás e carvão. Os países ao invés de um mero assunto em esfe-
metros quadrados de novas praças e áre- em desenvolvimento têm a oportunida- ras científicas e intelectuais.
as de lazer ocupam o lugar de cortiços e de de aprender com erros dos países
antigos pontos de tráfico. Foi aplicado o industrializados e criarem um futuro
Notas
modelo de Curitiba de transporte coleti- adaptado às novas necessidades am-
vo (corredores de ônibus – Transmilênio). bientais. Observa-se que a mudança de 1 ONU, 2004.
O tráfego de veículos nas áreas centrais paradigma acontecerá predominante- 2 ONU, 2002
foi proibido, sendo aplicada uma cam- mente no hemisfério Sul, onde se locali-
3 www.panda.org/news_facts/publi-cations/
panha de incentivo às caminhadas e ao zam as cidades que apresentarão maior
living_planet_report/lp_2006/index.cfm.
uso de bicicletas. As calçadas foram am- crescimento no decorrer do século. A Acessado em: 1 de outubro de 2008.
pliadas e hoje a cidade possui 330 qui- oportunidade que se apresenta é única.
4 Megacidade é o termo normalmente empre-
lômetros de ciclovias, a maior extensão Não nos será oferecida uma segunda gado para se definir uma cidade que abriga uma
do mundo. A continuidade do trabalho in- chance. aglomeração urbana com mais de dez milhões
de habitantes e que esteja dotada de um rápido
dependente da gestão, o planejamento processo de urbanização. As megacidades atu-
das ações e a conexão direta da popula- Futuro? ais englobam mais de um décimo da população
ção com o poder público são caminhos urbana mundial e, tal como todas as grandes
para a sobrevivência das cidades. Este metrópoles que antes surgiram, polarizam so-
O desenvolvimento sustentável ainda bremaneira o comércio, a cultura, o conheci-
fato acontece independente da aplicação permanece como uma interrogação, não mento e a indústria.
de enormes quantias de recursos ou da existindo ainda uma definição metodo-
aplicação das últimas tecnologias. De- 5 Conurbação (do lat. urbis, cidade) é a unifica-
lógica, sendo extremamente difícil de ser ção da malha urbana de duas ou mais cidades,
pende apenas da vontade coletiva e está mensurado, previsto ou controlado. A em conseqüência de seu crescimento geográfi-
ao alcance de nossas ações. coerência nos trás a certeza de que os co. Geralmente esse processo dá origem à for-
mação de regiões metropolitanas. Contudo, o
modelos atuais não apresentam uma
surgimento de uma região metropolitana não é
matriz aceitável para as nações em de- necessariamente vinculado ao processo de
Além das soluções em senvolvimento. O novo modelo deve en- conurbação.
curto prazo contrar um equilíbrio entre os indivídu- 6 www.chicagotribune.com/features/lifestyle/
os, sociedade, economia e meio-ambi- green/chi-congestion-web-
Edifícios de aparência high-tech, carros ente. Não podemos continuar a abusar aug06,0,6010193.story Acessado em: 1 de ou-
último tipo, telefones celulares com co- do planeta como se este fosse uma fon- tubro de 2008.
mando de voz, roupas cibernéticas e etc. te de recursos infinita ou simplesmente 7 www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/
são um reflexo da busca de prazer ime- uma grande fossa na qual enterramos ult95u400406.shtml. Acessado em: 1 de outu-
bro de 2008.
diato e da “visão curta” de nosso estilo os dejetos da civilização humana. O pla-
de vida, o qual é genericamente basea- neta é finito e devemos modificar nos- 8 São Paulo – 18.8 milhões de habitantes x
do na busca de status social. Atualmen- sos processos. Chicago – 8.2 milhões de habitantes – áreas
metropolitanas.
te, vivemos imersos em equipamentos
de (aparente) última geração, os quais Avanços tecnológicos irão trazer novos 9 GIRARDET, Herbert – Cineasta, consultor e
autor de livros como: The Gaia Atlas of Cities e
nos fornecem uma ilusão de progresso. horizontes e novas soluções. A tecnolo- Making Cities Work, premiado com o Prêmio das
Os locais onde vivemos (nossas casas), gia por si só não irá fornecer uma saída Nações Unidas Global 500. Atua desde os anos
assim como os equipamentos e serviços e urge a necessidade de encontrarmos 90 em projetos relacionados com a sustentabili-
que fornecem suporte às nossas cida- novos padrões de comportamento cole- dade na cidade de Londres, sendo também con-
sultor para o projeto da cidade de Dongtan (Chi-
des (infra-estrutura) são ignorados e es- tivo. O carbono será eventualmente re- na).
quecidos. A infra-estrutura sobre a qual conhecido como um elemento capaz de
redistribuir a riqueza e a tecnologia. Os 10 CHP – Combined Heat & Power
habitamos foi construída por nossos an-
tepassados, estando em sua maior par- que poluem mais deverão arcar com 11www.bogotacomovamos.org. Acessado em:
te defasada e ineficiente. De acordo com seus custos. Os que não poluem, pode- 1 de outubro de 2008.
As ecovilas são exemplos de assen- samente integradas ao mundo natural, ção (cuja fase embrionária é denomina-
tamentos humanos que primam pela que sustenta o desenvolvimento huma- da comunidade intencional). Para os
sustentabilidade nos diversos aspectos no saudável para continuar de maneira ecovilenses, cada vez mais pessoas pre-
– ambiental, econômico, cultural, social indefinida no futuro. cisam tomar conhecimento da existên-
– e que, nas últimas décadas, têm dado cia de comunidades que priorizam a har-
ênfase à questão ambiental na arqui- Em 1995, foi criada a Rede Mundial de monia com a natureza, o respeito à vida
tetura. Ecovilas, a GEN (Global Ecovillage e aos seres vivos, para entender que é
Network), com o intuito de disseminar e possível crescer sem destruir o ambien-
As ecovilas são resultantes da união de compartilhar idéias e novidades nos âm- te natural e a si mesmo.
vários movimentos e o cohousing é o que bitos tecnológico, ambiental, cultural e
está mais relacionado à arquitetura. Este educacional para se viver de forma sus- As ecovilas do Brasil foram implantadas
trouxe um novo conceito de comunida- tentável, diminuindo o uso de recursos por brasileiros que fizeram treinamentos
de através da sensação de perten-cimen- naturais e ajudando a aumentar gradati- e cursos na Gaia Trust e demais ecovilas
to e da existência da verdadeira comuni- vamente as reservas da natureza. Em para obterem conhecimentos sobre o
dade que idealiza os mesmos sonhos 1997, o ENNA (Ecovillage Network of assunto e seus princípios. Visitaram co-
acredita nas mesmas coisas – prioriza a North America) transformou-se em ENA munidades e trouxeram para o país este
vida em grupo, em contato, a proximida- (Ecovillage Network of Américas) para modelo de assentamento humano. O
de entre os residentes, sem per-der a pri- englobar todas as comunidades do con- Brasil teve o Instituto de Permacultura
vacidade. E para um cohousing dar um tinente americano. do Cerrado (Ipec) como uma das primei-
passo além e se tornar uma eco-vila é ras ecovilas a se denominar como tal.
necessário adicionar a harmonia com a Atualmente, há mais de 15.000 ecovilas Segundo a GEN, há cerca de 30 ecovilas
natureza e a sustentabilidade sob um dos em todo o mundo: algumas com mais espalhadas pelo país e esse número está
aspectos já mencionados. de 50 anos de existência como Findhorn aumentando visto que inúmeros assen-
(Escócia); outras em processo de forma- tamentos humanos estão sendo implan-
Em uma ecovila, o que mantém a unida-
de é o que os ecovilenses chamam de
“cola”, pois é a liga (união) entre mora-
dores fazendo-os permanecer no local
para buscar a melhoria do ambiente onde
vivem.
Ecovilas 19
tados com base nos princípios das lizando todas as tecnologias ambientais
ecovilas. Elas têm diferentes propostas, mencionadas. Encontram-se ecovilas
mas entendem que é vital proteger a preocupadas com a gestão da água ou
imensa reserva ambiental existente no das energias, mas os métodos constru-
país (florestas, cursos d’água e recursos tivos são os tradicionais (tijolo furado de
naturais) através da minimização do im- barro cozido, bloco de cimento); ou en-
pacto que qualquer tipo de ação antró- tão uma arquitetura bioclimática e méto-
pica cause à natureza proporcionando dos construtivos dentro da busca pela
aos habitantes o real sentimento de sustentabilidade, mas sem a gestão do
pertencimento, da busca pela igualdade lixo ou da água. Enfim, não há uma eco-
social, do conforto ambiental, da quali- vila que possa ser considerada modelo,
dade de vida e do desenvolvimento eco- mas há as que estão implantando as
nômico preocupado em integrar e não tecnologias ao longo dos anos e que, em
destruir. breve, conseguirão tê-las para tornar-se
28 - Detalhe do sanitário seco
mais próximas da sustentabilidade
O quadro na página anterior indica o ca- compostável. Adaptado pela autora.
ambiental.
minho já trilhado pelas principais ecovilas
no mundo e a primeira ecovila do Brasil. Devido a isso, vamos enfatizar as princi-
Pode-se observar a localização, ano de pais tecnologias utilizadas nas ecovilas
origem, cola e quais tecnologias ambien- que podem ser implantadas em unida-
tais são utilizadas por elas. des residenciais uni e multifamiliares,
unidades comerciais, de saúde entre
Afinal, como disse Margareth Mead, nin- outras.
guém duvide que um pequeno grupo de
cidadãos consiga mudar o mundo. Na Tanto na ecovila Ipec como na Parque
verdade, esta é a única maneira disso Visão Futuro é possível observar como
acontecer. o terreno de cada uma foi aproveitado
para a implantação das tecnologias
As tecnologias ambientais ambientais sem necessidade de destruir
nas ecovilas brasileiras as áreas verdes existentes.
Ecovilas 21
ECOOVILA 1
– espécies controladas e imunizadas
pelo manejo correto.
FICHA TÉCNICA:
Local: R. João Passuelo, 130 Vila Nova,
Porto Alegre – RS
Arquiteto: Otávio Urquiza Chaves
Área do empreendimento: 26.000 m2
com 28 residências
1 Centro de Trabalho e Educação
Ambiental
1 Bosque do Silêncio: 10.000 m2 de
proteção de animais silvestres e
educação ambiental
33 - Ecoovila Área construída: 288 m2
Posição: norte solar
Paredes: duplas com tijolos da região
A Ecoovila objetiva um ecossistema equi- tetônicos da Ecoovila 1 com caracterís- Esquadrias: vidros duplos em madeira
librado e produtivo para o convívio har- ticas de sustentabilidade, apontando tradicional
Telhado: vivo com plantas suculentas e
monioso entre seus moradores e a natu- para edificações autônomas, infra-estru- telhados com aquacultura
reza, obtendo a facilitação de bens e ser- tura ecológica e paisagismo produtivo. Aquecimento da água: solar em série
viços, tais como produtos alimentares, com aquecedor a gás de oito litros
Materiais e tecnologias Aquecimento ambiental: lareira eficiente
abastecimento de água, com emissão e sol
mínima de resíduos para o meio urba- apropriadas: Refrigeração: espirais e ervas e
no. Com isto, obtêm-se a diminuição do temperos e escadas chaminé
Para o desenvolvimento dos projetos, Cobertura dos automóveis: parreiras
custo de manutenção da habitação e da retráteis – produção de uvas e vinhos em
buscaram-se tecnologias novas e apro-
poluição do meio ambiente. parceria com produtores seculares da
priadas, a fim de obter maior conforto região
Assim criam-se Ecoovilas, com a otimiza- térmico, rapidez, menores custos de exe- Energia elétrica: inexistência de
cução e, principalmente, menor impacto instalação de chuveiro elétrico e ar
ção das fontes energéticas (água, sol, condicionado
vento e biológica), integradas aos ele- sobre o meio ambiente. Esgotos: águas negras (cloacal):
mentos construídos, isto é, as edifica- sistemas de fossas duplas com fluxo
Acreditou-se na baixa “pegada ecológi- vertical – separador de sólidos e líquidos
ções, a infra-estrutura e o paisagismo, – posteriormente dirigidos a BioFiltros
ca” do tijolo cerâmico que, quando pro-
sendo: interfaciando o paisagismo; águas cinzas:
duzido na região, ainda é um excelente chuveiros, pias, lavar roupas, cozinha
edificações mais autônomas material com custo energético regular e sistema de separação, dirigidas para
aceitação pelas famílias como algo du- BioFiltros de fluxo horizontal, resultando
paisagismo máximo e produtivo em córregos paisagísticos diários.
radouro. Paisagismo: produtivo e permaculturas;
infra-estrutura mínima e integrativa
interface com edificação e infra-estrutura;
fechamento dos ciclos das águas Utilizaram-se materiais a partir de madei- espirais de ervas e temperos; círculos de
ras renováveis, que desponta como o bananeiras; mandalas de hortaliças;
tratamento biológico dos esgotos pomares; canteiros de ervas e temperos
caminho para o desenvolvimento susten- atrativos de fauna.
manutenção de fauna e intensificação
tável, como as toras de eucalípto de re- Infra-estrutura ecológica e
biológica interdependente
florestamento, com selo ecológico, para
Captação das águas de chuva:
A área se caracteriza por riqueza paisa- fazer as estruturas autônomas das edifi- biológica, não há captação física
gística, contendo condicionantes sig- cações, preenchidas por alvenarias ou Reutilização dos córregos
nificativos que demandam percepção chapas de compensado OSB (lascas de paisagísticos formados por águas
tratadas para reutilização
cuidadosa e estratégica construção, pinnus eliotys), como é o caso da cons- Iluminação noturna de pátios: mínima,
minimizando contradições com órgãos trução da sede da Arcoo e da casa 11. com sensores de presença que servem
públicos e moradores. também como alarmes silenciosos e
Utilizou-se a espécie de eucalípto Lyptus manutenção da percepção da abóboda
celeste e estelar.
A partir da definição do “Programa Ne- da Aracruz da Bahia, em diversos itens, Pavimentação mínima drenante:
cessidades” proposto inicialmente pela como pisos, móveis e deques. O eucalip- inicialmente britas com córregos,
cooperativa, resultaram os projetos arqui- to manejado, de Harmonia e o da CEEE posteriormente concregrama
ILHAS ENERGÉTICAS
Jacques Jayme Hazan
Arquiteto, Diplomado em Études en Dévelopment et Aménagement du Territoire, IRFED, Paris, 1968; autor
dos estudos das Ilhas Energéticas.
Ecovilas 23
indo uma dinâmica social e institucional. pelo pequeno porte, pela forte interde- Promover uma maior integração territo-
Estratégico, porque entre seus objetivos, pendência regional, inter-setorial e de rial dentro de uma política de organiza-
imediatos ou de curto prazo, propõe-se consumo, com utilização intensiva de ção do território – espaços rural e urba-
a produzir insumos energéticos e alimen- mão de obra e utilização de tecnologias no regional num movimento do interior
tos de forma racional e organizada, in- adequadas ou intermediárias (inovação para os centros, capaz de diminuir o atual
serindo-se na programação prioritária go- sem dominação). processo migratório rural-urbano;
vernamental do Pró-álcool, da Biomassa,
e da produção alimentar, agregada a uma Embora contendo uma ou mais unida- participar do esforço nacional de cres-
perspectiva de reestruturação agrária e des agro-industriais, indutoras ou motri- cimento do setor agro-pecuário, melho-
regional vinculada a um processo de par- zes do desenvolvimento (baterias), es- rias tecnológicas, expansão das frontei-
ticipação social. tas procuram ser auto-suficientes do pon- ras agrícolas e implantação de agro-in-
to de vista energético e propulsoras do dústrias com base em auto-suficiência
Evidentemente, o conceito de “ilhas eco- desenvolvimento rural integrado, inte- energética, ocupação de mão de obra
nômicas” é vizinho aos de “pólos de de- ragindo com as estruturas sociais exis- ociosa e emprego de tecnologias ade-
senvolvimento”, também chamados de
tentes ou em formação e com o meio fí- quadas;
pólos de crescimento, indústria-motriz,
sico-territorial. Isto caracteriza as célu-
etc., muito desenvolvidos por Francois promover o desenvolvimento rural in-
las como processo participativo com
Perroux, J. Boudeville, J. Paelinck, J.B. tegrado, possibilitando um processo de
Parr, Friedman, entre outros. Estes con- conotações tanto técnico-econômicas
como sócio-territoriais, o que lhes agre- estruturação agrária, de organização e
ceitos foram ainda tratados em linha de
ga ainda uma conotação associativa não ação comunitárias, bem como promoção
proposta de uma “política nacional de
só de interesse privado, como público e de atividades associativistas e coope-
pólos planejados” para o Brasil por Ha-
milton C. Tolosa – em seu artigo “Pólos comunitário, sendo desejável a partici- rativistas;
de Crescimento” – teoria e política eco- pação governamental catalisadora de um
participar do esforço nacional de eco-
nômica, publicado nos Cadernos do Ipea processo associa-tivista e cooperativista
nomia de combustíveis, transporte e
– série monográfica nº 8 de 1972. de ação comunitária, e reguladora das
energia, mediante uma reestruturação
possíveis tensões e atritos.
No entanto, o conceito que se pretende gradual do sistema urbano e de suas li-
para as “Ilhas Econômicas”, agora de- Como resultado da análise acima, pode- gações. Isto levaria a uma estruturação
nominadas de “Ilhas Energéticas” ou “Cé- se acrescentar, ainda, que o conceito de de redes urbanas regionais, integradas,
lulas de Desenvolvimento”, liberando-se célula tem muito em comum com o de auto-suficientes energeticamente, e com
nominalmente das impregnações cita- pólo, mais no sentido geo-econômico sustentabilidade economicamente, ten-
das, e adquirindo mais plenamente suas que lhe conferem Boudeville, J., Parr, JB dendo ao condicionamento dos espaços
características de inserção celular numa e Friedman, como espaços contíguos e urbanos e rurais a novas formas, como
realidade social concreta e, ao mesmo contínuos (regiões: plano, polarizada e cidade-território, agrovilas energéticas e
tempo, de “bateria” indutora de um pro- até mesmo homogêneas), promovendo alimentares etc.
cesso de desenvolvimento auto-susten-
a médio e longo prazo o equilíbrio de di-
tado microrregional, afasta-se em parte
ferentes regiões e a diminuição do êxodo Estrutura esquemática e
do conceito de pólo de crescimento, de
rural, assim como mudanças estruturais, genérica das células
desenvolvimento ou indústria-motriz,
pelo que se segue: dando margem a uma permanência ru-
ral das populações em atividades não
microrregionais de
O conceito de pólo de crescimento, e exclusivamente agro-pecuárias. desenvolvimento.
especialmente o de indústria-motriz,
condiciona-se a um efeito de dominação Um programa nacional de implantação As células constituem-se de núcleos e/
e inovação que parte do centro para a de células de desenvolvimentos micror- ou setores, de faixas de áreas e se inter-
periferia, caracterizado basicamente pelo regionais, apresentaria, assim, do ponto ligam por eixos a outras células ou cen-
grande porte, pela elevada taxa de cres- de vista de política nacional de desen- tros maiores, inclusive pólos de desen-
cimento superior à média regional, e ain- volvimento, os seguintes objetivos: volvimento, no sentido integral-urbano-
da pela forte interdependência industrial regional.
e de mercado, com utilização intensiva complementar as metas nacionais de
de capital. substituição parcial e gradual de gasoli- Núcleos são assim, os elementos bási-
na por álcool motor, em conjunto com ou- cos de uma célula. Estas, podem se
O conceito de célula microrregional de tros projetos inseridos no âmbito do Pró- constituir de dois ou mais núcleos, con-
desenvolvimento não equivale a um álcool; forme os objetivos do programa, as pe-
desmembramento modular ou quantita- culiaridades locais e a dinâmica de seu
tivo do conceito de pólo de crescimento, participar da promoção de um progra- crescimento e desenvolvimento.
embora, com ele, tenha bastante em co- ma de óleos vegetais com finalidades
mum na forma ou aparência. Trata-se, não só alimentares, mas especialmente Definem-se assim núcleos energéticos,
no entanto, de um conceito qualitativo energéticas de complementação e inte- alimentares, comunitários, etc. confor-
diferente, partindo da periferia para o gração das metas de substituição gra- me os objetivos sócio-econômicos que
centro, caracterizado essencialmente dual de derivados de petróleo; os caracterizam.
Ecovilas 25
Dicas
ENA
Ecocentro–Ipec
É a representante do Hemisfério Ocidental na GEN. Trabalha
Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado – é uma orga-
para unir as culturas das Américas do Norte, Central, do Sul e
nização estabelecida em Pirenópolis, Goiás, para desenvol-
o Caribe de maneira que se tornem uma força unificada nos
ver oportunidades de educação e referências em sustenta-
movimentos sustentáveis e de ecovilas.ena.ecovillage.org/
bilidade para o Brasil. www.ecocentro.org/inicio.do, acessado
English/region/index.html, acessado em: 09 de agosto de 2008.
em: 09 de agosto de 2008.
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