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br

ELETROBRÁS IAB RJ
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Instituto de Arquitetos do Brasil
Departamento Rio de Janeiro
Presidente
José Antônio Muniz Lopes Presidente
Diretor de Tecnologia Dayse Góis
Ubirajara Rocha Meira Vice-Presidente e Diretor Financeiro
Armando Mendes
ELETROBRÁS PROCEL Diretora Administrativa
Programa Nacional de Conservação de Adriana Larangeira
Energia Elétrica Diretor de Comissões
Marco Leão Gelman
Departamento de Projetos de Eficiência Energética
Diretor Cultural
Fernando Pinto Dias Perrone
Jorge Costa
Divisão de Eficiência Energética em Edificações
Solange Nogueira Puente Santos
Equipe Técnica
Anselmo Machado Borba
Frederico Guilherme Souto Maior de Castro
José Luiz Grunewald Miglievich Leduc
Patricia Zofoli Dorna
Rodrigo da Costa Casella

Ficha catalográfica

c129 IAB RJ

Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações :


Ecovilas. - Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2009.

28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (Caderno de boas práticas em arquitetura : v.7)

Inclui Bibliografia
Publicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda.

ISBN 978-85-87083-13-5

1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I.


ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III.
Título: Ecovilas. IV. Série

CDD 720.472
2 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética
SUMÁRIO
03 Apresentação Diretoria da Eletrobrás
04 Editorial Presidente do IAB
05 Reportagem Jornalista Rose Cintra
Ecovilas: condomínio ambientalmente sustentável
08 Documento Arquiteta Giselle Arteiro Nielsen Azevedo
Lições de um urbanismo equatorial
11 Documento Arquiteto Mauro Almada
Caraíba: o desafio de Joaquim Guedes
14 Artigo Arquiteto Carlos Murdoch e Arquiteta Adriana Figueiredo
Cidades
19 Boas práticas Arquiteta Lúcia Rainho
As tecnologias ambientais nas ecovilas: sustentabilidade na arquitetura
23 Ensaio Arquiteto Jacques Jayme Hazan
Ilhas energéticas
26 Dicas
27 Créditos

APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que a Eletrobrás, por meio do Procel Edifica, se une ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para a
publicação deste “Caderno de Boas Práticas em Arquitetura”. A busca de soluções arquitetônicas sustentáveis é objeto do cuidado
da empresa há mais de 20 anos. As edificações são, atualmente, responsáveis por quase metade da energia elétrica gasta em
nosso país, sobretudo em decorrência da utilização de sistemas artificiais de iluminação e climatização. Não se pode, portanto,
desconsiderar esse importante segmento ao se investir na racionalização de energia – caminho mais seguro para o futuro energético
do país.
O desenvolvimento tecnológico, ao longo da história, tem permitido ao homem vencer inúmeras limitações impostas pela nature-
za. Na arquitetura, a modernização se reflete em soluções nas quais os recursos técnicos substituem cada vez mais os elementos
naturais. Crescem o conforto e a independência das edificações em relação ao ambiente externo, mas também a demanda por
energia elétrica.
No Brasil, o incremento das estruturas para geração, transmissão e distribuição de energia se acentuou entre as décadas de 1950
e 1960, como reflexo da demanda gerada pelo desenvolvimento industrial e o crescimento urbano. Nessa época, também marcada
pela criação da Eletrobrás, o modelo de planejamento ainda trabalhava com a idéia de uma oferta sempre superior à demanda,
assegurando confiabilidade no suprimento. Não havia preocupação com os desperdícios, nem tampouco conhecimento sobre o
modo como a sociedade utilizava essa energia.
A história mostrou, no entanto, que a construção de grandes empreendimentos geradores de energia exige altos investimentos,
além de produzir impactos significativos no meio ambiente. No caso do modelo brasileiro, apoiado essencialmente em hidrelétri-
cas, as conseqüências incluem alagamento de áreas produtivas e necessidade de deslocamento de comunidades inteiras. O
desenvolvimento da consciência sobre os limites dos recursos naturais e financeiros transformou a racionalização em palavra-
chave.
Para investir nessa idéia, foi criado, em 1985, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com propostas
de ações para incentivar o uso eficiente da energia. A enorme representatividade do segmento de edificações no perfil do consumo
brasileiro, por sua vez, motivou a criação do Procel Edifica – Eficiência Energética nas Edificações, que vem ampliando e direcionando
as ações da Eletrobrás em prol da racionalização do uso da energia e do aproveitamento dos recursos naturais nas edificações.
Por meio do Procel Edifica, a Eletrobrás investe nos requisitos básicos para uma arquitetura mais integrada ao meio ambiente e
aos recursos naturais, desenvolvendo indicadores de eficiência energética, certificação de materiais e equipamentos, procedimen-
tos para regulamentação e projetos educacionais.
Disseminar boas práticas para soluções arquitetônicas sustentáveis é uma ação que vai ao encontro dos grandes ideais da
empresa. A Eletrobrás acredita no aprendizado e na consciência como caminhos para o crescimento sustentável do país. E
acredita, sobretudo, na capacidade humana de promover soluções que aliem o desenvolvimento tecnológico ao aproveitamento
dos recursos ambientais na construção de um futuro limpo.
Diretoria da Eletrobrás

Ecovilas 3
EDITORIAL
Prezado(a) Leitor(a),

Dayse Góis
Presidente IAB RJ

4 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Reportagem

ECOVILA: CONDOMÍNIO AMBIENTALMENTE


SUSTENTÁVEL
Rose Cintra
Jornalista
Ao redor do mundo, as ecovilas somam em entrevista à agência MaxPressNet. do consumo de energia elétrica, uma vez
mais de 15 mil unidades, algumas com É dele o projeto de construção de uma que condicionadores de ar, ventiladores
30 anos de atividade. Se antes eram mo- ecovila às margens do Rio Pinheiros, na e bombas de sucção passam a ter uma
vidas pelo conceito de paz e amor, hoje capital paulista, que recebeu aplausos menor ou nenhuma utilização.
defendem a sustentabilidade. De acor- na Universidade de Oxford, Inglaterra.
do com a definição mais corrente, uma
ecovila é um assentamento completo, de No Brasil, as ecovilas utilizam as técni- Fontes de energia
proporções humanamente manejáveis, cas de arquitetura bioclimática e biocons-
que integra as atividades humanas no trução, unindo antigos processos às no-
ambiente natural, sem degradação, e Como fontes de energia, as ecovilas se
vas tecnologias. Entre as soluções mais valem da biocompostagem (banheiro
que sustenta o desenvolvimento saudá- difundidas estão o aproveitamento da ilu-
vel de forma contínua e permanente. seco) para geração de gás e produção
minação zenital (entrada de luz por aber- de fertilizantes naturais, aquecedor so-
turas superiores), brises (dispositivo uti- lar de baixo custo (cuja temperatura da
A Global Ecovillage Network (GEN), uma lizado para impedir a incidência direta de
das mais conceituadas entidades repre- água pode chegar a 65° C), energia
radiação solar no interior de uma cons- eólica, painéis fotovoltáicos (ainda de
sentativas do segmento, acredita que as trução), ventilação cruzada, pé direito
ecovilas são uma solução para um dos custo muito alto) e energia da água. Para
alto, captação e armazenamento das a bioconstrução, são utilizados preferen-
maiores problemas da atualidade – o águas pluviais, tratamento de água cin-
consumo predatório dos recursos natu- cialmente materiais locais e os encon-
za (utilizada em chuveiros e cozinhas), trados no subsolo.
rais. “A possibilidade de integrar as ne- tratamento de águas negras com fossas
cessidades de conforto e qualidade de de bananeira e teto verde.
vida a uma forma ética e sustentável de Um caso de sucesso comercial é a Eco-
viver é a grande sacada deste segmen- vila Santa Branca, em Terezópolis de
to”, afirma o arquiteto Marcelo Todescan, Embora sejam de difícil mensuração, Goiás. Distante 25 km de Goiânia, tem
uma das lideranças da GEN no Brasil, essas soluções implicam numa redução o formato de condomínio numa área de

1 - Ecovila São Paulo – projeto do arquiteto Marcelo Todescan

Ecovilas 5
Ecocondomínios x ecovilas

O interesse dos estrangeiros em partici-


par de projetos socioambientais no Bra-
sil é plenamente explicável, na visão de
Peter Van Lengen, do Tibarose – Centro
de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetu-
ra. “O Brasil é mais alegre do que qual-
quer país europeu. O clima é mais agra-
dável, a comida é mais saudável e o de-
senvolvimento social é mais saudável
também”, afirma, acrescentando que na
Europa “as pessoas são mais robóticas
e estão mais afastadas da natureza”.

Para Peter, o Brasil não tem nenhuma


ecovila, no sentido estrito do termo. “Os
índios afastados da civilização são mo-
2 - Santa Branca: teto verde, energia solar e 90% de material local delos de ecovila, totalmente auto-susten-
táveis. Alguns grupos religiosos do Dai-
me também podem ser considerados
180 hectares, com 335 lotes, onde an- em lançar a Ecoovila 2, nos mesmos
ecovilas, mas eles não fazem propagan-
tes existia uma fazenda de pecuária bo- moldes. Visando o melhor aproveitamen-
da. Comunidades carentes se aproxi-
vina. A área foi recuperada e os morado- to de materiais e o mínimo de desperdí-
mam do conceito de auto-sustentabilida-
res seguem as regras ambientais para a cio, Urquiza considera a durabilidade, o
de das ecovilas, por pura necessidade
proteção do solo e conservação da biodi- custo e se são saudáveis para os operá-
de sobrevivência, na medida em que há
versidade. rios e para os futuros moradores. As
pouco desperdício de recursos naturais,
construções respeitam o terreno, com
alimentos e materiais”, explica. No seu
O investimento de R$ 6 milhões deu “terraplanagem e impermeabilização
entender, está havendo uma transição,
um bom resultado: já foram comercia- zero”.
“uma vez que não se pode fazer uma mu-
lizados 85% dos lotes e 30 casas estão dança radical. O que existe são os
construídas. Para Antonio Zayek, ideali- ecocondomínios.”
No modelo de Urquiza, as edificações
zador do projeto, a sustentabilidade pode
são termo-acústicas, com paredes de ti-
ser um negócio com ótimo retorno eco- A construção de ecovilas é uma das li-
jolo duplo, a fim de conservar melhor a
nômico. nhas de ação da permacultura – um mé-
temperatura interna (fresca no verão e
quente no inverno) e os vidros das jane- todo holístico para planejar, atualizar e
las também são duplos, para evitar os manter sistemas de escala humana (jar-
O arquiteto Henrique Pinheiro assina al-
ruídos desagradáveis e manter a tem- dins, vilas, aldeias e comunidades) am-
guns projetos no empreendimento. Ele
peratura. As casas estão voltadas para bientalmente sustentáveis, socialmente
explica que a energia elétrica é ligada
o norte solar, promovendo maior incidên- justos e financeiramente viáveis.
na rede municipal. “Os painéis fotovol-
táicos são ainda inviáveis no Brasil (pelo cia de raios de sol no inverno e uma
alto custo de sua fabricação) e para os menor no verão. O Instituto de Permacultura e Ecovilas
padrões (de grande consumo energético) da Pampa (IPEP), em Bagé (RS), desen-
que estamos acostumados a viver. Mas volveu um modelo de habitação de bai-
todos os projetos contemplam uma mai- Na linha do turismo sustentável, Stelio xo custo e alta eficiência energética, uti-
or eficiência energética pelo aproveita- Golla construiu em Nova Viçosa, Sul da lizando fardos de trigo e arroz. As pare-
mento solar, um correto posicionamento Bahia, a Ecovila Caminho de Abrolhos. des têm a espessura de 43 cm rebo-cada
da edificação e aquecedores solares para São 1733 lotes, medindo em média de barro. Para João Rockett, diretor do
os chuveiros.” 450m2, num investimento de R$ 20 mi- IPEP, a técnica com fardos é sem dúvi-
lhões. O partido arquitetônico considera da a mais térmica. “Conseguimos em
a construção com tijolo ecológico, ilumi- média 14º de diferença e uma umidade
nação zenital e ventilação cruzada. No média de 47 a 52%”, acrescenta. Seu
Construções saudáveis
modelo de casa de 80 m2 é utilizado o telhado, com cerca de 30 cm de espes-
tijolo solo-cimento auto-portante, caixi- sura é de “capim Santa Fé”, que nasce
Em Porto Alegre, o arquiteto Otávio Ur- lhos de madeira de reflorestamento, sis- espontaneamente em toda a Pampa
quiza criou a Ecoovila 1, com 26 unida- tema de aproveitamento de águas da Gaúcha: “É uma excelente cobertura
des de 2 e 3 quartos.O empreendimento chuva, captação de energia solar e te- renovável e termicamente muito boa.”
deu tão certo que ele já está pensando lha de barro.

6 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


FONTES ALTERNATIVAS PARA GERAÇÃO DE ENERGIA 1 VANTAGENS
Eletricidade que vem da água A água é um recurso natural abundante em nosso planeta. Água • baixo custo
em movimento significa energia e a energia da água pode ser
• geração de energia 24 ho-
convertida em eletricidade de forma limpa e eficiente. As turbi-
ras por dia
nas hidráulicas funcionam acopladas ao gerador e são impulsio-
nadas pela água corrente, seja num rio ou até mesmo num pe-
queno córrego onde exista desnível. Pequenas turbinas têm custo
relativamente baixo se comparadas aos sistemas fotovoltáicos,
porém seu uso se torna inviável em zonas urbanas devido à ne-
cessidade de uma fonte de água corrente. Uma das grandes
vantagens do sistema é o fato de que o sistema funciona 24
horas por dia, independente de sol ou vento. Dessa forma, mes-
mo um pequeno gerador, que armazena em baterias, tem um
3 - Um simples invento pode converter o movimento da água em rendimento diário muito elevado.
uma energia limpa e eficiente

Energia fotovoltáica A luz do sol pode se converter numa fonte de eletricidade extre- • independência da rede elé-
mamente abundante, renovável e gratuita, através das placas trica
fotovoltáicas. Ao contrário dos coletores para aquecimento de
água, que se aproveitam do calor do sol, os painéis solares con- • durabilidade
vertem a luminosidade em corrente elétrica. As placas são cons- • baixa manutenção
tituídas de células fabricadas com cristais de sílica e outros com-
ponentes formando uma superfície sensível à luz. Quando os
fótons (partículas de luz) atingem as células das placas, uma
pequena corrente elétrica é gerada nas moléculas de sílica.
Os painéis solares geram eletricidade em 12 volts corrente con-
tínua, que fica armazenada nas baterias para o uso posterior. A
4 - Apesar de requerer um grande investimento, painéis corrente elétrica de um painel não é suficiente para a ligação de
fotovoltáicos ainda são uma das melhores alternativas para uma
independência da rede elétrica convencional.
qualquer aparelho mas, acumulada ao longo do dia, é uma fonte
abundante e confiável. Com a ajuda de um inversor é possível
continuar a usar os mesmos equipamentos 110 ou 220 volts en-
contrados no mercado. A energia em 12 volts corrente contínua
é mais segura, mais simples e não expõe ao perigo de grandes
cargas geradoras de choques elétricos letais. As placas
fotovoltáicas no Brasil têm um custo ainda muito elevado, mas
aceitando-se o fato de que um sistema independente dispensa a
conta de luz, o valor investido é compensado em pouco tempo
através da economia. Devido ao seu alto padrão de qualidade, a
durabilidade de uma placa solar ultrapassa a marca dos 20 anos.
Sistemas fotovoltáicos não geram resíduos nem ruído, nem qual-
quer outro tipo de poluição e se aproveitam de um espaço geral-
mente ocioso quando instalados sobre um telhado.
Aquecedor solar de baixo custo (ASBC) Baseado nos modelos de aquecimento solar encontrados no • baixo custo de investimen-
mercado, o aquecedor solar de baixo custo utiliza um mesmo to
princípio: o termossifonamento. Porém o grande diferencial do
sistema está no custo e na facilidade da montagem. Os modelos • redução de até 60% da con-
convencionais são construídos utilizando encanamentos de co- ta de energia elétrica
bre e corpo de alumínio, e a água quente fica armazenada num
boiler sob pressão, ou seja, o sistema é de custo elevado, sendo
acessível apenas às famílias da classe alta. As famílias de baixa
renda, grande maioria da população, utilizam unicamente os chu-
veiros elétricos responsáveis por grande fatia da conta de luz. O
sistema foi desenvolvido pela ONG "Sociedade do Sol", a sua
montagem é simples e rápida, e o custo reduzido o suficiente
5 - O ASBC é usado para aquecer toda a água utilizada no
Ecocentro Ipec para as famílias de baixa renda. Seus componentes são encon-
trados na maioria das lojas de materiais de construção do país.
Um sistema para uma família de cinco pessoas pode ser monta-
do em um fim de semana e com um custo muito baixo
Energia eólica Desde os primórdios, o vento vem sendo utilizado a serviço da • custo menor, relativamen-
humanidade. Dos barcos a vela dos primeiros navegadores até te, que dos sistemas fotovol-
os moinhos de fabricação da farinha, o vento está presente em táicos
cada passo da evolução humana. O princípio do cata-vento alia-
do à alta tecnologia deu origem às turbinas eólicas, muito utiliza- • fonte renovável
das em barcos, áreas costeiras e regiões de vento constante
para a geração de energia elétrica. A energia eólica é uma fonte
de energia renovável e que, se gerada em pequena escala, não
causa nenhum impacto ao ambiente e é excelente para siste-
mas híbridos (solar/eólica) em locais de pouca insolação ou re-
giões com grandes períodos chuvosos e de pouco sol. Ideal para
6 - Um esquema de um gerador eólico. regiões de ventos constantes, como no litoral brasileiro.
1
Material cedido pelo Ecocentro – Ipec

Ecovilas 7
Documento

LIÇÕES DE UM URBANISMO EQUATORIAL


OSVALDO BRATKE E A VILA SERRA DO NAVIO
Mauro Almada
Arquiteto UFRJ, Mestre em Planejamento Urbano e Regional UFRJ.

“Tenho horror a desperdício; (...) ins-


talações e edificações devem ser fei-
tas para durar” (Oswaldo Bratke).

No âmbito dos projetos urbanísticos de-


senvolvidos para “cidades novas”, um
exemplo brasileiro se destaca por suas
preocupações com a “sustentabilidade”,
os princípios ecológicos e o conforto am-
biental: a Vila Serra do Navio, no Amapá,
projetada por Oswaldo Bratke.

Construída pela empresa Icomi S.A.,


para apoio de suas atividades de extra-
ção do minério de manganês na região
– iniciadas em 1953 e encerradas em
2003¹ –, a Vila Serra do Navio foi inteira-
mente concebida e construída, entre 7 - Bratke subiu de barco os rios Araguari e Amapari. em sua primeira visita à Serra
1955 e 1960, sob a direção do arquiteto do Navio.
Oswaldo Bratke (1907–1997). Os planos
e projetos desenvolvidos incluíram o tra- supermercado, clube, cinema, adminis- O empreendimento, como um todo, in-
çado urbanístico do assentamento –”in- tração, capela ecumênica, fábrica de cluía a mina propriamente dita, uma fer-
dependente e auto-suficiente”, nas pa- gelo (não executada), padaria, cemité- rovia com 194 km de extensão, um por-
lavras do autor –, sua infra-estrutura bá- rio, abrigo para ônibus e outros equipa- to para embarque e exportação do mi-
sica e a arquitetura de todas as edifica- mentos de apoio, incluídos o paisagismo nério, um segundo assentamento – a Vila
ções: residências e alojamentos dos fun- e todo o mobiliário das edificações: lu- Amazonas – junto a esse porto, além de
cionários, hospedaria, escola, posto de minárias, móveis, equipamentos e até toda a infra-estrutura industrial e urbana
saúde preventiva, hospital com 32 leitos, utensílios como louças e talheres². necessária ao funcionamento do comple-
xo, em grande parte também a cargo de
Bratke: rede de distribuição de energia –
luz e força –, rede de abastecimento
d’água potável e para hidrantes de com-
bate a incêndios³, rede de drenagem das
águas pluviais – a céu aberto –, rede de
captação e tratamento dos esgotos do-
mésticos4, e ainda procedimentos de
controle ambiental – reflorestamento,
erosão etc. –, com ótimos resultados só-
cio-econômicos e eco-ambientais, em
todo o perímetro definido pela conces-
são governamental: 48 km², dos quais
apenas 13,5 km² foram parcialmente
desmatados, e mais da metade (7,2 km²)
se encontrava em processo de regene-
ração, até 19955.

A Vila Serra do Navio foi projetada para


2.500 a 3.500 moradores – com possibi-
8 -Vista aérea lidades de expansão –, mas ocupou efe-

8 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


ros, sempre inclinados, de lambris de ma-
deira e o telhamento.

Não havendo tijolos e telhas de barro no


local, o que seria ideal, nem a possibili-
dade de fabricá-los nas quantidades e
prazos exigidos, optou-se pela constru-
ção das alvenarias com blocos de con-
creto, produzidos in situ com equipamen-
tos mecânicos leves e também pelas te-
lhas industrializadas de fibro-cimento,
trazidas de navio do Sudeste do país.
Do mesmo modo, não havendo pedra
9 - Casas operárias, geminadas duas a duas. Os beirais são amplos, protegendo o adequada – apenas solos lateríticos, de
interior da residência contra o excesso de insolação. baixa resistência mecânica –, e areia tão
somente de granulação muito fina, limi-
tou-se o uso do concreto ao mínimo in-
tivamente apenas 32,1 ha (0,321 km²), se observam picos freqüentes de calor
dispensável: fundações e lajes de piso,
chegando a abrigar, no auge das ativi- acima de 35° C. A pluviosidade média
os blocos já referidos, cobogós e peito-
dades, cerca de 1.500 moradores perma- anual é 2.000 mm, com picos registrados
ris, substituindo-o nas superestruturas
nentes, em 334 residências unifamiliares de até 100 mm/hora. O período de se-
pela madeira, abundante na região, ain-
e 19 outras edificações de uso coletivo, tembro a novembro é de estiagem, com
da que não houvesse estufas de seca-
inclusive alojamentos para solteiros e 60 mm de chuvas/mês, e a umidade re-
gem no local. Para tal, Bratke contou com
visitantes. lativa do ar, na estação úmida, chega a
o apoio do Instituto de Pesquisas Tecno-
atingir 90 a 95%. Os ventos locais são
lógicas (IPT), em São Paulo, que anali-
Bratke – com a colaboração dos arquite- fracos, vindos de Norte e de Leste, com
sou cientificamente 40 espécies nativas
tos Ernesto Bofill, em Serra do Navio, velocidade máxima de 22 km/h.
da região, das quais se utilizou apenas
Domingo Mazzei, na Vila Amazonas, e 20, sobretudo a andiroba e o louro, nas
Zoltan Dudus, no comando do detalha- As habitações e demais edificações
projetadas por Bratke apresentavam dis- estruturas protegidas, e a sucupira e ma-
mento, em São Paulo – também proje- çaranduba, naquelas expostas às intem-
tou para a Icomi a Vila Amazonas, na positivos arquitetônicos especialmente
modelados para enfrentar essas adver- péries. O cedro, utilizado nas esqua-
localidade de Porto Santana, junto ao ter- drias, era escasso no local e precisou
minal portuário de embarque de minéri- sidades climáticas, tais como: amplos
ambientes avarandados e protegidos do ser trazido dos estados vizinhos, sobretu-
os. Para tal, visitou empreendimentos si- do do Pará. Já a sucupira, também foi
milares na Venezuela e Caribe – El Pau sol por telhados com longos beirais –
1,20 m nas residências e 1,50 m nos pré- utilizada para fabricar os tacos de reves-
e outros cinco núcleos ligados à explo- timento dos pisos. Para a produção de
ração petrolífera – e, ao longo dos qua- dios de uso público – onde as circula-
ções eram, ademais, preferencialmente parte do mobiliário e outras tarefas, ofici-
tro anos seguintes, viajou regularmente
para o Amapá acompanhando, de perto externas ou periféricas.
e passo-a-passo, a implantação dos pro- Utilizou, também, quebra-
jetos. Pesquisou a fundo a arquitetura sóis, esquadrias de piso-a-
vernacular e as habitações típicas dos teto com venezianas mó-
caboclos da Amazônia, construídas em veis de madeira, cobogós,
geral sobre palafitas e compostas por telas-mosquiteiro em todas
apenas três peças: duas varandas aber- as aberturas e, sobretudo,
tas – para o estar/dormir e o cozinhar/ pouquíssimo vidro. Tudo
comer –, e um cômodo íntimo para o ca- isto, visando barrar a inci-
sal, onde também eram guardados os dência solar direta e pro-
bens e utensílios de valor da família. porcionar o sombreamento
dos ambientes, facilitar as
Em Serra do Navio, tanto a implantação ventilações cruzadas, re-
das edificações (Leste-Oeste) quanto o duzir a temperatura inter-
traçado das vias se basearam nos princí- na da massa de ar, e impe-
pios da melhor orientação solar, aplica- dir a proliferação de fungos
dos ao clima equatorial úmido da região. (mofo) e insetos (cupins),
O sítio do empreendimento fica localiza- que reduzissem a vida útil
do sobre a linha do Equador, a menos dos materiais emprega-
de 1° de latitude Norte, e numa altitude dos, sobretudo as madei-
de 120 m. O clima local é quente e úmi- ras. Previu-se, ademais, a
do com as temperaturas médias anuais ventilação, em todas as
oscilando entre 27º C. e 28° C. A média coberturas, do colchão de 10 - Habitação típica do caboclo amazonense,
das máximas está em torno de 32° C, e ar aprisionado entre os for- no traço de Bratke.

Ecovilas 9
em especial o interessante método de
se iniciar as construções pelas cobertu-
ras, posto que o período chuvoso, na
região, perdura por nove meses ao lon-
go do ano.

Concluindo, diríamos que, sob qualquer


ponto de vista – social, econômico,
ambiental ou cultural –, a experiência de
Serra do Navio é exemplar, servindo ain-
da hoje como paradigma de boa técnica
e referência para novas experiências no
âmbito da sustentabilidade urbana e
arquitetural.

11 - Os estudos de insolação.
Notas
nas completas de carpintaria, marcena- e frutíferas – para sombreamento dos 1. O período 1953-2003 se refere ao prazo de 50
ria, serralheria, pintura e estofamento espaços externos e de lazer –, uma vez anos, concedido pela União para exploração da
foram montadas no canteiro de obras, que as árvores nativas da floresta úmi- mina. A construção das instalações industriais,
promovendo-se, paralelamente, a forma- da, de grande altura, se apóiam natural- ferrovia e porto de embarque consumiu três anos:
ção de mão-de-obra especializada nes- mente umas nas outras, não resistindo 1954-57. Só então, iniciou-se a extração do mi-
nério. O primeiro embarque do produto ocorreu
ses ofícios. Excepcionalmente, as ferra- de pé quando preservadas isoladamen-
em 1957 e as jazidas se esgotaram antes de
gens anticorrosivas das venezianas mó- te ou mesmo se agrupadas em peque- 2003. Segundo o contrato assinado, após o tér-
veis, especialmente projetadas em alu- nos bosques, como se imaginou a prin- mino da concessão, todo o patrimônio instalado
mínio, foram importadas dos Estados cípio. A execução das obras, no Amapá, pela Icomi na região – exceto a Vila Amazonas,
Unidos, por não haver, à época, forne- ficou a cargo da Construtora Amaral & junto ao Porto de Santana –, reverteria para a
União. Serra do Navio transformou-se em Muni-
cedor capacitado no Brasil. Mello Mattos Ltda., de São Paulo, que
cípio em 1992; Santana, em 1987.
desenvolveu processos construtivos ade-
O projeto paisagístico do complexo op- 2. A nota curiosa é que, após longos debates,
quados à rusticidade, precariedade dos optou-se por equipar as casas operárias com ca-
tou, acertadamente, pelo desmatamento meios, e adversidade climática da região, mas, ao invés de redes, decisão esta que se
total da área a ser urbanizada, e o pos- mostrou acertada. Os caboclos só utilizam es-
terior replantio de espécies decorativas tas por não poderem comprar aquelas.
3. Foi construído um reservatório de água não
tratada, para usos industriais, com capacidade
de 10 milhões de litros, e uma estação de trata-
mento, com capacidade de 1,2 milhões de litros/
dia de água potável.
4. A estação de tratamento dos esgotos domés-
ticos foi dimensionada para 1,2 milhões de litros/
dia.
5. Não conseguimos ter acesso a dados posteri-
ores a 1995.

Referências bibliográficas
RIBEIRO, Benjamin Adiron. Vila Serra do Navio:
Imagem 12 - Detalhes de esquadrias 13- Mobiliário projetado comunidade urbana na selva amazônica, proje-
to do engenheiro-arquiteto Oswaldo A. Bratke.
São Paulo: Pini, 1992.
SEGAWA, Hugo & MAZZA DOURADO, Guilher-
me. Oswaldo Arthur Bratke. São Paulo:
ProEditores, 1997.
DRUMMOND, José Augusto. Investimentos pri-
vados, impactos ambientais e qualidade de vida
num empreendimento mineral amazônico: o caso
da mina de manganês de Serra do Navio
(Amapá). Revista História, Ciência, Saúde: Man-
guinhos, vol. VI (suplemento), set. 2000, pp. 753-
792. Disponível online em: www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702000000500002&lng=en&nrm=iso.

14 - Corte típico de uma edificação . Acessado em: 29 de agosto de 2008.

10 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Documento

CARAÍBA: O DESAFIO DE JOAQUIM GUEDES


RAZÃO E CONFORTO TÉRMICO NA ARIDEZ DO SERTÃO
Mauro Almada
Arquiteto UFRJ, Mestre em Planejamento Urbano e Regional UFRJ.

não foi selecionado entre os 10 finalistas,


mas deixou sua marca na história da
competição.

Já nos planos para a cidade nova de


Caraíba – criada ex nihilo, em função da
exploração de uma mina de cobre³ –, se
percebe a influência metodológica de
Oswaldo Bratke e seu projeto para a Vila
Serra do Navio, no Amapá, sobretudo no
que diz respeito à economicidade e às
preocupações com o conforto climático
– expressas, por exemplo, nos pátios e
galerias que recordam as propostas do
Plano Agache para o Rio de Janeiro. De
outra parte, Guedes se inspira em pes-
15 - Arquiteto Joaquim Manoel Guedes Sobrinho. quisas de natureza antropológica para
definir a tipologia das unidades habi-
“Arquitetura é construção” (Joaquim curso para o Plano Piloto de Brasília, em tacionais, agrupando-as, escalonada-
Guedes) 1957, Guedes e equipe² se destacaram mente, em carreiras contínuas ao longo
por rejeitar um princípio basilar do pen- de ruas de verdade – aquelas que
Joaquim Guedes (1932–2008), um dos samento urbanístico então hegemônico: Corbusier definira como “o caminho dos
mais importantes pensadores da Arqui- a idéia de uma “cidade automobilística”. asnos” –, num tradicionalíssimo traçado
tetura e do Urbanismo brasileiros pós- em xadrez, pré e
Brasília, foi um admirador da obra de pós-modernista.
Oswaldo Bratke em Serra do Navio. Nas- Impõe-se, nesse
cido numa família de 15 irmãos, formou- aspecto, um pa-
se em arquitetura, em 1954, e em segui- ralelo inevitável
da cursou a Escola de Sociologia e Polí- entre as soluções
tica. Doutorou-se em Planejamento Ur- ali adotadas e os
bano (1972) e foi Professor Titular da ensinamentos do
FAU/USP. Frei Lebret 4 –
com quem traba-
Entre suas principais obras, figura a cida- lhou ainda estu-
de nova de Caraíba – atual Distrito de dante –, as pes-
Pilar do Município de Jaguarari,Bahia –, quisas fotográ-
projetada para a empresa mineradora ficas de Anna
Caraíba Metais – estatal¹ –, entre 1976 Mariani sobre as
e 1982. Autor de mais de 500 projetos coloridas casas
de Arquitetura e Urbanismo, sua obra de porta-e-janela
pode ser definida como “hiper-racionalis- do agreste nor-
ta”, “construtivista”, e visceralmente “anti- 16 - Projeto de concurso para o Plano Piloto de Brasília. destino, e tam-
formalista”. Guedes era, na essência, um bém uma certa
humanista apaixonado pela técnica. Sua Sua concepção, precocemente “susten- identificação com a vertente “antropoló-
obra urbanística – menor em tamanho, tável”, é a única, entre todos os concor- gica” do urbanismo carioca – sintetizada
mas maior em importância, que a arquite- rentes, a propor uma cidade estruturada na figura de Carlos Nelson Ferreira dos
tônica – se diferencia e afasta do Moder- pelo transporte de massa, no caso, uma Santos, que concebe a Arquitetura e o
nismo ortodoxo,desde o início.Já no con- linha de metrô. O projeto, obviamente, Urbanismo como “processos”. Em sínte-

Ecovilas 11
18- Vista aérea da cidade nova de Caraíba.

de carros. Em lu- tijolos maciços de barro prensado, reves-


gar de “áreas ver- tidas com argamassa, e as coberturas
des” e “vias de em telhas cerâmicas, espessas o sufi-
trânsito rápido”, ciente para elevar sua inércia térmica.
propõe ruas arbo- Os pés-direitos são generosos e as ca-
rizadas com cal- sas providas de lajes. Muitos cômodos
çadas para os pe- ventilam, não para o exterior abrasante,
destres. No cen- mas para pequenos pátios internos som-
tro da cidade, breados, onde o ar, não exposto direta-
projeta galerias mente à radiação solar, se mantém mais
cobertas e som- fresco.
breadas que fun-
cionam como a- A orientação da trama urbana (L-O e N-
brigo e refúgio tér- S) leva em consideração as condições
mico, frente à ca- topográficas e climáticas da região, con-
17 - Plano geral da cidade nícula inclemente formando 36 quadras retangulares, me-
nova de Caraíba. da região. dindo 60 X 276 m, com o maior lado
acompanhando a direção Leste-Oeste.
Nas 1.294 resi- As quadras são subdivididas em lotes
dências unifami- com dimensões variáveis e testadas de
se, um urbanismo, em tudo e por tudo, liares – com nove ou dez modelos dife- 6 a 24 m, voltadas sempre para Norte
anti-CIAM e anti-Carta de Atenas. rentes de planta –, as alvenarias são de ou Sul, onde o sol é mais alto. As cons-

Em Caraíba, Guedes cria um sistema de


praças interligadas, onde implanta os
edifícios públicos – escolas, hospital, clu-
be –, os apartamentos para solteiros e
o comércio lojista, envolvendo este mio-
lo estruturante com uma trama viária em
xadrez, expansível indefinidamente, so-
bre a qual distribui as unidades residenci-
ais, com as casas simples mais próximas
do Centro e as maiores na periferia, sem
qualquer “zoneamento funcional” rígido
ou “separação pedestres / veículos”, dog-
mas religiosos do urbanismo modernis-
ta. Ao contrário, o que enfatiza é a mis-
tura: de funções, de classes, de gente e 19 - Planta e corte de uma residência popular.

12 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


20- Apartamentos para solteiros, com comércio no térreo e 21- Fachadas de “porta-e-janela”.
galerias cobertas.

Notas
truções mais simples são geminadas e comunidade local reivindica, desde 1985, 1. A empresa foi privatizada em 1994.
as mais sofisticadas implantadas em a emancipação do distrito e sua eleva- 2. Equipe: Carlos Milan, Domingos de Azevedo,
centro de terreno. A primeira opção, pre- ção a município. O clima local é semi- Joaquim Guedes & Liliana Guedes; participação
dominante, visa diminuir o número de fa- árido quente – BSh, na classificação de especial do Professor Cândido Mendes de
ces expostas à radiação solar e à brisa Köppen – caracterizado pela baixa umi- Almeida.
quente e seca da região. As fenestrações dade do ar (em torno de 60%), precipita- 3. A lavra a céu aberto terminou em 1998, mas
prevê-se que as reservas subterrâneas do me-
são escassas e com dimensões mini- ção escassa (399 mm/ano), e tempera- tal só se esgotarão em 2011.
mizadas, pelo mesmo motivo. Guedes tura média anual de 24,2° C., com a mé- 4. Louis-Joseph Lebret (1897–1966), o ‘Padre
propôs, ainda, que as ruas fossem som- dia das máximas alcançando 29,6° C. e Lebret’, era economista e frade dominicano fran-
breadas com arborização farta, o que, a média das mínimas 20,3° C. O perío- cês. Em 1942, criou o centro de pesquisas Eco-
infelizmente não foi seguido. do chuvoso, na região, ocorre apenas nomia e Humanismo, além de inúmeras associ-
ações voltadas para o desenvolvimento comu-
entre os meses de novembro a maio. nitário. Incrementou o debate das questões so-
Caraíba, atual Pilar, fica situada a ciais no âmbito da Igreja Católica e foi um dos
9°53’16" de latitude Sul e 39°57’40" de Num certo sentido, pode-se firmar que o inspiradores da encíclica Populorum Progressio
longitude Oeste, distante 48 km de Ja- projeto Caraíba foi o maior desafio que (1967), do pontificado de Paulo VI. Com François
Perroux, desenvolveu uma abordagem pioneira
guarari, a sede municipal (altitude 662 Guedes enfrentou em sua brilhante car- do planejamento territorial, relacionando as ques-
m; 29.097 habitantes em 2007; IDH de reira; uma oportunidade única de por à tões do ambiente físico-geográfico aos proble-
0,646, em 2000). Possui a maior renda prova as teses que sempre defendeu mas do desenvolvimento. Em São Paulo, fun-
per capita da região e o mais baixo nível com tanta paixão, sem jamais se afastar dou a SAGMACS – Sociedade de Análises Grá-
ficas e Mecanográficas Aplicadas aos Comple-
de desemprego do Nordeste. Por isto, a dos primados soberanos da razão. xos Sociais –, talvez o primeiro escritório de Pla-
nejamento Territorial do Brasil.
Referências bibliográficas
BIERRENBACH, Ana Carolina. A Caraíba de Jo-
aquim Guedes: a trajetória de uma cidade no
sertão. In Arquitextos nº 87, agosto de 2007 (re-
vista eletrônica). Disponível online em: www.
vitruvius.com.br/arquitextos/arq087/
arq087_02.asp.
Acessado em: 3 de setembro de 2008
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim
Guedes. São Paulo: Cosac & Naify Edições,
2000.
GABRIELA, Ana. Pilar, um oásis no sertão
baiano. Recife: I DoCoMoMo Norte-Nordeste,
2006.
GUEDES, Joaquim. Caraíba: cidade aberta e na-
tural na forma de se implantar e crescer. In A
Construção em São Paulo, nº 1.751, 31 ago.
1981.
GUEDES, Joaquim. Um projeto e seus cami-
nhos. Tese de Livre-Docência. São Paulo, FAU/
22 - Vista aérea de uma das praças. USP, 1981.

Ecovilas 13
Artigo

CIDADES
Carlos Murdoch
Arquiteto UFRJ, Professor da Universidade Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

Adriana Figueiredo
Arquiteta UGF, MA. Sustainability Design – East London University DEGIB, Professora da Universidade
Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

Metrópole? do assim aos que viriam a ser identifica- o gerenciamento do lixo. O relatório de-
dos como os Três Pilares da Sustentabil- monstra que o modelo urbano atual é
O futuro de nossas cidades depende di- idade2. absolutamente falho. Um novo modelo
retamente das ações que tomamos hoje. se torna necessário, o qual não seja
Como o mundo atravessa um rápido pro- Alcançar a sustentabilidade não é uma embasado na idéia de que o ambiente é
cesso de urbanização, é urgente que as tarefa simples. A complexidade das es- ilimitado em termos de recursos nem um
cidades alcancem padrões de sustentabi- calas, a variedade de formas urbanas, a buraco sem fundo para dentro do qual
lidade imediatamente. Em 1950, 30% da relação que cada cultura possui com o podemos empurrar todo o nosso lixo. Se
população mundial habitavam em áreas meio ambiente que a cerca e a multiplici- todas as nações do mundo utilizassem
urbanas. Em 2003, a proporção aumen- dade de questões econômicas sugerem tantos recursos quanto os principais pa-
tou para 48%. Em 2030, a previsão é de que é impossível se chegar a algum con- íses poluidores, seriam necessários três
que 61% da população será urbana1. senso. Não existe uma solução única ou novos planetas para sustentar nosso es-
tilo de vida atual.

Algumas conclusões são inerentes às


observações atuais:

A cidade é o campo de batalha – o


futuro da civilização como a conhecemos
será decidido dentro de seus limites;

Os modelos urbanos que impulsiona-


ram o desenvolvimento e a riqueza
produzida até hoje revelam-se falhos
e obsoletos;

Devemos ter uma mudança de para-


digma – isto não se resume apenas a
trocar as lâmpadas, mas também modi-
ficar nossa maneira de viver, consumir,
23 - Evolução populacional das cidades (%) em relação à população total do planeta transportar e, principalmente, o modo de
pensar.

A busca da sustentabilidade foi inserida caminho óbvio a ser seguido, porém exis-
Não é mais aceitável se falar em redu-
na agenda dos governos e das ONGs tem estratégias e soluções que podem
ções percentuais ou em neutralidade. As
(organizações não governamentais) a se adaptar às particularidades dos vari-
cidades e os edifícios devem possuir um
partir da Conferência da ONU para o ados contextos urbanos.
índice negativo de carbono.
Meio Ambiente Humano (1972) e, pos-
teriormente, na Comissão Mundial para Em 2006, o World Wildlife Fund (WWF)3
Ambiente e Desenvolvimento (1987) e no publicou o segundo relatório Living Um novo modelo urbano
encontro do Rio de Janeiro (Rio 92). Nes- Planet, uma análise de como a humani-
ses eventos foram definidas metas para dade está usando (e abusando) o plane-
as cidades, as quais deveriam objetivar ta. Esta análise cobre todas as nações Qualquer futuro modelo urbano deverá
a viabilidade econômica, a equidade so- do mundo através de dados comparati- ser sustentável em seu cerne. As eco-
cial e ainda contribuir para a proteção vos dos mais variados temas, tais como nomias devem prosperar e as pessoas
ambiental de todas as espécies, aderin- o uso de água, o consumo de energia e terem o direito a alcançar uma vida prós-

14 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


pera e confortável. Todavia, onde e como neamento, transportes e demais elemen- maior inimigo da sustentabilidade das
isto pode ser estabelecido sem provocar tos básicos para a ocupação pela popu- metrópoles contemporâneas: o tráfego.
um desequilíbrio ambiental é algo ainda lação. As principais cidades brasileiras
a ser atingido. Se analisarmos os erros seguem, em sua absoluta maioria, um O custo de combustível e tempo (custo
do passado, observamos que as cidades modelo monocêntrico seguido de uma de oportunidade) transformado em valo-
do futuro deverão ser significativamente expansão predominantemente horizon- res econômicos do tráfego está sendo
melhores. Isto envolverá quatro mudan- tal gerenciada muito mais pela iniciativa monitorado por várias cidades no mun-
ças chave para as cidades: produzirem privada do que por um planejamento mu- do. Na grande Chicago, o valor chega a
mais energia do que consomem, trans- nicipal antecipado. Notadamente São U$ 7.3 bilhões anuais6, em nível nacio-
formarem-se em seqüestradoras de car- Paulo (30 municípios – 2008) e Rio de nal americano este custo se eleva a U$
bono, processarem seu lixo dentro dos Janeiro (20 municípios – 2008) já há 64.4 bilhões (5% do PIB brasileiro em
próprios limites e coletarem e reciclarem muito atingiram o status de megacidade4 2007). Este custo não considera os efei-
a água. e estão em processo de conurbação5 tos colaterais provocados pelo acúmulo
urbana. Esta aglomeração acaba por de poluição, os prejuízos psicológicos, o
Tudo isto deve ocorrer paralelamente à potencializar os problemas das cidades impacto na qualidade de vida nem as
criação de riqueza, da promoção do bem- integrantes do processo. A conurbação possíveis alterações do valor do solo ur-
estar social e da saúde individual. O re- acaba com os limites físicos entre os bano. Considerada pela revista Time,
sultado dessas mudanças, de forma núcleos urbanos provocando uma sobre- como a cidade com o trânsito mais con-
equilibrada e com respeito à natureza, posição administrativa na estrutura gestionado do mundo, São Paulo possui
proporcionará às gerações presente e fu- geopolítica dos municípios. Os efeitos a incrível média de 190km de engarrafa-
tura uma relação simbiótica com o meio- observados são predominantemente li- mento acumulados diariamente. No dia 9
ambiente em longo prazo. gados à deterioração da infra-estrutura: de maio de 2008, bateu o recorde com
serviços de energia, transporte, coleta de inacreditáveis 266km7 de filas de veícu-
esgoto, abastecimento de água, saúde los congestionados na cidade. Aproxima-
Sustentabilidade e e educação tornam-se insuficientes para damente 31,4% de sua malha viária.
atender a pressão da demanda da po-
metrópole: um contra-
pulação. Além desses problemas, obser-
senso? va-se ainda o fenômeno do fluxo pen- Ao comparamos os dados estatísticos e
dular, que é o fluxo de passageiros (em geográficos de São Paulo e Chicago8,
“Brasileiro apaixonado por carro” anun- veículos particulares ou públicos), atra- percebemos por analogia que os prejuí-
cia a campanha do posto de gasolina na vessando mais de uma região para che- zos provocados pelo trânsito devem pos-
TV. Desde tenra idade somos adestra- gar ao local de trabalho, que possui pi- suir ordem de grandeza similar, o que
dos a acreditar no sonho do carro zero e cos de maior intensidade em dois perío- nos faz indagar quantas escolas poderi-
da casa própria. Não importa onde seja dos: início da manhã e final da tarde am ser construídas com esta verba ou
desde que seja própria, afinal teremos (hora do rush), sendo o responsável pelo quantas bocas poderiam ser alimentadas
um carro zero na nossa garagem. Nos-
so modelo de desenvolvimento econô-
mico e o sonho da modernização de Jus-
celino “50 anos em 5” nos fizeram optar
pelo modelo rodoviário em detrimento do
ferroviário. Foi uma opção compreensí-
vel no contexto da época, pois incluía o
sonho da industrialização e da geração
de empregos. Hoje podemos avaliar as
conseqüências e aprender com elas. O
resultado da aglomeração e da desordem
urbana, provocada em grande parte pela
ausência de planejamento de longo pra-
zo associado a relações dúbias entre o
poder público e o empreendimento imo-
biliário desarticula as relações espaciais
e de infra-estrutura. Fenômeno de fácil
observação no Rio de Janeiro, particu-
larmente nos bairros da Barra da Tijuca
e do Recreio dos Bandeirantes, onde se
observa a expansão imobiliária se ante-
cipando ao poder público na geração de
novas áreas da cidade. Estas se encon-
tram despreparadas em termos de sa- 24 - Conurbação urbana: São Paulo

Ecovilas 15
A cidade de Kalundborg na Dinamarca é
um exemplo prático do conceito de me-
tabolismo circular e ecologia artificial de
Girardet. As companhias locais em coo-
peração com a municipalidade criaram
um sistema simbiótico, no qual os resí-
duos de determinada empresa são utili-
zados como combustível para outra.

Notícias do Leste – a
experiência de Dongtan

Localizada na ilha de Chongming na


embocadura do rio Yangtze, a área re-
servada para o desenvolvimento da eco-
cidade de Dongtan possui 86 quilôme-
tros quadrados, estando adjacente a uma
área de mangue relevante para a ecolo-
gia local. O projeto inclui uma faixa de
proteção de 3,5 km para defender esta
área do impacto do desenvolvimento ur-
25 - Conurbação urbana: Rio de janeiro
bano. A cidade em si irá abranger 40%
em troca da queima desnecessária de relação às origens dos recursos nem com da área disponível, ficando o restante
combustível lançado na atmosfera. o destino dos dejetos. para a agricultura, produção de energia
e recuperação do ecossistema.
“As cidades são sistemas cujo funciona-
Experiências, teorias e mento deve imitar os sistemas naturais: Dongtan pretende ser a primeira cidade
devemos fazer tudo o que pudermos para do mundo projetada para ser neutra em
soluções carbono. Para tanto, contempla todas as
criar cidades que sejam compatíveis com
os próprios ecossistemas da natureza, e tecnologias e estratégias disponíveis no
Alternativas estão sendo desenvolvidas momento. Suas metas abrangem os três
para isto, devemos garantir que, tal como
e preparadas para a aplicação, notada- pilares da sustentabilidade (sociedade,
as florestas ou os recifes de corais, elas
mente, nos países com economia mais adotem deliberadamente um metabolis- economia e cultura). Dongtan irá gerar
sólida. Múltiplas teorias que conectam a mo circular, produzindo apenas resídu- sua própria energia através de fontes
sustentabilidade à questão urbana são os que possam ser beneficamente renováveis como biocombustíveis, fazen-
discutidas por todo o planeta em muitos reabsorvidos pela natureza. (GIRAR- das eólicas e painéis fotovoltáicos. Todo
casos, estão sendo implantadas com DET)”9 o lixo e até mesmo os resíduos do esgo-
sucesso. Opiniões convergentes surgem
como o conceito de metabolismo circu-
lar da cidade, o adensamento do meio
urbano, o incremento do transporte pú-
blico, a incorporação de técnicas e
tecnologias verdes aos edifícios (tema
predominante desta série) e a substitui-
ção do modelo monocêntrico pelo poli-
cêntrico oferecem caminhos para a equa-
ção que ora se apresenta.

Metabolismo circular

As cidades funcionam atualmente atra-


vés de um metabolismo linear, ou seja,
retiram insumos da natureza, processam,
fabricam, consomem e expelem os
dejetos desse processo. Este ciclo ocor-
re da forma em que as etapas aconte-
cem linearmente através de um fluxo
unidirecional, sem a preocupação em 26- Metabolismo das cidades – Girardet.

16 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


to serão compostados e processados fotovoltáicos e elementos eólicos com a recursos é um paradigma a ser compre-
como fonte adicional de energia, prati- meta de obtenção de 20% da energia endido e um modelo a ser adaptado e
camente eliminando a necessidade de necessária para o funcionamento dos melhorado.
aterros sanitários. edifícios.
A capital colombiana Bogotá se transfor-
A cidade nos oferece a oportunidade de Lixo e energia: 80% do lixo serão reci- mou no melhor exemplo de como políti-
aferir a validade das soluções que ora clados. Dejetos orgânicos serão reutili- cas urbanas podem alterar substancial-
são apresentadas: zados para a compostagem e geração mente a qualidade de vida da popula-
de energia. Cascas de arroz (subproduto ção, provando que sustentabilidade; no
Descentralização: O território será abundante na China) será a base com- sentido amplo do termo, economia, so-
compartimentado em três áreas (ou vi- bustível de usinas CHP10 (produção com- ciedade e meio ambiente; está indissoci-
las). A infra-estrutura (ruas, transporte binada de energia e calor) e serão a base avelmente conectada ao espaço público
da produção de eletricidade, calor e e à vontade política. Nas décadas de 80
público, escolas, hospitais, áreas comer-

27- Dongtan

ciais, parques urbanos) será implantada arrefecimento. Turbinas eólicas posicio- e 90, Bogotá vivenciava uma situação
nadas na periferia irão complementar a de cidade sitiada (similar ao Rio de Ja-
de forma a incentivar a movimentação
base energética da cidade. neiro de nossos dias). O poder do nar-
na cidade através de bicicletas ou do
cotráfico, a extrema violência urbana
transporte coletivo em detrimento do uso
adicionada à pobreza típica das metró-
do automóvel. População, consciência, poles latino americanas e ao estado de
carbono e simbiose guerra civil (Farc) pareciam condenar a
Transporte: A cidade será interco-
cidade (e o país) a um permanente esta-
nectada por uma rede de passagens ex-
Questões sustentáveis não podem ser do de caos social. O movimento “Bogo-
clusivas para pedestres. Apenas carros tá Cómo vamos”11, o qual tem por base
“carbono zero” poderão transitar pela ci- apenas tratadas pela tecnologia em si.
Vivemos em uma sociedade do “joga- uma relação transparente e colaborativa
dade. Redes intranet conectarão as pes- entre o poder público e a sociedade ci-
soas no intuito de incentivar o “transpor- fora” (descarte) onde o desperdício é a
vil, alterou profundamente o cenário vi-
te solidário” (a popular carona). Os veí- regra. Necessitamos de soluções que
gente. Ao tornar as contas públicas trans-
culos de transporte público (ônibus, bon- conectem e conscientizem as pessoas
parentes e discutir com a população so-
des e táxis aquáticos) serão movimen- no sentido do momento atual e das ne- bre o direcionamento dos investimentos
tados a partir de tecnologias como célu- cessidades de ação. A Cidade do Méxi- públicos, o movimento conseguiu atrair
las combustíveis. Motocicletas serão co e Bombaim estão entre as maiores e e encorajar o cidadão a considerar a ci-
proibidas, sendo substituídas por moto- mais poluídas cidades do mundo. Ainda dade como uma extensão de sua casa,
netas elétricas e bicicletas. assim, a produção de lixo per capita é incentivando a participação coletiva e o
menor do que em qualquer lugar na Eu- espírito de cidadania. O programa conta
Edifícios: A densidade populacional ropa. A explicação é de que a reciclagem hoje com 16 focos de trabalho: pobreza
será incrementada, porém com o gaba- é um meio de vida para milhões de pes- e igualdade; finanças públicas; educa-
rito limitado em oito pavimentos. A utili- soas. A despeito das condições nas quais ção; saúde; serviços públicos; cultura;
zação de cobertura vegetal será o pa- esse processo é efetuado, essa simbiose participação; mobilidade urbana; espa-
drão. Serão incorporados painéis material provocada pela escassez de ço público; meio ambiente; descentrali-

Ecovilas 17
zação; responsabilidade e cidadania; se- o desenvolvimento urbano exponencial rão vender seus créditos. Paradoxalmen-
gurança; gestão pública; desenvolvimen- do último século, fomos obrigados a im- te o elemento carbono, que é a base bi-
to econômico e habitação. As ações con- plantar soluções de infra-estrutura de ológica da vida como a conhecemos,
catenadas conseguiram resultados sur- curto prazo. Decisões relativas a inves- encarna uma nova trindade: nele está
preendentes. As mortes violentas caíram timentos urbanos permanecem basea- contida toda a nossa existência, nosso
à metade graças a medidas para a con- das predominantemente no imediatismo fim ou nossa salvação.
tenção da violência urbana: o orçamen- em detrimento do planejamento de lon-
to para segurança pública dobrou, foram go prazo. Ao invés de aplicarmos solu- Habitamos nada mais do que um plane-
fixadas metas jurídicas claras de com- ções ferroviárias ainda construímos es- ta, somos um só povo dividindo o mes-
bate ao crime, punições severas para a tradas; ao invés de construirmos túneis, mo ar, a mesma água, a mesma terra e
corrupção policial e a aplicação da lei a mesma luz do sol. A sustentabilidade
erigimos viadutos; ao invés de nos vol-
seca.
tarmos para fontes de energia reno- deve se transformar em um meio de vida
O espaço público acaba por refletir a al- váveis, ainda extraímos energia à quei- aceito de forma genérica, total e irrestrita,
teração do status quo. Um milhão de ma de petróleo, gás e carvão. Os países ao invés de um mero assunto em esfe-
metros quadrados de novas praças e áre- em desenvolvimento têm a oportunida- ras científicas e intelectuais.
as de lazer ocupam o lugar de cortiços e de de aprender com erros dos países
antigos pontos de tráfico. Foi aplicado o industrializados e criarem um futuro
Notas
modelo de Curitiba de transporte coleti- adaptado às novas necessidades am-
vo (corredores de ônibus – Transmilênio). bientais. Observa-se que a mudança de 1 ONU, 2004.
O tráfego de veículos nas áreas centrais paradigma acontecerá predominante- 2 ONU, 2002
foi proibido, sendo aplicada uma cam- mente no hemisfério Sul, onde se locali-
3 www.panda.org/news_facts/publi-cations/
panha de incentivo às caminhadas e ao zam as cidades que apresentarão maior
living_planet_report/lp_2006/index.cfm.
uso de bicicletas. As calçadas foram am- crescimento no decorrer do século. A Acessado em: 1 de outubro de 2008.
pliadas e hoje a cidade possui 330 qui- oportunidade que se apresenta é única.
4 Megacidade é o termo normalmente empre-
lômetros de ciclovias, a maior extensão Não nos será oferecida uma segunda gado para se definir uma cidade que abriga uma
do mundo. A continuidade do trabalho in- chance. aglomeração urbana com mais de dez milhões
de habitantes e que esteja dotada de um rápido
dependente da gestão, o planejamento processo de urbanização. As megacidades atu-
das ações e a conexão direta da popula- Futuro? ais englobam mais de um décimo da população
ção com o poder público são caminhos urbana mundial e, tal como todas as grandes
para a sobrevivência das cidades. Este metrópoles que antes surgiram, polarizam so-
O desenvolvimento sustentável ainda bremaneira o comércio, a cultura, o conheci-
fato acontece independente da aplicação permanece como uma interrogação, não mento e a indústria.
de enormes quantias de recursos ou da existindo ainda uma definição metodo-
aplicação das últimas tecnologias. De- 5 Conurbação (do lat. urbis, cidade) é a unifica-
lógica, sendo extremamente difícil de ser ção da malha urbana de duas ou mais cidades,
pende apenas da vontade coletiva e está mensurado, previsto ou controlado. A em conseqüência de seu crescimento geográfi-
ao alcance de nossas ações. coerência nos trás a certeza de que os co. Geralmente esse processo dá origem à for-
mação de regiões metropolitanas. Contudo, o
modelos atuais não apresentam uma
surgimento de uma região metropolitana não é
matriz aceitável para as nações em de- necessariamente vinculado ao processo de
Além das soluções em senvolvimento. O novo modelo deve en- conurbação.
curto prazo contrar um equilíbrio entre os indivídu- 6 www.chicagotribune.com/features/lifestyle/
os, sociedade, economia e meio-ambi- green/chi-congestion-web-
Edifícios de aparência high-tech, carros ente. Não podemos continuar a abusar aug06,0,6010193.story Acessado em: 1 de ou-
último tipo, telefones celulares com co- do planeta como se este fosse uma fon- tubro de 2008.
mando de voz, roupas cibernéticas e etc. te de recursos infinita ou simplesmente 7 www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/
são um reflexo da busca de prazer ime- uma grande fossa na qual enterramos ult95u400406.shtml. Acessado em: 1 de outu-
bro de 2008.
diato e da “visão curta” de nosso estilo os dejetos da civilização humana. O pla-
de vida, o qual é genericamente basea- neta é finito e devemos modificar nos- 8 São Paulo – 18.8 milhões de habitantes x
do na busca de status social. Atualmen- sos processos. Chicago – 8.2 milhões de habitantes – áreas
metropolitanas.
te, vivemos imersos em equipamentos
de (aparente) última geração, os quais Avanços tecnológicos irão trazer novos 9 GIRARDET, Herbert – Cineasta, consultor e
autor de livros como: The Gaia Atlas of Cities e
nos fornecem uma ilusão de progresso. horizontes e novas soluções. A tecnolo- Making Cities Work, premiado com o Prêmio das
Os locais onde vivemos (nossas casas), gia por si só não irá fornecer uma saída Nações Unidas Global 500. Atua desde os anos
assim como os equipamentos e serviços e urge a necessidade de encontrarmos 90 em projetos relacionados com a sustentabili-
que fornecem suporte às nossas cida- novos padrões de comportamento cole- dade na cidade de Londres, sendo também con-
sultor para o projeto da cidade de Dongtan (Chi-
des (infra-estrutura) são ignorados e es- tivo. O carbono será eventualmente re- na).
quecidos. A infra-estrutura sobre a qual conhecido como um elemento capaz de
redistribuir a riqueza e a tecnologia. Os 10 CHP – Combined Heat & Power
habitamos foi construída por nossos an-
tepassados, estando em sua maior par- que poluem mais deverão arcar com 11www.bogotacomovamos.org. Acessado em:
te defasada e ineficiente. De acordo com seus custos. Os que não poluem, pode- 1 de outubro de 2008.

18 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Boas Práticas

AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS:


SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA
Lúcia Rainho
Arquiteta Urbanista e Mestre em Arquitetura, PROARQ-UFRJ.

As ecovilas são exemplos de assen- samente integradas ao mundo natural, ção (cuja fase embrionária é denomina-
tamentos humanos que primam pela que sustenta o desenvolvimento huma- da comunidade intencional). Para os
sustentabilidade nos diversos aspectos no saudável para continuar de maneira ecovilenses, cada vez mais pessoas pre-
– ambiental, econômico, cultural, social indefinida no futuro. cisam tomar conhecimento da existên-
– e que, nas últimas décadas, têm dado cia de comunidades que priorizam a har-
ênfase à questão ambiental na arqui- Em 1995, foi criada a Rede Mundial de monia com a natureza, o respeito à vida
tetura. Ecovilas, a GEN (Global Ecovillage e aos seres vivos, para entender que é
Network), com o intuito de disseminar e possível crescer sem destruir o ambien-
As ecovilas são resultantes da união de compartilhar idéias e novidades nos âm- te natural e a si mesmo.
vários movimentos e o cohousing é o que bitos tecnológico, ambiental, cultural e
está mais relacionado à arquitetura. Este educacional para se viver de forma sus- As ecovilas do Brasil foram implantadas
trouxe um novo conceito de comunida- tentável, diminuindo o uso de recursos por brasileiros que fizeram treinamentos
de através da sensação de perten-cimen- naturais e ajudando a aumentar gradati- e cursos na Gaia Trust e demais ecovilas
to e da existência da verdadeira comuni- vamente as reservas da natureza. Em para obterem conhecimentos sobre o
dade que idealiza os mesmos sonhos 1997, o ENNA (Ecovillage Network of assunto e seus princípios. Visitaram co-
acredita nas mesmas coisas – prioriza a North America) transformou-se em ENA munidades e trouxeram para o país este
vida em grupo, em contato, a proximida- (Ecovillage Network of Américas) para modelo de assentamento humano. O
de entre os residentes, sem per-der a pri- englobar todas as comunidades do con- Brasil teve o Instituto de Permacultura
vacidade. E para um cohousing dar um tinente americano. do Cerrado (Ipec) como uma das primei-
passo além e se tornar uma eco-vila é ras ecovilas a se denominar como tal.
necessário adicionar a harmonia com a Atualmente, há mais de 15.000 ecovilas Segundo a GEN, há cerca de 30 ecovilas
natureza e a sustentabilidade sob um dos em todo o mundo: algumas com mais espalhadas pelo país e esse número está
aspectos já mencionados. de 50 anos de existência como Findhorn aumentando visto que inúmeros assen-
(Escócia); outras em processo de forma- tamentos humanos estão sendo implan-
Em uma ecovila, o que mantém a unida-
de é o que os ecovilenses chamam de
“cola”, pois é a liga (união) entre mora-
dores fazendo-os permanecer no local
para buscar a melhoria do ambiente onde
vivem.

A criação de muitas ecovilas foi alavan-


cada pela Associação Gaia Trust, criada
em 1987, através da realização de cur-
sos e encontros das ecovilas de todo o
mundo com troca de informações para
se compreender a essência de uma
ecovila e o que é necessário para implan-
tá-la. Os criadores da Gaia Trust foram
os mentores de uma pesquisa sobre os
melhores exemplos de comunidades no
mundo com bases sustentáveis que aca-
bou por se tornar uma reportagem cha-
mada “Ecovilas e Comunidades Susten-
táveis” (Ecovillages and Sustenable
Communities). Nela foi eternizado o con-
ceito de ecovila, definida como um as-
sentamento completo, de escala huma-
na, onde as atividades estão harmonio-

Ecovilas 19
tados com base nos princípios das lizando todas as tecnologias ambientais
ecovilas. Elas têm diferentes propostas, mencionadas. Encontram-se ecovilas
mas entendem que é vital proteger a preocupadas com a gestão da água ou
imensa reserva ambiental existente no das energias, mas os métodos constru-
país (florestas, cursos d’água e recursos tivos são os tradicionais (tijolo furado de
naturais) através da minimização do im- barro cozido, bloco de cimento); ou en-
pacto que qualquer tipo de ação antró- tão uma arquitetura bioclimática e méto-
pica cause à natureza proporcionando dos construtivos dentro da busca pela
aos habitantes o real sentimento de sustentabilidade, mas sem a gestão do
pertencimento, da busca pela igualdade lixo ou da água. Enfim, não há uma eco-
social, do conforto ambiental, da quali- vila que possa ser considerada modelo,
dade de vida e do desenvolvimento eco- mas há as que estão implantando as
nômico preocupado em integrar e não tecnologias ao longo dos anos e que, em
destruir. breve, conseguirão tê-las para tornar-se
28 - Detalhe do sanitário seco
mais próximas da sustentabilidade
O quadro na página anterior indica o ca- compostável. Adaptado pela autora.
ambiental.
minho já trilhado pelas principais ecovilas
no mundo e a primeira ecovila do Brasil. Devido a isso, vamos enfatizar as princi-
Pode-se observar a localização, ano de pais tecnologias utilizadas nas ecovilas
origem, cola e quais tecnologias ambien- que podem ser implantadas em unida-
tais são utilizadas por elas. des residenciais uni e multifamiliares,
unidades comerciais, de saúde entre
Afinal, como disse Margareth Mead, nin- outras.
guém duvide que um pequeno grupo de
cidadãos consiga mudar o mundo. Na Tanto na ecovila Ipec como na Parque
verdade, esta é a única maneira disso Visão Futuro é possível observar como
acontecer. o terreno de cada uma foi aproveitado
para a implantação das tecnologias
As tecnologias ambientais ambientais sem necessidade de destruir
nas ecovilas brasileiras as áreas verdes existentes.

As tecnologias ambientais são técnicas Na gestão das energias renováveis tem-


que priorizam a conservação e manuten- se priorizado o uso da energia solar e
ção dos recursos naturais e minimizam um dos produtos mais conhecidos é o
o impacto ambiental causado pelo modus Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC)
vivendi da humanidade, além de serem utilizado na ecovila do Instituto de
parte integrante de um projeto de arqui- Permacultura e Ecovila do Cerrado
29 - Vista externa do sanitário seco.
tetura voltado para a conservação da (IPEC): desenvolvido pela ONG Socie-
natureza. dade do Sol (SOSOL), o ASBC pode ser
levada para um tanque em espiral com
construído por qualquer pessoa e sua
raízes onde ocorrerá sua purificação bi-
Podem ser métodos construtivos onde instalação é simples. Para qualquer dú-
ológica através da passagem por ca-
se utiliza material local de forma sus- vida, a SoSol disponibiliza gratuitamen-
madas de carvão vegetal, pedra, brita e
tentável (madeira, argila, solo cimento ou te um manual pela Internet1.
areia. Limpa, a água é levada para um
material reciclado como plástico, ma- local de armazenamento (cisterna ou
terial de construção de demolição); uso A energia solar também tem sido utiliza-
da para geração de energia elétrica atra- caixa d’água) para ser utilizada em sani-
de energias renováveis como a solar tários, chuveiros, lavatórios. O desenho
térmica para aquecimento da água, a vés do uso dos painéis fotovoltáicos. Ele
converte a energia do sol em energia elé- indica como a tecnologia ambiental foi
elétrica fotovoltáica para geração de implantada na ecovila Parque Visão Fu-
energia. Também há técnicas como tra- trica diminuindo o uso da energia advinda
da concessionária local. turo (São Paulo).
tamento biológico do efluente do esgo-
to, reuso de água para fins não potáveis, O tratamento do efluente de esgoto
Na gestão da água há algumas opções:
captação de águas pluviais evitando o através do uso da zona de raízes: o pro-
uso de água tratada e reciclagem de lixo Os sanitários secos compostáveis não cedimento é parecido com o mostrado
diminuindo a infestação de vetores de usam a água para a limpeza do sanitá- na imagem 30, porém nesse é importante
doenças e o acúmulo de lixo perto de rio e aproveitam os dejetos para torná- haver uma fossa séptica para tornar a
moradias. los adubo orgânico. tecnologia eficaz e segura para a saúde
humana. O esquema ilustrativo mostra
Dentre as ecovilas no Brasil, poucas pos- O uso da água da chuva para fins não a tecnologia implantada na Ecovila Par-
suem a sustentabilidade ambiental uti- potáveis: a água da chuva é recolhida e que Visão Futuro tendo como destino fi-

20 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


30 - Esquema da utilização da água de chuva.

Nas áreas urbanas, deve-se aproveitar


esses exemplos de tecnologias am-
bientais implantadas nas ecovilas e
adaptá-las, diminuindo o desperdício de
energia e água, a destruição do ambien-
te natural e criando uma consciência atra-
vés da responsabilidade ambiental ne-
cessária a cada indivíduo.

31 - Esquema da utilização da água de chuva: ciclo fechado Nota:


1 www.sociedadedosol.org.br. Acessado em: 7
de outubro de 2008.
nal a irrigação de áreas verdes ou horta Muitas outras ecovilas estão sendo im-
e lavagem de chão. plantadas e têm buscado trabalhar com Referências bibliográficas
as tecnologias ambientais porque acre- LENGEN, Johan Van. Manual do Arquiteto Des-
Pode-se unir os dois métodos em uma calço. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2004.
ditam que um verdadeiro assentamento
697 p., 21cm. ISBN 85-8745538-9.
mesma edificação, tornando o ciclo da humano deve unificar a convivência, a
gestão da água mais completo: a água ajuda mútua e a preocupação com o am- RAINHO, Lúcia. As Tecnologias Ambientais nas
de chuva é captada, tratada e utilizada. Ecovilas: um exemplo de gestão da água. 2006.
biente natural no qual está inserido para 314 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) –
Depois passa por um novo tratamento, que possa ter condições de chegar a uma Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Uni-
vai para uma outra caixa d’água pronta relativa sustentabilidade ambiental me- versidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
para servir a outros fins. lhorando o entorno no qual se encontra. Janeiro.

Zona 6: Pirinópolis – GO Ipec


- Aberturas médias para ventilação com sombreamento nas
mesmas.
- Paredes externas pesadas e cobertura leve e isolada.
- No verão deve adotar resfriamento evaporativo e massa
térmica para resfriamento, além de ventilação seletiva (nos
períodos quentes em que a temperatura interna seja superior à
externa) como estratégias de condicionamento térmico passivo;
e no inverno vedações internas pesadas – inércia térmica.

Zona 3: Porangaba – SP Ecovila Parque Visão Futuro


Porto Alegre – RS Ecovila 1
- Aberturas médias para ventilação e sombreamento de maneira
que permita o sol durante o inverno.
- Paredes externas leves e refletoras e cobertura leve e isolada
- No verão deve adotar ventilação cruzada como estratégias de
condicionamento térmico passivo; e no inverno aquecimento
32 - Mapa das Zonas Bioclimáticas solar na edificação e vedação interna pesada – inércia térmica.

Ecovilas 21
ECOOVILA 1
– espécies controladas e imunizadas
pelo manejo correto.

Existem ainda outros materiais no mer-


cado que poderão ser considerados, tais
como painéis de lixo reciclado, tijolos
de cinza e solo-cimento, avaliando-se
suas vantagens e desvantagens para o
grupo.

FICHA TÉCNICA:
Local: R. João Passuelo, 130 Vila Nova,
Porto Alegre – RS
Arquiteto: Otávio Urquiza Chaves
Área do empreendimento: 26.000 m2
com 28 residências
1 Centro de Trabalho e Educação
Ambiental
1 Bosque do Silêncio: 10.000 m2 de
proteção de animais silvestres e
educação ambiental
33 - Ecoovila Área construída: 288 m2
Posição: norte solar
Paredes: duplas com tijolos da região
A Ecoovila objetiva um ecossistema equi- tetônicos da Ecoovila 1 com caracterís- Esquadrias: vidros duplos em madeira
librado e produtivo para o convívio har- ticas de sustentabilidade, apontando tradicional
Telhado: vivo com plantas suculentas e
monioso entre seus moradores e a natu- para edificações autônomas, infra-estru- telhados com aquacultura
reza, obtendo a facilitação de bens e ser- tura ecológica e paisagismo produtivo. Aquecimento da água: solar em série
viços, tais como produtos alimentares, com aquecedor a gás de oito litros
Materiais e tecnologias Aquecimento ambiental: lareira eficiente
abastecimento de água, com emissão e sol
mínima de resíduos para o meio urba- apropriadas: Refrigeração: espirais e ervas e
no. Com isto, obtêm-se a diminuição do temperos e escadas chaminé
Para o desenvolvimento dos projetos, Cobertura dos automóveis: parreiras
custo de manutenção da habitação e da retráteis – produção de uvas e vinhos em
buscaram-se tecnologias novas e apro-
poluição do meio ambiente. parceria com produtores seculares da
priadas, a fim de obter maior conforto região
Assim criam-se Ecoovilas, com a otimiza- térmico, rapidez, menores custos de exe- Energia elétrica: inexistência de
cução e, principalmente, menor impacto instalação de chuveiro elétrico e ar
ção das fontes energéticas (água, sol, condicionado
vento e biológica), integradas aos ele- sobre o meio ambiente. Esgotos: águas negras (cloacal):
mentos construídos, isto é, as edifica- sistemas de fossas duplas com fluxo
Acreditou-se na baixa “pegada ecológi- vertical – separador de sólidos e líquidos
ções, a infra-estrutura e o paisagismo, – posteriormente dirigidos a BioFiltros
ca” do tijolo cerâmico que, quando pro-
sendo: interfaciando o paisagismo; águas cinzas:
duzido na região, ainda é um excelente chuveiros, pias, lavar roupas, cozinha
edificações mais autônomas material com custo energético regular e sistema de separação, dirigidas para
aceitação pelas famílias como algo du- BioFiltros de fluxo horizontal, resultando
paisagismo máximo e produtivo em córregos paisagísticos diários.
radouro. Paisagismo: produtivo e permaculturas;
infra-estrutura mínima e integrativa
interface com edificação e infra-estrutura;
fechamento dos ciclos das águas Utilizaram-se materiais a partir de madei- espirais de ervas e temperos; círculos de
ras renováveis, que desponta como o bananeiras; mandalas de hortaliças;
tratamento biológico dos esgotos pomares; canteiros de ervas e temperos
caminho para o desenvolvimento susten- atrativos de fauna.
manutenção de fauna e intensificação
tável, como as toras de eucalípto de re- Infra-estrutura ecológica e
biológica interdependente
florestamento, com selo ecológico, para
Captação das águas de chuva:
A área se caracteriza por riqueza paisa- fazer as estruturas autônomas das edifi- biológica, não há captação física
gística, contendo condicionantes sig- cações, preenchidas por alvenarias ou Reutilização dos córregos
nificativos que demandam percepção chapas de compensado OSB (lascas de paisagísticos formados por águas
tratadas para reutilização
cuidadosa e estratégica construção, pinnus eliotys), como é o caso da cons- Iluminação noturna de pátios: mínima,
minimizando contradições com órgãos trução da sede da Arcoo e da casa 11. com sensores de presença que servem
públicos e moradores. também como alarmes silenciosos e
Utilizou-se a espécie de eucalípto Lyptus manutenção da percepção da abóboda
celeste e estelar.
A partir da definição do “Programa Ne- da Aracruz da Bahia, em diversos itens, Pavimentação mínima drenante:
cessidades” proposto inicialmente pela como pisos, móveis e deques. O eucalip- inicialmente britas com córregos,
cooperativa, resultaram os projetos arqui- to manejado, de Harmonia e o da CEEE posteriormente concregrama

22 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Ensaio

ILHAS ENERGÉTICAS
Jacques Jayme Hazan
Arquiteto, Diplomado em Études en Dévelopment et Aménagement du Territoire, IRFED, Paris, 1968; autor
dos estudos das Ilhas Energéticas.

mento em experiência piloto como pos-


sível nucleador para desenvolvimento de
redes urbanas microrregionais e esti-
mulador da construção civil no interior do
país. Apresentado na Premiação Anual
do Instituto de Arquitetos do Brasil, De-
partamento do Rio de Janeiro em 1982,
o Programa recebeu menção honrosa
como trabalho teórico, ampliando sua
divulgação na época.

Ilhas Energéticas como


conceito
O conceito de ‘Ilhas Econômicas’ é am-
plo, pragmático e complexo, desde seu
nome até o conteúdo do que se preten-
de e os objetivos a que se propõe. De
fato, o nome é híbrido e vizinho de con-
ceitos subjetivos, impregnados de diver-
sas interpretações geográficas, econô-
micas, psicológicas e psico-sociológicas.
A agregação do termo “Ilha” às caracte-
34 - Mapa do Brasil IES rísticas “econômicas” dificilmente foge do
sentido de isolamento, de rendimento e
Introdução – Antecedentes de grande porte (1 milhão de l/dia), bem de produtividade, possibilitando uma in-
como de agrovilas energéticas. terpretação “autoritária”, autárquica ou
O Programa ‘Ilhas Energéticas ou Célu- mesmo prisional de um lado ou, na me-
las Microrregionais de Desenvolvimen- A revisão dos conceitos iniciais e neces- lhor hipótese, de paraíso e de fantasia
to’ foi elaborado no âmbito da Fundação sidade de ampliação do programa do de outro.
de Tecnologia Industrial (FTI) no 1º tri- ponto de vista urbanístico deram ao es-
mestre de 1980, com o objetivo de de- tudo um novo nome e características A inclusão das características modula-
senvolver, em termos de anteprojeto, as mais construtivas, dentro de uma con- res de seus componentes técnico-econô-
idéias anteriormente lançadas e dis- cepção urbanístico-regional, a partir de micos e do conceito celular de sua
cutidas na STI/MIC e na FTI em torno uma estrutura modular e de uma geratriz interação com o meio ambiente e realida-
das chamadas “Ilhas Econômicas”, au- de desenvolvimento celular. O programa de social concreta, que o transformaria
das Ilhas Energéticas enquadra-se, en- num projeto/programa aberto, não mode-
tarquias tecnológico-econômicas auto-
tão, num esforço governamental para de- lado, e sim experimental e pragmático,
suficientes energeticamente, a partir da
senvolver uma base de assentamento ainda pareceria utópico, simplificado ou
produção de álcool em mini-destilaria, re-
para a produção de insumos energéticos imposto. Considerando-se seu desdobra-
lativamente isoladas do ponto de vista mento operacional em três “pacotes” de
em geral, e de álcool em particular, a par-
do mercado. estudos e projetos: o tecnológico-eco-
tir de fontes variadas e, ao mesmo tem-
Na época, desenvolvia-se, também, pa- po, organizar e estimular a construção nômico (PTE), o sócio-territorial (PST) e
de mini-destilarias, com desdobramen- o administrativo-institucional (PAI), fru-
ralelamente, na própria FTI, o estudo de
tos possíveis para uma política de des- tos da imaginação e instrumentação
viabilidade para mini-destilarias para ál-
concentração e estímulos às iniciativas tecnocrática, na realidade, este progra-
cool de mandioca com capacidade de
de cooperativismo e associativismo. ma/projeto pretendia ser, de um lado,
10.000 l/dia que, a princípio, poderiam prospectivo e, de outro, estratégico.
servir de base econômica e energética Infelizmente, as Ilhas Energéticas não
para as “Ilhas”. Além disto, a iniciativa foram implementadas, apesar da viabili- Prospectivo, porque seus resultados glo-
privada, ligada ao setor álcool-açucarei- dade técnica e econômica comprovada bais somente seriam sentidos a médio e
ro e financeiro, com base no Pró-álcool, pelos estudos. Posteriormente, foi dis- a longo prazo, posto que se trata de um
avançava na criação de Pólos Alcooleiros cutida a possibilidade de seu aproveita- projeto de organização territorial, inclu-

Ecovilas 23
indo uma dinâmica social e institucional. pelo pequeno porte, pela forte interde- Promover uma maior integração territo-
Estratégico, porque entre seus objetivos, pendência regional, inter-setorial e de rial dentro de uma política de organiza-
imediatos ou de curto prazo, propõe-se consumo, com utilização intensiva de ção do território – espaços rural e urba-
a produzir insumos energéticos e alimen- mão de obra e utilização de tecnologias no regional num movimento do interior
tos de forma racional e organizada, in- adequadas ou intermediárias (inovação para os centros, capaz de diminuir o atual
serindo-se na programação prioritária go- sem dominação). processo migratório rural-urbano;
vernamental do Pró-álcool, da Biomassa,
e da produção alimentar, agregada a uma Embora contendo uma ou mais unida- participar do esforço nacional de cres-
perspectiva de reestruturação agrária e des agro-industriais, indutoras ou motri- cimento do setor agro-pecuário, melho-
regional vinculada a um processo de par- zes do desenvolvimento (baterias), es- rias tecnológicas, expansão das frontei-
ticipação social. tas procuram ser auto-suficientes do pon- ras agrícolas e implantação de agro-in-
to de vista energético e propulsoras do dústrias com base em auto-suficiência
Evidentemente, o conceito de “ilhas eco- desenvolvimento rural integrado, inte- energética, ocupação de mão de obra
nômicas” é vizinho aos de “pólos de de- ragindo com as estruturas sociais exis- ociosa e emprego de tecnologias ade-
senvolvimento”, também chamados de
tentes ou em formação e com o meio fí- quadas;
pólos de crescimento, indústria-motriz,
sico-territorial. Isto caracteriza as célu-
etc., muito desenvolvidos por Francois promover o desenvolvimento rural in-
las como processo participativo com
Perroux, J. Boudeville, J. Paelinck, J.B. tegrado, possibilitando um processo de
Parr, Friedman, entre outros. Estes con- conotações tanto técnico-econômicas
como sócio-territoriais, o que lhes agre- estruturação agrária, de organização e
ceitos foram ainda tratados em linha de
ga ainda uma conotação associativa não ação comunitárias, bem como promoção
proposta de uma “política nacional de
só de interesse privado, como público e de atividades associativistas e coope-
pólos planejados” para o Brasil por Ha-
milton C. Tolosa – em seu artigo “Pólos comunitário, sendo desejável a partici- rativistas;
de Crescimento” – teoria e política eco- pação governamental catalisadora de um
participar do esforço nacional de eco-
nômica, publicado nos Cadernos do Ipea processo associa-tivista e cooperativista
nomia de combustíveis, transporte e
– série monográfica nº 8 de 1972. de ação comunitária, e reguladora das
energia, mediante uma reestruturação
possíveis tensões e atritos.
No entanto, o conceito que se pretende gradual do sistema urbano e de suas li-
para as “Ilhas Econômicas”, agora de- Como resultado da análise acima, pode- gações. Isto levaria a uma estruturação
nominadas de “Ilhas Energéticas” ou “Cé- se acrescentar, ainda, que o conceito de de redes urbanas regionais, integradas,
lulas de Desenvolvimento”, liberando-se célula tem muito em comum com o de auto-suficientes energeticamente, e com
nominalmente das impregnações cita- pólo, mais no sentido geo-econômico sustentabilidade economicamente, ten-
das, e adquirindo mais plenamente suas que lhe conferem Boudeville, J., Parr, JB dendo ao condicionamento dos espaços
características de inserção celular numa e Friedman, como espaços contíguos e urbanos e rurais a novas formas, como
realidade social concreta e, ao mesmo contínuos (regiões: plano, polarizada e cidade-território, agrovilas energéticas e
tempo, de “bateria” indutora de um pro- até mesmo homogêneas), promovendo alimentares etc.
cesso de desenvolvimento auto-susten-
a médio e longo prazo o equilíbrio de di-
tado microrregional, afasta-se em parte
ferentes regiões e a diminuição do êxodo Estrutura esquemática e
do conceito de pólo de crescimento, de
rural, assim como mudanças estruturais, genérica das células
desenvolvimento ou indústria-motriz,
pelo que se segue: dando margem a uma permanência ru-
ral das populações em atividades não
microrregionais de
O conceito de pólo de crescimento, e exclusivamente agro-pecuárias. desenvolvimento.
especialmente o de indústria-motriz,
condiciona-se a um efeito de dominação Um programa nacional de implantação As células constituem-se de núcleos e/
e inovação que parte do centro para a de células de desenvolvimentos micror- ou setores, de faixas de áreas e se inter-
periferia, caracterizado basicamente pelo regionais, apresentaria, assim, do ponto ligam por eixos a outras células ou cen-
grande porte, pela elevada taxa de cres- de vista de política nacional de desen- tros maiores, inclusive pólos de desen-
cimento superior à média regional, e ain- volvimento, os seguintes objetivos: volvimento, no sentido integral-urbano-
da pela forte interdependência industrial regional.
e de mercado, com utilização intensiva complementar as metas nacionais de
de capital. substituição parcial e gradual de gasoli- Núcleos são assim, os elementos bási-
na por álcool motor, em conjunto com ou- cos de uma célula. Estas, podem se
O conceito de célula microrregional de tros projetos inseridos no âmbito do Pró- constituir de dois ou mais núcleos, con-
desenvolvimento não equivale a um álcool; forme os objetivos do programa, as pe-
desmembramento modular ou quantita- culiaridades locais e a dinâmica de seu
tivo do conceito de pólo de crescimento, participar da promoção de um progra- crescimento e desenvolvimento.
embora, com ele, tenha bastante em co- ma de óleos vegetais com finalidades
mum na forma ou aparência. Trata-se, não só alimentares, mas especialmente Definem-se assim núcleos energéticos,
no entanto, de um conceito qualitativo energéticas de complementação e inte- alimentares, comunitários, etc. confor-
diferente, partindo da periferia para o gração das metas de substituição gra- me os objetivos sócio-econômicos que
centro, caracterizado essencialmente dual de derivados de petróleo; os caracterizam.

24 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Do ponto de vista econômico, teríamos reestruturação do espaço econômico bra- seus anexos (composição, mapas, tabe-
os núcleos agro-energéticos, os agro- sileiro, com características mais territo- las, bibliografia, lista de programas afins
alimentares, os agro-pecuários, etc. riais, sociais e regionais e evitando ao etc) e seu desdobramento no programa
máximo o chamado “passeio do álcool” mais amplo Tecpur (Tecnologia e Ener-
Do ponto de vista social, teríamos os produto das grandes destilarias concen- gia para Comunidades Peri-Urbanas e
núcleos comunitários, núcleos de ser- tradas (100, 150, 200 l/dia – pólos Rurais), ainda parece atual, apesar das
viços, núcleos habitacionais, etc. alcooleiros) para um consumo distante. mudanças políticas (autoritarismo e de-
mocracia), econômicas (estatismo e glo-
Os núcleos podem apresentar-se em Além disso, este programa tem a vanta- balização) e sociais (êxodo rural e con-
características físico-funcionais de forma gem de seu caráter distributivo das ativi- centração urbano-metropolitana com alto
modular, de acordo com a dimensão e a dades, da renda, do emprego e da tecno- grau de violência). Parece mesmo neces-
função que exercem, caracterizando urna logia, valorizando os municípios brasilei- sário e oportuno para uma melhor distri-
hierarquia funcional e dimensional. ros, células institucionais básicas da na- buição espacial das atividades econômi-
ção, podendo associar-se a um proces- cas, do emprego, da qualidade de vida e
Eixos se constituem nas artérias de ser- so de micro-regionalização associativa
viços; infra-estruturais, de comunicação da preservação do meio ambiente.
gradual para assistência técnica e pro-
e/ou de circulação ou ligação com ou- gramas de desenvolvimento, já realiza- Na retomada atual do Pro-álcool e na fal-
tras células ou centros urbanos. dos em alguns estados. sa disputa por terras para produção de
combustíveis (especialmente álcool de
cana) contra a produção de alimentos
este programa/projeto, se levado avante
pelo governo federal no seu Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC)
com a participação dos governos esta-
duais e municipais, empresas e coope-
rativas de produção e consumo, poderá
em muito contribuir para uma política
territorial planejada de âmbito micro-
rregional a contrapor-se ao isolacionismo
municipal, às mono-culturais (cana, soja,
milho, pecuária etc.) e ao gigantismo vi-
olento e estéril das grandes cidades, com
suas áreas metropolitanas, gangues e
populações reféns das mesmas.

Dentro da esfera da sustentabilidade e


da preservação do meio ambiente, o uso
da biomassa e de combustíveis menos
poluentes coloca-se junto aos esforços
de uso maior da energia solar, da ener-
Conclusões Para uma melhor perspectiva de implan- gia eólica e de outras tecnologias alter-
tação, além do esforço de uma partici- nativas para contribuir não somente para
A proposta das Ilhas Energéticas trata, pação social ampla e democrática, são a qualidade de vida das populações,
sobretudo, da criação de novos núcleos fundamentais as interações com os di- como para seu assentamento territorial
auto-sustentáveis economicamente, a versos órgãos, entidades e programas com mais segurança, estabilidade e ex-
partir do reconhecimento da escala e das comprometidos com o desenvolvimento
possibilidades energéticas regionais. pectativa para um futuro melhor.
social e físico-infra-estrutural, com as co-
Este programa, diferentemente da im- munidades, os empresários nacionais e O programa/projeto contém, no seu des-
plantação aleatória de pólos de cresci-
entidades técnicas e de pesquisa. dobramento como Tecpur, os elementos
mento gigantes e concentradores como
básicos necessários para através de sub-
os de Aratú e Camaçari na Bahia, Betim Para se tornar realidade, o programa das
e Ouro Branco em Minas Gerais, além programas e projetos, com a colabora-
Ilhas Energéticas deveria se integrar a ção de equipes multidisciplinares de ar-
de outros mais dispersos, mas uniseto- um programa maior de implantação de
riais e concentradores, como os eixos de quitetos-urbanistas, engenheiros das di-
pólos planejados no território nacional,
produção de álcool e açúcar de cana no versas áreas, pessoal das áreas médi-
como proposto por Hamilton C. Tolosa
estado de São Paulo e as zonas de ál- co-social, construção civil e outros, per-
no seu artigo “Polos de Crescimento”, te-
cool e açúcar do Nordeste, surge num oria e politica econômica (in Cadernos mitir sua implantação, não apenas em
movimento centrípeto – da periferia para do Ipea – série monográfica nº 8-1972). nível piloto mas, em seguida, no territó-
os centros – como o das células de de- rio nacional, ajudando a aperfeiçoar in-
senvolvimento microrregional, agro-ener- Apesar dos 26 anos decorridos de sua clusive programas ainda assistenciais,
géticas e/ou agro-industriais, que visa a formulação, este programa/projeto com necessitando de maiores perspectivas.

Ecovilas 25
Dicas

Global Ecovillage Network (Rede Global de Rede Gaia Brasil


Ecovilas) – GEN
Trata-se de um projeto educacional elaborado por um grupo
Tem como objetivo expandir e aperfeiçoar o número desses internacional de educadores com experiência em desenvolvi-
assentamentos em outros países e congrega uma série de mento e gestão de ecovilas. Oficializada em setembro de 2005,
condomínios ecológicos no mundo todo. Foi criada em 1995, em Findhorn, Escócia, representando um dos resultados des-
por ocasião da Conferência sobre as Ecovilas e Comunidades se projeto e com apoio das Nações Unidas, face ao desafio
Sustentáveis – Modelos para o Século XXI, realizada na Fun- lançado para a década da educação para o desenvolvimento
dação Findhorn na Escócia, entidade implantada há mais de sustentável, de 2005 a 2014. A Educação Gaia deve assumir
30 anos que dá ênfase à sustentabilidade ecológica, econô- características específicas na sua aplicação local, valorizan-
mica, cultural e espiritual. gen.ecovillage.org, data: 09 de agos- do a preservação e a riqueza da diversidade cultural de cada
to de 2008. comunidade. www.gaiabrasil.net, acessado em: 09 de agosto
de 2008.

ENA
Ecocentro–Ipec
É a representante do Hemisfério Ocidental na GEN. Trabalha
Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado – é uma orga-
para unir as culturas das Américas do Norte, Central, do Sul e
nização estabelecida em Pirenópolis, Goiás, para desenvol-
o Caribe de maneira que se tornem uma força unificada nos
ver oportunidades de educação e referências em sustenta-
movimentos sustentáveis e de ecovilas.ena.ecovillage.org/
bilidade para o Brasil. www.ecocentro.org/inicio.do, acessado
English/region/index.html, acessado em: 09 de agosto de 2008.
em: 09 de agosto de 2008.

ENA Brasil – Rede Brasileira de Ecovilas Instituto de Permacultura e Ecovilas da


Mata Atlântica (Ipema)
Tem por objetivos: promover a formação de novas ecovilas;
promover a educação em todos os aspectos da vida sustentá- É uma organização da sociedade civil de interesse público,
vel, a pesquisa, o desenvolvimento e o uso de tecnologias com a missão de fomentar e difundir a permacultura para a
apropriadas; apoiar e pesquisar formas de organização sus- criação de assentamentos humanos sustentáveis. Sua sede
tentáveis afins; conduzir atividades de aprendizagem e localiza-se no município de Ubatuba, São Paulo. www.
ensinamento; ativar a cooperação e facilitar intercâmbio de ipemabrasil.org.br, acessado em: 09 de agosto de 2008.
informação entre as ecovilas e iniciativas afins e promover
cooperação internacional entre as ecovilas e iniciativas simila-
res do Brasil e no mundo. ecovilas.nexcess.net e ena.
Ecovila Tibá
ecovillage.org, acessado em: 09 de agosto de 2008. Em Bom Jardim – RJ, dispõe-se em toda a extensão de seus
programas, atendendo comunidades e organizações, por exem-
Aldeia Bio-Regional Amazônica – ABRA144 plo, nas áreas de bio-arquitetura, agroecologia e no planeja-
mento de eco-vilas. Mantém ainda convênios e intercâmbios
Trata-se de um projeto que visa a formação de uma comuni- com instituições, grupos e pessoas direcionadas para os mes-
dade com características, como seu próprio nome o diz, bior- mos fins. Além de ministrar cursos, trabalha como pousada.
regionais, prestando atenção plena ao entorno local, à história www.tibarose.com, acessado em: 09 de agosto de 2008.
e às aspirações que apontem a um futuro sustentável; traba-
lhando com recursos seguros e renováveis para a produção Ecovila Harambê
de alimentos e energia; assegurar empregos ao promover uma
rica diversidade de serviços gerados dentro da comunidade; É um programa da Fundação Peirópolis que utiliza os valores
reciclar os recursos e intercambiando prudentemente os exce- humanos para tornar mais feliz e mais digna a vida do ser
dentes com outras regiões. www.abra144.org, acessado em: humano quando se aposenta, é uma ecovila voltada para o
09 de agosto de 2008. conforto e segurança dos mais velhos. www.harambe. org.br,
acessado em: 27 de julho de 2008.
Ecocity
PROJETO
Apresenta artigos, projetos, pessoas e gravações digitais to-
madas de comunicação social de várias entrevistas com Ecovila São Paulo, projetada pelo Arquiteto Marcelo Todescan
organizadores, pensadores e colaboradores, e destaca uma no escritório TES Arquitetura, com o objetivo de sustentabi-
série de apresentações feitas na 7th International Ecocity lidade e de uma nova forma de viver na cidade.
Conference realizada em abril de 2008, em São Francisco, www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/162/
Califórnia. ecocity. wordpress.com, acessado em: 09 de agos- sustentabilidade-proposta-de-uma-ecovila-em-sao-paulo-de-
to de 2008. 60699-1.asp, acessado em: 08 de setembro de 2008.

26 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


ELETROBRÁS EXPEDIENTE
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Cadernos de Boas Práticas em Arquitetura
Av. Presidente Vargas, 409 – 13°andar - Eficiência Energética nas Edificações
Centro – Rio de Janeiro
CEP 20071-003 Conselho Editorial
Caixa Postal 1639 Adriana Larangeira
Tel.: (21) 2514.5151 Armando Mendes
www.eletrobras.com Carlos Murdoch
eletrobras@eletrobras.com Dayse Góis
Mauro Almada
Vera Hazan
ELETROBRÁS PROCEL
Responsável Técnica
Programa Nacional de Conservação de Ruth Jurberg
Energia Elétrica RJ Planejamento Integrado Ltda
Av. Rio Branco, 53 – 14°andar Editora
Centro – Rio de Janeiro Mariane Azevedo
CEP 20090-004
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Ligação Gratuita: 0800.560.506
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procel@eletrobras.com Revisora
Claudia Jurberg
ELETROBRÁS PROCEL EDIFICA Capa
Eficiência Energética em Edificações Qualiurb Design

Av. Rio Branco, 53 – 15°andar


Centro – Rio de Janeiro CRÉDITOS
CEP 20090-004
1: Intervenção in www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/162/
Fax: (21)2514.5767 sustentabilidade-proposta-de-uma-ecovila-em-sao-paulo-de-60699-1.asp
Ligação Gratuita: 0800.560.506 2: cedida pela Empresa Biodesign Construtora Ltda
3, 4, 5, 6: cedidas pelo Ecocentro IPEC
7, 8, 9 e 10 RIBEIRO, Benjamin Adiron. Vila Serra do Navio: comunidade
urbana na selva amazônica, projeto do engenheiro-arquiteto Oswaldo A.
Bratke. São Paulo: Pini, 1992.
IAB RJ 11, 12, 13 e 14 SEGAWA, Hugo & MAZZA DOURADO, Guilherme. Oswaldo
Arthur Bratke. São Paulo: ProEditores, 1997.
Instituto de Arquitetos do Brasil - 15, 17 e 18: Escritório Joaquim Guedes CAMARGO, Mônica Junqueira de.
Joaquim Guedes. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2000.
Departamento Rio de Janeiro 19, 20 e 22: Anna Mariani CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim Guedes.
São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2000.
Rua do Pinheiro, 10 16: Série Depoimentos. Rio de Janeiro: IAB, 1978
Flamengo - Rio de Janeiro 21: BIERRENBACH, Ana Carolina. A Caraíba de Joaquim Guedes: a trajetó-
CEP 22220-050 ria de uma cidade no sertão. In Arquitextos nº 87, agosto de 2007 (revista
Tel.: 2557.4192 / 2557.4480 eletrônica). Disponível online em www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq087/
arq087_02.asp.
www.iabrj.org.br 23:
iabrj@iabrj.org.br 24 e 25: maps.google.com.br
26: Arquiteto Carlos Murdoch
27:
28: IPEC in RAINHO, Lúcia. As Tecnologias Ambientais nas Ecovilas: um
exemplo de gestão da água. 2006. 314 f. Dissertação (Mestrado em Arquite-
tura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro.
Imagens 30 e 31: RAINHO, Lúcia. As Tecnologias Ambientais nas Ecovilas:
LISTA DE CADERNOS um exemplo de gestão da água. 2006. 314 f.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanis-
1. Shopping Centers
mo - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
2. Edificações de Saúde Imagem 29: LENGEN, 2004. in RAINHO, Lúcia. As Tecnologias Ambientais
3. Hospedagem nas Ecovilas: um exemplo de gestão da água. 2006. 314 f. Dissertação
4. Edificações Esportivas e de Lazer (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
5. Edificações Unifamiliares
Imagem 32: Intervenção sobre mapa produzido pela NBR 15220-3 – ABNT
6. Edificações Multifamiliares Imagem 33: cedida pelo arquiteto Otávio Urquiza
7. Ecovilas Imagem 35 e 35: cedida pelo arquiteto Jacques James Haza

Ecovilas 27

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