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Diretoria de Ensino
Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças
Curso de Formação de Praças - 2010
Sumário:
I. STF causa polêmica ao decidir que juiz pode aplicar pena alternativa a traficante, divergentemente do
que discorria a Lei das Drogas.
II. Tribunal de Justiça de São Paulo reconhece a profissão policial como pertencente do rol de carreiras
com direito a aposentadoria especial de 25 anos.
Não obstante, no Brasil, reinar uma tradição de interpretação literal, ou seja, uma vinculação
mais acentuada à lei escrita (conhecido como o princípio da estrita legalidade), cada vez mais seus
Tribunais Superiores passam legislar de forma secundária. Preenchendo lacunas da lei e fazendo releituras
dos diplomas legais pela óptica dos novos anseios sociais. Há críticos que vociferam contra certo império do
Judiciário, que passa a intervir em todos os aspectos das relações jurídicas e sociais.
No decorrer desta reflexão, gostaríamos de lhe apresentar alguns casos e lhe propor alguns
questionamentos.
I. STF causa polêmica ao decidir que juiz pode aplicar pena alternativa a traficante,
divergentemente do que discorria a Lei das Drogas.
Antes de passarmos para os textos técnicos, leia esta matéria jornalística, extraída de
importante veículo gaúcho (visualizada em 01Nov10, no sítio -
http://blogdainseguranca.blogspot.com/2010/09/impunidade-e-complacencia-penas.html):
aplica a chamada “pena restritiva de direito” a quem foi acusado por tráfico. A
decisão criou controvérsia entre autoridades.
Trata-se principalmente da discussão sobre punições a pequenos
traficantes. Os ministros chegaram a dizer durante o julgamento que muitas dos
presos com pequenas quantidades de drogas se tornam perigosos após o
cumprimento de suas penas pelo convívio com criminosos na cadeia.
O tribunal analisou o caso específico do gaúcho Alexandre Mariano
da Silva. Ele foi condenado a menos de dois anos de prisão por ter sido encontrado
com 13,4 gramas de cocaína. Ele entrou com um habeas corpus no Supremo
pedindo para recorrer em liberdade. Silva também requisitou que os ministros
convertessem sua punição em alguma pena alternativa, ao argumentar que a Lei de
Drogas (11.343 de 2006) fere o princípio da individualização da pena, ou seja, não
permite que cada caso seja analisado isoladamente, levando-se em conta suas
características peculiares.
O caso quase foi definido na semana passada, quando cinco dos 11
ministros votaram por sua liberdade e pela inconstitucionalidade da legislação.
Decidiram assim o relator Carlos Ayres Britto e os colegas José Antonio Dias Toffoli,
Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso. Já os ministros Joaquim
Barbosa, Cármen Lúcia, Ellen Gracie e Marco Aurélio Mello entendiam que o tráfico
de drogas deve receber tratamento diferenciado. Afirmam que a lei em questão
não fere qualquer princípio constitucional.
Neste ponto você já deve ter sua opinião sobre o tema. Mas para ampliar sua capacidade
crítica vamos ler opiniões pró e contra a decisão do Supremo:
“Infelizmente, o Supremo demorou quatro anos para “Acho que a legislação deveria avançar e ser ainda mais
decidir pelo óbvio: é o juiz quem tem de decidir de acordo com restritiva porque acaba sendo benevolente com o usuário.
o caso concreto. É uma visão constitucional do direito penal. Todo o usuário é um traficante em potencial. A primeira vez
Um sujeito com 13 gramas de cocaína, mesmo que seja que as pessoas usam droga, normalmente adquirem de um
considerado um traficante, é um traficante de pequena amigo, que também é usuário. Dificilmente ele adquire pela
monta.” primeira vez numa boca de fumo.”
Alexandre Wunderlich, advogado e coordenador do Luis Fernando Martins Oliveira, delegado e diretor da Divisão
Departamento de Direito Penal e Processual Penal da PUCRS de Investigação do Narcotráfico do Denarc
“Sou favorável à pena alternativa, conforme a decisão “O Legislativo fez uma lei mais severa para impedir a
do STF, em situações bem específicas. Em alguns casos, liberdade de pessoas ligadas a um crime que assola a nação. É
usuários são rotulados traficantes, mas utilizam a droga para o crime hediondo, a lei prevê uma série de sanções mais severas
consumo pessoal. São situações excepcionais. Não são todos os para os crimes hediondos. Não acho inconstitucional. Furtos,
traficantes que podem ter esse benefício." roubos, homicídios giram em torno da droga, que está
Gilberto Thums, procurador da 6ª Câmara Criminal do TJ disseminada em toda a sociedade."
Mauro Rockenbach, promotor da Promotoria Especializada
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Criminal
O diploma legal em questão é a Lei Federal de n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006, que
instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad e prescreve medidas para
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece
normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. Uma
iniciativa do legislador em tornar mais severa as sanções contra aqueles que se envolvem com o tráfico de
entorpecentes e passar a diferenciar o traficante, criminoso do usuário, paciente carente do sistema de
saúde e assistência social. O dispositivo questionado é o do artigo 44, que impedia aos juízes de prolatar
sentenças mais favoráveis a casos concretos de comprovada menor proporcionalidade de prática delituosa.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar
a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação,
produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
de direitos, ou seja, pena alternativa. A decisão final ficou, a cargo do STF, que assim pode ser vista
resumida:
O relator deste HC foi o Ministro Marco Aurélio, que relembrou sua posição quanto a um
julgado anterior recente, o HC 97.256/RS, no qual o relator foi o Ministro Carlos Ayres Britto e que Marco
Aurélio teve voto vencido. Desta vez não podendo contrariar decisão anterior passa advertir sobre alguns
pontos, entre eles a opinião contrária do Ministério Público:
Antes de continuarmos é prudente que você tenha acesso direto aos princípios constitucionais
que estão sendo avocados neste caso polêmico, em seguida compare com um trecho do relato sobre a
petição da Defensoria Pública:
Constituição Federal
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Agora leia com atenção os pontos destacados do voto do Ministro Marco Aurélio:
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Questionamentos propostos
1. Em 2006, quando o Congresso votou a Lei n.º 11.343, estava transportando para o arcabouço
jurídico um anseio social. Agora em 2010, o STF altera a compreensão sobre a execução penal
no tocante aos crimes tipificados nesta lei. Qual é sua opinião sobre o tema?
2. Alguns juízes dizem que o artigo 44 da citada lei era um impeditivo incômodo, pois existiam
situações que exigiam um tratamento diferenciado. Leia o artigo deste link:
http://www.senado.gov.br/noticias/verNoticia.aspx?codNoticia=57476&codAplicativo=2 e
comente sobre o verdadeiro espírito da lei. A lei pretendeu fazer diferença entre o usuário e o
verdadeiro traficante, você acredita que o “vapozeiro”, o “fogueteiro” e o “aviãozinho” devem
ser tratados com o rigor que faz jus ao traficante ou com a benevolência que se dá ao usuário,
são criminosos por opção vantajosa ou vítimas do desarranjo social?
3. Sobre essa faculdade que tem o Supremo de considerar uma lei ou um dispositivo dela
inconstitucional, responda:
b) Quando o legislador infra-constitucional redigiu a Lei n.º 11.343, ele não estava tão
simplesmente aprofundando o desejo do constituinte de acordo com o inciso XLIII do
art. 5º da CF: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia
[...] o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, [...] por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”?
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c) Por que o princípio da individualização da pena estaria em mais alta posição que o
clamor por uma efetiva ação contra esse mal do tráfico que assola o país?
“Clóvis de Souza Lodi explica que isso não significa que as pessoas vão
ficar impunes, os processos estão em andamento. Ele fez questão de
enfatizar que esta foi uma decisão própria e que cada juiz tem uma forma
de analisar a lei. Com relação aos questionamentos das policias, o juiz
explicou que não há motivos para se criar uma polêmica e que cada
instituição tem o seu papel dentro da constituição e cabe aos policiais
fazer o seu trabalho de investigação e prisão como já fazem e o Juiz em
dar a resposta necessária”
4. Sobre as conseqüências para a ordem pública, que decisões judiciais reconhecendo garantias e
liberdades constitucionais individuais podem causar a coletividade, leia a matéria do link
(Decisões de Juiz causam polêmica em Cruzeiro do Sul -
http://blogdainseguranca.blogspot.com/2010/09/impunidade-e-complacencia-penas.html) e
responda. Você concorda com a última afirmação do juiz?
Sugestão de filme
II. Tribunal de Justiça de São Paulo reconhece a profissão policial como pertencente do rol de
carreiras com direito a aposentadoria especial de 25 anos.
Para uma compreensão geral sobre o caso leia o texto do blog do Advogado Jeferson Camilo,
extraído de http://jefersoncamillo.com.br/2010/?p=893, visualizado em 01Nov10:
Como textos de subsídio da nossa reflexão sobre o tema estão em anexo a este, os Acórdãos n.º
03.175.394 e 03.175.395 do TJ/SP como conclusão do julgamento de dois Mandados de Injunção
impetrados por policiais contra o Governador do Estado de São Paulo. Além do Mandado de Injunção n.º
721-7/DF julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Leia-os, com calma, de forma seletiva escolhendo os
trechos mais relevantes, dos quais destacamos os seguintes trechos:
Questionamentos propostos
1. Por que se fala em vitória de classe, se os Mandados de Injunção impetrados pelos policiais
foram considerados prejudicados?
[...]
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E PRERROGATIVAS
Art. 30. Os direitos e prerrogativas dos militares são constituídos pelas
honras, dignidade e distinção devida aos graus hierárquicos e cargos
exercidos.
4. Em Alagoas, o Estatuto dos Policiais Militares está em vigor mediante uma lei estadual, na qual
especifica o tempo de 30 anos para a transferência voluntária para a reserva remunerada. Por
que a decisão do STF, sobre aposentadorias especiais teria aplicação aos policiais militares,
contrariando o Estatuto? Sobre a hierarquia das leis, comente a ordem de primazia.
5. Sobre o nível de interferência que o Poder Judiciário pode alcançar mediante suas decisões leia
o posicionamento do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo (extraído de
http://adeilton9599.blogspot.com/2010/10/comando-geral-da-pmsp-se-posiciona.html,
visualizado em 01Nov10):
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Policial Militar,
Faça o comparativo necessário com este trecho do julgado do TJ/SP de Mando de Injunção: