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GEFERSON SANTANA
GUARULHOS - SP
1
2017
GEFERSON SANTANA
GUARULHOS - SP
2017
2
GEFERSON SANTANA1
1
Correio eletrônico: santanageferson@gmail.com
3
Para minha estimada família, especialmente
meus pais Edna e Raimundo, meus avós
Antônia e Waldemar Santana (in memoriam),
meus irmãos e sobrinha Maria Júlia.
4
AGRADECIMENTOS
pudesse chegar aqui. Meus pais são minha inspiração, pois sempre
Ensino Médio.
à pesquisa. Tive a sorte de estar nestes últimos três anos sob a sua
5
que passaram pela minha trajetória escolar e a escola pública meu
o apoio da PROPAAE.
6
Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação em
Paulo foram experiências incríveis, e das quais irei lembrar pelo resto
da minha vida. Espero que, num futuro não tão distante, possamos
7
Bibliotecas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pois foram
não apenas leu meu projeto de pesquisa, como “criou tempo” para ler
valiosíssimos comentários.
andamento da investigação.
8
da UFRB e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
informais e amizade.
trabalho.
9
PEREGRINO ERRANTE
2
FERRAZ, Aydano do Couto. Peregrino errante. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, p. 25,
12 de nov. 1938.
10
RESUMO
11
ABSTRACT3
3
Agradeço ao amigo Wilson Badaró pela tradução.
12
SUMÁRIO
I – Introdução ............................................................................... 15
13
5. 2 – Nina Rodrigues e as discussões em torno da Faculdade de Medicina
da Bahia ......................................................................................... 256
5. 3 – Classe, raça e candomblé no prisma dos intelectuais comunistas .. 267
14
INTRODUÇÃO
15
literário foi central. Amado tomou como referência o modelo estético
papel central nos debates sobre raça e classe, dentro e fora do PCB,
Brasil.
16
Dr. Fábio Duarte Joly, foi importante para o surgimento do objeto da
4
Pesquisa vinculada ao projeto de pesquisa Produção Memorialística e
Historiográfica e as Imagens do Autoritarismo no Brasil, do grupo de pesquisa
Memórias, Ditaduras e Contemporaneidades (UFBA), ambos sob a coordenação
de Lucileide Costa Cardoso.
5
Pesquisa sob o financiamento inicial do IC da UFRB em 2011, depois da
FAPESB entre 2011-2012.
17
Bahia (APEB). É desta investigação que surge a proposta do
mestrado.
Silveira, Jorge Amado, Rui Facó, Mário Alves dentre outros, levando
6
A autoria dos bombardeios ocorridos em 1942 é problematizada pelo
historiador Hélio Silva. Ele viveu o processo de esforço de guerra em São Paulo,
mas, segundo suas informações – oriundas das pesquisas feitas em jornais e
outros documentos - não se tinha certeza quanto a autoria dos ataques às
costas marítimas brasileiras (Bahia e Sergipe) naquele ano. Da mesma forma,
ou que houve muita especulação da imprensa sobre o assunto. Ver SILVA,
Helio. 1942: A guerra no continente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1972.
7
Teve como diretor-chefe, a partir da década de 1940, o jornalista Wilson Lins,
amigo de Jorge Amado, filho do coronel anticomunista e dono do jornal Franklin
Lins de Albuquerque, oriundo das elites do São Francisco. Ainda esclarece-nos
18
não constavam da proposta original foram inseridos, devido à
do PCB.
dos comunistas por meio de seus militantes. Essa luta foi liderada no
Wilson Lins, em sua autobiografia, que Jorge Amado ficou na sua casa quando
retornou para Salvador. Franklin Lins que era anticomunista acolheu o escritor
apenas devido ao laço de amizade entre os dois intelectuais baianos. LINS,
Wilson. Aprendizagem do absurdo: uma casa após outra; memórias. Salvador:
Secretaria de Cultura e Turismo/ EGBA, 1997.
8
Carlos Zacarias de Figueirôa de Sena Junior informa-nos que “[...] no dia 9 de
abril de 1945, a exatos 9 dias do decreto presidencial que concederia a anistia,
e há dois meses da realização do Pleno Ampliado do CR da Bahia que havia
deliberado pela sua criação, chegava às bancas de jornais de Salvador o novo
impresso do Partido Comunista do Brasil, na Bahia, de periodicidade semanal,
chamado O Momento. O semanário, publicado em 12 páginas e em formato
tablóide, trazia, na página principal do seu primeiro número, as fotografias de
Luiz Carlos Prestes, de Octávio Mangabeira e de Armando Salles de Oliveira,
numa matéria onde se pedia “Anistia ampla e irrestrita”. SENA JUNIOR, Carlos
Zacarias Figueirôa de. Os impasses da estratégia: os comunistas e os dilemas
da União Nacional na revolução (im)possível – 1936-1948. 2007. p. 259. Tese
(Doutorado em História) – Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2007.
9
A revista fundada em 1938, pelo empresário e jornalista João Falcão, se
tornou um verdadeiro “microclima” intelectual, no qual as redes de
sociabilidades criaram um espaço de debate entre intelectuais comunistas e não
comunistas nacionais e internacionais. Na Seiva e, posteriormente, no jornal
comunista O Momento, os intelectuais comunistas foram consolidando seus
pensamentos político partidários, amadurecendo intelectualmente, organizando
o Comitê Regional-BA do PCB e fortalecendo seus níveis de influência sobre o
poder compartilhado pelas elites baianas tradicionais, ainda muito
conservadoras.
10
É preciso entender que o período Vargas tem fortes relações com o fascismo.
Para a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, o governo brasileiro tinha
características marcantes do fascismo europeu como “(...) a idéia de um Estado
19
repressor e violento, apoiou-se no partido opositor, perseguido e
20
Os problemas de pesquisa mencionados respaldaram a
21
Américas contra os fascismos, em especial o alemão liderado por
11
Sobre o cenário intelectual da Bahia e suas instituições formadoras ver:
SILVA, Paulo Santos. Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e
construção do discurso histórico na Bahia (1930-1945). Salvador: EDUFBA,
2000; SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia:
Origem e estratégias de consolidação constitucional (1894-1930). 2006. 256
fls. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal da Bahia. Salvador,
2006; FONTES, Rafael Oliveira. A Seiva de uma juventude: intelectualidade,
juventude e militância política (salvador, Bahia, 1932-43). 2011. 164 fls.
Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História
da Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, 2011; COSTA,
Iraneidson Santos. A Bahia já deu régua e compasso: o saber médico legal e a
22
Mesmo num cenário dominado pelas elites soteropolitanas,
amigos e familiares12.
literária foi liderada por João Amado Pinheiro Viegas, após sua saída
23
Os rebeldes, como se denominavam os membros da AR,
24
extremamente importante. Notamos que no primeiro romance, O país
15
Sobre as discussões teóricas sobre realismo e o realismo na obra amadiana
ver: PELLEGRINI, Tânia. Realismo: postura e método. Letras de Hoje, Porto
Alegre, v. 42, n. 4, p. 137-155, dez. 2007; PALAMARTCHUK, Ana Paula. Os
novos bárbaros: escritores e comunismo no Brasil (1928-1948). 2003. 367 fls.
Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Campinas. São Paulo, 2003; ZHDANOV, Andrei.
Soviet Literature - Richest in Ideas, Most Advanced Literature. In: Gorky,
Radek, Bukharin, Jdanov and others “Soviet Writers‟ Congress 1934", Lawrence
& Wishart, 1977. Transcribed by Jose Braz, Andy Blunden and Hasan. Oline
version. Disponível em:
https://www.marxists.org/subject/art/lit_crit/sovietwritercongress/index.htm.
Acesso em: 20 de ago. 2016; LUKÁCS, Georg. Ensaios sobre literatura. Rio de
Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965.
16
ALMEIDA, op. cit.; TÁTI, op. cit.; BARBOSA, Júlia Monnerat. Militância política
e produção literária no Brasil (dos anos 30 aos anos 50): as trajetórias de
Graciliano Ramos e Jorge Amado e o PCB. 2010. 403 fls. Tese (Doutorado em
25
O I Congresso de Escritores Soviéticos, ocorrido em 1934, na
26
Janeiro. Amado, na entrevista que cedeu a Alice Raillard, levantou a
Kurt Klaber.
decadente e pornográfica18.
18
PIEMONTE, op. cit.; ZHDANOV, op. cit.; NAPOLITANO, op. cit.; DIAS, Fabio
Alves dos Santos. Do realismo burguês ao realismo socialista: um estudo sobre
a questão da herança cultural no pensamento de Lukács nos anos 1930. 2014.
250 fls. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014.
19
LIMA, Aruã Silva de. Comunismo contra o racismo: autodeterminação e
vieses de integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939).
2015. 251 fls. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015; ROSSI, O
27
Ferraz e Carneiro ganharam notoriedade e acabaram se
Magalhães20.
28
Questões teórico-metodológicas
29
Mapeamos vários artigos de Amado, Edison Carneiro e Aydano
afro-brasileiros e o candomblé.
30
cotidiana e uso político dos sistemas de representação21. Ao mesmo
monarcas e ditadores.
21
BARROS, José D‟ Assunção. História Política e História Social. In: ________,
José D‟ Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. Rio de
Janeiro: Vozes, 2004, p. 106.
22
RÉMOND, René. Do político. In: ________, René. (Org.). Por uma história
política. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2003, p. 441-450.
23
Para Rémond, a política não tem fronteiras naturais e sua definição abrange
o campo do abstrato, sendo o poder o seu objetivo direto. Pelo seu caráter
abstrato, conclui que “ele (o político – grifo nosso) não tem margens e
comunica-se com a maioria dos outros domínios”. Ibidem, p. 444.
31
O autor colabora na compreensão de como os intelectuais
24
BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RÏOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI,
Jean-François. (Orgs.). Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998, p.
349-363.
25
Para Serge Berstein, a cultura política integra a cultura global da sociedade,
sem, por conseguinte se confundir com ela, porque “(...) o seu campo de
aplicação incide exclusivamente sobre o político”. Entretanto, a cultura política
é dinâmica em função da evolução e complexidade da sociedade e das
associações que faz com outras culturas com o intuito de refletir sobre os
problemas que se propõe a responder e entender num contexto social. Ibidem,
p. 352.
26
Ibidem, p. 349.
27
Conforme explicitou Pierre Rosanvallon, a busca pelo entendimento das
culturas políticas atreladas às vivências de grupos e partidos tem como eixo
condicionante a busca pela compreensão do presente; é um dos esforços para o
fortalecimento do que denominou de “histoire conceptuelle du politique”. O
aprofundamento das fontes poderá nos permitir entender a cultura política de
uma intelectualidade comunista dita de esquerda entre as décadas de 1920 e
1930. ROSANVALLON, Pierre. Por uma história conceitual do político. Revista
Brasileira de História, São Paulo, v. 15, n. 30, p. 9-22, 1995. Cf. BERSTEIN, op.
cit., p. 350.
32
exerceram na sociedade baiana, não apenas no sentido político, como
28
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René. (Org.). Por
uma história política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 242-243.
29
Convenhamos que a condição de filhos das elites político-econômicas
representa também uma contradição, considerando que integram a “classe
média” ou “pequena burguesia” e ao mesmo tempo lutaram pelos direitos do
proletariado, lutas sociais, repressão, direitos humanos e todos os temas
sensíveis aos intelectuais. GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere, volume 2.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010, p. 11; BOBBIO, Norberto. Os
intelectuais e o poder: duvidas e opções dos homens de cultura na sociedade
contemporânea. São Paulo: Editora UNESP, 1997, p. 58-60. Isto reforça a
sugestão de Rémond ao expor que o comportamento político dos intelectuais
merece por si só um estudo aprofundado. SIRINELLI, op. cit., p. 231.
33
intelectuais, fundamentais no processo de formação desses jovens30.
Salvador.
30
Antônio Gramsci nos ajuda a elencá-los como intelectuais orgânicos30, por
que conseguiram autoridade e influência nos debates públicos com o exercício
da cultura. Esses intelectuais comunistas representavam o grupo que lhes
davam legitimidade e homogeneidade, e neste caso representavam o
movimento comunista sediado em Salvador. Ibidem.
31
Ibidem.
32
Acrescentou Bobbio que: “em um certo sentido, que em parte também era o
sentido gramsciano, todos nós, pelo fato de vivermos em uma sociedade de
cujas lutas participamos, somos orgânicos, no sentido de que somos portadores
de certos valores contra outros, defendemos certos interesses contra outros
(fiquemos atentos ao fato de que, quando acreditamos defender apenas os
interesses dos intelectuais, defendemos na realidade um certo tipo de
sociedade na qual os intelectuais gozam de certos direitos e até mesmo de
alguns privilégios)”. BOBBIO, op. cit., p. 87.
33
Para Sirinelli, compreendem a formação intelectual compartilhada as relações
de parentesco, a formação dos posicionamentos ideológicos, as estratégias de
atuação política e educacional, além dessas experiências conjugadas.
SIRINELLI, op. cit.
34
afetivas, etc. Para Sirinelli34 e Norberto Bobbio35, é fundamental
34
Ibidem.
35
BOBBIO, op. cit.
36
SIRINELLI, op. cit., p. 249-250.
37
Onde se situa o microcosmo intelectual particular, ou como diz mais
especificamente Sirinelli, lugares de verificação das redes. Ibidem, p. 253.
38
Ibidem, p. 253.
39
Ibidem.
40
Lutar pelo poder é um dos grandes problemas dos homens de cultura, e a
circulação de suas ideias tinha a intenção de expandir seus domínios, pois como
expressou Sirinelli “[...] palavras não passeiam nuas pela rua[...]”. Ibidem, p.
258. Ou seja, as ideias dos comunistas tinham forte ligação com grupo que
participavam, neste caso o do PCB, e permitir o acesso a elas numa sociedade
35
Sirinelli41 e Gramsci42 vão muito além, ao colocarem a importância de
cada vez mais pluralista é exercer forte influência sobre o ideológico das
camadas sociais.
41
Ibidem, p. 248.
42
GRAMSCI, op. cit., p. 38.
43
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: _________, Pierre. Razões
práticas: sobre a teoria da ação. São Paulo: Papirus, 1996, p. 74-82.
44
ALVES, Júnia de Castro Magalhães. Ficção e auto/biografia: implicações
teóricas. Belo Horizonte, v. 1, p. 43-50, dez. 1997; VERNANT, Jean-Pierre. A
Travessia das Fronteiras: Entre Mito e Política II. São Paulo: EDUSP, 2009;
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto
História, São Paulo, n. 10, p. 07-28, 1993; POLLAK, Michael. Memória,
esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15,
p. 1989; LE GOFF, Jacques. Memória. In: História e memória. Campinas, São
Paulo: Editora da UNICAMP, 1990, p. 423-484.
45
POLLAK, Memória, esquecimento, silêncio; VERNANT, op. cit.; POLLAK,
Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5,
n. 10, p. 200-215, 1992. Como bem lembrou Michael Pollak (1989, p.9-10), a
memória notabilizada tem a função de dar coesão ao grupo, pois o que está em
jogo é a individual e do grupo. POLLAK, Memória, esquecimento, silêncio, p. 9-
10.
36
As reflexões de Lucileide Costa Cardoso46 sobre a produção de
46
CARDOSO, Lucileide Costa. Construindo a memória do regime de 64. Revista
Brasileira de História, São Paulo, v. 14, n. 27, p. 179, 1994.
47
CARDOSO, Lucileide Costa. Dimensões da Memória na Prática Historiográfica.
In: OLIVEIRA, Ana Maria Carvalho dos S.; REIS, Isabel Cristina Ferreira dos.
(Orgs.). História Regional e Local: discussões e práticas. Salvador: Quarteto,
2010, v. 1, p. 157.
48
POLLAK, Memória, esquecimento, silêncio; CARDOSO, Construindo a
memória do regime de 64; D‟ALÈSSIO, Márcia Mansor. Intervenções da
memória na historiografia: identidades, subjetividades, fragmentos, poderes.
Projeto História, São Paulo, v. 17, p. 269-280, 1998; CARDOSO, Dimensões da
Memória na Prática Historiográfica; LE GOFF, op. cit.
49
POLLAK, Memória, esquecimento, silêncio, p. 12.
37
contar para a sociedade50. Mas, ao mesmo tempo, conforme comenta
50
Pode significar a maneira pela qual o militante encontrou para reavaliar os
rumos de sua trajetória pessoal e do grupo que pertencera. BOSI, Ecléa apud
CARDOSO, Dimensões da Memória na Prática Historiográfica, p. 157.
51
ROUSSO, Henry. Rumo a uma globalização da memória. História Revista,
Goiás, v. 19, n. 1, p. 265-279, jan./abr. 2014.
52
LEJEUNE, Philippe. Autobiografia e ficção. In: Pacto autobiográfico de
Rousseau à internet. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008, p.101-109.
53
CARDOSO, Dimensões da Memória na Prática Historiográfica, p. 159-160;
LEJEUNE, op. cit., p. 104; ALVES, Ficção e auto/biografia: implicações teóricas,
p. 48-49.
54
LEJEUNE, op. cit., p. 105-106.
38
de modelos estéticos: a construção da trajetória de Jorge Amado”
passagens pela AR entre o final dos anos 1920 e início de 1930, num
grupos moderados como a Arco & Flexa, ainda ligados aos modelos
39
em seus escritos literários? Quais foram as conversas que circularam
participou.
40
Realmente houve uma adequação da produção literária dos
capítulos em questão.
41
jornais, revistas, livros publicados e nos anais dos congressos afro-
1934 e 1937?
42
CAPÍTULO I
55
Encontramos em vários autores duas formas de escrever o nome do
comunista: “Édison Carneiro” e “Edison Carneiro”. Nas cartas para Arthur
Ramos, ele assinou como “Edison Carneiro”, por isso iremos adotar a forma que
o intelectual assinava o próprio nome.
56
Quando usarmos o termo “rebeldes” estamos nos referindo aos jovens da
AR, pois era assim que os membros do grupo se reconheciam, considerando
que estavam indo de encontro a um conjunto de instituições hegemônicas e
conservadoras vinculadas às elites locais. Reiteramos que este é um termo
também usado pelo Ângelo Barroso Costa Soares, em sua dissertação de
mestrado.
43
e Ferraz, a maioria dos estudos historiográficos analisados não
Amado assegurou, por outro lado, que foi ali que seus caminhos
dos ricos da cidade. Elas também foram ocupadas por sujeitos das
44
classes sociais mais pobres como as prostitutas, meninos de rua,
Grande e Vitória”57 e:
57
FONTES, op. cit., p. 24.
58
Idem.
59
Ver dissertação de mestrado, em vias de defesa na UNIFESP, do colega e
amigo historiador baiano Edevard França Junior intitulada “A Bahia de Agnaldo
“Siri” Azevedo entre sujeitos, práticas, linguagens e temporalidades:
representações da cidade do Salvador no documentário O Capeta Carybé
(1950-1997)”. Trabalho interessante para pensar na representação da Bahia
nos diversos tipos de produções artístico-culturais.
45
masculinas...”60, de políticos “imbecis e gordos, suas magras e
60
AMADO, Jorge. O país do carnaval. Rio de Janeiro: Record, 1980, p. 11.
61
Idem.
62
AMADO, O país do carnaval, p. 30.
63
FONTES, op. cit., p. 23-24.
64
AMADO, O país do carnaval, p. 12.
46
simples de musselina branca”65. Sem dúvida, temos aí uma
exuberância.
conservadorismo.
65
Idem.
66
Paulo Santos Silva, ironicamente, põe em dúvida o fato dos intelectuais
baianos terem realmente lido esses autores franceses.
67
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 87-88.
68
AMADO, O país do carnaval, p. 30.
69
Aspecto que será abordado por Carneiro em “Regiões Negras” e “Negros
Bantos”. Estas obras são discutidas ao longo desta dissertação em associação
com as correspondências de Carneiro e Ferraz.
47
domina o Brasil, está enganado. Há uma falsificação
africana desta religião. A macumba, no Norte, substitui
a Igreja, que, no Sul, é substituída pelas lojas espiritas.
No Brasil a questão de religião é uma questão de
medo.70
colocação de uma das personagens que diz que “pelo menos do ponto
sorria por vaidade. O bispo, que era inteligente quis protestar” 74.
com as demais religiões não é vista com bons olhos. O autor articulou
medo”76.
70
FONTES, op. cit., p. 14.
71
Amado apresenta sua personagem: “Estava de volta ao Brasil depois de sete
anos de ausência. Ainda estudante de ginásio morrera-lhe o pai, riquíssimo
fazendeiro de cacau no sul do Estado da Bahia, a ultima vontade do velho
Rigger foi que mandassem o seu rapaz formar-se na Europa. E terminando o
curso ginasial, Paulo seguiu para Paris em busca de um anel de bacharel. O
velho Rigger queria o filho formado. Mas já estava muito banal a formatura no
Brasil. Só poderia fazer sucesso um doutor da Europa”. AMADO, O país do
carnaval, p. 15.
72
Ibidem, p. 14.
73
Idem.
74
Ibidem, p. 14-15.
75
Ibidem, p. 14.
76
Idem.
48
Instituições como a ALB foram ambientes preocupados em
seio desses grupos77. Ela foi fundada em 1917, por Arlindo Fragoso,
77
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 129.
78
Ibidem, p. 136; Sobre o escritor Xavier Marques Cf. ROCHA, Rafael Rosa da.
A negação do africano nas letras de Xavier Marques. Revista Eletrônica Discente
História.com, Cachoeira-Ba, v. 1, n. 2, p. 34-50, 2013.
79
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 91; SOARES, op. cit., p. 66.
80
Segundo Paulo Santos Silva, estes foram os grupos de maior destaque na
virada do século XIX para o XX. Ibidem, p. 90-91; SOARES, op. cit., p. 66.
49
Um escritor, geralmente, conseguia se legitimar frente a
81
Ibidem, p. 69.
82
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 83.
50
governador do estado. A Politécnica formou bacharéis que se
discursos”84.
83
Idem.
84
Ibidem, p. 80-81.
85
Ibidem, p. 82.
51
e ilustres cidadãos para colaborarem com capitais”86. O
político.
86
TOUTAIN, Lídia Maria Brandão; SILVA, Rubens Ribeiro Gonçalves da. UFBA
do século XIX ao século XXI. Salvador: EDUFBA, 2010, p. 44. Ainda sobre uma
análise dos cursos da UFBA ver o mesmo exemplar. Também Cf. SILVA, Âncora
de tradição: luta política, intelectualidade e construção do discurso histórico na
Bahia (1930-1945).
87
Ibidem, p. 83.
52
exercício da intelectualidade e para conseguir cargos públicos e
políticos na cidade88.
dos amigos90.
88
Ibidem, p. 81, 83 e 84. Ver também FONTES, op. cit., p. 47-48.
89
“Pelo prestígio do seu fundador e pelas lutas que empreendeu, tornou-se o
jornal mais importante do estado”. Ibidem, p. 84.
90
Idem.
53
Os escritores hegemônicos de Salvador produziam uma
do modernismo brasileiro.
91
Ibidem, p. 91.
92
Sobre a Semana de Arte Moderna Cf. THIOLLIER, René. A Semana de Arte
Moderna. São Paulo: Cupolo, sem data; ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita
ao Museu. São Paulo: Perspectiva, 1976; AMARAL, Aracy. Artes plásticas na
Semana de 22. São Paulo: Perspectiva, 1970; LEITE, José Roberto Teixeira. A
Semana de Arte Moderna. In: Arte no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
93
Segundo Ivia Alves, Chiacchio “iniciou-se na crítica militante com a seção
semanal do jornal „A Tarde‟, em 31/01/1928. Os rodapés primeiros saem sem
título fixo, posteriormente são rotulados de „Homens & Obras‟”. Cf. ALVES, op.
cit., p. 23.
94
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945); SOARES, op. cit.; RAILLARD, op. cit.,
p. 35-36; AMADO; GOMES, op. cit., p. 10.
54
acabaram o estimulando a formular as bases do movimento
modernistas95.
95
Reflexão inspirada no texto de PELLEGRINI, op. cit., p. 137-155.
96
CAMPOS, J. da Silva apud ALVES, op. cit., p. 37.
97
Idem.
98
SOARES, op. cit., p. 67.
99
Segundo Luiz Carvalho Filho, ex-integrante da Arco & Flexa: “‟No teatro
Kursal havia uma francesinha linda, que declamava Mallarmé [...] Essas
mulheres vinham do Rio de Janeiro recomendadas a Chiacchio, que era um
tremendo boêmio e lhes dava proteção. Através de Chiacchio nos aproximamos
de muitas delas. Daí não termos muito contato com as mulheres da chamada
55
estudantes de medicina e direito e pertencentes às famílias
letras‟”102.
tem origem das reuniões que ocorriam no Café das Meninas, que
56
a escrever na nova revista”105. A intenção de Chiacchio com o
105
Ibidem, p. 92.
106
ALVES, op. cit., p. 33.
107
SOARES, op. cit., p. 67.
108
ALVES, op. cit., p. 24-25.
57
Esse “novo” proveniente da Europa, estaria, em sua visão,
109
Ibidem, p. 25.
110
Idem.
111
Ibidem, p. 28.
58
meio da “tradição ultrapassar esse momento „crucial‟, ficando-se na
112
Ibidem, p. 25.
113
Idem.
114
Ibidem, p. 26.
115
Ibidem, p. 30-31.
59
poderiam ser vestidos com uma “nova roupagem” e dar origem a
independente”119.
116
Ibidem, p. 31.
117
Ibidem, p. 26 e 27.
118
Ibidem, p. 27.
119
Ibidem, p. 28-29.
60
de forma profunda a realidade local, a cultura negra, enfim, questões
da edição que:
120
SOARES, op. cit., p. 68.
121
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 92-93; ALVES, op. cit., p. 24.
122
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 93-94.
61
sem ser passiva. Queremos o novo, o melhor, o maior
das possibilidades eficazes. O tipo de conservadorismo,
em função de melhoria, é o que nos convém.123
123
Ibidem, p. 139.
124
Ibidem, p. 140.
125
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 92-93.
62
desconforto entre alguns grupos de intelectuais baianos que temiam
questão.
126
ALVES, op. cit., p. 32.
127
Idem.
128
Sobre este debate Cf. LEITE, Rinaldo Cesar Nascimento. Memória e
identidade no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1894-1923): origens da
Casa da Bahia e celebração do 2 de julho. Patrimônio e Memória, São Paulo, v.
7, n. 1, p. 54-77, jun. 2011; GUIMARÃES, Manoel L. S. Nação e Civilização nos
Trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Estudos Históricos, São
Paulo, v. 1, n.1, p. 5-27, 1988; KRAAY, Hendrik. Entre o Brasil e a Bahia: As
63
mais significativas e, portanto, o centro irradiador dessa
Flexa”131.
64
compromisso com a realidade brasileira”132. Chiacchio como estava
literário foi apropriado como modelo estético pela AR, tendo sua
132
ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. Modernismo e regionalismo no
Brasil: entre inovação e tradição. Tempo Social, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 202,
2011.
133
Segundo informações presentes no site do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), criado em 1938 pela ditadura Vargas, o estado da Bahia
entre os anos de 1919 a 1945, não fazia parte do Nordeste. A divisão regional
feita em 1940 pelo Instituto pôs a Bahia, Sergipe e Espirito Santo numa região
chamada Leste, e o Nordeste foi composto por Pernambuco, Rio Grande do
Norte, Alagoas, Ceará e Paraíba. Em 1945, Bahia e Sergipe foram alocados no
Leste Setentrional e os estados do Maranhã, Piauí e o território de Fernando de
Noronha foram situados no Nordeste. Cf. Brasil: divisão regional do IBGE –
1940. Disponível em:
http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/13710625271
940.jpg. Acesso em: 30 de jul. 2015; Brasil: divisão regional do IBGE – 1945.
http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1559&
evento=5. Acesso em: 30 de jul. 2015.
134
CALIXTO, Carolina Fernandes. Jorge Amado e a identidade nacional:
diálogos políticos-culturais. 2011. p. 71. Dissertação (Mestrado em História) –
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense.
Niterói, 2011.
65
povo seria a mais alta expressão dos valores humanos”135. Explica-
135
GARCIA JR., Afrânio. Meninos de engenho: tradições e dramas familiares
feitos símbolos da brasilidade. Antropolítica, Niterói, n. 30, p. 29, 1º sem.
2011.
136
PORTELLA, Eduardo. A fábula em cinco tempos. In: AMADO, Jorge. Jorge
Amado: 30 anos de literatura. São Paulo: Livraria Marins Editoria, 1961, p. 13.
137
“José Américo de Almeida nasceu em 1887, em um engenho da Paraíba, um
ano antes da Abolição da Escravatura e dois anos antes da Proclamação da
República; do lado paterno como do materno, descendia de linhagens de
senhores de engenho e de senhores de escravos, há pelo menos três
gerações”. GARCIA JR., op. cit., p. 29.
138
“Como assinalam os críticos literários, a intriga de A Bagaceira se constrói
em torno de uma jovem branca do seminário para a região úmida por causa da
seca, ponto de origem de todas as infelicidades. A violência interna ao mundo
masculino está no cerne do romance, como analisaremos mais adiante, mas o
encadeamento dos eventos históricos demonstra uma violência que vai além
das situações recuperadas pela ficção; a título de exemplo, a cronologia do
romance está situada no século XX, momento em que a sanção de um crime
por enforcamento já não existia. Em resumo, a ficção abranda e amplifica as
violências físicas relatadas com base em arquivos históricos”. Idem. Cf. TÁTI,
op. cit., p. 12.
139
GARCIA JR., op. cit., p. 44. É bom também lembrar que, segundo
Palamartchuk, A Bagaceira e O Quinze foram obras que representaram esse
movimento regionalista. PALAMARTCHUK, Os novos bárbaros: os escritores e
comunismo no Brasil (1928-1948), p. 91.
140
ALVES, op. cit., p. 30.
66
posto que “só através do „canto‟ particular de cada região se chegará
a um todo”141.
141
Idem.
142
Segundo Amado, quando “comemorou os cinquentas anos de Bagaceira,
houve uma grande festa na cidade dele, Areia, na Paraíba. Ele me pediu que
fosse abrir as comemorações, logo eu, que não sou de fazer conferências...”.
AMADO; GOMES, op. cit., p. 13.
143
Idem.
144
Ibidem, p. 28 e 44; PORTELLA, op. cit., p. 13.
145
Ibidem, p. 17.
67
uma das principais características dos romances nordestinos da
década de 1930.
realidade nova”147.
146
ARRUDA, op. cit., p. 196.
147
PORTELLA, op. cit., p. 13.
148
ARRUDA, op. cit., p. 192.
149
REGO, José Lins do apud TÁTI, op. cit., p. 10.
68
chegou de uma de suas viagens à Europa advertiu aos companheiros
150
Idem.
151
Idem.
152
ALVES, op. cit., p. 24 e 36.
153
Ver NASCIMENTO, Evando. A Semana de Arte Moderna de 1922 e o
modernismo brasileiro: atualização cultural e “primitivismo” artístico. Gragoatá,
Niterói, n. 39, p. 376-391, 2º sem. 2015.
69
requeriam profundidade”154, levando ao abandono do passado e
adoção do “futurismo”.
literários que não agradassem. Com esse intuito foi criada a Revista
154
ALVES, op. cit., p. 25.
155
Ibidem, p. 27.
156
Ibidem, p. 28.
157
Idem.
158
REGO apud TÁTI, op. cit., p. 10.
70
Os escritores regionalistas conseguiram a abertura de uma
159
TÁTI, op. cit., p. 11-12.
160
Um movimento parecido pode ser notado pelos modernistas, quando São
Paulo e Rio de Janeiro foram cidades escolhidas para ser o núcleo do grupo, por
reunir as características mais propícias. Aos poucos os modernistas de São
Paulo foram escolhendo sua capital como fonte de inspiração e assunto
principal. Não se pode deixar de notar que é isso que acontece com Pauliceia
desvairada (1921), de Mário de Andrade. NASCIMENTO, op. cit., p. 381;
SANTOS, Patrícia Maria. Tarsila do Amaral e o movimento modernista em São
71
Os movimentos enunciados podem ser percebidos enquanto
nacional.
72
no fundo, ambos os grupos desejavam a mesma coisa: “literatura
constituíram para dali fazer legitimar e circular suas ideias. Esse lugar
161
TÁTI, op. cit., p. 13.
162
TÁTI, op. cit., p. 19; AMADO; GOMES, op. cit., p. 10.
73
Foto dos integrantes da Academia dos Rebeldes (AR) tirada 1931. Representa a
recepção de Jorge Amado, no Rio de Janeiro, quando da publicação de O país do
carnaval. “Da esquerda para a direita: E. Assemany, João Cordeiro, autor de
„Corja‟, J.A, Clovis Amorim, autor de „O Alambique‟, o etnógrafo Edison Carneiro, o
poeta Alves Ribeiro, Dias Gomes e o contista Dias da Costa” 163.
163
AMADO, Jorge. Jorge Amado: 30 anos de literatura. São Paulo: Livraria
Marins Editoria, 1961.
164
Refere-se aos autores do grupo que deveriam ser vistos como modelos.
165
SOARES, op. cit., p. 76.
74
presente na formação religiosa”166 do Brasil, enquanto fator
166
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 86-87.
167
Paulo Santos Silva não se pergunta, ao longo da discussão, sobre o
nascimento dessa hegemonia. Seria enriquecedor se Silva se dispusesse a
refletir sobre a missão francesa. Sobre o debate referente a missão cultural
francesa no Brasil ver VIDAL, Laurent; LUCA, Tania Regina de. (Orgs.).
Franceses no Brasil. Séculos XIX-XX. São Paulo: Editora da UNESP, 2009.
168
SOARES, op. cit., p. 86.
75
Soares e Rossi informam que o início da AR se deu nos anos
sobre a temática169.
volta desse mesmo ano, surgiram os grupos Samba, Arco & Flexa e
redação que
169
Ibidem, p. 78.
170
Não encontramos registros desse poema nos livros, revistas ou jornais que
pesquisamos.
171
AMADO; GOMES, op. cit., p. 9; RAILLARD, op. cit., p. 35.
172
SOARES, op. cit., p. 90.
173
TÁTI, op. cit., p. 20. O pequeno impresso de Salvador foi formado
majoritariamente por redatores e repórteres vinculado à AR.
174
O Jornal apud SOARES, op. cit., p. 79.
76
a sessão preparatória efetuou-se num prédio à rua das
Laranjeiras, sob a presidência do Sr. Pinheiro Viegas,
tendo como secretario os Srs. Da Costa Andrade e João
Cordeiro, assistida por grande número de intelectuais
da nova geração. No decorrer da sessão foram tomadas
várias deliberações de ordem interna, sendo eleito um
Diretório provisório, composto dos Srs. Pinheiro Viegas,
presidente: Da Costa Andrade, secretário, João
Cordeiro, tesoureiro e ficando marcada uma nova
reunião para amanhã, às 16 horas.175
175
Idem.
176
“A Academia dos Rebeldes não teve jamais diretoria eleita: Pinheiro Viegas,
velho poeta e panfletário, era patrono; Alves Ribeiro, moço erudito, de cultura
singular, traçava as normas que definiam o pensamento dos rebeldes literatos”.
Ibidem, p. 78.
177
Ibidem, p. 79.
178
SODRÉ, Nelson Werneck. Pinheiro Viegas. Correio Paulistano, São Paulo, p.
13, 28 de mai. 1939. Num mesmo esforço de contar a história da AR e seus
envolvidos, o intelectual baiano Victor D‟Almeida relata que quando conheceu
Pinheiro Viegas em 1929, ele estava acompanhado dos jovens Jorge Amado,
77
Num esforço de compreensão do processo de formação da AR,
1930.
Oswaldo Dias da Costa, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Clovis Amorim, João
Cordeiro, Augusto Silva, e vez em quando Sosígenes Costa, D‟Almeida. Eles se
reuniam em cafés como “Café Brunswick localizado na rua da Assembleia ou no
Café Madrid na rua do colégio”. D‟ALMEIDA, Victor. Um cultor do gênero
satyrico. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, p. 15, 16 de jan. 1938.
179
O Jornal, Rio de Janeiro, p. 8, 20 de abr. 1930.
180
D‟ALMEIDA, op. cit., p. 15.
78
Politécnica, e depois pelos cafés, bares da cidade de Salvador181.
local182.
181
SOARES, op. cit., p. 78.
182
SODRÉ, op. cit., p. 13; RAILLARD, op. cit., p. 36.
183
O Jornal apud SOARES, op. cit., p. 78. Ver também o mesmo problema
financeiro relatado por SODRÉ, op. cit., p. 13.
184
RAILLARD, op. cit., p. 34.
79
“contra hegemônico”, considerando que poucos desses novos
Samuel de Brito Filho. Disse Nonato Marques sobre este último que,
185
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 89.
186
SOARES, op. cit., p. 81
187
Idem.
188
“Poeta simbolista, Pinheiro Viegas nasceu em Salvador e fez parte de três
gerações de intelectuais. Participa da boemia do final do século XIX, com
intensa atuação política nas campanhas republicanas, vindo a publicar, nesse
período, a Carta ao Marechal Deodoro. Participou da geração seguinte no Rio de
Janeiro, onde ficou conhecido pela forte oposição a Prudente de Morais, sendo
co-autor de um panfleto em versos, „O Biriba‟, em que critica abertamente o
primeiro presidente civil do Brasil. No Rio, conviveu e foi amigo de Agripino
Grieco, Lima Barreto, João do Rio, dentre outros intelectuais da época”.
SOARES, op. cit., p. 85.
189
SOARES, op. cit., p. 72; SILVA, Âncora de tradição: luta política,
intelectualidade e construção do discurso histórico na Bahia (1930-1945), p.
94; D‟ALMEIDA, op. cit., p. 15.
80
surpreendentemente, era um polarizador de
inteligências jovens que ficavam presas ao fascínio
intelectual desse homem do povo, quase genial pelo
seu conhecimento literário, servido por um poder
expositor singular. O grupo nasceu em torno de
Samuel, que passava horas a fio sentado a um canto do
Café Progresso, bebendo cafezinho, pois não tinha
dinheiro para mais nada.... E graças ao seu talento,
tornou-se um homem
culto, um admirável autodidata, um poliglota, sem
jamais haver feito curso regular ou estudado em
qualquer estabelecimento de ensino, público ou
particular, salvo a pobre escola primária do seu
bairro.190
190
MARQUES, Nonato apud SOARES, op. cit., p. 68.
191
“Baixinha ficava limitada, de um lado, pela Farmácia Falcão, bem ao pé da
ladeira do Pelourinho, e a Pastelaria Cadete, num prédio azulejado, onde viviam
estudantes pensionistas, e era uma área de muitos cafés: Café Progresso, Café
Astúrias, Café Moderno e o café Derby”. SOARES, op. cit., p. 68.
192
Ibidem, p. 67.
193
Ibidem, p. 68.
194
Idem.
81
condição de escritor195. O lugar frequentado por aqueles meninos
sinaliza para o fato de que eles eram de origens mais modestas, por
do grupo196.
Embora não tenha dado certo, “Samba teve um valor muito maior por
195
Ibidem, p. 68-69.
196
RAILLARD, op. cit., p. 35.
197
SOARES, op. cit., p. 70.
198
Ibidem, p. 71.
199
ABREU, Bráulio de apud Idem.
82
A AR de Pinheiro Viegas inscrevia-se num movimento que
a trajetória dos rebeldes, o autor não tece uma definição do que seria
200
Segundo Sodré o movimento “modernista” baiano se colocava contra “a
estática de um meio morto ou semi-morto, estractificado no culto das nulidades
arvoradas em autoridades, em que se cuidava ainda de questões gramaticaes e
se collocava melhor pronomes do que as idéas, que não tinha mesmo idéas,
devia erguer-se a clara destruidora dos jovens que buscando uma esthetica
nova, confundiam-se na discursão das escolas mais dispares, oriundas da
confusão do após guerra”. SODRÉ, op. cit., p. 13.
201
SEIXAS, Cid. Modernismo e diversidade: impasses e confrontos de uma
vertente regional. Légua & Meia, Feira de Santana-Ba, v. 3, n. 2, p. 45, 2004.
Cf. SOARES, op. cit., p. 73.
83
uma “literatura esclerosada, um parnasianismo caquético”202. Ou
tudo aquilo que não era modernista era passivo de crítica no grupo205.
202
RAILLARD, op. cit., p. 36.
203
BOAVENTURA, Maria Eugenia. A Semana de Arte Moderna e a crítica
contemporânea. Cadernos de Pós-Graduação da UNICAMP, v. 8, p. 2, 2006; Cf.
BOAVENTURA, Maria Eugênia. (Org.). 22 por 22. A Semana de Arte Moderna
vista pelos seus contemporâneos. São Paulo: EDUSP, 2000.
204
AJZENBERG, Elza. A Semana de Arte Moderna de 1922. Revista de Cultura e
Extensão, São Paulo, v. 7, p. 26-27, 2012.
205
AMADO; GOMES, op. cit., p. 12.
206
TÁTI, op. cit., p. 13.
84
modernistas, e sim modernos. Por isso lutavam por uma literatura
realidade207.
desenvolvimento literário”211.
207
RAILLARD, op. cit., p. 36.
208
Ibidem, p. 53.
209
SOARES, op. cit., p. 72-73.
210
SODRÉ, op. cit., p. 13.
211
Idem.
85
Primeiramente, consideremos que os especialistas não negam o
opositores213.
212
NASCIMENTO, op. cit., p. 379.
213
AJZENBERG, op. cit., p. 26. Sobre uma análise do regionalismo Cf.
CHAGURI, Mariana M. Do Recife nos anos 20 ao Rio de Janeiro nos anos 30:
José Lins do Rego, regionalismo e tradicionalismo. Campinas, São Paulo:
Editora da Unicamp, 2007. Ver também FREYRE, Gilberto. Manifesto
regionalista. Recife: Instituto Joaquim Nabuco, 1976.
214
NASCIMENTO, op. cit., p. 382.
215
BOAVENTURA, op. cit., p. 3.
216
SANTOS, Tarsila do Amaral e o movimento modernista em São Paulo, p. 36;
NASCIMENTO, op. cit., p. 379-380.
86
muitos dos integrantes do modernismo faziam parte de grupos
que:
217
Ainda acrescenta Elza Ajzenberg que o “catálogo, idealizado por Di
Cavalcanti, registra a participação dos arquitetos Antonio Moya e Georg
Prsirembel: dos escultores Victor Brecheret e Wilhelm Haerberg; e dos pintores
e desenhistas Anita Malfatti, Di Cacalvanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina
Aita, João Fernando (Yan) de Almeida Prado, Ignácio da Costa Ferreira
(Ferrignac) e Vicente do Rego Monteiro”. AJZENBERG, op. cit., p. 26.
218
BOAVENTURA, op. cit., p. 8; RAILLARD, op. cit., p. 57.
219
BOAVENTURA, op. cit., p. 8.
220
NASCIMENTO, op. cit., p. 383.
87
nordestinos (seja no regionalismo tradicionalista ou tradicionismo
221
Aprofundaremos a questão mais adiante.
222
OLIVEIRA, Olivia Fernandes de. Notas sobre algumas páginas mais ou
menos modernas. O 'Modernismo' na Bahia através das Revistas. RUA - Revista
de Arquitetura e Urbanismo, Salvador, v. 7, p. 14, 1999.
223
TÁTI, op. cit., p. 90.
224
Ibidem, p. 91-92.
88
memória dele em torno da “improdutividade” do modernismo tem
mais nada”225.
225
SCHMIDT, Augusto Frederico apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de
literatura, p. 57.
89
possível estabelecer aproximações e semelhanças ao que foi proposto
Rio-São Paulo229.
226
OLIVEIRA, op. cit., 14.
227
Ibidem, p. 14-15.
228
Essas não seriam as únicas lutas dos desbravadores de uma sociedade que
tinha seus privilegiados. Alguns deles eram pertencentes às famílias nobres ou
ligadas aos grupos de elites dominantes do Estado.
229
OLIVEIRA, op. cit., p. 7; SILVA, Âncora de tradição: luta política,
intelectualidade e construção do discurso histórico na Bahia (1930-1945), p.
95.
90
na época Rio e São Paulo, então capitais da cultura
dominantes absolutas, ficavam extremamente distantes
da província (o resto do Brasil), os meios de
comunicação eram lentos, as idéias viajavam devagar,
chegar da Europa ao Rio e a São Paulo e ainda mais a
atingir a Bahia. Cinco anos gastou em viagem a
revolução literária, muito mais gastariam a
revolução.230
caráter político.
230
AMADO, Jorge apud SOARES, op. cit., p. 77.
231
Idem; ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de
estudos das relações raciais no Brasil.
232
RAILLARD, op. cit., p. 48.
233
RAILLARD, op. cit., p. 35; AMADO; GOMES, op. cit., p. 10.
234
OLIVEIRA, op. cit., p. 7-8. Amado informou a Raillard que o periódico não
teve vida longa. RAILLARD, op. cit., p. 36-37.
235
Mesmo nome do jornal O Momento criado pelos comunistas em finais de
1945.
91
das edições de Meridiano, os editores falaram que a agremiação
dominantes241.
236
Meridiano apud SOARES, op. cit., p. 81.
237
Ibidem.
238
TÁTI, op. cit., p. 13 e 20.
239
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 92.
240
SOARES, op. cit., p. 81.
241
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 92.
92
CAPÍTULO II
que não queremos aqui fazer uma análise dos tipos e cenários de
242
OLIVEIRA, Op. cit., p.14.
93
era escrever um texto sem as “algemas clássicas nem pretend[iam]
Karl”244.
243
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 123. Ainda sobre Lenita consultar artigo:
CANTALINO, Maria das Graças Nunes; ANDRADE, Ricardo Henrique Resende de.
Lenita: um livro não amado. Revista Eletrônica de Culturas e Educação,
Amargosa, v. 1, n. 1, p. 109-118, out. 2010.
244
Consultar site organizado pela Companhia das Letras em:
http://www.jorgeamado.com.br/vida.php3. Acesso em: 25 de nov. 2016.
245
AMADO, Jorge; CARNEIRO, Edison; COSTA, Dias da. Lenita: novela. Rio de
Janeiro: A. Coelho Branco, [1930?]. 144 p. Disponível em:
http://acervo.jorgeamado.org.br/item/310071056081. Acesso em: 27 de jan.
2017.
94
O jornal Diário de Notícias, no dia 20 de novembro de 1931, fez
Segundo Amado:
246
Diário de Notícias, Rio de Janeiro, p. 4, 20 de nov. 1931. Consta também
uma referência à novela em O Imparcial, Rio de Janeiro, p. 2, 23 de out. 1931.
247
Diário da Manhã, Espírito Santo, p. 1, 21 de jan. 1932.
248
TÁTI, op. cit., p. 20-21.
249
AMADO, Jorge apud TÁTI, op. cit., p. 20-21.
95
piores livros que já foram publicados no Brasil” 250. O escritor e
pura abominação”251.
250
Ibidem, p. 20.
251
ALBUQUERQUE, José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e apud
AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 57.
252
AMADO, Jorge apud PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores
brasileiros e o comunismo (1920-1945), p. 110-111.
253
Consultar site organizado pela Companhia das Letras em:
http://www.jorgeamado.com.br/vida.php3. Acesso em: 25 de nov. 2016.
Também consta no site da Fundação Casa de Jorge Amado, que “Neste livro
consta a seguinte nota: Esta novela foi publicada, em folhetim, com o título
primitivo de „El-Rei...‟, n‟ „O Jornal‟, da Baía, em Abril de 1930, e assinada com
os pseudônimos GLAUTER DUVAL, JUAN PABLO e Y. KARL, respectivamente,
OSWALDO DIAS DA COSTA, EDISON DE SOUZA CARNEIRO e JORGE AMADO”.
Disponível em: http://acervo.jorgeamado.org.br/item/310071056081. Acesso
em: 25 de nov. 2016.
96
falsa e vazia que é possível conceber. Apesar de todo o
esfôrço ser nesse sentido, nem originalidade tinham
conseguido.
Quem já conhece o sr. Jorge Amado fàcilmente poderia
fazer crédito – e tanto a êle como aos dois outros
novelistas. Foi o meu caso. Do srs. Edison Carneiro e
Dias da Costa ainda espero prova positiva - de que não
duvido aliás.254
254
FARIA, Octávio apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 60 e
65.
255
Estamos mantendo a forma como o nome aparece no artigo do autor.
256
AMADO; GOMES, op. cit., p. 15-16.
257
A ida de Jorge Amado para o Rio de Janeiro foi com o intuito de acabar com
a boemia literária, que em nada agradava a seu pai João Amado, e concluir o
curso secundário. TÁTI, op. cit., p. 21; AMADO; GOMES, op. cit., p. 14.
258
A vida boemia em que viviam os jovens intelectuais da AR não agradava
muito as famílias. Eram muitas noites em meio às festas, bares, cafés em
bairros proletários e casas de meretrizes. João Amado não estava muito
satisfeito com a vida que Jorge Amado levava, porque estava “apreensivo com
a boemia literária do filho” e determinou sua ida para o Rio de Janeiro com o
intuito de que terminasse o curso secundário.
Sustentado por uma mesada dada pelo pai, o escritor estudou “pra burro” para
passar nos exames de conclusão do ensino secundário. Acreditou que não
poderia desperdiçar seu tempo e o dinheiro que sua família estava investindo
nos estudos. Seus esforços foram inúteis, com a Revolução de 30 houve um
decreto dos vitoriosos aprovando todos os estudantes sem que houvesse
exame. TÁTI, op. cit., p. 21-22; AMADO; GOMES, op. cit., p. 15. Fazia parte
desse grupo Santiago Dantas, Almir de Andrade e Américo Jacobina Lacombe e
97
O fato de Amado fazer parte da rede de sociabilidade do
98
ainda estudante, tentava terminar o “ginásio” no Rio de Janeiro262.
tendo como base sua experiência na AR, pois nas palavras do próprio
262
Alude a autora que em “junho de 1930, Jorge Amado foi morar na cidade do
Rio de Janeiro com o objetivo de terminar o ginásio. No final deste ano,
escreveu o país do carnaval (1931) [...]”. PALAMARTCHUK, Ser intelectual
comunista: escritores brasileiros e o comunismo (1920-1945), p. 112. Em sua
tese de doutorado Palamartchuk também acaba sustentando a ideia de escrita
do primeiro romance de Amado no Rio de Janeiro. Cf. PALAMARTCHUK, Os
novos bárbaros: escritores e comunismo no Brasil (1928-1948), p. 91.
263
RAILLARD, op. cit., p. 45 e 51; BARBOSA, op. cit., p. 112.
264
RAILLARD, op. cit.
99
mãos do Augusto Frederico Schmidt, que tinha uma editora e
geração de 1930266.
intelectuais268.
265
GOMES, op. cit., p. 15-16.
266
BARBOSA, op. cit., p. 122-123.
267
AMADO; GOMES, op. cit., p.16.
268
Segundo Júlia Monnerat Barbosa, em “seu livro de memórias, Navegação de
cabotagem, Jorge Amado declara que deve a publicação deste seu primeiro
romance à intervenção de Tristão da Cunha, „Figura influente nas letras
nacionais‟, que depois de ler os originais do romance deixados, há muito, pelo
autor na editora Schmidt, teria intercedido a favor da publicação do primeiro
livro do jovem romancista”. BARBOSA, op. cit., p. 112; Cf. AMADO; GOMES,
op. cit., p. 16.
100
O romance está conectado aos problemas que afetaram a
geração do autor, ou, como diria Táti, foi escrito por um homem
de que sobramos”272.
269
TÁTI, op. cit., p. 24-25.
270
Ibidem, p. 26.
271
CARNEIRO, Edison. Uma toada triste vem do mar. O Jornal, Rio de Janeiro,
p. 3, 24 de nov. 1935.
272
TÁTI, op. cit., p. 28; SCHMIDT apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de
literatura, p. 55.
101
da nossa passagem. Eu, pouco mais velho que você, já
me sinto muito distante de tudo, num desinteresse
sempre crescente, pelo que alimentou o meu gosto pela
vida. Não temos frescura, nem nos podemos repousar
nos bons silêncios. Viemos para gritar que existimos,
diante de uma nação adormecida e indiferente.
Cansamos porém logo. E assistimos com melancolia à
vinda dos que ainda acreditam que é possível gritar,
que é útil gritar.273
promissores.
273
Idem.
102
próprio e pela nossa experiência”274. Acrescentou que todos os
narrações e descrições, excesso que podia ser evitado, mas não lhe
prejudica o encanto”277.
274
Idem.
275
Ibidem, p. 56.
276
FARIA apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 61.
277
ALBUQUERQUE apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 58.
278
CARNEIRO, Edison. Notas sobre “Suor”. O Jornal, Rio de Janeiro, p. 3, 21 de
out. 1934.
279
“Esse romance seria quasi que a história do grupo da Bahia. Há nelle scenas
que recordam o tumulto em que viviam os seus membros, aquelles que
cercavam o inesquecível renovador”. SODRÉ, op. cit., p. 13.
280
RAILLARD, op. cit., p. 46.
103
rebelde Sosígenes Costa, é “um espelho cruel” daquela geração
281
COSTA, Sosígenes apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 59-
60.
282
SILVA, op. cit., 108-09.
283
MARÇAL, Heitor apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 65.
284
Idem.
285
BARBOSA, op. cit., p. 134 e 136.
104
questões também são representadas como a condição de miséria em
médico e escritor chileno Juan Marín num artigo que escreveu para a
286
MARÍN, Juan apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 70.
287
Idem.
288
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores brasileiros e o
comunismo (1920-1945), p. 117. Também Cf. PALAMARTCHUK, Os novos
bárbaros: os escritores e comunismo no Brasil (1928-1948), p. 114.
105
Você há de ser combatido por causa de seu livro. Não esmoreça. Faça
outro”289.
rol das grandes obras brasileiras, tendo em vista que “este Jorge
Amado fez coisa tão pouco literária que qualquer outro não faria”291.
289
MONT‟ALEGRE, Omer apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p.
78.
290
MARÍN apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 70.
291
COSTA FILHO, Odilo apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p.
77.
106
pretos, retirantes do Ceará, etc. Até bichos. Essa fauna
heterogênea não se mostra por atacado na obra do
romancista baiano: forma uma cadeira que principia no
violinista que percorreu a França, a Alemanha, outros
países, e acaba no rato que dorme junto à esteira de
um mendigo.292
292
RAMOS, Graciliano apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 84
293
Idem.
294
Ibidem, p. 85.
107
Amado apresentou para seus leitores um “produto novo”. Conforme
sinceramente adotou e que julga, com toda bôa fé, ser a única capaz
295
COSTA, Dias apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 88.
296
BARBOSA, op. cit., p. 152.
108
Em carta a Amado, Rachel de Queiroz afirmou a grandiosidade
297
QUEROZ, Rachel apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 102.
298
REGO apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 94.
299
LOBATO, Monteiro apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p.
130.
109
condições de miséria em que viviam em suas casas pequenas e
definida para escrever, e por isso são livros de dar dor de cabeça em
onanistas da forma”301.
“fabuloso” do enredo com negros “de olhos esticados pra África, pras
300
Idem.
301
Idem.
302
AMADO, Gilberto apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 132.
110
dançando, tão cantando”303. Concluiu o poeta afirmando que ninguém
303
BOPP, Raul apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 131.
304
Idem.
305
FERRAZ, Aydano do Couto apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura,
p. 151.
306
SCHMIDT apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 56;
DORNELLAS, Mamelito apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p.
65.
111
dos brasileiros da época, como a incerteza do futuro do país, a
Cacau: “E nenhum livro me faz tanto pensar, olhar para mim mesmo
geográfica”308.
penetram”309.
Reiterou que
307
COSTA FILHO apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 77.
308
BARBOSA, op. cit., p. 107.
309
CASTRO, Josué de apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p.
115.
112
intelectuais. É que o nordeste é de todo território
brasileiro, a zona que contém maior sentido de
tragédia. Keyserling diz que o habitante do deserto tem
consciência antes de tudo, do trágico na vida, e o
sertanejo do nordeste é habitante dum deserto
geográfico e demográfico, vivendo, pois embebido
dêste sentido que cria no espírito, uma grande força
latente, recalcada. Fôrca que num momento dado pode
transformar o sentido trágico num sentido heroico e
alcançar supremas realizações. Uma dessas
superações. é o novo romance brasileiro, escrito no
nordeste.310
uma estética, como pode ser notado nos escritos de Amado. Explica
310
Idem.
311
BARBOSA, op. cit., p. 107.
312
Idem.
113
Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Américo de Almeida,
extremamente atrasado”313.
313
RAILLARD, op. cit., p. 48 e 74.
314
Cf. QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro, José Olympio, 2004.
315
CASTRO apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 115.
114
Em um artigo publicado pela revista Boletim de Ariel, voltada
115
afirmar com muita convicção que não se tratava apenas de um texto
Amado foi um dos poucos escritores regionalistas que soube fazer uso
realização artística”322.
320
JUREMA, Aderbal apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 91.
321
CALIXTO, op. cit., p. 71-72. Consultar trabalho recente da autora sobre
Jorge Amado entre as décadas de 1950 e 1980: CALIXTO, Carolina Fernandes.
História e memória da trajetória político-intelectual de Jorge Amado. 2016. 408
fls. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2016.
322
PORTELLA, op. cit., p. 13.
323
CALIXTO, op. cit., p. 72
324
Idem.
116
Dos estados nordestinos, os regionalistas buscavam por temas
cultura”325.
Queiroz326. A autora de O Quinze fez muito sucesso. Foi presa por ser
literatura”327.
325
PORTELLA, op. cit., p. 14-15.
326
RAILLARD, op. cit., p. 48-49.
327
Ibidem, p. 48 e 74. É muito interessante ler uma entrevista de Jorge Amado
e perceber a partir do mesmo que aquele grupo de intelectuais e militantes
vinculados ao comunismo, que se diziam marxistas, não leu Karl Marx. Na
entrevista cedida a Raillard, o escritor afirmou que poucos líderes do
117
Fora com Cacau que seu criador tentou iniciar seu caminho na
“- Não pergunte não Jorge Amado. Que a gente tem é de elogiar você
movimento leram as obras marxistas. Ibidem, p. 74; Cf. ALMEIDA, op. cit., p.
100.
328
AMADO, Jorge. Cacau. Rio de Janeiro: Record, 1981, p. 8.
329
GUIMARÃES, Alberto Passos apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de
literatura, p. 76-77.
330
LIMA, Jorge de apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 67.
118
por força dizendo. Fêz romance chamado proletário, sim. Foi quem
331
Idem.
332
CORDEIRO, João apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 73.
333
Ver disponível em: http://www.universalis.fr/encyclopedie/max-pol-fouchet.
Acesso em: 20 de jan. 2017.
334
FOUCHET, Max-Pol apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 76.
119
apenas material para a construção do romance, como também as
um escritor revolucionário335.
“simples reportagem”336.
engano:
335
MENDES, Murilo apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 72.
336
Idem. Ver também BARBOSA, op. cit., p. 127-128.
337
Idem. Segundo Barbosa “Murilo Mendes parece ter realizado esses dois
movimentos em sua crítica: da mesma maneira com que garante a Jorge
Amado um lugar no panteão dos novos escritores brasileiros, avaliando sua
obra de maneira bastante elogiosa; também defende o autor dos textos que
apareceram na grande imprensa criticando a utilização de palavrões em
Cacau”. BARBOSA, op. cit., p. 128.
120
impressionista, pequeno-burguesa, feita por uma
pessoa que está com vontade de dar o salto mas não
deu. Assiste-se à entrega de fábricas, à saída de
fábricas, a encontros do filho do grande capitalista com
a filha do operário, etc. Parece que para a autora o fim
da revolução é resolver a questão sexual.
Sôbre o Parque Industrial pròpriamente pouca coisa se
fica sabendo.338
Patrícia Galvão tem ligação com sua inserção num grupo de escritores
338
MENDES apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 72.
339
PALAMARTCHUK, Os novos bárbaros: escritores e comunismo no Brasil
(1928-1948), p. 117-118.
121
estiveram presentes na vida literária de Jorge Amado, como Judeus
acrescentou à lista:
340
Segundo Lincoln Secco “sai pela Pax em 1932, em 1934 pela Cultura
Brasileira e em 1944 pela Calvino, sempre na tradução de Cid Franco”. SECCO,
Lincoln. Leituras comunistas no Brasil (1919-1943). In: DEAECTO, Midori;
MOLLIER, Jean-Yves. Edição e revolução: leituras comunistas no Brasil e na
França. Cotia, São Paulo: Ateliê Editorial; Belo Horizonte, Minas Gerais: Editoria
UFMG, 2013, p. 56.
341
Acreditamos que Táti cometeu um pequeno engano, pois David Herbert
Lawrence não era americano, e sim natural da Inglaterra.
342
TÁTI, op. cit., p. 40; ALMEIDA, op. cit., p. 100. As pesquisadoras Denise
Adélia Vieira e Teresinha Vânia Zimbrão da Silva fazem breve citação desses
livros em: SILVA, Teresinha Vânia Zimbrão; VIEIRA, Denise Adélia. O
Comunismo nas Letras Brasileiras: a década de 1930. Língua e Literatura
(USP), v. 30, p. 309-310, 2012. Ainda sobre alguns apontamentos em torno do
romance proletário russo Cf. PALAMARTCHUK, Os novos bárbaros: escritores e
comunismo no Brasil (1928-1948), p. 111 e ss; BARBOSA, op. cit., p. 109 e ss.
343
AMADO; GOMES, op. cit., p. 13.
344
TÁTI, op. cit., p. 40; RAILLARD, op. cit., p. 55.
122
funcionava na rua Libero Badaró, em São Paulo 345. Lincoln Secco
livrarias.
autora que:
345
SECCO, op. cit., p. 55.
346
Idem.
347
“Não eram realmente vastos os limites geográficos desse território, iam da
Travessa do Ouvidor, endereço da Livraria e Editora Schmidt, até a Cinelândia,
onde funcionava o movimentado consultório do poeta (e médico) Jorge de Lima
e a não menos movimentada redação do Boletim de Ariel, na sede da Ariel
Editora. Nesses locais – a Editora José Olympio só se mudou de São Paulo para
o Rio em 1934 –, os literatos se reuniam para falar de cultura e da vida alheia,
comentar livros, elaborar projetos, firmar ou desancar glórias estabelecidas ou
nascentes. População literária pequena, produção editorial reduzida, todos os
autores se conheciam, liam-se todos os livros. Penso que naqueles idos não
passávamos de uns trezentos indivíduos que se dedicavam às letras em todo o
país”. AMADO, Jorge apud BARBOSA, op. cit., p. 106-107.
348
SECCO, op. cit., p. 55. Acrescenta Secco que “Livros comunistas
encontravam guarida também em empresas sem qualquer ligação ideológica
com o partido, simplesmente porque tinha impressoras. A Editora Revista dos
Tribunais possuía parque gráfico próprio, depois da aquisição de um lote de
máquinas da falida empresa lMonteiro Lobato e & Cia. O livro Evolução Política
do Brasil de Caio Prado Junior saiu por lá”. Idem.
123
Ora na esteira das grandes promessas, ora em meio a
um começo mais singelo, diversos escritores
despontaram ao longo do século XX, consagrando, ao
mesmo tempo, aqueles que descobriam e editavam
suas obras. Nesse sentido, podemos citar, dentre
muitos outros, Manuel Bandeira, José Lins do Rego,
Graciliano Ramos, João Guimarães Rosa, Rachel de
Queiroz, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Lygia
Fagundes Telles, Jorge Amado, Rubem Braga, Fernando
Sabino e Érico Veríssimo.349
349
EL FAR, Alessandra apud BARBOSA, op. cit., p. 107. Reitera Barbosa que
esses “novos romancistas passam a produzir em um contexto de aceleradas
transformações no mercado editorial brasileiro. Segundo Andéa Galucio, a crise
de 1929 foi imprescindível para a instauração e consolidação de um mercado
brasileiro de livros. Até então, o preço do imposto de importação de livros
impressos era mais baixo do que o imposto para a importação de papel, o que
fazia com que o mercado brasileiro de livros fosse alimentado, sobretudo, por
material importado. Com a crise, „o quadro econômico provocava uma
diminuição na capacidade de comprar bens importados, livros entre eles‟, o que
favoreceu o aumento da produção de livros no Brasil. O crescimento do
mercado livreiro na primeira metade do século XX pode ser verificado a partir
surgimento de pequenas e médias editoras”. Ibidem, p. 108.
350
SECCO, op. cit., p. 57.
351
RAILLARD, op. cit., p. 55.
124
Na entrevista a Raillard ficou evidente que o comunista leu o
longe, que a revolução mostre sua face risonha, para decidir segui-
352
Ibidem, p. 56.
353
MARIÁTEGUI, José Carlos. Revolução Russa: história, política e literatura.
São Paulo: Expressão Popular, 2012, p. 270-271.
354
Sobre uma descrição do enredo de O Cimento ver: Ibidem, p. 273-274.
125
ao realismo, como à política, à historiografia e à filosofia
socialistas”355.
sentimentos e anseios”357.
sobre o mesmo359.
355
Ibidem, p. 271.
356
LUKÁCS, op. cit., p. 51, 52 e 83; PELLEGRINI, op. cit.; DIAS, op. cit., p. 280
e 304.
357
PELLEGRINI, op. cit., p. 144-145.
358
LUKÁCS, op. cit., p. 53-54.
359
PELLEGRINI, op. cit., p. 137.
126
da realidade física e social (no sentido materialista do
termo) a base do pensamento, da cultura e da
literatura; seu surgimento está relacionado também à
íntima conexão – sobejamente traçada por filósofos e
historiadores –, de seus pressupostos básicos com o
abandono da crença em valores transcendentais, ou
seja, com o “desencantamento do mundo” iluminista; a
força que adquiriu na França deve-se sobretudo ao
acontecimentos históricos de 1830 e 1848, que
intensificaram sobremaneira a politização das artes e
da literatura. Enfim, enquanto postura e método, o
realismo desde o início negou que a arte estivesse
voltada apenas para si mesma ou que representar fosse
apenas um ato ilusório, debruçando-se agora sobre as
questões concretas da vida das pessoas comuns,
representadas na sua prosaica tragicidade.360
360
Ibidem, p. 139-140; LUKÁCS, op. cit., p. 79.
361
PELLEGRINI, op. cit., p. 139.
362
“O escritor português defende o intuito moral, de justiça e de verdade da
nova escola que, para ele, não se restringe a um simples modo de expor,
127
realizando em Portugal a conferência O Realismo como nova
Pellegrini:
128
compartilhavam do sonho de uma literatura voltada para as questões
sua completude.
soviética”.
365
DIAS, op. cit., p. 285-286.
129
Já que a direção da RAPP fora bastante sectária, uma
grande parcela da opinião pública literária do socialismo
daquela época aprovou a dissolução e colocou grandes
esperanças em suas conseqüências. Essas esperanças
se desvaneceram paulatinamente, pois o regime de
Stalin visava tão somente quebrar o poder da direção
da RAPP, de orientação trotskista; o aparelho estalinista
não tardou em estabelecer um retorno ao domínio da
tendência sectária em literatura.366
para 148.000”368.
366
Ibidem, p. 289.
367
ZHDANOV, A. A.: Soviet Literature - Richest in Ideas, Most Advanced
Literature. In: Gorky, Radek, Bukharin, Jdanov e outros "Escritores Soviéticos
Congress 1934", p. [quarto parágrafo], Lawrence & Wishart, 1977. O método
de paginação expresso foi adotando considerando que não tem numeração por
se tratar de um documento publicado no formato html. Disponível em:
https://www.marxists.org/subject/art/lit_crit/sovietwritercongress/zdhanov.ht
m. Acesso em: 15 de jun. 2016; Cf. LUKÁCS, op. cit., p. 85.
368
FERREIRA, Jorge. URSS: mito, utopia e história. Tempo, Niterói, v. 3, n. 5,
p. 5, 1998.
130
toneladas; (...) de aço, de 4 para 18 milhões de toneladas; de
369
Idem.
370
Ibidem, p. 5-6.
371
MAIDANIK, Kiva. Depois de Outubro, e agora? Ou as três mortes da
Revolução Russa. Tempo, Niterói, v. 3, n. 5, p. 6, 1998.
372
Ibidem, p.[quinto parágrafo].
131
resultando numa guerra promovida pelo Estado para combater a
desorientados377.
373
FERREIRA, op. cit., p. 4-5.
374
MAIDANIK, op. cit., p. 6.
375
FERREIRA, op. cit., p. 5.
376
Idem.
377
MAIDANIK, op. cit., p. 17.
132
Apesar da relação repressora estabelecida com os trabalhadores
econômicas do Estado379.
378
FERREIRA, op. cit., p. 3-4.
379
MAIDANIK, op. cit., p. 10.
380
ZHDANOV, op. cit., p. [sexto parágrafo].
133
dissoluteness and individualism, against an attitude of
graft and dishonesty towards public property.381
381
Ibidem, p. [novo parágrafo].
382
ZHDANOV, op. cit., p. [décimo e décimo primeiro parágrafos].
383
MARIÁTEGUI, op. cit., p. 140-141.
384
Ibidem, p. 139.
385
EHRENBURG apud MARIÁTEGUI, op. cit., p. 139.
134
No discurso de Zhdanov consta que aos poucos o proletariado
proclamou que “lo que llama intelligentsia es uno de los tres pilares
Zhdanov:
386
NAPOLITANO, op. cit., p. 47.
387
Termo usado pelo russo Zhdanov.
388
PIEMONTE, op. cit., p. 8.
389
DIAS, op. cit., p. 297 e 302.
390
Ibidem, p. 298.
135
In the first place, it means knowing life so as to be able
to depict it truthfully in works of art, not to depict it in a
dead, scholastic way, not simply as “objective reality,”
but to depict reality in its revolutionary development.391
Acrescentou:
realismo socialista393.
391
ZHDANOV, op. cit., p.[vigésimo sexto parágrafo].
392
Ibidem, p.[vigésimo sétimo parágrafo].
393
NAPOLITANO, op. cit., p. 45. É interessante aludir ao fato de que para
Lukács o realismo adequado às necessidades ideológicas da URSS, poderia
servir como instrumento de triunfo do socialismo. Por isso, que não poupou
críticas aos problemas que poderiam atrapalhar no papel do realismo soviético.
DIAS, op. cit., p. 300-301.
394
Ibidem, p. 304.
136
Era necessário que os escritores tivessem uma concepção
do mundo não se pode narrar bem, isto é, não se pode alcançar uma
sociais”397.
395
LUKÁCS, op. cit., p. 78.
396
Ibidem, p. 80 e ss. Sobre crítica referente ao impacto do isolamento em
alguns intelectuais no século XIX conferir: Ibidem, p. 52-53.
397
PELLEGRINI, op. cit., p. 142.
398
LUKÁCS, op. cit., p. 66.
137
“função” para não perder de vista a “significação artística das
esclarece Pellegrini400.
fosse uma cópia do mesmo. A busca pelo real tem por fim a educação
que:
399
Idem.
400
PELLEGRINI, op. cit., p. 141-142.
401
NAPOLITANO, op. cit., p. 45; PIEMONTE, op. cit., p. 8-9.
402
NAPOLITANO, op. cit., p. 47; PIEMONTE, op. cit., p. 2-3;
138
remodelação ideológica e educação dos trabalhadores
no espírito do socialismo (...) o realismo socialista
garante à criação artística uma extraordinária
possibilidade de manifestar a iniciativa criadora e a
escolha de múltiplas formas, estilos e gêneros
literários.403
socialista”406.
403
HOBSBAWM, Eric apud NAPOLITANO, op. cit., p. 48.
404
DIAS, op. cit., p. 285-286.
405
KIRPOTIN, V. apud PIEMONTE, op. cit., p. 10.
406
PIEMONTE, op. cit., p. 10.
139
del socialismo”. Balzac, Tolstoi, Chekov y los otros
viejos realistas (o realistas críticos, según se los llama a
menudo porque criticaban la sociedad burguesa)
presentaban una imagen fiel de la realidad, pero no
conocían la genial enseñanza de Marx, no podían prever
las futuras victorias del socialismo y, en todos los
casos, no tenían la menor idea de las directivas reales y
concretas en qué inspirarse para lograrlas. En esto
estriba su tragedia, su “pobreza histórica”. El realismo
socialista, en cambio, tiene por arma la doctrina de
Marx, está enriquecido por una experiencia de luchas y
de victorias y recibe la inspiración del partido
comunista, su aliado y guía vigilante y seguro. Al
describir la realidad actual, el realismo socialista
comprende la marcha de la historia y se proyecta hacia
el porvenir. Ve “las huellas visibles del comunismo”,
invisibles al ojo normal. En suma, constituye un claro
progreso respecto del arte del pasado y alcanza la más
alta cumbre de la evolución artística de la humanidad:
el realismo más realista.407
referem409.
407
Ibidem, p. 8.
408
LUKÁCS, op. cit., p. 85 e ss.
409
Ibidem, p. 67-69.
410
Ibidem, p. 81.
140
método referido rebaixa o homem à condição de objeto inanimado,
capitalismo411.
411
Ibidem, p. 69, 76, 81, 82 e 83.
412
Ibidem, p. 83.
413
Apesar das críticas Lukács não deixou de levar em conta que as “condições
sociais do realismo burguês se diferenciam bastante das condições do
desenvolvimento do realismo socialista; basta pensar no fato de que os velhos
realistas lidavam com a base social das contradições insolúveis do capitalismo,
ao passo que o realismo socialista brota de uma sociedade na qual as
contradições sociais estão sendo levadas à sua solução definitiva, graças à
atividade do proletariado e de seu partido dirigente”. LUKÁCS apud DIAS, op.
cit., p. 312.
414
ZHDANOV, op. cit., p.[décimo sétimo parágrafo].
141
burguesia415. A crítica do soviético se aplica aos romances de Amado,
limita”416.
aim of our tendency is to liberate the toilers, to free all mankind from
415
Ibidem, p.[décimo nono parágrafo].
416
AMADO; GOMES, op. cit., p. 11.
417
MARIÁTEGUI, op. cit., p. 272.
418
ZHDANOV, op. cit., p.[vigésimo nono parágrafo].
142
Afiançou Zhdanov que a literatura soviética não poderia ser
Para Lukács:
abstratos”422.
havia desaparecido o “homem sem partido. Hoje ele é tão raro como
419
LUKÁCS apud DIAS, op. cit., p. 307-308.
420
DIAS, op. cit., p. 309.
421
Idem.
422
Ibidem, p. 303.
143
um animal pré-histórico”423. Ou, para fazer menção ao escritor russo
423
TÁTI, op. cit., p. 57.
424
EHRENBURG apud MARIÁTEGUI, op. cit., p. 139.
144
coloquial”425. Os “palavrões” na narrativa amadiana constituíram uma
Murilo Mendes:
negou a dar nome aos sujeitos que levaram o autor de Cacau para a
425
PORTELLA, op. cit., p. 16.
426
MENDES apud AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura, p. 72.
427
Cf. AMADO, Jorge Amado: 30 anos de literatura.
428
SODRÉ apud ALMEIDA, op. cit., p.100.
145
homens e mulheres de esquerda, que não apenas tinham nome como
também endereço.
146
CAPÍTULO III
num momento no qual ele não poderia falar de forma tão aberta
429
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores brasileiros e o
comunismo (1920-1945), p. 109 e ss. Ainda sobre esse aspecto ver ROSSI,
Gustavo. Na trilha do negro: política, romance e estudos afro-brasileiros na
década de 1930. In: Flavio Gonçalves dos Santos; Inara de Oliveira Rodrigues;
Laila Brichta. (Org.). 100 anos de Jorge Amado. História, literatura e cultura.
1ed. Ilhéus: EDITUS - Editora da UESC, v., p. 182, 2013.
147
O proletariado nas narrativas amadianas compreende diversas
civilizado, e sim retratar a vida dos homens que pouco tiveram voz e
430
Para Jorge Amado, os meninos de rua exerciam uma profissão. Muitos deles
são descritos na obra amadiana como mendicantes. Logo, temos aí uma fuga
de Amado daquilo que a sociedade se condicionou a chamar de trabalhadores.
431
ALMEIDA, op. cit., p. 93-94.
432
CARNEIRO, Notas sobre “Suor”, p. 3.
148
mesmo intelectuais que descendiam de famílias não abastadas. A
obra amadiana tem o mérito de mostrar uma Salvador que foi palco
socioeconômica e cultural.
pela ”decadência, onde tudo morre aos poucos, numa tristeza enorme
149
de deixar à vida”433. Acreditamos que isso não seria um problema na
Albuquerque:
E agora que está no Brasil, ele volta para a sua terra natal, e
tradição435.
Rigger refletir sobre o que está a sua volta, e que nem sempre ele
consegue lidar. Nesse sentido, uma das personagens mais caras para
433
AMADO, O país do carnaval, p. 40-41.
434
ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. O civismo festivo na Bahia:
comemorações públicas do dois de julho (1889-1923). 1997. p. 15. Dissertação
(Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia. 1997. Leva a nota para o corpo
do texto.
435
Conferir análise de TÁTI, op. cit., p. 24.
150
o autor é Pedro Ticiano, que tem sessenta e quatro anos e um forte
senso crítico.
cidade.
Pedro Ticiano tem muito do líder dos rebeldes dos anos 1930438.
436
AMADO, O país do carnaval, p. 34.
437
Ibidem.
438
SOARES, op. cit., p. 86-87. Sodré chegou mesmo a afirmar em seu artigo
que Pedro Ticiano era Pinheiro Viegas em O país do carnaval. SODRÉ, op. cit.,
p. 13.
439
Um dos companheiros de Pinheiro Viegas assim o descreve: “Estatura
mediana, testa ampla, lábios finos de acentuada comissura, magro, quase
ossudo, todo vestido de preto da cabeça aos pés – vale dizer: do chapéu aos
barzeguins – óculos cavalgando um nariz adunco, através dos quais os olhos
maliciosos desferiam chispas de inteligência e de sarcasmo. Para completar
esse perfil corvino, portava uma bengala, também preta, de castão prateado,
com a qual, nos seus momentos de cismas, dava, de quando em vez, umas
pancadinhas no chão exclamando – como num susurro evocativo de alguma
frustração recôndita “Felicidade... Felicidade é uma mulher perdida”. À primeira
vista, era uma figura estranha, exótica, mefistofélica. De longe, uma
personagem egresso dos contos fantásticos de Hoffmann”. SOARES, op. cit., p.
86.
440
AMADO; GOMES, op. cit., p. 10.
151
A juventude da AR tinha um grande apresso por Pinheiro
Viegas, não apenas por ser o criador da agremiação, por ser mais
441
O jornalista D‟Almeida escreveu um artigo sobre a personalidade e talento
literário de Pinheiro Viegas afirmando que de quando em quando também
acompanhava o fundador da AR nos cafés importantes da cidade. Parece que
algumas qualidades atribuídas a Pinheiro Viegas não foi invenção dos seus
inimigos, até mesmo porque aqueles que o acompanharam acreditavam que ele
foi um dos intelectuais cuja “maldade fez morada [...]. Nunca dos seus labios
se ouviu o louvor a alguem. Foi quasi só a satyra ferina, peçonhenta, venenosa
e infamante que jorrou da sua boca”. D‟ALMEIDA, op. cit., p. 15.
442
AMADO, O país do carnaval, p. 35-36.
152
cocaína”443. Não espanta pensar, e nem seria exagero sugerir, que ler
sentido.
vontade”446.
443
SOARES, op. cit., p. 87.
444
AMADO, O país do carnaval, p. 38.
445
Ibidem, p. 39.
446
Idem.
153
profissional da cidade, é ambicioso, cheio de artimanhas para
geração dos anos 1920 e 1930 que ainda está à procura de rumos e
447
AMADO, O país do carnaval, p.33, 37 e 38.
448
Termo usado por Amado. Ibidem, p.37.
449
Ibidem, p. 37-38.
450
Ibidem, p. 38.
154
Ricardo Brás é um nato intelectual que enfrenta a falta de
nesse sentido.
451
Ibidem, p. 37.
452
Ibidem, p. 39.
453
O autor não dá indicação da área de formação da personagem.
155
ceticismo devem ser combatidos, pois os louros da produção
nascido para esposo traído. Logo, o amor não tem sua confiança,
454
Ibidem, p. 39-40.
455
“Os intelectuais protagonistas do romance vivenciam um dilema que,
segundo o autor, não era mais entre escolher ou não, mas sim o quê escolher
e, neste ponto, se completará sua noção de „verdadeiro intelectual‟. Enquanto
as duas principais personagens, Paulo Rigger e José Lopes, passam o romance
todo debatendo entre qual a melhor opção”. Os dilemas sobre as escolhas, os
conflitos, ou os caminhos a seguir, seja no campo do religioso, cultura ou
acadêmico é marcante em vários sujeitos de Amado, e não apenas em Paulo
Rigger e José Lopes. PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores
brasileiros e o comunismo (1920-1945), p. 113.
156
fácil entender os laços estabelecidos pelos intelectuais, podendo ser
doente, a espera da morte, seu pai pediu que Rigger fosse estudar na
ainda tinha um ano de idade. Amado, como bem lembrou Soares, era
456
“O pai, João Amado de Faria, sergipano de Estância, irmão de Melchisedech
Amado (pai dos Amados de Sergipe, todos êles destacados no cenário cultural
ou social do país: Gilberto, Gildásio, Gildo, Gennyson, Genolino, Gilson,
Guiseppe, Gileno), fôra caixeiro de um armazém de secos e molhados, dos 10
aos 20 anos. Em 1902, emigrou para Ilhéus, levando de seu, no bolso, meio
conto de réis, e na determinação um desejo, mais tarde realizado, de tornar-se
fazendeiro. Com a cheia do rio Cachoeira, em 1914, perdeu tudo que tinha e
padeceu miséria. Até 1918 exerceu, na cidade de Ilhéus, oficio de tamanqueiro,
com residência no bairro de Pontal, auxiliado pela espôsa, D. Eulália Leal
Amado, sertaneja baiana de Amargosa, cuja família, em busca de fortuna,
emigrara, como o fizera João Amado, para a zona do cacau”. TÁTI, op. cit., p.
17-18.
157
de Itabuna, sul da Bahia”457. A família passou por alguns problemas
cultivo do cacau”458.
filiação num comerciante que lutou durante anos para deixar alguma
jornalismo, até porque não gostava muito de literatos. Pelo que tudo
Gamos, Ricardo Brás, José Lopes e Jerônimo parecem não ter muita
457
SOARES, op. cit., p. 89; AMADO; GOMES, op. cit., p. 4.
458
Idem.
459
AMADO, O país do Carnaval, p. 36
460
Idem.
461
Idem.
158
Pedro Ticiano. Ricardo Brás, por exemplo, por não ter conseguido
intelectuais.
462
Hoje chamado de Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhaes, localizado na Av.
General San Martin, em Salvador.
463
SILVA, op. cit., p. 80.
464
Idem; RAILLARD, op. cit., p. 31.
159
Jorge Amado sofreu a influência do padre Luís Gonzaga Cabral
visão do autor, não tinha vocação para professor e muito menos para
Amado: “Então, ele fazia uma coisa que lhe agradava e agradava
exemplo”468.
465
TÁTI, op. cit., p. 15-16; AMADO; GOMES, op. cit., p. 7.
466
Silva, op. cit., p. 80-81.
467
AMADO; GOMES, op. cit., p. 7.
468
Idem.
160
pedido não foi atendido. Ficou claro nas entrevistas que Amado não
residia seu avô. A viagem durou dois meses, e logo ficou sem
por ter fugido da escola anterior471. Pelo menos no colégio novo tinha
469
RAILLARD, op. cit., p. 31
470
AMADO; GOMES, op. cit., p. 8-9.
471
TÁTI, op. cit., p. 16; RAILLARD, op. cit., p. 31.
472
AMADO; GOMES, op. cit., p. 9.
473
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 79.
161
nível, alguns começavam a estudar com professores particulares, os
chamados mestres-escolas474.
ricas que permitissem os estudos dos filhos, assim como, nem todos
474
Termo usado na época e mantido por Silva na pesquisa. Idem.
475
Foi dessa instituição que saíram na década de 1920 as defesas da eugenia
para o estado da Bahia, onde se acreditava ser fundamental o aprimoramento
do indivíduo como forma de extirpar o patrimônio herdado da mistura de raças,
em especial a negra. Cf. COSTA, op. cit.
476
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 95.
162
Edison Carneiro, assim como Aydano do Couto Ferraz,
477
AMADO, O país do carnaval, p. 84-85.
478
Ibidem, p. 122.
479
Ibidem, p. 59.
480
Ibidem, p. 60.
163
Gomes quer integrar seus amigos ao corpo de funcionários do
Um negoção. De primeira...”481.
Viveriam, enfim”482.
481
Idem.
482
Ibidem, p. 61.
164
parte da redação. Foi assim que me iniciei no
jornalismo, por volta de 1926.483
universo”485.
483
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945), p. 85; SOARES, op. cit., p. 84-85.
484
RAILLARD, op. cit., p. 32-33.
485
AMADO, O país do carnaval, p. 89.
165
como os confrontos entre diferentes grupos. Na Bahia, era muito
por outro lado, não concorda com “os ataques a personagens que
486
SILVA, Âncora de tradição: luta política, intelectualidade e construção do
discurso histórico na Bahia (1930-1945); FONTES, op. cit.; ROSSI, O intelectual
“feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das relações raciais no
Brasil.
487
FONTES, op. cit., p. 31.
488
AMADO, O país do carnaval, p. 89.
489
Ibidem, p. 90.
490
Ibidem, p. 122.
166
ele, cenas homossexuais incestuosas. Gomes não quer que seu jornal
periódico. A briga fez com que o grupo (Ricardo Brás, José Lopes e
teria com o filho que estava no colégio interno, e que deu um jeito de
491
Ibidem, p. 119-120.
167
personagens, porque a homossexualidade está relacionada à
imoralidade.
absoluto492.
poetas ou subliteratos493.
492
Ibidem, p. 131.
493
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 97-98.
494
SOARES, op. cit., p. 80.
168
aparecidos, as revistas novas”495. O grupo era pequeno, mas a
transformá-la.
Sem dúvida a AR, embora tenha tido uma vida curta, acabou
Carneiro e Ferraz.
495
TÁTI, Op. cit., p. 19.
496
Ibidem, p. 19-20; RAILLARD, op. cit., p. 37.
169
A semente do regionalismo não apenas germinou em O país do
“trabalho estafante”500.
497
TÁTI, op. cit., p. 18.
498
AMADO, Cacau, p. 9.
499
Ibidem, p. 42.
500
AMADO, Cacau, p. 43.
170
belo e irreal, menos o nosso trabalho estafante. As sete
horas já estávamos a derrubar os cocos de cacau,
depois de haver afiado nossos fações jacaré, na porta
da venda. Às cinco horas da manhã o gole de pinga e o
prato de feijão nos davam forças para o trabalho do
dia.501
ideia que iriam enfrentar, quando entram numa cabine de trem para
Nordeste, que mudavam para o Sul da Bahia. Eles não sabiam dos
não ser muito gentil com aqueles que não dispunham do brasão de
501
Idem.
502
Ibidem, p. 32.
171
forma conflituosa. É quase onipresente nas narrativas a denúncia das
romances do autor.
503
TÁTI, op. cit., p. 61.
504
ALMEIDA, op. cit., p. 99.
505
AMADO, Cacau, p. 85.
172
agrupavam em torno dele. O velho me ofereceu uma
xicara de café, e começou a me interrogar.
- Vai trabalhar pra quem, menino?
- Pra Mané Frajelo.
- Pra aquela miséria? Tá bem arranjado.
Quanto ele vai te pagar? Mil e quinhentos reis?
- Não sei. O empregado dele é que vai me dizer.
- Trabalhadô de lá nunca tem saldo. Vicente trabalhou
pra ele. Vicente!
Vicente era o tal sujeito de talho na cara.
- Vancê que já foi alugado de Mané Frajelo, que tar
acha ele?
- Um fia da puta é que ele é. Trabalhei lá três ano.
Quando saí adivinha qual era o meu saldo?
O velho sorria
- Cinco mil-réis.. [...].506
506
Ibidem, p. 37.
507
Ibidem, p. 68.
508
Termo usado por Jorge Amado.
173
camponeses, uma vez que eles demonstram comportamentos de
sensibilidade.
509
Idem, p. 71-73.
510
Idem.
174
através dele, projeta a temática e que tipo de
abordagem deveria ter o “verdadeiro intelectual”; sua
missão; instruir o “povo”511.
desconsideremos que o autor não nos deu tantos indícios sobre este
511
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores brasileiros e o
comunismo, p. 115.
512
AMADO, O país do carnaval, p. 177.
175
em Deus, creio na Humanidade. Quero a sua felicidade”513. O
- Você é...
- ... comunista...
- Não diga...
- Verdade.
- Mas o comunismo tem inúmeros defeitos, José.
José Lopes tomou um ar sério de defensor e dispôs-se
a replicar. Paulo Rigger gargalhou.
- Você está se divertindo às minhas custas...
- Sou incapaz disso.
- Então você está amando toda a Humanidade?
513
Ibidem, p. 181.
514
Ibidem, p. 183.
176
guarda da cidade, o Coronel Manuel Misael de Sousa Teles aparece
mal aos outros”. Aquele senhor rico tem uns setenta anos e duas
ser rico e viver como esse miserável. De que servem eles? Só sabem
problema, posto que terão que lidar com o medo que a igreja
igualitárias”517.
515
AMADO, Cacau, p. 28-29.
516
Ibidem, p. 86-88.
517
Ibidem, p. 81.
177
- Como vê, senhorita, sou igual a todos eles. Nós
somos laia à parte. Eu vim de gente boa. Hoje, porém,
sou inteiramente deles e estou contente com isso.
- Com passar mal?
- Não vale a pena ser rico. E quem sabe se um dia isso
mudará...
- Você é socialista?
- Não conhecia, de fato. Mária não explicou518.
trabalhadores”519.
518
Ibidem, p. 99-100.
519
Ibidem, p. 100.
178
trilhar com o intuito de conseguirem mudanças. É imperativo, nos
Sergipano:
Abrace os conhecidos e
Colodino.”521
520
Ibidem, p. 89-91.
521
Ibidem, p. 126.
179
A carta de Colodino - homem que seria morto por Honório a
de fundação do PCB.
522
Ibidem, p. 130.
523
Ibidem, p. 131.
180
necessárias para lutar. Os demais trabalhadores, embora vislumbrem
524
Ibidem, p. 137.
525
ALMEIDA, op. cit., p. 96.
181
3. 3 – Os trabalhadores da cidade e os conflitos entre classes
trabalhadores.
526
AMADO, O país do carnaval, p. 70-71.
182
Impressionam as descrições sobre as moradias populares na
Mas, em casa não há conforto, uma vez que é muita gente para um
fome529.
527
Ver MARTINEZ, Socorro Targino. As casas em Jorge Amado. In: Bahia, a
cidade de Jorge Amado. Salvador, Bahia: FCJA, Museu Carlos Pinto, 2000.
528
MARTINEZ, op. cit.
529
CARNEIRO, Notas sobre “Suor”, p. 3.
183
Pelos tipos de personagens construídas em Suor, Carneiro
proletário, porque
comum”532.
pensão, as pessoas têm que passar pela grande ladeira que “era o
530
Idem.
531
TÁTI, op. cit., p. 59.
532
Ibidem, p. 62.
184
tomara o nome era como um pelourinho também”533. Não é fácil a
trabalho534.
cortiço uma padaria árabe clandestina. Nos 116 quartos, mais de 600
533
AMADO, Suor, p. 87.
534
Carneiro colocou que em Amado a representação do desemprego ocasionado
pela crise (1929) é uma constante. Não restando emprego, e sim muito
sofrimento como a fome, aqueles trabalhadores se entregam aos prazeres da
carne. CARNEIRO, Notas sobre “Suor”, p. 3.
535
AMADO, Suor, p. 10.
536
Ibidem, p. 11.
537
Idem.
185
Os homens trabalham nas fábricas ou nos portos como
prédio nº 68, enrolando-se à noite com uma colcha suja. Seu “cabelo
estimação.
por falta de médico, talvez por outro motivo, a moléstia tomara conta
volta540.
538
Ibidem, p. 40.
539
Ibidem, p. 41.
540
Idem.
186
A personagem Artur tem uma história muito parecida com a
poderia ter, e após o retorno dos grevistas garantiu ajudar Artur com
com comida, e logo teve que se virar por outros meios para
sobreviver.
mesmas.
541
Ibidem, p. 47.
542
Idem.
543
Idem.
544
Idem.
187
Em Jubiabá, o escritor baiano dedicou os capítulos finais do
cuidaria da criança545.
Baldo não leva a sério, pois as greves dos bondes geralmente não
sendo preso pela polícia por discursar, mas segue caminhando para
545
AMADO, Jubiabá, p. 286-287. Ver comentário de Palamartchuk sobre esse
evento no romance: PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: Escritores
brasileiros e o comunismo (1920-1945), p. 126.
188
para fazer naquela manhã de tanto sol. Os grupos
passam. Vão todos para o sindicato que fica numa rua
alí atrás. Balduíno segue sozinho pela rua deserta.
Ouve o ruído das conversas na outra rua. Parece que
alguém está fazendo um discurso no sindicato. Ele
também é do sindicato dos estivadores. Por sinal que já
lhe falaram em ser candidato a diretoria.546
COPANHEIROS DA CIRCULAR
Os estivadores reunidos em assembleia, no seu
sindicato de classe, resolveram aderir ao movimento de
greve dos seus companheiros da Companhia Circular.
Vêm assim trazer o seu apoio incondicional aos
grevistas na luta pelas reivindicações. Os companheiros
da Circular podem contar com os estivadores. Pelo
aumento de salários! Por oito horas de trabalho! Pela
abolição das multas.549
546
AMADO, Jubiabá, p. 290.
547
Ibidem, p. 291.
548
Ibidem, p. 292.
549
Idem.
189
proletários lutam por melhores salários, uma carga horária de oito
no acesso à riqueza550.
das greves. Não querem que seus filhos sejam escravos do sistema
de escravidão551.
550
Ibidem, p. 293-295.
551
ROSSI, Luis Gustavo Freitas. As cores da revolução: A literatura de Jorge
Amado nos anos 30. 2004. p. 121. Dissertação (Mestrado em História) –
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de
Campinas. Campinas, 2004.
552
AMADO, Jubiabá, p. 296.
190
não é mais escravo. Que adianta negro rezar, negro vir
rezar para Oxóssi? Os ricos manda fechar a festa de
Oxóssi. Uma vez os polícias fecharam a festa de Oxalá
quando ele era Oxalufã, o velho. E pai Jubiabá foi com
eles, foi pra cadeia. Vocês se lembram, sim. O que é
que negro pode fazer? Negro não pode fazer nada, nem
dançar para santo. Pois vocês não sabem de nada.
Negro faz greve, pára tudo, pára guindastes, pára
bonde, cadê luz? Só tem as estrelas.553
candomblé.
luta contra a opressão dos brancos que usam a polícia para terminar
553
Ibidem, p. 299.
554
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: Escritores brasileiros e o
comunismo (1920-1945), p. 127.
191
possibilidade de resignificar o mito e o lendário da cultura Afro-
555
ROSSI, As cores da revolução: A literatura de Jorge Amado nos anos 30, p.
111.
556
AMADO, Jubiabá, p. 299. Sobre essa fala da personagem ver comentário de
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: Escritores brasileiros e o
comunismo (1920-1945), p. 127.
557
ROSSI, As cores da revolução: A literatura de Jorge Amado nos anos 30, p.
123-124.
558
Para Palamartchuk, na acepção de Amado os trabalhadores precisavam
“adquirir uma consciência que se desdobra em sua própria noção de
consciência de classe, que só é verdadeira se tem a perspectiva união de todos
os trabalhadores, cuja unidade encontra-se na organização proletária”.
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: Escritores brasileiros e o
comunismo (1920-1945), p. 127. Ainda sobre nossa reflexão acerca da
exploração ver a fala de Baldo em: AMADO, Jubiabá, p. 302-303.
559
Ibidem, p. 313-17.
192
Em frente aos escritórios da companhia está parado um
automóvel. É Hudson do diretor, um americano que
ganha doze contos por mês. E ele vem de charuto na
boca, descendo as escadas. O chofer prepara o carro.
Antônio Balduíno, que vem no grupo de grevistas,
grita:
- Vamos prender ele, pessoal. Assim a gente também
tem um preso.
O diretor é cercado. Os guardas que garantiam o prédio
correm. Antônio Balduíno o agarra por um braço e
rasga a roupa branca. Gritam da multidão:
- Lincha! Lincha!
Antônio Balduíno levanta o braço para descarregar o
soco. Mas uma voz se faz ouvir. É Severino quem fala:
- Nada de bater no homem. Nós somos operários e não
assassinos. Vamos levá-lo para o sindicato.
Antônio Balduíno baixou o braço com raiva. Mas ele
compreendeu que aquilo é necessário, que a greve não
é feita por um, mas por todos. E entre gritos o
americano é levado para o sindicato dos operários da
Circular.560
560
Ibidem, p. 324.
561
Ibidem, p. 324-25.
193
eles pedem”562. Depois de todas as conquistas, a greve termina com
mais séria que barulho, que briga. Era uma luta dirigida para um fim,
capitalismo.
grandes crises nos setores operários, na Bahia, ela acabou nos dando
(1928) para 4.649 (1930) e para 2.162, em 1933, ponto mais baixo
562
Ibidem, p. 325.
563
Idem.
564
Ibidem, p. 327.
565
SAMPAIO, Consuelo Novais. Movimentos sociais na Bahia de 1930:
condições de vida do operariado. Universitas, Salvador, n. 29, p. 95-108,
jan./abr., 1982.
194
da depressão. As importações caíram de 2.872 (1928) para 609 em
566
Ibidem, p. 98.
195
A análise do rol de reivindicações formuladas pelos
grevistas de ambas as companhias sugere certa
coincidência nos pontos principais. De forma ampla,
exigiam que seus direitos fossem respeitados, de
acordo com o estipulado por leis brasileiras e de acordo
com os termos do Tratado de Versalhes. De modo
específico, queriam: 1) a readmissão imediata de
operários despedidos por terem exigido que
administradores estrangeiros acatassem as leis
brasileiras; 2) jornada de trabalho de 8 horas; 3)
aumento de salários. 4) um dia de folga remunerada
por semana; 5) pagamento extra por trabalho extra; 6)
abolição de dispensas temporárias de operários, sem
justificativa; 7) a demissão de inspetores das
companhias, por suas atitudes coercitivas em relação
aos trabalhadores; 8) reconhecimento dos sindicatos
como legítimos representantes dos trabalhadores.567
567
SAMPAIO, op. cit., p. 101.
568
Sobre uma análise aprofundada das greves de 1919 na Bahia, ver
CASTELLUCCI, Aldrin Armstrong Silva. Salvador dos operários: uma história da
greve geral de 1919 na Bahia. 2001. 153 fls. Dissertação (Mestrado em
História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal
da Bahia. Salvador, 2001.
569
SAMPAIO, op. cit., p. 101-102.
196
por mais de uma hora devido à ação da polícia, no entanto, o
570
Ibidem, p. 101.
571
Ibidem, p. 101-102.
572
Idem.
197
outros tipos de trabalhadores, e as suas funções estão ligadas às
cais sevem como linha divisória que os separa das elites, como dos
Amado.
humana.
198
os mestres de saveiros e saveireiros573 que vivem nos cais da capital.
padre, que morreu e virou mula sem cabeça e anda vagando por
573
Termo usado pelo autor para atribuir aos trabalhadores dos saveiros.
574
AMADO, Jubiabá, p. 148.
575
Cf. OLIVEIRA, Marcelo Souza. Uma senhora de engenho no mundo das
letras: O declínio senhorial em Anna Ribeiro. 2008. 131 fls. Dissertação
(Mestrado em História) – Departamento de Ciências Humanas (Campus I) da
Universidade Estadual do Estado da Bahia. Salvador, 2008.
576
AMADO, Jubiabá, p. 148.
199
imaginário do tempo da escravidão, estórias que coletivizam a
não querem lidar com uma assombração porque “ninguém sabe por
que ele corre assim por essas matas junto ao rio”578. A assombração
matava homens, animal dele trabalhava até cair morto” 580, que está
tartaruga”581.
577
Cf. FRAGA, Walter. Encruzilhadas da Liberdade: histórias de escravos e
libertos na Bahia (1870-1910). São Paulo: Editora da UNICAMP, 2006.
578
AMADO, Jorge. Mar morto. Rio de Janeiro: Record, 1980, p. 86.
579
Idem.
580
Ibidem, p. 87.
581
Idem.
200
Quando o cavalo passa correndo a terra treme, e aquele que o
de correr por aquelas terras que foram engenho seu, quando alguém
tiver pena dele e tirar das suas costas o carregamento, caçuás 582 que
místico popular.
582
Um cesto grande de cipó, conhecido popularmente na cultura nordestina
como “cangalha”.
583
FERRAZ, Aydano do Couto. Festas e superstições das aguas na Bahia de
Todos os Santos. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, p. 35, 02 de jul. 1938.
201
Assegurou ainda que quando um praieiro tinha vocação para escrivão
produção da especiaria585.
584
Idem.
585
Cf. ROCHA, Uelton Freitas. "Recôncavas" Fortunas: a dinâmica da riqueza no
Recôncavo da Bahia (Cachoeira, 1834-1889). 2015. Dissertação (Mestrado em
História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal
da Bahia. Salvador, 2015. Jorge Amado fez várias descrições e referências ao
tema em “Mar morto” e “Jubiabá”.
586
Entre os séculos XVII e XIX o fumo era usado na compra de escravos na
África destinados, entre outras atividades, às plantations brasileiras. A década
de 1780 começa com o crescimento na exportação de açúcar, fumo e couros e
outros novos são acrescentados como café, algodão, arroz, cacau e trigo.
Juntamente com o fumo eles enfrentaram momentos de crise e flutuações no
nível da exportação. Novas especiarias agrícolas são acrescentadas, como o
café e o algodão. Somado ao açúcar e ao fumo, entraram na década de 1840
202
produção de charutos nas fábricas das cidades de Maragogipe,
capital587. Numa viagem que Guma e mestre Manuel fizeram para Mar
203
zona veranista. É terra dos pescadores”588, o autor narra que após o
Bahia”589.
588
AMADO, Mar morto, p. 142.
589
Idem.
204
CAPÍTULO IV
205
Baldo e seu amigo Gordo se aventuram por uma nova vida em
torno uma luz amarela como a luz da lua que apareceu nesse
Gordo tonto. Mas, mestre Manuel fica com seu saveiro apenas nos
fumageiro. Cidades como Cruz das Almas, São Gonçalo dos Campos,
590
AMADO, Jubiabá, p. 147.
591
Sobre as descrições referentes aos cheiros oriundos do fumo, ver a
dissertação de GOMES, Margarete Nunes Santos. Caprichos e trapiches:
memórias das ex-trabalhadoras da atividade fumageira em Conceição do
Almeida-BA (1960-1980). 2010. 158 fls. Dissertação (Mestrado em História) -
Universidade Estadual da Bahia. Santo Antônio de Jesus, 2010. Ver também
SILVA, Elizabete Rodrigues da. As mulheres no trabalho e o trabalho das
mulheres: um estudo sobre as mulheres fumageiras do Recôncavo baiano.
2011. p. 68. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Estudos
Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da Universidade Federal
da Bahia. Salvador, 2011.
592
Ibidem, p. 154.
593
BORBA, op. cit., p. 45;
206
compunham, na década de 1930, os “101 municípios dos 152
existentes na época”594.
594
SILVA, Vivendo com o outro: os alemães na Bahia no período da II guerra
mundial, p. 67.
595
AMADO, Jubiabá, p. 165-166.
596
Ibidem, p. 155.
597
Ibidem, p. 167.
207
grandes colocam mais pessoas598. Aquelas personagens escolhem São
Melo & Cia., Costa Ferreira & Pena”600. É digno de nota que os
598
Idem.
599
Ibidem, p. 167.
600
MOTA, Luciana Guerra Santos. As manufaturas de fumo do Recôncavo
Baiano. Labor & Engenho, Campinas, v. 5, n. 4, p. 21, 2011.
601
Para Borba o capital isolado da Dannemann, Costa Ferreira & Pena e
Suerdieck abrangia a soma do capital de diversos estabelecimentos. Além disto,
dá destaque para Danneman e Suerdieck pelas vendas comerciais estáveis,
aumento progressivo do capital social, mão de obra. Ver BORBA, op. cit., p. 46;
Ver também MOTA, op. cit., p. 20-21.
602
“As principais etapas iam desde a preparação das sementeiras e do solo, o
plantio e o trato com a planta; a colheita, ou seja, as etapas do corte, secagem
208
descrito em Jubiabá, as famílias dos lavradores603 estavam todos
209
Sabemos que o Recôncavo foi escolhido por muitos escravos da
portugueses608.
não receber nenhuma ajuda ou proteção por parte do Estado, ainda ficava
sujeito às condições impostas pelos proprietários das terras”. Ibidem, p. 71
607
SOUZA, Robério Santos. “Se eles são livres ou escravos”: escravidão e
trabalho livre nos canteiros da estrada de ferro de São Francisco. Bahia, 1858-
1863. 2013. p. 212. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2013.
608
BORBA, op. cit.
609
SILVA, As mulheres no trabalho e o trabalho das mulheres: um estudo sobre
as mulheres fumageiras do Recôncavo baiano, p. 114.
210
trabalhadores. Intentavam, com isso, inibir comportamentos que
determinados[...]”611.
que está com a intenção de satisfazer seus desejos sexuais com uma
610
Ibidem, p. 114 e 117.
611
SILVA, Resistência inventiva das mulheres fumageiras do recôncavo baiano,
p. 12. Ver também SILVA, As mulheres no trabalho e o trabalho das mulheres:
um estudo sobre as mulheres fumageiras do Recôncavo baiano, p.146, 172,
178, 183.
612
AMADO, Jubiabá, p. 156.
211
parecem todas doentes. Algumas fumam charutos
baratos, depois de terem fabricado charutos caríssimos.
Quase todas mastigam fumo. Um homem loiro
conversa com uma mulatinha que ainda não perdeu a
cor nas fábricas613.
613
Ibidem, p. 156-157.
614
Ibidem, p. 157.
615
Idem.
616
Idem.
212
eram necessárias. No quarto romance, Amado chegou a narrar que
“os homens não tinham jeito, possuíam as mãos grossas demais para
617
Ibidem, p. 154-155.
618
De forma geral, os anos de 1930 foram também marcados pela crise
econômica desencadeada em 1929. Segundo o pesquisador Williams da Silva
Gonçalves, os países ricos passaram por um distúrbio, segundo o autor eles de
certa forma foram os principais atingidos, e por consequência os países pobres
também sofreram com a crise, isso abalou o sistema capitalista de produção.
GONÇALVES, Williams da Silva. A Segunda Guerra Mundial. In: REIS FILHO,
Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2005, p.169. Além disto, nas pesquisas realizadas por
Sampaio o desemprego foi uma triste realidade na Bahia na década de 1930,
surgindo dai muitas greves e revoltas populares. SAMPAIO, op. cit.
619
AMADO, Jubiabá, p. 159.
620
Ibidem, p. 154.
621
Ibidem, p. 157-158.
213
sujas de fumaça. Um quadro com Senhor do Bonfim, um violão
622
Ibidem, p. 158.
214
Esclarece a historiadora Cristiana Schettini Pereira, que a
623
NUNES NETO, Francisco Antônio. As condições sociais das lavadeiras em
Salvador (1930-1939): Quando a Literatura e a História se encontram. 2005. p.
52. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2005.
624
PEREIRA, Cristiana Schettini. “Que tenhas teu corpo”: uma história social da
prostituição no Rio de Janeiro das primeiras décadas republicanas. 2002. 335
fls. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2002.
215
memorialista foram primordiais na delimitação do perfil das
625
Para Schettini a década de 1920, é de fato marcada por reconfigurações e
transformações dos espaços urbanos cariocas, especialmente por iniciativa das
autoridades. Isso considerando que o centro da cidade deveria ser higienizado
das sujeiras sociais como, por exemplo, as prostitutas. O mesmo movimento de
modernização do espaço urbano pode ser percebido em Salvador. Ibidem.
626
FERREIRA FILHO, Alberto Heráclito. Salvador das mulheres: condição
feminina e cotidiano popular na Belle Époque imperfeita. 1994. p. 82.
Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia. 1994.
627
Ibidem, p. 66.
628
Ibidem, p. 138.
216
principalmente das prostitutas”629, até porque “tudo aquilo que se
desvio ou criminalizado”630.
escritor633.
629
Ibidem, p. 82.
630
Ibidem, p. 101.
631
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores brasileiros e o
comunismo, p. 120. Ver uma discussão semelhante
PALAMARTCHUK, Ana Paula. Jorge Amado: romance proletário e suas
personagens. In: Flavio Gonçalves dos Santos; Inara de Oliveira Rodrigues;
Laila Brichta. (Orgs.). 100 anos de Jorge Amado. História, literatura e cultura.
1ed. Ilhéus: EDITUS - Editora da UESC, 2013, p. 137;
ROSSI, Na trilha do negro: política, romance e estudos afro-brasileiros na
década de 1930, p. 182 e 186.
632
AMADO, Jorge apud PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores
brasileiros e o comunismo, p. 109.
633
PALAMARTCHUK, Ser intelectual comunista: escritores brasileiros e o
comunismo, p. 109-110.
217
Almeida, Raquel de Queiros, Graciliano Ramos); vida
difícil das cidades em rápida transformação (Erico
Verissimo).634
desta definição”635.
634
Ibidem, p. 109-110.
635
Ibidem, p. 110.
636
AMADO, Cacau, p. 65.
637
Ibidem, p. 61. Em Capitães de areia, Amado retrata Ilhéus enquanto espaço
muito receptivo à prostituição, embora também aparecessem alguns
probleminhas. Os navios que chegam em Ilhéus trazem mulheres de Salvador,
218
Num diálogo entre duas senhoras, uma delas sugere que a
219
saúde física e moral das famílias, instaladas em toda a
parte da cidade.641
Baldo. Quando os pais de Baldo morrem ele fica com a tia, que sem
641
FERREIRA FILHO, op. cit., p. 80.
642
AMADO, Cacau, p. 58.
643
Idem.
644
AMADO, Jubiabá, p. 270.
220
no Rio de Janeiro e voltou à Bahia decidido a fazer fortuna. Disse o
colocar sua carreira em risco. Assume para a noiva que as coisas não
o filho que teve com Gustavo Barreto. O pai não assume a criança.
concorda em não falar nada, segue a vida, mas deixa o filho com
645
Idem.
646
Ibidem, p. 272.
647
Ibidem, p. 273.
221
sabem. Para a personagem, ali será o término de suas vidas. Numa
quase defunto”648.
fundo, elas acreditam que estão mortas, inclusive Lindinalva que está
cada vez mais pálida. Seu consolo é que seu filho está com Amélia,
enquanto seu corpo será aos poucos devorado pelo cansaço e pela
648
Idem.
649
MENDONÇA, Carolina Silva Cunha de. Marias sem glória: retratos da
prostituição feminina na Salvador das primeiras décadas republicanas. 2014.
113 fls. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia. 2014.
222
do defloramento ou o pai que vende a virgindade da filha 650.
650
Ibidem, p. 32.
651
Ibidem.
652
Ibidem, p. 34. Segundo Ferreira Filho “Além da penetração da vagina pelo
órgão sexual masculino – provocando ou não a ruptura do hímen -, era
necessário, para a configuração do delito que as vítimas demonstrassem que
haviam sido moralmente enganadas pelos acusados. Ao devassar a intimidade
sexual dos indivíduos para que fosse composto um modelo de culpa ou
inocência jurídica, os crimes de defloramento alimentaram, com frequência,
grossos autos processuais e concorridos juris populares”. FERREIRA FILHO, op.
cit., p. 126.
653
Ibidem, p. 126-127.
223
modernização do espaço público e distanciando-se de um passado
decadente654.
moralidade e da família.
654
Ibidem, p. 127. Sobre os crimes de defloramento nas primeiras décadas da
republicanas ver também MENDONÇA, op. cit.
224
com treze anos apenas, conhecia muito bem a
profissão655.
sexuais com Zilda quando ela tinha apenas dez anos. A menina
casa. Amado afirmou ter sido uma “tragédia de gente pobre: um pai
caixa de ruge”657. Quando Osório foi até a casa onde ela trabalha
reconhece, o que causa mal-estar. Zilda afirma ter sido ela a mulher
655
AMADO, Cacau, p. 61.
656
Ibidem, p. 63.
657
Ibidem, p. 64.
225
gastara as economias no vestido novo. Quando o enterro passou,
prostituta não se suicida por amor, e sim para sanar seus pecados.
mulheres.
658
Idem.
659
PEREIRA, op. cit., p. 47.
660
Idem.
226
Em Capitães de areia, Gato é um dos meninos de rua que
integra o grupo chefiado por Pedro Bala. Ele se aventura numa noite
de areia não pagam pelos serviços das prostitutas que circulam pelas
661
AMADO, Jorge. Capitães de areia. Rio de Janeiro: Record, 1980, p. 39.
662
Idem.
227
Na narrativa amadiana, essas mulheres circulam nos espaços
escritor é filho de seu tempo e por isto deveria estar isento de tal
disputam pela primeira relação sexual dos jovens que saem à rua em
que enchem a vida de uma mulher, que lhe tomam dinheiro, dão
663
Idem.
228
Pedimos permissão ao leitor para abrirmos um pequeno
664
GALVÃO, Walnice Nogueira. Saco de gatos: ensaios críticos. São Paulo:
Duas Cidades, 1976, p. 13-22.
665
Ibidem p. 17.
666
Ibidem, p. 21.
229
Além do machismo, Amado, na interpretação da autora,
indireto não desautorizado: que não se perca tempo com escritos que
de areia. A cena descrita na citação mostra que não ser visto deveria
667
Idem.
668
Ibidem, p. 22.
669
Idem.
670
FERREIRA FILHO, op. cit.
230
futuras e frustrações. A vivência do autor com meretrizes e outros
pelo autor - de ter a prostituta Dalva, mas ela não tem olhos para
ele, e sim para um flautista “que tomava o dinheiro que ela fazia e
que Gato está na rua. Pede ao jovem malandrin672 que vá até a casa
mulher.
671
AMADO, Capitães de areia, p. 39.
672
Termo usado pelo autor.
231
rua “contou sessenta e oito mil-réis. Jogou a bolsa no pé da escada,
673
Ibidem, p. 41.
674
Ainda sobre este aspecto, das trocas de favores e dos dinheiros que os
amantes das prostitutas tiravam delas, ver o trabalho de PEREIRA, op. cit.
675
FERREIRA FILHO, op. cit., p. 83.
232
As meretrizes não foram as únicas trabalhadoras mal vistas
nº 68?
676
NUNES NETO, op. cit., p. 86.
233
do K. T. Espero e, quando cantavam, conversavam com
grande gasto de queixas e de risadas. Mulatas,
portuguesas, árabes, velhas e moças, comentavam a
vida dos fregueses, sabiam de tudo que se passava no
prédio, se queixavam umas às outras, maldiziam a
existência e, juntas, iam à sessão grátis do Olímpia.
Amarravam os vestidos nas coxas ou vestiam calças
abandonadas pelos homens. Envelheciam depressa, sob
o sol que as castigava duramente as tardes de verão.677
por não se ter quem os olhasse em casa678, assim como era onde elas
677
AMADO, Suor, p. 103-104. Sobre o processo de lavagem das roupas ver
SANCHES, Maria Aparecida Prazeres. Fogões, pratos e panelas: poderes,
práticas e relações de trabalho doméstico. Salvador, 1900-1950. 1998. p. 92-
93. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia. Salvador, 1998.
678
Ibidem, p. 91.
679
FERREIRA FILHO, op. cit., p. 55-56.
234
serviços. A procura desenfreada por atender as demandas de
das mulheres que mora na pensão n° 68, seu marido, trabalha como
dos que lidam com eles todos os dias. A lavadeira “tinha medo
diariamente.
que seus trabalhos oferem. Conseguir lidar com uma Bahia marcada
680
Ibidem, p. 70.
681
AMADO, Suor, p. 102.
235
pelo desemprego é realmente uma tarefa difícil, como muitos estudos
receio, mas ela tinha certeza de que ainda aconteceria uma desgraça
e rogava que ele deixasse aquele trabalho, senão ela não teria
sossego”682.
sábado684.
682
Ibidem, p. 103.
683
SANCHES, op. cit., p. 92; NUNES NETO, op. cit., p. 87.
684
SANCHES, op. cit., p. 92. Acrescenta ainda Nunes Neto que as roupas eram
buscadas na casa da(o) cliente e deveriam começar no mesmo dia que
fechavam contrato. NUNES NETO, op. cit., p. 81
685
Ibidem, p. 90. Ver outros casos de acidentes descritos em SANCHES, op.
cit., p. 90-97.
236
numa prisão, e perder a clientela686. A maioria das mulheres eram
sempre conseguiam.
dona Maria. Esta tem uma das maiores freguesias, lavando para os
686
Ibidem, p. 92; NUNES NETO, op. cit., p. 72. Outros conflitos aconteciam no
contexto da cidade, diz Nunes Neto que a “rotina a que as lavadeiras estavam
sujeitas começava com às idas as casas dos/das contratantes dos serviços,
tornando possível desenhar trajetórias de circulação pelas ruas da cidade, em
direção às fontes, diques, lagoas e riachos, quando não lavavam nas
proximidades das suas casas ou na frente destas, causando verdadeiro mal-
estar junto a uma população que a todo instante denunciava os jornais os mais
hábitos de certas mulheres em praticar tal atividade de maneira não higiênica
ou não cuidados em frente das suas moradias, espalhando um mar de espuma
pelo chão, contribuindo para que os pedestres desatentos caíssem em plena
rua, favorecendo a querelas, discussões e outros disse-que-disse”. Ibidem, p.
75.
687
A presença marcante das negras no ofício remete a uma herança histórica.
As escravas de ganho exerciam a atividade fora das dependências do senhor, e
em contrapartida pagava pela liberação ao mesmo. Ibidem, p. 74.
688
Ibidem, p. 73.
689
AMADO, Suor, p. 104-105.
237
em soldados da Polícia Militar”690. Na narrativa de Amado, os
financeiro.
moralidade.
690
NUNES NETO, op. cit., p. 92
691
AMADO, Suor, p. 105
692
Idem.
238
A remuneração não compensava os problemas e perigos que as
da especulação imobiliária.
sempre, chega bêbado. Num certo dia, quando chega da rua, ele
Alerta Nunes Neto, que muito “embora Vitória não tenha reagido,
693
AMADO, Suor, p. 106.
694
FERREIRA FILHO, op. cit., p. 56-57.
695
AMADO, Suor, p. 106.
239
geralmente, elas costumavam ter „um comportamento aguerrido,
proletariado”697.
696
NUNES NETO, op. cit., p. 89.
697
ALMEIDA, op. cit., p. 113.
240
intelectuais descerem da torre de marfim e abraçarem a causa
revolucionária.
sobre ele698. Em uma época de luta, “o romance que seja honesto não
698
Ibidem, p. 105.
699
TÁTI, op. cit., p. 89.
241
CAPÍTULO V
Afro-brasileiras.
242
aglutinação de intelectuais que defendiam, em sua maioria, a
700
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e
questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993,
p. 11-12. Ainda sobre a questão racial no Brasil, Cf. ALVES, Eliane Bisan.
Etnicidade, nacionalismo e autoritarismo: a comunidade alemã sob vigilância do
DEOPS (1930-1945). São Paulo: Humanitas; FAPESP, 2006; TUCCI CARNEIRO,
Maria Luiza. O anti-semitismo na Era Vagas (1930-1945). São Paulo: Editora
Brasiliense, 1988; TAKEUCHI, Márcia Yumi. O perigo amarelo: imagens do
mito, realidade do preconceito (1920-1945). São Paulo: Humanitas, 2008.
701
“O conceito de raça é definido como uma construção social, com pouca ou
nenhuma base biológica. A raça é importante porque as pessoas classificam e
tratam o „outro‟ de acordo com as idéias socialmente aceitas. Referenda-se,
aqui, a posição de Edward Telles: „o uso do termo raça fortalece distinções
sociais que não possuem qualquer valor biológico, mas a raça continua a ser
imensamente importante nas interações sociológicas e, portanto, deve ser
levada em conta nas análises sociológicas [e históricas]‟”. TELLES, Edward apud
DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos
históricos. Revista Tempo, Niterói, v. 12, n. 23, p. 101, 2007; Ver igualmente
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Raça e os estudos de relações raciais no
Brasil. Novos Estudos, São Paulo, n. 54, p. 149-150.
702
DOMINGUES, op. cit., p. 101-102.
243
vezes, mas outras vezes condescendente e paternalista”703. A
244
oferecer material, por exemplo, sobre o estágio infantil dos
atrasados”706.
706
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil:
uma história das teorias raciais em finais do século XIX. Afro-Ásia, Salvador, v.
18, p. 96, 1997.
707
SCHWARCZ, O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil (1870-1930), p. 11-12;
708
Ibidem, p. 12.
245
iluminista francês709. Para a antropóloga Stefania Capone, o propósito
709
GUIMARÃES, Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, p. 6.
710
CAPONE, Entre Yoruba et Bantou: L‟influence des stéréotypes raciaux dans
les études afro-américaines, p. 58.
711
Cf. MARTIUS, Karl Friedrich von. Como se deve escrever a história do Brasil.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 24, p.
381-403, jan. 1845.
712
GUIMARÃES, Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, p. 16. A partir da análise de Guimarães podemos dizer
que a premiação do trabalho de Martius foi a legitimação do projeto de história
que o IHGB queria para o Brasil. Ibidem, p. 17; CAPONE, Entre Yoruba et
Bantou: L‟influence des stéréotypes raciaux dans les études afro-américaines,
p. 58.
713
Chamamos atenção para o pequeno adendo de que Manuel Luis Lima
Salgado Guimaraes fez uma confusão de data, ao afirmar que o texto tinha sido
publicado em 1844713. A mesma confusão de data foi feita por Schwarcz, ao
afirmar que a publicação da tese de Martius na revista do instituto ocorreu em
1844, o que está longe de ser verdade. Devido a isso, tivemos que consultar o
texto original na revista do IHGB, conforme demonstraremos ao longo do
capítulo. A publicação não se dá em 1945 como sugere Magnoli e Barbosa.
MAGNOLI; BARBOSA, op. cit., p. 328; GUIMARÃES, Nação e Civilização nos
Trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, p. 16.
714
MAGNOLI; BARBOSA, op. cit., p. 327.
715
Alguns intelectuais patenteados pelo IHGB como Francisco Adolfo de
Varnhagen fez oposição a alguns romancistas que se propunham a desenhar o
índio enquanto representante da nacionalidade brasileira. GUIMARÃES, Nação e
Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, p. 21.
246
começou a se consolidar um projeto de uma História Pátria717 que
construção da nação”718.
247
para o desenvolvimento commum, quanto maior fôr a
energia, numero e signidade da sociedade de cada uma
d‟essas raças. D‟isso necessariamente se segue que o
Portuguez, que, como descobridor, conquistador e
Senhor, poderosamente influiu n‟aquelle
desenvolvimento; o Portuguez, que deu as condições e
garantias moraes e physicas para um reino
independente; o Portuguez se apresenta como o mais
poderoso e essencial motor. Mas tambem de certo seria
um grande erro para com todos os princípios da
Historiographia-pragmatica, se se desprezassem as
forças dos indígenas e dos negros importados, forças
estas que igualmente concorreram para o
desenvolvimento physico, moral e civil da totalidade da
população.723
723
MARTIUS, op. cit., p. 382.
724
Idem.
725
Ibidem, p. 389.
726
Para Martius, os negros e índios tinham papel importante no processo de
aprimoramento físico, moral e civil da população. Ibidem, p. 382-383.
727
Ibidem, p.383.
248
seja, caberia ao sangue dos colonizadores eliminar as imperfeições
728
Outras curiosidades são muito interessantes na tese de Martius. Nela,
aponta que “o indígena merecia um estudo cuidadoso da história, até mesmo
pela possibilidade de tais investigações contribuírem para a produção de mitos
da nacionalidade”. Logo, o indígena merecia muita atenção, não apenas por
questões históricas, mas especialmente pela língua tupi e a cultura. Por outro
lado, o negro foi pouco pensado nas análises do alemão, tendência que
segundo Manuel Luis Lima Salgado Guimarães, só iria consolidar-se nas escritas
posteriores, por considerarem o negro como “fator de impedimento ao processo
de civilização”. GUIMARÃES, Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, p. 17; Cf. MARTIUS, op. cit., p. 386-387.
729
Desde sua fundação manteve foco na perspectiva regional. Os associados
entendiam ser importante compreender a história da Bahia, e sua relevância
dentro do grande Império que se pretendia centralizado. As investigações ali
desenvolvidas acabaram reforçando a importância da Bahia dentro do processo
de descobrimento do território brasileiro. LEITE, Rinaldo Cesar Nascimento.
Memória e identidade no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1894-1923):
origens da Casa da Bahia e celebração do 2 de julho. Patrimônio e Memória,
São Paulo, v. 7, n. 1, p. 56-58, jun. 2011.
730
Idem.
731
GUIMARÃES, Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, p. 9 e 12.
249
seus sócios, e com fechamento do primeiro instituto baiano, o
732
LEITE, op. cit., p. 58.
733
Ibidem, p. 55.
734
BRITO, Ana Clara Farias. Casa da Bahia: Memória de alguns baianos, o IGHB
e as modificações urbanas da cidade de Salvador na Primeira República. In:
Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. São Paulo: ANPUH, julho, 2011,
p. 3.
735
“Nessa mobilização organizaram quermesses, partidas de futebol, concertos
musicais, festivais de cinema, chás beneficentes e palestras para a arrecadação
de dinheiro, que seria utilizado na reconstrução do IGHB”. Ibidem, p. 2.
250
legitimar a hierarquia entre raças, tendo como ponto central a defesa
negros no estado.
Até final dos anos de 1920 a imprensa baiana foi uma das
que temiam pelo destino dos brancos no mundo, posto que não
736
SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e
estratégias de consolidação constitucional (1894-1930). 2006. 256 fls. Tese
(Doutorado em História) – Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2006.
737
MAGNOLI; BARBOSA, op. cit., p. 320.
738
REIS, Meire Lúcia Alves dos. A cor da notícia: discursos sobre o negro na
imprensa baiana. 2000. p. 46. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade
de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia. Salvador,
2000.
251
biotipo. Por isso, os europeus eram vistos como símbolo de
civilização:
país742.
739
SILVA, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e estratégias de
consolidação constitucional (1894-1930), p. 179.
740
Chama atenção Aldo Silva que a “Bahia estava longe de ser uma sociedade
branca, urgia pensar e defender os meios para lhe conferir essa tão ansiada
condição, e dentre todas as possibilidades a mais certa e viável era (sabia-se)
exatamente a miscigenação. Ao contrário do que afirmava o parecer, portanto,
a mestiçagem como fenômeno não era um problema, era necessária. Ela
haveria de ser feita para produzir não o caboclo, e sim um novo tipo, mais
branco, mais europeizado. Haveria de ser, enfim, uma mestiçagem positiva”.
Ibidem, p. 180.
741
TAKEUCHI, op. cit., p. 43.
742
“Indubitavelmente, [...] o mais poderoso fator para a evolução da nossa
indústria agrícola, por conter em si os germens não só da atividade inteligente
como da evolução moral, [conseqüentemente] cumpri-nos promovê-la por meio
de uma associação destinada a provocar pela propaganda a espontaneidade
dessa imigração e facilitar por meios práticos a colonização dos imigrantes”.
252
Contudo, a imigração incomodava as autoridades pelo pouco
deste projeto, as raças “não brancas” eram vistas como atrasos para
APEB. Sessão Colonial e Provincial. Série: Polícia do Porto. Maço 4.609. Atas da
Sociedade Baiana de Imigração apud SILVA, Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia: Origem e estratégias de consolidação constitucional (1894-1930), p.
182-183.
743
Ibidem, p. 183.
744
REIS, op. cit., p. 48-49; SILVA, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia:
Origem e estratégias de consolidação constitucional (1894-1930), p. 59.
745
Ibidem, p. 183-184.
253
o futuro nacional. O IGHB serviu como porta voz das elites e
746
REIS, op. cit., p. 54.
747
Idem.
748
SILVA, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e estratégias de
consolidação constitucional (1894-1930), p. 173.
749
Idem.
750
Ibidem, p. 173-174.
751
Ibidem, p. 174.
752
Ibidem, p. 173.
254
seguidores tinham do português, quando afirmou que “[...] de
portugueses”753.
753
Ibidem, p. 174.
754
Idem.
755
“Não há registros diretos de como tais idéias foram recebidas pelos
membros do IGHB, uma vez que não há qualquer debate ou texto de
contraponto claramente voltado a rebater as suas afirmações. É possível que
esse „silêncio‟ indique uma certa indiferença dos sócios do Instituto frente às
idéias de Reis, o que o teria colocado em uma posição de isolamento ou, numa
situação extrema, até mesmo de descrédito. Se tais posições foram tomadas,
elas se deram não pelas idéias de Reis quanto à integração dos indígenas, no
que se aproximava do próprio presidente, mas por sua intolerável defesa dos
supostos atributos da raça negra, que os punha em pé de igualdade com
portugueses (brancos) e índios”. Ibidem, p. 175.
255
remodelação final, a raça forte que há de formar a hegemonia de
756
Ibidem, p. 174.
757
Idem.
758
Para Edison Carneiro, Rodrigues, influenciado por Lombroso, endeusou a
raça branca, “reduzindo o problema da cultura a uma questão de simples
pigmentação da pele e de medidas craniométricas”. Acrescentou: “Esta escola
reacionária – hoje desmascarada como uma simples justificação intellectual da
dominação dos aryanos sobre os povos de côr da Africa e da Asia – muito
atrapalhou o curso claro e certo dos raciocínios de Nina Rodrigues”. CARNEIRO,
256
outros759. Era professor de Medicina Legal da Faculdade da Bahia,
257
Mesmo indo de encontro à opinião predominante, não
763
CARNEIRO, Homenagem à Nina Rodrigues, p. 331.
764
Ibidem, p. 331.
765
Ibidem, p. 331-332.
766
RAMOS, Nina Rodrigues e os estudos afro-brasileiros, p. 338.
258
methodologicas que os pósteros haviam de
denunciar.767
por uma aureola de luta pela causa dos negros. No entanto, sabemos
767
Idem.
768
TUCCI CARNEIRO, op. cit., p. 89.
259
mesmo que no entendimento de Carneiro tenha sido um importante
por parte dos discípulos. Carneiro chegou a afirmar que seu mestre
769
CARNEIRO, Homenagem à Nina Rodrigues, p. 331.
770
RAMOS, Nina Rodrigues e os estudos afro-brasileiros, p. 338.
771
Idem.
772
CARNEIRO, Homenagem à Nina Rodrigues, p. 333.
260
Nina Rodrigues tinha “certeza do caráter negativo da
773
SCHWARCZ, Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil: uma história
das teorias raciais em finais do século XIX, p. 93.
774
Idem.
775
Idem.
261
de saber onde eles foram parar. Nada mais apropriado
para manter o gosto da vida nômade nesse
povo semibárbaro. Em segundo lugar, sua previdência
não vai muito longe; ele fica satisfeito assim que
encontra o estritamente necessário à vida cotidiana; o
desejo de riquezas, de bem estar, até do simplesmente
confortável – não o aguilhoa nem o estimula ao
trabalho. Entre os raros indivíduos que fazem exceção a
essa regra, o espírito empreendedor é pouco
progressista, sempre estreito e quase nulo.776
776
RODRIGUES, op. cit., p. 1152-1153.
777
Ibidem, p. 1153.
778
Idem. Ainda sobre a degenerescência Cf. COSTA, op. cit., p. 199.
779
SCHWARCZ, O complexo de Zé Carioca: sobre uma certa ordem da
mestiçagem e da malandragem, p. 4.
262
pela origem racial, desequilibrado pelo cruzamento e, como se não
biológico”781.
780
COSTA, op. cit., p. 200. Também afirmou Rodrigues que o “cruzamento de
raças tão diferentes antropologicamente, como são as raças branca, negra e
vermelha, resultou num produto desequilibrado e de frágil resistência física e
moral, não podendo se adaptar ao clima do Brasil nem às condições da luta
social das raças superiores”. RODRIGUES, op. cit., p. 1156.
781
COSTA, op. cit., p. 200
782
SCHWARCZ, O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil (1870-1930), p. 213.
263
- A mestiçagem deve ser até certo ponto encarada
psychologicamente como fator de degeneração. Entre
nós, é constituída de elementos de várias procedências
portadores de caracteres étnicos diversos e condições
especiaes que sob as influências mesológicas devem
trazer uma perturbação innevitavel na organização do
equilibrio inobstavel. A mestiçagem extremada aqui
encontrada... retarda ou difficulta a unificação dos
typos, ora perturbando traços essenciaes, ora fazendo
reviver nas populações caracteres atavicos de
individuos mergulhados na noite dos tempos. É preciso
mudar as raças... (GMB, 1923:256).783
783
Ibidem, p. 216.
784
RODRIGUES, op. cit., p. 1156-1157. Também Cf. COSTA, op. cit., p. 200.
785
CAPONE, Entre Yoruba et Bantou: L‟influence des stéréotypes raciaux dans
les études afro-américaines, p. 60.
264
criminalidade na população de cor”786, sendo ela uma das
786
RODRIGUES, op. cit., p. 1159.
787
Ao contrário do Rio de Janeiro que se atentou para a “doença”, na Bahia se
condicionou a olhar para o “doente”, sendo Rodrigues um dos principais
defensores desse paradigma médico-científico, pois a Medicina Legal
predominou na Bahia, onde o foco estava voltado para o criminoso enquanto
resultado da degenerescência racial. SCHWARCZ, Usos e abusos da
mestiçagem e da raça no Brasil: uma história das teorias raciais em finais do
século XIX, p. 92.
788
COSTA, op. cit., p. 186 e 190.
789
SILVA, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e estratégias de
consolidação constitucional (1894-1930), p. 169-170.
790
SCHWARCZ, O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil (1870-1930), p. 204-205.
265
Os médicos baianos adotaram o lema “Prevenir antes de curar”,
destinos da nação”793.
791
Ibidem, p.206.
792
Ibidem, p.207.
793
Idem.
266
sentido, acreditamos que traçar o itinerário dos debates anteriores a
794
Cf. GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Raça e os estudos de relações
raciais no Brasil. Novos Estudos, São Paulo, n. 54, p. 147-156; __________,
Antonio Sérgio Alfredo. Cor e raça: raça, cor e outros conceitos analíticos. In:
PINHO, Osmundo; SANSONE, Livio. (Orgs.). Raça: novas perspectivas
antropológicas. Salvador: EDUFBA, 2008, p. 63-82.
267
integrante do povo. Gilberto Freyre, Mario de Andrade, Arthur Ramos,
sociedade brasileira795.
795
GUIMARÃES, Cor e raça: raça, cor e outros conceitos analíticos, p. 72; Cf.
SANTOS; MAIO, op. cit., p. 87; REIS, op. cit., p. 64.
796
Ibidem, p. 74.
797
Idem.
268
A criação da Frente Negra Brasileira798, tanto na Bahia quanto
798
Cf. BACELAR, Jeferson. Frente Negra Brasileira na Bahia. Afro-Ásia,
Salvador, n. 17, p. 73-85, 1996.
799
REIS, op. cit., p. 75.
800
Ibidem, p. 75.
801
Ibidem, p. 76.
269
negros podiam atingir os mais altos cargos, só dependendo de sua
inteligência e virtude”802.
afro-brasileiros (1937)807.
802
Idem.
803
Foi presidente de honra do evento. ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison
Carneiro e o campo de estudos das relações raciais no Brasil, p. 159.
804
LIMA, Aruã Silva de. Comunismo contra o racismo: autodeterminação e
vieses de integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939).
2015. p. 198. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.
805
Esclarece Rossi, que o contato dos congressistas com povo de santo se deu
por influência de Ulysses Guimarães. ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison
Carneiro e o campo de estudos das relações raciais no Brasil, p. 160.
806
LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses de
integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 199.
807
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 157.
270
envolvidos com o congresso eram, em sua maioria, da Faculdade de
principais líderes809.
808
Segundo Rossi, “Ulysses Pernambucano se formou em medicina, em 1912,
no Rio de Janeiro, se especializando na área psiquiátrica quando trabalhou,
ainda na capital federal, no Hospital Nacional de Alienados, sob a supervisão de
Juliano Moreira, um ex-professor da Faculdade de Medicina da Bahia, discípulo
e contemporâneo de Nina Rodrigues. Retornando para Recife, em 1918,
assumiu a cadeira de psicologia do Ginásio Pernambucano, sendo mais tarde
indicado pelo governador do estado para a direção da Escola Normal Oficial do
Estado, ao mesmo tempo em que passou a lecionar na cadeira de psiquiatria na
Faculdade de Medicina de Recife, a partir de 1920”. Ibidem, p. 158.
809
Idem.
810
Ibidem, p. 157.
271
faculdades de medicina dos estados de Recife e Bahia. Tivemos a
811
Ibidem, p. 166-167.
812
Ibidem, p. 162 e 157.
813
Ele era “autor de duas análises marxistas sobre o tráfico de escravos e a
Abolição no Brasil, nas quais denunciava o fracasso da „liberdade legal‟ em
livrar os negros das posições subalternas na sociedade burguesa e de classes”.
Ibidem, p. 166; Cf. LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e
vieses de integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p.
198 e 2003.
272
folhetos”814. Reitera Lima que para Amado as coleções cumpririam a
supracitado818.
814
Ibidem, p. 201; Cf. ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Edison Carneiro e o
campo de estudos das relações raciais no Brasil, p. 165.
815
LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses de
integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 200-201.
816
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 167.
817
A Noite, Rio de Janeiro, p. 8, 26 de jan. 1937; PÉRES, Luis Nicolau. La
formation du candomblé: Histoire et rituel de vaudou au Brésil. Paris: Karthala;
Amsterdam: Sephis, 2011, p. 210; EPPEL, Adrian. Le Candomblé en Bahia -
Entre héritage religieux et phénomène social. Researchgate, [online], p. 9,
2008.
818
CARNEIRO, Edison; FERRAZ, Aydano do Couto. Congresso Afro-Brasileiro da
Bahia. In: O Negro no Brasil: trabalhos apresentados ao 2º Congresso Afro-
Brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940, p. 8.
273
Fotografia do II Congresso Afro-Brasileiro, em Salvador819.
819
A Noite, Rio de Janeiro, p. 8, 26 de jan. 1937.
820
Segundo Carmen Bernand, o “candomblé est le nom générique donné aux
cultes de possession d'origine africaine qui se sont développés au Brésil avec
l'arrivée de contingents importants d'esclaves africains. Issus de groupes
ethniques divers, leurs croyances se sont fondues dans le candomblé, qui n'est
donc pas tout à fait une survivance mais le résultat syncrétique de rites
africains, principalement Yorouba et Bantou, qui se sont développés à l'ombre
du catholicisme et de la magie ibérique”. BERNAND, Carmen. Du candomblé à
l'umbanda, cultes depossession au Brésil. Clio, Paris, p. 1, 2016. Além disso,
temos que considerar que o candomblé representou e representa um espaço de
resistência e preservação da religião e cultura afro-brasileira, como bem
observa Capone: “Le candomblé, aujourd‟hui synonyme de résistance culturelle
des Noirs, est né à cette époque de l‟interpénétration des cultures africaines,
européennes et amérindiennes, qui a permis aux esclaves africains et à leurs
descendants de préserver leurs traditions religieuses, tout en les adaptant aux
nouvelles contingences”. CAPONE, Le candomblé au Brésil, ou l‟Afrique
réinventée, p. 226. Mesmo que Adrian Eppel demonstre insegurança quanto a
definição de candomblé, acreditamos que mesmo assim vale a pena dar uma
olhada nas discussões conceituais e sobre o cenário histórico apresentados pelo
autor: Cf. EPPEL, op. cit., p. 4. Também Cf. PÉRES, op. cit.
821
A Noite, Rio de Janeiro, p. 8, 26 de jan. 1937; LIMA, Vivaldo da Costa. O
candomblé da Bahia na década de 1930. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18,
n. 52, p. 204, 2004; Cf. CARNEIRO; FERRAZ, op. cit., p. 9-10.
274
Arthur Ramos, Renato Mendonça, Jacques-Raymundo,
Dante de Laytano, Manuel Diegues Junior, Leopoldo
Bettiol, Edison Carneiro, Alfredo brandão, Dario de
Bittencourt, Aydano do Couto Ferraz, Robalinho
Cavalcanti, Reginaldo Guimarães, da prof. Amanda
Nascimento, do prof. Donald Pierson, da Universidade
de Chicago, de Jorge Amado, João Calazans, do Dr.
João Mendonça e de Clovis Amorim: dos scientistas
estrangeiros Melville Herskovits, da Northwestern
University, dos Estados Unidos, e Salvador Garcia
Aguero, de Cuba, e de elementos populares, como o
prof. Martiniano Bomfim, a mae-de-santo Escholastica
Nazareth, dos „terreiro‟ do Gontois, do pae-de-santo
Manoel da Formiga, do tocador de tabaque Silvino
Manoel da Silva, do pae-de-santo Bernardino, do Bate-
Folha, e da mãe-de-santo Eugenia Anna Santos, chefe
do Centro Cruz Santa do Aché Opô Afonjá, de São
Gonçalo do Retiro.822
822
A Noite, Rio de Janeiro, p. 8, 26 de jan. 1937.
823
CARNEIRO, Edison; BONFIM, Martiniano do; FERRAZ, Aydano do Couto;
MARQUES, Asevedo; GUIMARÃES, Reginaldo. Palavras inauguraes do
Congresso Afro-Brasileiro da Bahia. In: O Negro no Brasil: trabalhos
apresentados ao 2º Congresso Afro-Brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1940, p. 15.
824
Idem.
275
fizeram apresentações nos encontros do evento, Departamento de
Brasileiro”827.
825
CARNEIRO; FERRAZ, op. cit., p. 8-9.
826
FERRAZ, Aydano do Couto. 2º Congresso Afro-Brasileiro. O Jornal, Rio de
Janeiro, p. 2, 25 de out. 1936. O artigo 2º Congresso Afro-Brasileiro também
foi reproduzido pelo jornal Diário de Pernambuco, no dia 01 de nov. 1936.
827
LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses de
integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 198.
276
congressos. Não recebeu nenhum favor do governo. Não se associou
828
FREYRE, Gilberto apud Ibidem, p. 199-200.
829
Queremos esclarecer que tanto Rossi quanto Aruã Silva de Lima erraram o
nome do artigo ao citá-lo como “A situação do negro no Brasil”. Acreditamos
que o primeiro levou o segundo ao erro, considerando que Lima usa Rossi como
referência. Lançamos esta nota porque acreditamos que informações truncadas
ou falsas são extremamente prejudiciais à pesquisa. Novos pesquisadores que
consultarem estes autores podem cometer o mesmo erro.
277
incompreensões de raça combatida pelo congresso, garante que
830
Idem.
831
Idem.
278
autor, o evento deveria ser um espaço de aglutinação e diálogo entre
presença nos dias dos encontros. Nas cartas trocadas com Arthur
832
CARNEIRO, Edison. [Carta] 30 de nov. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 3f.
833
CARNEIRO, Edison. [Carta] 19 de jul. 1937, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 2f; CARNEIRO, Edison. [Telegrama] 09 de jan. 1937, Bahia
[para] RAMOS, Arthur, Rio de Janeiro. 1f.
834
Idem.
835
A Noite, Rio de Janeiro, p. 8, 26 de jan. 1937.
836
Idem.
279
evento de grande sucesso e repercussão na imprensa nacional.
candomblés”840.
foram feitas a Ramos com intuito de sondá-lo sobre a data que mais
837
CARNEIRO, Edison. [Carta] 27 de jan. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 2f.
838
CARNEIRO, Edison. [Carta] 23 de abr. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 1f.
839
CARNEIRO, Edison. [Carta] 11 de mai. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 1f.
840
CARNEIRO, Edison. [Carta] 30 de nov. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 3f.
841
CARNEIRO, Edison. [Carta] 27 de jan. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 2f; CARNEIRO, Edison. [Carta] 11 de mai. 1936, Bahia [para]
RAMOS, Arthur, Rio de Janeiro. 1f; CARNEIRO, Edison. [Carta] 23 de abr. 1936,
Bahia [para] RAMOS, Arthur, Rio de Janeiro. 1f.
280
Martiniano Eliseu do Bonfim, Asevedo Marques e Reginaldo
Brasileiro da Bahia”842.
842
CARNEIRO, Edison; BONFIM, Martiniano do; FERRAZ, Aydano do Couto;
MARQUES, Asevedo; GUIMARÃES, Reginaldo. Palavras inauguraes do
Congresso Afro-Brasileiro da Bahia. In: O Negro no Brasil: trabalhos
apresentados ao 2º Congresso Afro-Brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1940, p. 15.
843
CARNEIRO, Edison; FERRAZ, Aydano do Couto. Congresso Afro-Brasileiro da
Bahia. In: O Negro no Brasil: trabalhos apresentados ao 2º Congresso Afro-
Brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940, p. 7.
844
Idem.
281
Gilberto Freyre, mas não porque tivessem sido apressados, mas
porque
Gilberto Freyre:
845
FERRAZ, Aydano do Couto. Uma questão de escolas. Diário de Pernambuco,
Recife, p.2, 13 de dez. 1936.
846
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 169.
847
É interessante lembrar que era uma prática comum transcrever reportagem
de um periódico para outro.
848
Idem; Cf. LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses
de integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 200.
282
solicitados ao governo da Bahia, isso não significava que fariam um
do congresso:
entrevista que é assim como uma tentação para uma resposta cheia
849
CARNEIRO, Edison. [Carta] 30 de nov. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 3f.
850
CARNEIRO; FERRAZ, op. cit., p. 7-8.
283
de rispidez”851. Ainda neste artigo, Ferraz faz uma provocação ao
antropólogo no assunto.
851
FERRAZ, Uma questão de escolas, p. 2.
852
Idem.
853
MILLIET, Sérgio. História social do Brasil. Diário de Notícias, Rio de Janeiro,
p. 1, 07 de mai. 1939.
284
que Freyre “começa a combater a escola da Bahia, chefiada pelo não
sobre o cuidado para não oferecer armas com suas críticas para os
854
FERRAZ, Uma questão de escolas, p.2.
855
Também publicou nos anais do I Congresso Afro-Brasileiro.
856
Idem.
857
Idem.
285
científico. No entanto, rebateu afirmando que “esse lado de
Congresso”858.
congresso da Bahia. A nosso ver, parece que houve uma disputa não
858
Idem.
859
LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses de
integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 200.
286
na inserção desses sujeitos nas pautas de discussão e luta política do
PCB860.
860
Cf. ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos
das relações raciais no Brasil, p. 180.
861
LIMA, O candomblé da Bahia na década de 1930, p. 203-204; AMADO,
Jorge. Elogio de um mestre de seita. In: O Negro no Brasil: trabalhos
apresentados ao 2º Congresso Afro-Brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1940, p. 326; FERRAZ, 2º Congresso Afro-Brasileiro, p. 2.
862
A contribuição de Eppel não é muito significativa considerando que o
mapeamento bibliográfico que fez é insatisfatório para pensar o candomblé na
Bahia. Faltou explorar melhor um pouco da biografia do babalaô Martiniano,
considerando que se tratou de uma das figuras mais importantes dos terreiros
de candomblé baianos.
863
EPPEL, op. cit., p. 8.
287
décadas finais do século XIX864. Segundo Vivaldo da Costa Lima,
864
Idem; AMADO, Elogio de um mestre de seita, p. 328.
865
LIMA, O candomblé da Bahia na década de 1930, p. 204.
866
O Jornal, Rio de Janeiro, p. 1, 15 de jul. 1936.
288
qual narrou a história de seus pais escravos, os castigos físicos
sofridos pela mãe, além do congresso e das colaborações que fez aos
867
Martiniano, o velho babalaô da Bahia, fala a‟ nossa reportagem. O Jornal,
Rio de Janeiro, p. 1, 15 de jul. 1936. A entrevista de Martiniano do Bonfim
também foi republicada pelo Diário de Pernambuco, Recife, p. 1, 29 de jul.
1936; Diario de Noite, Rio de Janeiro, p. 2, 27 de ago. 1936. Temos algumas
evidências que mostram que essa entrevista demorou de ser publicada, pois
numa carta a Ramos, Carneiro afirmou que sairia uma entrevista do babalaô
em um jornal, mas não disse o nome do jornal. Fizemos um mapeamento para
ver se encontrávamos outras entrevistas, mas esta foi a única que encontramos
e que depois foi republicada em outros jornais. Isso indica que talvez, a
entrevista foi considerada tão inédita que acabou sendo aproveitada por outros
periódicos da época. Cf. CARNEIRO, Edison. [Carta] 02 de mai. 1936, Bahia
[para] RAMOS, Arthur, Rio de Janeiro. 3f.
868
Idem.
869
CARNEIRO, Edison. [Carta] 06 de jun. 1936, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 2f.
289
Ferraz reconheceu Bonfim como oráculo da raça, conhecedor da
sobre as realezas africanas870. Lembrou sobre uma das visitas que fez
a ele:
Congresso”873.
870
FERRAZ, 2º Congresso Afro-Brasileiro, p. 2.
871
Idem.
872
Martiniano, o velho babalaô da Bahia, fala a‟ nossa reportagem. O Jornal,
Rio de Janeiro, p. 1, 15 de jul. 1936.
873
Idem. O apoio dele ao congresso também foi anunciado por Ferraz. Cf.
FERRAZ, Uma questão de escolas, p. 2.
290
No dia 11 de janeiro de 1937, às 15h, o babalaô fez a abertura
negra no Brasil. Reiterou que sua “sinceridade, seu amor á sua raça,
brasileiro”877.
874
LIMA, O candomblé da Bahia na década de 1930, p. 204.
875
Ibidem, p. 203.
876
AMADO, Elogio de um mestre de seita, p. 327.
877
Ibidem, p. 326.
291
Raymundo, Edison Carneiro e Raul Bopp por retratarem em suas
878
Ibidem, p. 325.
879
Ibidem, p. 326.
880
Ibidem, p. 326
292
A desconstrução do imaginário sobre os negros e mestiços
Sérgio Alfredo Guimarães, “o que ele quer dizer com isso é que se
881
GUIMARÃES, Cor e raça: raça, cor e outros conceitos analíticos, p. 73; Cf.
LIMA, O candomblé da Bahia na década de 1930, p. 205.
882
GUIMARÃES, Cor e raça: raça, cor e outros conceitos analíticos, p. 73.
883
PIERSON, Donald. A raça e a classe na Bahia. In: O Negro no Brasil:
trabalhos apresentados ao 2º Congresso Afro-Brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1940, p. 163.
293
momento, todos os negros dispusessem de condições mais ou menos
294
“habilidades nativas” ou “adquiridas”, sugeridas pelo autor, que os
algo que nesse momento parece ser muito oportuno para refletirmos
sobre a questão:
887
FERRAZ, 2º Congresso Afro-Brasileiro, p. 2.
888
CUNHA, op. cit., p. 280-281.
295
Seguindo um caminho um pouco diferente de Pierson, Carneiro
classe proletária891. Mesmo que Aruã Silva de Lima não tenha certeza
889
CARNEIRO, Edison. Religiões negras: notas de etnografia religiosa. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1981, p. 21.
890
Ibidem, p. 21-22.
891
LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses de
integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 209.
892
Idem.
296
Os debates em torno da ideia de raça e sua relação com o
893
Ibidem, p. 222.
894
Ibidem, p. 223.
297
debaterem a inserção do negro no proletariado, como seus problemas
sociais e econômicos895.
marcantes de modo que “em algumas cidades como Rio, São Paulo,
africanos”897.
895
Ibidem, p. 225.
896
Ibidem. p. 219.
897
BASBAUM, Leôncio. História sincera da República – de 1889 a 1930. São
Paulo: Editora Alfa-Omega, 1976, p. 181.
898
CARNEIRO, Religiões negras: notas de etnografia religiosa, p. 22-23.
298
para cometer crimes em nome do ideário de civilização899, o
população negra900.
próprias”902.
alimentação”903.
899
Ibidem, p. 24.
900
Ibidem, p. 22.
901
CARNEIRO, Edison. Situação do negro no Brasil. In: Estudos Afro-
Brasileiros. Rio de Janeiro: Ariel, Editora LTDA, 1935, p. 237.
902
BASBAUM, op. cit., p. 179.
903
Idem.
299
Outro problema que os afrodescendentes enfrentaram fora o
904
LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses de
integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 219.
905
CARNEIRO, Situação do negro no Brasil, p. 238.
300
onde “não havia preconceitos raciais e onde encontrava aspirações
comuns”906.
“negro deixou de ser escravo. E não ganhou nada com isso”, pois
negros eliminados dos serviços mais leves e que exigem esse mínimo
906
BASBAUM, op. cit., p. 181.
907
CARNEIRO, Religiões negras: notas de etnografia religiosa, p. 25.
908
BASBAUM, op. cit., p. 180-181.
909
Ibidem, p. 180.
301
sofrimento dos explorados como posto no poema Adeus, meu
sociais no Brasil911.
910
FERRAZ, Aydano do Couto. Castro Alves e a poesia negra da América. In: O
Negro no Brasil: trabalhos apresentados ao 2º Congresso Afro-Brasileiro
(Bahia). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940, p. 225-226.
911
Ibidem, p. 229.
912
Ibidem, p. 227.
913
Ibidem, p. 227-228.
302
aqueles novos proletários a despertar a “consciencia ideológica da
dizendo que:
914
BASBAUM, op. cit., p. 182.
915
CARNEIRO, Situação do negro no Brasil, p. 238.
916
BASBAUM, op. cit., p. 182.
917
Ibidem, p. 181.
303
Obviamente, que sua leitura está viciada pela concepção do “ser
outros comunistas. Não foi à toa que Brandão assumiu seu mea
918
CARNEIRO, Situação do negro no Brasil, p. 240.
304
reconhece ás raças opprimidas até mesmo o direito de se
fronteira”922.
919
Ibidem, p. 241.
920
Idem.
921
ROSSI, O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das
relações raciais no Brasil, p. 171-173.
922
Ibidem, p. 171.
305
intelectuais comunistas que debateram a questão racial atrelada à
923
LIMA, Comunismo contra o racismo: autodeterminação e vieses de
integração de classe no Brasil e nos Estados Unidos (1919-1939), p. 200.
924
CARNEIRO, Situação do negro no Brasil, p. 239.
925
REIS, op. cit., p. 108-115.
306
católica e intolerante, por isso não eram aceitos pelos civilizados926. A
de construção da agremiação.
926
Ibidem, p. 117-119.
927
Ibidem, p. 120-121.
928
CARNEIRO, Edison. [Carta] 22 de set. 1937, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 1f; CARNEIRO, Edison. [Carta] 19 de jul. 1937, Bahia [para]
RAMOS, Arthur, Rio de Janeiro. 1f; CARNEIRO, Edison. [Carta] 27 de set. 1937,
Bahia [para] RAMOS, Arthur, Rio de Janeiro. 1f
929
CARNEIRO, Edison. [Carta] 22 de set. 1937, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 1f. O jornal Diário do Brasil cometeu um equívoco ao afirmar
que houve a posse da União no dia 28 de setembro de 1937. Não bate com a
data sugerida por Carneiro nas cartas que consultamos. Cf. Jornal do Brasil, Rio
de Janeiro, p. 15, 29 de set. 1937.
307
As cartas trocadas entre Carneiro e Ramos são significativas
da União:
de posse.
308
mandar um memorial para o governador pedindo liberdade religiosa e
liberdade religiosa.
931
CARNEIRO, Edison. [Carta] 19 de jul. 1937, Bahia [para] RAMOS, Arthur,
Rio de Janeiro. 1-2f.
309
Festa religiosa no Recôncavo da Bahia.932
932
FERRAZ, Aydano do Couto. Festas e superstições das aguas na Bahia de
Todos os Santos. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, p. 35, 02 de jul. 1938.
933
Idem.
310
arco, com a gente mais importante da localidade.
Saltam em procissão, chegada à igreja onde vae ficar
exposto o andor, e á tarde o samba e a corrida de
canòas e de saveiros, o passeio a pé da Philarmonica, o
leilão de fructas da terra culminam nos festejos. São
assim quantas festas no costeiro da Bahia?934
934
Idem.
935
Segundo Ferraz, “As festas das aguas na Bahia têm uma historia maior do
que parece. Spix e Martius, assistiram no sul da Bahia, uma festa complexa,
com batalhas simuladas e santos catholicos, alguma coisa parecida com a
chegança, typica desta das aguas”. Ele continua falando do encanto que as
festas causavam nos estrangeiros, e fala do turista francês, e alega que a não
separação de classe nas festas gerou ainda mais fascínio no turista do século
XVIII. Idem.
936
Ibidem, p. 37-38.
311
A popularização da prática do candomblé não se restringe
muito grande”938.
937
CARNEIRO, Religiões negras: notas de etnografia religiosa, p. 49.
938
REIS, op. cit.
939
“O orixá africano Xampanã teve de se dividir em Omolu e Obaluaê, que hoje
correspondem aos Santos católicos São Lázaro e São Roque, santos da saúde.
Muito raro, quase impossível vê-lo ainda como Xampanã, isto é, fora destas
duas formas. As suas cores são o preto e o vermelho, o seu fetiche uma
vassoura pequena com búzios. Ele se alimenta da carne de galo e de bode e de
milho com azeite-de-dendê. Ao descer nos candomblés, Omolu traz apenas um
pano branco sobre os seios da filha-de-santo”. CARNEIRO, Edison. Negros
Bantos: notas de etnografia religiosa e de folclore. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira; Brasília: INL, 1981, p. 172.
312
pele”940. Segundo o autor, o fato de cogitar ir ao hospital gerava
doentes...”941.
940
Ibidem, p. 169-170.
941
Ibidem, p. 171.
313
CONSIDERAÇÕES FINAIS
314
escritores mencionados. Esses intelectuais compunham um grupo que
315
conseguiram maior espaço, tendo em vista que Carneiro e Ferraz
movimentos políticos.
316
tanto no combate ao racismo quanto repressão às “casas de axé”. Daí
317
REFERÊNCIAS
Fontes
318
1. 2 – Artigos de outros intelectuais em jornais
D‟ALMEIDA, Victor. Um cultor do gênero satyrico. Gazeta de Notícias,
Rio de Janeiro, p.15, 16 de jan. 1938.
MILLIET, Sérgio. História social do Brasil. Diário de Notícias, Rio de
Janeiro, p.1, 07 de mai. 1939.
2. 1 – Correspondências
319
__________, Edison. [Carta] 30 de nov. 1936, Bahia [para] RAMOS,
Arthur, Rio de Janeiro. 4 fls. Carta a Arthur Ramos agradecendo o
apoio dado à publicação do seu livro "Religiões Negras", e indagando
sobre os direitos autorais de "Novos Estudos Afro-Brasileiros”.
320
fotos e acréscimos ao livro "Religiões Negras" e confirma a realização
do II Congresso Afro-Brasileiro na Bahia.
321
__________, Edison. [Carta] 16 de jun. 1936, Bahia [para] RAMOS,
Arthur, Rio de Janeiro. 1 fl. Carta a Arthur Ramos remetendo o
primeiro número da revista "Flamma" e solicita colaboração para a
mesma.
322
AMADO, Jorge. O país do carnaval. Rio de Janeiro: Record, 1980.
______, Jorge. Cacau. Rio de Janeiro: Record, 1981.
______, Jorge. Suor. Rio de Janeiro: Record, 1981.
______, Jorge. Jubiabá. Rio de Janeiro: Record, 1981.
______, Jorge. Mar morto. Rio de Janeiro: Record, 1980.
______, Jorge. Capitães de areia. Rio de Janeiro: Record, 1980.
______, Jorge. (Orgs.). Jorge Amado: 30 anos de literatura. São
Paulo: Livraria Marins Editoria, 1961.
CARNEIRO, Edison. Religiões negras: notas de etnografia religiosa.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
__________, Edison. Negros Bantos: notas de etnografia religiosa e
de folclore. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
__________, Edison; FERRAZ, Aydano do Couto. (Orgs.). O Negro no
Brasil: trabalhos apresentados ao 2º Congresso Afro-Brasileiro
(Bahia). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940.
323
ALBERTI, Verena; PEREIRA, Amilcar Araújo. Movimento negro e
"democracia racial" no Brasil: entrevistas com lideranças do
movimento negro. Rio de Janeiro: CPDOC, 2005.
324
BARICKMAN, B. Um contraponto baiano: açúcar fumo, mandioca e
escravidão no Recôncavo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
325
_______, Carolina Fernandes. História e memória da trajetória
político-intelectual de Jorge Amado. 2016. 408 fls. Tese (Doutorado
em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da
Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2016.
326
__________, L. C. Dimensões da Memória na Prática Historiográfica.
In: Ana Maria Carvalho dos S. Oliveira; Isabel Cristina Ferreira Reis.
(Org.). Historia Regional e Local: discussões e práticas. Salvador:
Quarteto, 2010, v. 1, p. 153-173.
328
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das ex-trabalhadoras da atividade fumageira em Conceição do
Almeida-BA (1960-1980). 2010. 158 fls. Dissertação (Mestrado em
História) - Universidade Estadual da Bahia. Santo Antônio de Jesus,
2010.
331
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suas personagens. In: Flavio Gonçalves dos Santos; Inara de Oliveira
Rodrigues; Laila Brichta (Org.). 100 anos de Jorge Amado. História,
literatura e cultura. 1ed. Ilhéus: EDITUS - Editora da UESC, v.,
p.137-158, 2013.
332
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Jorge Amado: 30 anos de literatura. São Paulo: Livraria Marins
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Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p.13-36.
333
ROZIN Philippe. Etude thématique sur l'anthropologie critique de Karl
Von Clausewitz: L'analyse de la guerre peut-elledéfinir une
anthropologie ?. Le philosophoire, France, n° 9bis, p. 201-212, 2006.
334
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