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Jorge de Sousa Braga

A
AS ÁRVORES E OS LIVROS

As árvores como os livros têm folhas

e margens lisas ou recortadas,

e capas (isto é copas) e capítulos

de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,

as mais fantásticas aventuras,

que se podem ler nas suas páginas,

no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,

e até há florestas especializadas,

com faias, bétulas e um letreiro

a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar

no teu quarto, plátanos ou azinheiras.

Para começar a construir uma biblioteca,

basta um vaso de sardinheiras.

.
Jorge Sousa Braga

A minha linguagem muitas vezes

confunde-se com o vento

Ambos estamos metidos até ao pescoço

no comércio de pólen.

Jorge de Sousa Braga

A borboleta que poisou

no teu mamilo

perdeu a vontade

de voar.

Jorge de Sousa Braga

B
C

G
GERÊS.

Quando me levantei

já as minhas sandálias andavam

a passear lá fora na relva

Esta noite

até os atacadores dos sapatos

floriram

Jorge de Sousa Braga

H
I

MAGNÓLIAS

Esqueceram-se das folhas

tão grande era a pressa

de florirem

Jorge de Sousa Braga

Mais de uma vez

atravessei a primavera

de olhos fechados.

Jorge de Sousa braga


Montanhas

1.

Quando uma montanha se apaixona

tudo pode acontecer..

começar aos saltos ou então

ficar ali deitada a olhar as nuvens.

Convêm por isso não a escalar nesses dias

e sobretudo não beber da água

das suas nascentes.

As montanhas apaixonam-se com frequência.

Vestem-se de branco.

De verde ou azul.

Por vezes abrem as pálpebras.

E a lava da sua paixão

corre-lhes pelas faldas.

Jorge de Sousa Braga

N
Não sei de ti sombras mais belas que

as dos teus membros pensativos quando

nessa penumbra de memórias feita

adormentadamente sobre ti repousam.

Que uma palavra no teu seio vibre

como um estalido seco de mobília

por dentro do calor do vago quarto,

quebrou-se o encantamento, e não regressas,

já a tua ausência agora sobe mansa,

e, murmurante alastra humedecendo

a seca praia dela a se embeber,

enquanto fugacíssimos luzeiros

ansiosos riscam o dissolver da sombra.

Jorge De Sousa Braga

Não conheço

Outra linguagem

que não seja

a do orvalho

Jorge de Sousa Braga


Nem todos os frutos vermelhos

merecem o céu

da tua boca.

Jorge de sousa Braga

NENÚFARES

Um nenúfar flutua

na mesma água

que a lua

Jorge de Sousa Braga

Na sombra, que dizes?

Brilham teus olhos tristes

úmidos de amor que procuras.

A boca entreaberta como a carne


que, fresca, estremece e aquece nos meus dedos.

Não digas nada, beija

o beijo que em meus lábios

te curva a cabeça sobre o ombro

como a cintura nos meus braços quebra.

Se me pertences, beija;

se não pertences mais que agora,

beija.

Na sombra, que dizes?

Jorge de Sousa Braga

O girassol que se venera aqui é um girassol solitário,


hirto no seu caule,
com folhas verdes desajeitadas
e uma enorme corola doirada.
Porquê o girassol e não os girassóis?
Porquê o girassol e não uma outra flor qualquer?
Só quem já vestiu a pele de um girassol,
quem se entregou como um girassol
pode entender a razão desta escolha.
A religião do girassol não é uma religião.
É uma obsessão com uma enorme corola doirada.
A religião do girassol não é uma antologia.
É um manifesto.
Escrito a várias mãos,
por quem acredita que aquilo de que o mundo precisa
é de grandes cópulas doiradas.
.
Jorge de Sousa Braga
Os dentes de leão

adoram trincar

minúsculos grãos de pólen.

Jorge de Sousa Braga

o Último girassol

Hoje vomitei um líquido esverdeado

eram as primeiras folhas

estou prestes a florir.

Jorge de Sousa Braga

R
S
so tu

sabes

sorrir

na vertical

Jorge de Sousa Braga

.Viveu em tempos um pintor que nunca conseguia acabar de pintar uma

ave, fosse ela uma cegonha ou uma garça. Quando se preparava para dar

a última pincelada, ela levantava vôo.

E o pintor ficava muito tempo ainda a persegui-la com o pincel no céu

azul...

Jorge de Sousa Braga

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