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António Ramos Rosa

A palavra é uma estátua submersa, um leopardo

[03:16:36] <@scottie> que estremece em escuros bosques, uma anémona

[03:16:38] <@scottie> sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela

[03:16:40] <@scottie> que projecta a sua sombra sobre um torso.

[03:16:42] <@scottie> Ei-la sem destino no clamor da noite,

[03:16:44] <@scottie> cega e nua, mas vibrante de desejo

[03:16:46] <@scottie> como uma magnólia molhada. Rápida é a boca

[03:16:48] <@scottie> que apenas aflora os raios de uma outra luz.

[03:16:50] <@scottie> Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes

[03:16:52] <@scottie> e vejo uma água límpida numa concha marinha.

[03:16:54] <@scottie> É sempre um corpo amante e fugídio

[03:16:57] <@scottie> que canta num mar musical o sangue das vogais.

[03:16:58] <@scottie> .

[03:16:58] <@scottie> .

[03:17:00] <@scottie> .

[03:17:01] <@scottie> António Ramos Rosa

Poemas

Na grande confusão

deste medo

deste não querer saber

na falta de coragem

ou na coragem de
me perder me afundar

perto de ti tão longe

tão nu

tão evidente

tão pobre como tu

oh diz-me quem sou eu

Quem és tu?

António Ramos Rosa

A sabedoria não está em encontrar um tesouro

nem em ocultá-lo mas em saber que não há nenhum tesouro

e proceder como se ele existisse

Assim o problema de saber se existe um tesouro ou não

deixou de ser um problema

e passou a ser a discreta atenção

ao que ser sem actua como se fosse

na sua inércia pura

já a imaginação não pode imaginar

e a vontade se inverte em tranquilo abandono

Nenhuma rosa pode nascer do vazio

mas sem ver poder-se-á sentir

não a presença nem a ausência


mas o movimento interior entre uma e outra.

Antonio Ramos Rosa

È este o rumo para a imobilidade pura

dessa coluna entra a palavra e o silêncio

como um ovo do ouvido e da boca

como o gesto da mão que tranquilamente depõe o delicado

instrumento sobre a mesa

e estende a sua palma sobre o poema que se apaga

Antonio Ramos Rosa

Não alteres nada

Não comeces

Ouve o murmúrio do ovo

no lodo negro

A boca não quer palavras

apenas que ser o ò

da coincidência

do círculo do universo

Os músculos

querem a ondulação de um barco

entre arvores
e os olhos querem seguir as nuvens

no seu voluptoso adágio

Quando adormeceres

terás entrado na matéria redondo

como se entrasses no ouvido da terra

e então poderás ser tão lento e fluido como um peixe

e ultrapassarás a violência da cal.

Antonio Ramos Rosa

Para um amigo tenho sempre um relógio

esquecido em qualquer fundo de algibeira.

Mas esse relógio não marca o tempo inútil.

São restos de tabaco e de ternura rápida.

É um arco íris de sombra, quente e trémulo.

É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

Antonio Ramos Rosa

Não posso adiar o amor para outro século

não posso.

Ainda que o grito me sufoque na garganta

ainda que o ódio estale e crepite e arda


sob as montanhas cinzentas

e montanhas cinzentas.

Não posso adiar este abraço

que é uma arma de dois gumes

Não posso adiar

ainda que a noite pese séculos sobre as costas

e a aurora indecisa demore

não posso adiar para outro século a minha vida

nem o meu amor

nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa

Poemas

Na grande confusão
deste medo
deste não querer saber
na falta de coragem
ou na coragem de
me perder me afundar
perto de ti tão longe
tão nu
tão evidente
tão pobre como tu
oh diz-me quem sou eu
quem és tu?
-
António Ramos Rosa

Tal como antigamente

Tal como antigamente tal como agora


essa estrela esse muro
esse lento
esse morto
sorrir
nenhum acaso
nenhuma porta
impossível sair
-

António Ramos Rosa

No Fundo Aberto

Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge


e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso
como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha.
Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho,
sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores.
Estamos na aurícola do coração do mundo.
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra.
Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar
e é a felicidade da língua vegetal
ou a cabeça leve que se inclina para o oriente.
Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue
e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante
enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios.
-

António Ramos Rosa

Uma Voz na Pedra


Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
-

António Ramos Rosa

Para além dos signos


.

Escrever agora é dispersar os reflexos,

abrir as portas de pedra e repousar no ar.

Ajoelhado junto de um barco ou de uma jarra,

um deus respira e é um puro vazio.

Para além dos signos e no início deles

um sorriso, um fulgor das coisas confiantes.

E nos muros e nos dedos, uma areia

que das nuvens descesse e na distância

a forma de uma braço amante, o sonho do outro.

António Ramos Rosa

O ponto de partida
.
Será este o ponto de partida, obscuridade incerta

e sobre o fundo sombrio da morte? A esperança

nascerá deste branco vazio e desta mão de cinza?

O viajante entrou num barcou ou numa árvore

que o soergue, ainda hesitante, na imensidade

de uma sombra de astro. Ele aproxima-se

de formas vagas, de espelhos entre pedras,

e junto a um muro sob as estrelas

uma figura de orvalho descalça sobre as ervas.

Tudo flutua ainda, dentro da poeira azul

e púrpura e tudo está esparso e reunido

como na primeira consciência deste mundo

tão longínquo e tão presente como se o sol fosse um perfume

que da montanha descesse sobre as palavras ditas.

António Ramos Rosa

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