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1. PODER DE POLÍCIA
Abordar-se-á a partir de agora o poder de polícia, função atualmente relevante para fins de
isto é, em como as pessoas irão se relacionar sem que haja a delimitação do espaço de liberdade
de cada um.
No passado, o poder de polícia era um instituto associado à forma como o Estado impunha
Atualmente, adotando-se uma visão mais moderna e vanguardista, tem-se a ideia de que não é
apenas o Estado que deve desempenhar o papel de delimitar a liberdade dos indivíduos e o modo
autorregulação, as quais resultam de uma demarcação feita pelos próprios destinatários das
regras.
Observa-se, por exemplo, o caso da IATA (International Air Transport Association; em livre
Futebol), da Bolsa de Valores, em que se tem instituições privadas que criam regras voltadas para
C ite-se, a título ilustrativo, a criação, pela IATA, de regras sobre transporte de substâncias
submeter a uma regra criada por uma entidade privada, integrada pelas companhias aéreas.
qual se vale o Estado para fazer prevalecer sua vontade, aproximando o instituto da ideia de que,
por meio dele, haverá uma delimitação mais legítima e mais democrática dos espaços de
estatal capaz de delimitar a liberdade e a propriedade. P or exemplo, uma lei ordinária, uma lei
complementar ou previsão constitucional que disponham sobre o modo como o particular pode
exercer sua liberdade ou propriedade são demonstrações de poder de polícia em sentido amplo.
passo que o termo “poder de polícia em sentido estrito” é substituído por “polícia administrativa”.
propriedade do indivíduo. Dita intervenção é realizada com fundamento em lei, até porque o
estado não pode impor obrigação sem qualquer fundamento legal de validade.
Não há problema se o fundamento tiver caráter genérico, a exemplo do que ocorre com as
resoluções) encontra fundamento genérico de validade na própria lei criadora de tais agências.
Em suma, o poder de polícia em sentido estrito (ou polícia administrativa) refere-se a uma
intervenção mais específica da Administração P ública e que, embora não represente inovação,
detalha uma previsão legal, extraindo seu fundamento de validade de um instrumento introdutor
polícia judiciária. São institutos completamente distintos e que, a rigor, dispensam tal
Enquanto a polícia administrativa diz respeito à função estatal que delimita a liberdade
e a propriedade dos indivíduos, a polícia judiciária representa uma função estatal de longa
Eis, portanto, um primeiro traço distintivo entre as polícias administrativa e judiciária: esta
(polícia administrativa) está difundida por toda a Administração P ública. Dessa forma, enquanto a
função de polícia administrativa não se concentra em um único órgão, a função de polícia judiciária
é exercida pelas P olícias C ivil ou Federal, as quais, como dito, atuam como longa manus do P oder
Judiciário.
polícia administrativa?
que não. C ontudo, deve-se ter em mente que os órgãos de segurança pública, além de
desempenhar função de polícia judiciária, também exercem função de polícia administrativa. Não
Outra famosa diferença entre polícia administrativa e judiciária diz respeito ao momento
seu turno, a polícia judiciária, enquanto manifestação da vontade estatal, é realizada, via de regra,
em caráter repressivo, ou seja, com a finalidade de reprimir um ilícito penal que já se verificou.
judiciária apresentar caráter repressivo, nada impede que esse cenário se inverta.
• Discricionariedade;
• Autoexecutoriedade; e
• C oercibilidade.
as escolhas do administrador são feitas com base numa margem de conveniência e oportunidade.
P or outro lado, não há impeditivos a que o poder de polícia seja desempenhado de forma
vinculada. A esse respeito, uma lei pode vir a estipular requisitos específicos para exercício do
1.3.2. A UTOEXECUTORIEDA DE
chamada por muitos de executoriedade, é a aptidão que o poder de polícia tem de produzir efeitos
mercadoria, destruir uma mercadoria estragada, demolir um prédio construído em local irregular
Oportuno realçar que nem todas as manifestações do poder de polícia são dotadas de
razão da prática de uma infração – não é dotada de autoexecutoriedade. Tanto é que, havendo o
inadimplemento, caberá à Administração P ública ajuizar uma execução fiscal (aplicável também
legal. Mencione-se, a título ilustrativo, que os agentes de combate a endemias são autorizados,
por força de lei, a ingressar nas residências das pessoas para aplicar os remédios necessários ao
combate aos mosquitos transmissores de doenças, ainda que o particular recuse ou não esteja
presente no local.
Outrossim, ainda que a lei silencie a respeito da autoexecutoriedade, tal atributo poderá
advir de uma situação emergencial, vale dizer, se houver uma urgência que justifique a produção
Judiciário. P or exemplo, se não for derrubada uma casa construída em local irregular, e caso
sobrevenham fortes chuvas, muitos poderão morrer em razão do risco de provável desabamento.
Assim, no exercício do poder de polícia, executa-se a imediata demolição do imóvel, ainda que não
1.3.3. COERCIBILIDA DE
C oercibilidade é a aptidão que o poder de polícia possui de criar uma obrigação unilateral a
ser adimplida pelo destinatário do poder de polícia. P erceba que o P oder P úblico estabelece para o
particular a obrigação de parar no sinal vermelho, sem indagar sobre eventual concordância por
parte do destinatário.
noção de imperatividade.
Repita-se que se está diante de um atributo que comporta exceção. P ara fins de concurso,
remarcar que nem todas as manifestações do poder de polícia são dotadas de coercibilidade. A
autorização e a licença, por exemplo, são atos de consentimento de polícia que não apresentam a
característica da coercibilidade; elas são exemplo de atos negociais editados após o requerimento
de um particular. Não há como conceber que o P oder P úblico dirija-se até o particular para obrigá-
lo a aceitar uma licença não solicitada, mas expedida para fins de exploração de algum recurso.
à prática de atividades e retratam etapas do poder de polícia que necessitam de requerimento dos
Relativamente ao poder polícia, existe uma lei federal bastante cobrada em provas, em
especial porque não há grande acervo de normas disciplinando o tema de forma genérica. Assim,
C umpre, portanto, atentar para alguns dispositivos da lei em referência, sobretudo para o
Art. 1º. Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal,
direta e indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à
legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.
§ 1º. Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três
anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício
ou mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso.
§ 2º. Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir
crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
O enunciado supra transcrito traz solução diferente daquela proposta em sede de poder
que a autoridade competente tomou ciência da infração cometida [1]. Já no poder de polícia, o
que se tem é uma prescrição contada a partir da data ato. Em se tratando de infração
permanente ou continuada (por exemplo, o sujeito parou o carro em local proibido e lá deixou o
veículo), a prescrição é contada a partir da data que cessar o ilícito. Essas são informações
Nota do monitor:
processo permanecer parado por 03 (três) anos, incidirá a prescrição intercorrente, a qual poderá
esfera do poder disciplinar [2]: se a infração administrativa também for capitulada como crime, o
prazo prescricional será regido pelo C ódigo P enal, com a advertência de que, no âmbito criminal, a
Notas do monitor:
[3] C ódigo P enal: “Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,
salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste C ódigo, regula-se pelo máximo da pena privativa
de liberdade cominada ao crime, verificando-se: [...]” (grifos acrescidos).
crédito não-tributário decorrente de multa imposta em razão do poder de polícia. Já o artigo 1º-A
da mesma lei debruça-se sobre o prazo prescricional para execução desse crédito não-tributário.
C onfira-se:
P ortanto, a Administração tem 05 (cinco) anos, contados da data do fato, para constituir o
9.873/1999.
O último dispositivo da Lei 9.873/1999 a ser enfatizado é o artigo 5º, que dispõe:
Art. 5º. O disposto nesta Lei não se aplica às infrações de natureza funcional e aos
processos e procedimentos de natureza tributária.
Os processos de natureza tributária são regidos pelo C TN (C ódigo Tributário Nacional), não
tais transgressões decorrem do poder disciplinar, isto é, advêm de um estado de sujeição especial.
A matéria tem previsão específica na lei do servidor (na seara federal, o tema é disciplinado na Lei
nº 8.112/1990).
No caso do poder de polícia, está-se diante de uma supremacia geral, inexistindo o aludido
estado de sujeição especial, pois, nesse campo, os comandos emitidos atingem a todos que se
regime jurídico específico. À vista de tais razões, infere-se não ser possível aplicar as disposições
que não faz parte da administração. Já o poder disciplinar alcança apenas aqueles que se sujeitam
Infere-se, assim, que o poder de polícia pode ser originário ou delegado. Diz-se delegado quando é
poder de polícia poderiam ser delegadas a particulares, pois diriam respeito a atos de gestão e não
de império.
Essa tese acabou virando uma espécie de “mantra”, repetido por muitos que acreditavam
No referido artigo, foi citado, ainda, o exemplo dos conselhos de fiscalização profissional, os
quais, na época da publicação do texto, eram considerados como particulares pelo artigo 58 da Lei
nº 9.649/1998.
O grande problema foi que, ao decidir a famosa ADI nº 1.717 [4], o STF assentou que a
previsão contida nos parágrafos do artigo 58 da Lei 9.649/1998 (no sentido de que os conselhos de
em que exercem poder de polícia, os citados conselhos não poderiam ser considerados pessoas
privadas. P ortanto, o posicionamento do STF nessa ADI é lembrado como a tese de que
particulares não podem exercer poder de polícia. Tal conclusão vem sendo questionada atualmente
revisitada, mas, de toda sorte, ainda prevalece o entendimento fixado naquele precedente.
Nota do monitor:
Nessa ordem de ideias, pode-se questionar a situação das empresas públicas e sociedades
de economia mista.
Não se ignora que autarquias e fundações públicas certamente podem exercer o poder de
polícia mediante delegação. Todavia, as empresas públicas e sociedades de economia mista, como
se sabe, são orientadas por um regime híbrido, predominantemente privado, mas que sofre
profunda influência do Direito P úblico. A questão será apreciada pelo STF no Tema nº 532 da
Fux. Trata-se de um caso envolvendo a BHTrans, uma estatal que aplica multas de trânsito.
de economia mista), com empregados celetistas, poder exercer, via delegação, o poder de polícia.
P or certo, a controvérsia será examinada pelo STF nessa repercussão geral (que ainda não
foi julgada). Na opinião do P rofessor Valter Shuenquener, para fins de desenvolvimento numa
eventual prova discursiva, é interessante considerar que, se a estatal não concorre com
do Brasil exercia o poder de polícia em sua correspondente área de atuação, a despeito de ser
Noutro vértice, se está em debate uma estatal que concorre com particulares, a exemplo
da P etrobras, Banco do Brasil e C aixa Econômica Federal, não se afigura possível o exercício do
Em síntese, não se pode conferir tamanho poder a quem concorre com particulares, a não
ser que todos os particulares resolvam criar uma regra a respeito do funcionamento da entidade
nessa situação, o que, aliás, traduz-se como autorregulação. O que é inadmissível é criar uma
estatal que concorre com particulares, dando-lhe a prerrogativa de elaborar “as regras do jogo”,
Essa é a discussão que precisa ser travada no recurso extraordinário acima mencionado,
com atenção para o posicionamento a ser adotado pelo Supremo Tribunal Federal, que tem se
refere às estatais que prestam serviços públicos, não há uma definição muito clara quanto à
em torno do poder de polícia. Além das explicações consignadas em aula, recomenda-se digitar os
termos “poder de polícia” “STJ” e “informativos”, haja vista que as provas de concurso costumam
exigir o conhecimento sobre casos recentes decididos pelo Superior Tribunal de Justiça em relação
Aliás, esse acompanhamento não deve se limitar ao dia em que o tema será estudado,
mas deve ocorrer de maneira progressiva. Fala-se do STJ e não do STF porque a temática é mais