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O IMAGINÁRIO MODERNIZADOR PRESENTE NA PRIMEIRA FASE DO JORNAL

GAZETA DO SERTÃO: OS SOCORROS PÚBLICOS (1889)

INTRODUÇÃO

A temática acerca do ideal modernizador no interior da Paraíba já foi


trabalhada em algumas recentes produções acadêmicas, como a dissertação de
Bruno Rafael Albuquerque Gaudêncio, intitulada “Da academia ao bar: Círculos
intelectuais, cultura impressa e repercussões do modernismo em Campina Grande-
PB (1913-1959)” (2012) e a tese de Gervácio Batista Aranha, nomeada: “Trem,
modernidade e imaginário na Paraíba e região: tramas político-econômicas e
práticas culturais (1880-1925)” (2001).

Todavia, por mais que trabalhos como esses abordem a temática do


imaginário modernizador vivenciado em espaços interioranos da Paraíba e
propagado em demasia pelos jornais locais, eles acabam por não abarcar algumas
questões pertinentes, com toda a expectativa que se gestou, por quase duas
décadas, no interior das elites políticas e econômicas de cidades como Campina
Grande, que viam com maus olhos e protesto a chegada de objetos modernizantes,
como a ferrovia, relegados apenas à capital (1889), na época Cidade da Parahyba,
em detrimento das regiões sertanistas. Muitas dessas insatisfações chegavam, por
sua vez, a transparecer em opiniões ácidas propagadas pelo principal meio de
comunicação à época, o jornal impresso.

A difusão de ideias entre as massas populacionais constitui um poderoso


aparelho de controle, de modo que a busca pela direção desses meios de difusão
de informações, em muitos casos, acaba por gerar disputas entre organizações e
pessoas que venham a ocupar distintos lugares sociais e políticos e que, por
conseguinte, exponham e se posicionem em defesa de interesses e aspirações
diversas.

Como apresenta Nelson Werneck Sodré em “História da Imprensa no Brasil”


(1911), ao realizar uma análise da formação histórica da imprensa no Brasil,
defende a ideia que a imprensa nacional não sofreu grandes alterações no que diz
respeito a sua estrutura de produção, de modo que distante dos grandes centros

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econômicos do país ainda continuava a funcionar de maneira muito artesanal e com
pouca disseminação, todavia, quanto ao conteúdo e o papel social desempenhado,
esta conseguiu desenvolver campanhas políticas as mais diversas.

No cenário específico da cidade de Campina Grande, os desentendimentos


envolviam os idealizadores do jornal; Irineô Joffily e Francisco Retumba que, usando
os números do jornal para discutir questões latentes do seu tempo, como o fim do
regime escravocrata e a implantação do republicanismo, foram de encontro com os
interesses do poder das forças hegemônicas locais, o que gerou uma perseguição
política e judicial pelos correligionários locais do presidente da Paraíba, à época,
Venâncio Neiva, que resultou no empastelamento e fim do título jornalístico em
1891.

Como apresentado anteriormente, os jornais impressos se caracterizavam


durante muito tempo na história do país como um dos principais disseminadores de
ideias e informações, ideias essas que refletiam a representação de mundo e ideias
de uma determinada fração social. Essa perspectiva posta, e se embasando nos
conceitos de representação e imaginário apresentados pelo historiador Jacques Le
Goff em seu livro “O Imaginário Medieval” (1994), termos, segundo sua
apresentação, vizinhos e que geram uma certa confusão, mas que possuem suas
particularidades, permite que, através da análise de fontes como jornais, obras
literárias e fotografias, podem permitir que se consiga informações para as quais
não foram produzidas inicialmente. Argumenta:

Em primeiro lugar, a representação. Esse vocabulário, de uma grande


generalidade, engloba todas e quaisquer traduções mentais de uma
realidade exterior percebida. A representação está ligada ao processo de
abstração. […] O imaginário pertence ao campo da representação, mas
ocupa nele a parte da tradução não reprodutora, não simpresmente
transposta em imagem do espírito, mas criadora, poético no sentido
etimológico da palavra. (LE GOFF, 1994, p. 11).
Ora, as elites políticas, econômicas e intelectuais campinenses, as quais
Joffily e Retumba faziam parte, possuíam suas próprias traduções mentais sobre a
realidade que os cercava, de modo que, em um movimento de comparação com
outras realidades idealizadas, eram capazes de tecer críticas a organização social,
urbana e política na qual se encontravam inseridos e formular alterações que
venham a saciar suas idealizações.

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Essas ideias, tão inspiradas no processo de modernização que vivenciava
certos centros europeus à época, por mais que não se concretizassem,
encontravam lugares como as páginas do “Gazeta do Sertão” para se manifestar e
ganhar espaço nos círculos da alta sociedade da cidade de Campina que tinha
acesso a essas leituras.

O trabalho presente se propõe justamente a analisar esse imaginário


modernizador presente nas páginas do jornal “Gazeta do Sertão” durante essa sua
primeira fase, que se entendo de 1888 à 1891, se caracteriza como mais ácida a
administração provincial de caráter conservador e servente a monarquia.

PENSANDO O SENTIDO DE MODERNO

Em se tratando de concepções da modernidade, se faz necessário


primeiramente pontuar que a nodernidade vivenciada pelos grandes centros
urbanos europeus durante o século XIX possuía características singulares onde, por
mais que processos de modernização em cidades do outro lado do atlântico se
inspirassem nessas diretrízes, não podem ser aproximadas das particulariades da
experiência moderna vivenciada nos centros urbanos do “Norte” do Brasil.  
Essas singularidades, segundo Aranha (2001), se dá devido as distintas
ideias que se tinham da modernidade, onde a vivenciada na região que hoje
coresponde ao nordeste, e que vigorou durante o oitocentismo, não pode ser
vinculada a ideia de vida agitada que se imagina nas metrópoles urbanas de
então.1 O autor defende a perpectiva de que a experiência moderna vivenciada nas
cidades, à época, notenhas não se manifesta em termos de formação de um
cotidiano frenético de uma vida tipicamente metropolitana, lógica  que já era
vivenciada em grandes centros urbanos europeus como Londres e Paris. 
Indo mais profundo no seu diagnóstico do processo de modernidade urbana
vivenciada em alguns centros do Brasil, Aranha (2001)  aponta para a
impossibilidade de se encontrar alguma cidade no Brasil do século XIX que
possibilite a vivencia de ritimo frenético de vida agitada aos seus habitantes, em
grande medida devido a existência de um limite geográfico no tamanho das cidades
brasileiras que as impossibilita alcançar esses panoramas dos grandes centros
urbanos mundiais. 

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Embora cidades como o Recife, prindcipal referência urbana de boa parte do,
na época oitocentista, norte, não possuísse as condições físicas que a permitissem
ser comparada a cidades como Londres, no cenário local elas continuam a ser
representadas como grandes centros urbanos e entrepostos comerciais, referências
de modernidade urbana na região que exerce influência.  
A perspectiva de modernidade nesse caso é alcançada menos pela ideia dos
grandes centros urbanos, transbordando de população e com suas ruas
movimentadas pelo vai e vem de transeuntes apresados, e mais pela importação de
certos símbolos que, presentes nessas metrópoles europeias, vem alterar o
cotidiano das pessoas que residem nessas cidades brasileiras que incorporam
esses signos que remetem ao progresso e a elegância. 
Portanto, o fato de alguma cidade galgar de elementos que acelerem a vida
cotidiana e traga algum nível de conforto aos seus habitantes, como é o caso do
trem, telégrafos, jornais e infraestrutura urbana já a caracterizava, no imaginário
urbano, como um grande centro moderno, pensar a modernidade como um
processo que se dava primeiro na promoção de mudanças física e estruturais,
mesmo antes de chegar a concepção coletiva. A cidade que não tinha alcançado
esses níveis de modernidade, mas que se desejava “civilizar-se”, tinha por
obrigação que adotar alguma dessas novidades vindas da Europa. 
A incorporação do trêm, da eletricidade, do telegráfo, do próprio jornal, além
de outros signos da modernidade, modificou a lógica do espaço urbano das cidades
brasileiras daquele período, fazendo surgir novas sensibilidades e edificando um
imaginário pretensamente moderno. Gervacio Aranha (2001), em seus estudos
sobre as décadas finais do século XIX e início do XX, apesar de dar mais
centralidade ao papel do trêm de ferro em seu vínculo com o moderno, não
menospreza a importância de outros elementos interpretados pelos sujeitos
históricos como “novidades materiais”, no sentido de avanço e progresso
civilizatório. Dessa forma, a reflexão sobre o sentido de modernidade, no espaço-
tempo em questão, perpassa o entimento de os vários signos da modernidade,
quando transplantados à realidade urbana das cidades nortistas (nordestinas),
provocou um impacto profundo na vida cotidiana das pessoas, nos seus hábitos e
costumes e na própria forma de enxerga-se enquanto parte de um novo mundo que
estava sendo construído.

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É um processo de criação coletivo, mas também individual, na medida em
que muitos interiorizam a suas proprias versões do moderno, de modo a criar no
campo do imaginário, fazendo uso de referências externas que são muitas vezes
imagens que chegam até essas pessoas de grandes centros urbanos, é verdade,
suas próprias representações do moderno que não nescessáriamente vai sair do
campo da abstração e se manifestar na realidade dos indivíduo. A respeito do
estudo do imaginário e da importância do seu estudo, Le Goff (1994) explana:

“Estudar o imaginário de uma sociedade é ir fundo na sua consciência e


da sua evolução histórica. É ir à origem e à natureza profunda do homem,
criado ‘à imagem de Deus’.” . (LE GOFF, 1994, p. 17).

A partir daí, é possível pensar o estudo do imaginário, que pode se encontrar


expresso, por exemplo, na escrita do jornal da Gazeta do Sertão, que manifesta
uma forma particular dos produtores do jornal de encararem aspectos relacionados
a cultura, a administração e o poder que se manifestavam na esfera local da cidade
de Campina Grande. A escrita deixou registrado de que modo eles vinha a se
posicionar a respeito dessas questões e, a partir do seu posicionamento, o que
idealizavam para a organização social e política da cidade.

A SECA QUE TRAZ RECURSOS: OS SOCORROS PÚBLICOS


A região que hoje corresponde ao nordeste do Brasil e seus habitantes
tiveram que aprender a conviver com períodos de estiagem recorrentes durante a
história, intervalos de tempo que afetaram diretamente a sociedade em várias
vertentes, como, por exemplo, no âmbito econômico. No caso particular da Paraíba
(ou província da Parayba) na temporalidade trabalhada nesse trabalho, esses
períodos de seca, especificamente o que se estende de 1877 à 1889, que ficou
conhecido como “A Grande Seca”, representou uma profunda crise em uma
economia baseada na agricultura e pecuária que resultou na formação de um
cenário de miséria em várias cidades sertanistas, dentre elas, Campina Grande que
se viu com os casos de mendicância, prostituição, furtos e migração da sua
população para outras regiões do país aumentarem vertiginosamente.
Frente a essa situação, que se converteu em um caso de calamidade pública
de nível nacional, o estado imperial brasileiro se viu obrigado a acionar uma política
assistencialista conhecida como “socorros públicos” que, segundo define Simone
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Elias em seu trabalho “Os ‘socorros públicos’ no Império do Brasil 1822-1834”
(2007), se trata de uma política pública do Estado Imperial de caráter
assistencialista e paliativo, onde o Estado se destinava a financiar algumas obras
públicas com o intuito de ocupar com trabalho uma massa desclassificada de
homens pobres brancos que, em decorrência da estrutura escravista na qual se
assentava a sociedade brasileira, não encontravam oportunidades de acesso a
qualquer trabalho e acabavam marginalizados pelo sistema.
Tendo em vista essa situação de calamidade pública, as circunstâncias se
agravavam gerando mais mendigos, prostitutas e criminalidade nos centros urbanos
e essa política de financiamento de obras públicas, em certo grau, funcionava
também como uma espécie de higienismo social, na medida em que a oferecer uma
forma de sobrevivência nesse ambiente de poucas oportunidades, se tentava
impedir que o número desses indivíduos indesejáveis socialmente crescessem.
Porém, essas verbas federais muitas vezes eram desviadas por grupos
políticos locais que, teoricamente eram responsáveis pela sua administração e
repasse para a construção de obras contra a seca, como a construção de açudes e
perfuração de poços, acabavam sendo desviadas para servir a propósitos privados.
É o que chama atenção Gervásio Batista Aranha em sua tese, onde enfoca o caso
próprio da construção das ferrovias, mas que não se limita a elas;
As ferrovias, na região em estudo, são objeto de acirradas disputas por parte
de indivíduos e/ou grupos de interesses que, preocupados em obter o
máximo de vantagens pessoais, agem como se as ferrovias fossem
propriedade sua, sem qualquer vínculo com a esfera pública. (ARANHA,
2001, p. V)

É precisamente essa apropriação dos recursos públicos para fins privados


por grupos políticos locais, mais a questão desses recursos estarem sendo
utilizados apenas para gerar melhorias na capital provinciana, na época Cidade da
Parayba, que o jornal da “Gazeta do Sertão”, em um tópico intitulado “Socorros
públicos” que existe nas páginas das edições de n.º 26 ao n.º 37 que circularam no
ano de 1889, vai utilizar para produzir textos críticos à administração desses
recursos pela política imperial que galgava na província. O primeiro número que traz
essa crítica, o número 26, que circulou em Campina no dia 21 de junho de 1889,
traz a tônica de crítica e ataque ao h=governo imperial:

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Em artigos seguintes nos ocuparemos dos trabalhos mais urgentes e
apropriados à nossa zona sertaneja, trataremos do melhor meio de
executá-los.” (JOFFILY, Irineu. Socorros públicos. Gazeta do Sertão,
Campina Grande, 21 de jun. de 1889. Nº 26)

Um número adiante, que foi lançado no dia 28 de junho de 1889, é ainda


mais direto na crítica que constrói para atacar os políticos locais e, por conseguinte,
o sistema político imperial, ao denunciar que esses administradores públicos não
têm no atendimento as necessidades coletivas a sua primeira prioridade e sempre
agem antes para saciar suas demandas pessoais. Aponta o jornal:

Na verdadeira necessidade da localidade ninguém pensa; todos puxam a


braza para sua sardinha. (...). Por conseguinte, a questão da água é o
problema que mais immediatamente solução reclama. E juntamente com
ella a costrucção do prolongamento da estrada de ferro Conde d’Eu.”
(JOFFILY, Irineu. Socorros públicos. Gazeta do Sertão, Campina Grande,
28 de jun. de 1889. Nº 27)

Alguns temas são recorrentes dentro do conjunto das edições publicadas em


1889, dado o grau de relevância que lhe são atribuídos e vez ou outra são
retomados por Irineu Joffily na coluna dos Socorros Públicos, a exemplo da
discussão em torno da ampliação da linha férrea Conde D’eu. Para os editores da
Gazeta do Sertão, além da necessidade urgente e inadiável de construção de
poços, açudes e cacimbas, soma-se também o indispensável prolongamento da
estrade de ferro conde D’eu. De forma geral, todas as demandas financeiras
enunciadas pelo referido Jornal, que imprime em suas páginas a perspectiva
modernizante dos seus editores, partiam substancialmente da preocupação com as
mazelas sociais produzidas pela estiagem.

A seca era o maior inimigo do sertanejo e o principal empecilho da


modernização dos sertões, “com quem lutamos e ainda havemos de lutar bem
largos anos”, diz Irineu Joffily (1889) nas páginas do seu Jornal. Um flagelo natural
cujas consequências sociais eram potencializadas pela indiferença dos poderes
públicos frente as necessidades materiais das cidades sertanejas.

O observador, ainda o mais frívolo, que percorra por acaso os sertões da


província, há de por força ficar contristado diante da péssima disposição
de nossas aldeias, vilas e cidades, sem ruas devidamente alinhadas, sem
construções de algum valor e mérito, sem edifícios públicos, nem ao
menos uma cadeia decente, uma escola. (JOFFILY, Irineu. Socorros
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públicos. Gazeta do Sertão, Campina Grande, 23 de agosto. de 1889. Nº
35)

Nas palavras do próprio editor do jornal, nota-se o tom denunciante e


provocador, direcionado aos poderes públicos constituídos, e a sensibilidade diante
da crítica realidade da qual ele mesmo fazia parte. Como discutido anteriormente, o
sentido de modernidade presente no imaginário dessa elite política, de finais do
século XIX, reflete um projeto centrado no incremento material do espaço urbano.
Assim, apontamentos dessa natureza, em referência a observação do Joffily, que
afirmam categoricamente a péssima disposição dos elementos físicos que compõe
a cidade sertaneja, vinculam-se à projetos reformistas gestados nas grandes
metrópoles europeias do século XIX e praticados no Brasil, especialmente, na
primeira metade do século XX.

As páginas da Gazeta do Sertão, voltadas ao tema dos socorros públicos,


apresentam traços de um conflito político-intelectual bastante característico da
sociedade paraibana daquele período, a velha querela que opõe a elite campinense,
interiorana, e a elite situada na capital da província. Na sua interpretação sócio-
política e como observador da realidade que o circundava, Irineu Joffily não estava
indiferente aos desafetos políticos entre interior e metrópole. Defende, por exemplo,
que as reformas no meio social, nas comodidades da vida urbana, etc., sejam
transferidas ao interior (ou centro) da Paraíba, já que as “vaidosas capitais” tudo
querem monopolizar. Ainda sobre as realidades contrastante entre os dois
“espaços” da província (interior e capital), o advogado afirma que:

É’ tempo já que a reforma nos costumes, no meio social, nas


comodidades da vida, vá passando das vaidosas capitaes, que tudo
querem monopolisar, para o centro das províncias, donde parte, aliás, pelo
menos entre nós, o dinheiro com que se cobrem àquellas de vestes
garbosas e attrahentes. Não é de obras de luxo que precisam as cidades
e villas do interior: mas das de conforto, das de indispensável necessidade
às mais simples exigências da vida. (JOFFILY, Irineu. Socorros públicos.
Gazeta do Sertão, Campina Grande, 23 de agost. de 1889. Nº 35)
Ainda na edição de número 35, publicada pela Gazeta do Sertão em 23 de
agosto de 1889, para além do que já discutido, é interessante notar os vínculos do
ideário moderno professado por seus editores, Joffily e Retumba, com o discurso
higienista característico daquele período. De acordo com Ariosvaldo Diniz (1988),
em sua dissertação intitulada “A Maldição do Trabalho (homens pobres, mendigos,
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ladrões... no imaginário das elites Nordestinas- 1850-1930) ”, um dos principais
instrumentos de controle social do século XIX correspondia a ação dos médicos
higienistas, cuja autoridade de intervir na vida pública lhes fora delegado pelas elites
políticas da época, preocupadas com o projeto de racionalização e moralização do
espaço urbano. A preocupação de estabelecer um controle rigoroso e sistemático
sobre a população pobre das cidades, baseava-se na ideia de que as epidemias,
flagelos que assombravam as provinciais periféricas daquele período, eram
resultado de emanações pútridas, isto é, pelos odores da cidade (DINIZ, 1988)
No seguinte trecho, retirado da edição n° 35 na coluna “Socorros Públicos”,
há uma clara menção à importância de preservar o centro da cidade contra
possíveis focos de pragas epidêmicas, garantindo a desodorização do espaço
urbano e a higienização do mesmo:
Sobretudo, debaixo do ponto de vista da hygiene, tudo, absolutamente
tudo deixa a desejar: Villas há, onde os cemitérios, em geral meio
demolidos, acham-se colocados bem no meio do centro habitado, em
contacto immediato com as casas de moradia, de negócio, etc. (...). Outro
tanto é o que temos a dizer sobre a imprescindível necessidade de uma
casa de mercado público. A medicina se tem encarregado de demonstrar
que é a alimentação má ou pouco sã a causa do maior número de
moléstias e epidemias que flagelam a humanidade; e os hygienistas não
cessam de recomendar maior cuidado, a mais actva fiscalisação, por parte
das autoridades, a respeito dos estabelecimentos públicos encarregados
de distribuir alimentos ao povo. (JOFFILY, Irineu. Socorros públicos.
Gazeta do Sertão, Campina Grande, 23 de agost. de 1889. Nº 35)

Neste trecho, observamos a prevalência de dois espaços físicos distintos,


característicos do meio urbanos, e postos por Irineu Joffily como motivo de grande
preocupação: o cemitério e o mercado público. No primeiro caso, a presença do
cemitério no centro da cidade, uma realidade vivenciada na própria Campina
Grande da época, visto como o principal foco de “emanações deletérias” que em
contato com a vida cotidiana dos transeuntes, representaria um risco a saúde
coletiva podendo, inclusive, gerar moléstias e epidemias desastrosas.
Tanto no caso cemitério, comentado brevemente, quanto no discurso em
torno do mercado público, a forma como os editores da Gazeta do Sertão
interpretam os dilemas sociais e econômicos das cidades sertanejas parece
reproduzir as mesmas preocupações dos médicos higienistas daquele período, e
cujo papel de higienizar e disciplinar o espaço urbano, em linha com os interesses

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das elites locais, moldaram novos hábitos e novas formas de pensar a empresa
modernizadora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacamos, para além das querelas políticas que se formaram em torno do
jornal “Gazeta do Sertão”, o papel que este periódico exerceu na formação de
opiniões das massas populacionais da cidade de Campina Grande, seja as
delimitando ou, ao contrário, indo de encontro e incomodando posicionamentos
políticos e sociais já consolidados nas bases da sociedade campinense.
Uma imprensa que, defendo as perspectivas dos seus idealizadores, atacava,
por vezes diretamente, os poderes constituídos, apontando suas falhas estruturais e
sugerindo um sistema político que, em teoria, viria a permitir uma maior participação
e engajamento social. Claro que essa nova visão também é digna de críticas e
indagações, como; “Com a saída desses grupos políticos de um sistema carcomido,
quem ficaria a cargo de tomar a frente desse novo projeto político?”; “Quem
continuaria à margem nesse sistema republicano e quem passaria a ser incluído?”;
“Essa modalidade de republicanismo adotada também não apresentaria seus vícios
próprios?”. Mas essas perguntas vão além do objetivo proposto nesse artigo.
O que se levanta é a real influência que a escrita dos textos do jornal, cheio
de críticas e sugestões a essa administração imperial, exerceu no imaginário
coletivo dos habitantes campinenses que tinham acesso a sua leitura. E, levantando
uma hipótese, como escritos de cunho progressista como esse, impunham uma
visão de progresso, um ideal de modernização que chegava a regiões sertanistas
como a cidade de Campina Grande mesmo antes da implementação dos próprios
signos da modernidade, como a luz elétrica, o telégrafo e o trem que, recuperando o
que defende Gervásio em seu trabalho, significavam já a chegada da própria
modernidade.

Referências
ARANHA, Gervácio Batista. Trem, modernidade e imaginário na Paraíba e
região: tramas político-econômicas e práticas culturais (1880-1925). 2001. Tese
(doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Campinas, SP. Unicamp. São Paulo, 2001. [Orientadora: Profª. Drª. Maria
Stella] Martins Bresciani. Disponível em:
< http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280684?mode=full>. Acesso em 27
set. 2019. 

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DINIZ, Ariosvaldo da Silva. A Maldição do Trabalho ( homens pobres, mendigos,
ladrões... no imaginário das elites nordestinas- 1850- 1930). Dissertação
(Mestrado em Ciências Sociais)- Centro de Humanidades, Letras e Artes,
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 1988.

PINSKY, Carla; LUCA, Tania Regina de (Org.). O historiador e suas fontes. São
Paulo: Contexto, 2009

LE GOFF, Jacques. O Imaginário Medieval. Ed. 2ª. Lisboa: Editorial Estampa,


1994.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Ed. 2ª. Rio de Janeiro:
Edições do Graal, 1977.

GAUDÊNCIO, B. R. A.. Da academia ao bar: círculos intelectuais, cultura impressa


e repercussões do modernismo em Campina Grande- PB (1913-1935). Dissertação
(mestrado) - Universidade federal de Campina Grande, Centro de Humanidades,
Campina Grande- PB, 2012.

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