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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA


CAMPUS CAPITÃO POÇO

RUTH KERLEN RODRIGUES DE SOUSA

AGRICULTURA FAMILIAR E OS CIRCUITOS CURTOS DE


COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS: UM OLHAR SOBRE A FEIRA DA
AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE CAPITÃO POÇO, PARÁ.

CAPITÃO POÇO - PA
2019
RUTH KERLEN RODRIGUES DE SOUSA

AGRICULTURA FAMILIAR E OS CIRCUITOS CURTOS DE


COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS: UM OLHAR SOBRE A FEIRA DA
AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE CAPITÃO POÇO, PARÁ.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Agronomia, da
Universidade Federal Rural da
Amazônia, como requisito para obtenção
do título de Engenheira Agrônoma.

Orientador: Prof. Dr. Luciane Cristina


Soares.
Co-orientador: Prof. Msc. Henderson
Gonçalves Nobre.
Co-orientadora: Msc. Aparecida Hurtado
Soares.

CAPITÃO POÇO - PA
2019
RUTH KERLEN RODRIGUES DE SOUSA

AGRICULTURA FAMILIAR E OS CIRCUITOS CURTOS DE


COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS: UM OLHAR SOBRE A FEIRA DA
AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE CAPITÃO POÇO, PARÁ.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Agronomia,
da Universidade Federal Rural da
Amazônia, como requisito para
obtenção do título de Engenheira
Agrônoma.

Data da Aprovação: ____/_____/_____

Banca Examinadora:

_____________________________________________________
Prof. Dra. Luciane Cristina Soares – UFRA/TOMÉ-AÇÚ
Orientadora

_____________________________________________________
Profa. Dra. Fernanda Carneiro Romagnoli – UFRA/CCP
Membro da banca

_____________________________________________________
Profa. Msc. Ana Paula Dias Costa – UFRA/CCP
Membro da banca

CAPITÃO POÇO - PA
2019
À Deus, por sua graça e misericórdia;
A minha família por ser minha base e meu alicerce;
A minha mãe, Noélis Rodrigues por ser o motivo pra eu seguir caminhando;
Aos meus amigos por se permitiram serem anjos na minha vida;
Aos meus “mestres” por serem minha inspiração;
Aos agricultores e agricultoras familiares por serem minhas motivação.

Dedico!
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida e por sempre cuidar de mim.
A minha mãe, Noélis Rodrigues, por sua dedicação, por confiar nas minhas
decisões e se fazer em todos os momentos da minha vida. Aos meus avôs, Nilza Rodrigues
e Ariston Sousa pelo suporte e amor, a toda minha família.
A Aparecida Soares, pela sua amizade, carinho e cuidado e por ser uma referência
de força feminina no âmbito profissional e pessoal e por me guiar na construção da minha
carreira profissional.
A minha orientadora, prof.ª Dra. Luciane Soares por sua generosidade, paciência,
compreensão e importantes contribuições no processo de construção deste trabalho.
Ao professor Henderson Nobre, por me apresentar a Agroecologia e me inspirar a
buscar novas formas de fazer ciências com ética e responsabilidade social. Bem como a
todos os companheiros desse movimento que me mostraram que é possível “fazer ciência”
com compromisso com as causas sociais, alegria e amor. A todos os parceiros do Núcleo
de Estudos em Agricultura Familiar e Agroecologia UFRA/CCP pelo companheirismo,
experiências e conhecimentos compartilhados.
Aos meus mestres educadores pelo “brilho nos olhos” e amor à arte de educar aqui
representados por professores que me acompanharam ao longo da minha vida estudantil
Nilza Rodrigues, Rosa Nildes, Rosivaldo Miranda, Michel Pinho, Joana Vieira e Ana Paula
Dias.
A todos os agricultores e agricultoras familiares de Capitão Poço, Garrafão do
Norte e Irituia, que abriram suas portas e compartilharam seu lar e sua sabedoria. Em
espacial, aos agricultores (as) da Feira da Agricultura Familiar que contribuíram
diretamente com este trabalho e meu crescimento profissional.
Aos meus amigos Tiago Farias, Krishna Oliveira, Karolainy Gomes, Socorro Pires,
Ana Silvia e Geane Guedes por não soltar a minha mão nesse percurso e mostrar que
muitas vezes Deus se faz presente em nossa vida por meio de “anjos” que coloca no nosso
caminho.
A Universidade Federal Rural e aos professores desta instituição que possibilitaram
oportunidades a fim de permitir que nós cresçamos enquanto profissionais. A meus
companheiros de turma, Agronomia 2014, pelas experiências compartilhadas ao longo do
curso.
Gratidão!
Os conceitos com os quais trabalhamos não são de
forma alguma neutros, temos sempre que ter em conta
a responsabilidade social que nos cabe enquanto
pesquisadores.

Larissa Bombardi
RESUMO

A agricultura familiar encontra-se integrada em diversos circuitos de produção e


consumo. O reconhecimento e o suporte a novos circuitos de produção e consumo
constituem uma alternativa que, por um lado, requer incentivos por parte da ação estatal e,
por outro, exige esforços analíticos por parte dos estudos rurais. Objetivou-se entender o
processo de formação da Feira da Agricultura Familiar considerando aspectos
socioeconômicos dos agricultores feirantes da feira livre do município de Capitão Poço.
Adotou-se a pesquisa tipo “estudo de caso” com viés qualitativo por meio do processo de
pesquisa-ação para analisar esta modalidade de comércio, canais curtos de comercialização
de alimentos. Utilizou-se como instrumentos para coleta de dados de ferramentas como
entrevista utilizando roteiro semiestruturado, cadernetas e anotações, registro fotográfico,
utilização de GPS, gravação de áudio, análise documental e observação da pesquisadora. A
Feira da Agricultura Familiar do município de Capitão Poço surgiu na necessidade de se
(re)criar novas oportunidades de mercado a fim de suprir uma demanda recorrente dos
agricultores familiares do município em questão e circunvizinhos. Com a consolidação
deste como um movimento de resistência frente ao modelo de comercialização
predominante no município, os agricultores familiares vêm, a cada dia, se desenvolvendo
no sentido de se tornar cada vez mais atuantes e empenhados na busca pela valorização de
seus produtos e sua própria valorização como ser que possui um papel fundamental no
desenvolvimento da sociedade. Concluiu-se que diante da realidade da agricultura familiar
no município de Capitão Poço, o circuito curto de comercialização por meio da feira livre é
considerado uma alternativa à inserção dos agricultores familiares no mercado local, sendo
também uma importante estratégia de desenvolvimento socioeconômico diante das
dificuldades de escoamento e comercialização de seus produtos.

Palavras-chave: Agricultura familiar; Comercialização; Desenvolvimento local.


ABSTRACT

Key words:
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Território Nordeste Paraense ...................................................................................... 14


Figura 2- Feira com a participação dos estudantes, agricultores (as) no campus da UFRA. .. 21
Figura 3- Feira da agricultura familiar na praça matriz de Capitão Poço................................. 22
Figura 4- Nível de escolaridade dos chefes de família. ............................................................. 27
Figura 5- Situação da propriedade. ............................................................................................. 27
Figura 6-Renda mensal obtida a partir da feira, valor aproximado. ......................................... 28
Figura 7- Principais fontes de renda das famílias. ..................................................................... 29
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 10
2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 11
2.1. Agricultura Familiar ................................................................................................... 11
2.2. Circuitos Curtos de Comercialização ....................................................................... 13
2.3. Agricultura familiar, contexto local .......................................................................... 14
3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 16
3.1. Área de estudo .............................................................................................................. 16
3.2. Considerações metodológicas ..................................................................................... 17
3.3. Procedimentos metodológicos .................................................................................... 18
3.3.1. Levantamento bibliográfico ................................................................................... 18
3.3.1. Seleção dos agricultores ......................................................................................... 19
3.3.2. Ferramentas de pesquisa ........................................................................................ 19
3.4. Sistematização e análise dos dados coletados .......................................................... 20
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 20
4.1. Contexto de construção da Feira da agricultura familiar ..................................... 20
4.2. Aspectos socioeconômicos dos agricultores feirantes ............................................. 25
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 30
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 31
10

1. INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira é recortada, no tempo e no espaço, por interesses conflitantes


de grupos e classes sociais. Esses interesses expressam concepções distintas de
desenvolvimento, que disputam entre si os rumos a serem dados à própria sociedade
(SEAD, 2017). Para os mesmos, o desenvolvimento rural encontra-se polarizado por dois
projetos, de um lado, o projeto hegemônico e do outro um modelo em desenvolvimento.
O projeto hegemônico se traduz pela modernização conservadora da agricultura,
centrada na grande empresa agropecuária, cujos fundamentos socioeconômicos e políticos
são dados pela propriedade concentrada da terra e demais recursos produtivos, para a qual
são canalizados os recursos financeiros administrados pelo Estado. O desenvolvimento
rural, nesse caso, é visto como decorrência do desenvolvimento da grande agricultura,
adotando, portanto, um enfoque setorial, excludente e empobrecedor (SEAD, 2017).
Trata-se do confronto entre o conhecimento patrimonial, coletivo e comunitário
característico de populações e a racionalidade individualista ocidental, com graves riscos à
segurança alimentar e ao equilíbrio entre o homem e a natureza (GONÇALVES, 2004). De
sua dominação resultam os traços marcantes do mundo rural: a pobreza das populações do
campo, o seu esvaziamento social, através do êxodo rural e a concepção do mundo rural
como espaços (e populações) periféricos e residuais (SEAD, 2017).
Em contraponto, um modelo de desenvolvimento vem se consolidando no Brasil
cujos principais elementos são o reconhecimento de outras formas de agricultura e de vida
no campo (SEAD, 2017). Fruto dessa ambiguidade vem se fortalecendo a necessidade de
que os atuais processos de desenvolvimento passem a pensar no local e nas pessoas e que
estejam pautados por valores que atendam ao interesse de toda a sociedade e com respeito
ambiental (GUZZATTI, 2014).
A agricultura familiar encontra-se integrada em diversos circuitos de produção e
consumo. Alguns constituem a expressão contemporânea do modelo produtivista herdado
dos anos de modernização compulsória, os quais ganham novo impulso com a atual
expansão da produção de commodities agrícolas estimulada pela crescente demanda
internacional. Outros, ao contrário, emergem justamente como uma espécie de resposta aos
limites deste modelo em constituir uma opção à crescente vulnerabilidade econômica e
social que atinge grande parte das famílias rurais (NIEDERLE et al, 2014).
11

Em se tratando da agricultura familiar, até pouco tempo o estudo do papel dos


mercados ficava limitado ao entendimento de como se davam os mecanismos de
comercialização da produção e acesso aos insumos para se produzir, desconsiderando que
os processos de mercantilização precisam ser vistos também da perspectiva da interação
social e cultural (DUMONT & LIMA, 2010).
A comercialização é uma face importante da atividade produtiva da agricultura
familiar, nesse sentido, Pierri e Valente (2015) afirmam que os circuitos curtos de
comercialização são significativos para a economia local, através da geração de trabalho e
renda bem como, na oferta de alimentos saudáveis.
Diante do exposto, objetivou-se entender o processo de formação da Feira da
Agricultura Familiar considerando aspectos socioeconômicos dos agricultores feirantes da
feira livre do município de Capitão Poço.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Agricultura Familiar

A expressão “agricultura familiar” emergiu no contexto brasileiro a partir de


meados da década de 1990 (SCHNEIDER, 2003). O autor afirma que esta emergência
ocorreu em meio a um cenário político onde a adoção parece ter sido orientada como uma
nova categoria síntese pelos movimentos sociais do campo que diante de vários desafios -
os impactos da abertura comercial e a falta de crédito agrícola – a incorporação e a
afirmação da noção de agricultura familiar mostrou-se capaz de oferecer guarida a um
conjunto de categorias sociais.
Schneider (2003) ressalta que a afirmação da agricultura familiar no cenário social
e político brasileiro está relacionada à legitimação que o Estado lhe emprestou ao criar, em
1996, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
O Art. 3º da Lei Nº 11.326, de 24 de julho de 2006 considera agricultor familiar
àquele que pratica atividades no meio rural, não detenha área maior do 4 módulos fiscais,
utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do
seu estabelecimento ou empreendimento, tenha percentual mínimo da renda familiar
originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento e o dirija
com sua família. (BRASIL, 2006).
12

A agricultura familiar tem peso importante para a economia brasileira com um


faturamento anual de US$ 55,2 bilhões por ano, de acordo com levantamento feito pelo
portal governo do Brasil onde afirma ainda que caso o país tivesse só a produção familiar
ainda assim estaria entre os 10 maiores produtores mundiais de alimentos (MDA, 2018).
Segundo Jefferson Coriteac, secretário da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do
Desenvolvimento Agrário (SEAD) o agricultor familiar tem grande importância para o
crescimento do Brasil uma vez que o crescimento do país passa pela agricultura familiar.
De acordo com o último Censo Agropecuário, a agricultura familiar é a base da
economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, sendo responsável
ainda pela renda de 40% da população economicamente ativa no país e por mais de 70% da
população ocupada no campo (MDA, 2018).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), cita que 84% dos
estabelecimentos rurais são de agricultores familiares respondendo por aproximadamente
por 33% do valor total da produção do meio rural. Responsável pela produção de 70% do
feijão, 34%¨do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% do café, 21% do trigo, 60%
do leite, 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos tem importante
participação na composição do prato diário dos brasileiros.
Tomando-se o Brasil de norte a sul, é possível encontrar uma diversidade muito
grande de agricultores familiares, muitos deles obedecendo a denominações locais e
regionais, como as de colono, sitiante, posseiro, morador, ribeirinho, entre outras.
(SCHNEIDER, 2014).
O reconhecimento de uma variedade de “estilos de agricultura familiar” não
favorece conclusões genéricas (CONTERATO, 2010). Por conseguinte, um modelo de
múltiplos mercados parece sensato em face da diversidade da agricultura familiar brasileira
(NIEDERLE et al, 2014).
Sobretudo nestes casos o reconhecimento e o suporte a novos circuitos de produção
e consumo constituem uma alternativa que, por um lado, requer incentivos por parte da
ação estatal e, por outro, exige esforços analíticos por parte dos estudos rurais
(NIEDERLE, 2014).
13

2.2. Circuitos Curtos de Comercialização

Para Guzzatti (2014) a distribuição de alimentos está cada vez mais baseada nas
grandes redes varejistas e, muitas vezes, os produtos percorrem longas distâncias para
estarem nas gôndolas dos supermercados. Com isso Jacquiau (2000) afirma que há
tendência de fortalecimento das grandes cadeias, nacionais ou internacionais, em
detrimento dos canais locais de venda de alimentos.
A crise do modelo agroalimentar dominante abre espaço para a discussão de novas
proposições de desenvolvimento local que incorporem não apenas variáveis técnico-
produtivas, econômicas e ambientais, mas também valores sociais, éticos e culturais.
Princípios como autonomia, solidariedade, segurança alimentar, justiça social, respeito à
cultura e tradição locais, assim como a reconexão entre produtores e consumidores, são
observados nos circuitos curtos (DAROLT, 2013).
Nesse contexto, o autor afirma que existem iniciativas de valorização da origem dos
alimentos e que são marcadas pela persistência de um sistema agroalimentar tradicional,
em geral de responsabilidade de pequenos produtores rurais que buscam valorizar a
identidade e a cultura alimentar local, dentre estas os chamados Circuitos Curtos de
Comercialização de Alimentos (CCCA) com dinâmica socioprodutiva recente no que tange
a pesquisas acadêmicas.
Os CCCA é modo de comercialização de produtos agrícolas que busca o
estabelecimento de relações mais diretas entre agricultores e consumidores (GUZZATTI,
2014). Os circuitos curtos podem acontecer com a venda direta do produtor ao consumidor
e também pela venda indireta, na condição de que haja apenas um único intermediário
(DECOOX; PRÉVOST, 2010).
De acordo com Darolt (2013), no Brasil ainda não há uma definição oficial para
circuitos curtos, mas o conceito aponta para uma proximidade entre produtores e
consumidores.
Estes circuitos apelam a um amplo leque de valores sociais: origem, saúde,
tradição, forma de produção, igualdade social, etnicidade, religiosidade, artesanalidade,
sustentabilidade. Em comum, estes novos mercados revelam uma crítica aos processos de
globalização, padronização e artificialização ensejados pela indústria alimentar. Ao mesmo
tempo, eles apontam para a emergência de experiências inovadoras a partir da valorização
de alimentos com forte enraizamento sociocultural nos territórios (NIEDERLE, 2017).
14

Trata-se da (re) aproximação entre produtores e consumidores, como resposta da


sociedade, ainda que pouco expressiva, mas que dá pistas sobre alternativas futuras a
problemática socioambiental, gerada pelo processo de globalização e materializada pela
racionalidade econômica que tangencia o desenvolvimento das sociedades modernas.
(GUZZATTI, 2014).

2.3. Agricultura familiar, contexto local

O Território do Nordeste Paraense possui 734.545 habitantes, sendo 381.193


residentes na zona urbana e 353.352 na zona rural (ITCPES/ICSA, 2011). É uma das mais
antigas áreas de colonização Amazônica, oriundas das expedições exploratórias dos
portugueses no interior do Estado durante os tempos da Colônia, este é o mais populoso
dos Territórios do Estado (NOBRE et al, 2017). De acordo com IBGE (2010) e
ITCPES/ICSA (2011) é integrado por vinte municípios como observado na figura 1.

Figura 1- Território Nordeste Paraense

Fonte: SIT/MDA, 2012.

ITCPES/ICSA (2011), afirma que seu processo de formação ocorreu a partir de


dois grandes ciclos de ocupação territorial, o primeiro remonta aos tempos de colonização
15

portuguesa e o segundo ocorreu com a construção das grandes rodovias que cortaram o
Território nas décadas de 60 e 70, como a BR-010 (Belém-Brasília), a BR-316 (Pará-
Maranhão) e a BR-222 (que liga a BR-010 a Marabá) onde houve um grande fluxo
migratório para a região.
Segundo PDTRS (2006) é habitado principalmente por agricultores, sejam eles
descapitalizados, em transição ou consolidados. São eles: agricultores (as) familiares,
agroextrativistas, pescadores artesanais, artesãos, assalariados rurais, quilombolas, grupos
indígenas; localizados a maioria em lotes individuais, em lotes familiares ou arrendados,
em projetos de assentamentos; estabelecimentos de pequeno e médio porte (agricultura
familiar), com uma produção destinada, primordialmente, aos mercados locais, regionais e
nacionais. A formação étnica predominante no Território tem caracterização indígena e
portuguesa, com forte influência da cultura nordestina e ainda alguns remanescentes de
quilombolas.
Um dos municípios que compõem esta região é Capitão Poço, este, desmembrado
do município de Ourém, recebeu o status de município pela Lei Municipal Nº 2460 de 29
de dezembro de 1961. A história de Capitão Poço está ligado ao segundo ciclo de ocupação
territorial do nordeste paraense, sob a influência da construção da Rodovia Belém –
Brasília.
A economia está fortemente ligada à agricultura, predominando a agricultura
familiar, sendo esta bem diversificada tanto em atores sociais quanto em produção.
Atualmente predominam as culturas da pimenta do reino (Piper Nigrum), feijão (Phaseolus
vulgaris L.), mandioca (Manihot Esculenta), laranja (Citrus sinensis) dentre outras frutas e
legumes. A principal cultura ligada à economia do município é a laranja, corresponde a
maior plantação do norte do país, sendo que 70% dos produtores são agricultores
familiares, a maior parte desta produção destina-se ao Centro Estadual de Abastecimento –
CEASA de Belém e da região nordeste do Brasil (SOARES, 2016).
De acordo com dados do SIT (Sistema de Informações Territoriais, 2018), 91,19%
das propriedades rurais do município de Capitão Poço são de agricultores (as) familiares.
Junior et al (2016) constata que uma das características da agricultura familiar é a
diversificação da produção, atributo importante na soberania e segurança alimentar, bem
como para constituição da renda dos agricultores, uma vez que, permite aos mesmos
atender as demandas de mercado ao longo do ano, garantindo renda por igual período.
16

O Núcleo de Agricultura Familiar e Agroecologia da Universidade Federal Rural


da Amazônia – Campus Capitão Poço, por meio de um diagnóstico realizado no município
no ano de 2014 constatou um cenário um tanto desanimador entre os agricultores (as)
familiares no que tange ao escoamento destes produtos
Nesse contexto, houve a necessidade da adoção de novas estratégias e inserção de
outros canais de distribuição para permitir o escoamento dos produtos destes agricultores,
com isso dando início ao processo de articulação entre os atores sociais existentes para
uma forma de resistência e organização, que resulta na Feira da Agricultura Familiar do
município de Capitão Poço-PA.
Para a agricultura familiar, as feiras livres locais se apresentam como soluções de
inserção de produtos e geração de renda, como uma das alternativas de mais fácil acesso
aos mercados, permitindo ao agricultor familiar um canal de escoamento de seus produtos
que não demanda muitas exigências, sendo uma opção à dependência do atravessador, que,
apesar de buscar a mercadoria in loco e pagar o total da compra à vista, impõe preços
injustos e que muitas vezes causam prejuízos ao produtor (DUMONT, 2010).

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Área de estudo

Fundado em 1961, o município de Capitão Poço possui, segundo dados do IBGE


(2018), extensão territorial correspondente a 2.899,540 km2. Com população estimada em
54.179 mil pessoas, destas 21.447 mil pessoal vivem na área urbana e 30.452 mil na área
rural, com densidade demográfica de 17,90 habitantes por km2 (IBGE, 2010). O município
está localizado a aproximadamente 214 km da capital do estado Belém entre as
coordenadas geográficas 01°44’47’’ de latitude sul, 47°03’34’’ de longitude oeste de
Greenwich (EMBRAPA, 2001).
17

Figura 2- Mapa de localização das comunidades estudadas e a Feira da Agricultura Familiar

Fonte: Silva, 2019

3.2. Considerações metodológicas

Uma vez delimitado o sujeito da pesquisa, neste caso, os agricultores(as)/feirantes


da Feira da Agricultura Familiar de Capitão Poço, protagonistas do movimento de
estabelecimento da feira livre como circuito curto de comercialização de alimentos,
adotou-se a pesquisa tipo “estudo de caso” com viés qualitativo por meio do processo de
pesquisa-ação para analisar esta modalidade de comércio.
De acordo com Godoy (1995), o estudo de caso é um instrumento de estudo que
tem como técnicas fundamentais a observação e a entrevista, para tal, nesta abordagem
lançou-se mão como instrumentos para coleta de dados de ferramentas como entrevista
utilizando roteiro semiestruturado, cadernetas e anotações, registro fotográfico, utilização
de GPS, gravação de áudio, análise documental e observação da pesquisadora.
Babbie (1999) afirma que o estudo de caso é uma descrição e uma explicação
abrangente dos muitos componentes de uma determinada situação social. Portanto, num
estudo de caso busca-se coletar e examinar o máximo de dados possíveis sobre o tema.
Procura-se a descrição mais abrangente possível da comunidade e tanta determinar as inter-
relações lógicas entre seus vários componentes (ÂNGULO, 2002).
Pela natureza deste estudo, segundo Ângulo (2002) a pesquisa do tipo qualitativa
possibilita captar melhor o universo dos significados e permite também perceber, como um
processo, a especificidade da agricultura familiar. Bogdan (1994) afirmam que a
18

abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de
que nada é trivial, que tudo tem potencial para construir uma pista que nos permite
estabelecer compreensão mais esclarecedora do objeto em estudo.
Metodologias de pesquisa de caráter participativo fundamentam-se na preocupação
de garantir a participação ativa dos grupos sociais no processo de tomada de decisões sobre
assuntos que lhe dizem respeito, com vistas à transformação social, não se tratando,
portanto, de uma simples consulta popular, mais sim do envolvimento dos sujeitos da
pesquisa em um processo de reflexão, análise da realidade, produção de conhecimentos e
enfrentamento dos problemas (TOLEDO, 2013). Ao refletir sobre a importância da
reflexão crítica dos sujeitos sobre suas práticas e da problematização da realidade para seu
enfrentamento sob a perspectiva de Paulo Freire, a autora afirma que fica evidente a
presença de seus pressupostos teórico-metodológicos na consolidação da pesquisa-ação,
principalmente no campo da educação.
A ação desencadeada pelo processo de pesquisa-ação, conforme já mencionado,
pode ser de caráter prático, educativo, comunicativo, político, cultural, etc., e ser originada
e desenvolvida no decorrer do processo de pesquisa, em função das necessidades
encontradas, e não ao seu término, como ocorre usualmente em outros tipos de pesquisa
(TOLEDO, 2013). Tozoni-Reis (2007) reforça ainda que a articulação entre a pesquisa e a
educação é uma das características mais importantes da pesquisa-ação, onde a troca de
conhecimentos possibilitada pelo processo de participação ocorrerá não apenas por maio
dos conhecimentos já existentes, mas contribuirá para a produção de novos.

3.3. Procedimentos metodológicos

3.3.1. Levantamento bibliográfico

Inicialmente foi realizada um levantamento bibliográfico de dados secundários


provenientes de fontes distintas. Estes foram obtidos por meio de pesquisas à base de
dados da internet, trabalhos de cunho acadêmico, pesquisas desenvolvidas por órgãos
ligados a temática na região e por meio do acesso a inúmeros documentos elaboradas e
disponibilizadas pelo Núcleo de Estudos em Agricultura familiar e Agroecologia/UFRA
Campus Capitão Poço. Esta etapa foi de grande relevância na construção do trabalho para
orientar as tomadas de decisões que guiariam a pesquisa ao longo do processo.
19

O histórico da feira do agricultor foi construído a partir da compilação de uma série


de publicações (JUNIOR et al, 2016; SOUSA et al, 2016; SILVA et al, 2017) e
documentos como planilhas, relatórios de campo, relatórios de atividades entre outros,
elaborados pelo Núcleo de Agricultura Familiar e Agroecologia da Universidade Federal
Rural da Amazônia/Campus Capitão Poço (NEA/CP) por meio do Grupo de Trabalho (GT)
Economia Solidária e Políticas Públicas.

3.3.1. Seleção dos agricultores

Na fase de estudos, foram realizadas visitas ao local onde realizam-se a Feira da


Agricultura Familiar, a fim de retomar o contato com os agricultores, de forma que se
estabeleceu que todos os agricultores participantes da feira livre fariam parte do universo
amostral, sendo esta caracterizada como amostra significativa ou de representatividade
social (não estatística) em concordância com Angulo (2002). A pesquisa foi realizada junto
aos 07 agricultores (as)/feirantes sendo o/a representante familiar o informante principal.

3.3.2. Ferramentas de pesquisa

Para a realização da pesquisa de campo utilizou-se como ferramentas o recurso


audiovisual por meio de registro fotográfico e gravador portátil, bem como a utilização do
aplicativo “GPS Test” disponível nas plataformas digitais, para obtenção das coordenadas
geográficas das propriedades de cada agricultor bem como a localização da Feira do
agricultor(a).
As questões do guia de entrevistas estavam relacionadas com aspectos
socioeconômicos, caracterização sociocultural das famílias, caracterização da renda
familiar, bem como sua produção e formas de comercialização. O Guia de entrevista foi
formulado com perguntas fechadas e abertas com o intuito de permitir a coleta de
informações qualitativas e quantitativas junto aos atores sociais. De acordo com Alencar
(1999) a vantagem deste tipo de questionário semiestruturado é permitir ao entrevistado
manifeste suas opiniões, seus pontos de vista e seus argumentos.
Outra ferramenta utilizada foi a chamada “travessia” que segundo Verdejo (2010)
permite obter informações sobre os diversos componentes da propriedade como recursos
naturais entre outros e esta é realizada por meio de uma caminhada na área, onde, ao longo
20

do percurso se anotam todos os aspectos que surgem pela observação do participante. Com
o intuito de compreender a percepção da realidade a partir desta caminhada e das
informações levantadas foi possível realizar a construção de um mapa mental da área.

3.4. Sistematização e análise dos dados coletados

Os dados quantitativos e qualitativos foram sistematizados com o auxílio software


Microsoft Office Excel versão 2013 onde foram tabulados e as informações agrupadas em
categorias de respostas para a formação de tabelas e gráficos para maior compreensão dos
resultados da pesquisa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Contexto de construção da Feira da agricultura familiar

A Feira da Agricultura Familiar do município de Capitão Poço surgiu na


necessidade de se (re)criar novas oportunidades de mercado a fim de suprir uma demanda
recorrente dos agricultores familiares do município em questão e circunvizinhos. Através
do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Capitão Poço (STTR) o anseio
dos agricultores (a) familiares por alternativas de inserção ao mercado local foi
encaminhado ao NEA/CP.
Nesse sentido, os envolvidos passaram a pensar estratégias que se ajustassem a
realidade dos agricultores e agricultoras utilizando metodologias participativas a fim de
estimular o protagonismo desses atores sociais. Maluf e Wilkinson (1999) afirmam que as
novas possibilidades de inserção da agricultura familiar nos mercados agroalimentares com
base em estratégias autônomas requerem uma ótica de construção de mercados adequada à
realidade dos agentes econômicos de pequeno.
Entendendo que, para desenvolver projetos com maiores chances de êxito é
fundamental construir uma “base”, nesse caso, a partir de relações com diferentes atores
inseridos no território o ponta pé inicial foi à busca de parcerias como a Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER/PA), a Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) e a Secretaria Municipal de Agricultura local, bem como a
mobilização dos agricultores do município. A proposta construída em conjunto foi “criar”
21

um espaço de interação, nesse caso, feira livre, onde esta pudesse proporcionar, para além
da relação comercial, a troca de saberes com espaços de construção do conhecimento
protagonizados agricultores e agricultoras.
A 1ª Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária ocorreu na Universidade
Federal Rural da Amazônia/Campus Capitão Poço, em dezembro de 2015. Ângulo (2003)
afirma que, as feiras são, geralmente, empreendimentos locais que buscam a valorização da
produção agroalimentar, principalmente em municípios de pequeno e médio porte.
Os estudos sobre feiras têm destacado que a atratividade das feiras em relação a
outras formas de varejo centra-se no maior frescor dos produtos, mas, sobretudo, na
dinâmica característica de negociação do preço e o atendimento diferenciado (face-a-face
com o produtor). Ademais, as feiras também se constituem em uma importante estratégia
de reprodução social da agricultura familiar” (SILVA et al, 2017).
A partir de então, coube ao sindicato à tarefa de mobilizar os agricultores para
participarem da feira e, ao NEA, encaminhar a divulgação da mesma na comunidade
acadêmica e na cidade.
Na figura 3, podemos observar a realização da Feira da Agricultura Familiar no
campus da cidade de Capitão Poço, na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).
Esta conta com a participação de agricultores de diferentes comunidades da região
comercializando seus produtos (b), bem como com a participação de estudantes do campus
realizando um bazar com venda e troca de diversos produtos (a).

Figura 3- Feira com a participação dos estudantes, agricultores (as) no campus da UFRA.

Fonte: NEA, 2015.

Com o crescimento gradual, foi observada a necessidade de estes agricultores


ocuparem outros espaços, espaço este que permitisse maior visibilidade e
consequentemente mais atração de consumidores. Diante desta demanda, com o apoio da
22

Paróquia Santo Antônio Maria Zacaria, a feira passou a ser realizada na praça (figura 3),
localizada no entorno da igreja matriz, inicialmente com frequência quinzenal e,
posteriormente, passou a ser realizada todos os sábados no período da manhã.

Figura 4- Feira da agricultura familiar na praça matriz de Capitão Poço.

Fonte: NEA, 2015.

Inicialmente a feira era constituída por 15 comunidades rurais e discentes da UFRA


mobilizados pela equipe do NEA/CP e STTR de Capitão Poço. Todos os esforços
caminharam no sentido de promover um trabalho coletivo em que os atores se entendessem
parte atuante no processo e assim gerar um sentimento de pertencimento aos envolvidos,
fortalecendo suas relações.
Com a diversidade (de comunidades, cultura, costumes e consumidores) como uma
de suas principais características, o espaço da feira sempre mostrou uma grande variedade
de atividades como roda de capoeira, apresentação de grupo de carimbó, apresentação das
atividades desenvolvidas pelo NEA/CP. Essa pluralidade também observada nos produtos
ofertados, como mostra a tabela 1.

Tabela 1: Comunidades encontradas na feira e seus respectivos produtos.

COMUNIDADES PRODUTOS

Comunidade Quilombola Narcisa, Multimistura, gergelim branco (Sesamum


pertencente a Rede Bragantina de indicum), farinha de banana, garrafada, mel
Economia Solidária Artes e Sabores. composto, óleo de coco, andiroba (Carapa
guianensis), vinagreira (Hibiscus
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sabdariffa), pomada de andiroba, kit ervas.


Associação dos Pequenos Produtores Telas de laranja (Citrus sinensis), manga
do Barro Vermelho (Mangifera indica), fava (Vicia faba), feijão
(Phaseolus vulgaris), tucupi, corante
alimentar, macaxeira (Manihot esculenta),
seriguela (Spondias purperea), adesivos
decorativos para unha.
Jararaca Mudas (laranja da terra (Citrus aurantium
L.), banana branca (Musa spp), capim
cidreira (Cymbopogon citratus), sapucaia
(Lecythis pisonis), tamarindo (Tamarindus
indica), fruta do conde (Annona squamosa),
pitaia (Hylocereus undatus), acerola
(Malpighia glabra), tiriba (Pyrrhura
frontalis), açaí (Euterpe oleracea), pimenta
do reino (Piper nigrum), Andiroba (Carapa
guianensis), graviola (Annona muricata),
caju (Anacardium occidentale), cacau
(Theobroma cacao), maracujá (Passiflora
edulis), pitanga (Eugenia uniflora) queijo,
milho verde (Zea mays), macaxeira
(Manihot esculenta), leite de gado, galinha
caipira, perú, pato, esterco de gado, mel de
abelha, andiroba (Carapa guianensis),
quiabo (Abelmoschus esculentus), pão
caseiro, feijão (Phaseolus vulgaris).
Associação do Revesso Pamonha, Jambú (Acmella oleracea),
quiabo (Abelmoschus esculentus), doce de
goiaba, cocada, goiaba, corante alimentar
(Bixa orellana), alfavaca (Ocimum), creme
de cupuaçu, coco (Cocos nucifera), frango
caipirão abatido, polpas de fruta (murici
(Byrsonima crassifólia), acerola (Malpighia
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glabra), graviola (Annona muricata)), peixe


congelado, pote de frango caipira (cortado e
temperado) farinha d’agua, goma de tapioca.
Santa Luzia de Induá Tiara para cabelo, prendedores de cabelo,
broche, pau de cabelo, colar, pulseira,
brinco, panela de barro, vaso, mudas
(jabuticaba (Plinia cauliflora), pupunha
(Bactris gasipaes), manga (Mangifera
indica), pitanga (Eugenia uniflora), amora
(Moros ningra), açaí (Euterpe oleracea),
araçá boi (Eugenia stipitata), goiaba branca
(Psidiumguajava), orquídea (Orchidaceae)),
óleo de Andiroba (Carapa guianensis), óleo
de copaíba (Copaifera langsdorffii), banha
de galinha.
Aldeia Yarapé- Capitão Poço Farinha d’água, goma, corante alimentar
(Bixa orellana), pupunha (Bactris gasipaes).
Cooperativa D’Irituia Polpas de frutas (cupuaçu (Theobroma
grandiflorum), goiaba (Psidiumguajava),
murici (Byrsonima crassifólia), taperebá
(Spondias mombin), acerola (Malpighia
glabra), caju do mato (Anacardium humile).
Discentes da Ufra Livros, cordões, porta incenso, artesanato
(cordão de pedra, cordão de pingente,
brincos, pulseiras).
Fonte: Junior et al, 2016.

Com a consolidação deste como um movimento de resistência frente ao modelo de


comercialização predominante no município, os agricultores familiares vêm, a cada dia, se
desenvolvendo no sentido de se tornar cada vez mais atuantes e empenhados na busca pela
valorização de seus produtos e sua própria valorização como ser que possui um papel
fundamental no desenvolvimento da sociedade.
25

O fortalecimento da agricultura familiar (RIBEIRO et al, 2009), está


intrinsecamente ligado às feiras livres, pois elas possibilitam ao pequeno produtor agregar
valor aos produtos, colocá-los de forma regular no mercado alcançando não apenas
geração de renda, mas um pagamento mais justo pela sua produção, uma vez que há o
encurtamento da cadeia comercial, importantes para dinamizar a economia local.

4.2. Aspectos socioeconômicos dos agricultores feirantes

Quanto a naturalidade, 62,5% dos chefes de família consultados são paraenses


enquanto que 37,5% são cearenses, porém já residem no estado a, no mínimo, três décadas.
Tais informações estão de acordo com o histórico de colonização da região que, de acordo
relatório ITCPES/ICSA (2011) a formação étnica do território possui forte influência da
cultura nordestina em decorrência do fluxo migratório na década de setenta a partir da
construção das rodovias Belém-Brasília e da Pará-Maranhão.
Embora haja uma forte contribuição feminina na composição da renda familiar,
75% das famílias são chefiadas por homens e os tem como principal provedor. A situação
conjugal dos chefes de família em questão é que 62,5% encontram-se em situação de união
estável e 37,5% estão solteiros. De forma geral as famílias estudadas apresentam uma
estrutura semelhante onde o grupo familiar é constituído por pessoas com relação de
parentesco direta ao chefe de família estes são o cônjuge, filhos, netos e irmãos e em
alguns casos genros ou noras.
Verificou-se que 87,5 % dos chefes de família possuem como principal atividade o
trabalho na agricultura e 58,6% do grupo familiar destes realizam algum tipo de atividade
na propriedade, seja diretamente com os trabalhos na lavoura seja no preparo e venda dos
produtos. Á exceção diz respeito a uma feirante que não é agricultora, esta realiza a venda
de lanches no local além de comercializar mel de abelha produzido pelo seu esposo.
Quantificou-se 31 indivíduos distribuídos entre as 08 famílias resultando em média
04 pessoas por família, destes 48,38% tem de 0 a 17 anos, 48,4% tem de 18 a 59 anos e
apenas 01 indivíduo tem 60 anos de idade correspondente à 3,22%.
É sabido que o trabalho no campo, na agricultura é árduo e exige muito fisicamente
dos trabalhadores, neste sentido, os resultados se mostram positivos neste cenário, pois a
força de trabalho, ou seja, mão de obra das famílias para o serviço realizado no campo e
26

comercialização é considerada suficiente para a maioria das famílias consultadas,


semelhantes a resultados observados por Silva et al (2017).
Vale ressaltar que mesmo os membros da família com limitações para determinados
trabalhos braçais como crianças e jovens em idade escolar e pessoas com alguma limitação
física como os idosos, realizam alguma tarefa nas unidades de produção. Atividades como
as mencionadas por Silva et al (2017), onde os autores afirmam que, no que tange a
dinâmica da feira, os agricultores e seus familiares executam tarefas como a limpeza,
acondicionamento e preparo dos produtos que serão comercializados na feira na véspera, a
fim de preservar a qualidade e frescor dos produtos.
Tais fatores justificam a pouca necessidade de contratação de mão de obra externa,
porém eventualmente quando surge a necessidade de aumentar a força de trabalho esta é
feita de duas formas a primeira se dá pela contratação informal de trabalhadores por meio
de diárias, e a segunda é com a chamada “troca de diárias” esses acordos são, em geral,
feitos com vizinhos e/ou parentes do referido agricultor. No caso em questão essas
permutas foram observadas com 03 agricultores estudados.
Em relação ao nível de escolaridade permeia no meio rural o baixo grau de
escolaridade, notou-se pelos resultados obtidos na pesquisa, verificou-se que 75%
estudaram até a 4ª série do ensino fundamental, 12,5% (1) possui o ensino médio completo
e 12,5% (1) possui nível superior incompleto. Vale ressaltar que, embora tenha havido um
avanço no acesso à educação, ainda existe um alto nível de pessoas semianalfabetas
principalmente em áreas rurais (Figura 5).
Para buscarmos compreender esta realidade é preciso entender as dinâmicas do
meio rural, uma vez que estas, em geral, influenciam diretamente nas tomadas de decisões
das populações desses espaços, nesse sentido, uma possível razão é a falta de tempo, pois
com a necessidade de colaborar para o sustento da família muitos começam a trabalhar na
agricultura bem cedo e o cansaço do dia a dia de trabalho em conjunto com a necessidade
de prover o sustento da família, uma vez que, existe uma tendência de casarem muito
novos, além disso a falta de perspectiva de futuro ligados a educação e, em alguns casos, a
própria falta de interesse podem justificar essa realidade.
27

Figura 5- Nível de escolaridade dos chefes de família.

Fonte: Sousa, 2019.

Com relação a situação fundiária da propriedade, 62,5% dos agricultores possuem


área própria, 12,5% (1) trabalha em área cedida por familiar e 25% trabalha em área
coletiva chamada de área de patrimônio (Figura 6).
A dimensão unitária do módulo fiscal no município é de 55 ha. Todos as
propriedades aqui estudas enquadram-se como estabelecimentos de agricultura de base
familiar, pois não ultrapassaram quatro módulos fiscais em concordância com o art. 3º da
Lei Nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Os tamanhos de área variaram de 0,5 a 2 ha.

Figura 6- Situação da propriedade.

Fonte: Sousa, 2019.


28

De um forma geral, há um cenário recorrente nos sistemas produtivos observados


no que diz ao cultivo de duas culturas chave na região como a laranja e a pimenta-do-reino.
Isto devido ao importante papel do município no cenário estadual e nacional referente a
produção dessas culturas. Segundo relatos dos agricultores entrevistados, eles mantém
sempre na propriedade uma área para o cultivo de pelo menos uma dessas culturas, pois
apesar da recorrente oscilação de valor no mercado tem venda garantida no comércio local
e, portanto, sendo considerada pelos mesmos como uma fonte segura de renda.
As propriedades familiares estudadas apresentaram características semelhantes
quanto as espécies cultivadas, onde as mais frequentes foram: macaxeira, mandioca,
mamão, banana, abóbora, abacaxi, quiabo, maracujá, cupuaçu, acerola, cheiro verde,
feijão, milho, arroz, açaí, coco, pimenta de cheiro, tangerina, além de produtos da criação
de animais como galinha caipira. Porém, de forma geral, o principais fatores que limitavam
a variedade e volume das culturas cultivadas, neste caso, foram a situação fundiária da
terra e o tamanho da área.
A realidade observada acima reflete diretamente nos valores obtidos pelos
agricultores feirantes durante a comercialização. De forma que foi possível notar que os
agricultores com maior diversificação dos produtos, em geral, são os que possuem maior
renda mensal. Os valores mensais variaram entre 200 a 800 reais por família (Figura 7).

Figura 7-Renda mensal obtida a partir da feira, valor aproximado.

Fonte: Sousa, 2019.


29

No que se refere a renda, constatou-se por meio da pesquisa que as famílias


possuem cinco principais formas de obtenção desta, são elas: venda da produção por
através dos circuitos curtos de comercialização (CCC), venda para atravessador, bolsa
família, auxílio gás e aposentadoria. Onde 87,5% dos entrevistados obtêm seus recursos
através da comercialização de sua produção na Feira do Agricultor (CCC), portanto esta é
a principal fonte de renda destas famílias.
O Bolsa Família contribui com o aumento de 30,12% em média da renda das
famílias de quatro agricultores consultados. Para os que possuem o auxílio gás, o valor
representa um aumento de 16,49% em média de sua renda. Apenas uma agricultora possui
aposentadoria, e para ela esta é a principal fonte de renda representando 70,45% de sua
renda mensal (Figura 8).

Figura 8- Principais fontes de renda das famílias.

Fonte: Sousa, 2019.

A agricultura familiar mantém vínculos simultâneos de distintos tipos com os


mercados de produtos agroalimentares em razão do seu perfil produtivo diversificado.
Assim, a reprodução das unidades familiares rurais baseia-se no conjunto das atividades
produtivas por elas desenvolvidas e nos vínculos com os mercados que lhes são
correspondentes. Há sempre que mencionar a parcela da produção que é destinada ao
autoconsumo, importante componente da reprodução dessas famílias quanto a da sua
segurança alimentar (MALUF, 2004).
Finalmente, cabe destacar o potencial dos CCC como estratégia dinamizadora para
o estabelecimento de relações comerciais e de parceria mais justas entre agricultores e
consumidores, além da possibilidade de contribuírem para o desenvolvimento territorial
30

(GUZZATTI et al, 2014). Se é verdade que estes sistemas respondem principalmente à


precariedade das infraestruturas de transporte e armazenamento dos agricultores e
associações, também pode-se perceber que eles são mais eficientes que os grandes centros
de distribuição (como as CEASAs), seja do ponto de vista do custo e tempo de operação,
seja com relação aos níveis de perda e desperdício (BELIK e CUNHA, 2012).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da realidade da agricultura familiar no município de Capitão Poço, o circuito


curto de comercialização por meio da feira livre é considerado uma alternativa à inserção
dos agricultores familiares no mercado local, sendo também uma importante estratégia de
desenvolvimento socioeconômico diante das dificuldades de escoamento e comercialização
de seus produtos. A feira contribui com a variedade e a melhoria na oferta de alimentos à
população urbana.
No entanto, se faz necessário promover estratégias para a melhoria deste espaço.
Investir no beneficiamento dos produtos com ênfase aos que possuem características
regionais torna-se uma estratégia para aumentar a diversidade na oferta de produtos com
intuito de permitir aumento na renda das famílias, além de possibilitar a agregação de valor
aos mesmos, sendo uma importante estratégia no fomento e fortalecimento da agricultura
familiar.
Quando se trata de ações para fortalecer a agricultura familiar, as iniciativas
existentes, em geral, estão relacionadas ao aumento da área de cultivo, da produtividade
dos sistemas produtivos, entre outros. Porém existe uma lacuna a ser observada quanto ao
escoamento e comercialização desta produção de forma que, somente o aumento na oferta
dos produtos não tem se mostrado uma alternativa eficaz na promoção da melhoria de vida
dos agricultores familiares.
Neste caso, foi possível observar a satisfação dos agricultores com a atividade, pois
a interação social direta com o consumidor permite criar vínculos de confiança entre os
próprios agricultores e destes com seus clientes. A inexistência de intermediários no
processo beneficia tanto os agricultores quanto os consumidores pois, o encurtamento desta
cadeia comercial favorece a agregação de valor aos produtos. Além disso, a atividade na
feira promove a autonomia dos produtores na sua propriedade.
31

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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