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Olavo de Carvalho
25 de dezembro de 1997
1. O simbolismo natural
3º O método esotérico (às vezes chamado também tradicional, no sentido estrito que René
Guénon confere ao termo), que refere o símbolo a uma intencionalidade supra-humana.
Nenhum dos três, portanto, nos responde à pergunta: Que é o símbolo? Fingindo
respondê-la, substituem-na pela pergunta: De quê o símbolo é símbolo? E, tendo-nos dito
o simbolizado, pretendem que aceitemos isso como conceito de símbolo — como um
homem que, interrogado sobre o que são as palavras, respondesse indicando as coisas que
elas nomeiam.
Esses três métodos desviam a nossa atenção do fenômeno “símbolo” enquanto tal e a
dirigem às causas reais ou supostas da produção do símbolo, escorregando do quê para o
porquê — o expediente clássico de quem não sabe de quê está falando. Isto não quer
dizer, evidentemente, que tudo o que essas teorias tenham a dizer sobre as causas do
símbolo seja despropositado ou falso; quer dizer apenas que é destituído de fundamento
suficiente e que este fundamento só poderia ser encontrado justamente na investigação
que essas teorias eludem e pretendem substituir, que é a investigação do quid — a
primeira de todas as investigações, se não na ordem do tempo, ao menos na ordem da
prioridade lógica.
Dito de outro modo, esses três métodos tomam por implícito que uma interpretação de
símbolos, desde que se feche num sistema mais ou menos completo, coerente e
fundamentado, já é, por si, uma elucidação suficiente quanto à natureza do símbolo —
confusão idêntica à de quem tomasse a interpretação exaustiva de uma obra poética — ou
mesmo de várias — como resposta suficiente à questão: Que é a poesia? Ora, pode
ocorrer, por desgraça, justamente o contrário: que a elucidação da natureza da poesia
acabe por impugnar todas essas interpretações, por exaustivas e coerentes que sejam, e
por mais amparadas que estejam em conhecimentos científicos, revelando nelas algo
assim como uma paralaxe, um desvio do eixo de atenção em relação ao centro de interesse
do objeto, uma concentração das questões em objetos parecidos, associados ou
circunvizinhos, uma metabasis eis allo genoscomo tão freqüentemente sucede nas
investigações científicas não suficientemente ancoradas numa consciência crítico-
filosófica das complexidades e peculiaridades do objeto que se pretende investigar.
A estratégia que proponho para a abordagem do símbolo adotará como ponto de partida
metodológico a seguinte regra: todo empenho sistemático de interpretação de símbolos
deve ser posto entre parênteses como meramente hipotético, até que se alcance uma
elucidação suficiente da natureza do símbolo. Esta elucidação, por sua vez, deve ser
independente de qualquer chave ou sistema interpretativo ou explicativo-causal
previamente dado, por elegante, completo ou prestigioso que seja.
Como objeto inicial da investigação, não admitirei nada mais senão o fato bruto de que
existem palavras, grafismos, objetos, entes enfim, aos quais os homens atribuem um tipo
especial de significação que denominam “simbólica”, diferente de uma outra que
denominam “não simbólica”. Este é um fato de ordem histórica e cultural. A crença nele
subentendida refere-se a uma dualidade de modos de significação. Nossa primeira tarefa
será simplesmente verificar se essa dualidade é possível e, se possível, em que pode ela
consistir.
2. A perspectiva rotatória
4. Uma cadeia lógica não é, assim, mais conhecível de instantâneo e no todo do que uma
casa ou uma paisagem. Temos de percorrê-la, e quando no fim cremos conhecê-la “no
todo”, o que sobrou em nossas mãos não é mais que um esquema simplificado, ou seja,
uma potência de reatualizar no tempo a cadeia percorrida. “Conhecer” um raciocínio é
poder reproduzi-lo na seqüência, não é reproduzi-lo no todo e com todos os detalhes num
instante sem duração.
6. É isto o que quero dizer com “perspectiva rotatória”. É a estrutura do ato mesmo de
conhecimento, seja do conhecimento pelos sentidos, seja do mero pensamento.
7. É, por outro lado, a estrutura mesma da fenomenalidade como tal: nenhum objeto,
nenhum ser, pode se apresentar a um determinado sujeito cognoscente na totalidade
instantânea dos seus aspectos. É ilusão pensar que o objeto meramente ideal pode fazê-
lo. O conceito mesmo de “quadrado” só se apresenta a mim no resumo compacto de um
termo, e não no desdobramento completo das propriedades que inclui. Tanto o
pensamento abstrato quanto a percepção sensível têm a estrutura de uma perspectiva
rotatória: o sujeito cognoscente circunda o objeto tanto quanto circunda o conceito, e o
faz precisamente porque seu foco de atenção é circundado pelas latências de inumeráveis
objetos, conceitos e signos.
Por não fazer parte nem do mundo pragmático que construímos com nossas ações, nem
do mundo imaginativo que construímos com nossa arte, nossa ciência, etc., ele acaba por
parecer, à reflexão filosófica de primeira instância (reflexão sobre a cultura, sobre o
mundo construído pelo homem), como um “x” remoto e distante, ao qual só poderíamos
chegar no termo de uma caminhada que começa no “dado” sensível. Mas é uma ilusão de
ótica, que inverte a ordem do real; ao sentido não se chega, pois ele é o pressuposto da
própria percepção e, mais ainda, da caminhada reflexiva. O objetivo desta não é atingir o
sentido, mas recuperar, no nível discursivo (portanto intersubjetivo), a certeza inicial e
intuitiva do sentido. O objetivo é tornar patrimônio comum essa certeza inicial e
fundamental que o homem só possui enquanto individualidade vivente, não enquanto ser
social falante, plural na variedade de seus papéis e idiomas. No curso dessa recuperação,
muitos desastres acontecem, que separam o homem da recordação do sentido e o levam a
imaginar, seja que pode construir um sentido a partir dos dados, seja que pode encontrar
um sentido partindo de dados sem sentido, seja que pode provar a inexistência do sentido
ou a separação abissal entre o dado e o sentido, seja que não necessita de um sentido e
pode viver entre puros dados. Tal é o panorama da história da filosofia.
A expectativa de uma continuidade que se prolonga para além da morte, seja na forma de
uma vida celeste, seja sob a forma da simples permanência temporal do mundo após nossa
saída dele, seja sob qualquer outra forma que se imagine, é uma conditio sine qua non do
agir humano, e está subentendida mesmo nas nossas ações mais mínimas e corriqueiras.
Mas essa diversidade de imaginações e suposições traduz apenas a variedade de reações
individuais a uma experiência que é única e a mesma em todos os seres humanos: a
experiência do movimento geral do cosmos, que vai para alguma direção e nos leva. Essa
experiência pode ser vivenciada de maneira consciente, com mais probabilidade, na
infância, mas em geral ela se torna inconsciente pelo fato mesmo de ser a mais constante
e ininterrupta experiência humana, fundamento e condição de toda e qualquer experiência
em particular.
5. Unidade e unidades
Mas, se a unidade do mundo é dada e a unidade de cada ente conhecido é apenas potencial,
atualizada parcialmente e passo a passo pela perspectiva rotatória, uma conclusão se
segue imediatamente: cada ente conhecido só é uno e só é ente a título de imago mundi.
Da unidade total extraem sua unidade as unidades parciais.