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(Rui Moura1)
Introdução
Vivemos hoje num mundo de profundas e súbitas transformações aos mais diversos
níveis: político, social, económico, tecnológico, etc. Assim torna-se necessário que o
indivíduo seja capaz de efectuar o "desenvolvimento das capacidades de evoluir e agir
num ambiente complexo, de 'aprender a aprender' ao longo da vida, de reconstruir
permanentemente conhecimentos e saberes." (Couceiro, 1995, p.7). Assim tem-se
acentuado a necessidade de "aprendentes autodirigidos que sejam capazes de
conduzir a sua educação e de aprender por eles próprios sem o pesado aparato das
instituições educativas." (Candy, 1991, xiii).
1
Rui Moura é sociólogo, professor da Universidade Autónoma de Lisboa, responsável por varias
cadeiras da licenciatura e mestrado em Sociologia. É especialista e consultor para as área do Ensino,
Emprego e Formação Profissional
Contudo, alguns autores, como Brookfield (1987) observam que o conceito de
aprendizagem autodirigida "está ainda marcado pela confusão e ambiguidade na
definição." Durante algum tempo centralizou-se a discussão deste conceito como uma
condição de tudo ou nada, onde o indivíduo isolado assumia o completo controlo sobre
a sua aprendizagem. Mas será que aprendizagem autodirigida significa aprendizagem
solitária? Será que na aprendizagem autodiriga, pode e deve existir interacção com os
outros? Com vista a responder a estas questões, e à clarificação deste conceito, é
importante definir os termos que compõem a aprendizagem autodirigida, contribuindo
para uma melhor compreensão desta temática.
Auto
Garrison (1989) alerta para a confusão que pode existir acerca da aprendizagem
autodirigida. "Aprendizagem autodirigida pode ser mal entendida se nós entendermos
que o aprendente é inteiramente independente. A visão de que a aprendizagem
autodirigida é um processo totalmente auto-instrucional tem vindo a ser seriamente
questionada." (p.55).
Desta forma, Kerka (1994) considera que "em vez dos opostos - de autodirecção
versus heterodirecção - é notório que existe uma continuidade." (p.3). "Aprendizagem
autodirigida pode ocorrer igualmente no indivíduo isolado socialmente ou nos alunos
interagindo na sala de aula. Interacção com outros aprendentes não nega ou previne a
aprendizagem autodirigida." (Long, 1992a, p.7). Conceber a aprendizagem
autodirigida apenas à volta dos projectos individuais é um erro, pois coloca o acento
tónico na auto-suficiência e nega a importância da acção colectiva (Brookfield, 1993).
Direcção
Long (1989) considera que a investigação deve ter em conta a vertente psicológica, ou
seja, "o grau pelo qual o aprendente, ou o indivíduo, mantém controlo activo sobre o
processo de aprendizagem." (p. 3). Para este autor é no controlo que o aprendente
exerce sobre o processo de aprendizagem que se encontra a dimensão mais
importante da aprendizagem autodirigida. "Se os aprendentes não forem
psicologicamente autodirigidos, sentirão dificuldades em iniciar uma actividade de
aprendizagem autónoma e serão aprendentes mal sucedidos na modalidade de
aprendizagem solitária." (p. 3-4).
Se é no controlo que o aprendente exerce sobre a sua aprendizagem que se encontra
o cerne da aprendizagem autodirigida, esse controlo não é sinónimo de isolamento.
Nesta perspectiva, Garrison (1989) considera que a "aprendizagem autodirigida
envolve apoio e orientação externa." (p.55). Collins (1987) considera que a
aprendizagem não tem lugar no vazio, sendo a mediação inevitável e que "não existe
contradição na noção de que os aprendentes fazem a sua própria aprendizagem e que
eles estão simultaneamente a ser ensinados por um professor." (p.80). Considerando
que o controlo da aprendizagem passa pela mediação aprendente / professor, Candy
(1990) apresenta assim essa relação:
Garrison (1992) afirma que o aprendente, para ser autodirigido, tem de ser
"responsável por relacionar as novas ideias e a experiência com os conhecimentos já
existentes bem como de partilhar esses novos conhecimentos em ordem a justificá-los
e a validá-los." (p.146). O aprendente autodirigido deve possuir pensamento crítico, ou
seja, deve ser capaz de se propor a desenvolver ou aumentar os seus próprios
conhecimentos. Mas é no diálogo com os outros que o indivíduo testa os seus
interesses e perspectivas com as dos outros, modificando, deste modo, os seus
objectivos de aprendizagem, ou os objectivos dos outros (Mezirow, 1985, 1991;
Brookfield, 1987). Se o indivíduo tem a responsabilidade de criar significados, é
através da comunicação com os outros que ele valida esses significados.
O controlo do aprendente não pode ser considerado como contrário à interacção com
os outros (professores, grupo de aprendizagem, etc.). Pensar desta forma, é conceber
que só existe aprendizagem autodirigida quando o aprendente tem o controlo total da
aprendizagem, ou seja, conceber a aprendizagem autodirigida como uma condição de
tudo ou nada. Assim, o controlo deve ser entendido como uma continuidade entre os
outros (professor, mentor, facilitador, etc.) e aprendente e não como uma dicotomia
(Candy, 1990).
Aprendizagem
Para Long (1992b) a aprendizagem autodirigida é um processo cognitivo "que está
dependente de comportamentos meta-cognitivos como atenção, comparação,
interrogação, contraste, etc. que são controlados e dirigidos pessoalmente pelo
aprendente com pouca ou nenhuma supervisão externa" (p.12). Para o autor é no
aprendente que se desenrola todo o processo de aprendizagem. Tremblay e Theil
(1991), consideram que os aprendentes aprendem por eles próprios, "no sentido em
que aprendizagem = processo interno" (p.29).
Brookfield (1984) entende que a aprendizagem "tem lugar ‘dentro do aprendente’ não
na escola, e é o resultado da capacidade do aprendente que não está
necessariamente dependente de uma série de interacções fixas cara a cara." (p.15).
Para este autor, o resultado da aprendizagem é a mudança interna da consciência do
aprendente, ou seja, a aquisição de novos conhecimentos, capacidades,
comportamentos ou competências. Mas para a alteração da consciência psicológica
(envolvendo essencialmente a alteração dos pressupostos do indivíduo acerca do
mundo e acerca de si próprio) é necessária a interacção com os outros que são fonte
de visões e perspectivas alternativas. Assim, se o resultado da aprendizagem é a
mudança interna da consciência psicológica do aprendente, o que é facto é que esta
mudança só se verifica após o aprendente ter partilhado e interagido com os outros:
desta forma, é na inter-relação que os verdadeiros significados são alcançados.
Considerações Finais
Bibliografia geral
Brookfield, S. D. (1993). Self-directed learning, political clarity, and the critical practice
of adult education. Adult Education Quartely, 43, nº 4 (Spring 1993), 227-242.
Candy, P. (1990). The transition from learner-control to autodidaxy: more than meets
the eye. In H. Long & Associates, Advances in research and practice in self-directed
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and Higher Education, University of Oklahoma, 9-46.
Candy, P. (1991). Self-direction for lifelong learning. San Francisco, CA: Jossey-Bass.
Kerka, S. (1994). Self-directed learning: myths and realities. Columbus, Ohio: ERIC
Clearinghouse on Adult Career and Vocational Education. (ERIC Document
Reproduction Service Nº ED 365 818.)
Long, H. (1992). Learning about self-directed learning. In H. Long & Associates, Self-
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Center for Continuing Professional and Higher Education, University of Oklahoma, 1-8.
Tough, A. (1967). Learning without a teacher: a study of tasks and assistance during
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Tough, A. (1971). The adults learning projects: a fresh approach to theory and practice
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