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Alterações Biofísicas Associadas


ao uso de Atividades Agrícolas na
Amazônia Oriental

RESUMO

O projeto foi conduzido no Estado do Pará e teve três objetivos principais:


avaliar alterações no regime das chuvas associadas a remoção da vegetação
natural para uso agrícola; avaliar modificações físicas, químicas e biológicas,
na camada arável de solos, submetidos a diversos sistemas de uso e analisar a
dinâmica da paisagem com a utilização integrada de sensoriamento remoto
multitemporal e sistema de informação geográfica. A metodologia levou em
consideração várias ações de pesquisa contidas em três temas : climático, edáfico
e da dinâmica da paisagem, cujos principais aspectos foram:
1- avaliação de alterações das chuvas associadas a atividades agrícolas
em áreas de contrastes quanto a níveis de cobertura natural. Dentro desse contexto
efetuou-se levantamento e armazenamento de dados meteorológicos de séries
históricas de áreas de expressiva e pouca concentração de desmatamento para
atividades agrícolas, caracterização do regime pluviométrico e análise temporal
de componentes de balanço hídrico dessas áreas. 2- avaliação de modificações
edáficas ocorridas em diversos agrossistemas. Sob essa visão, efetuou-se
avaliação das modificações físicas químicas e biológicas em solos do tipo
Latossolo Amarelo, texturas médias e muito argilosa ( representativo da região
Amazônica) e Terra Roxa Eutrófica de Alenquer, submetidos a diversos sistemas
de uso agrícola, envolvendo levantamentos de campo e análise de laboratório; e
3- avaliações de modificações na paisagem ao nível de uso da terra e suas
interrelações com a vegetação primária e secundária, tendo sido para tanto
efetuado análise da dinâmica da cobertura vegetal e uso da terra em áreas
selecionadas, utilizando-se recursos de sensoriamento remoto,
geoprocessamento e trabalho de campo.

Os principais resultados obtidos no projeto como um todo foram:

1-Ao contrário do esperado, não foi verificado tendência de redução de


chuva nas áreas estudadas representadas pelos municípios de Altamira, Marabá,
Itaituba, Belém, Tomé-Açu, Oriximina e Monte-Alegre .Tomando-se por exemplo
o município de Altamira localizado na região da Transamazônica, uma das
áreas de maior concentração de desmatamento no Estado do Pará, verificou-se
Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

que a regressão linear para um série de mais de 60 anos, indicou um pequeno


aumento nos totais anuais e mensais de chuva.
2-A análise de propriedades físicas químicas e biológicas de solo sob
diversos sistemas de uso da terra no Nordeste paraense e na região do Baixo
Amazonas no Estado do Pará, mostrou que para as áreas estudadas o uso
intensivo do solo pelo setor agroflorestal, não causou mudanças drásticas em
suas principais propriedades levando-se a crer que os solos representativos da
região, apesar da baixa fertilidade natural, podem ser cultivados por longo tempo
com sucesso, observando-se as devidas práticas de manejo.
3- A avaliação das modificações na paisagem associada a atividades
agrícolas envolvendo geoprocessamento em áreas do Nordeste paraense, nas
microrregiões Bragantina (período 1985-95) e Tomé-Açu (período 1991-95),
mostrou que no tocante a distribuição de classes de uso das terras, as áreas com
vegetação secundária representaram o padrão dominante na paisagem sendo
que em termos de utilização, as áreas de pastagem foram as mais utilizadas.
Dentro do enfoque do projeto foram gerados 20 trabalhos técnico
científicos, envolvendo principalmnte, artigos e resumos para anais de
congressos, boletim de pesquisa e dissertação de mestrado. Possibilitou ainda a
melhoria de capacitação técnica de pesquisadores participantes do projeto, bem
como de estudantes de graduação, além de melhoria de condições de
instrumentação dos laboratórios de Climatologia e Sensoriamento Remoto da
Embrapa Amazônia Oriental

PROBLEMA

O projeto foi baseado na hipótese de que o desmatamento para fins


agrícolas pode acarretar reflexos negativos no clima, na biodiversidade, nas
propriedades do solo e nos processos de regeneração florestal e considerando
que tais problemas na Amazônia, embora amplamente debatidos por assumirem
na atualidade importância global e pela natureza dinâmica necessitam ser mais
estudados, considerando os seguintes aspectos:
Em termos de clima e sua repercussão no ciclo hidrológico, a preocupação
é decorrente da hipótese de que a floresta amazônica exerce papel importante no
sistema climático global e essa hipótese preocupa cientistas do mundo todo
principalmente porque tem sido prognosticado que o desmatamento na
Amazônia terá efeito prejudicial no clima local e de outras regiões (Lean et al.,
1989). Embora importantes estudos vem sendo conduzidos objetivando
prognosticar o efeito do desmatamento no clima das regiões tropicais incluindo
a Amazônia, usando diferentes modelos de simulação envolvendo a circulação
atmosférica em grande escala e medidas micrometeorológicas e fitoecológicas
para ajustes dos modelos (Molion, 1987; Salati et al., 1984; Shttleworth et al.,
1991; Salati et al., 1991), sabe-se todavia que até o presente não se tem ainda
disponível nenhum modelo capaz de prognosticar com eficiência o efeito provável
do desmatamento sobre o clima da Amazônia e sua interação com o clima global

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

e por outro lado na região predomina grande incerteza no meio rural sobre o que
na atualidade está ocorrendo com o clima regional.
Com relação aos solos, é sabido que os problemas edáficos decorrentes do
desmatamento para uso agrícola provocam também mudanças locais e imediatas
nas diferentes etapas do ciclo hidrológico com reflexos na produtividade de
áreas reflorestadas (Likens et al.,1977; Ranzani, 1990) que começam com a ação
conjunta e destrutiva da água. Durante as precipitações pluviométricas intensas,
o impacto das gotas de chuva e salpico, provocam a remoção de partículas do
solo que encontram-se expostas logo após a retirada da vegetação original
(Barbosa, 1961) e assim os ciclos fechados dos nutrientes são quebrados, e a
superfície do solo é exposta aos raios solares que afetam entre outros fatores a
temperatura e a umidade do solo, a atividade microbiológica e favorece ainda a
lixiviação das bases e a erosão (Hulugale et al., 1986; Sanchez et al., 1987). Tem
sido ainda argumentado por vários autores que após a queima da floresta a
fertilidade do solo é elevada pela adição de nutrientes, e o valor do pH é
aumentado. Como essa melhoria é feita de uma só vez, há o comprometimento
de vários fatores e o rápido declínio da capacidade produtiva do solo,
principalmente com a utilização intensiva pela agricultura, podendo criar
condições desfavoráveis para o processo de sucessão secundária (Moran et al,
1993). Sobre o aspecto da regeneração secundária tem sido preconizado que a
substituição da floresta amazônica por atividades agrícolas além de alterar o
clima local em termos de aumento de temperatura e redução na evapotranspiração
e precipitação pluviométrica, praticamente inviabiliza a regeneração da flora
local (Shukla et al., 1990).
No tocante a dinâmica da paisagem, verifica-se que as alterações de origem
antrópica na paisagem amazônica vem sendo também motivo de preocupação
em vários segmentos da sociedade e envolvem em linhas gerais, a velocidade de
ocupação do espaço, o aproveitamento dos recursos naturais disponíveis e a
degradação desse espaço pela má utilização desses recursos. Os esforços da
pesquisa para esclarecer e minimizar vários desses problemas, muitas vezes
sofrem com a carência de informações convergentes sobre recursos naturais. Por
exemplo, a estimativa real do desmatamento das florestas tropicais, incluindo a
da Amazônia brasileira é questionável face a dinâmica do processo em si e das
dificuldades decorrentes do monitoramento provocado por vários fatores tais
como: interpretação de imagens de satélite, testes de campo, diferenças em
fitomassa e na arquitetura das copas (Moran et al., 1993)

OBJETIVO DA PESQUISA

O objetivo geral da pesquisa foi avaliar alterações nas condições climáticas


e edáficas após o desmatamento e uso intensivo do solo e sua influência na
dinâmica da regeneração florestal e ciclo hidrológico em áreas representativas
da região Amazônica. Em termos específicos foram três objetivos abaixo
discriminados, todos envolvendo ações de pesquisa de campo e de laboratórios.

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

1-Avaliar alterações no regime pluviométrico e sua influencia no ciclo da


água, em áreas agrícolas representativas do Estado do Pará;
2-Avaliar modificações nas propriedades físicas, químicas e biológicas
dos solos submetidos a diversos sistemas de uso da terra durante vários anos no
Estado do Pará; e
3-Analisar a dinâmica da paisagem de áreas com expressivo
desenvolvimento agrícola no Estado do Pará, utilizando técnicas de
geoprocessamento

METODOLOGIA

O estudo se concentrou no Estado do Pará e durante a condução do projeto


levou-se em consideração várias ações de pesquisa envolvendo abordagens
climática, edáfica e multitemporal, cujos principais aspectos foram:
Abordagem climática: O estudo envolveu levantamento de dados
meteorológicos de estações existentes para a composição de séries históricas
pluviométria de áreas de contrastes quanto a cobertura vegetal natural
predominante em termos de grande e pequena concentração de desmatamento,
bem como coleta de dados meteorológicos de estações da Embrapa Amazônia
Oriental. Dentro das áreas consideradas como de grande concentração de
desmatamento estudou-se os municípios de Altamira, Marabá, Itaituba,
integrantes da região da Transamazônica e Tomé-Açu e Belém, componentes da
região do Nordeste paraense. Para as áreas consideradas sob pequena pressão
de desmatamento, os municípios estudados foram Monte-Alegre e Oriximiná,
situados na região do Médio Amazonas paraense.
Dentro dessa abordagem foram efetuados levantamento e armazenamento
de dados meteorológicos, caracterização de regimes pluvuiométricos incluindo
vários aspectos da variação das chuvas ao longo do tempo, tais como: flutuação
de valores mensais extremos; tendência das chuvas em termos anuais e mensais;
duração de períodos das chuvas, considerando a efetividade das chuvas em
função da evapotranspiração de referencia e resultados de balanço hídrico
climático e flutuação de totais de chuva nos trimestres mais e menos chuvosos.
Efetuou-se ainda análise climática complementar para o Nordeste paraense no
que concerne a: 1- análise da distribuição de intensidade máxima de chuva em
24 horas, determinação da direção e velocidade do vento e radiação solar global,
analise da chuva associada ao calendário agrícola e produção de biomassa
(liteira).
Abordagem edáfica: Esse estudo consistiu em efetuar a avaliação das
modificações físicas, químicas e biológicas, utilizando amostras da camada arável
de solos do tipo Latossolo Amarelo, texturas média e muito argilosa,
(representativos da região Amazônica) e Terra Roxa Eutrófica de Alenquer
submetidos a diversos sistemas de uso em propriedades rurais. Para tanto, foram
estudados mais de cinqüenta agrossistema localizados no Nordeste paraense
nas regiões Bragantina, Salgado, Guajarina e Tomé-Açu e na região do Médio
Amazonas paraense, nos municípios de Santarém, Alenquer e Monte-Alegre,

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

envolvendo levantamento histórico do uso da terra com atividaes agrícolas e


coleta de amostras para analises físicas e químicas de solo. No laboratório foram
determinados os seguintes parâmetros: granulometria, porosidade, densidade
aparente, determinação da curva de retenção de umidade e os níveis atuais de C,
N, relação C/N, MO, pH, Al, Ca, Mg, K, e P, além do cálculo dos valores de
saturação de bases, saturação de aluminio e capacidade de troca cationica. As
análises biológicas, consistiram de coleta de amostras de solos dos mesmos
agrossistemas utilizados para as análises físicas e químicas. Dessas amostras
foram executadas as seguintes atividades:1- separação de material para extração
de poros dos fungos micorrízicos vesiculares – arbusculares e multiplicação
dos mesmos em vasos-de-cultivo, três meses após o plantio. 4- estabelecimento
de novos vasos-de-cultivo, através da deposição dos esporos de cada espécie
isolada visando obtenção de cultivo puro das espécies para futura identificação
ao nível de espécies e teste de eficiência em promover o crescimento das culturas.
Abordagem multitemporal: Este estudo visou analisar a dinâmica da
paisagem com utilização integrada de sensoriamento remoto multitemporal,
sistemas de informação geográfica e banco de dados no Nordeste paraense, em
áreas das microrregiões Bragantina e Tomé-Açu. As principais atividades
desenvolvidas prenderam-se aos seguintes aspectos: 1- seleção de quatro módulos
de estudo de 12 x 16 Km sendo dois módulos para cada microrregião de interesse.
Tais áreas apresentam forma de uso da terra distintos e de grande
representatividade no contexto da paisagem agrícola do Nordeste paraense. 2-
levantamento de informações sobre as áreas de interesse. 3- tratamento e análise
do conjunto de dados e informações georeferenciadas conduzidos nos softwares
SITIM e SPRING. 4- Armazenamento de dados oriundos de cartas topográficas
e dos mapas selecionados a partir de digitalização dos diversos temas. 5-
processamento de dados digitais (imagem de satélite Landsat, bandas TM 3, 4, e
5) em diferentes etapas visando a geração de informações temáticas relativas á
vegetação e ao uso da terra nos anos considerados, 1985 e 1995 para a região
Bragantina e 1991 e 1995 para a região de Tomé-Açu. 6- Realização de trabalho
de campo para caracterização das áreas estudadas e levantamento
socioeconômico. 7- caracterização multitemporal da paisagem a partir de
cruzamento entre imagens classificadas para a vegetação e uso da terra.

RESULTADOS E IMPACTOS

Os principais resultados obtidos dentro dos temas estudados estão abaixo


discriminados:

Tema:Clima

1-A variabilidade temporal de valores extremos de chuva em Altamira,


uma das áreas de grande concentração de desmatamento no Estado do Pará,
mostrou que os valores máximos e mínimos pluviométricos mensais observados,
entre dois períodos de mais de trinta anos, estiveram dentro da mesma ordem de

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

grandeza, com exceção do mês de dezembro, cujo valor máximo na série mais
recente foi bem mais elevado do que o valor assinalado na série anterior
2- Ainda para a região de Altamira, em termos de tendência, obteve-se o
seguinte resultado: A regressão linear da serie de 60 anos ao contrario do que se
esperava, indicou um pequeno aumento nos totais de chuva em termos de ano e
meses com as pendentes da tendência linear apresentando os seguintes valores:
ano+8mm. Variação entre os meses +0.02mm (setembro) e+1.84mm
(janeiro).Valores de pendentes acima de +1, foram também observados nos meses
de março (1.45) e dezembro (1.48). A Figura 1 ilustra a tendência das chuvas
para o mês de janeiro em Altamira. Esta análise indica que não há redução de
chuvas na área de estudo, porém um pequeno aumento no regime pluviométrico.
Este resultado concorda com análises prévias efetuadas para outras áreas da
Amazônia, por Bastos et al (1993) e Chu et al (1994).

Figura 1- Flutuação da chuva em Altamira. Período 1929-1993

3- A flutuação da duração em meses de períodos de chuva em distintos


intervalos de tempo, que retratam épocas, onde ocorreram processos lentos e
acelerados de desmatamento nos municípios de Belém, Altamira, Itaituba e
Marabá foi acentuada. Houve variação na duração dos diferentes períodos de
chuva, em todos os intervalos de tempos estudados, notadamente no período
chuvoso. Observou-se ainda certas características com relação a esses períodos
que diferenciam o regime de chuvas nas áreas estudadas tais como: a) o período
chuvoso em geral atinge mais de seis meses em Belém e é nesse local que ocorre
a maior flutuação de duração entre os anos, podendo variar de 5meses ( situação
observada em 1922 e1987) a 11 e 12 meses ( situações observadas em 1933,
1949, 1959, 1975, 1980, 1988 e 1993). Nos demais locais a oscilação esteve entre
3 e 8 meses. b) Os períodos de estiagem e seca oscilaram entre zero e 6 meses,
sendo que Belém e Itaituba apresentaram as maiores flutuações de duração do
período de estiagem. Com relação ao período de seca, Belém apresentou a menor
oscilação, que variou entre zero e 3 meses, sendo a ausência de seca a situação
mais observada em Belém. c) O período de transição foi o que assinalou menor

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

flutuação de duração entre os anos, variando entre zero e 3 meses, em todas as


localidades estudadas.
4- A flutuação de totais de chuva em Belém, Altamira, Itaituba e Marabá
nos trimestres mais e menos chuvosos, em diferentes intervalos de tempo para
as áreas de estudo, mostrou que em geral houve aumento da pluviosidade nas
áreas estudadas em intervalos de tempo mais recente (ver Figura 2).

Figura 2- Mudança em totais de chuva em mm, trimestre mais chuvoso(T+CHU) e


trimestre menos chuvoso (T-CHUV) para quatro locais e diferentes períodos de
tempo: Belém: 1(1896/1922), 2(1931/1960), 3(1967/1995), 4(1981-1990);
Altamira: 5(1929/1960), 6(1960/1993), 7(1981-1990); Itaituba: 8(1928/1937), 9
(1981-1990); Marabá: 10(1952-1958), 11(1981-1990)

5- A análise de intensidade máximas de chuva de 24 horas em Belém,


durante 30 anos (1967-96), associadas a sazonalidade das chuvas mostrou que
os valores das máximas de 24 horas da série anual oscilaram entre 49mm(1983)
e 136mm (1985) sendo o tempo médio de retorno para o valor mais elevado de
30 anos. A época de ocorrência de maior freqüência das máximas em 24 horas
correspondeu ao trimestre mais chuvoso (fevereiro, março e abril). Para todas as
séries analisadas ( anual e mensais), não foi observado tendência de redução ou
aumento das chuvas máximas em 24 horas.
6- A flutuação das chuvas associadas a produção de biomassa (liteira),
em duas áreas de contraste, sendo uma em área de mata primária e outra em
período de sucessão (capoeira de sete anos) no município de Tomé - Açu, embora
os resultados obtidos sejama insuficientes para uma análise mais detalhada,
mostram que em geral a produção desse tipo de biomassa foi mais elevada na
área de mata, principalmente durante o trimestre menos chuvoso.
Como pode ser observado, a análise da flutuação das chuvas nas áreas
estudadas associadas ao desmatamento para fins agrícolas, não mostrou sinais
de redução de chuva. Tais resultados concordam com estudos prévios realizados
na região por Bastos et al (1993) e Chu et al (1994). Fisch et al (1998), revisando
vários aspectos do clima da Amazônia, comentam dentro do contexto das
variações climáticas de longo prazo que até essa data, há pouca evidência
observacional de mudança climática na região.

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

Tal situação pode estar associado a vários aspectos entre os quais pode-se
citar: 1- Limitações decorrentes de métodos de análise de chuva tanto estatístico
como dos modelos de simulação que preconizam redução das chuvas na região
( Bruijnzeel,1996). 2- O total da área desmatada na região é ainda insuficiente,
para causar qualquer alteração no regime da chuva. 3 – A regeneração da
vegetação ocorre de maneira acelerada na Amazônia (Hall et al, 1991; Moran et
al, 1992) reduzindo dessa feita o impacto do desmatamento no clima regional.

Tema: Solo

A análise de propriedades físicas químicas e biológicas de solo sob


diversos sistemas de uso da terra) , embora não tenham apresentado no geral
variações significativas mostrou em algumas situações modificações visíveis
após a retirada da floresta e variaram em função do preparo da área, tratos
culturais e cultura tecnológica do produtor. As situações abaixo descritas mostram
os resultados obtidos para o Nordeste paraense (região Bragantina) com relação
aos aspectos físicos e químicos para 23 agrossistemas analisados incluindo
áreas de floresta e pousio (capoeiras de um e dois anos)

Aspectos Físicos

1-O teor de argila apesar de apresentar diferença estatística significante


entre as áreas, apresentou-se quase sempre dentro da mesma classe textural de
solo (de até 15%), sendo as únicas exceções as áreas com cultivo de laranja e
seringueira, que apresentaram 18% e 16% de argila respectivamente.
2-A capacidade de campo foi maior em cultivo com seringueira (28,6%) e
menor em capoeira de dois anos (8%). Em áreas de floresta a capacidade de
campo oscilou entre 21,8% e 19,7% respectivamente.
3-O ponto de murcha foi mais alto em área com cultivo de laranja (9,4%)
e mais baixo em área com dendê (3%). As áreas de floresta apresentaram valores
variando entre 8,6% e 6,3%.
4-A capacidade de armazenamento de água disponível foi maior em
seringal (20,9%) e menor em capoeira de dois anos (4,1%). Em áreas com floresta,
oscilou entre 13,2% e 13,3%.
5-5- A porosidade total foi maior em área de pastagem de quicuio e capim
braquiarão (46%) e menor em cultivo de laranja (35%). Em áreas com floresta a
porosidade foi de 41%
6-A microporosidade foi maior em seringal (33%) e menor em capoeira de
dois anos (17%). Em áreas com floresta, oscilou entre 25% e 26%.
7-A macroporosidade foi maior em capoeira de dois anos (27%) e menor
em seringal (6%). Em áreas de floresta oscilou entre 15% e 16%.
8- A densidade aparente foi mais alta em cultivo de laranja (1,7 g/cc) e
mais baixa nas áreas com capoeira de dois anos, cacau e pastagem (1,4 g/cc).
Em áreas de floresta a densidade foi de 1,5 g/cc.

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

Aspectos químicos

1-Os níveis de fósforo oscilaram entre 2 ppm (áreas de floresta) e 39 ppm


(área com cacau), sendo que outras áreas com cacau, dendê, laranja e seringal
apresentaram teores médios, oscilando entre 11 ppm e 30 ppm.
2-Os níveis de potássio e cálcio não apresentaram diferenças significativas
entre os agrossistema estudados. Os níveis de potássio oscilaram entre 9 ppm
(área com laranja) e 36 ppm (área com mandioca), enquanto que nas áreas com
floresta variaram entre 15 ppm e 17 ppm. Os níveis de cálcio foram sempre
muito baixos oscilando entre 0,6 meq e 0,7 meq em áreas de floresta e 3,0 meq em
seringal.
3-O alumínio responsável pela acidez nociva e toxidez do solo, apresentou
níveis toleráveis (menor de 0,3 meq) nas áreas com dendê, laranja, urucu, sistema
agroflorestal, seringueira e pastagem enquanto que as áreas com floresta e cacau
apresentaram as maiores concentrações 0,9 meq e 1,0 meq respectivamente.
4-Os valores obtidos de pH apesar de não terem acusado diferença
estatística significativa, encontram-se nas seguintes faixas: a) excessivamente
ácido (menor que 4,5) em áreas com cacau (19 anos), floresta e agrofloresta. b)
muito fortemente ácido (4,5 e 5,0) em áreas com cacau (22 anos), pastagem (5
anos de quicuio), cupuaçu, urucu, seringueira e pastagem (16 anos de quicuio e
capim braquiarão) e c) fortemente ácido (5,1 e 5,5) áreas com dendê, capoeira de
dois anos, laranja, capoeira de um ano, pastagens (de cinco e 16 anos de quicuio)
e em cultivo de mandioca.
5- Os valores de nitrogênio, na maioria dos agrossistemas
apresentaram-se com teores baixos (menos que 0,08%). Apenas as áreas com
pastagem de 16 anos de quicuio e capim braquiarão, e seringais apresentaram
teores médios (de 0,80 a 0,15%).
6- Os teores de carbono oscilaram entre 0,06% (pastagem com 5 anos de
quicuio) e 1,50 % (seringal), sendo que a maioria dos agrossistemas apresentaram
teores médios (entre 0,80 e 1,50% ). Nas áreas de floresta, os teores de carbono
oscilaram entre 1,20 % e 1,26 %.

Aspectos biológicos

A avaliaçãpo das alterações na densidade de esporos de fungos


micorrízicos arbusculares em 24 agrossistemas do Médio Amazonas nos
municípios de Santarém, Belterra e Alenquer abaixo relacionados, mostrou que
a densidade de esporos variou de 4 a 384 por 100g de solo, sendo a maior media
de 299 e a menor de 12 esporos por 100g de solo encontrados nos solos das áreas
cobertas por macega e floresta respectivamente. Foi encontrada grande variação
em números de esporos recuperados das amostras de solo do mesmo ecossistema,
coletadas em diferentes locais. Entre os agrossistemas, a densidade de esporos
em solo de macega foi maior, embora estatisticamente não tenha diferenciado
daquelas de pastagem, capoeira e laranjal.

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

Não foram observadas correlações entre a densidade de esporos e as


propriedades químicas e físicas do solo, entretanto o tipo e a idade da vegetação
influenciaram os números de esporos recuperados.
Denominação dos agrossistemas estudados no Médio Amazonas: 1-
roçado queimado, 2- roçado de 1 ano, 3- roçado de 2 anos, 4- macega com 49,3%
de argila total, 5 – macega com 36,7% de argila total ( a macega ocorre em áreas
abandonadas após dois a três anos de cultivo, quando o solo se encontra no
inicio de degradação. A vegetação é composta de plantas invasoras: malícia,
capim-sapé, capim gengibre, vassoura- de- botão e lacre) 6- pastagem de dois
anos, 7- pastagem de sete anos, 8- laranjal 14 anos, 9- cafezal 14 anos, 10-
capoeira 5 anos com 46,7% de argila total, 11- capoeira de 5 anos com 43,3% de
argila total, 12- capoeira de 15 anos, 57,3% de argila total, 13- capoeira de 15
anos com 46% de argila total, 14- capoeira de 25 anos, 15- capoeira de 50 anos
com 68,7% de argila total, 16- capoeira de 50 anos com 64% de argila total, 17-
capoeira de 60 anos, 18- capoeira de 70 anos, 19 – floresta com 57,3% de argila
total, 20 floresta com 42% de argila total , 21- cacaual de 20 anos, 22- capoeira de
15 anos com 37% de argila, 23- floresta com 26,7% de argila, 24 - pastagem de 30
anos.
Os agrossistemas de 1 a 20 estão sobre Latossolo Amarelo Alico muito
argiloso e os demais sobre Terra Roxa em Alenquer

Tema: Multitemporal

A quantificação das classes temáticas para a região Bragantina,


representadas pelos módulos Tauari (município de Capanema) e Prata (município
de Igarapé-Açu) em 1985 e 1995 e para a região de Tomé-Açu, representadas
pelos módulos Tucumandeua e Quatro Bocas em 1991 e 1995, mostrou a seguinte
situação:
1-A vegetação secundária é o padrão dominante nos anos considerados
para ambas as áreas estudadas, sendo a classe capoeira alta a de maior
representatividade na região Bragantina nos anos estudados e em 1995 em Tomé-
Açu.
2-Na região Bragantina no módulo Prata, as áreas de vegetação secundária
variaram entre os anos considerados, em torno de 3% do total classificado,
enquanto que no módulo Tauari, oscilou torno de 60% do total classificado em
1985, para 54% em 1995, verificando-se assim, uma redução das áreas de capoeira
no período de dez anos. Nas áreas de mata, foi observado uma redução entre os
anos de interesse, sendo em torno de 1% para o módulo Tauari e de 5% para o
módulo Prata.
3-Na região de Tomé-Açu, no módulo Tucumandeua, as áreas de capoeira
atingiram valores superiores a 41% da área total, enquanto no módulo Quatro-
Bocas foi registrado um valor mínimo em torno de 45% do total.
4-No contexto da dinâmica das classes de vegetação e uso da terra foi
observado comportamento similar entre as microrregiões estudadas, no caso da
floresta primária que foi a classe de vegetação que apresentou maior porcentagem

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Alterações Biofísicas Associadas ao uso de
Atividades Agrícolas na Amazônia Oriental

de estabilidade. Em Tomé-Açu, mais da metade do total das áreas de floresta


primária permaneceram com este padrão no período analisado, porém tais valores
de estabilidade foram inferiores aos obtidos na região Bragantina. Para ambas
regiões em se tratando de uso da terra a classe que apresentou maior estabilidade
foi a pastagem. Verificou-se porém que devido a perda gradativa da
produtividade nas pastagens, houve tendência das áreas ocupadas com pasto
limpo serem convertidas para pasto sujo e estas evoluírem para o padrão de
capoeira baixa.
Com relação ao impacto que esse tipo de estudo pode ocasionar, pode-se
dizer que para o meio rural, dentro do contexto climático, os resultados indicam
redução de incertezas quanto ao risco climático para o calendário de cultivo e
demais atividades agrícolas que são dependentes do regime das chuvas, visto
que não foi detectado redução das chuvas nas áreas estudadas . Dentro do
contexto de solo, a análise de propriedades físicas químicas e biológicas de solo
sob diversos sistemas de uso da terra, mostrou que para as áreas estudadas o
uso intensivo do solo pelo setor agroflorestal, não causou mudanças drásticas
em suas principais propriedades levando-se a crer que os solos representativos
da região, apesar da baixa fertilidade natural, podem ser cultivados por longo
tempo com sucesso, observando-se as devidas práticas de manejo e no caso das
modificações da paisagem, foram geradas informações que apresentam
potencialidade para subsidiar o planejamento político e econômico do uso da
terra para as áreas estudadas, contribuindo dessa forma para a redução do
desmatamento na região. Para o meio científico, , os resultados obtidos
contribuirão para ampliar o nível de informações com relação a estudos ligados
as mudanças globais envolvendo aspectos climáticos, edáficos e da dinâmica
da paisagem na Amazônia.

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EQUIPE

Therezinha Xavier Bastos (COORDENADORA), Ítalo C. Falese,Orlando


dos S. Watrim, Antonio R. C. Baena, Luiz Guilherme T. Silva, Sandra Sampaio,
Adriano Venturieri, Elizabeth Chu,Tatiana Sá,Silvane Rodrigues,Nilza A. Pacheco

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