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CAPÍTULO VI

AS LIMITAÇÕES DO

REALISMO

o DESMASCARAMENTO, pela crítica realista, da fragilidade do edi­


fício utópico é a primeira tarefa do pensador político. Somente
quando a simulação for demolida que poderá haver alguma es­
perança de erigir-se uma estrutura mais sólida em seu lugar. Mas
não podemos, como medida final, acomodar-mo-nos no realis­
mo puro. O realismo, embora preponderante em termos lógicos,
não nos dá as fontes de ação que são necessárias até mesmo
para o prosseguimento do pensamento. Com efeito, o próprio
realismo, se o atacarmos com suas próprias armas, freqüente­
mente se revela, na prática, como tão condicionado quanto qual­
quer outra forma de pensamento. Na política, a crença de que
certos fatos sejam inalteráveis, ou certas tendências irresistíveis,
normalmente reflete uma falta de desejo, ou de interesse, em
mudá-los ou resistir a eles. A impossibilidade de se ser um rea­
lista consistente e completo é uma das mais corretas e curiosas
lições da ciência política. O realismo consistente exclui quatro
coisas que parecem ser ingredientes essenciais de todo pensa­
mento político eficaz: um objetivo finito, um apelo emocional,
um direito de julgamento moral e um campo de ação.
A concepção da política como um processo infinito parece,
a longo prazo, incompativel ou incompreensível para a mente
humana. Todo pensador político que deseja atrair seus contem­
porâneos é, consciente ou inconscientemente, levado a estabe­
lecer um objetivo finito. Treitschke afirmava que a "coisa terrí­
vel" sobre os ensinamentos de Maquiavel não era "a imoralidade
dos métodos que recomenda, mas sim a falta de conteúdo do
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Estado, que existe apenas por existir"1. De fato, Maquiavel não


é tão consistente. Seu realismo se desmorona no último capítu­
lo de O Príncipe, que se intitula "Uma Exortação para Libertar a
Itália dos Bárbaros". É um objetivo cuja necessidade não pode
ser deduzida de nenhuma premissa realista. Marx, tendo dissol­
vido o pensamento e a ação humanos no relativismo da dialética,
postula o objetivo absoluto de uma sociedade sem classes, onde
a dialética não mais opera - esse acontecimento longínquo para
o qual, à moda verdadeiramente vitoriana, ele acreditava que
toda a criação estivesse se movendo. O realista, pois, acaba por
negar seu próprio postulado e por presumir uma realidade últi­
ma fora do processo histórico. Engels foi um dos primeiros a
levantar esta acusação contra Hegel. "Declara-se ser todo o con­
teúdo dogmático do sistema hegeliano verdade absoluta, em
contradição com seu método dialético, que dissolve todo
dogrnatismo"; Mas Marx se expõe precisamente à mesma crítica
quando leva o processo do materialismo dialético a um fim com
a vitória do proletariado. Assim, a visão utópica penetra a cida­
dela do realismo e, vislumbrar um contínuo, mas não infinito,
processo de avanço no sentido de um objetivo finito revela-se
uma condição do pensamento político. Quanto maior a pressão
emocional, mais próximo e mais concreto é o objetivo. A Pri­
meira Guerra Mundial tornou-se tolerável pela crença de que
era a última das guerras. A autoridade moral de Woodrow Wil­
son foi construída sobre a convicção, compartilhada por ele pró­
prio, de que ele possuía a chave para a cura justa, final e
abrangente dos males políticos da humanidade. É digno de nota
o fato de que quase todas as religiões concordam ao postularem
um estado final de completa bem-aventurança.
O objetivo finito, assumindo o caráter de uma visão
apocalíptica, adquire uma atração emocional e irracional, que o
próprio realismo não pode justificar ou explicar. Todos conhe-

I Treitschke, Auftiitze, iv, pág. 428.


2 Engels, Ludwig Foarbacb (trad. ingl.) , pág. 23.
As limitações do realismo 119

cem a famosa previsão de Marx sobre o futuro paraíso sem


classes:

"Quando o trabalho deixar de ser simplesmente um meio de vida e se


tornar a primeira necessidade da vida; quando, com o completo de­
senvolvimento do indivíduo, as forças produtivas igualmente se de­
senvolverem, e todas as fontes da riqueza coletiva jorrarem em livre
abundância - somente então - será possível transcender completa­
mente o estreito horizonte do direito burguês, e a sociedade escreverá
em seu estandarte: De cada um segundo sua capacidade, a cada um
segundo suas necessidades't'.

Sorel proclamou a necessidade de um "mito" para tornar


eficaz a pregação revolucionária. A Rússia Soviética explorou,
com este propósito, o mito, primeiramente da revolução mundi­
al, e mais recentemente, da "pátria socialista". Há muito o que
se dizer em favor da opinião do Professor Laski, de que "o co­
munismo progrediu por seu idealismo, e não por seu realismo,
por sua promessa espiritual, e não por suas perspectivas materi­
alistas?". Um teólogo moderno analisou a situação com uma pers­
picácia quase cínica:

"Sem as esperanças supra-racionais e as paixões da religião, nenhuma


sociedade terá a coragem para vencer o desespero e tentar o impossí­
vel; pois a visão de uma sociedade justa é uma visão impossível, que
só pode ser aproximada pelos que não a acharem impossível. As mais
verdadeiras visões da religião são ilusões, que podem ser parcialmente
realizadas se se acreditar resolutamente nelas'?",

Novamente, essa afirmação é quase igual a uma passagem


de Mein Kampf, na qual Hitler contrasta o "planejador" com o
político:

3 Marx e Engels, Works Cedo russa), xv, pág. 275.

.. Laski, Communism, pago 250.

5 R Niebuhr, Moral Man and Immoral Sodery, pág. 81

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"Seu (isto é, do planejador) significado repousa quase to­


talmente no futuro, e ele é, freqüentemente, o que se entende
pela palavra weltfremd (não-prático, utópico). Pois se a arte da
política for realmente a arte do possível, então o planejador per­
tence ao grupo dos que se diz que agradam os deuses somente
se pedirem e exigirem deles o impossível'".
Credo quia impossihile tornou-se uma categoria de pensamento
político.
O realismo consistente, como já se notou, envolve a acei­
tação de todo o processo histórico e exclui julgamentos morais
sobre ele. Como vimos, os homens estão geralmente preparados
para aceitarem o julgamento da história sobre o passado, elogian­
do o sucesso e condenando o fracasso. Este teste é, também, lar­
gamente aplicável à política contemporânea. Instituições tais
como a Liga das Nações, ou os regimes soviético e fascista, são
em grande parte julgadas por sua capacidade em atingir o que
afirmam atingir; e a legitimidade desse teste é implicitamente
admitida pela própria propaganda delas, que constantemente
procura exagerar seus sucessos e minimizar seus fracassos. Con­
tudo, está claro que a humanidade, como um todo, não está pre­
parada para aceitar esse teste racional como uma base univer­
salmente válida de julgamento político. A crença de que o que
quer que aconteça está sempre certo, e deve ser apenas devida­
mente entendido para ser aprovado, deve ser sustentada de modo
consistente, eliminando-se os pensamentos voltados para obje­
tivos, e assim esterilizando-o e finalmente destruindo-o. Aque­
les, cuja filosofia parece excluir a possibilidade de julgamentos
morais, nem por isso deixam de fazê-lo. Frederico, o Grande,
tendo explicado que os tratados devem ser cumpridos, pela ra­
zão de que "só se pode trapacear uma vez", segue escrevendo
que a quebra de tratados é "uma política má e velhaca", embora
não exista nada em sua tese que justifique o epíteto moral". Marx,

(, Hitler, Mein Kalllpj, pág. 23l.


- /lllli-Maq/(iat'e1, pág. 248.
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cuja filosofia parecia demonstrar que os capitalistas só poderi­


am agir de uma certa maneira) gasta muitas páginas - algumas
entre as mais brilhantes de O Capital - para denunciar a cruel­
dade dos capitalistas por agirem precisamente dessa maneira. A
necessidade) reconhecida por todos os políticos) seja em assun­
tos internos ou internacionais) de disfarçar interesses sob as
vestes de princípios morais é) por si só) um sintoma da insufici­
ência do realismo. Toda época reclama o direito de criar seus
próprios valores) e de fazer julgamento à luz deles; e mesmo
quando se utiliza armas realistas para dissolver outros valores)
ainda acredita no caráter absoluto de seus próprios valores. Re­
cusa-se) portanto) a aceitar a afirmação do realismo de que a
expressão "dever ser" é uma expressão sem sentido.
Acima de tudo) o realismo consistente falha porque deixa
de oferecer qualquer campo para a ação voltada para objetivos
e significados. Se a seqüência de causa e efeito for suficiente­
mente rígida para permitir a "previsão cien tífica" dos aconteci­
mentos) se o nosso pensamento for irrevogavelmente condicio­
nado por nosso status e nossos interesses) então tanto a ação
quanto o pensamento se tornam desprovidos de objetivo. Se)
como Schopenhauer sustenta) "a verdadeira filosofia da história
consiste na compreensão de que) através do emaranhado de to­
das essas mudanças incessantes) temos diante dos olhos o mes­
mo ser imutável) que segue o mesmo rumo hoje) ontem e para
sempre?", então a contemplação passiva é tudo o que resta ao
indivíduo. Tal conclusão é claramente repugnante à mais pro­
funda crença do homem sobre si mesmo. Que os assuntos huma­
nos possam ser dirigidos e modificados pela ação e pelo pensa­
mento humanos é um postulado tão fundamental) que sua rejeição
parece ser dificilmente compatível com a sua própria existência
como ser humano. De fato) esse postulado também não é rejei­
tado pelos realistas que deixaram sua marca na história.

8 Schopenhauer, U7e1t ais U7i1/e IInd Vorstellung, II, ch. 38.


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Maquiavel, quando exortou seus compatriotas a serem bons ita­


lianos, claramente estava pressupondo que eles eram livres para
seguirem ou ignorarem seu conselho. Marx, um burguês por nas­
cimento e educação, se acreditava livre para pensar e agir como
um proletário, e via, como sua missão, a de persuadir outros,
que presumia serem igualmente livres, a pensar e agir da mesma
forma. Lenin, que escreveu sobre a iminência da revolução mun­
dial como uma "previsão científica", admitiu, em outra parte,
que "não existe situação alguma que não possua, em absoluto,
nenhuma saída?", Em momentos de crise, Lenin apelava a seus
seguidores em termos que bem poderiam ter sido usados por um
crente tão radical no poder da vontade humana como Mussolini,
ou por qualquer outro líder em qualquer período: "No momento
decisivo, e no lugar decisivo, você tem de provar ser o mais for­
te, você precisa ser um vencedor"?". Todo realista, qualquer que
seja sua crença, é por fim compelido a crer não somente em que
existe algo que o homem deve pensar e fazer, mas ainda que
existe algo que o homem pode pensar e fazer, e que este pensa­
mento e esta ação não são mecânicos nem desprovidos de
sentido.
Voltamos, portanto, à conclusão de que qualquer pensamen­
to político lúcido deve basear-se em elementos tanto de utopia,
quanto de realidade. Onde o pensamento utópico tornou-se uma
impostura vazia e intolerável, que serve simplesmente como um
disfarce para os interesses dos privilegiados, o realista desem­
penha um serviço indispensável ao desmascará-lo. Mas o puro
realismo não pode oferecer nada além de uma luta nua pelo po­
der, que torna qualquer tipo de sociedade internacional impos­
sível. Tendo demolido a utopia atual com as armas do realismo,
ainda necessitamos construir uma nova utopia para nós mes­
mos, que um dia haverá de sucumbir diante das mesmas armas.

9 Lenin, Work.r (2.a ed. russa), XXV, pág. 340.


10 Lenin, Colleded Work.r (trad. ingl.), XXI, pág. 68.
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A vontade humana continuará a procurar uma saída para as con­


seqüências lógicas do realismo na visão de uma ordem interna­
cional que, ao se cristalizar numa forma política concreta, tor­
na-se eivada de interesse egoísta e hipocrisia devendo, uma vez
mais, ser atacada com os instrumentos do realismo.
Aqui, portanto, está a complexidade, o fascínio e a tragédia
de toda vida política. A política é composta de dois elementos ­
utopia e realidade - pertencentes a dois planos diferentes que
jamais se encontram. Não há barreira maior ao pensamento po­
lítico claro do que o fracasso em distinguir entre ideais, que são
utopia, e instituições, que são realidade. O comunista, que opu­
nha o comunismo à democracia, pensava normalmente no co­
munismo como um ideal puro de igualdade e fraternidade, e na
democracia como uma instituição que existia na Grã-Bretanha,
França ou Estados Unidos, e que tinha como inerentes a todas
as instituições políticas os interesses escusos, as desigualdades
e a opressão. O democrata, que fazia a mesma comparação, es­
tava de fato comparando um padrão ideal de democracia exis­
tente no céu, com o comunismo, como urna instituição existen­
te na Rússia Soviética, com suas divisões de classes, suas caças
aos hereges e seus campos de concentração. A comparação, fei­
ta, em ambos os casos, entre um ideal e uma instituição, é
irrelevante e não faz sentido. O ideal, uma vez incorporado numa
instituição, deixa de ser um ideal e torna-se a expressão de um
interesse egoísta, que deve ser destruído em nome de um novo
ideal. Esta constante interação de forças irreconciliáveis é a subs­
tância da política. Toda situação política contém elementos
mutuamente incompatíveis de utopia e realidade, de moral e
poder.
Este ponto emergirá, com maior clareza, da análise da na­
tureza da política, que agora levaremos a efeito.

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