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294)
“De fato, o ouvinte que recebe e compreende a significação (lingüística) de um discurso
adota simultaneamente, para com este discurso, uma atitude responsiva ativa: ele
concorda ou discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se para
executar, etc., e esta atitude do ouvinte está em elaboração constante durante todo o
processo de audição e de compreensão desde o início do discurso, às vezes já nas
primeiras palavras emitidas pelo locutor. A compreensão de uma fala viva, de um
enunciado vivo é sempre acompanhada de uma atitude responsiva ativa (conquanto o
grau dessa atividade seja muito variável); toda compreensão é prenhe de resposta e, de
uma forma ou de outra, forçosamente a produz: o ouvinte torna-se o locutor.” (p. 291)
A réplica
“Cada réplica, por mais breve e fragmentária que seja, possui um acabamento específico
que expressa a posição do locutor, sendo possível responder, sendo possível tomar, com
relação a essa réplica, uma posição responsiva”.
Oração x Enunciado
“As obras de construção complexa e as obras especializadas pertencentes aos vários gêneros
das ciências e das artes, apesar de tudo o que as distingue da réplica do diálogo, são, por sua
natureza, unidades da comunicação verbal: são identicamente delimitadas pela alternância
dos sujeitos falantes e as fronteiras, mesmo guardando sua nitidez externa, adquirem uma
característica interna particular pelo fato de que o sujeito falante — o autor da obra —
manifesta sua individualidade, sua visão do mundo, em cada um dos elementos estilísticos
do desígnio que presidia à sua obra”
“A obra, assim como a réplica do diálogo, visa a resposta do outro (dos outros), uma
compreensão responsiva ativa, e para tanto adota todas as espécies de formas: busca exercer
uma influência didática sobre o leitor, convencê-lo, suscitar sua apreciação crítica, influir
sobre êmulos e continuadores, etc. A obra predetermina as posições responsivas do outro
nas complexas condições da comunicação verbal de uma dada esfera cultural. A obra é um
elo na cadeia da comunicação verbal; do mesmo modo que a réplica do diálogo, ela se
relaciona com as outras obras-enunciados: com aquelas a que ela responde e com aquelas
que lhe respondem, e, ao mesmo tempo, nisso semelhante à réplica do diálogo, a obra está
separada das outras pela fronteira absoluta da alternância dos sujeitos falantes” (p. 299).
“Nossa fala, isto é, nossos enunciados (que incluem as obras literárias), estão repletos de
palavras dos outros, caracterizadas, em graus variáveis, pela alteridade ou pela assimilação,
caracterizadas, também em graus variáveis, por um emprego consciente e decalcado. As
palavras dos outros introduzem sua própria expressividade, seu tom valorativo, que
assimilamos, reestruturamos, modificamos” (p. 315)
“As tonalidades
dialógicas preenchem um enunciado e devemos levá-las em conta se quisermos
compreender até o fim o estilo do enunciado. Pois nosso próprio pensamento — nos
âmbitos da filosofia, das ciências, das artes — nasce e forma-se em interação e em luta com
o pensamento alheio, o que não pode deixar de refletir nas formas de expressão verbal do
nosso pensamento.” (p. 318).
“Na realidade, como já dissemos, todo enunciado, além do objeto de seu teor, sempre
responde (no sentido lato da palavra), de uma forma ou de outra, a enunciados do outro
anteriores”. 320
“O enunciado está voltado não só para o seu objeto, mas também para o discurso do outro
acerca desse objeto” 321