Вы находитесь на странице: 1из 186

1

Projeto Ifá é para todos

Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

ÍNDICE

Agradecimentos .................................................................................................................................................................... 5
Ainda Existe Esperança ............................................................................................................................................... 5
Para a Iya Apetebi Ifakemi ........................................................................................................................................ 6
Obaluaye meu pai, eu agradeço ............................................................................................................................... 6
Palavras do Araba Awodiran Agboola ................................................................................................................. 6
Homenagem Póstuma ao Chefe Àkànó Fásínà Agboolà de Lagos, Nigéria. ........................................ 7
Apresentação ......................................................................................................................................................................... 8
Origem do Projeto.......................................................................................................................................................... 8
Missão .................................................................................................................................................................................. 8
Histórico........................................................................................................................................................................... 10
Àború, Aboye, Àbosíse .............................................................................................................................................. 12
A honestidade, o sacerdócio e a verdade ................................................................................................................ 14
Diálogo ................................................................................................................................................................................... 16
Não se Engane Odu Ògúndá-Ìrosún ........................................................................................................................ 17
Um Grande Sacerdote Nunca Vai Ser Esquecido .............................................................................................. 18
A Descoberta do Orisa ................................................................................................................................................... 20
2

Fé ou Alienação ................................................................................................................................................................. 22
Religião Tem Regras ....................................................................................................................................................... 23
Iniciação Em Ifá E Suas Vantagens, Quem Deve Ser Iniciado. .............................................................. 26
Afinal, Qual é a Sua Religião? .................................................................................................................................... 29
O Encontro Com o Orisa .............................................................................................................................................. 32
Estupides, Burrice, Ignorância ou Conveniência ............................................................................................... 34
O Despreparo e o Perigo ............................................................................................................................................... 36
Iya Mi, as Bruxas e a Desinformação ...................................................................................................................... 38
Imules..................................................................................................................................................................................... 39
Odu, Ifa, Orunmila, Ela e Agboniregun ................................................................................................................ 40
Tudo que foi Perdido ou Esquecido ......................................................................................................................... 41
Abiku o ser Indesejado ou Não! ................................................................................................................................. 42
Egun e Oku .......................................................................................................................................................................... 43
A Verdade Sobre Egúngún .......................................................................................................................................... 44
A Mulher Yoruba ............................................................................................................................................................. 46
Iniciar em Ifa ou Não ...................................................................................................................................................... 47
Itefa (Itelodu)...................................................................................................................................................................... 48
A Ética e o Sacerdote. ..................................................................................................................................................... 49
Iniciação o Milagre Da Vida ........................................................................................................................................ 50
A Roupa Não Faz O Homem ....................................................................................................................................... 52
Esu o Mais Importante dos Orisas ........................................................................................................................... 54
Orisa da Riqueza .............................................................................................................................................................. 55
O Homem, o Sacerdote e o Deus ................................................................................................................................ 56
Mulheres de Osun e o Àjé de Oxe (Ose) ................................................................................................................. 58
Feminino e Masculino, a Fecundidade no Culto aos Orisas.......................................................................... 60
A Água, a Folha e a Pedra ............................................................................................................................................ 61
Do norte ao sul ................................................................................................................................................................... 62
Entre a Cruz e a Espada................................................................................................................................................ 63
Iba Olodumare (Deus) .................................................................................................................................................... 64
Oriki Orunmila.................................................................................................................................................................. 65
Oriki Àgbonìrègún........................................................................................................................................................... 66
Ela (A Emanação de Orunmila)................................................................................................................................. 67
Oriki Opon Ifá ................................................................................................................................................................... 67
Oriki Ikin ............................................................................................................................................................................. 68
Oriki Ifá ................................................................................................................................................................................ 69
Por Que Consultar Ifá? ................................................................................................................................................. 71
Isefá e Itefá .......................................................................................................................................................................... 72
Ìtéfá - Ìtélodú - Ou Ìgbódú ...................................................................................................................................... 72
3

Bàbàláwo Brasileiro ........................................................................................................................................................ 74


A Educação no Ase .......................................................................................................................................................... 76
Folhas de Ifá (Ewe Ifá) ................................................................................................................................................... 77
Odus Importantes na Família Agboola .................................................................................................................. 77
Iniciação em òrìsà e Ifá .................................................................................................................................................. 78
Ifá é Liberdade .................................................................................................................................................................. 80
O Conhecimento em Ifá ................................................................................................................................................. 82
Todas as Pessoas Podem ser Iniciadas em Ifá ..................................................................................................... 83
Ifá, Orisás, o Pecado não Existe ................................................................................................................................. 84
O Maior de Todos os Feitiços, a Palavra de Ifá. ................................................................................................. 86
Òrìșà Oxum ......................................................................................................................................................................... 87
Òrìșà Ọya. ............................................................................................................................................................................ 88
Isefa, Pré-Iniciação Em Ifá........................................................................................................................................... 89
Itelodu e o Sacerdote de Orunmila ........................................................................................................................... 90
Ojubona, o Orientador no Ifá ..................................................................................................................................... 92
A Verdade Sobre o Orixá e Ifá ................................................................................................................................... 94
Egbe Orun............................................................................................................................................................................ 96
A Lei do Retorno não Existe, Orunmila? ............................................................................................................101
Odú Ifá ................................................................................................................................................................................103
Ebó Sacrifico E Transformação No Ifá. ...............................................................................................................105
O Monologo da Fé e Ifá ...............................................................................................................................................107
A Filosofia de Ifá .............................................................................................................................................................109
Ifá tem regras. ..................................................................................................................................................................112
Iniciação Em Ifa, Itefá ..................................................................................................................................................113
O Estudante de Ifá .........................................................................................................................................................115
Orunmila e Ifá, Dúvidas Frequentes .....................................................................................................................117
A Responsabilidade do Babalawo Brasileiro .....................................................................................................121
Consultando Opele Ifá. ................................................................................................................................................123
Iniciação em ifá sem mistérios ..................................................................................................................................125
Religião Tem Regras Descritas Por Orunmila ..................................................................................................128
Ifá Está Sendo Bem Representado! ........................................................................................................................132
Iniciação em Ifá e suas vantagens, quem deve ser iniciado .........................................................................134
Ìwàpèlè: O Conceito de Bom Caráter e o Ifá. ....................................................................................................136
Ifá e o Homem, o Sacerdote e o Deus. ...................................................................................................................138
Impressão de Odú ..........................................................................................................................................................140
Qualidade de Orixa não Existe, Ifá? ......................................................................................................................140
Mitos e Ritos .....................................................................................................................................................................142
Mitos, Ritos e Orunmila I ......................................................................................................................................142
4

Mitos, Ritos E Orunmila II ...................................................................................................................................143


Mitos, Ritos e Orunmila III ..................................................................................................................................145
Ìya Odu o Mais Importante de Todos Orixas ....................................................................................................147
Frases do Babalawo Ifagbaiyin Agboola..............................................................................................................148
Anyàn a Consagração de um Onilu........................................................................................................................159
Orisa Òkè ...........................................................................................................................................................................161
Orunmila, Ògbóni, Edan, Ìtagbè.............................................................................................................................161
Ifá e a Hierarquia ...........................................................................................................................................................163
Colcha de Retalhos e o Ifá ..........................................................................................................................................167
Orixás Direitos e Deveres............................................................................................................................................168
A História do Ifá no Brasil .........................................................................................................................................171
Jogo de Búzios ..................................................................................................................................................................173
A casa do orixá e Ifá ......................................................................................................................................................178
Obrigação de Ano para Òrìsà ...................................................................................................................................180
Bàbàláwo ............................................................................................................................................................................182
Tudo Sobre Iya Mi Osoronga ...................................................................................................................................183
Bibliografia ........................................................................................................................................................................186
5

Agradecimentos

Ainda Existe Esperança


Todos os dias quando acordo e faço minhas orações, me emociono com a beleza de
nossa religião, fico viajando em meus pensamentos, vou à terra de nossos antepassados e me
comunico com os Orisas, sinto nesse momento uma alegria muito grande de fazer parte dessa
religião, de ter meus Orisas, e de ter o privilégio de conhecer Ifá. O pouco que conheço,
agradeço muito, por ter acesso a uma cultura tão especial, uma religião maravilhosa.
Em muitas ocasiões fico pensando e me transporto, sonho com o território Yoruba,
sonho com a possibilidade de ter um convívio mais estreito com nossa raiz é um sonho bom,
vivo por alguns minutos a alegria de imaginar que um dia vou conseguir aprender um
pouquinho mais sobre nossa religião.
Depois de rezar e tomar um cafezinho, estudo um pouco e vou ver minha
correspondência, e-mail, facebook, blog e comunidade é nesse momento que a realidade toma
conta do meu dia a dia é quando tenho contato com todos aqueles que me escrevem, pedindo
ajuda, que é quando a verdade começa a me machucar e quando eu me sinto muito pequeno
diante de tantas coisas que não posso e que certamente não vou mudar.
Uma noite recebi um e-mail de um filho muito querido que mora no Rio de Janeiro e
ele me disse (sabe pai quando eu escolhi seguir o senhor eu sabia que teria que enfrentar muita
gente, sei que seu trabalho desagrada um grupo de pessoas que se beneficiam com a bagunça
que está acontecendo em nossa religião) foi nesse momento que percebi, que meu caminho está
traçado e que um grande número de pessoas pode não gostar do que eu escrevo, mas que um
pequeno grupo de pessoas a partir desse trabalho começaram ver nossa religião de uma forma
mais positiva.
A frase que eu mais leio em minhas correspondências é a seguinte (eu já tinha desistido,
mas encontrei o senhor, li o que o senhor escreveu e resolvi tentar mais uma vez) essa
responsabilidade aumenta cada dia mais, e peço ao meu Orisa que me de forças para seguir
nessa luta. Sinto que a caminhada a cada dia tem mais dificuldades, mas não me sinto sozinho.
Sei que assim como eu, existe um grande número de pessoas querendo uma mudança,
existe um grande número de pessoas que não suportam mais os desfiles de moda, o luxo e a
vaidade de algumas pessoas, que confundiram nossa religião com carnaval ou coisa bem pior.
Existe um grande número de pessoas que já desistiram, mas tem muita gente lutando
contra essa loucura que está se transformando nossa religião.
Há algum tempo atrás eu ouvi falar que tem pessoas cobrando um preço absurdo por um
assentamento, para onde estamos caminhando com tais delírios?
No que algumas pessoas estão transformando nossa religião!
Preciso ter forças para suportar tudo isso, mas me desculpem meus amigos em alguns
momentos eu nem sei como definir tais senhores mercadores de nossa fé.
Por outro lado sei que existe ainda muita gente séria tentando fazer um trabalho digno e
é nessas pessoas que eu busco me espelhar.
6

Esse texto é uma tentativa de esclarecer um pouco mais as pessoas sobre minha forma
de pensar, mas também é uma forma de homenagear meu Oluwo e meu amigo Baba Oyeniyi,
é com muito carinho que agradeço sua atenção e seu carinho e sua paciência para comigo.

Para a Iya Apetebi Ifakemi


Quando criamos esse trabalho, fiz questão que alguns textos seus fossem incluídos é
interessante como se isso explicasse a sua participação em nosso trabalho. A sua participação,
é nítida em todos os momentos.Agradeço a você pelo amor, o carinho, a compreenção e o apoio.
Ifenukonu áya mi.

Obaluaye meu pai, eu agradeço


Obalúwayé,agaji oogun.
Oní wòwó àdó.
Ni alase tiwa o,
Sànpònná ni aláse tiwa o.

Obaluwaye, possui magia poderosa.


Ele possui várias cabaças repletas de magia.
Ele é o nosso Alaxé .
Xapanã é o dono do axé.
Orisa poderoso que anula a magia dos inimigos.
Mo dupe,o Orisa Sànpònná baba mi.

Palavras do Araba Awodiran Agboola


Sobre o odu Ogbe/Obara:

“Ogbe gbaragada telegan loku


Ifa s'ohun gbogbo tan o ku telenu
Adifa fun Edu omo agbapalapa
Omo agbohun rere lori ara won
Ara t'Edu nda ko lee baje
Pipele ni npele”

Araba Awodiran Agboola

Tradução

“Ogbe Obara se torna famoso, enquanto os menores empreendedores continuam a perseguir


suas sombras.
Ifá fez tudo, enquanto as fofocas seguem o estúpido invejoso.
7

Adivinhação para odú Ogbe Obara, o mestre de excelência que realiza maravilhas, um
legado de Orunmila nunca pode ser destruído.
Ele continuará a se multiplicar.
Eu tenho usado esse versículo para desejar-lhe bem em Porto Alegre, Brasil, que você me
convidou para visitar como um "convidado especial".

Araba Awodiran Agboola

Homenagem Póstuma ao Chefe Àkànó Fásínà Agboolà de


Lagos, Nigéria.
Ogbè otura
No canto da casa olhando discreto,
Fez divinação para Ogbè o pai de Òtúà,
Eu estou procurando o dinheiro que ainda não tenho
Ìrànran possibilite que meu pai me ajude a encontra-lo, ìrànràn.
Eu estou procurando uma boa esposa, mas ainda não encontrei.
Ìrànràn possibilite que meu pai me ajude a encontra-lo, ìrànràn.
Eu estou procurando bons filhos, mas não consigo encontra-los.
Ìrànràn faça com que seja o destino do meu pai me ajudar a tê-los, Ìrànràn.
Estou procurando fazer uma boa casa, mas não consigo erguê-la,
Ìrànràn faça com que seja o destino do meu pai ergue-la, Ìrànràn.
Eu preciso de numerosas bênçãos, mas ainda não tenho,
Ìrànràn faça com que seja o destino do meu pai me ajudar a tê-las, Ìrànràn.
Assim como quando Ogbè gerou Òtúà
Ele lhe deu discípulos.
E várias bênçãos
8

APRESENTAÇÃO

ORIGEM DO PROJETO
No dia 14 de fevereiro de 2012, conversando com minha Ìyá apetebi, durante uma
viagem realizada de São Paulo a Porto Alegre, nasceu à ideia de criação do projeto IFÁ É PARA
TODOS.
Naquele momento, percebemos que por uma questão histórica: o Brasil não tinha um
número suficiente de Sacerdotes de Ifá para orientar e divulgar o Culto a Òrúnmìlà e aos Òrìsàs.
Não em conformidade com a prática religiosa no território Yorùbá.
A comercialização de negros escravizados na África para o Novo Mundo era uma
prática bem conhecida na época da colonização, porém, havia uma seleção dos escravos a serem
comerciados. Os comerciantes negros sabiam da sabedoria e poder de liderança dos Sacerdotes
de Ifá e os temiam. Quando um deles era identificado, não permitiam, em hipótese alguma, que
embarcassem.
É preciso ressaltar que o colonialismo foi, também, uma dominação epistemológica:
uma relação extremamente desigual entre saber e poder que suprimiu muitas formas de saber,
próprias dos povos e nações colonizadas, inclusive a dos povos escravizados como os Yorùbás.
No entanto, como na maioria das vezes em que há um plano de aniquilar conhecimentos, essa
dominação fez surgir muitos outros saberes. Esses povos escravizados acabaram por gerar
práticas que hoje se diferenciam, e muito, das que seguiram fazendo nas terras Africanas.
Numa tentativa de fazer emergir, nesse Brasil laico, os saberes desses povos da pré-
colonização, o Projeto IFA É PARA TODOS tem como objetivo principal a difusão e o
fortalecimento, no Brasil e nos quatro cantos do Planeta, da Religião Tradicional Yorùbá,
também conhecida como Culto a Òrúnmìlà ou Culto a Ifá. Uma religião com mais de 12.000
anos de existência, originada na Nigéria e trazida, em parte, ao Brasil, pelos nossos ancestrais
africanos vindos como escravos.
O Projeto IFA É PARA TODOS é, acima de tudo, um projeto que pensa contrário à
ideia de que Menos é Melhor. Para nós, quanto mais iniciados, Bàbàláwos e Ìyánifás haja,
melhor será o futuro de uma religião tão perseguida por preconceitos e concepções equivocadas.
A sobrevivência de nossa religião depende de seus devotos.

MISSÃO
IFÁ É PARA TODOS têm como Missão realizar a difusão da Religião Tradicional
Yorubá, também conhecida, como Culto à Òrúnmílà e/ou Culto à Ifá, bem como, o seu
fortalecimento no Brasil e nos quatro cantos do planeta Terra. É uma religião com mais de
12.000 anos desde seu surgimento na África, trazida para o Brasil pelos nossos ancestrais
africanos durante o tráfico de escravos.
Nesse sentido, tocados por um apelo diferenciado de resgate histórico-cultural e uma
forma de pensar a religião de Òrìsà no Brasil, nosso Projeto IFÁ É PARA TODOS propõe de
forma mais específica:
9

• Propiciar o acesso a consultas e esclarecimentos sobre a religião dos Òrìsà/Ifá a crianças


e idosos, facilitando as iniciações quando desejadas por eles;
• Divulgar e orientar sobre o Culto a Orunmila e aos Òrìsà, fortalecendo a Religião
Tradicional Yorubá no Brasil e no mundo;
• Desmistificar a “impossibilidade” de se iniciar Bàbàláwo/Iyanifás no Brasil;
• Propor uma relação mais aproximada entre os iniciados na religião dos nossos ancestrais
africanos, por meio do acesso às informações sobre o tema.
• Facilitar iniciações de crianças, jovens, adultos e idosos, sob a orientação de Ifá;
• Promover a cultura da Paz entre as diversas religiões;
• Identificar e preparar, conforme Tradição Yorubá, futuros Bàbàláwos/Yanifás para o
Culto de Òrúnmílà;
• Resgatar valores filosóficos, históricos, culturais, étnicos e princípios tradicionais
religiosos de matriz Yorubá;
• Contribuir para o fortalecimento da identidade religiosa dos iniciados a partir dos
princípios filosóficos da Religião de base Yoruba;
• Propor uma dinâmica de organização nacional e internacional de ampliação do Culto à
Òrúnmílà através do Projeto IFÁ É PARA TODOS;
• Propor uma relação mais aproximada entre os iniciados e a religião dos nossos
ancestrais africanos.
Neste sentido, esperamos no futuro, ter o culto a Òrúnmílà fortalecido no Brasil,
corrigindo um problema histórico da religião dos Òrìsàs que, infelizmente, repercute
diretamente na ritualística praticada atualmente.
O Projeto IFÁ É PARA TODOS percorreu caminhos que jamais imaginávamos ser
possível e o seu crescimento implica, diretamente, em mudanças e no aperfeiçoamento
constante da ideia. O número de iniciações do nosso projeto ultrapassou mil e setecentos
iniciados em um período de, pouco mais que, mil e setecentos dias, desde a sua criação.
Os caminhos do cultoa Òrúnmílà, em nosso país, foram multiplicados com a criação do
projeto IFÁ É PARA TODOS, gerando a necessidade de uma organização mais elaborada para
atender as novas demandas. Por essa razão, resolvemos ampliar nosso grupo de trabalho.
Portanto, temos a honra de apresentar os novos coordenadores do projeto IFÁ É PARA
TODOS:

Coordenação Nacional.

Iyanifa Ifademilade Ajobi Agboola


Babalawo Ifalade Esubola Ajobi Agbola
Bàbàláwo Ifaniyi Ajobi Agboola
Bàbàláwo Ifajenrayo Ifadamitan Elebuibon
Omo-Ifa Ifadaiyisi Ajobi Agboola
Bàbàláwo Ifasegun Ajobi Agboola
Bàbàláwo Ifalola Ajobi Agboola
Bàbàláwo Ifasegun Ajesola Ajobi Agboola
10

Coordenações Estaduais.

1 - Acre - Bàbàláwo Ifatunmbi Awolola Ajobi Agboola


2 - Alagoas - Bàbàláwo Ifabunkola Ajobi Agboola
3 - Amapá- Iyanifa Ifagbemisola Awolola Ajobi Agboola
4 - Amazonas - Iyanifa Ifarayo Ajobi Agboola
5 - Bahia - Bàbàláwo Ifagbemi Awolola Ajobi Agboola
6 - Ceará - Bàbàláwo Ifaponmile Ajobi Agboola
7 - Distrito Federal - Bàbàláwo Ifawole Ajobi Agboola
8 - Espírito Santo - Bàbàláwo Ifaniyi Ajobi Agboola
9 - Goiás - Omo Ifa Ifaponle Ajobi Agboola
10 - Maranhão - Bàbàláwo Ifaniyi Ajobi Agboola
11 - Mato Grosso - Omo-Ifa Ifadaiyisi Ajobi Agboola
12 - Mato Grosso do Sul - Bàbàláwo Ifadipe Ogbemo
13 - Minas Gerais – Omo Ifa Ifatobi Ajobi Agboola
14 - Pará - Bàbàláwo Ifaponmile Ajobi Agboola
15 - Paraíba – Bàbàláwo Ifalola Ajobi Agboola
16 - Paraná - Bàbàláwo Ifajenrayo Ifadamitan Elebuibon
17 - Pernambuco - Babalawo Ifalade Ajobi Agboola
18 - Piauí – Babalawo Ifayemi Ajobi Agboola
19 - Rio de Janeiro - Bàbàláwo Ifaniyi Ajobi Agboola
20 - Rio Grande do Norte- Omo Ifa Ifatunwase Ajobi Agboola
21 - Rio Grande do Sul- Omo Ifá Èṣù Demilare Ajobi Agboola
22 - Rondônia - Omo Ifa Ifadunmade Ajobi Agboola
23 - Roraima – Bàbàláwo Ifasegun Ajobi Agboola
24 - Santa Catarina- Bàbàláwo Ifaseun Ifatunde Ajobi Agboola
25 - São Paulo- Bàbàláwo Ifasegun Ajobi Agboola
26 - Sergipe - Bàbàláwo Ifagbunmi Ajobi Agboola
27 - Tocantins – Bàbàláwo Ifasegun Ajobi Agboola

Coordenador Nacional do Uruguay


Bàbàláwo Ifasola Ajobi Agboola (Uruguai)
Coordenador de Relações Internacionais – (CRI)

Histórico
O Bàbàláwo Ifágbaíyin Agboolà nasceu em 1956 e ingressou na religião dos Òrìsá no
dia 28 de Outubro de 1960, juntamente com seu pai.
1969 - Foi submetido a uma série de iniciações em Òrìsá, na cidade de Viamão (RS), dentro
dos princípios dos rituais afro-brasileiros.
1981 - Participa da criação da Federação de cultos afro brasileiro no estado do Rio Grande do
Sul.
1982 - Inicia seus estudos sobre o idioma Yorubá.
11

No inicio da década de oitenta foi convidado pelo presidente da Afrobras (Federação das
Religiões Afro-Brasileiras) a fazer parte desta Federação, como assessor de imprensa.
1983 - Fundou o Centro Africano 13 de Junho em Porto Alegre (RS), e seguindo o exemplo de
seu então sacerdote, Romário de Osalá, começa a atender crianças gratuitamente.
1984 - Inicia um trabalho voltado à iniciação de crianças no culto de Òrìsà.
1985 - Altera o nome da instituição para Centro Cultural Onisegun e é convidado pelo Deputado
Moab Caldas para auxiliar nas articulações religiosas em seu estado.
1986 - Começa a divulgação do culto ao Òrìsá na Argentina.
1987 - Começa a divulgação do culto ao Òrìsá no Uruguai, Colômbia, Venezuela e Chile.
1992, 1993, 1994 e 1995 - É escolhido o sacerdote do ano no estado no Paraná, no qual foi
homenageado por suas iniciativas.
No começo dos anos noventa, com a morte de seu Babalorisa (Romario de Osala), Ifagbaiyin
inicia uma trajetória diferente, no Estado do Paraná, buscando apoio politico para suas ideias.
1992 - É convidado a fazer parte do INABRA (Instituto Nacional do Negro), e começou um
trabalho, viajando a Brasília, sendo recebido pelo Presidente da Fundação Palmares.
1992 - Ifagbaiyin conheceu a Ìyálóòrìsà Edelzuita de Osala (Gantois), a qual já fazia um belo
trabalho divulgando nossa religião, e foi, por ela, convidado a fazer parte do INAEOSSTECAB
(Instituto Nacional e Sacerdotal da Tradição e Cultura Afro-Brasileira) fundado em 22 de
Outubro de 1989, como Coordenador no Estado do Paraná. Tendo como exemplo o trabalho da
Ìyálóòrìsà Idelzuita, começa um trabalho em nível nacional.
1993 - Em companhia do diretor da Fundação Palmares, Walter Gualberto, se reúne com
lideranças de vários seguimentos em Brasília numa tentativa de criar o Sindicato dos Sacerdotes
Afro-Brasileiros.
Ainda no começo da década de noventa, foi recebido pelo Ministro Jerônimo Moscardo (Da
Cultura) e pelo Ministro Mauricio Correa (Da Justiça), quando em visita a Brasília, numa
tentativa de criar o primeiro Sindicato de Sacerdotes Afro-Brasileiro.
1993 - Participa da criação do OSPRA – Órgão Superior para Religião no Estado do Rio de
Janeiro.
1994 – Se reuni com representantes do Governo da Nigéria para criar um projeto, cujo objetivo
era trazer professores da língua Yorubá para as casas de Òrìsà no Brasil.
1996 - É iniciado em Ifá pelo Babalawo Rafael Zamora Dias no Estado do Rio de Janeiro.
1997 - Começa seus estudos sobre Ifá segundo a Religião Tradicional Yorubá com o Awo Ifá
Adeleke Ajiyobiojo.
Após conhecer a Religião Tradicional Yorubá, ele se depara com uma realidade que
desconhecia: o custo de uma iniciação, nesse período, era muito alto, o que, muitas vezes,
inviabilizava os rituais.
Com dois filhos pequenos, Ifagbaiyin foi obrigado a adiar, por alguns anos, os rituais de
iniciação necessários para sua formação em razão dos altos custos para uma viagem à Nigéria.
Esse fato, bem mais tarde, o motivou a criar o projeto Ifá É Para Todos.

Mesmo assim, Ifagbaiyin manteve seu objetivo, sonhando com o dia que tornaria o culto ao
Òrìsà diferente, o que facilitaria a divulgação de nossa religião e, assim sendo, baixando os
custos das iniciações.
2000 - Muda o Centro Cultural Onisegun para Santa Catarina.
12

2003 - Participa dos debates para a criação do feriado Dia Nacional da Consciência Negra em
Brasília, o qual foi instituído, em âmbito nacional , mediante a lei nº 12.519, de 10 de novembro
de 2011, sendo considerado feriado em cerca de mil cidades em todo o país e nos estados de
Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro através de decretos estaduais.
2008 - É eleito Presidente do Conselho de Segurança no Estado de Santa Catarina, criando
varias ações direcionadas a beneficiar a infância e a juventude naquele Estado.
2010 - Ifagbaiyin cria a Comunidade IFÁ, na antiga rede social Orkut, e se torna o Sacerdote
de Òrìsà com o maior número de contatos na história do Orkut, criando informativos sobre Ifá
e Òrìsà.
2011 - É consagrado Babalawo pelo Oluwo Oyeniyi Awolola Agboola em São Paulo.
2011 - Viaja para a Nigéria para concluir suas iniciações.
2011 - De volta ao Brasil começa divulgar o trabalho do falecido Araba da cidade de Lagos
(Akano Fasina Agboola).
Em 14 de fevereiro de 2012, enquanto viajava com sua Iyapetebi (Iyanifa Ifakemi Fasina
Agboola) de São Paulo para Porto Alegre, têm a ideia de criar o projeto IFÁ É PARA TODOS,
dando continuidade a um trabalho de atendimento gratuito a crianças, algo que já fazia parte do
Centro Cultural Onisegun que, em
2011, passa a se chamar Ile Ifá Ogbe Bara.
2012 - Dá início a um trabalho de intercambio com membros da família Agboola na Nigéria e
trás sacerdotes de sua família para o Brasil.
2013 - Trás ao Brasil o Araba Awodiran Agboola e inicia uma nova fase do projeto, fazendo
divulgação da Religião Tradicional Yorubá na imprensa Brasileira.
2014 - Trás o Araba Awodiran Agboola ao Brasil, pela segunda vez, e assume um compromisso
de divulgar o trabalho literário da família.
2014 - Recebe Oye de Apena Ogboni, na cidade de São Paulo, do Babalawo Oyeyefa Kolawole
Agboola, por orientação do Araba Awodiran Agboola e de seu Oluwo Oyeniyi Awolola
Agboola.
2014 - Recebe o Oye de Alaagba no culto de Egungun na cidade de São Paulo do Babalawo
Fatokun Alamu Agboola, por orientação do Araba Awodiran Agboola e de seu Oluwo Oyeniyi
Awolola Agboola.
2015 - Transfere a sede do Ile Ifá Agboola para a Bahia.
2016 - Em 25 de maio amplia o projeto Ifá é para todos, levando o projeto para outros países.

Àború, Aboye, Àbosíse


Significado:
Àború aboye àbosíse, são as contrações das palavras:
Kí ebó fin, Kí ebó dá, Kí ebó o se.
Isto quer dizer que:
Meu sacrifício será autorizado, meu sacrifício será aceito, meu sacrifício se manifestará
respectivamente.
A resposta:
Agbó, ató, àsúre, ìwòrìwòfún.
Significado:
13

Que tenha uma vida longa e saudável e que receba as benções desse odu ìwòrìwòfún.
O odú Ìwòrìwòfún é usado para abençoar às pessoas.
Resposta:
Agbo a tó
Significado:
Contração de à yà gbó, à yà to,significa que você tenha prosperidade e longevidade
Resposta final:
Ire o
Significado:
Sorte para você.
14

A HONESTIDADE, O SACERDÓCIO E A
VERDADE

A honestidade é uma qualidade de ser verdadeiro, não mentir, não fraudar, não
enganar, e deveria ser a principal característica de um sacerdote. Quando uma pessoa procura
uma casa de religião para consultar, é isso que ela espera, mas muitas vezes termina pagando
para ouvir mentiras, e ser iludida conforme o interesse de quem está manipulando o oraculo...
Agboola, Ifagbaiyin.

É difícil acreditar que alguém use o nome de um Orisa em seu próprio beneficio, mas
isso está se tornando muito comum, em nome dos Orisas atos são proferidos e verbas são
liberadas, documentos são assinados, acordos são ignorados, pessoas são iludidas.
O indivíduo que é honesto procura agir dentro de uma lógica que implica em manter
uma postura digna, coerente com a prática religiosa que professa.
A obediência incondicional às regras existentes, dentro e fora da religião, faz de um
sacerdote um exemplo de comportamento, um elemento em permanente destaque, então olhe
bem meu colega, a onde você pisa e por onde você transita.
Não acorde reclamando porque que a vida não lhe sorri, sem antes examinar o seu
comportamento, e as suas atitudes.
Não há um procedimento para burlar a verdade, mudar a realidade, os Orisas jamais
mentem, pode até acontecer uma interpretação errada do sacerdote, mas nunca um erro do
Orisa, o Orisa não erra e não mente.
Exercer o sacerdócio com honestidade em caráter amplo é muito difícil, mas é o mínimo
que o Orisa espera de você.
Para muitos, a pessoa honesta é aquela que não mente, não furta, não rouba, que respeita
os outros, mas isso só não basta você deve ser confiável, deve fazer tudo que os Orisas indicam,
sem criar artifícios que lhe beneficiem.
Se você não consegue ser honesto e conviver com a verdade, não acredite que possa
enganar os Orisas, você engana as pessoas, mas os Orisas jamais serão enganados, você está
mentindo, mas a verdade sempre aparece.
Não estou aqui para julgar ninguém, mas acredito que usar uma pele de cordeiro durante
o dia e se transformar em fera durante a noite, não é o caminho.
Para ser um sacerdote, você precisa ser verdadeiro, precisa acreditar e praticar tudo
aquilo que você indica para as pessoas, caso contrário nada tem sentido.
Não julgue as pessoas como idiotas, toda pessoa merece o seu respeito, todos temos um
Ori e um Orisa, se você não sabe o que dizer fique calado, mas não minta em nome dos Orisas.
Você mentindo está ofendendo os Orisas, está ofendendo seus antepassados. Faça
somente o que você está habilitado para fazer, diga somente o que os Orisas estão lhe
mostrando, não invente nada, não minta, não crie.
Isso é o mínimo necessário para você se dizer um sacerdote, é o que as pessoas esperam
de você, quando lhe procuram para uma consulta, honre a sua religião, honre o seu Orisa, seja
digno de seus antepassados, seja honesto.
15

Aquele que fala em nome dos Orisas tem obrigação de dizer sempre a verdade!
Hoje dia 01 de maio, o Osala do falecido pai Romário esta completando 86 anos, essa é
uma maneira de homenagear um dos mais honesto e verdadeiro sacerdote da história de nossa
religião.
“Meu pai, jamais abrace a arvore do esquecimento, jamais se esqueça das pessoas que
te louvam.” Wúre Baba...
16

Diálogo

Durante uma semana especifica em uma conversa com um jornalista bastante


conhecido, na cidade de Porto Alegre, fui surpreendido quando ele me perguntou:
“Como o senhor se sente, sendo o primeiro Bàbàláwo da historia do sul do Brasil?”

Agboola, Ifagbaiyin.

Sabemos que durante a história existiram inúmeros Babalorisas e Iyalorisas africanos,


que foram trazidos como escravos para o Rio Grande do Sul.
A não venda de Bàbàláwos como escravo se justificava os mercadores que trouxeram
os cativos para o Brasil, em grande maioria, temiam a presença de um líder, entre o grupo a ser
transportados. É verdade também que o conhecimento dos Bàbàláwo impunha medo aos
traficantes da época.
Um Bàbàláwo poderia criar sérios problemas se fosse cativo, para o seu proprietário.
Não existe nenhum documento que prove a presença de um Bàbàláwo entre os escravos trazidos
para o Sul, em toda a história.
Ao publicar esse texto, minha intenção, não é buscar a luz da fama e sim esclarecer e
contribuir com a história do culto aos Orisas no Rio Grande do Sul.
Ser o primeiro, Bàbàláwo, o primeiro Ojé e o primeiro Ogboni, consagrado em terras
Yorubas, tendo sido iniciado no culto aos Orisasconhecido como Batuque, me torna uma pessoa
em destaque.
O fato de ser aceito, em vários seguimentos religiosos distintos em território Yoruba,
me envaidece, mas aumenta muito a minha responsabilidade.
Quando estive em Osogbo, diante de Osun, vivi a maior emoção da minha vida. Para
mim que fui criado, no batuque, e após a morte do meu Babalorisa, (Romario de Osalá), tomei
obrigações na nação de ketu.
Jamais imaginei estar em terras africanas, diante de minha família, como um Bàbàláwo,
foi uma grande honra.
Ser o primeiro sacerdote no Rio Grande do Sul, consultando Ifá com Opele, me exigiu
anos de estudos e dedicação.
Fui iniciado em Ifá, há quase vinte anos, levado por minha mãe Edelzuita de Osalá (Asé
Gantois), na casa do falecido Bàbàláwo Rafael Zamoura, e lá foi constada a necessidade da
minha iniciação em Ifá.
Posteriormente passei a fazer parte da família Agboolà, da cidade de Lagos, Nigéria.
Consagrado como Bàbàláwo, pelo Oluwo Oyeniyi Agboolà, fazer parte dessa família, é uma
grande honra, maior ainda é a responsabilidade, que exige um comportamento exemplar, um
sacerdote de Ifá, deve manter uma postura digna do seu cargo.
17

Não se Engane Odu Ògúndá-Ìrosún

Dídùn ní tàgbón!
Dídùn ní tògùró !
Dídùn ní tìrèkè!
Díá fún àtànkoko ólógbèrì!
Tí nbú Ikín l`ékúró lásán! Gbogbo àtànkoko´Òlógbérì tí wón nbú Ikín l`èkùró `lásán Ògúndá-
Ìrosún mo rín wón rin wón !

Traduçâo:
Doçura é para o coco!
Doçura é para o vinho de palma da ráfia!
Doçura é para a cana-de açúcar!
Foi consultado Ifá para o não iniciado ignorante, que estava denegrindo IKIN como se fosse
um caroço de dendê qualquer!
Todos os não iniciados ignorantes que estavam denegrindo o IKIN como se fosse um caroço
de dendê qualquer .
18

Um Grande Sacerdote Nunca Vai Ser


Esquecido

Ofun- Ose
Eni to ba puro
Iro a pa
Eni ti o ba seke
Eke a ke won lowo
A ke wån lese
A ti won si gburugburu ona oun
Awon lo se ifa fun ajangurumale
Ti nse oluwo lode orun
Gbogbo eni ti o ba
Nfi suru pe suru
Ajangurumale ifa
Ni yoo ja won sorun
Gbogbo eni ti o ba
Nfi suru pe suru
Ajangurumale, ifa ni yoo ja won sorun
E ma fi oku pe aye
E ma fi aye pe oku
Eni ti o ba fi oku pe aye
Eni ti o ba fi aye pe oku
Ajangurumale ifa ni yoo ja won sorun
Ajangurumale
E ma fi abiyamo pe agan
E ma fi agan pe oyibi
Eni ti o ba fi abiyamo pe agan
Ti o fi agan pe oyibi
Ajangurumale, ifa ni yoo ja won sorun.

Aquele que mente será destruído pela mentira.


Aquele que provoca discórdia será destruído pela discórdia.
A falsidade despojará o falso da força vital de que dispõe.
A falsidade os destruirá.
Foram eles que adivinharam para Ajagunmale (Ifá), sábio supremo no orun.
Todos aqueles que trocam a verdade pela mentira serão levados para o orun por Ajagunmale
(Ifá)
Não chamem o morto de vivo, nem chamem o vivo de morto.
Quem chama o morto de vivo ou chama o vivo de morto será levado para o orun por
Ajagunmale (Ifá)
Não chamem uma mulher fértil de estéril, nem chamem uma mulher estéril de fértil.
19

Quem chama uma mulher fértil de estéril ou chama uma mulher estéril de fértil será levado para
o orun por Ajagunmale (Ifá).
Não chamem o preto de branco, nem chamem o branco de preto.
Quem chama o preto de branco ou chama o branco de preto, será levado para o orun por
Ajagunmale (Ifá)
Orunmilá diz que prefere matar o babalawo que mente para quem o procura em busca da
verdade e colocar em seu lugar um homem ignorante a respeito da complexa sabedoria de Ifá.
Orunmilá prefere um homem que não conhece a sabedoria de Ifá do que um grande conhecedor
dessa sabedoria que seja falso e mentiroso.

Adesiná Síkírù Sàlámì


20

A Descoberta do Orisa

“No nosso privilegiado Brasil, com sua natureza exuberante, e um povo acolhedor
somos capazes de receber pessoas de vários países e com praticas religiosas diferentes, sendo
assim, é muito comum, pessoas mudarem de religião depois de adultas, começarem a praticar
outra crença por curiosidade ou até mesmo influenciado por alguns amigos ou familiares...”

Agboola, Ifakemi.

É exatamente nesse momento dessa busca, que os maiores erros são cometidos assim
sendo em um primeiro contato com a religião dos Orisas tudo é muito bonito. A “Religião Afro
Brasileira,” é belíssima com suas cores, seus sabores e com seus ritmos a pessoa se encanta
com o conjunto, mas muitas vezes desconhece algumas coisas importantes, como por exemplo,
uma consulta implica em um ebó, naturalmente, quem não quer fazer ebó que não consulte.
Feito o jogo de búzios, começa sua caminhada, que na maioria das vezes, podem o levar,
não ao encontro e sim ao desencontro, isso vai depender da seriedade e do conhecimento do
sacerdote. Aquele que deveria ser o seu maior achado, o encontro com a sua “Religião”, e o seu
orisá pode virar um grande problema, pois o primeiro erro acontece por pressa de quem faz o
jogo na tentativa de impressionar e segurar o futuro filho em sua casa.
Quantos de vocês, na primeira vez, que foram consultar o jogo, lhes foram dito que o
orisá deveria ser feito e você iniciado?
Isso explica tudo que estou tentando descrever aqui nesse capítulo. Eu acredito que a
maioria saiu com a certeza que deveria ser feita para determinado orisá, após a primeira
consulta.
O que podemos concluir de tudo isso?
Depois de uma vida inteira, de buscas pela sua religião, aquela capaz de suprir, o vazio
do nosso intimo, vem à descoberta de um mundo de magias, que já vem coroado, com o orisá
do seu ori, tudo em muitas vezes revelado em minutos, como mágica.
Não é difícil de imaginar o porquê, dos desencontros, depois de todo esse achado, a
pessoa vai buscar tudo sobre o seu orisá, e ela vai se transformando, para “incorporar”, aquele
que seria o seu tudo.
Então, quando dá tempo, para a preparação, porque muitas vezes, essa pessoa mal tem
tempo de assimilar, o que é orisá, ele é feito em seu ori.
Será que vocês concordam com isso?
No decorrer do tempo, alguns problemas vão se tornando maiores, o que antes era uma
solução, acaba sendo o maior problema, a pessoa se vincula a uma religião que não conhece e
com pessoas muitas vezes despreparadas.
Vários fatores podem contribuir para essa sequência de erros, mas os mais comuns são
a pressa e a desinformação.
21

Essa é a razão porque insisto na melhor preparação de nossos representantes, de nossos


sacerdotes, todos esses problemas podem ser identificados antecipadamente por um sacerdote
com um real conhecimento, evitando assim sofrimento e desilusão.
22

Fé ou Alienação

“Hoje diante, de tantos desabafos, que recebo em minhas correspondências, fico me


perguntando, ate onde pode ir nossa fé; o porquê de tantas pessoas que tem abandonado a
crença nos orisas, e ido buscar novas crenças; será que a fé tem sido pequena, ou as desilusões
grandes demais?”

Agboola, Ifagbaiyin.

Onde podemos buscar a razão para tudo isso? Será que é o orisá que esta errando?
Ou será que esse erro está sendo cometido, pelo pouco conhecimento de nossos
sacerdotes?
Tantas coisas vêm sendo criadas, outras tantas misturadas, que a verdadeira essência, a
do orisa, esta cada dia mais longe da sua real origem. Vamos tentar enxergar de uma forma
simples, se eu pegar uma receita, e ao invés do sal, colocar o açúcar, todo seu sabor será
mudado, e a receita original, perderá completamente o sabor, quem errou?
Como que algumas pessoas conseguem cultuar inkices,voduns,orisas,caboclos e tantos
outros espíritos juntos?
Já conheci pessoas feitas para Osun tendo como Esu pessoal tranca rua das almas; como
isso pode acontecer?
Então, se não tivermos sacerdotes bem preparados e com uma linha de formação bem
definida como vamos esperar um resultado satisfatório.
Onde esta sendo depositada toda a fé de uma pessoa? Para quem ela deve fazer suas
orações? Em qual cultura ela deve se aprofundar e aprender; na cultura do misturando que
funciona?
É através de um bom sacerdote que teremos o conhecimento e a formação necessária
para entender uma religião. Com o passar do tempo, os erros vão sendo cometidos, vamos tendo
perdas, e com elas os sofrimentos gerados, por tudo isso, seguem aumentando. Quem suporta
perdas e os sofrimentos que tudo isso gera?
Tudo na vida está interligado, não vamos esperar milagres, mas vamos buscar sacerdotes
melhor preparados, que possam nos orientar, não queremos mágica, queremos coerência.
Quando temos fé, sentimos que não estamos sozinhos, que uma força existe dentro de nós, mas
às vezes não podemos dar um nome a ela, sentimos sua presença, precisamos desenvolver um
maior conhecimento, sobre tudo que está acontecendo.
Sabemos que muitas vezes ela partiu de um determinado orisa, e às vezes de um
assentamento feito por um sacerdote, que detêm o verdadeiro conhecimento e através dele, nos
transmite a força necessária para o momento ou situação que estamos passando tudo fica mais
fácil. É quando existe esse conjunto que teremos o resultado necessário, para o problema
daquele momento. A crença é necessária em todos os momentos, precisamos acreditar, mas
também conhecer o que acreditamos, fé sem conhecimento é alienação.
23

Religião Tem Regras

“Com o passar do tempo muito se tem escrito sobre a verdadeira função do sacerdote
dentro da religião afro-brasileira, mas a impressão que eu tenho é que quase nada foi
esclarecido, um Babalawo ou um Babalorisa é confundido com um proprietário da pessoa
iniciada, as confusões acontecem ou por parte de quem é iniciado ou por quem inicia. É muito
comum ouvir em minhas palestras perguntas sobre a relação de pais e filhos ou irmãos na casa
de Orisa”.
Agboola, Ifagbaiyin.

Algumas pessoas acreditam que se forem iniciadas pelo mesmo sacerdote que iniciou o
seu cônjuge a situação caracteriza um incesto, isso nos leva a seguinte pergunta somos católicos
ou pertencemos a Religião Yoruba (Èsìn Yorùbá) qual é a nossa verdadeira religião?
Uma grande quantidade de pessoas iniciadas em Orisa ainda seguem preceitos católicos
ou orientações espiritas por desconhecer os versos de Ifá, não sabem que dentro desses versos
existem as normas de comportamento que orientam os iniciados e o seu comportamento diante
de Olodumare.
Eu escuto todo tipo de pergunta, é melhor assim, pior seria se as pessoas não
perguntassem, continuassem com suas dúvidas, acredito que devemos dividir informações.
Há algumas coisas que devem ser esclarecidas, uma pergunta frequente é relativa a
preceito, sexo e pecado, no Odu Owonrin Ofun, fala que o sacerdote não deve fazer sexo com
sua esposa naquele dia, ele está comprometido com os rituais, todos as orientações de
comportamento podem ser encontradas nos versos de Ifá, no Odu Osa Otura, fala que devemos
sempre falar a verdade, no Odu Ogunda kete, diz que não devemos roubar.
Um texto de Ifá muito conhecido do Odu Osetura, fala da importância das mulheres, do
respeito que os homens devem manter por suas esposas, filhas e por suas mães, outro texto do
Odu Ofun Meji, diz que o iniciado em ifá deve ver Iya Odu e se tornar um Babalawo, já no Odu
Ogbe Meji, fica claro que a principal esposa de Orunmila só pode ser cultuada por quem passou
por um ritual chamado Ipanadu (cerimonia que o awo se torna um Babalawo, momento que
apaga se a luz para ver Odu).
No Odu Ogbe Yonu, fala sobre a relação financeira homem e a família da esposa diz
que até o casamento todas as despesas da mulher devem ser mantidas pela família, mas depois
do casamento o marido não deve deixar que a mulher passe necessidades, a manutenção da casa
é responsabilidade daquele que assumiu a relação diante da família.
Ainda no Odu Ogbe Yonu, vamos encontrar dados referentes ao casamento de um
Babalawo, nesse Odu diz que não deve haver a separação e nem o adultério, que as pessoas
deveriam antes de assumir uma relação pensar bastante, fala ainda que aquele que escolheu
viver com uma única mulher deve respeita-la e protege-la, ainda nesse Odu vamos encontrar
uma advertência contra o uso de magia maléfica contra o cônjuge, nesse caso Ifá vai se lançar
em sua defesa e não sabemos o que pode acontecer; nesse Odu diz que o Babalawo deve ter
24

uma postura digna e não deve se envolver com outras mulheres, a punição para o sacerdote que
não cumprir essa orientação diz Ifá: (que ele nuca vai atingir o sucesso em seu trabalho).
Obs: Com respeito ao numero de esposas o Babalawo deve seguir a orientação do seu
odu e buscar uma forma de respeitar a cultura local, podemos tomar como exemplo o odu Oyeku
Meji a onde ifá diz:
Que aquele nascido sobre esse signo só pode ter uma esposa, é evidente que também
podemos considerar a leis de cada país, no Brasil é crime manter se casado com mais de uma
pessoa.
O Odu Ogbe Ogunda, fala da punição do Babalawo, que desejar a mulher de outro awo,
diz Ifá (aquele Babalawo ou iniciado em Ifá que deitar com a mulher de outro awo, não deve
ver outro amanhecer).
No Odu Ogbe Meji, a necessidade do comportamento digno é enfatizada, de tal forma
que a punição seria o infortúnio, a falta de sucesso e o total esquecimento, o abandono do
sacerdote, suas orações não devem ser ouvidas, essa é uma das punições mais temidas, a relação
homem Orisa deixa de existir.
No Odu Obara Ogunda Encontramos em detalhes, a relação de um Babalawo, com a sua
Apetebi, nesse verso de ifá diz (a escolha da esposa de um Babalawo é apontada por Ifá quando
ela nasce), existe vários Odus que indicam essa relação, assim como também existe uma
identificação bem clara nos versos de Ifá sobre quem deve se tornar um Iniciado e quem deve
se tornar um Babalawo, ver Odu: Ogbe Meji, Oturupon Meji, Irete Meji, Iwori Meji etc.
No Odu Owonrin Sindin, aparecem algumas indicações sobre a necessidade do homem
cumprir o seu destino, assim como no Odu ogbe Ogunda, fala do cuidado com o Ori e a relação
do homem com o destino por ele escolhido, tendo como testemunho Orunmila, isso nos remeti
a uma reflexão encontrada no Odu Ogbe Meji (nem um homem deve se comprometer com um
Orisa antes de conhecer o seu destino) essa afirmação indica claramente que o homem deve
conhecer a indicação de Ifá para ter uma orientação sobre a sua vida religiosa, não é o homem
que escolhe o Orisa é Ifá quem indica os Orisa que devem ser cultuados.
No Odu Obara Kosun, fala da punição violenta caso o iniciado não respeite o seu
sacerdote e vice versa, o respeito deve ser mantido a qualquer custo assim como a segurança da
egbe (família) o sacerdote deve usar todos os recursos que possui para proteger a sua família,
dele será cobrado à omissão.
Ainda no Odu Obara Kosun, Ifá alerta sobre o uso do Opele, quem pode usar e sobre a
remuneração, aquele que não usar o Opele com dignidade jamais vai ver o sucesso, nesse verso
ifá deixa claro que um sacerdote não pode mentir e usar um instrumento de consulta em seu
beneficio, jamais será aceito qualquer tipo de mentira usando o nome de Ifá.
O Odu Ogbe Alara, fala de Iwa (caráter) a indicação é clara nesse odu, a necessidade de
manter uma postura reta, faz parte do dia a dia do iniciado, temos a obrigação diante dos Orisas,
de manter um comportamento que honre toda nossa família e nossos antepassados,
independente de nossa idade, a juventude não é desculpa para o erro a pouca idade, é
característica que indica a inocência e não a má conduta, fica bem clara no verso do Odu Ofun
Ose, que diz (é preferível um sacerdote jovem e honesto que um velho sem caráter).
Nos versos de Ifá vamos encontrar inúmeras recomendações de comportamento,
inclusive referente à higiene, no Odu Ose Odi, consta uma relação bem clara sobre a
necessidade de se manter limpo e com o corpo asseado, ainda nesse Odu diz Ifá (o homem tem
25

responsabilidade com seus filhos até que possam se manter, encontrar uma ocupação e ter sua
renda, é responsabilidade dos pais manter os filhos menores).
O Odu Obara Kosun, em seus textos indica que a pessoa que foi iniciada no culto aos
Orisas ou no culto a Ifá deve fazer oferendas às divindades e manter os seus assentamentos em
ordem, limpos o Ose (limpeza semanal) é responsabilidade do iniciado e não do sacerdote.
Ainda falando do comportamento de um Babalawo, diz Ifá no verso do Odu Ofun
Gbadara, as coisas de Ifá não devem ser comercializadas por um Babalawo, (um Babalawo não
deve ser um comerciante), nesse mesmo Odu diz (aquele que lhe prestou um favor, lhe deu uma
ajuda deve ser recompensado) todo trabalho espiritual tem que ser remunerado, se não for assim
como o sacerdote vai poder manter os seus assentamentos e continuar atendendo as
necessidades dos que o procuram.
O Odu Ofun Nagbe, fala da prosperidade do Sacerdote fala que aquele que trabalha
corretamente terá uma vida tranquila, assim como aquele que possui Ikin nunca lhe faltara o
alimento (Odu Idin Ka).
Um verso do Odu Ogunda Ogbe orienta sobre o dia do Ose semanal, um dia da semana
devem ser reservados para cuidar dos orisas, nesse dia os assentamentos dos Orisas devem ser
limpos, já no Odu Okanran Obara a orientação é sobre o assentamento de Egungun, diz Ifá
(aquele para quem aparece esse Odu) deve manter viva a imagem de seus antepassados, essa
pessoa deve ser iniciada no culto a Egungun e deve honrar todos de sua família, com um
assentamento que deve ser mantido sempre limpo e bem cuidado, é obrigação dessa pessoa
escolher um sucessor que ira manter esse assentamento para que esse culto não deixe de existir.
No Odu Iwori Meji, fala sobre fazer magias para quem não tem como se defender, sobre
o uso do conhecimento de um sacerdote contra quem não merece tal atitude, diz Ifá (aquele que
ataca um inocente a maldade e a destruição voltariam para prejudica-lo).
No Odu Osa Meji, está bem claro que não devemos julgar o nosso semelhante, só Ifá
pode saber o futuro de cada pessoa diz Ifá: (um Ori coroado não pode ser reconhecido por um
ser humano, só Ifá identifica o Ori que será beneficiado), não devemos menosprezar ninguém.
O Odu Oturupon Ofun, fala sobre o suicídio, não é permitido a ninguém essa pratica só
Ifá sabe e pode mudar o dia da morte, ainda nesse Odu diz Ifá: à longevidade não é
encantamento, devemos nos afastar de tudo que possa diminuir o tempo de nossa vida, devemos
fazer tudo para alcançar a longevidade.
No Odu Ogbeyonu, Ifá é bem claro não devemos ser arrogantes dentro da relação
afetiva, devemos buscar o companheirismo como forma de melhorar os relacionamentos.
Em Ika Ogunda, ifá fala sobre a necessidade de orar para obter sorte e prosperidade, o
homem deve manter suas orações, como forma de disciplina e humildade, nesse Odu assim
como no Odu Ogbe Ogunda, diz: o horário de fazer as orações preferencialmente pela manhã
logo que acordamos.
O Odu Osetura, diz não devemos nos exibir, devemos manter uma vida regrada e sem
exageros, um homem não deve discriminar uma mulher e uma mulher não discriminar um
homem, um velho jamais deve ser discriminado por jovem da mesma forma que um jovem não
deve ser discriminado por um mais velho, o respeito deve existir indiferente da idade ou sexo.
No Odu Otura Irete, Ifá diz: (a bondade deve ser cultivada como forma de gratidão) a
bondade deve ser praticada, não devemos ser ingratos, só Ifá sabe se não vamos necessitar em
26

um futuro da ajuda de quem nos beneficiou no passado, não devemos desfazer de quem um dia
nos ajudou.
O Odu Otura Ofun, deixa bem claro a necessidade de manter os ebós indicados por Ifá,
se uma pessoa consulta, toma conhecimento do problema e não fazer os ebós indicados à
responsabilidade deixa de ser do sacerdote.
No Odu Òtúrúpon`Otúa, fala sobre a necessidade de o sacerdote estudar e ter
conhecimento para honrar seus antepassados com sua capacidade, diz Ifá: é responsabilidade
do iniciado, assim como do sacerdote o aprendizado, a capacitação daquele que abre as portas
para o atendimento é uma responsabilidade assumida diante de Ifá, todo ato praticado dentro
da casa de Orisa tem que seguir a orientação dos versos de Ifá; no Odu Iwori Otura, fala sobre
a disciplina dos estudos e a educação do iniciado em Ifá deixando bem claro que devemos nos
dedicar para obter uma educação adequada. O Odu Irete Ofun, fala do estado de perfeição e o
alinhamento com Olodumare se não somos perfeitos devemos buscar a melhor forma de se
assemelhar com a perfeição.
O Odu Iwori Ofun, fala do respeito que devemos manter por todas as pessoas se
quisermos ser respeitados, há a necessidade de respeitar todas as pessoas sempre, a vida é um
benefício recebido das mãos de Olodumare, cabe a nós tornar digno o viver.

Iniciação Em Ifá E Suas Vantagens, Quem Deve Ser


Iniciado.
Durante o período que estive na Nigéria, um fato em especial me chamou a atenção, o
número de pessoas pertencentes a outras religiões que é iniciado em Ifá é muito grande.
Na cidade de Lagos conheci várias pessoas iniciadas em Ifá que não pertencem a nossa
religião, pensando sobre essa situação em especial, resolvi escrever sobre as vantagens de ser
iniciado em Ifá.
Que benefício eu posso ter sendo iniciado em Ifá? Essa pergunta eu já ouvi inúmeras
vezes. Eu costumo dizer que sair para uma viagem sem ter conhecimento da estrada, sem ter
um mapa é complicado, as chances de você se perder, pegar o caminho errado, é muito grande.
Quando uma pessoa é iniciada, eu costumo comparar ao fato de você receber o mapa da
estrada antes de partir em uma viagem, isso vai certamente facilitar bastante o seu
deslocamento. Qualquer pessoa, em qualquer momento de suas vidas pode ser iniciada em Ifá,
independente de sua religião, a pessoa tem inúmeras vantagens em ser iniciada, mas a mais
importante é o autoconhecimento. Vou tentar responder em um breve texto as curiosidades que
normalmente as pessoas têm em ralação a iniciação, ou em relação ao Isefá. Você quando é
iniciado por um Babalawo em Ifá você não perde a ligação com o seu Babalorisa se você for
iniciado em Orisa, o culto a Ifá pode acontecer paralelamente ao culto a Orisa.
Durante a iniciação a pessoa recebe muitas informações sobre o seu destino, o caminho
que deve seguir fica mais claro; vou citar aqui uma parte de um texto que faz parte do nosso
blog pertencente ao Babalawo Ifamileke Agboola, quando ele explica sobre o odu, ele descreve
(transitório e não permanente). Em suma uma Harmonização entre o ser humano e o seu atual
destino que será cultuado, para uma vida nova dentro do culto e fora.
27

Respeitando os ewos (proibições) de seu Odú Ifá, e as normas de conduta no seu


cotidiano espiritual e material, para a sua total harmonia, entre o profano e o sagrado.
Uma pessoa quando é iniciada em Ifá passa por alguns rituais, dependendo da orientação
o isefá pode levar de um a três dias em média pode ou não exigir entre os rituais um bori e
muitas vezes pode indicar o oferecimento de um agrado aos antepassados ou a um orisa
determinado, na maioria das vezes a pessoa não necessita ficar recolhida, é claro que de uma
pessoa para outra pode haver grandes mudanças nos rituais.
Na verdade cada pessoa tem um destino, e naquele momento a orientação de Ifá não
segue uma regra ou receita milagrosa, para cada pessoa os rituais podem exigir uma sequencia
completamente distinta da outra, mas o objetivo final é alinhar a pessoa com o seu destino,
passar para ela a Orientação de ifá trazendo à luz a vida do iniciado.
Uma pessoa deveria ser iniciada em Ifá antes de ser iniciada em Orisa, normalmente em
território Yoruba é isso que acontece, o fato de uma pessoa ser iniciada em um Orisa que não é
um daquele indicado no seu odu pode trazer problemas, criando uma situação em alguns casos,
de prejuízos, financeiros, afetivos, emocionais e até mentais.
O não alinhamento com o seu odu, e o distanciamento dos Orisas que deveriam ser
cultuados, pode ser bastante prejudicial; e a questão pode ser mais abrangente criando situações
bastante complicadas para o individuo, na realidade, a grande maioria das pessoas desconhece
que está cultuando os Orisa errado, e não sabe a dimensão do que isso representa em sua vida.
Isso implica em um comportamento onde a pessoa nesse momento pode estar sendo
totalmente indiferente a os Orisas que fazem parte do seu destino.
Imagine o seguinte exemplo, um filho de Ogun, trabalhando em um trabalho burocrático
passando o dia todo sentado fazendo calculose e atendendo telefone, esse tipo de situação
caracteriza ou um erro de feitura ou na pior hipótese o Orisa está errado ou a orientação do
sacerdote na escolha do trabalho do iniciado foi equivocada; isso descrevendo um exemplo
genérico sem um exame prévio da questão.
Podemos citar outro exemplo, o daquele filho de Obatala que é selecionado como um
atleta de ponta, competitivo e dedicado exaustivamente a os treinamentos, implicando em um
desgaste de energia constante; é claro que qualquer pessoa que entenda de Orisa, sabe que isso
é impossível.
Essas situações no mínimo hilárias deixam de existir, quando a pessoa é iniciada e
conhece o seu odu, tudo fica mais fácil, esse tipo de erro bastante comum pode abreviar a vida
da pessoa e em um minuto a sua vida pode ser perder, o não alinhamento com o destino implica
na baixa estima e na baixa da imunidade podendo criar sérios problemas de saúde.
Sair de viagem sem conhecer a estrada, sem ter um mapa é uma grande temeridade, ser
iniciado em ifá torna a sua vida muito mais fácil, você cometendo menos erros, e se dedicando
de forma correta ao seu orisa, as chances de você cumprir o seu destino com êxito aumentam
consideravelmente.
Se for o fato de você descobrir que foi feito para o Orisa errado, isso não implica em
uma nova feitura, na verdade você vai ter mais informações sobre o seu verdadeiro Orisa
possibilitando uma dedicação paralela ao Orisa anteriormente cultuado e o Orisa indicado por
Ifá em um patamar de igualdade, visando assim corrigir o erro cometido, que na maioria das
vezes você desconhecia.
28

Em um ritual teoricamente simples com um assentamento do seu Ifá, o homem pode


mudar a sua história. Em um igba com um número mínimo de dezoito ikins pode estar à resposta
as perguntas de toda sua vida!
O homem é responsável por seus atos e alimenta o seu dia a dia com suas atitudes. Você
conhece aquela pessoa que fala mal de todo mundo? Bem ele certamente vai falar mal de você
também, no meu caso prefiro manter distancia desse tipo de gente, parece simplista, mas é
objetivo, com esse comportamento evito inúmeros problemas.
Procuro estudar bastante Ifá e sei a respeito da força da palavra, isso está contido nos
versos do Odu Osetura, o homem deveria medir cada palavra que é pronunciada, ele desconhece
a força da verbalização.
A vida moderna e a procura desesperada por uma posição social melhor, fez do homem
uma fera que luta sem medir esforços para atingir seus objetivos.
Ultrajante, desmedido e temeroso é o comportamento daquele que para ganhar espaço
tenta fazer seu nome roubando o espaço do outro.
Nas grandes empresas isso é parte do dia a dia, mas na religião, essa aberração, deve ser
repelida de todas as formas, tal comportamento vindo de um sacerdote, é inaceitável.
Outro dia em um contato nas redes sociais, me foi proposto por uma senhora que eu a
atendesse sem que um amigo meu que é seu sacerdote soubesse, imagine o dialogo, tal senhora
me disse que dinheiro não tem marca, que se eu não a atendesse outro a atenderia.
Disse a ela, para a minha formação tal hipótese estava descartada, ela tentou argumentar
que ele (seu sacerdote) se mudou para longe e que certamente não ficaria sabendo, respondi a
ela que eu estava sabendo, que os Orisas sabiam, a resposta dela foi que talvez eu tivesse medo
dele, depois, ela me perguntou se eu não gostava de dinheiro, resolvi dar por encerrada a
conversa.
Para algumas pessoas esse comportamento de respeitar o outro é antiquado, eu prefiro
definir tal comportamento como adequado, e não antiquado, o homem é responsável por seus
atos e alimenta o seu dia a dia com suas atitudes.
Para algumas pessoas a palavra respeito não existe, esquecem elas que o Orisa tudo sabe
e tudo vê, que jamais um sacerdote deve desrespeitar o outro, mesmo que a sua formação seja
diferente, todos devem ser respeitados, todos merecem consideração; o comportamento ético e
humano exige de nós uma postura digna.
Você já viu um padre falando mal de outro padre, isso você não vai ver, é uma questão
comportamental, faz parte de uma formação acadêmica, social, mas sobre tudo humana, a
convivência em sociedade nos exige buscar formas continuas de polimento e enriquecimento
cultural para que possamos desenvolver a nossa função com dignidade, respeito e ética.
Tudo aquilo que não queremos para nós não devemos desejar para outrem.
Lembro-me de um dialogo que mantive na casa do meu Oluwo no dia que o conheci,
estava lá uma senhora Umbandista que se atendia com ele há bastante tempo, e quando ela saiu
eu perguntei a meu Oluwo, qual era a sua opinião a respeito dela pertencer à outra religião, a
resposta foi a seguinte em suas palavras em um português meio atrapalhado (os espirito que ela
cultua são muito bons, ele a trouxe aqui no lugar certo, para Ifá tratar o seu problema, que ele
naquele momento não conseguiam resolver, toda a religião, bom, devemos respeitar, religião
de brasileiro, bom).
29

Fui alertado por minha filha que um sacerdote de São Paulo copiou o meu blog na
integra e assinou cada postagem como se fosse dele, fico me perguntando que tipo de criação
esse moço deve ter recebido.
O homem está seguindo por um caminho bastante tortuoso, quando a educação não é
recebida em casa, a vida se encarrega de educar o individuo, e isso às vezes é bem dolorido.
Qualquer dia desses a população carcerária de nosso país vai atingir níveis insuportáveis
para a nossa sociedade, seria muito mais fácil investir em escolas e na melhora do ensino que
construir novos presídios.
A falta de formação somada à falta de educação gera a besta que nada respeita e nada
teme; o fim desse tipo de gente que faz da sua vontade, a lei, é sempre igual.
Quando nos ajoelhamos aos pés de Olodumare, Àjàlá (escolhemos o nosso Ori), o nosso
destino, sabemos que uma parte dele pode ser mudada (ÀKÚNLÈYÀN, livre arbítrio); com boa
vontade podemos melhorar nossa qualidade de vida temos que ter iniciativa, podemos melhorar
nossa educação e a nossa formação pode ser aperfeiçoada.
O homem veio a terra para evoluir, isso depende muito de suas atitudes e de seu
comportamento, para atingir esse objetivo, contamos com a orientação de Ifá.
Eleri Ipin, a testemunha na hora da escolha do nosso destino. ele é o único que pode nos
mostrar o caminho certo a ser seguido. Esse é a função de Orunmila, determinada por
Olodumare (Deus), acompanhar o desenvolvimento humano, ele é o único que pode nos mostrar
o caminho certo a ser seguido.
A composição do Orí àpéré, destino escolhido por nós, sob a ótica da Religião
Tradicional Yoruba e suas consequências como a falta de evolução pessoal e o não
cumprimento do seu destino certamente impede que o individuo venha ser cultuado como
antepassado após sua morte, isso se torna evidente, pois quem gostaria de homenagear um
espirito, que não buscou sua evolução, um espirito que não contribui em nada durante a sua
vida na terra.
AKUNLEYAN é a parte do destino que cada um escolhe por vontade própria, livre
arbítrio.
AKUNLEGBA é a parte do destino o qual está adicionada como complemento de
AKUNLEYAN.
AYANMO é aquela parte do destino que nunca pode ser mudado, como exemplo, Pais,
sexo etc...
Ìwà Rere quer dizer, bom caráter, um dos principais requisitos para se tornar digno de
ser cultuado por seus descendentes após sua morte.
Apari-Inu representa o caráter à natureza humana, Ori Apere representa o destino.
Um indivíduo pode vir para a terra com um bom destino, mas se ele vem com mau
caráter, à probabilidade de cumprimento, do seu destino é comprometida.
Isso é o que popularmente se chama de pobre de espirito, a sabedoria popular é fantástica
também existe uma frase que diz, o castigo deve ser adequado ao caráter do culpado.
Iwà nikàn l'ó sòroo!
Caráter é tudo do que se precisa!

Afinal, Qual é a Sua Religião?


30

“Uma vez me perguntaram o porquê de não acender velas na religião tradicional,


respondi, eu não acendo velas porque em nossa religião não existe esse hábito, não existi velas
nos rituais para os Orisas em território Yoruba...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Eu não vou à missa e não comungo porque não sou católico, não tenho nada contra os
católicos, mas me incomodo muito com as pessoas que cultuam Orisa de forma católica, só
falta fazer o sinal da cruz antes de oferecer uma comida a Ogun.
Não acredito em me distanciar dos espíritos de minha família, rezando para evolução
deles, porque não sou Espirita, cada religião tem a sua identidade, eu quero Egungun sempre
bem próximo de mim.
Buscar na fonte a informação, ao contrario do improviso criativo, estabanado e de mau
gosto, nos coloca em alinhamento com nossos orisas e com nossos antepassados.
Você já viu um padre dar comida a Osun às margens de um rio ou um kardecista
colocando um adimu para os orisas.
Se isso não acontece, porque o inverso é comum?
Inúmeros Babalorisas confundem tudo, de tal forma que só falta chamar um padre na
hora de dos rituais fúnebres, de um iniciado em Orisá.
Imagine o sujeito que adorou os Orisas, durante toda sua vida, quando ele morre, quem
faz o ritual é um sacerdote de outra religião, totalmente indiferente à fé do falecido, isso é
inaceitável.
A crença daquele que deveria ser naquele momento reverenciado, termina sendo
ofendida, e tal circunstancia provoca todo tipo de constrangimentos, tanto para o sacerdote
chamado naquele momento como para as pessoas da família do falecido.
Se formos pegar os casamentos como exemplo, o noivo e a noiva vestidos com roupas
de rituais estranhos a sua crença, em um momento de suma importância, recebem a benção de
uma pessoa que muitas vezes despreza a fé daqueles gostariam de estar ouvindo o som dos
atabaques, e as cantigas de Osun, que muitas vezes são substituídas por algumas palavras sem
sentido ou se termine rezando um Pai Nosso e uma Ave Maria.
Pobre daqueles então, que já nascem sem que o sacerdote de suas famílias, tenham
condições de oficializar um simples batizado, imagine que durante toda a gravidez, a mãe pediu
para Osun, que seu filho nascesse saudável; agora quem oficializa o batismo, não permite se
quer ser que seja mencionado o nome de um orisa, isso é muito comum, mas não deveria
acontecer.
Imagina então, outra situação, que ofende nossos antepassados, prejudica e muito o
futuro dos nossos descendentes.
Muitas vezes alguns Orisás são apresentados em festas publicas, com roupas caríssimas
reproduzidas em modelos que pertencem ao período colonial português, confeccionadas em
tecidos denominados em Francês e complementadas por capacetes dignos de uns centuriões
romanos, coisas de causar ciúme a qualquer carnavalesco.
31

O hábito cada vez mais frequente da ostentação e do desfile de modas, já faz parte do
nosso dia a dia, mas, se uma roupa tradicional Yoruba no esta do de São Paulo pode ser
comprada por menos de cem reais, porque o uso então de tais indumentárias?
Seria vaidade, loucura ou marketing?
Pergunto isso, pois em alguns sites religiosos, os Babalorisas começaram divulgar fotos
de suas casas e de seus carros como se isso tivesse algum significado religioso.
O sujeito que coloca a foto do seu carro importado em um espaço dedicado para falar
de orisa, na verdade está querendo demonstrar poder aquisitivo, isso não representa asé, e sim
autoafirmação.
Essa situação deve causar tristeza, provocando em nossos antepassados, indignação e
angustia; como podemos honrar nossos antecessores, se nos permitimos influenciar por culturas
antagônicas a nossa crença.
Se o estado é laico e a lei nos beneficia, porque muitos ainda permanecem escravos?
Essa é uma situação que não é nova, há quase três décadas, uma das maiores Iyalorisas
do Brasil (Dona Stella de Osossi, do Ilê Opô Afonjá), já mencionava tal situação.
Não me surpreenderei se encontrar pessoas oferecendo chester com champignon para
Obatalá.
32

O Encontro Com o Orisa

“Quando eu era criança, ouvia vozes, via espíritos e tudo isso me deixava assustada,
mantinha segredo das minhas visões e por vergonha, sobre isso, nada falava...”.

Agboola, Ifakemi.

Fui com minha família na igreja católica, mas parecia que algo estava faltando.
Então, conheci a Umbanda, e descobri que tinha um guia de frente, ficava imaginando
como e quem ele era.
A Umbanda é linda cheia de vida e amor caridade e luz, mas meu caminho só estava
começando.
Com o passar do tempo fiquei sabendo que existia orisás, e a sua importância.
Quando imaginava o meu Orisa, inexperiente pensava sou de Yemonja, ela é linda mora
no mar. Sou filha de Yemonja a mulher linda que tem os cabelos lisos e negros, conforme tinha
conhecido nas lendas.
O tempo passava e em minha mente a visão do meu Orisa se alterou, o conhecimento
aumentava as informações se somavam e também mudava a minha opinião, agora conversando
com outras pessoas me via filha de Oya. A mulher guerreira que tem os filhos como sua grande
paixão, sentia que é assim o meu orisá, assim eu pensava, assim eu acreditava, Orisa mãe capaz
de fazer qualquer coisas pelos filhos.
Foi quando descobri que existia o pai e a mãe de cabeça, um segundo Orisa, Ogun, o
guerreiro, vencedor de demanda, fiquei na dúvida seria Sango, o rei, aquele que faz a justiça?
Imaginei, viajei no meu pensar, quantas lendas eu li, e em quantas delas me imaginei,
guerreira, mulher mãe, Orisa.
Sonhos coloridos, sonhei com o aroma das comidas baianas, e em cada sonho em uma
ilusão me coloquei servindo meu Orisa.
Fui deusa das cachoeiras, dos oceanos, dos raios, me vesti de armadura, fui valente fui
Ogun, fui o rei, a própria voz do trovão, fui Oya apaixonada, que descobriu o rosto do senhor
das palhas, Soponnan. Em quanto lia as lendas, escutava as histórias, em minha mente a paixão
pelo Orisa me aproximava mais dessa religião. A curiosidade que foi despertada em minha
pessoa era agora de verdade, conhecer o meu Orisa, os meus “pais de cabeça”, assim eu dizia.
Eu pensava que quem poderia me ajudar fosse um vidente, que olhando para mim ele
conseguiria enxergar os meus Orisas, estava muito enganada.
O tempo passou e o conhecimento aumentou um pouco, descobri que eu não ia precisar
andar o Brasil inteiro em busca do tal vidente, tudo era mais simples que eu pensava.
A necessidade me fez buscar novos conhecimentos, além da Umbanda. Fui então
consultar os Orisas. Na casa de um sacerdote então tudo começa com a consulta ao jogo de
búzios, é claro que vem a curiosidade louca de saber quem afinal são os meus orisas “donos da
cabeça”.
33

Não foi suficiente uma só consulta, conheci algumas pessoas e com elas consultei.
Descobri que era mais fácil do que eu imaginava jogar búzios, bastava saber matemática, isso
mesmo, não precisava ser vidente, imaginei que eu mesma poderia fazer aquilo.
Tudo era bem simples, uma soma com a data de nascimento e uma cruz, e ali estava o
resultado, a resposta para os meus problemas, tudo sobre os meus orisás, tudo sobre a minha
vida, estava tudo bem claro. Não era tão fácil assim, no meu caso que tenho nove na soma da
data de nascimento era complicado saber quem vai responder, Oya, Yemonja, Sango, continuei
na dúvida. No fim ficou entre Oya e Yemonja, uma parte da minha curiosidade estava sendo
resolvida, eu imaginei que tudo estava certo. Eu na época não percebi que essa coisa tão simples
de continhas fosse dar tantos problemas.
Então levada por uma necessidade, em busca de uma solução para um problema de
saúde fui iniciada no Orisa. Através da numerologia, e da data de nascimento foi encontrado
finalmente o meu tão sonhado Orisa,Oya, minha linda mãe.
Com a feitura, adoeci, a situação complicou e fiquei no terreiro apenas três meses, eu
era vista como um problema sem solução. Com a feitura a solução virou o problema principal
e a minha saúde piorou, começou uma nova busca, agora mais do que nunca encontrar as
respostas certas era fundamental. Consultei com varias pessoas até que conhecer a Religião
Tradicional Yoruba, descobri que os Orisás nascem de um odu, descobri que um odu é
composto por vários Orisas, descobri que além de Oya, devo cultuar Iya mi, Osun, Sango,
Obatala ,descobri que nossa religião é simples e que o Orisa não usa saia de armação, descobri
tantas coisas, obtive mais informação.
Descobri que para saber um orisá não se soma a data de nascimento e muito menos se
faz uma cruz. Descobri que ninguém tem um casal de orisás e sim um odu onde é cultuado
vários Orisás. Descobri que em nossa religião existe uma literatura, os versos de ifá, nos versos
tudo sobre o orisás é explicado, e a orientação para o dia a dia por Ifá nos é dada.
Hoje entendo porque existe uma quantidade enorme de pessoas com o Orisa trocado,
isso me deixa triste mas, cada um com sua cruz, se você acredita que Odu é assim, que com a
data de nascimento você encontra o Orisa, siga fazendo a cruzinha, cada um com a sua cruz!
34

Estupides, Burrice, Ignorância ou


Conveniência

““Estupides é negar que houve adaptações para que o culto de orisá, no Brasil
sobrevivesse”.
“Burrice é não aceitar que hoje, temos condições de recuperar tudo que foi perdido em
razão da repressão de outrora”.
“Ignorância é permanecer como está com a desculpa que respeita as tradições e os
antepassados”.
“Conveniência é usar benéficos da modernidade e informações, somente em alguns
itens que beneficiam em uma questão especifica e em um tempo determinado”.”

Agboola, Ifagbaiyin.

Usar tecidos yorubanos para se dizer conectado com a raiz até na forma de vestir, porem
em modelos regionais, se o tecido yoruba o identifica com a raiz, certamente a identificação vai
está em conformidade com o modelo tradicional.
Afirmar que joga por odu sem jamais ter recebido o merindilogun de alguém que tenha
conhecimento e odu para tal.
Se dizer conectado com as tradições e usar adja, lagdiba, ileke de âmbar ou alabastro,
mas não ter os orisás arrumados com odu.
Falar meia dúzia de palavras em yoruba e não saber a tradução, do seu próprio oruko.
Distribuir cargos em sua casa, sem saber cantar no mínimo oye. Fazer ebó de odu considerando
o alinhamento do odu, com a quantidade, de itens a serem usados.Dizer que vai consultar ifá e
usar o merindilogun e lançar mão de somas da data de nascimento dia, mês e ano para identificar
orisá.
Usar ekodide e não tirar o cabelo, se dizer iniciado, mas não seguir as indicações de ewo
(proibições), usar osun, efun e waji, mas não conhecer folhas, pintar alguém com waji e ofun e
não usar osun é assustador, se dizer de orisá e levar iyawo na igreja, como diz dona Estela de
Osossi o povo ainda é escravo e não sabe, se dizer alinhado com cultura de orisá e beijar a mão
pedindo a benção, como indicação do catolicismo em relação ao sacerdote.
Se dizer atualizado e culto, e na festa para o orisá, servir maionese, estrogonofe, sem ter
a mínima noção de como preparar um eko. Achar que esta elegantemente vestida e chamar
roupa branca de ração, se dizer que é feito de orisá e ter usado mokan.
Dizer que tem seu assentado e rezar diante de uma vasilha que tem um garfo de ferro,
se dizer oloorisa e cantar para vodun, e ainda por cima colocar o iba de um orisa sobre um
porrão, dizer que o orisá é tudo na vida e se incorporar com catiço, sacrificar escondido e não
usar o seu próprio oruko e postar como esotérico.
Estupides, burrice, ignorância ou conveniência, a verdade é que todos os dias, em nosso
país presenciamos auxiliares de enfermagem, se dizer médicos, auxiliares de pedreiro se dizer
engenheiros, sargento dizendo que é general e idiota se titular sacerdote.
35

A falta de informação somada a interesses obscuros conduz por um caminho sem volta, a
ignorância montada na arrogância.

Vai ter que existir em um futuro um órgão regulador, onde o despreparo impossibilite e o
conhecimento, seja premiado.

Admitir que as monstruosidades que estão sendo feitas em nome do orisá, faz parte de um
processo de seleção, é desculpar o errado sem reconhecer o certo, é dar credito para quem não
merece e colocar todas as pessoas em um mesmo nível.
36

O Despreparo e o Perigo

“A preparação de um babalawo é demorada, o awo (iniciado), que deseja atender com


opele ou ikin, deve estar muito bem preparado, veremos alguns perigos do despreparo. Alguns
odus bastante conhecidos para a prosperidade estão sendo usados indistintamente, o odu irete
alajé é um exemplo bastante conhecido por facilitar o ganho financeiro, deixa de ser citado,
como um odu de risco de morte...”

Agboola, Ifagbaiyin.

O odu oturopon iwori, é um odu que requer um tratamento especial porque inviabiliza
naquele momento o uso do opele, o odu ofun sa indica que o consulente não tem saída, a
orientação é uma iniciação imediata.
Além desses odus perigosíssimos o odu oyeku ose e odu irete oyeku, indica que a morte
esta próxima. Vários odus, devem ser tratados com muito cuidado, o awo despreparado, além
de correr riscos, coloca em perigo o consulente.
O que está acontecendo com a nossa religião
Sabe quando sua indignação supera a razão?
Faz pouco tempo, recebi informações que um sacerdote, desenvolveu uma formula
magica, uma pomada que torna a mulher extremamente desejada e atraente, se usada em suas
partes intimas, a questão que a pomada só faz efeito se o suposto sacerdote testar
antecipadamente na cliente.
Depois de saber que um famoso Oluwo, dá consulta incorporado com o Tranca Rua,
juntando com a história da pomada resolvi escrever esse texto.
O numero de pessoas que me pede orientação é enorme, e a minha responsabilidade em
informa é maior ainda.
Tem Babalawo se incorporando com a pomba gira e a cigana, Oluwo que ministra banho
em mulheres incorporado, que propõe uma troca de energias, com a cliente, pretendendo uma
relação sexual para fins de purificações.
Eu gostaria de poder usar a palavra certa para definir isso, mas a única palavra que me
lembro é de baixo calão me desculpem.
Armado com a minha indignação, abaixo faço uma relação de pequenos
esclarecimentos, buscando assim desmascarar esse bando de malucos oportunistas, sei que vou
arrumar muitos inimigos, já recebi centenas de ameaças, e mais algumas não vai fazer diferença.
1-Oluwo não incorpora.
2-Babalawo não incorpora
3-Iyanifa não incorpora
4-Oluwo, Babalawo e Iyanifa consultam ifá com opele.
5-Ifá não responde no merindilogun, quem responde no jogo de búzios é Osun.
6- Nenhuma pessoa pode iniciar outra em um orisá que ela não seja iniciada, salvo uma única
exceção quando tem Iya odu.
37

7-Se a pessoa, iniciada não tem Esu e Osun, é impossível que ela atenda com jogo de búzios,
(merindilogun).
8-Se a pessoa iniciada não tem o assentamento de Ogun, é impossível que ela use o Obé, (faca).
9- Se em uma casa existe um casal de iniciados, e a mulher recebeu o seu Oye (cargo), antes do
marido, o proprietária da casa é ela, e não o marido, não existe a possibilidade, de em uma casa
existir dois sacerdotes, com a mesma função, salvo quando tem função subordinada na casa do
outro, exemplo, Iya kekere, Iyalode, etc.
10- Uma pessoa que foi iniciada com um Oye em uma casa, quando se afasta dela, e ingressa
em outra casa, deixa de usar o Oye recebido na casa que foi iniciada, salvo a exceção de receber
o mesmo Oye nas duas casas.
11-Um oje iniciado só poderá iniciar outro ojé depois de vestir o egungun principal de sua casa,
para isso existem vários rituais e assentamentos próprios no Ile igbo iku.
12-Um iniciado em Iya mi, somente poderá iniciar outra pessoa depois de cumprir todos os
imules.
13-Um iniciado em Oro, só pode iniciar outras pessoas, que tenham odu para esse tipo de
iniciação.
14-Um Babalawo só se torna Oluwo depois de um longo treinamento e de ter assentado Osun,
Iya odu.
15-Um Awo (Babalawo), em processo de aprendizagem, é liberado para usar opele, em consulta
para clientes, após rituais apropriados, até então ele só pode consultar ifá para suas questões
pessoais.
16-Ao cumprimentar os orisas ou outros sacerdotes, a mão esquerda deve ser colocada sobre a
direita, no momento que é colocada a cabeça no chão, essa saudação Ogboni, representa a
supremacia feminina.
17-Existem inúmeras, regras relacionadas ao posicionamento dos membros nos rituais o mais
antigo, permanece à direita do sacerdote, o mais jovem à esquerda e se for o caso, de pessoas
com o mesmo cargo e a mesma idade, de iniciação, as mulheres permanecem à esquerda e os
homens se posicionam a direita.
18-O pano da costa, das mulheres iniciadas é usado no ombro esquerdo.
19-O Itague espécie de estola, é parte da indumentária Ogboni, somente permitido o uso para
iniciados.
20-O chamado pano da costa, quando amarrado no ombro, sempre deve ser posicionado do lado
esquerdo.
21-O conhecido pano de cabeça serve, como o nome diz, para cobrir a cabeça, e jamais, deve
deixar, “os cabelos amostras”, o conhecido pano de cabeça faz parte do vestuário feminino, e
raramente é usado por homens.
22-Não existe na indumentária feminina Yoruba, roupas com decotes exagerados.
23-Em rituais de etutu a orisa, não é permitido o uso de sapato.
24-O conhecido solidéu, não faz parte da indumentária no culto ao orisa.
25-Os fios de conta, (ilekes), não podem ser usados de maneira imprópria, somente um
sacerdote de Obatala, usa alabastro branco, somente os Babalawo e os Obas podem usar Ileke
ihun, somete os iniciados em ifá podem usar ide ifá.
38

Iya Mi, as Bruxas e a Desinformação

“Eu sempre me digo uma pessoa calma, mas diante de tantas asneiras sendo ditas
sobre Iya mi na internet, minha paciência desapareceu, chamar a mãe da terra de bruxa, é no
mínimo desinformação ,Iya (mãe)mi(minha) minha mãe não é bruxa ,e eu entendo o motivo da
afirmação ,falta de cultura, mas não concordo com a falta de informação nos dias de hoje, pois
nunca na história da humanidade foi tão fácil se informar”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Dizer que Iya mi é um culto só de mulheres é mais um absurdo, o que dizer dos Osos?
Eu já ouvi de tudo até que Iya mi é cultuada para maldade, eu só posso dizer que tudo isso é
loucura, a função de Iya mi na filosofia yoruba, é a coordenação dos Ajoguns, Iku a morte, arun
a doença, ofo o prejuízo ou perda, e outras dificuldades que o homem encontra em sua
existência, a liberação dos ajoguns ou não esta ligada a uma série de fatores, assim como o
próprio destino que conforme a cultura religiosa yoruba em parte é escolhido por nós mesmos.
Diante de tais informações, erradamente divulgada eu tenho a dizer que se você quiser
agradar seus antepassados femininos e buscar uma existência em harmonia com passado e o
presente e o futuro certamente deve cultuar Iya mi.
A essência jamais deve ser esquecida não existe figura mais respeitada para os yorubas
que a mãe ,é muito difícil aceitar que a mais importante das divindades se tornou uma bruxa no
nosso país essa que representa todas as mães inclusive à mãe terra deve ser respeitada em todos
momentos.
O culto a Iya mi faz parte da historia da humanidade e não é um grupo de desinformados
que vai mudar a cultura trazida para o Brasil por nossos antepassados.
39

Imules

“Muito se tem falado sobre Iya mi, mas pouco se tem divulgado dos detalhes do culto a
esse orisa, na verdade pouco se pode divulgar e isso todos compreendem, quando alguém tenta
falar um pouco mais imediatamente, vira alvo de criticas quase sempre feitas por pessoas que
nem são iniciadas...”.
Agboola, Ifagbaiyin.

Nas famílias que cultuam Iya mi, muitos homens são iniciados e participam ao contrário
do que é divulgado no Brasil, a presença masculina é muito importante, e homens e mulheres
participam de forma harmoniosa dos rituais.
O que se pode divulgar é que as pessoas pactuadas a partir do primeiro imule tem acesso
a algumas informações que a maioria nem imagina, isso acontece tanto para homens como para
mulheres.
Quando o imule é feito com Iya mi, a pessoa ao contrario do que se pensa desperta uma
energia que ela já possui, que somente com um ritual adequado e conduzido por pessoa
habilitada justifica essa relação homem divindade trazendo benefícios para o individuo.
Jamais esse ritual pode ser chamado de iniciação, e muito menos de feitura; em uma
iniciação o individuo recebe algo que esta faltando, e em uma feitura ele exalta o que já possui,
mas em um imule ele assume um compromisso com sua origem seu passado e seu futuro,
aflorando assim o desconhecido mas existente principio.
Não mencionarei a ordem dos imules aqui por razões já conhecidas, mas em um deles o
individuo enfatiza o seu compromisso com a terra e em outro um com a sua origem.
Posteriormente existirá um contato com forças através de uma representação que será
alterada conforme a evolução do individuo diante dos pactos assumidos, seguindo rituais de
compromisso até que em um desses é determinado o completo afastamento de algumas
atividades.
O então pactuado para seguir em frente devera sair do país, pois só em território yoruba
poderá concluir seus compromissos.
È verdade que algumas pessoas falam em sete ou até em nove imules, eu não gostaria
de abordar aqui a quantidade nem a ordem dos mesmos, mas em alguns casos eles podem ser
interrompidos por orientação de Ifa ou poderão ser feitos em uma ordem mais rápida, sempre
visando o bem estar do individuo e o cumprimento de regras previamente estipuladas onde fica
bem claro que só a orientação de Ifa poderá determinar o caminho a ser seguido, pois em alguns
casos até a ordem dos imules pode ser alterada.
Algumas pessoas desconhecem, mas existem vários tipos de imules inclusive com os
outros orisas, sempre buscando a proteção e o beneficio do pactuado.
40

Odu, Ifa, Orunmila, Ela e Agboniregun

“Eu tenho presenciado todos dias nas comunidades os mais diversos comentários sobre
Ifa e tem pessoas que por desconhecerem os rituais acreditam em coisas que jamais poderiam
acontecer, como, o meu odu de nascimento é tal, essa colocação é muito comum nos dias de
hoje onde ocorre que a maioria das pessoas querem falar sobre odu e Orunmila, sem ao menos
serem iniciados em Ifa...”

Agboola, Ifagbaiyin.

O orisa Orunmila também conhecido pelos outros nomes citados no titulo, é o orisa da
sabedoria o maior conhecedor sobre o destino dos homens e seus odus.
Odu tem uma representação gráfica de um conjunto de elementos representados na
natureza que descrevem uma parte de um todo do universo ao qual assim como as pessoas e
alguns elementos da natureza tem sua origem a partir da criação de Olodumare (Deus) sendo
assim tudo nasce de um odu inclusive os orisas.
Cultuar Orunmila é cultuar a informação a sabedoria e a filosofia do povo Yoruba, é ter
como regra de vida os sagrados versos de Ifa o orisa do oráculo ,e sua eterna orientação como
ensinamento que deve ser usado diariamente.
Oculto a Ifa se completa com os demais por que se você desconhece seu orisa como
poderia reverenciar o mesmo, como pode cultuar seu antepassado tudo acontece
simultaneamente e se completa.
O Brasil perdeu muito com a falta de Babalawos, graça a Olodumare isso esta sendo
resolvido aos poucos , teremos em um futuro não muito distante homens ocupando esses cargos
com dignidade em todo o pais.
41

Tudo que foi Perdido ou Esquecido

“Durante a o processo de transferência dos orisas para o novo mundo, muito se perdeu,
com o passar do tempo, a falta da escrita, e a intolerância cravaram fundo a faca da
desinformação em nossa herança cultural, sorte nossa que homens e mulheres deram suas
vidas para manter o que ainda restou...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

1-Oduduwa, o patriarca do povo Yoruba (masculino) foi confundido com Iya Odu divindade
(feminina) orisa cultuado pelos iniciados em Ifa (Babalawos, Oluwos) e outros.
2-Esu foi transformado em demônio, e as pessoas começaram a ter medo de iniciar seus filhos.
3-Orunmila foi esquecido, e os seus sacerdotes desapareceram, o culto a esse orisa quase se
extinguiu no Brasil.
4-Ayán o orisa do tambor, desapareceu, e o ritual de consagração de um ilu (tambor, atabaque)
foi perdido em muitas casas, o pior é que Alabe se tornou Ogan (Ogan mestre de cerimônias ou
encarregado).
5-Yemonja deixou de receber peixe vivo, e muitos nunca nem viram tal ritual, ficando assim
conservados somente os pratos oferecidos a grande mãe, com frutos do mar.
6- Oloogun Ede orisa conhecido em território yoruba por sua valentia e coragem nas batalhas
ao lado de Ogun passou a ser considerado um orisa criança(infantil) perdendo completamente
sua essência de guerreiro.
7-Nanã passou a ser, a mãe de Soponnan (Obaluaiyê) quando em verdade não tem nenhuma
ligação entre eles.
8-Olugama (orisa masculino) encarregado da matéria prima para a confecção do primeiro ser
humano, se tornou feminino.
Eu poderia ficar aqui escrevendo por muito tempo, a lista do que foi transformado ou
perdido é muito longa, mas prefiro pensar no que restou e no que podemos recuperar, até por
que quanto mais exemplos eu citar mais aumentarei à ira dos desinformados contra mim, não
que isso me preocupe, pois quando assumi a missão de escrever essas mensagens, já sabia o
que se seguiria, em contra partida o numero de pessoas sérias e responsáveis me apoiando é
enorme e a cada dia surpreendentemente aumenta.
42

Abiku o ser Indesejado ou Não!

“Eu sempre digo para as pessoas que tudo vai depender por que ângulo estamos olhando
dizer que um Abiku tem dificuldades na vida é verdade, mas quem não temeu já atendi algumas
pessoas Abiku muito bem de vida em todos os sentidos enquanto outros que não tem esse
problema vivem um verdadeiro pesadelo...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Em yoruba bi significa (nascer) e iku significa morrer então estamos falando de pessoas
que deveriam ter morrido que nasceram para morrer e por alguma razão isso não aconteceu só
isso já torna essas pessoas verdadeiros vencedores.
È claro que tudo é muito mais complicado que parece, tal situação requer muito
conhecimento por parte do sacerdote que se arvore como conhecedor, ele pode colocar muitas
vidas em risco inclusive a sua, tratar dos espíritos infantis é um misto de conhecimento e
coragem, pois um espírito de criança sempre pode surpreender.
O culto a o orisa Ibeje (gêmeos) e o culto ao orisa Egbe orun (família do céu, espiritual)
fazem parte de um conjunto que quando bem trabalhado trás a pessoa Abiku uma vida de
prazer e alegria.
Falar de algo que não se conhece ou nunca se viveu é um grande erro, cabe a nós
encontra uma forma de divulgar a mais pura verdade sobre esse assunto.
43

Egun e Oku

“Os povos de origem yorubá tem um nome especial de tratar seus antepassados, Egun,
esse termo identifica o antepassado masculino espíritos divinizados através de rituais
específicos, onde o morto passa a ser considerado de forma especial ,ele recebe um novo nome
e começa ser cultuado junto ao assentamento dos demais antepassados...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Os yorubas acreditam que o culto a Egun serve para harmonizar a pessoa com o passado,
mas principalmente para reverenciar aqueles que contribuíram para a nossa existência, pois
como todos sabemos sem passado não existe presente e muito menos futuro.
Os espíritos dos mortos na cultura yoruba recebem o nome de oku, não é todo oku que
se torna Egun, mas todo Egun um dia foi um oku. A diferença esta nos rituais próprios para
tornar o oku um ser divinizado, esses rituais podem ser feitos somente para os espíritos de
pessoas iniciadas no culto de orisa ou de egungun, é claro que existe outros pré-requisitos para
que esse processo de divinização seja efetuado o homem quando vivo deve ter um
comportamento exemplar se pretender um dia ser cultuado como Egun.
No Brasil existe uma diferença em relação ao que é feito no território yorubá, aqui se
acredita que os eguns jamais devem ter contato direto com as pessoas, isso para a tradição
yorubá não procede, os antepassados ficam felizes com esse contato, essa é uma das formas de
harmonizar o espírito com seus descendentes. Quase todo espírito (oku) cria problema para os
seus descendentes se não for cuidado de forma adequada, normalmente a falta de rituais
fúnebres próprios e o despreparo das pessoas para cumprirem algumas exigências básicas nessa
relação homem espírito terminam criando esse conflito.
Na cultura yorubá existe uma sociedade secreta que se encarrega dos rituais fúnebres,
esses sacerdotes cultuam uma divindade chamada Oro, que no Brasil ainda é um pouco
desconhecida. No tocante aos espíritos dos antepassados femininos, é muito raro que seja
cultuado de forma individualizado, normalmente é cultuado de forma genérica na sociedade
secreta das Iya mi, exemplo iya mi Osoronga, Iya mi Aiye, Iya mi Aje...E xemplos são:
1- Egungun, culto de espíritos masculinos individualizados
2- Oro, culto de espíritos masculino generalizado.
3- Iya mi, culto de espírito feminino generalizado.
Observação: Não confundir com o culto aos Orisas, espíritos divinizados, e com culto no Brasil
relacionado às forças da natureza.
Para melhor entendimento, não confundir com caboclos cultuados na Umbanda religião
de origem Brasileira, Que definiríamos como uma forma semelhante de cultuar Egun, porém
com diferenças, pois os espíritos da Umbanda tem ligação com a cultura Bantu, indígena, ou
oriental.
44

A Verdade Sobre Egúngún

“Na cultura yoruba a morte é encarada com naturalidade, o povo deste território tem
uma forma bem clara para definir esse momento, a morte não representa o fim, ela representa
sim o começo de um novo ciclo...”

Agboola, Ifagbaiyin.

A morte não é o fim da vida, existe outro mundo paralelo ao nosso, conhecido como
orun(céu), que é dividido em nove partes.
Este local para o povo yoruba é a morada dos orisas e dos antepassados, sendo assim o
contato entre o orun (céu) e o aiye (terra) acontece de forma constante.
O fato de poder ir e vir é um privilégio, somente espíritos com um caráter exemplar
serão escolhidos para serem cultuado como egungun.
Continuar voltando a terra para ver seus descendentes é um prazer, participar da vida da
comunidade ou da família possibilita ao individuo eternizar-se, entrar para historia e ser louvado
por seus descendentes. Tenho assistido algumas discussões sobre esse tema com surpresa, a
desinformação sobre esse assunto é muito grande, existe uma aura de mistério confundida com
mentiras e interesses que distancia muito os iniciados da verdade, imagina-se então o que
acontece com o público leigo que ignora completamente a realidade.
Passarei agora a uma analise dos fatos sempre considerando a visão do povo yoruba de
forma tradicional e não a conhecida visão afro-brasileira.
Não existe egungun do orisa Ogun ou de Osun Ou de Obatala, esse é um erro bastante
comum, existe sim um espírito de um ancestral (egungun) que um dia foi feito para um
determinado orisa, ou não.
Não existe comida de orisa que se serve para um determinado egungun, existe sim pratos
tradicionais de um povo que podem ser servidos ou não, de acordo com a preferência do
antepassado. Não existem interditos de egungun, como sal e cor vermelha, tais interditos
deixam de existir no momento da morte do individuo.
É possível sim que um espírito feminino seja homenageado após a sua morte em um
ritual de egungun. É permitida sim a permanência de mulheres nos rituais para egungun, eu não
acredito quais seriam os objetivos de tais rituais que não fossem os de manter a família e a
estrutura de um povo sem que a presença da mulher deixe de ser fundamental.
Todas as casas que cultuam orisa devem ter sim um assentamento de egungun, todos
temos antepassados.
Sim é necessário o culto de egungun e orisa assim como de Iya mi no mesmo local, um
ritual se completa com o outro, até por que estamos prestando homenagens a espíritos evoluídos
e de grande compreensão, espírito desinformado não merece tais rituais e sim outros.
Uma pessoa com cargo de Babalorisa sim pode ser um iniciado em Egungun, e outros
cultos como o de Iya mi e de Baba Oro, sem nenhum problema, como disse anteriormente os
rituais se completam, pois todos nós temos antepassados femininos e masculinos.
45

Uma pessoa deve sim cultuar egungun de sua família, assim como o egungun da família
de orisa a qual ela foi iniciada; cultuar um egungun de alguém que não tem nada em comum
com vi é no mínimo desperdício para não dizer total desinformação.
Assentamento de egungun sim pode ser feito em casa alugada, quando a pessoa vai
mudar para um outro lugar tem um ritual que deve ser feito com uma parte da terra do local, e
o assentamento jamais deve ser desfeito e sim transferido.
Toda pessoa um dia pode ser um egungun cultuado sim, o que vai diferenciar quem
merece ou não ser cultuado é a finalidade do assentamento, para ser mais claro se eu quero um
amigo que vai me orientar, não assentarei o espírito de um qualquer.
Existe sim um odu que autoriza a abertura de um buraco no chão para culto dos
antepassados, não mencionaremos aqui por razões óbvias, mas todo ritual em nossa religião
consta dos versos dos odus de Ifa.
Sim um egungun assim como um orisa não necessita de um número exato de animais
para ser assentado, acontece que o homem está tão pretensioso que administra os rituais sem
mesmo questionar a divindade e suas preferências. Quanto à questão da roupa volto a dizer de
forma bem clara, quem quiser acreditar em historia de faz de conta que assim o faça, somente
quem conhece os rituais de preparação de uma roupa de egungun sabe a importância da mesma
na preservação dos membros ali envolvidos. Quanto ao fato de usar egungun para fazer
maldade, eu sei que faz parte da historia humana lançar mão de tudo que é possível para atingir
seus intentos, mas é bem verdade que se amamos um egungun e o respeitamos jamais pediremos
para interferir em nosso beneficio causando qualquer tipo de dificuldade ao outro, é claro que
isso faz parte da formação da pessoa e não de uma religião específica, algumas pessoas não
merecem ter o acesso a tais informações mas isso é uma outra história.

Baba egungun olomo ki nsun o


Maa sun ki o maa gbagbe ile
Ma fi owo digi igbagbe mu lorun

Um ancestral que possui filhos e devotos nao dorme


Não dorme e nao esquece sua casa
No orun, meu pai, jamais abrace a arvore do esquecimento (jamais esqueça das pessoas que te
louvam )
46

A Mulher Yoruba

“A figura feminina é muito discutida ao longo da historia, houve quem as


considerasse bruxas e até mesmo seres inferiores; é interessante a evolução do
raciocínio humano, em todos os aspectos; no tocante a cultura e a religião yoruba
sobre tudo em nosso país ainda é necessário muita informação.
Abordaremos um assunto no mínimo polêmico: a mulher pode ser cultuada
como antepassado de forma individual?
Então responderei aos incrédulos e desinformados com o seguinte texto.

Sango

Certa vez decidiu realizar culto à sua mãe morta. Ele não lembrava o nome
dela, pois quando ela morreu ele era ainda um bebê. Sua mãe era filha de Elémpé,
um Rei Nupe, aliado de Òrònmíyòn, que entregou-lhe a filha como esposa, nascendo
então Sango. Este designou dois escravos, um do povo Tapa e outro do povo Haussa,
que fossem à terra Nupe oferecer uma vaca e um cavalo em sacrifício à sua mãe, e
recomendou que os escravos prestassem muita atenção ao nome de sua mãe que seria
citado durante o sacrifício. Os mensageiros foram recebidos com alegria e festejos
por Elempe, avô de Sango. O escravo Haussa esqueceu-se da ordem recebida e
durante o sacrifício, o escravo Tapa prestou atenção quando o praticante do ritual
disse: "Tòròsí ìyá gbódó, estamos prestando culto oferecido por seu filho Sango".
Assim o escravo Tapa gravou o nome Tòròsí. Retornando, o escravo Tapa foi
homenageado e recompensado, enquanto que o Haussá foi punido com cento e vinte
cortes de navalha espalhados por todo o corpo. As esposas de Sango acharam as
cicatrizes belíssimas e consideraram que tais marcas deveriam ser feitas nos
membros da família real, como sinal de nobreza. Sango aceitando a opinião das
esposas determinou que Olówala Bàbájegbe Òsón e Òru viessem fazer incisões em
seu corpo,mas não suportou nada além de dois cortes longitudinais feitos um em
cada braço, desde os ombros até os punhos, recebendo assim o título de Akèyò .
Quando resolveu tomar Òyó - kórò enviou o escravo Haussá até o Rei Olóyó
- kórò para que exibisse tão belas cicatrizes. O Rei e seu ministros quiseram que as
cicatrizes fossem feitas neles, e chamaram Òsón e Òru para fazê-las. Três dias depois
que as cicatrizes tinham sido feitas, enquanto o Rei e seus ministros tinham o corpo
dolorido Sango atacou e venceu.”

Adesiná Síkírù Sàlámì


Sàlámì, A. S. A mitologia dos orisas africanos.
47

Iniciar em Ifa ou Não

Esse capítulo é uma homenagem ao meu Ojugbona João Assef (Irete Kalu) Que já não
esta mais entre nós.

“Algumas pessoas me perguntam sobre a iniciação em Ifa, gostaria de dizer que de um


modo geral não existe um pré-requisito, em alguns casos o jogo que vai indicar a iniciação, ao
contrário do que acontece em território yoruba que as pessoas antes de serem iniciadas em
orisa são iniciadas em Ifa. Em nosso país isso pode ser um problema, pois o ritual quase sempre
identifica erros ou complementos de uma iniciação anterior para o orisa...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Na verdade o que vai favorecer ou prejudicar a pessoa que se proponha a ser iniciada
em Ifa, é a longa bagagem de conhecimento do sacerdote que vai ministrar o ritual, assim como
o conhecimento do seu Ojugbona nessa ocasião.
A figura do Ojugbona é muito importante, pois será essa pessoa a responsável pelo
conhecimento adquirido pelo Omo Ifa.
Em território yoruba existem rituais que impedem a pessoa que um dia recebeu seu orisa,
de incorporar, pois, para ser Babalawo isso não pode acontecer, embora isso seja resolvido
facilmente nos rituais de iniciação aonde erros cometidos anteriormente serão corrigidos.
Isefá: Iniciação aonde a pessoa é chamada de omo ifa tomando conhecimento de seu
Odu pessoal, possíveis interdições, que possibilitará o seu crescimento pessoal.
Alguns Babalawos consideram desnecessário raspar a cabeça para esse ritual.
48

Itefa (Itelodu)

“Nesse segundo ritual o iniciado que na primeira obrigação foi indicado em seu odu
que deve seguir o caminho de sacerdote, assim sendo sacado um novo odu, caso seja da vontade
de ifá, o mesmo será conhecido como Awo-Ifa, nessa ocasião, a cabeça do iniciado será
raspada iniciando a longa jornada de aprendizado...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Alguns anos depois que sejam confirmados seus conhecimentos, ele então se torna o
Babalawo, que poderá ou não receber outras iniciações paralelas em Iya mi, Oro, Egungun,
Ogboni ;com o tempo, o Babalawo será confirmado e testado em seu conhecimentos e poderá
assim receber o titulo de Oluwo e a autorização para ter a sua família(egbe) recebendo também
o assentamento de Igba odu. Normalmente uma pessoa que recebe essa responsabilidade tem
muitos anos de iniciado.
Existe algumas pequenas diferenças nos rituais dependendo da região do território
yoruba, mas, de um modo geral a ordem deve ser essa, das obrigações pelas quais passa um
iniciado até chegar a Babalawo.
No culto a ifa, encontraremos vários cargos, como os femininos Iyanifa, Apetebi, existe também
um outro cargo hierárquico que esta acima de todos eles que é chamado de Araba, ou o chefe
de todos os Babalawos.
49

A Ética e o Sacerdote.

“Quando vemos uma criança apontar um coleguinha como sendo o culpado por uma
de suas travessuras, já podemos imaginar como vai ser o futuro dessa pessoa se não houver a
interferência dos pais...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Nas diversas áreas podemos sentir as distorções de personalidade, e a falta de caráter,


de um indivíduo, que muitas vezes começa lá na infância; quando isso é notado em um
sacerdote, e faz lembrar uma conhecida frase Yorubana: En ti ase loore ti ko Du pé buru ju
olósa Ti ó kò ní léru ló, que significa, aquele a quem concedemos bondades que não expressa
gratidão é pior que o ladrão que rouba nossas coisas, pois quando confiamos em alguém, nossa
fé na pessoa, nos tornamos mais vulneráveis, abrimos nosso coração e expomos nossas feridas,
assim como as mais profundas angústias de nossa alma e muitas vezes reconhecemos naquela
pessoa um elo com o sonho e a esperança da realização, isso nos conduz a conceder bondades
a esse suposto confiável, amigo, e orientador.
Quando uma consulta a um sacerdote acontece, nos desnudamos e assumimos nossas
falhas, e nossa real condição de impotência para lidar com o desconhecido ou com o inesperado.
Isso coloca o então, senhor da resposta, como solução das nossas angústias e lhe concede o
direito de colocar na solução, custos, mesmo que algumas coisas jamais possam ser pagas,
quando de fato acontecem.
A condição de solucionador de problemas do corpo e do espírito, não é verdadeira, na
realidade o sacerdote é somente um elo, entre a solução e o problema, isso não justifica algumas
vaidades exteriorizadas, quando do sucesso do tratamento, até porque a solução partiu do Orisa
e não do sacerdote.
Quando analisamos do ponto de vista ético, um orientador, jamais deve afastar uma
pessoa de sua religião, e sim fortalecer nela aquilo que naturalmente se desenvolveu: confiança,
credibilidade e esperança; jamais tal comportamento deve unir o adepto ao emissário e sim a
divindade. Nada mais justo que por esse caminho não trafegue a ilusão, o dever de quem orienta
é ajudar a sonhar e jamais iludir. Quando buscamos em uma consulta aos Orisas, orientação,
evidentemente que os interesses do sacerdote, devem ser omitidos, assim como a opinião
pessoal do mesmo. Tal fato transfere a responsabilidade ao Orisa que orientou, mas em nenhum
momento isenta o sacerdote da interpretação.
Acredito de fato que quando alguma coisa deixa de acontecer é um erro de interpretação
e nunca um equivoco divino. Assumir tais erros é um ato de coragem, e sem dúvida, é uma
questão ética, considerando o fato que, além dos interesses envolvidos, houve uma expectativa
gerada, nada mais justo que um resultado positivo seja sentido, e a resposta aos questionamentos
venha como solução ao problema. Assumir responsabilidades é um atributo de quem oferece
soluções.
50

Iniciação o Milagre Da Vida

“Ao longo da história da humanidade o homem vem desenvolvendo uma série de


atividades, criando assim uma maior condição de sobrevivência, e desenvolvendo uma
capacidade de adaptação aonde o principio básico é a manutenção da vida...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

A condição (natural) é sentida desde o primeiro momento após o nascimento quando


instintivamente buscamos alimento no seio da mãe.
O desenvolvimento de armas e elementos facilitadores como máquinas e implementos
que contribuíram para um menor desgaste físico, mas paralelamente a isso houve um
desenvolvimento mental habilitando esse mesmo elemento a viver com suas dúvidas e
decepções. Nesse período a crença em uma força superior auxiliou muito na manutenção da
esperança e na compreensão das perdas assim como, estimulou a capacitação moral e ética.
Com o surgimento dos rituais de iniciação essa capacidade passou a ser aprimorada em território
Yoruba. As pessoas que são iniciadas para determinados Orisas seguem uma orientação de Ifá
baseada em um principio da complementação.
Quando um sacerdote de Ifa é iniciado cumpre uma série de rituais e cultua os Orisas
indicados nos odus relativos à sua iniciação, já no caso da pessoa não iniciada em Ifá o processo
pode seguir uma orientação um pouco diferente. A pessoa nascida gêmea já trás abundância e
a alegria em seu nascimento; sua vida vai ser de fartura naturalmente, e sua forma alegre de ver
as coisas com um pouco de infantilidade jamais vai deixar de existir. Considerando esse fato
pode ser que Ifá oriente a mesma a ser iniciada em um Orisa que tenha um senso prático mais
apurado, facilitando assim a vida da pessoa, trazendo para ela uma capacidade que em muitas
vezes é deficiente no dia a dia da mesma.
É verdade que estamos aqui examinando uma iniciação, e não uma feitura; então
falamos de necessidades apontadas para complemento suprindo assim uma deficiência que só
não é encontrada em Olodumare, então se uma pessoa feita para Osun com uma capacidade
enorme de amar em algum momento de sua vida vier a ter um problema em sua vida afetiva,
não vai ser considerado o fato de ela amar de mais e sim o fato de amar a pessoa errada, sendo
assim lhe falta discernimento na hora de eleger o parceiro.
Nesse caso poderá ser indicado a iniciação ao Orisa Obatala, criando assim uma forma
de pensar e agir mais equilibrada na vida sentimental dessa pessoa, se isso não for feito seguirá
por toda vida se unindo a pessoa errada trazendo assim uma decepção em sua vida afetiva,
gerando uma forma de agir involuntária aonde a mesma termina desenvolvendo um
comportamento em desalinho com seu destino.
A pessoa com tal problema poderá se unir por interesse, considerando que houve
inúmeras decepções em sua vida ou até mesmo desenvolver um comportamento narcisista e
individualista, gerado pelo medo de amara pessoa para de se doar, e assume um comportamento
egoísta.
51

Esse tipo de situação pode ser resolvida com uma iniciação ou com outras formas de
tratamento, sempre seguindo a orientação de Ifá, é bem verdade que iniciar uma pessoa não
feita não é comum, mas é aceitável; muitas vezes a necessidade de uma iniciação antecede a
feitura e em muitos casos substitui.
Vejamos então outro exemplo, uma pessoa nascida com problemas de saúde, por
orientação de Ifa poderá ser iniciada no culto de vários orisas; mas o ideal é que primeiramente
seja iniciada em Soponnan ou até mesmo em Olodum, Orisas mais diretamente ligados a essas
questões, trazendo assim uma melhor qualidade de vida a essa pessoa que poderá ser feita ou
não em um futuro. A diferença entre a feitura que exalta as qualidades já existentes no momento
do nascimento, e a iniciação que justifica a reposição do que falta em nossa essência é muito
forte: feitura e iniciação se diferem e as mesmas só podem ser indicadas por Ifá.
Assim como a iniciação, deixamos bem claro que a orientação pode ser um ebó, ou
algum outro tipo de tratamento, e até mesmo uma feitura em caso extremo. Voltando as
iniciações, no caso de algumas pessoas feitas para Ogun poderá ser indicado iniciação em
Yemonja. O filho de Ogun com toda sua vitalidade para o trabalho e os esportes com sua
valentia e coragem muitas vezes sem perceber se afasta um pouco da família e a iniciação em
Yemonja o ajudará nesse relacionamento com filhos e parentes.
Pode acontecer também que essa mesma pessoa feita de Ogun com toda essa vitalidade
necessite da iniciação em Obatala para que tenha mais calma e enfrente os obstáculos com
menos desgaste. Quando analisamos o milagre da iniciação, depois de algum tempo
comparando o comportamento do iniciado, fica claro a mudança; a influência do Orisa iniciado
na vida da pessoa mesmo que ela já seja feita há muito tempo ou que ainda não tenha seu Orisa
pessoal, é visível e fica evidenciada em seu comportamento. A iniciação realmente pode ser
descrita como um milagre quando bem feita seguindo as indicações corretas.
Poderia descrever aqui os efeitos das mais diversas iniciações no dia a dia do indivíduo,
mas não devemos esquecer que em território Yoruba o número de Orisas assentado para uma
pessoa que não vai ser um sacerdote é muito reduzido e não raramente excede a três ou quatro,
também pode acontecer que a necessidade de culto a um orisa familiar ou antepassado seja
indicada por Ifá, ou que a pessoa jamais seja iniciada ou feita.
A iniciação aqui em nosso país passou a ser tratada como um complemento necessário
e não como uma solução indicada; quando nascemos somos imperfeitos e assim seremos por
toda a vida, o milagre da iniciação só vai amenizar os efeitos de tais imperfeições.
É muito comum ver pessoas feitas para Orisas, mas que na verdade deveriam ser
iniciadas, criando assim inúmeras dificuldades, essa confusão entre iniciação e feitura limita as
realizações pessoais e o não cumprimento do destino, implica em sofrimento e desgosto, esse
problema se torna cada dia mais comum por falta de conhecimento dos sacerdotes.
52

A Roupa Não Faz O Homem

“Em um país colonizado pelo outro, pela religião católica, é evidente a influência
religiosa e cultural, percebemos esses traços a cada minuto. Quando andamos nas ruas
sentimos os hábitos dos colonizadores presentes na cozinha em nossa língua e na cultura, com
influência arquitetônica e comportamental, moramos e vivemos como europeus, com raras
exceções...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

A história do vencedor sobre o vencido é natural e em todos os lugares podemos sentir


isso, porém também é natural que com o tempo as pessoas consigam cortar tais influências e
terminem valorizando grande parte da essência original de uma cultura.
Quando falamos das religiões, podemos citar claramente uma tendência, cada vez maior,
dos católicos visitarem Roma na tentativa de se aproximar de sua raiz, o mesmo acontece com
os Judaicos, e também com os muçulmanos que constantemente viajam para suas terras de
origem buscando informação e aumentando o conhecimento religioso e filosófico.
Para as pessoas que tem como religião o Orisa a própria palavra em língua Yoruba
mostra o caminho a ser seguido, nossas raízes estão na Nigéria nos estados Yorubas que fazem
parte desse país.
O natural seria com o tempo nos aproximarmos cada vez mais desse povo e tentar
transformar a religião afro brasileira, em religião Yorubana, se falamos Yoruba nos rituais, e se
cultuamos os Orisas divindades Yorubanas, isso é perfeitamente normal.
Em território Yoruba, as mulheres não costumam usar saia de armação, não usam
sapatos para dançar para os Orisas entre tantas outras coisas, todos rituais são praticados com
roupas muito simples e tanto homens como mulheres permanecem de pés descalços nos rituais.
Isso é só um detalhe, em nossa terra ainda existe quem leva o iyawo na igreja para rezar. A
minha pergunta é: será que nossos irmãos ignoram suas raízes ou admiram a origem de outras
culturas; ou, seria pior ainda, tem vergonha da real condição de nossa essência?
A roupa não faz o homem, em muitos casos podemos ver um comportamento padrão
como se tudo seguisse a famosa receita de bolo da roupa branca, não sabem nossos irmãos que
em muitos rituais o que menos importa é a roupa.
É comum ver um sacerdote Yoruba praticando um ritual sem camisa, isso é natural,
praticamos uma religião que é muito fácil de entender, o Orisa nos conhece desde antes de
nascermos e dele não escondemos nada muito menos nosso corpo haja visto que em algumas
iniciações o uso da roupa é desnecessário e a divindade se é que podemos chamar assim o Orisa
não reconhece o indivíduo vestido.
As informações estão a disposição das pessoas, mas a boa vontade em aprender tem que
partir delas, e o esforço para retirar de suas vidas o preconceito, vai exigir muito; temos que
estar preparados para o encontro com nossas raízes que certamente não é em Roma, e muito
menos em Salvador.
53

Não tenho nada contra o povo baiano, bem pelo contrário admiro muito esse povo alegre
e lutador, mas nossa raiz não está na Bahia e sim na Nigéria.
Na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, e no Rio Grande do Sul, assim como em outros
estados que receberam grande número de escravos, foi e continua sendo vivenciada parte de
uma história que começa em território Yoruba.
54

Esu o Mais Importante dos Orisas

“No território Yoruba o culto a Esu esta ligado a todos aos outros orisas ,egungun e
Iya mi, e o assentamento de Esu está sempre presente nos locais de culto...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Diferentemente do que acontece no Brasil, esse assentamento é feito em uma pedra


conhecida como Yangui, existe várias formas de assentamento, mas o mais comum, Yangui,
uma pedra ferruginosa (laterita) que é acompanhada de uma estatueta de madeira, embora
infelizmente no Brasil, ainda existem pessoas que assentam Esu com pedra de rio, contrariando
a essência que deveria ser mantida conforme os versos de Ifa, (textos sagrados de nossa
religião).
É bem verdade, que considerando tudo que nossos antepassados tiveram que enfrentar,
diante das dificuldades da escravidão, muito foi conservado e pouco seriam os ajustes a ser
feito, agora é responsabilidade nossa corrigir o curso da historia indo de encontro as nossas
raízes e melhorando nossa relação com os nossa origem.
O grande problema com o culto a Esu é a desinformação das pessoas, que seguem
confundindo Esu, com os chamados Exus de Quimbanda ou da Umbanda, isso deixa uma
confusão muito grande na cabeça das pessoas que desconhecem os orisas, é muito comum ver
assentamentos com tridentes e bonecos com chifre, ainda sendo cultuados e pessoas que
continuam dizendo que tem um Esu chamado tranca rua e que ele seria o emissário de Osun,
tal afirmação deixa qualquer pessoa informada de cabelo em pé.
Em grande parte as pessoas não sabem as verdadeiras atribuições de Esu, ele é o orisa
da articulação entre o aiye (terra) e o orun (céu), o intermediário entre os homens e os orisas, o
verdadeiro porta voz do ser humano junto às divindades.
Nunca devemos confundir Esu, com o diabo como fizeram os colonizadores em terras
yorubas, sobre tudo, hoje com tantas informações, a internet é o grande pesadelo dos
desinformados donos do saber, que outrora se arvoravam como conhecedores, hoje basta
acessar todo tipo de informação, e as distâncias entre a África e o Brasil estão reduzidas a um
simples toque no teclado, o problema é como identifica, qual informação pode ser aproveitado.
55

Orisa da Riqueza

“Nos dias de hoje cresce o numero de pessoa que pedem explicação sobre esse orisa,
não é para menos todos precisamos de dinheiro, embora a riqueza para o povo yoruba seja
considerada de forma bem mais ampla que em nosso país...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

O yorubano considera a maior riqueza de um homem, a vida longa, é por isso que saúda
(Agbo ato) desejando longa vida.
Aje o orisa da riqueza filha de Olokun, irmã de Yemonja conhecida no território yoruba
como o orisa dos negócios e do dinheiro, como também da longevidade.
Seu assentamento é feito em uma vasilha que contém um grande número de caramujos
marinhos, embora somente uma parte deles é fundamento.
A esta Iya é oferecido Elédè (porco) como sua comida principal, além de frutas e grande
quantidade de comidas feitas a base de milho, e feijão.
Seu culto é também feito em conjunto com o culto de outros orisas como Osun, Esu e Olokun,
é quando olhamos o brilho do mar sobre as ondas que avistamos Aje, é quando o mar que
encanta seus adeptos, Aje, o Ogunguniso.
56

O Homem, o Sacerdote e o Deus

“Quando uma pessoa procura um sacerdote, muitas vezes espera encontrar um Deus,
e muito raramente aceita que ele seja um homem, ela procura milagres, e o mais fácil, o óbvio,
parece uma tolice e não uma solução...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Confundir o sacerdote com um Deus é comum, mas a não aceitação do sacerdote como
homem, isso sim me causa estranheza.
Para um grande número de pessoas é difícil separar, o sacerdote, do homem e entender
que ele tem a sua vida particular.
A curiosidade e muitas e a maldade, contribuem para uma enorme confusão, algumas
pessoas não conseguem entender que o sacerdote, também adoece, ama, e tem problemas como
todo ser humano.
È comum ouvir a frase absurda “se ele não tem nem para ele, como é que ele vai me
ajudar a adquirir alguma coisa.” A incapacidade ou a ignorância, não permite que as pessoas
compreendam que cada ser humano tem um Odu, e um destino, e que isso não implica
diretamente na capacidade ou no discernimento do sacerdote na hora de analisar o problema
do consulente.
Vamos analisar a seguinte hipótese: Um Babalorisa com um baixo poder aquisitivo,
pode dar um bori em uma pessoa com muito dinheiro?
Bem algumas cabeças, não pensantes, acreditam que se isso acontecer a pessoa que tem
muito dinheiro pode ter prejuízos, na verdade, a falta de conhecimento provoca tais equívocos.
Cada pessoa tem seu próprio Odu, e seu destino, se uma pessoa que tem muito dinheiro,
tomar um bori, com um milionário ou com alguém sem dinheiro, não há diferença, no aspecto
financeiro.
Tudo que existe na terra nasce de um Odu, alguns Odus beneficiam mais a situação
financeira, como o caso do Odu Ogbe Meji, que é o Odu mais rico que existe.
Mas em contrapartida, um sacerdote nascido em outro Odu como um caminho de
Oturupon, a capacidade de cura é maior; então é bem possível que essa pessoa regida pelo Odu
Ogbe Meji, com muita sorte, em um determinado momento de sua vida vai precisar muito da
pessoa regida por Oturupon, para lhe fazer um ebó para combater uma enfermidade.
Se não existir a pessoa com o poder de cura, com o asé , para afastar a doença, o bem
nascido, regido por um belo Odu, pode perder a sua vida e deixar de encontrar a cura para o seu
problema. E como dizem os antigos, “o caixão não tem gavetas" e todo o seu dinheiro não vai
resolver o seu problema da saúde.
Na cultura Yoruba somente Osetura tem o privilégio de chegar aos pés de Olodumare,
carregando as nossas súplicas; na religião tradicional não se invoca Deus a todo momento, é
diferente das outras religiões, para isso temos os Odus e Orisas. E os sacerdotes são homens
escolhidos pelos Orisas para estabelecer essa ligação, entre o divino e o profano. Em nosso país
57

um Babalawo, ou um Babalorisa em razão do sincretismo religioso Yoruba cristão, enfrenta um


grande número de proibições que em território Yoruba seriam motivo de riso. Então o tal
preceito parece até coisa de maluco, imagine que existe casas que não permite que uma mulher
mantenha relações sexuais com seu marido noventa dias depois e ser iniciada para seu Orisa.
As pessoas que inventaram tais regras, eu não sei nem como descreve-las, na verdade
eu sei, mas por respeito ao leitor não o farei nesse espaço.
Em fim poderia ficar aqui escrevendo uma semana ou mais sobre tais questões, fruto da
maldade, ou da falta de conhecimento, mas prefiro definir isso como parte de um elo perdido,
que hoje graças a Olodumare pode ser reconstituído.
Ifá é aquele que tudo vê e que tudo sabe, vamos deixar nas mãos dele o esclarecimento
dos menos favorecidos.
Confundir um sacerdote com um Deus, é esperar dele milagres, um homem não faz
milagres, nem realiza graças, isso é tarefa das divindades. Conforme o merecimento das pessoas
as algumas coisas podem ou não acontecer, acreditar no contrário, é o mesmo que acreditar que
nossa senhora é Osun.
Eu não sei quem é mais errado, o que promete, ou o que acredita em milagres. O homem
e o sacerdote nunca podem ser confundidos com Deus.
58

Mulheres de Osun e o Àjé de Oxe (Ose)

“O ajé de oxe como é chamado o fato das mulheres de Osun que se apaixonam por
homens de caráter duvidoso, drogados ladrões, serviçais pedreiros, mecânicos, garçons, sem
desmerecer qualquer profissão, mas essa é a descrição...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

A Dama do Lotação é um filme brasileiro de 1978 do gênero drama erótico, dirigido por
Neville de Almeida, de uma história de Nélson Rodrigues, com a atriz Sonia Braga, o filme é a
quarta maior bilheteria da história do cinema brasileiro, com 6 508 182 espectadores.
No filme os personagens Solange e Carlos se conhecem desde a infância e se casam. Na
noite de núpcias, Solange resiste ao seu marido, que, impaciente, acaba estuprando-a. Solange
fica traumatizada e, apesar de desejar Carlos, não quer mais nada com ele. Para se satisfazer,
ela começa a fazer sexo com homens que não conhece, que encontra na lotação ou na rua.
Mulheres que muitas vezes tem um bom parceiro, muitas vezes um homem de boa
aparência e de boa condição financeira e intelectual, mas que infelizmente se envolvem com o
pior tipo de gente, mulheres que se sentem atraídas por usuários de drogas, marginais, aquele
tipo de homem que é comum nos bares na noite metidos a espertos com uma aparência que
qualquer um identifica menos elas, elas não enxergam ou por opção ou por falta de formação,
mas nas casas de orisa, se fala do famoso ajé de oxe.
Para nós que já trabalhamos com religião há muito tempo essa situação em nada se pode
dizer que tenha alguma coisa com Osun, acreditamos que essa questão tem uma explicação
psicológica e não religiosa.
Uma mulher como a personagem do filme precisa trabalhar muito bem a sua cabeça
para ultrapassar a questão do estrupo, no caso da personagem ela busca homens de condição
inferior porque eles a valorizam e a tem como superior, isso é uma necessidade de afirmação
comum em pessoas que sofreram algum trauma.
A mulher termina saindo com pessoas de condição financeira ou moral inferior pois
nessas pessoas ela encontra uma valorização irreal que faz com que ela se sinta muito valorizada
em sua tentativa de compensar o insucesso de um relacionamento frustrante.
A forma mais comum de tratar questões relativas a comportamentos dessa natureza nas
casas de orisa é o carinho e a franqueza, jamais um sacerdote deve atribuir qualquer tipo de
comportamento que possa se dizer condenável a um grupo de pessoas que foram iniciadas a
qualquer orisa.
Falar das mulheres de Osun é muito mais difícil que se imagina, falar das mulheres de
Osun é falar das mães, das filhas, das namoradas, das professoras, das médicas, das enfermeiras,
é falar de amor.
A pessoa que acredita em arquétipos em nossa religião está fadada ao insucesso, uma
pessoa não tem características de um Orisa e sim de um Odu, qualquer especulação nesse
sentido é irreal. Dizer que todo filho de Ogum, é valente ou que todo filho de Sango adora o
poder é dizer que todas as pessoas como o mesmo nome se comportam de forma idêntica.
59

Falar de um ser humano é muito mais complexo que se imagina, mas para disfarçar a
falta de conhecimento é mais fácil usar frases feitas, regras criadas por pessoas que não tem
informação, pois se a tivessem não criariam regras para definir o ser humano.
Eu já vi de tudo, pessoas que ocupam cargos pelo Orisa que carregam, a pergunta é esse
Orisa está certo?
Então a questão é bem simples, se você não sabe o que dizer feche a boca e não fale
besteira, se o homem ficasse calado diante do que não conhece aprenderia muito, se não
aprendesse pelo menos evitava o fato de ser tratado como ridículo.
Recebi o apelido de Baba Osun pelo amor e respeito que tenho com esse Orisa, ver
pessoas despreparadas falando besteiras é muito difícil, temos que ter uma paciência que não
possuímos isso é impossível.
60

Feminino e Masculino, a Fecundidade no Culto


aos Orisas

“Eu me surpreendo quando as pessoas iniciadas ainda não conhecem algumas coisas
básicas no culto aos orisas , feminino e masculino interagem buscando assim a fecundidade...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Olhando com calma o Igba de um Orisa (vasilha do assentamento) vamos perceber


claramente os componentes femininos e masculinos, tudo em um perfeito equilibrio buscando
assim a representação da fecundidade e a interação.
Eu sei que nem todas as pessoas tiveram a oportunidade de aprender tudo isso mas se
fazemos parte da religião dos orisas e entendemos os orisas como parte da natureza é muito
fácil concluir tais afirmações, em todos os momentos vemos na natureza essa interação dos
elementos femininos e masculinos.
Os iniciados na sociedade Ogboni quando saúdam a terra colocam de forma bem clara
a mão esquerda com o punho serrado sobre a direita (também serrada) para só ai colocar a sua
cabeça, caracterizando assim o total respeito à Iya Alela (mãe terra) feminina e a dedicação
dos homens iniciados em Ifa (Orunmila masculino) assim como no culto de Egungun, a
presença de Oya tem essa representação de interação assim como a presença do Oso no culto
de Iya mi também tem o mesmo sentido, tudo se completa e jamais se separa.
A importância dos elementos femininos e masculinos, assim como mineral, vegetal e
animal constituem o equilíbrio necessário para a realização do culto aos orisas.
Eu sei que essa visão ainda é muito nova em nosso país, mas a verdadeira origem em
alguns casos é o oposto do que foi ensinado aqui, mas também devemos considerar o quanto se
perdeu de informação ao longo da história.
61

A Água, a Folha e a Pedra

“Certamente que encontrar a essência do orisa, não é ir à África, existem várias


essências no ritual de culto aos Orisas, nunca deveríamos confundir com ir até as origens...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Durante a iniciação de uma pessoa de Osun, retiramos a água do rio que será usada nos
rituais, essa é uma forma de extrair a essência, assim como quando preparamos as folhas
maceradas ou calcinadas também estamos extraindo parte do conjunto necessário ao culto do
orisa em seu Igba (vasilha de assentamento), no momento que seguramos em nossas mãos um
minério de ferro e invocamos Ogun em seu igba sentimos a presença do orisa, mesmo quando
uma pessoa retira das águas do rio um okuta (pedra) cor amarelada, que não tem nenhuma
rachadura obtemos uma das essências de Osun.
A brancura do okuta de formas delicadas representa certamente um dos princípios de
Obatala, mas é com a inclusão de outras essências como o efun e o chumbo e as folhas certas,
que formam um conjunto de elementos que caracteriza o início do assentamento, mas o ofo
(encantamento sagrado) certo, e o ase (axé) de quem o pronuncia é que vai completar o ritual,
a escolha do sacerdote continua sendo o elemento que dá o equilíbrio.
Então a escolha do individuo permanece como o ponto fundamental em todas as
situações, o acerto, ou o erro vai caracterizar o sucesso ou o fracasso de uma iniciação.
62

DO NORTE AO SUL

“Me parece que quanto mais viajo, mais loucuras eu vejo, faz algum tempo que conheci
um famoso Babalorisa no centro do país, que é de Osun, e seu exu é a pomba gira rainha,
porque ele disse que todo Orisa tem um escravo...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Graças a todos Orisas e ao meu ori, sou uma pessoa de muita sorte, digo isso, pois me
considero uma pessoa feliz com o que eu faço; através do meu trabalho, conheço pessoas, e
viajo muito do norte ao sul de nosso país.
Mas como tudo não é um mar de rosas houve a oportunidade de ver coisas que seriam
capazes de deixar qualquer pessoa de cabelo em pé.
Imaginem, recentemente, recebi uma foto de um Babalawo de família tradicional
africana incorporado com um tal de exu tiriri dando consulta e tudo mais.
Bem, vi pessoas me oferecerem uma faca da cozinha, para sacrificar para os Orisas, vi
gente jogando com obi de duas bandas, e até Esu assentado em cimento.
Confesso, imaginava, já ter visto de tudo, mas na minha ultima viagem, fiquei sabendo
de um ebó de troca de energias, que deve acontecer entre a pessoa incorporada e a consulente,
o resto deixo na imaginação dos leitores.
Às vezes não sei definir com precisão o sentimento que toma conta de mim, não sei se
é raiva, desprezo ou vergonha, mas o importante é que a indignação não me deixa ficar calado.
Espero que esse tipo de coisa, um dia, leve esse pessoal direto para prisão, ou para um
hospício que imagino ser o lugar deles.
Graças aos Orisas, eu não me cruzo no meu dia a dia com esse tipo de gente, porque na
verdade não sei exatamente o que eu seria capaz de dizer a essas pessoas.
Espero do fundo do meu coração, que um dia tudo isso mude, mas na verdade não
acredito que isso possa acontecer por bem, teria que ser na marra porque esse tipo de pessoa
deve mesmo é ser julgado e condenado, se os homens não fazem isso, que os Orisas o façam.
63

Entre a Cruz e a Espada

“Um sacerdote para desenvolver um trabalho digno, deve obedecer alguns princípios
fundamentais como representante das divindades, sendo porta voz do oráculo...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Deve considerar a verdade sua maior aliada no desenvolver de seu trabalho.


A mentira não deve ser vista como o inverso da verdade e sim como a intenção maldosa
de enganar e envolver em nome do divino.
No odu Ògúndábèdé Orunmila orienta sobre a necessidade de manter sempre a verdade.
O mentiroso viajou por vinte anos e não foi capaz de retornar.
O mentiroso viajou por mais seis meses e não foi capaz de retornar.
A Honestidade é a melhor diretriz consultou Ifá para Baba Ìmàle, que estava trajado em
roupões. Foi dito para ele que ele seria um mentiroso por toda sua vida.
O não conhecimento da filosofia empregada na religião dos Orisas, criou
automaticamente uma lacuna que foi ocupada pela criatividade e por vários interesses que
somente beneficiam os inescrupulosos os supersticiosos e ignorantes.
A filosofia é o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao
conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos.
A teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades.
A ética significa modo de ser, caráter, comportamento é o ramo da filosofia que busca
estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade.
O vasto legado deixado em terras brasileiras pelos escravos trazidos do território yoruba,
contribuíram para a formação do conhecimento necessário para alguns rituais, mas o
comportamento do oficiante deve ser seguido com base em valores não só teológicos mas
também filosóficos, ético, e moral.
A mentira pode surgir por várias razões, receio das consequências da verdade e que traga
consequências negativas.
O medo e a insegurança por falta de conhecimento geram uma grande confusão entre
ignorantes vitimas de preconceito e maldosos sedentos de benefícios, colocando assim aqueles
que buscam uma orientação muitas vezes entre a cruz e a espada.
Sendo assim a melhor opção para quem busca um atendimento é usar de cautela e
prudência ao eleger a pessoa em quem confiar sua fé.
64

Iba Olodumare (Deus)

Olódùmarè, mo ji loni. Mo wo'gun merin aye.


Igun'kini, igun'keji, igun'keta, igun'kerin Olojo oni.
Gbogbo ire gbaa tioba wa nile aye. Wa fun mi ni temi. T'aya-t'omo t'egbe - t'ogba.
Wa fi yiye wa. Ki o f'ona han wa. Wa f'eni - eleni se temi.
Alaye o alaye o. Afuyegegege meseegbe. Alujonu eniyan ti nf'owo ko le.
A ni kosi igi Méjì ninu igbo bi obi. Eyiti o ba ya'ko a ya abidun-dun-dun-dun.
Alaye o, alaye o.
Àse.

Tradução:
Criador, eu saúdo o novo dia. Eu saúdo as quatro direções que criam o mundo.
O primeiro canto, o segundo canto, o terceiro canto, o quarto canto são os donos do dia.
Eles trouxeram a boa sorte que nos sustenta na terra. Eles trazem todas as coisas que
sustentam meu espírito.
Com você não há nenhum fracasso, nós louvamos a estrada que você criou, nada pode
bloquear o poder do Espírito.
Nós louvamos a luz da terra, ela sustenta a abundância da criação.
Traz a comida da floresta para nós.
Aquele que nos traz as coisas doces em vida.
Nós louvamos a luz da terra, nós louvamos a luz da terra.
Assim seja.
65

Oriki Orunmila

Orúnmìlà, ajomisanra, Àgbonnìrègún, ibìkéjì Olódùmarè.


Elérìí ìpín, Omo ope kan ti nsoro dogi dogi.
Ara Ado, ara Ewi, ara Igbajo ara Iresi, ara Ikole, ara Ìgetí, ara oke Itase.
Ara iwonran ibi ojumo ti nmo waiye akoko Olokun, oro ajo epo ma pon.
Olago lagi okunrin ti nmu ara ogidan le, o ba iku ja gba omo e si le.
Odudu ti ndu orí emere, o tun orí ti ko sunwon se.
Orúnmìlà ajiki, Orúnmìlà ajike, Orúnmìlà aji fi oro rere lo.
Àse.

Tradução:
Espírito do destino, orvalho eterno e fonte de vida, a palavra e força ressonante próxima ao
criador.
Testemunha da croso que dá vitalidade juvenil.
Ele que salva as crianças da ira de morte.
O Grande Salvador que salva a mocidade, ele que revindica os que estão perdidos.
Espírito do destino, merecedor de súplicas matutinas.
Espírito do destino, merecedor de elogio matutino.
Espírito do destino, merecedor de orações para as coisas boas da vida.
Assim seja.
66

Oriki Àgbonìrègún
(O principal sacerdote de Orunmila)

Orúnmìlà, Bàbá Àgbonìrègún.


Adese omilese a-mo-ku-Ikuforiji Olijeni Oba-Olofa Asunlolanini-omo-Oloni Olubesan.
Erintunde Edu Ab'ikujigbo alajogun igbo-Oba-igede para petu òpìtàn-elufe amoranmowe da
ara re Orúnmìlà. Iwo li o ko oyinbo l'ona odudu pasa.
A ki igb'ogun l'ajule Orún da ara Orúnmìlà. A ki if'agba Márìndínlógún sile k'a sina.
Ma ja, ma ro Elérìí ìpín ibìkéjì Edumare. F'onahan'ni Orúnmìlà.
Àború, Àboyè, Àbosíse.
Ase.

Tradução:
Espírito do Destino, a palavra e força repercutida.
Nós o chamamos por seus nomes de poder.
O Poder é renascido para defender contra os poderes da morte e destruição, o poder de
transformação está com o espírito do destino, não há nenhum estranho na estrada do mistério.
Nós louvamos o medicamento da floresta que vem do reino invisível dos imortais pelo
espírito do destino.
Nós louvamos os dezesseis princípios sagrados do criador.
Eu clamo pela testemunha da criação, segundo ao criador.
Minha estrada para a salvação é o espírito do destino.
Leve meu fardo da terra e oferece-o ao céu.
67

Ela (A Emanação de Orunmila)

Ifá lï l'òní, Ifá lï l'Ola, Ifá lï lotounla pelú e.


Orúnmìlà lo nijï máreerin òòsà dá'áyé.
Ifá ro wá o. Elà ro wá o o. Bi ò nbe lápá òkun.
Kó ro moo bo. Bi ò nbe ní wánrán oojúmï.
Ifá ji o Orúnmìlà, bí o lo l'oko, ki o wá lé o, bí o lo l'odo, dí o wá lé o.
Bi o lo l'ode kí o wá lé o. Mo júbà o. Mo júbà o. Mo júbà o.
Àse.

Tradução:
Ifá é o mestre de hoje, Ifá é o mestre de amanhã e é o mestre de depois de amanhã.
O Espírito de destino é o mestre dos quatro dias criados.
Ifá por favor desça. Espírito de pura paz esteja presente, se você está no oceano, por favor
venha.
Se você está em meio a laguna, por favor venha. Até mesmo se você estiver em wanran no
leste, por favor venha.
Ifá desperte, espírito do destino se você vai a fazenda, você deveria passar em minha casa, se
você vai ao rio, você deveria passar em minha casa.
Se você vai a caça, você deveria passar em minha casa, eu presto homenagem a ti, eu presto
homenagem a ti, eu presto homenagem a ti.

Oriki Opon Ifá

Alafia opon
Iwaju opon o gbo o. Eyin opon o gbo.
Que a cabeça do tabuleiro ouça.
Que o circulo do tabuleiro ouça.
Olumu otun, OlOkànràn osi, aarin opon ita Orun.
Espiritos do conhecimento da direita, espíritos da profecia da esquerda.
O meio do tabuleiro é a encruzilhada do céu.
Ase.
68

Oriki Ikin

Orúnmìlà o gbo o. Òrúnmilà iwo'awo.

Espirito do destino ouça. Espirito do destino revele os mistérios.

Oun awo. Owo yi awo.

Ilumine os mistérios. Abençoa-nos com o mistério da abundância.

Emi nÌkánsoso l'Ogbèri. A ki'fa agba merindinlogun sile k'asina.

Espirito que cria a harmonia perfeita, mostre-nos a sabedoria dos dezesseis princípios que
moldam a terra.

Eleri Ipin f'ona han mi.

Testemunha da criação revele-se a mim.

Ase.
69

Oriki Ifá

Orúnmìlà Eleri-ipin ibikeji Olodumare.


Espirito do destino, testemunha da criação, segundo para o criador.

A-je-je- ogun obiriti-a-p'ijo-ihu sa.


Possuidor da medicina que sobrepuja a morte.

Oluwa mi amoimotan-a ko mo o tan ko se.


O Criador que conhece todas as coisas que conhecemos.

A ba mo o tan iba se ke.


Se conhecessemos todas as coisas daquí não seria o suficiente.

Oluwa mi olowa aiyere omo elesin ile-oyin.


O criador das coisas boas na terra, filho do senhor da casa feita de mel.

Omo ol'ope kan t'o s'an an dogi-dogi.


Filho do senhor da arvore que sempre está firme.

Oluwa mi opoki a-mu-ide-s'oju ekan ko je k'ehun hora asaka-saka akun.


O criador Opoki que passa uma corrente de ouro de proteção em seus olhos de maneira que as
garras do leão não dilacerem.

Omo Oso-ginni tapa ti ni-ewu nini.


Filho de Oso-ginni da Tibo Tapa onde todos se vestem em finos tecidos, o senhor do Egun
que caminha com pernas-de-pau.

Omo Oso pa'de mowo pa'de mese o mbere ati epa oje.
Filho de Oso que coloca contas em seus pulsos e tornozelos, a corrente dourada de Oje.

Oluwa mi igbo omo iyan birikiti inu odo.


O Criador, Espirito do bosque, Filho do inhame pulverizado no pilão.

Omo igba ti ns'ope jiajia.


Filho da cabaça criador de vários dendezeiros.

Iku dudu ati ewo Oro aj'epo ma pon.


Ancestral experiente que come azeite-de-dendê não envelhecido.

Agiri ile-ilobon a-b'Olowu diwere ma ran.


Agiri da casa da sabedoria abundante de sementes de algodão que nunca se espalham.
70

Oluwa mi a-to-iba-jaiye Oro a-b'iku-j'igbo.


O Criador que vive bem mesmo com o espirito da morte se esgueirando pelo bosque.

Oluwa mi Ajiki ogege a-gb'aiye-gun.


Criador vamos para cumprimentá-lo pela manhã com Ogege que vive para fazer a paz na
Terra.

Odudu ti idu ori emere o tun ori ti ko sain se.


A pessoa cujo espírito defende aqueles que morrem ao nascer.

Omo el'ejo ti nrin mirin-mirin lori ewe.


Filho da serpente, a que se move serenamente por cima das folhas.

Omo arin ti irin ode-owo saka-saka.


Filho do moedor, aquele que rege com as mãos limpas.

Orúnmìlà aboru, Orúnmìlà aboye, Orúnmìlà abosise.


Eu rogo ao espirito do destino para alivia-lo de seu fardo terreno e oferece-lo aos céus.
71

Por Que Consultar Ifá?

“A orientação de Ifá da inicio a um conjunto de ações que visam soluções práticas para
os problemas cotidianos, criando um processo que avalia, transforma e sustenta, com o objetivo
de atingir uma vida harmoniosa...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Avaliar:
O poder da avaliação preciso pode auxiliar mostrando de forma mais clara de onde você
está vindo, para onde você está indo e a necessidade de ajustes que você precisa fazer nesse
momento, mostrando claramente o caminho para identificar, a onde você quer chegar.
O mais importante, na avaliação é antecipar o que você precisa fazer a fim de minimizar
as ameaças e maximizar as oportunidades.

Transformar:
Com base na direção clara e a orientação definida durante a avaliação, você pode
concentrar seus esforços em fazer o trabalho de transformação e a remoção de obstáculos, assim
exaltando os pontos fortes usando o conhecimento e o seu potencial.

Sustentabilidade:
Considerando os rituais e os benefícios alcançados, as suas aspirações devem ser
mantidas.
O desenvolvimento de hábitos diários criarão um impacto no bem estar, a orientação
precisa implicara diretamente no processo de continuidade do resultado obtido.
72

Isefá e Itefá

É a cerimônia a onde a pessoa comum, seja iniciada no orisa ou não! Depois do Isefá
passa a ser reconhecida no culto de Ifá como Ómó Keke Awo Ifá ! A pessoa passa, a saber, seu
Odú que é transitório e não permanente. Em suma uma Harmonização entre o ser humano e o
seu atual destino que será cultuado, para uma vida nova dentro do culto e fora. Ou seja uma
fase de aprimoração espiritual e entendimento pessoal.
Respeitando os ewos de seu Odú-Ifá, E as normas de conduta no seu cotidiano espiritual
e material, para a sua total harmonia! Entre o profano e o sagrado. Até um dia a pedido de Odú
e Ifá e de seu aprimoramento e entendimento entre outras cerimônias do culto de Ifá.

Ìtéfá - Ìtélodú - Ou Ìgbódú

Esta é a segunda cerimonia no culto de Ifá (Iniciação), Dentro de Inúmeras vantagens e


Èéwos do Ìtéfa descrevo algumas mais importantes!
Dar ao iniciado o Àsé em qualquer dos caminhos escolhidos por ele!
Mostrar o caminho mais fácil, para se obter as coisas desejadas e predestinadas pelo seu
Òdú! Ter a oportunidade de reconhecer a originalidade e a singularidade em toda a sua
individualidade! Aprendizado para medir as suas realizações na vida em frente de seu destino!
Dar-lhe capacidade para saber com que o seu futuro se parecerá! Ensinar-lhe como buscar a
proteção das deidades! E ensinar-lhe a dominar tudo sobre seu destino e futuro! (desde que
cumpra os Èéwos normais do culto fora os do seu Òdú pessoal) Embora Ifá faça todas estas
coisas através do Ìtéfa Ha responsabilidades e Èéwos que tem que ser respeitados e obedecidos
para todos os iniciados ómó-awo, baba ifá, e os não sacerdotes! Em forma de conduta que tem
que ser seguidas estritamente!

Ogbe Irete
Ogbè w n`Ifáàà té K`àra ó ró wá, mo Gbá, mo téní ìrègún Ifá! Díá fún Òrúnmìlà bàbá
yòó té ómó ré n`Ifá! Wón sákáalé, ébó ní síse Ó gbé`bó rúbó, Nigbaàti mo gbà Bàbá à mí si té
mí, Aìlógbón nínù, Àìmèrò níkùn! Níí mú`níí wó Ìgbodù, Lééméta! Bí a bá e Ifá tán, Èése ti
òró Èsú Ódàrà fi kù, Ifá? Bí a bá té Ifá tán, A kíí fí àiákú igbà á gu ópé, A kíí bé ludó láì mó`wé,
A kíí rí íku nílé ká rotí bóó! A kíí fé obinrin Awo, A kíí gba aya ìsègún! A ó gbódó mú obìnrín
abóré wóle!
Kélékélé lóó fé, A ò gbódó bá obinrin ìmùlé éni sèké! Olúwo éni kíí bí ní lóró ká sé, Koiko ti
erín gbérí mó! Òrúnmìlà lo té Akódá! Ó té Asédá! Ó té Àràbà! Òrúnmìlá Àgbónnìègún Olójo
Ìgbón, Oun nìkan sósó la ò mó éni tó téé , Njé bí a bá té mí tán! Máá tún`ra mí té! Èèwó tí a bá
ká fún mí! Máá gbó títé l até mí, Máá tùn`ra mí té o! !

Tradução dos dizeres de Ifá no Oriki do Òdú Ogbé/irete


73

Ogbè/irete, Venha e seja iniciado para ficar confortável ! Levar uma mão de Ifá, ser iniciado
totalmente é o orgulho que a tem em Ifá! Foram quem consultou Ifá para Òrúnmìlà, Quando
ele planejou iniciar a sua criança! Òrúnmìlá foi aconselhado a oferecer sacrifício! Ele
concordou e ofereceu o sacrifício, Quando eu recebi uma mão de Ifá. Meu pai executou o
Ìtélódú então para min falta de sabedoria! Falta de pensamento profundo, Foi o que fez alguém
a ser iniciada repentinamente em três ocasiões! Depois de ser iniciado Èsú Ódàrà precisa ser
levado a sério; por que Èsú Ódàrà deve ser dado consideração extra? depois de ser iniciado,
Nós não deveremos usar o lado esterno para torcer uma corda para escalar um dendezeiro. Nós
Não Deveremos Pular No Rio Sem Saber Nadar!! Nós não devemos nos arriscar
impropriamente que não possa valer a pena! Nós não devemos desejar a esposa de um Awo!
Nós não devemos desejar a esposa de um curandeiro! Nós não devemos ter conhecimento do
canal ilícito da esposa de um ritualista! Nós não devemos planejar o mal contra nosso inimigo
com a sua esposa! Nós não devemos mentir pro nosso Olúwo! Qualquer coisa que tenha sido
exaustivamente dirigida! Òrúnmìlá foi quem iniciou Akódá! Ele iniciou também Asédá ! Ele
igualmente iniciou Àràbà! Só Òrúnmìlá Àgbonnìrègún foi a pessoa que nós não conhecemos
que iniciou Agora, depois que eu fui iniciado! Eu complementarei isto com a auto-íníciação!
Todas essas coisas que são meus TABUS eu os evitarei seguramente, eu fui iniciado, eu me
reiniciarei sozinho!

Esse texto foi reproduzido, conforme escrito pelo Bàbàláwo Ifámileke Kolawole Agboolà, meu
amigo e irmão, pessoa dedicada, pesquisador e sacerdote; no odu iwori ofun diz que devemos
respeitar quem merece, Ifamileke à você todo meu respeito!
74

Bàbàláwo Brasileiro

“Um dia me foi perguntado se poderia haver um Babalawo brasileiro, e isso me fez
pensar, que trauma de inferioridade nosso povo vive ao longo da história, que só o que é
estrangeiro é que é considerado bom...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Aprendemos primeiro que o que os Portugueses faziam era melhor, depois aprendemos
que os franceses eram melhores e por último no governo militar nos foi ensinado que os
americanos que eram os bons em tudo.
Que fato estranho é esse que nosso povo se comporta com tal dificuldade de aceitar os
seus compatriotas como pessoas comuns, porque sempre somos vistos, por nossos irmãos como
sendo inferiores.
Vivemos em um país rico com pessoas inteligentíssimas que ensinam em faculdades no
mundo inteiro os mais diversos temas, porque não poderia um brasileiro ser Babalawo?
Bem essa questão da ótica do comportamento humano eu não sou capacitado para
examinar deixo isso para os especialistas em tratamento das pessoas mentalmente perturbadas,
ou com transtornos de comportamento.
Com respeito ao aspecto religioso examinarei aqui algumas questões de grande
importância: se um brasileiro passa por todos os rituais que um yorubano o que o tornaria menos
capaz diante dos olhos de Orunmila? Nada.
O ritual que demora inúmeros dias conhecido como Itefá qualifica a pessoa para ser um
sacerdote e dar início a uma caminhada que, dependendo da pessoa, pode ou não levar mais ou
menos tempo, antigamente se falava de quinze anos, hoje isso tudo é coisa do passado um
sacerdote usa elementos como a informática, áudios, e vídeos para melhorar seus
conhecimentos, isso comparado com a forma de estudar de cem anos atrás reduz bastante o
tempo de aprendizado.
Se a pessoa for iniciada seguindo os princípios da tradição yoruba existem várias formas
de conduzir os rituais; o primeiro odu extraído para o iniciado antecede a entrada dele ao igbodu,
e pode ou não orientar a necessidade de alguns diferenciais como ebós distintos ao então
possível sacerdote.
Se o mesmo foi submetido no igbodu ao ritual do itefa presumimos que tais rituais foram
feitos seguindo a orientação de Ifa, e a partir do momento que é extraído o odu do então agora
iniciado segue-se os rituais até a conclusão da feitura, com a extração do terceiro odu que orienta
sobre o futuro do sacerdote.
Quando um médico sai da faculdade formado, nós o chamamos de enfermeiro? Não,
nós o chamamos de médico, quando um aluno se forma na faculdade de engenharia nós o
chamamos de mestre de obras ou de engenheiro?
75

O sacerdote que passa por todos os rituais de iniciação deve ser reconhecido pelo titulo
que recebeu. Se ele vai ou não corresponder é uma outra coisa que pode acontecer em qualquer
profissão escolhida.
O dedo médio do sacerdote brasileiro é diferente do dedo médio do sacerdote
yoruba?Esse dedo que passa por tantos rituais para que possa imprimir os odus não é
reconhecido porque é branco, ou a mente dos nossos irmãos que permanece na escuridão.
O que me deixa triste é saber que pessoas pensem assim,o fato do sacerdote passar por
rituais não o habilita a realizar os mesmos, mas o torna reconhecido como tal,os anos podem
transformar esse Babalawo em um bom sacerdote,mas um bom sacerdote com os anos não se
transforma em um Babalawo.Sem a feitura não existe o titulo.
Até mesmo quando vamos construir uma casa o alicerce deve ser construído primeiro;
porque devemos ser diferentes em nossas carreiras? É claro que todo sacerdote deve ser
reconhecido por seu conhecimento, mas os rituais o credenciam ao titulo.
Dizer que todo brasileiro não pode ser um Babalawo, é no mínimo imprudência porque
ifa ensina que generalizar não é inteligente.
Devemos estar abertos ao diálogo, as mudanças e as transformações estão acontecendo
na natureza a todo momento, porque não aconteceria na nossa religião? Uma das missões que
Ifa deu aos Babalawos é que ele ande pelo mundo e inicie novos sacerdotes. Por que deveria
iniciar novos sacerdotes, para não serem reconhecidos?
Que uma pessoa que fala yoruba fluentemente tem mais chance de aprender Ifa do que
uma que não fala a língua isso eu não discuto, que uma pessoa morando em território yoruba
tem mais acesso a informação que uma aqui no Brasil isso eu não discuto,mas não estamos
discutindo geografia,ou lingüística,estamos falando os desígnios de Ifa,e eu pergunto quem
entre nós sabe mais que o Orisa testemunha da criação?
Bí o se rere yó yọ sí ọ lára; bí o kò se rere yó yọ sílẹ̀.
Se suas ações são boas que os benefícios voltem a você; se suas ações não são boas logo
aparecerá claramente.
76

A Educação no Ase
Outro dia em uma conversa com um amigo que tenho grande consideração fui
surpreendido por uma frase que ele me disse (você Ifágbaiyin é um sacerdote privilegiado, você
tem uma ótima formação, a maioria dos sacerdotes não tem a sorte que você teve, você recebeu
uma bela educação de ase) seguimos conversando e me lembrei imediatamente da mãe Stela de
Osossi do Opon Afonja, que escreveu um belo livro sobre isso que tem como titulo,"Meu tempo
é agora", na mesma hora pensei em escrever na tentativa de contribuir para a formação de nosso
povo, embora pense que na verdade isso faça parte da educação que recebemos na infância.

1-Sempre que estamos na presença de um mais velho escutamos mais que falamos.
2-Sempre que vamos nos alimentar com um mais velho, ele é servido primeiro.
3-Quando vamos entrar em algum lugar o mais antigo entra primeiro.
4-Jamais um mais jovem senta enquanto seu mais velho está de pé.
6-Quando chegamos a uma casa de orisa saudamos os Orisas primeiro e não as pessoas.
7-A mulher se posiciona a esquerda do homem nos rituais.
8-O mais velho se posiciona a esquerda do mais novo.
9-O ileke identifica o iniciado, o fio mais longo identifica o principal Orisa na feitura do awo
ou olorisa.
10-Homens sempre devem cobrir suas cabeças com fila e mulheres jamais devem deixar o
cabelo para fora do pano de cabeça.
11-Sempre quem saúda é quem entra no ambiente.
12-Quando vamos a uma casa de Orisa levamos coisas de ase como presente.
Exemplo: obi, orogbo, flores, mel, dendê etc...
13-Jamais devemos dançar ou orar para os Orisas sem tirar os sapatos.
14-Se não queremos fazer ebó ou etutu não devemos consultar.
15-Se não vamos cumprir as indicações dos Orisas é preferível não consultar.
16-Um olorisa sabe sua posição na hierarquia por cargo ou por data de iniciação, um awo sabe
sua posição na hierarquia ou pelo cargo ou por a ordem do odu de iniciação.

Espero poder em outra oportunidade me aprofundar nas questões relativas a educação


de ase, essa nossa introdução fala de coisas simples que todas pessoas deveriam aprender na
infância mas não é difícil entender a falta de educação de nosso povo, observem com cuidado
a remuneração de um professor e se possível comparem a remuneração de um jogador de
futebol, vai ficar fácil entender.
77

Folhas de Ifá (Ewe Ifá)

Ewe Tete
Ewe Etiponla
Ewe Abamoda
Ewe Odundun
Ewe Gbegi
Ewe Rinrin
Ewe Teteregun
Ewe Oju Oro
Ewe Osibata
Ewe Mesin mesin

Odus Importantes na Família Agboola

Ogbe Odi - Babalawo Fagbemi Fashina Agboola


(Avo do meu Oluwo)
Ogbe otura- Araba okano fashina agboola
(Pai do meu Oluwo)
Osa Obara - Babalawo Awoyeniyi Agboola
(meu oluwo)
Osa Irete - Araba Awodiran Agboola
(irmão do meu Oluwo, atual Araba na cidade de Lagos.
78

INICIAÇÃO EM ÒRÌSÀ E IFÁ

“Infelizmente já não me surpreende mais o grande número de pessoas que se afastam


do culto a òrìsà, a grande maioria delas tenta de toda forma encontrar uma solução para os
seus problemas, porém depois de muito tentar, terminam se afastando de seus sacerdotes e
muitas vezes até mesmo da religião...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Em quase a totalidade dos casos, podemos observar dois fatores específicos que
contribuem para que o fato acima descrito aconteça.
O primeiro é o quase total desconhecimento da verdadeira proposta religiosa do culto á
òrìsà e o segundo é o despreparo e a falta de critério de muitos dos sacerdotes.
Há alguns capítulos atrás vemos o chamado “Religião tem regras,” na tentava de
explicar muitas das falhas ocorridas ao longo do tempo em nossa religião. Nesse texto vamos
seguir um raciocínio paralelo na tentativa de evidenciar as falhas que constatamos no dia a dia,
e também considerando as experiências adquiridas no atendimento de ex- praticantes do culto
ao òrìsà em varios estados de nosso país.
A grande maioria das pessoas entra para a religião buscando solução para problemas
muitas vezes incluídos em uma demanda ansiosa por respostas que nunca vão ser encontradas.
O sagrado pode ser acessado, mas jamais vai ser desmistificado sem estudo e dedicação, a falta
de cultura e o desconhecimento implicam diretamente na exacerbação do inimaginável como
solução. A máxima de que se não há uma resposta, se inventa uma, contribui para o descredito
de muitos dos sacerdotes ocasionando diretamente o afastamento de milhares de adeptos.
Relativo aos dois elementos citados acima como desencadeadores dos fatos em andamento
abordarei cada situação há seu tempo iniciando pelos fatos que comprometem o
desenvolvimento da relação iniciado e iniciador pelo iniciado ou adepto.
Sempre considerando a boa vontade para explicar os temas em discussão, embora não
tenhamos a intenção de figurar como donos da verdade. A nossa opinião é fundamentados
naquilo que acreditamos sempre dispostos a ouvir outras opiniões.
Iniciado ou adepto:
A expectativa criada em nossa religião para as soluções divinas não são sentidas no
catolicismo, nem no judaísmo e nas demais religiões, seria porque o nosso Deus é mais
poderoso que o das demais religiões? Ou seria que na mente de nossos adeptos foi criada uma
ilusão sobre a temática da influencia divina em nosso dia a dia? É bem verdade que Deus é um
só, então prefiro considerar a incapacidade de raciocínio de nossos adeptos gerada por uma
quase total falta de informação, implicando diretamente na decepção e no afastamento.
Se Deus e os òrìsàs estivessem a nossa disposição para resolver todas as nossas
dificuldades nas áreas sentimentais, financeiras e emocionais, a pergunta que faço é, qual seria
o motivo para vivermos?
79

Quando você sabe o que esperar da sua fé a decepção com o divino não existe, a
felicidade se acentua e o destino é visto com a certeza que a quase totalidade dos acontecimentos
foram escolhas nossas.
A força superior pode ser invocada, ela nos ouve e nos responde, infelizmente na grande
maioria das vezes não escutamos a sua voz.
O iniciador (sacerdote):
Abordaremos a questão do sacerdócio nesse texto exclusivamente ao tocante do
conhecimento e do preparo do oficiante dos rituais, considerando que a ética já foi abordado
por nós no texto, “A ética e o sacerdócio”.
Vamos analisar a iniciação como fato isolado do elemento gerador do afastamento dos
adeptos de nossa religião considerando o relato dos mesmos, embora em nossa opinião, tais
fatos se originem em uma gama bastante variada de implicações.
Tomaremos como exemplo uma iniciação no òrìsà Ògún.
Partindo do principio que a teologia yoruba explica que os òrìsàs se originam dos odus
supondo que o iniciador esteja se orientando pelos versos de ifá, sendo assim haveria inúmeras
formas de acesso ao mesmo òrìsà, contida em odus com conteúdos diferenciados.
Sendo assim se o iniciador acessar o òrìsà Ògún no odu Iwori méjì, o conflito armado
envolvendo a vida do iniciado poderá se tornar uma constante em seu dia a dia. Já sem o devido
preparo a mesma iniciação do òrìsà Ògún no odu Ògúndá Òfún, implicará em situações que
poderão atrair o ilícito para o caminho do iniciado. Por outro lado uma iniciação do òrìsà citado
acima no odu Ògúndá Ìrosùn se bem aplicada devera implicar diretamente em prosperidade e
ascensão do adepto.
A quantidade de odus que podem ser usados para culto do mesmo òrìsà é muito grande
e a sua variação implica em situações recorrentes na vida do iniciado, positivas ou até mesmo
negativas. Imaginem que se em uma consulta o odu é fator determinante, o que dizer de uma
iniciação, somente um profundo conhecimento sobre Ifá pode indicar o caminho a seguir.
Vamos observar os resultados diferentes de uma mesma iniciação em pessoas diferentes
sem que tenhamos uma explicação logica. Considerando o quase total desconhecimento sobre
odu em nosso país, isso explicaria o grande numero de decepções com as iniciações. O mesmo
òrìsà que é positivo para Pedro pode não ser para João, as mesmas condições oferecidas para
João podem ser insuficientes para o Orí de Pedro. Imaginemos então a mesma iniciação no òrìsà
Ògún, por despreparo ser constituída tomando como base o odu Ògúndá Iwori que fala da fúria
desses òrìsà, o desconhecimento e o despreparo poderiam ser catastróficos. Na verdade se
diminuirmos os anseios dos iniciados lhes oferecendo mais informações e capacitarmos os
iniciadores, o fluxo de abandono da nossa religião em quase a sua totalidade será contido.
Essa é a razão porque insisto em uma divulgação da palavra de Òrúnmìlà por bons
sacerdotes. Bàbàláwos bem preparados podem reverter o processo de esvaziamento das casas
de òrìsàs, para isso é necessário o entrosamento entre adeptos e os sacerdotes de ifá e òrìsà, sem
isso jamais vamos poder explicar para a população aquilo que elas anseiam dos òrìsàs.Sem um
profundo estudo dos versos de ifá tentar justificar o que se desconhece é menosprezar os anseios
daqueles que tem fé.
80

Ifá é Liberdade

“Gostaria de convidar os meus amigos para refletir sobre o artigo 5º da constituição do


nosso país, é interessante que alguns líderes religiosos não percebam que é necessário cumprir
a lei para desenvolver um trabalho apreciável na religião...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
Se você não permite que um iniciado em sua casa se afaste ou que ele busque outra casa
para consultar algo não esta bem, a pessoa deve ter liberdade para sair pela mesma porta que
entrou, não conheço nenhum verso de ifá que obrigue um iniciado a seguir seu iniciador em
caso de não haver mais um relacionamento equilibrado.
Se os nossos filhos que acompanhamos desde antes do nascimento não somos
proprietários, o que dizer de “filhos” de religião?
Essas pessoas que muitas vezes nos procuram em um momento difícil de suas vidas,
tem uma forma própria de ver a vida e a religião, então como vamos controla-las?
É impossível, é inadequado e sem sentido.
Muitas vezes alguém que chegou a sua casa desempregado e que agora esta em uma
situação financeira privilegiada muda completamente o foco, a pedida já não é mais a mesma e
deixamos de ser útil, a pergunta é temos o direito de impedir essa mudança?
Conheci muitos jovens que entraram na religião porque queriam uma namorada ou ser
aprovado no vestibular, hoje são ótimos profissionais e esqueceram os òrìsàs e as pessoas que
os iniciaram, será que isso motiva o sacerdote para uma vingança?
Não vejo com bons olhos as pessoas que se afastam das casas que os serviram e saem
falando mal de seus sacerdotes, assim como abomino as historias de alguns sacerdotes fazendo
alusão a detalhes da vida intima de alguém por eles iniciado.
Se a louça rachou não é necessário quebrar o restante, você pode colar e usar de outra
forma bem diferente.
Porque o amigo íntimo de ontem deve ser o inimigo de amanha?
Coisas da relação humana que de forma desumana presenciamos no dia a dia, o homem
virar animal e considerar que se você não está a favor dele certamente esta contra, esquece ele
que o ar que ele respira não tem proprietário e o mesmo sol que o ilumina pode queimar a pela
de outra pessoa.
A verdade é que é muito dura você vê que seu filho está adulto e que começa a tomar
decisões sem pedir a sua opinião, se isso acontece em nossas casas porque não aconteceria nas
casas de religião, temos que saber entender as necessidades das pessoas, elas mudam como
muda o vento.
81

Uma pessoa que tenha um problema afetivo hoje e que todo dia me procura para se
lamentar se iniciada no òrìsà certo pode viver um grande amor para toda vida, porque ela iria
continuar se lamentando se esta feliz?
O entender é parte do querer bem, o compreender é irmão gêmeo da aceitação, sem
aceitação não existe entendimento.
Há muitos anos, em uma conversa com mãe Edelsuita, comentei com ela que algumas
pessoas tinham saído de minha casa, ela calmamente me disse meu filho somos como postos
de gasolina, as pessoas chegam com o tanque vazio, abastecem e seguem a viagem. Em um
primeiro momento a frase me chocou, hoje tenho certeza que tudo que ela me disse esta certo.
Soube que em alguns lugares as pessoas pedem uma importância em dinheiro para
entregar os òrìsàs que elas já receberam para assentar, se a pessoa não deve nada, porque ela
teria que pagar para ser liberada?
Será que isso é uma indenização para o ego do sacerdote?
Será que esse dinheiro consegue afastar a tristeza de quem se vê sozinho?
A solidão é um monstro cruel que quando domesticado serve para fortalecer o pensar,
ampliar o querer e apurar o sentir. Devemos aprender a viver com lembranças, porém com
esperanças renovadas. Quem vive no passado se atrapalha com o presente, mas quem esquece
as experiências comete os mesmos erros.
Viver é se equilibrar, entre o querer e o poder!
Se você apertar muito o pássaro entre as suas mãos nunca sentira a alegria de ver o seu
voo.
“Filho é um ser que Deus nos emprestou para um curso intensivo de como amar alguém
além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos
e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser mãe é o maior ato de coragem que alguém
pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo
corretamente e do medo de perder algo tão amado.”
José Saramago

Essa argumentação é adequada à realidade da religião em nosso país, no território


yoruba nada disso acontece por questões filosóficas, sociais e culturais, a hipótese do
afastamento da casa a qual alguém foi iniciado não existe.
82

O Conhecimento em Ifá

“Quando perguntei para o meu Oluwo como identificar um Bàbàláwo que já esta em
ponto para se tornar um Oluwo ele me disse, naquele português enrolado que é característico
dele, um Bàbàláwo conquista o seu espaço dentro da família quando participa de rituais e se
mostra familiarizado com tais atividades. A mesma pergunta eu fiz para o Araba quando
perguntei como ele foi escolhido para ser o Araba da cidade de Lagos, ele me respondeu
proeminência...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Uma pessoa proeminente aparece não porque quer, ela aparece porque o seu
conhecimento se impõe e o reconhecimento acontece naturalmente.
No caso do Araba ele foi sabatinado durante três dias antes de ocupar a função máxima
do Ifá na cidade de Lagos, algumas pessoas conhecem esse ritual por iko ate, que vamos traduzir
aqui para facilitar como uma sabatina feita por seus colegas.
Na família Agboola, não existe esse ritual, na Nigéria, nenhuma pessoa tem coragem de
dizer que é um Bàbàláwo, sem antes ser reconhecido por sua família, apto e digno a essa função
dispensando qualquer teste. Chama a atenção que com exceção do meu Araba, nunca conheci
alguém que tenha passado por esse ritual. Ouço muito falar, mas nunca vi na rede social uma
única foto de um brasileiro que tenha sido submetido a esse ritual, um líder representa seus
liderados, não existe líder sem seguidores. Normalmente esse ritual é usado na hipótese como
citei da escolha de um líder que vai representar varias famílias.
Observação: O chamado iko ate se torna necessário quando a pessoa vai representar
outras famílias em um grande território porque nem sempre o seu conhecimento é testemunhado
por pessoas que não fazem parte do seu dia a dia. Seria uma forma de provar para quem não
conhece a pessoa a sua capacidade.
Quanto ás iniciações é certo que em nossa família, um pré-iniciado, no ritual de isefa
recebe um mínimo de dezoito ikins, e em um itefa o Oluwo escolhe o numero de ikins de acordo
com a necessidade e a orientação de Ifá. Também é verdade que um isefa pode ou não ter
sacrifícios, pode ou não ter um assentamento de Èṣù, o importante é que prevalece a orientação
de ifá nos rituais. Existem inúmeras variáveis que jamais vai permitir que um sacerdote pense
ser dono da verdade por mais que ele conheça sobre Ifá. Tenho certeza que vão aparecer pessoas
para me criticar sobre esse texto, isso não me preocupa. A minha contribuição esta sendo dada.
As pessoas que não concordarem devem escrever um texto que conteste o escrito por mim, não
sou o dono da verdade.
Estou preparado para responder as perguntas não porque sou o pretencioso, estou
preparado para responder por que estou na religião a cinquenta e quatro anos e dediquei a minha
vida a religião dos òrìsàs, além disso, sigo os princípios de minha família em território yoruba.
83

Todas as Pessoas Podem ser Iniciadas em Ifá


Odu Iwori odi
Kosi abiyamo ti ko lee bi Awo l’omo,
Kosi abiyamo ti ko lee bi Orunmila.
Baba eni, bioba bi’ni ni pipe,
Bopetiti, a tun nbi Baba eni l’omo’ Yeye.
Eni, bioba bi’ni ni pipe,
Bopetiti, a tun nbi Yeye eni l’omo.
A daa f’Orunmila, ti o wipe:
Oun maa m’Orun bo wa si aye,
Oun maa mu Aye lo s’Orun.
Ki o baa le se bee dandan,
IFA ni ki o ru ohun-gbogbo ni mejimeji,
Abo ati Ako bayi: - Agbo kan, Agutan kan,
Obuko kan, Ewure kan, Akuko-adiye kan,
Agbebo-adiye kan; ati beebee lo. O gbo o
rubo. Bee ni aye nbisii ti won si nre sii.

Tradução:

Não existe nenhuma mulher que dê a luz a filhos que não possa dar a luz a um Sacerdote de
Ifá.
Não existe nenhuma mulher que dê a luz a filhos que não possa dar a luz a Òrúnmìlà.
Nosso pai, se ele nos dá a luz em plenitude, inevitavelmente nós devemos em tempo dar a luz
a ele em retribuição.
Nossa mãe, se ela nos dá a luz em plenitude, inevitavelmente nós devemos em tempo dar a luz
a ele em retribuição.
O Ifá foi consultado por Òrúnmìlà, quando ele disse que “Ele trará os Céus abaixo para a
Terra, Ele trará a Terra acima para os Céus.”
De forma que ele possa realizar com sucesso sua missão, a Ele foi dito para oferecer tudo em
dois, um macho e uma fêmea.
Um carneiro e uma ovelha, um bode e uma cabra, um galo e uma galinha etc.
Òrúnmìlà escutou, prestou atenção, obedeceu e sacrificou. Assim a Terra tornou-se frutífera e
multiplicou grandemente.

Afalobi A.Epega
84

Ifá, Orisás, o Pecado não Existe

“Escrever sobre filosofia religiosa yoruba exige sobre tudo coragem e ousadia, aquele
que tenta divulgar orixá e sua forma de pensar em um país a onde a grande maioria se declara
católico...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

O Ile Ifá Agboola tem sua sede em um bairro conhecido como Areia Branca, famoso
pela quantidade de terreiros de candomblé.
Fui surpreendido com o resultado de uma pesquisa que fiz na internet, em nosso bairro
a grande maioria das pessoas se declaram católicos ou evangélicos.

Religião Areia Branca


Católica Apostólica Romana 18.370
Espírita 125
Evangélica 4.001
Dados fornecidos pela prefeitura de Lauro de Freitas – Bahia.

Escrever para pessoas que não assumem sua religião publicamente é muito complicado,
imaginem então, escrever sobre filosofia yoruba para pessoas que aprenderam a pensar como
católicos.
Para nós iniciados em orixá o pecado não existe pressupor pecado implica em aceitar
que se eu pequei e cumpri a penitencia fui perdoado, na religião tradicional yoruba se você
cometer erros mesmo que venha se arrepender as implicações do erro não deixaram de existir.
No odu Ògúndá Òfún fala sobre o comportamento do ladrão e traidor, indicando no
próprio texto cautela ao iniciar as pessoas para quem se apresenta esse odu, se Òrúnmìlà orienta
para ter cautela é porque existem indicativos de falta de caráter.

Ògúndá Òfún:
“Um mentiroso mente e suas mentiras o destroem.
Um traidor faz dano para ele mesmo.
Estas foram as declarações de ifá para Òrúnmìlà, quando o mentiroso e traidor
queria se converter em seu discípulo.”
Solagbade Popoola

A verdade é que ao longo do tempo em nosso país foi divulgado que a nossa religião
esta de braços abertos para os faltosos, em parte é verdade, estamos de braços abertos, mas isso
não quer dizer que você comprou um passaporte para a impunidade.
Há algum tempo um Bàbàláwo recém-iniciado me perguntou se quem passa por todos
os rituais do itelodu estaria protegido por um longo tempo de energias negativas, a minha
resposta para ele foi não.
85

Mesmo que você tenha passado por todos os rituais que uma iniciação exige, se você
não mudar sua forma de pensar e agir, a permanência da energia adquirida na iniciação termina
se esvaindo.
A religião que eu pratico não é a mesma das pessoas que atendem traficantes e
assassinos, seria infantilidade afirmar que orações dirigidas a um orixá possam trazer benefícios
para alguém que vende drogas para crianças ou que tira a vida de inocentes.
Os desavisados podem concluir então que a nossa religião é só para pessoas perfeitas,
na realidade todas as religiões deveriam servir para as pessoas que querem abandonar posturas
antigas, deveriam servir para pessoas que estão tentando mudar e evoluir como seres humanos.
Se você busca a transformação o orixá é o caminho, mas se você acredita em absolvição
esta na religião errada, as nossas atitudes nos envolvem e podem nos condenar ou nos absolver.
Quem não estiver com intenção de melhorar certamente não vai ter as suas suplicas
atendidas, o desonesto reza e não é escutado, ao contrario daquele que tem boas intenções, que
até os seus pensamentos são ouvidos.
86

O Maior de Todos os Feitiços, a Palavra de Ifá.

“Nos encontros que tenho com as pessoas para falar sobre ifá sou surpreendido com a
quase total falta de conhecimento das pessoas sobre os orisás...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Fico muito aborrecido quando ouço algumas afirmações cobrando dos orixás
transformações que jamais deveriam ser atribuídas as divindades, o homem é um ser mutável e
pré-disposto a assimilação rápida, o convívio deveria implicar em um amadurecimento e na
evolução da espécie ao contrario disso me deparo com inúmeras pessoas que o cabelo ficou
branco, mas que a total falta de caráter predomina, contradizendo a máxima que o homem
amadurece e fica sábio.
O maior de todos os feitiços aquele que sentencia o homem ao insucesso, é a falta de
caráter, quando o individuo rouba, trai e mente ele se afasta da sua essência, primária, divina.
A origem do homem é fruto de Deus, mas o homem enquanto produto constituído fruto
do divino com suas atitudes distancia-se dos benefícios criados por Olódùmarè e os orixás, a
mudança de atitude é o ponto de partida para a evolução.
Sendo assim a mudança deve ser a partir do comportamento e das atitudes, para que aja
a transformação o processo deve acontecer de dentro para fora e não ao contrario, o bom caráter
abre caminhos e cria oportunidades atraindo a sorte.
É comum ver sacerdotes preparando ebos para seus iniciados com o intuito de afastar as
negatividades, sem que tenham abordado com seus discípulos questões que envolvem o bom
comportamento e as atitudes positivas implicando assim na grande maioria das vezes em uma
sequencia de insucessos.
A tolerância, a paciência, a bondade e o desprendimento assim como a honestidade e a
verdade implicam no processo de limpeza dos canais de comunicações com o orixá, o bom
caráter fala e é ouvido, o mau caráter reza e não é escutado.
A avareza, o egoísmo e a mentira assim como a traição e a desonestidade isolam o
homem dos orixás e de seus semelhantes, a postura negativa é sem dúvida a maior das magias
maléficas.
Dizem que o mestre aparece quando o discípulo está bem preparado, na verdade o
discípulo só esta preparado quando os dois tem bom caráter, o exemplo é a melhor de todas as
lições contrariando sempre a frase que diz “faça o que digo, mas não faço o que faço”.
Nos versos de ifá encontramos orientação de qual caminho seguir, porém se somente
passamos por cerimonias e dentro de nós nada muda não chegamos a lugar nenhum.
Por essa razão antes de reclamar que você não tem sorte analise as suas atitudes.
87

Òrìșà Oxum
Quando Yemanja deu a luz a uma bela menina percebeu que ela esta com um pequeno
ferimento no umbigo que em pouco tempo ficou inflamado, por essa razão ela resolveu
consultar Òrúnmìlà sobre a saúde da filha.
Òrúnmìlà orientou um efó conhecido até hoje como Omolokun (Omo filha, Olókun,
dono do mar) a filha de Olókun é yemonja, teria que fazer um ebó para sua filha que consistia
em uma espécie de òlele (feijão cozido e temperado que deveria ser oferecido com alguns ovos
na beira do rio), a menina ficou curada, cresceu e ficou conhecida como Oxum.
Oxun é o Orixá cultuado no rio mais famoso do território Yoruba, seu principal santuário
é na cidade de Osogbo (Oṣé Owonrin), essa cidade foi criada após a chegada de um povo que
estava fugindo da guerra, conta a historia que o líder desse povo teria feito um acordo com o
espirito de uma mulher que apareceu nas aguas conhecida como Oxum, (Odu Oṣé Ogbe).
Se nós fossemos considerar o arquétipo dos descendentes de Oxum baseado
exclusivamente nas características dos orixás poderíamos dizer que elas são vaidosas,
charmosas, vingativas e muito bonitas.
Os presentes oferecidos a Oxum comumente são mel, ovos, feijão cozido (òlele) e peças
em bronze (braceletes), além de osun (pó vermelho), obi e Orobó.
88

Òrìșà Ọya.

A herdeira do território de Ira com a perda de seu pai assumiu a liderança de seu povo,
(Onira) em um período de muitas guerras e grandes dificuldades.
Ọya foi orientada por seus conselheiros a unir-se ao seu povo, o grande exercito de Ọ̀yọ.
Já na audiência com o rei surge uma forte atração de ambos que movidos por uma intensa paixão
unem se em matrimonio. Durante o relacionamento dos dois, dizem alguns historiadores, que a
grande rainha teria tido alguns problemas para engravidar e que até teria tido a perda de alguns
filhos, porém ficou gravida e por uma razão que não vem ao caso agora teria enviado seus filhos
para serem criados longe do reino de Ọ̀yọ. Em meio a conflitos, conspirações e golpes políticos
o soberano Xangó é destronado e foge com Ọya e alguns seguidores, chegando a Koso em
desespero tira sua vida enforcando-se.
Ọya desesperada após a morte de seu grande amor, segue a fuga para a cidade de Ira e
se suicida, tomando veneno diante de alguns de seus seguidores, que assumem a mesma postura
dos seguidores de Xangó, fazendo desaparecer o seu corpo, dando origem assim ao culto desse
belo orixá.
Com esse relato simples e de fácil assimilação simplificamos a complexidade do que é
descrever uma mulher fiel e apaixonada por seu marido e infinitamente dedicada ao seu rei.
Os sentimentos descritos acima determinam um comportamento extremista e agressivo
para manter um compromisso, se é que podemos definir as descendentes de Ọya por um
arquétipo seria o da mulher confiável e dedicada a seu marido e aos seus filhos.
Para Ọya a traição é impossível e a falta a um compromisso se iguala a morte, descrever
Ọya é descrever a fidelidade eterna.
Ọya é um orixá ligado à cor vermelha, representada pelo osun (pó vermelho), em seu
assentamento encontramos chifres de búfalos e edun ara como o descrito nos versos de Ifá.
Esses relatos podem ser encontrados no odu Osa Owonrin e Okanran Meji, e outros.
89

Isefa, Pré-Iniciação Em Ifá

“O Ifá da segurança ao iniciado e isso faz com que ele desenvolva uma qualidade de
vida jamais experimentada, a certeza que a pessoa está no caminho certo fortalece os planos
para o futuro com a convicção que o sonho não é impossível...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Uma quantidade grande de pessoas me procura com a seguinte pergunta, qual a


influencia de Ifá no dia a dia das pessoas iniciadas?
Quase sempre a falta de tempo me impede de abordar a questão de uma forma mais
ampla, diante disso resolvi dedicar um texto exclusivamente a essa questão levantada.
Quando o sujeito identifica a sua origem ele planeja o futuro com os olhos no presente
e o coração cheio de elementos que o fortalecem vindos do passado.
O itefa já foi mencionado por em outro tcapítulo como o inicio da vida, cada pessoa tem
o direito de ter a sua opinião, eu penso dessa forma por ter estudado Ifá.
Eu sempre digo a seguinte frase “o Òrìșà é o veiculo na estrada da vida e o Ifá é o mapa
que indica qual o caminho que deve ser seguido”.
Para quem não foi iniciado no Ifá isso que descrevi acima deve parecer estranho, mas
imaginem como a vida é facilitada se sabemos em que somos fortes e em que situação somos
mais vulneráveis.
A decisão é livre, você escolhe o caminho, mas se temos informações privilegiadas
sobre o nosso destino errar fica mais difícil e a escolha certa fica facilitada.
A verdade é que o Ifá beneficia em muito todo aquele que foi iniciado, mesmo o pré-
iniciado aquele que faz Isefa.
No Isefa o pré- iniciado recebe orientação de qual caminho seguir, assim como lhe é
indicado Òrìșàs para culto e outras questões ele recebe um nome para ser identificado dentro
do Ẹgbẹ, embora em algumas famílias não seja dado o nome para quem faz isefa no ifá praticado
em Osogbo, Lagos e outras cidades isso é normal.
O ifá é único, mas as famílias e as interpretações do ifá podem ser diferentes, o bom
sacerdote é aquele que respeita as diferenças, os nigerianos iniciados em ifá discutem em
publico futebol, politica e outros assuntos, jamais discutem religião, dizer que isefa não tem
nome como sendo uma única verdade é se disser dono da verdade.
Na foto o Araba Awodiran faz o isefa do pequeno Ifágbaíyin que recebe esse nome em
razão de seu odu, as pessoas que discordarem do Araba Awodiran podem entrar em contato no
facebook dele.
90

Itelodu e o Sacerdote de Orunmila

“Muito se tem falado sobre ifá nos últimos anos e muito se tem escrito sobre os rituais
de iniciação, porém me causa espanto à falta de concordância na abordagem no Brasil sobre
temas que no território yoruba são descritos da mesma forma por todas as famílias...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Buscando esclarecer os nossos leitores sem ferir qualquer norma na divulgação de uma
abordagem indireta iniciamos aqui um dialogo deixando claro que não somos os donos da
verdade, mas sim temos a maior tranquilidade para descrever o que é praticado por nós em por
nossa família na Nigéria em todos os rituais.
Até pouco tempo atrás a falta de contato com os yorubanos dificultava a confirmação
do que é escrito aqui no Brasil, sugiro as pessoas que tenham dúvidas sobre o que eu vou
escrever que busquem informações com Bàbàláwos nigerianos.
O itelodu além do reconhecimento do filho (Bàbàláwo), por sua mãe (Iya odu),
traduzindo de uma maneira didática seria o equivalente ao reencontro de uma mãe com um
filho, que por alguma razão ficou afastado.
Essa cerimonia de infinita beleza e da maior seriedade caracteriza que a partir daquele
momento o awo pode em um futuro se tornar um bom sacerdote ou não.
O itelodu não exime os faltosos das implicações em suas atitudes, como já disse em
outras oportunidades, uma iniciação não é salvo conduto para falta de caráter, assim como não
serve de proteção para os inescrupulosos, o fato de você ser iniciado no culto de Iya odu não
torna ninguém intocável.
Ìtélè em Yoruba significa começo, assim poderíamos descrever o começo da relação de
um filho com sua mãe, na cerimonia do itelodu o awo entra vendado em uma sala
completamente escura, o que caracteriza o seu desconhecimento sobre aquele ritual e a sua
confiança no que esta por vir, de coração aberto e alinhado com o seu destino o possível novo
sacerdote vai depender muito de seu caráter e de sua postura para que tenha o apoio de sua mãe.
Vi na internet um texto que descreve o itelodu como o momento que é sacado um novo
odu para o sacerdote, no território yoruba isso não existe, no novo mundo por interesses que
não vamos apontar aqui, o itelodu passou a ser parte de uma cerimonia que comumente é única
na Nigéria.
Vou explicar melhor:
Se em consulta que antecede a iniciação o iniciado é apontado como um provável
Bàbàláwo, dentro do Igbodu na hora que é tomado conhecimento do odu de nascimento do
mesmo a continuação do ritual e a apresentação a Iya odu dão inicio ao itelodu, isso é como
uma consequência inalterável, embora também possa acontecer que no itefa fique constado que
o awo tenha um caminho diferente que o de Bàbàláwo.
Porem quando é identificado o Bàbàláwo o itelodu e o itefa fazem partem de um mesmo
processo, já na hipótese que um awo por qualquer razão venha fazer o itelodu separado do itefa
91

o odu de nascimento não muda e o terceiro odu extraído no itefa só demonstra as orientações
de ifá para o dia a dia, o terceiro odu conhecido como pada odo (a volta do rio), não é o odu de
nascimento, o odu de nascimento é um só, sendo sacerdote o odu permanece o mesmo, os ewos
permanecem os mesmos e a indicação dos principais orixás a serem cultuados continua a
mesma.
O odu de sacerdócio evidentemente é o odu de nascimento que indica aquela atribuição,
não porque o awo foi submetido a uma cerimonia e sim porque ele nasceu com essa escolha
que foi testemunhada por Òrúnmìlà.
Existe três formas bem distintas de alimentar Iya odu, na primeira parte do itefa é
alimentado de uma maneira, na confirmação do itelodu Iya odu é alimentada de outra forma e
na consagração de Iya odu (recebimento do Igbá) Iya odu é alimentada de outra forma que uni
as duas anteriormente citadas em um só ato, qualquer uma dessas cerimonias comumente é
efetuada em três dias.
Gostaria de detalhar mais essa questão porem para uma melhor compreensão dos nossos
leitores indico o texto em nosso blog:
92

Ojubona, o Orientador no Ifá

“Em todas as profissões bons profissionais durante anos se consideraram como


aprendizes, a aceitação da condição de despreparado facilita o aprendizado e qualifica a
formação com a atitude de humildade...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

No Ifá não é diferente, sempre divulgamos abertamente a necessidade de um tempo


mínimo de estudos antes do awo assumir a posição de sacerdote, a condição por nós aceita
como a mínima condição divulgada pelo nosso Araba, que considera um prazo mínimo de
preparação em 4 a 5 anos.
É bem verdade algumas pessoas se afastaram da nossa família por não concordarem
com esse prazo, o desejo de atender muitas vezes termina atropelando o bom senso como
poderia ser considerado o recém iniciado como Oluwo se ainda não tem a formação de
Babalawo.
Um Babalawo deve saber um mínimo sobre os odus, deve saber preparar awures, isegun,
asetas, entre várias formulas necessárias no dia a dia, além de saber fazer os mais diversos ebós
inclusive ebó riru.
Sem o conhecimento o awo enfrentará dificuldade que terminaram prejudicando a
imagem de toda a sua família e não só a dele, o despreparo prejudica o sacerdote e o consulente,
a má interpretação de um odu pode guiar o awo em direção ao sentindo inverso do desejado,
resultando o atendimento em um fracasso.
É responsabilidade exclusiva do Oluwo autorização para o atendimento, o Ojugbona
ajuda na preparação do awo mas a liberação é um ato do Oluwo, toda a egbe segue a orientação
de um único líder, o Oluwo, sendo assim os elogios e as críticas devem ser dirigidas
exclusivamente a ele.
O culto a ifá aceita as pessoas sem esclarecimentos, mas não incentiva que elas sejam
iniciadoras se o mesmo não deseja estudar jamais conseguira sair da condição de iniciado, é
nesse momento que a postura do ojugbona pode fazer uma enorme diferença.
O ojugbona antes de mais nada é uma figura de total confiança do oluwo, a permanecia
dele ou não como instrutor do iniciado é uma decisão exclusiva do oluwo.
Um ojugbona quando escolhido entre Babalawos experientes pode ser responsável por
todo o treinamento do awo e isso pode durar alguns anos ou não, considerando a hipótese que
na falta de Babalawos experientes jovens Babalawos poderão ser escolhidos para acompanhar
o awo exclusivamente no período do itelodu ou itefá.
Para fazer a iniciação de um outro awo a figura do ojugbona pode ser ocupada pelo
Babalawo ou pelo oluwo, considerando que existe um mínimo de pessoas para a cerimônia de
itefá. O oluwo no itefá é o responsável por toda a cerimônia, o Babalawo auxilia o oluwo assim
como o ojugbona auxilia o oluwo, isso indica um mínimo de participantes do itefá em duas ou
três pessoas.
93

Já presenciamos algumas situações que para não identificar como ridículas usaremos o
termo hilário, antes de iniciado o awo já tem sua agenda fixada para iniciar outras pessoas. Isso
tudo representa o retrato de muitos dos supostos awos nos dias de hoje, pessoas com um pouco
de conhecimento da cultura afro brasileiro se auto designam os sacerdotes da Religião
Tradicional Yoruba prejudicando a imagem do ifá como um todo.
Mesmo que alguns consideram esse período mínimo de treinamento como escravidão
ou subserviência, particularmente acredito que awo merece uma formação diferenciada porque
alguns conseguem assimilar os ensinamentos em menos tempo, embora o mínimo jamais deva
ser inferior ao anunciado pelo Araba de 4 a 5 anos.
Imaginem alguém dirigindo a mais de 200 km por hora sem uma preparação antecipada,
o mesmo risco de vida deve ser considerado quando um awo atende sem ter condições. A
autorização para o despreparado é equivalente a entrega das chaves de um veículo potente a
uma pessoa que não sabe dirigir e um acidente fatal pode acontecer.
O fato do awo ter diversos compromissos com a família e manutenção de sua casa,
jamais justificara que o Oluwo o permita atender. As necessidades de ganho do awo jamais
deve ser considerada como pretexto para a eliminação de etapas.
A decisão do Oluwo pode ser antipática, mas é necessária, a não liberação de um awo
despreparado para atendimento e iniciações é fundamental para a preservação do nome da egbe.
Esse texto é uma homenagem a meu ojugbona João Assef foi ele quem colocou um
opele em minhas mãos pela primeira vez, foi com ele que aprendi os primeiros passos no Ifá,
esse homem não foi somente meu ojugbona, foi um exemplo para mim com sua simplicidade e
dedicação ao ifá.
94

A Verdade Sobre o Orixá e Ifá

“Ao longo dos anos tenho acompanhado um grande numero de pessoas divulgando a
religião tradicional yoruba, algumas delas bem intencionadas fazem ótimos trabalhos outras, no
entanto, se limitam a divulgar materiais vindos do exterior como sendo a mais pura verdade,
incontestável e irretocável verdade...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

O povo de nosso país durante anos foram vitimados com a verdade católica que moldou
a forma de pensar de nosso povo, a nossa gente pensa em religião como se o catolicismo fosse
à base para tudo.
O planeta tem sete milhões de habitantes, o catolicismo durante longo tempo foi
dominante em vários países, hoje isso já não acontece, à manipulação da informação aos poucos
deixa de existir sendo assim as pessoas tem acesso a informações referentes às mais diversas
religiões.
A necessidade de nossos irmãos na fé do orisá é especifica, não podemos mudar na
teologia com filosofia católica ou cristã. Existe uma guerra acontecendo nas entrelinhas em
nosso país, evangélicos e católicos disputam com violência os fieis, isso gera desconforto para
nossos irmãos, em grande parte dominados por um sistema corrupto que associa a politica a
religião e ao poder da mídia.
O povo que cultua orisá esta necessitando de informações, precisamos de canais de tv e
emissoras de rádios disponibilizando informações verdadeiras sobre a teologia e a filosofia
yoruba.
Na tentativa de criar mais um espaço onde a informação sobre orisá possa ser divulgada
criamos vários trabalhos, incluindo os nossos blogs e as nossas paginas na internet.
Não somos os donos da verdade, temos um trabalho que é fruto de dedicação com mais
de cinco décadas de fé e amor aos orisás. É bem verdade que os orisás foram generosos conosco,
nos possibilitaram um convívio com pessoas capacitadas que auxiliaram na nossa informação.
Vejo constantemente na internet abordagens equivocadas algumas pessoas na falta de
conhecimento improvisam e terminam misturando o cristianismo com a religião tradicional de
culto ao orisá.
Essa semana recebi de presente de aniversario de um querido amigo um livro do grande
escritor Ayo Salami, após a leitura resolvi escrever esse texto desmitificando algumas questões,
o livro que fala sobre Egbe Orun me inspirou uma abordagem ampla sobre a filosofia e a religião
yoruba.
Buscando torna a didática leve e acessível para pessoas de todas as idades e níveis
intelectuais, vamos abordar algumas questões de forma simplificada.
O nascimento:
O nascimento de um ser humano dentro da religião yoruba é descrito em varias fases,
nos versos de ifá, partindo do principio ativo que é particularmente conhecido como alma.
Alma:
95

A alma que vamos designar dessa forma para fácil identificação tem origem divina,
Olodumare “Deus” com a necessidade de criar novos indivíduos encarrega Obatala de criar
novos corpos celestiais que após a criação ganhou vida com o sopro divino do criador, “Deus”.
Com a vida insuflada em um principio que se origina em dois corpos simultaneamente
a alma agora dos seres idênticos segue a trajetória natural se dirigindo para a escolha de um orí.
Ori:
O orí é escolhido pela alma e seu duplo originando aqui após a escolha diante de Àjàlá
“aquele que cria o “Ori” um duplo do orí idêntico que tenha a função de acompanhar o duplo
da alma no orun”.
96

Egbe Orun

“O culto a Egbe Orun enfatiza a necessidade de atrair o duplo da alma que permanece
no Orun depois do nascimento com a finalidade de acessar a ligação divina de Egbe com
Olodumare possibilitando uma vida mais confortável...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Abiku.
O espirito abiku reproduz a insatisfação e a falta de aceitação com o destino e o
afastamento do duplo, sendo assim o encontro da morte é a maneira simplista de reencontrar o
duplo no orun.
Embora muitas pessoas com problema de abiku não morram jovens a sua condição de
insatisfação e a não aceitação do destino escolhido caracterizam seu comportamento.
Bori.
O culto a orí enfatiza a necessidade de atrair do duplo do orí que permanece no Orun
depois do nascimento com a finalidade de acessar a ligação divina de orí com Olodumare
possibilitando uma vida mais confortável.
Observação: Na filosofia Yoruba o duplo da alma e o duplo do orí por permanecer no
Orun tem ligação direta com o divino isso facilita o acesso a uma vida prospera e tranquila dai
a razão do culto ao duplo.
Sendo que o orí e a alma que se destinaram para acompanhar o corpo no nascimento em
convívio terreno perde muito da sua inocência e distancia o homem do seu criador.
Esse tema já foi abordado por vários pensadores que aproximam a figura infantil e
inocente do divino que também descrevem o afastamento de Deus com o passar do tempo e o
desenvolvimento do caráter e da personalidade.
Caráter.
O caráter conhecido na filosofia yoruba como IWA esta contido na escolha do individuo
aos pés de Àjàlá no momento da escolha d orí, porém com uma definição mais ampla conhecida
por nós como odu.
Odu.
Odu pode ser designado como o resultado de parte da essência divina introduzido em
quatro elementos o orí e o seu duplo assim como a alma e seu duplo, esse conjunto em
movimento após o nascimento concentra na parte que vem para terra o Iwa que sofre algumas
alterações com o passar do tempo e o convívio com outros indivíduos gerando aqui o que
conhecemos como personalidade.
A personalidade.
A livre escolha de como viver expressada em uma pequena parte de como conhecemos
como destino pode nos aproximar ou nos afastar do divino, pessoas com o mesmo odu que tem
a alma como ponto de origem da mesma essência, “Egbe” expressam comportamentos
97

diferentes em razão do caráter “IWA” gerando assim um comportamento identificado como


diferente da essência conhecido como personalidade.
Destino.
Ori esta ligado ao odu, e existe 256 odus diferentes, a grosso modo, teríamos no mínimo
256 tipos de bori. Mas a verdade é que esse procedimento não segue nenhuma regra e sim, uma
orientação de Ifa ocasional.
Observação: O destino pode ser assim compreendido.
AKUNLEYAN é a parte do destino que cada um escolhe por vontade própria, livre
arbítrio.
AKUNLEGBA é a parte do destino o qual está adicionada como complemento de
AKUNLEYAN.
AYANMO é aquela parte do destino que nunca pode ser mudado. Por exemplo: Pais,
sexo etc...
Ìwà Rere quer dizer, bom caráter, um dos principais requisitos para se tornar digno de
ser cultuado por seus descendentes após sua morte.
Apari-Inu representa o caráter à natureza humana, Ori Apere representa o destino.
Um indivíduo pode vir para a terra com um bom destino, mas se ele vem com mau
caráter, à probabilidade de cumprimento, do seu destino é comprometida.
O pecado.
A cultura Yoruba não reconhece o pecado, pessoa que toma a iniciativa de se distanciar
de seu destino, é o que popularmente se chama de pobre de espirito.
A filosofia Yoruba é fantástica, existe uma frase que diz, o castigo deve ser adequado
ao caráter do culpado.
Isso identifica que o caráter também faz parte da escolha, assim como o odu a escolha é
testemunhada por Orunmila.
O Espirito.
O espirito é descrito em um conjunto que é formado pelo Ori, a alma e o caráter, o odu
de duas pessoas idêntico pode gerar comportamentos diferentes em razão do desenvolvimento
do caráter que é alterado gerando o distanciamento do destino comprometendo a alma e
distanciando a mesma de seu duplo e da sua essência.
Orunmila.
O culto a Òrúnmilà serve para aprimorar o caráter e aproximar o individuo de seu
destino, o conhecimento do odu de nascimento serve para nortear o comportamento visando
aproximar a alma e o orí de seu duplo contando com o apoio do Orisa.
Orisa.
A nossa alma tem a mesma origem que tem o orisa porem a nossa alma pertence a um
egbe e o Orisa pertence a outro egbe a origem é a mesma, mas definição se difere porque a alma
considerando a parte que vem para a terra pode se distanciar da origem o orisa se mantem em
sua essência divina e possibilita o acesso à prosperidade assim como o nosso duplo no orun por
razões anteriormente descritas.
O culto a Orisa.
O culto a orisa assim como o culto a orí e egbe tem a mesma finalidade que é a
aproximação com o divino e a identificação com a nossa origem, considerando que o duplo é
parte do Deus e assim se comporta a essência é fundamental no desenvolvimento do espirito.
98

As pessoas que são iniciadas para determinados Orisás seguem uma orientação de Ifá
baseada em um principio da complementação.
Quando um sacerdote de Ifa é iniciado cumpre uma série de rituais e cultua os Orisás
indicados nos odus relativos à sua iniciação, já no caso da pessoa não iniciada em Ifá o processo
pode seguir uma orientação um pouco diferente.
A incorporação.
O transe consciente visa à aproximação do individuo com a essência do divino expressa
no Egbe, ela é provocada e se justifica para a evolução do espirito que habita em cada um de
nós.
O transe inconsciente que não é reconhecido pela ciência tão pouco se justificaria como
forma de evolução, pois se eu não tenho conhecimento que estou alinhado como poderia me
beneficiar do alinhamento, tal comportamento é injustificado e inexplicável para a evolução
espiritual.
Mesmo que algumas pessoas acreditam quem isso é possível a ciência contesta e o
comportamento daqueles que tomam banho e colocam roupas adequadas para os rituais se
entregando ao ritmo das cantigas invocatórias de forma consciente o individuo em alinhamento
com a essência propositalmente.
A informação da não consciência é usada dos dois lados do oceano por pessoas que se
beneficiam e usam a energia do divino em beneficio próprio as aberrações no território yoruba
como em outros países chegam ao máximo dos ridículos onde números de magicas tentam
justiçar a veracidade do espirito, homens introduzem instrumentos perfurantes em seu corpo
tentando provar uma incorporação, mas na verdade uma solução de folhas anestésicas é usada
como forma de amenizar a dor criando um palco ilusórias onde inúmeras pessoas contracenam
com a mentira.
Egungun.
O culto aos antepassados tem a mesma finalidade que o culto de Egbe e Ori com uma
diferença o alinhamento é buscado na essência e não no duplo.
O culto a egungun tem a mesma finalidade que o culto a orisá, a aproximação da
essência que não sofreu alteração e mantem o principio do divino possibilita o viver mais
confortável e o desenvolvimento espiritual próximo do compromisso assumido antes do
nascimento.
O culto a Orunmila.
O ato de criar o Ifá do individuo através do assentamento de Orunmila possibilita a
criação do instrumento que identificara o destino e os compromissos assumidos antes do
nascimento essa questão é fundamental que seja compreendida como um mapa que auxiliara a
pessoa na caminhada terrena, mas também auxiliara o espirito no alinhamento com o duplo.
Somente Orunmila testemunhou a nossa escolha do nosso destino, a voz de Orunmila
só pode ser ouvida no Ifa e o Ifá pessoal reproduz com mais detalhe a nossa escolha.
Isefa.
Para algumas famílias o isefa não é uma iniciação, em nossa família consideramos o
Itefa uma iniciação completa e o isefa uma pré-iniciação, em nossa família toda a pessoa
submetida a um isefa recebe um nome, além das orientações do odu do ritual, se essa pessoa
recebe uma indicação de ifá que deve se tornar um babalawo, o ifá é alimentado mais uma vez,
99

em um novo ritual, que não acontece no mesmo dia, e um opele é consagrado para o inicio dos
estudos.
Em algumas famílias a pessoa submetida em um isefa é chamada Omo ifá, e uma
submetida ao itefa são conhecidas como awo ifá.
Em nossa família consideramos esses dois nomes e usamos a denominação awo kekere,
(pequeno segredo), ou awo kekere, para as pessoas com indicação do inicio a preparação para
itefa.
O awo kekere, é uma pessoa que normalmente tem o seu Exu arrumado com o odu do
isefa ou com um odu indicado por ifá, na segunda cerimonia quando é consagrado o opele de
estudo.
O awo kekere pode receber esse opele que muitas vezes é confeccionado com pedaços
pequenos de cabaças, semelhante ao que é feito no ifá cubano, com pedaços de coco, ou com
um opele padrão, com favas de opele legitimas, a diferença na consagração do opele, para
estudo é o porte do sacrifício por razões obvias não vou mencionar como é feito, mas existem
inúmeras formas de consagrar um opele, uma pessoa que passa pelo itefa, mesmo tendo odu de
babalawo, não tem o seu opele consagrado para atender clientes, a consagração do opele em
alguns casos no itefa, é muito simplificada consistindo em que o opele come dentro da vasilha
de Orunmila, já para consagrar o opele que vai consultar para clientes a consagração, é fora da
vasilha de Orunmila e não necessitam que Orunmila seja alimentado, os rituais para esse caso,
estão muito ligados a o culto de Exu.
Itefa.
Uma pessoa submetida a um itefa pode continuar se incorporando com caboclo, esu,
preto velho, e seu orisá, se não for um babalawo, essas pessoas que tem cargo de babalorisas
ou tem caminho de oloorisa, passam por quase todos os rituais, que um babalawo passa a
diferença esta ligada ao culto de Iya odu e Osun (antepassado).
O culto de Osun (antepassado) tem rituais específicos para pessoas que passam por uma
iniciação e rituais completamente diferentes para a pessoa que vai iniciar outras pessoas. As
pessoas, iniciadas para se tornarem babalawos começam os seus estudos, não no momento que
fazem o itefa, começam seus estudos quando na pré-iniciação (isefa), recebem uma orientação
de Orunmila que tem caminho de babalawo.
As pessoas pertencentes ao ifá Cubano, assim como as pessoas acolhidas em nossa
família, que por alguma razão, se afastaram da sua família do ifá Nigeriano recebem um
tratamento totalmente diferente, condicionado a uma forte demonstração de conhecimento ou
baseado em uma orientação determinante de ifá, só assim pode ser considerado o tempo de
estudos para uma futura liberação para um atendimento de clientes.
O primeiro caso, diz respeito a um conhecimento não dos versos da família a qual a
pessoa fazia parte, mas sim de um conhecimento universal, de tudo que envolve ifá.
Se Orunmila disser que devemos aproveitar os ikins da pessoa que foi iniciado no ifá
Cubano, assim o faremos, pois para nós ifá é universal, mesmo tento conhecimento que os ikins
usados nas iniciações da tradição do ifá Nigeriano sejam completamente diferentes das
sementes de dendê usadas em Cuba.
O mais importante nesses casos é levar em consideração que o iniciado no ifá Cubano,
recebe já na sua primeira mão de ifá, o assentamento de Osun (antepassados) e Exu, diferente
do isefa tradicional.
100

Se for aceito o assentamento de ifá, também vai ser aceito o assentamento de Osun
(antepassados) e o de Exu, existem alguns casos, no ifá Cubano que a pessoa tem um opele de
casca de coco, se ela passar para o ifá Nigeriano esse opele, só poderá ser usado, como um
adorno, o sacerdote em sua nova caminhada deve consultar para os seus clientes com o opele
tradicional.
Já o assentamento de Osun (antepassado), pode ser mantido em paralelo, assim como o
Exu e o ifá, dispensando uma nova iniciação, considerando que não se pode iniciar uma pessoa
duas vezes, isso seria um desrespeito com suas raízes anteriores.
Duração das cerimonias.
Um isefa leva até três dias para conclusão da cerimonia, já um itefa leva de três a
dezessete dias, a conclusão das cerimonias, isso não quer dizer que não possa seguir outras
indicações como é bem comum, sete dias. Sempre a orientação de Orunmila no ifá, é que vai
ser seguida.
Ìtélodú.
Nessa cerimonia o iniciado s torna um sacerdote conhece pelo nome de um Babalawo
os Babalawo NÃO INCORPORAM, e se dedicam ao estudo dos odus por toda a vida cultuando.
A trajetória de estudos do Babalawo pode ser descrita de varias formas, porém a
cerimonia onde o mesmo é reconhecido pela divindade conhecida como iya odu é o ápice na
religião tradicional yoruba não existe Babalawo que não tenha sido apresentado para iya odu.
Iya odu.
Já falamos sobre Egbe, odu destino e a essência divina falar de iya odu é falar da
divindade útero gerador de odu sendo assim estamos falando de Egbe no plural, essa divindade
abriga vários odus, sendo assim da origem há varias egbe disponibilizando para o criador parte
da essência no momento da criação do espírito.
Expectativa.
Não espero que esse trabalho mude a historia de ifá no Brasil tenho consciência que com
o passar do tempo outras pessoas poderão se sentir motivadas a escrever sobre a nossa religião
o importante é que cada um de nós tente auxiliar na divulgação, juntos encontraremos a essência
de nossos Egbes, desenvolveremos nossos espíritos e cumpriremos nossos destinos.
Se você gostou, compartilhe, reproduza. Só não esqueça que a produção intelectual é de
propriedade privada, então, credite a autoria dos textos. Obrigado.
101

A Lei do Retorno não Existe, Orunmila?

“A visão que o Orisa machuca e mata, não é compartilhada por mim, eu acredito que
o Orisa é como um pai que ama, que educa, mas que é incapaz de machucar...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

A chamada lei do retorno na tradição religiosa yoruba não existe quase tudo que
acontece com você é fruto de uma escolha feita por você antes de nascer.
O destino de cada pessoa é definido antes do nascimento e somente uma pequena parte
dele pode ser alterada, a parte que pode ser alterada quase sempre é modificada por ações que
justificam uma grande alteração como o amor, ou o ódio que pode até gerar o que conhecemos
como acidentes, que definimos como mudança não prevista por Orunmila.
Vou explicar para que não aja dúvidas, esse tipo de mudança não esta incluída no destino
da pessoa e Orunmila é a testemunha do destino escolhido sendo assim essas alterações são em
maioria responsabilidade dos ajoguns, em se tratando do aspecto negativo, vou citar um
exemplo:
Uma mulher que constantemente é agredida pelo marido e que nada faz para se afastar
do mesmo pode sim ter escolhido isso antes de nascer, mas se isso não for à escolha dela e ela
permanecer ao lado do individuo ela corre o risco de ser morta por ele mesmo que isso não seja
parte da sua escolha permitindo a entrada do aspecto citado, o infortúnio, nesse caso gerado por
um àjogún, mas sem a atuação direta de Orunmila e Iya mi, isso seria fruto de um asé negativo
(força pessoal de realização negativa) ou de uma ação dirigida no caso do Abilu.
Existe também a chamada alteração positivo que pode sofrer uma grande variável, ela
pode ser fruto dos Orisás, ou do sentimento de outra pessoa, isso definindo a força pessoal de
outro individuo alterando o seu destino, ou até mesmo resultado do que nós conhecemos como
asé, força pessoal (força pessoal de realização) que pode alterar o seu próprio destino por ação
ou atração do bem.
Quando uma pessoa consulta Ifá e aparece um acidente na consulta isso faz parte do
destino dela, em não sendo parte do destino, a afirmação na consulta será definida como um
aspecto negativo que pode ou não se concretizar.
Na hierarquia universal o poder de decisão primeiramente vem Deus (Olodumare)
depois do lado esquerdo logo a baixo vem Iya mi e do lado direito vem Orunmila, Orunmila
define a ocorrência por conhecer o destino e Iya mi libera o Àjogún para efetuar o aspecto
negativo, como já explicamos o positivo pode ser ocasionado de varias formas, nessa parte do
texto vamos examinar o aspecto negativo.
Os Ajoguns mais conhecidos são:
Iku (morte), Arun (doença), Ofo (perda) e Ejó (problemas).
Os ajoguns são subordinados a Iya mi que tem a função de confirmar as escolhas
negativas escolhidas por nós em nosso destino. Os chamados infortúnios podem ser provocados
ou não.
102

No caso dos acidentes isso acontece porque a pessoa estava no lugar errado com as
pessoas erradas e na hora errada por escolha dela alterando o seu destino de forma negativa em
razão de escolher, conviver, ou estar com as pessoas erradas ou no lugar errado, ou por
insistência com o não atribuído a ela a conhecida não conformidade.
No caso dos infortúnios a definição pode ocorrer por Abilu (feitiço ou magia negativa)
nesse caso a previsão é definida e identificada como forças negativas com possibilidade de
concretização, que pode ser evitado pelo chamado sexto sentido que definimos aqui como asé
(axé) alterando por intuição ou por uma ação implementada pelo Orisa constituindo assim um
método de defesa pessoal.
Sendo assim Iya mi não é negativa, ela somente libera a sua escolha de antes do
nascimento no momento indicado por Orunmila, já no aspecto positivo Iya mi pode atuar com
o elemento amplificador de uma ação realizada por um Orisa trabalhando em parceria
aumentando a força de realização diminuindo o tempo de concretização e aumentando a
precisão da ação.
A chamada lei do retorno que identifica a vinda do mal ou do bem como retorno de
ações cometidas por nós se torna nula na religião tradicional yoruba, o fato de ter escolhido
antes do nascimento aspectos negativos para o meu destino me torna o único responsável, isso
indica que a aceitação, a paciência e a tranquilidade contribuem para a verdadeira trajetória
escolhida e a realização do escolhido. O importante é não confundir a afirmação anterior com
o desanimo a preguiça e a falta de determinação que representam o aspecto inverso contribuindo
para o infortúnio.
Você pode não ter escolhido morrer de doença, porem se você optar por ter uma
alimentação impropria ou se você abusar do seu corpo você pode sim morrer de doença. Isso
estaria incluído naquela pequena arte do destino que pode ser alterado enfatizando aqui o
aspecto negativo ou se for o caso o inverso.
Na verdade o bom senso a honestidade e a lealdade servem como alimento para o bem
viver, mas raramente isso é uma escolha, quase sempre esses critérios dependem da
interferência do local e das pessoas justificando a necessidade da máxima que a criação e os
bons exemplos para uma criança que está formando a sua personalidade seja um quase total
termo determinante.
O Orisa, a religião e a doutrina da bondade adotada como forma de vida pode não alterar
o destino por você escolhido, mas serve para afastar o infortúnio você estando bem com você e
com as outras pessoas vai conseguir ouvir com mais facilidade a sua voz interior, ou seja, a voz
do orisa, isso vai afastar você do lugar errado e das pessoas erradas na hora certa.
Devemos aceitar com naturalidade que algumas pessoas se afastem de nós na realidade,
a insistência em se manter com a pessoa errada pode atrair o infortúnio para sua vida, devemos
agradecer aos orisás e ao nosso asé pessoal devido aqui como força do ori o afastamento de
pessoas negativas para o nosso destino. A frase que diz que tudo acontece quando tem que
acontecer é uma meia verdade a lei do retorno não existe, mas a força de vontade pode alterar
o seu destino.
103

Odú Ifá

“A verdade incomoda muita gente, a verdade é dura, mas é a verdade, esse texto vai
me trazer inúmeros problemas, mas não importa o que as pessoas digam é a verdade e ninguém
pode contestar...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

O orisá de acordo com a filosofia yoruba (Nagô) nasce de um odu, assim como as
pessoas, os animais e vegetais e tudo mais que existe em nosso planeta, o ponto de partida é o
odu. A pergunta é a seguinte sem um Babalawo ou uma Iyanifa pode ser assentado um orisá?
Que o Babalawo e a Iyanifa são as únicas pessoas que podem imprimir odu ninguém
tem dúvida, que tudo em nossa religião nasce de um odu, ninguém tem dúvida.
Vamos observar as seguintes afirmações, se a cerimonia do isefa é descrita no odu ose
ogbe, já o culto a egungun é descrito em Okanran meji, owonrin meji entre outros odus.
O itefá é descrito claramente em irete meji, irete irosun e vários outros odus.
No odu ose owonrin fala sobre sacrifício de ijapa, já o sacrifício de porco é descrito no
odu ogbe irosun, assim como no odu Okanran otura ifá come bode, ao contrário da grande
maioria dos odus que Orunmila é alimentado com animais de sexo feminino.
No odu ogbe meji fala sobre raspar a cabeça do iniciado, já em osa irete é descrito o
sacrifício de igbin.
No odu oturopon ogbe, assim como em irete irosun fica claro a necessidade do uso de
roupas brancas nas cerimonias de iniciações, o uso do irukere pelo Babalawo é descrito em irete
otura.
Em oyeku Ogunda o uso de ikins no assentamento de Orunmila é observado, já o odu
irete ogbe explica como consagrar um iroke e em okanran oturupon é explicado à consagração
do opon ifá.
O odu ogbe meji fala sobre o uso do opele a cerimonia de Opa Osun na consagração de
um Babalawo é descrita em ofun oyeku, enquanto os ewos e a sua necessidade são descritos em
irosun meji.
Todas as cerimonias para a iniciação em ifá ou orisá são descritas nos odus, enquanto a
iniciação de um Babalawo é descrita em Oturupon meji e irete meji, a iniciação em orisá é
descrita em iwori meji, assim como a cerimonia de lavar os ikins é descrita no mesmo odu.
No odu ogbe ose fala da menstruação e da permissão para a mulher menstruada
participar em vários rituais, tudo esta descritos nos versos de ifá, o odu que queima o opele esta
descrito no odu irete laje e os problemas referentes à abiku esta descrito em ose Ogunda, assim
como odi meji e outros odus como osa otura.
O ritual de bori é descrito em ogbe meji, oyeku meji além de outros odus, já em owonrin
di é alertado o consulente para risco da loucura, assim como em osa irosun consta os problemas
com o adultério.
O uso de drogas e o envolvimento com o álcool aparecem no odu Ogunda masa, já o
roubo é descrito em Ogunda bede, as doenças são explicadas em oturupon meji, oturupon
104

okanran e ogbe osa, assim como a impotência é descrita em otura ogbe, já a morte é descrita
em ose oyeku, oyeku meji e obara ogbe, já a riqueza é citada em ogbe meji e ogbe otura, assim
como a popularidade aparece em ogbe bara e osa irete.
Os conflitos envolvendo as perdas aparecem em ofun Ogunda, osa ogbe, assim como
irete meji, já as discussões aparecem odi owonrin, osa Ogunda e Ogunda sa, já a feitiçaria é
mencionada em irete ose, irete oyeku, odi irosun e owonrin meji.
Os problemas com a justiça aparecem em irosun meji e oyeku obara, já os pesadelos são
descritos em ogbe ofun, oyeku meji e Ogunda odi.
Até detalhes como colocar uma folha na boca do animal a ser abatido são descritos nos
versos de odu, nesse caso obara otura, cada gesto esta codificado, cada ritual esta especificado,
não existe espaço para o improviso.
O assentamento do orisa esu é descrito em vários odus, mas esu como elemento
necessário nos ebós é mencionado em okanran meji e ose otura, a importância de osun é
amplamente divulgada em odus específicos como irete ogbe, ose otura e ose ogbe
O ritual de iniciação em Egungun é indicado em osa owonrin e okanran meji, o culto a
iya mi é descrito em oyeku meji, osa meji e ogbe sa, no entanto o culto a oro aparece em ogbe
odi, Ogunda bede.
O assentamento de Oduduwa assim como a necessidade de iya odu é mencionado em
orangun, já Odé deve ser cultuado em obara ika e irete Ogunda.
Sango pode ser cultuado em osa meji, okanran meji e oturupon osa, como em inúmeros
outros odus, já o odu que fala de Ewa é ogbe meji e um dos poucos odus que menciona orisá
oke é ose meji, no entanto orisa Oko é mencionado em ogbe ose e irete ogbe.
Já Opa Osun aparece em ose irete, o culto a Aganju é indicado em ika ofun, já o culto a
Oba é mencionado em Owonrin Ogunda, assim como o culto a Ibeji tem sua importância
divulgada no odu ogbe di, o culto a Olookun e Aje é mencionado em ogbe bara.
Do nascimento a morte a vida do ser humano esta descrita nos versos de odu, se no odu
ose oyeku é justificada a necessidade da morte no odu ogbe meji existe a menção a importância
da vida, se no odu osa otura é enfatizada da verdade no odu Ogunda bede é mencionado o
desprezo pela mentira.
Na hora que acordamos a necessidade das orações é descrita em ogbe Ogunda, já na
hora que dormimos os pesadelos são mencionado em ogbe ofun, tudo esta codificado, nada
pode ser inventado.
A necessidade de estudar e se aperfeiçoar na religião tradicional yoruba é uma constante,
o conhecimento da a segurança e a garantia de rituais adequados possibilitando um alinhamento
com os antepassados.
Como resposta a pergunta formulada no inicio desde texto sugiro que seja feita uma
breve pesquisa sobre a história das casas de orisás mais antigas do Brasil, a confirmação que
essas casas contavam com a orientação de um Babalawo é amplamente divulgada.
Infelizmente por um período aproximado de oitenta anos o culto de Orunmila foi
esquecido, por razões que não devem ser mencionadas agora. O importante é que hoje o ifá
está bem vivo no território nacional.
105

Ebó Sacrifico E Transformação No Ifá.

“Eu fico contrariado quando vejo na internet pessoas postarem textos de odu sem que
conste a qual odu pertence, nenhuma pessoa pode se intitular dono dos versos de ifá...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Se você acredita que em um verso existem particularidades que não devem ser
divulgadas não publique parte do texto sem o nome, divulgar ifá é obrigação de todo iniciado,
quando divulgamos o texto sem o nome e sem o autor impossibilitamos a confirmação da
veracidade, desestimulamos a pesquisa e prestamos um desserviço à cultura.
Por essa razão resolvi escrever sobre o ebó riru divulgando alguns detalhes que podem
gerar criticas ao meu trabalho algumas pessoas podem até imaginar que estou divulgando
segredos, mas acredito que da forma que esta sendo colocado não existe nenhum excesso na
divulgação.
O ebó riru tem como finalidade primeira transformar a situação que envolve o
consulente, afastando os aspectos negativos e atraindo as energias positivas para o dia a dia do
mesmo.
O ebó riru só pode ser oficializado por um babalawo ou uma iyanifa preparado em cada
família o ebó riru pode dar ênfase a um determinado odu em homenagem aos seus antepassados,
mas de um modo geral eles seguem a mesma ordem, somente alterando o odu extraído na
consulta.
Segue a ordem do ebó riru:
Otura Irete
Nesse verso é feito uma homenagem a Deus e o Babalawo se identifica como extensão
do trabalho divino.
Owonrin Meji
Nesse verso o Babalawo faz uma homenagem ao pai do Babalawo, a mãe, o Oluwo, o
Ojugbona e todos ancestrais, nesse verso é reafirmado o respeito à família.
Idin Gbe
Nesse verso é solicitado que o ebó seja aceito e que as maldições lançadas sobre o
consulente sejam afastadas.
Otura Ka
Nesse verso é descrito todo o material que vai ser oferecido em sacrifico, explicando
que o dinheiro faz parte do ebó.
Obs: Nesse momento o babalawo faz referencia ao odu da consulta e ao seu odu inverso,
fazendo a invocação de todos ires.
Owonrin Sogbe
Nesse verso o Babalawo faz uma homenagem a exu e pede que ele aceite o ebó.
Obara Bogbe
Nesse verso o Babalawo pede permissão para Iya mi para fazer o ebó e exalta a figura
das mulheres.
106

Ogunda Bede
Nesse verso o Babalawo saúda egungun e pede permissão para fazer o ebó
Ogunda Masa
Nesse verso o Babalawo pede que a morte e a doença sejam afastadas da vida do
consulente e identifica o oficiante dizendo seu nome.
Ika Meji
Nesse verso o Babalawo faz uma menção a Ibeji e invoca a abundância para a vida do
consulente em forma de filhos duplos, na tradicional invocação da dupla abundância.
Irete Meji
Nesse verso o Babalawo pede que nunca falte dinheiro para o consulente e exalta que
aquele que é iniciado não enfrentará dificuldades com as finanças.
Ose Bile
Nesse odu o Babalawo invoca que a alegria e todas as coisas boas venham do céu para
a vida do consulente.
Ose Otura
Nesse verso o Babalawo invoca que o consulente não morra jovem, o sacerdote pede
que a morte se afaste e que o consulente tenha uma vida longa e saudável.
Nesse verso o Babalawo pede para Osun que o ebó seja aceito, que ela permita que todas
as outras divindades aceitem o sacrifício.
Okaran Sa
Nesse verso o Babalawo pede que aquele que esta fazendo o sacrifício nunca morra.
Okaran Sa, finalizando o ebó riru o Babalawo afirma através do odu que aquele que fez
o ebó esta salvo, pronunciando o nome do cliente.
Nesse momento o Babalawo pergunta a ifá quantos búzios devem acompanhar o ebó e
identifica se o ebó está completo, imediatamente o consulente leva o ebó para o assentamento
de exu.
Com esse texto não estou divulgando segredos a minha intensão é mostrar a
complexidade do ebó riru para que as pessoas que desconhecem o sistema não se tornem vitimas
de sacerdotes despreparados e oportunistas. Quando isso acontece não é só o dinheiro que é
perdido normalmente a fé também é prejudicada gerando uma decepção e um progressismo
afastamento da divindade.
107

O Monologo da Fé e Ifá

“Muitos dos meus contatos na internet relatam que a suas vidas estão muito
prejudicadas e que existe uma dificuldade em dar continuidade a os seus projetos, para nós
que cultuamos orisá e acreditamos que a força impulsionadora é o axé isso indica que alguma
coisa está errada...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

A fé existe enquanto se mantem a esperança ou quando o retorno é confortante, aquele


que reza, fala com o divino, sabe que a natureza não é muda, e o seu interior sente a energia
como resposta. Sendo assim o retorno afirma a relação de fé e sedimenta a relação de confiança.
Mas é impossível que a relação homem divindade se apoie somente na fé, em nossa
religião os ritos possibilitam o acesso e purificam a relação condicionando a comunicação.
Vejamos então se em todas as religiões quem orienta os ritos é um sacerdote e para isso ele
necessita uma formação, por que então em nossa religião seria diferente e qualquer pessoa
poderia ser detentora da força realizadora (o axé, asé).
A energia do axé tem sim poder de realização, mas ela não é continua, o desequilíbrio
emocional e ético afeta a sequencia de realizações além de outros fatores como a falta de caráter
que neutraliza de forma definitiva a capacidade de invocação de forças benevolentes.
A comunicação entre o homem e o orisá pode ser prejudicada pelo comportamento do
homem ou pelo desconhecimento dele, e alguns assentamentos podem até repelir a presença da
divindade como resultado do despreparo daqueles que o sacralizaram.
O culto a Orisa mais especificamente a religião tradicional em especial os rituais
relativos à Orunmila exigem do sacerdote uma postura impar, o Babalawo é permanentemente
observado por Opa Osun que representa a sua ligação com o elo familiar.
Um ato falho no presente prejudica a imagem do trabalho de muitos no passado, uma
ação impensada pode implicar na revolta dos seus melhores amigos espirituais a consequência
é a equivocada relação onde o sacerdote pensa que está rezando, mas na verdade o que está
acontecendo é um monologo.
O monologo da fé é muito comum, as pessoas conversam com o sagrado imaginado por
elas, elas criam uma divindade que aceita tudo que elas fazem e respondem sempre que elas
chamam, sabemos que isso é impossível nós exigimos e somos exigidos nessa relação, o nosso
comportamento é um parâmetro forte que norteia a comunicação espiritual.
Os ofos, aduras e orikis não servem para nada se a postura do sacerdote está
comprometida, é comum ouvir as pessoas dizerem que parece que não estão sendo ouvidos,
isso é um fato elas estão falando sozinhas.
Os seres humanos necessitam de higiene em seus corpos e em suas mentes, somente
tomar banho e colocar uma roupa nova não identificam você como limpo, a troca de roupa e o
perfume não escondem o seu verdadeiro pensar.
108

A religião tradicional yoruba é exigente, nos versos de Ifá percebemos normas de


comportamento bastante rígidas e Orunmila estabelece com clareza as normas de convivência
entre os homens e também com o sagrado.
O estudo contínuo dos versos de ifá capacita o sacerdote, mas a elevação é obtida
somente quando esse conhecimento é colocado em pratica, àquele que detém o conhecimento
e não o pratica cometi um duplo erro.
A formação e os estudos beneficiam os ritos, mas não garantem o êxito, o asé é uma
combinação precisa que exige uma combinação entre o saber e o poder
109

A Filosofia de Ifá

“Há alguns anos atrás em uma tarde de domingo após ter tomado um café enquanto
minha mulher assistia à televisão entrei na internet e fui surpreendido pelo convite para fazer
parte do facebook de uma jovem iyanifa...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Se não estou enganado fui uma das primeiras pessoas que ela convidou para o seu
facebook, olhei as fotos e percebi que o ritual do itefa tinha terminado naquele mesmo dia,
observei com bastante cuidado as fotos da jovem iyanifa por saber se tratar da iya apetebi de
um jovem Babalawo, que há um mês ou dois antes também havia me adicionado.
Como sempre quando entro na internet converso com um ou dois membros de minha
família porque o facebook não me atrai, as pessoas quem conhecem sabem que não morro de
paixão pela rede social.
No dia seguinte bem cedo minha iya apetebi me mostrou um texto que a jovem iyanifa
tinha postado fui surpreendido pela quantidade de absurdos contido nesse texto, foi olhando a
internet hoje vendo a foto do jovem casal que resolvi escreve sobre a filosofia de Orunmila.
Surpreende-me que algumas pessoas que ainda não conhece sobre seu próprio odu se
arrisquem escrevendo sobre ifá, fico ainda mais espantado quando vejo pessoas que são pré-
iniciadas escreverem sobre ética na religião tradicional yoruba.
Como alguém que ainda não passou por um itefá ou que recentemente foi submetido a
essa cerimônia pode falar sobre um tema tão extenso e complexo, isso para mim é uma falta de
respeito com as pessoas que leem e uma total falta de consideração com as divindades, pois ifá
adverte que (1) não devemos falar do que não conhecemos.
A falta de textos para as pessoas iniciadas dá espaço para que aventureiros se intitulem
conhecedores, normalmente os autores que escrevem sobre a filosofia de ifá publicam seus
textos em inglês e yoruba, criando um grande problema para as pessoas que não tem
conhecimento sobre esses idiomas.
Buscando elucidar muitas das questões formuladas a nós na rede social resolvi abordar
mais profundamente a questão da filosofia, começarei abordando alguns fatos: Se a pessoa tem
o hábito de mentir e dissimular seria possível que ela estivesse alinhada com algum orisá, eu
particularmente não acredito a mentira, a inveja e a desonestidade afastam as pessoas dos orisás,
principalmente Orunmila.
A própria consulta a ifá determina que o uso do ibo identifique com clareza o sim ou o
não, no ifá não existe meio honesto, meio invejoso, meio mentiroso e se isso acontece à pessoa
esta desalinhada com o orisá.
A falta de caráter é motivo de orientação na consulta de orisá, implicando em ebó,
aconselhamento e esclarecimento, visando à mudança de postura, isso não acontecendo o
110

afastamento da divindade é progressivo. Imaginemos que um homem que levanta a mão para
uma mulher possa imaginar que um dia será beneficiado por Osun ou Iya mi, isso é um absurdo.
Um homem ou a mulher adúltero teria condições de jurar dentro do igbodu fidelidade
ao seu Oluwo e ao seu ifá assim como ao seu egbe, isso é impossível, não existe nível de traição,
existe sim uma falta cometida que não é dimensionada por se tratar de pessoas ou divindades,
traição é traição.
No igbodu o juramento é feito sobre a terra (2) e não importa por onde andemos a terra
vai testemunhar os nossos atos. Um Babalawo jamais pode (3) trair, roubar e mentir, sendo
assim me surpreende que algumas pessoas que ganham a vida mentindo publiquem em suas
páginas pessoais fotos de assentamentos de Orunmila e fotos de aves com hábitos noturnos,
será que acreditam esses desavisados que em seus assentamentos respondem Orunmila e Iya
mi.
Na verdade a energia que responde nesses assentamentos é mobilizada pela
exteriorização do aspecto energético do individuo e propulsionam situações de aspectos
negativos, a filosofia de ifá é clara quando diz no odu Ogbe Otura (4) aquele que tem maus
hábitos é incapaz de invocar forças curadoras ou prosperas.
Existe uma grande confusão com a filosofia dominante em nosso país, católico, e o que
é pregado por Orunmila, um exemplo que posso citar é que na bíblia diz que devemos dar a
outra face, já no odu ogunda meji fala que devemos estar sempre preparados para a guerra e
que é nossa obrigação reagir contra uma agressão com a mesma intensidade. Então pensar com
uma formação católica cultuando orisá é o primeiro passo para o erro.
Imaginemos uma mulher que faz um aborto rezar para Osun algum tempo depois
pedindo fertilidade é no mínimo incoerente, porém a pratica da teologia somada à filosofia vai
instruir essa mesma pessoa criando novos hábitos, aprimorando o pensar, refinando o sentir,
purificando o agir.
Se não houvesse uma possiblidade de uma nova chance qual seria a razão de reeducar,
(5) sendo assim a revolução do comportamento e do sentir deverão ser retratados no dia a dia
na forma de agir.
A filosofia é uma ciência dividida em três períodos específicos quando estudada, a
impressão que temos que os sacerdotes do culto ao orisá da atualidade se deixaram influenciar
por hábitos católicos oriundos do período filosófico Helenístico que tem influência cristã.
O importante para o culto ao orisá quando estabelecemos um paralelo do pensar seria o
período Pré- Socrático sem influência católica com base na relação do homem com o mundo
ao seu redor.
Alguns desses sacerdotes da atualidade são capazes de copiar textos, roubar ideias e
plagiar descrições com o objetivo de abordar o tema filosofia, não me espanta se em breve
surgir uma fase nova da filosofia descrita como a mediocridade.
Algum tempo atrás um conhecido me chamou ao telefone e abordou esse tema, dizia
ele, “Baba Ifagbaiyin o senhor pode me explicar algumas coisas sobre filosofia e ifá”.
Conversamos aproximadamente uma hora e meia, ele se despediu muito feliz com a minhas
explicações, para a minha surpresa no outro dia postou um texto com a nossa conversa que ele
certamente gravou.
Desconhece o pretenso sacerdote a essência do Ifá que visa (6) lapidar o homem,
aprimorando o raciocínio objetivando um convívio harmonioso com tudo ao seu redor.
111

É impossível que pessoas com esse comportamento pretendam divulgar ideias


considerando o fato que Orunmila é aquele que tudo sabe, partindo desse principio toda a
energia gasta na tentativa do convencimento pode estar atingindo única e exclusivamente o seu
autor, gerando em um primeiro estagio uma sensação de prazer que leva o mesmo a pensar que
esta fazendo sucesso.
O problema é o segundo estagio quando o individuo se vê envolvido em um período
depressivo por conta da consciência da realidade, na verdade ele termina concluindo que a única
pessoa prejudicada é ele mesmo.
Na ecologia o primeiro período na escala de evolução de um povo é a destruição o
segundo é a conscientização e o terceiro a reconstrução, já na evolução do pensar medíocre a
três fazes são descritas da seguinte forma, a primeira é a inveja que desperta o desejo de ter o
que o outro tem, a segunda fase é a elaboração do projeto destrutivo, sim destrutivo não que
destrua a o invejado e sim que destrói a verdadeira personalidade do invejoso, dando espaço ao
duble do invejado.
O pior de tudo é a terceira fase após prejudicar a vitima o invejoso percebe que também
se prejudicou.
Se um iniciado em ifá tem como proibição (7) maior trair e mentir, é evidente que a
confiança é o alicerce para a relação dos indivíduos, por essa razão somente algumas pessoas
pertencentes há alguns seguimentos dentro da estrutura religiosa tradicional tem acesso a
algumas informações.
Aquele que foi iniciado necessita ter paciência para evoluir dentro de sua família
visando assim atingir um nível que deixa de existir segredos entre seus membros.
É verdade que um Oluwo não é uma espécie de pai, ele é sim um iniciador e um mestre,
o afastamento dele pelo jovem iniciado não é bem visto em território yoruba, as pessoas
iniciadas em ifá permanecem na mesma família por toda a vida, esse fato facilita a compreensão
da teologia e da filosofia.
As relações entre os membros no ifá são pautadas (8) na visão que o tempo fortalece os
laços, abre as portas da convivência.
Diminuindo as dúvidas, fortalecendo assim confiança e a segurança, objetivando a
elevação espiritual e moral.
112

IFÁ TEM REGRAS.

Um babalawo não usa drogas, não é alcoólatra, ele não quebra a sua palavra, ele não
trai.
Um babalawo não desperdiça o seu dinheiro, um babalawo não rouba, um babalawo age
com moderação.
Um babalawo é um trabalhador, um babalawo não pode ser um desocupado, um
babalawo tem que ser honesto.

ÒTÚRÁ-RETE
Òtúrá-Rete controla você.
Se você nascer, tente se produzir novamente.
Òtúrá-Rete, Amuwon, Amuwon, ele que sabe que a moderação nunca entrará em desgraça.
Eu digo: Quem sabe a moderação?
Orúnmìlà diz: Ele que está trabalhando.
Eu digo: Quem sabe a moderação?
Orúnmìlà diz: Ele que não desperdiçará o dinheiro dele.
Eu digo: Quem sabe a moderação?
Orúnmìlà diz: Ele que não roubará.
Eu digo: Quem sabe a moderação?
Orúnmìlà diz: Ele que não tem dívidas.
Eu digo: Quem sabe a moderação?
Orúnmìlà diz: Aquele que nunca bebe álcool,
aquele que nunca quebra um juramento com os amigos.
Òtúrá-Rete, aquele que acorda muito cedo e medita dentro dele por causa das atividades!
Entre os espinhos e cardos,
a folha do dendezeiro se projetará para fora.
Jowóro nunca gastará todo o seu dinheiro,
Jokoje nunca será um devedor.
Se Eesan dever muito dinheiro, ele pagará a dívida.
Amuwon é o ameso, (aquele que tem um bom senso do que é certo).
“Afolabi Epega”
113

Iniciação Em Ifa, Itefá

“Lembrei me de uma pessoa que eu conheci que se chamava “A”., essa pessoa cursou
seis meses direito, um ano engenharia e seis meses de administração de empresa...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Essa situação onde se percebe a dificuldade de algumas pessoas para identificar a


carreira a seguir é bastante complicada, algumas pessoas enfrentam algumas criticas que podem
ser consideradas como indecisão.
Outras pessoas conseguem concluir os cursos que nunca vão ser usados, porque na
realidade a não tem nenhuma identificação com a carreira anteriormente escolhida.
Estamos aqui analisando um aspecto isolado no caso a carreira profissional, mas essas
dúvidas podem ser encontradas diariamente por todos nós, a diferença que uma pessoa iniciada
em ifá, tem acesso a informações confiáveis que orientam que direção seguir.
Eu costumo dizer que é quase como um renascimento, ser iniciado em ifá, (fazer um
itefa), a partir da iniciação seguimos as orientações de Orunmila e a caminhada se torna mais
fácil, muitas vezes estamos caminhando no sentindo oposto há aquele escolhido por nós, antes
do nascimento.
O itefá é um momento mais importante na vida da pessoa que escolhe a religião
tradicional yoruba, esses conjuntos de cerimônias mudam ou redefinem o caminho a ser
percorrido.
Um itefá pode durar de 3 a 17 dias, mas em média leva 7 dias para babalorisas e
iyalorisas, já os awos tem um período de recolhimento diferenciado.
As cerimônias que envolvem a iniciação em ifá começam com a preparação do igbodu,
cabe aqui uma explicação que esclareça definitivamente a questão do igbodu, o espaço
destinado à iniciação de babalawo onde são feitos os rituais, não tem nada haver com floresta
ou mata, o termo igbó em yoruba quer dizer floresta, mas para o igbodu não se usa essa
expressão dessa forma literal.
A floresta sagrada por nós conhecido como igbodu é um espaço que pode ser descrito
como o local onde a mais importante de todas as árvores fica plantada durante os rituais, o
assentamento de Osun (antepassados), representa o tronco da arvore genealógica do Egbe Ifá,
as raízes fincadas na terra são espíritos de arabas, oluwos e babalawos que estão agregados em
uma só divindade, cada awo representa um galho que brota dessa árvore que une gerações de
fé e amor a Orunmila.
O caminho que leva ao igbodu onde está Osun (antepassados), tem nove buracos do lado
direito e sete buracos do lado esquerdo, dentro desses pequenos buracos na terra alguns
elementos são depositados.
O ritual do itefá é facilmente identificado em seu inicio com a figura do oluwo à frente,
a iya apetebi com o yangui de Esu sobre a cabeça, o babalawo à direita e uma iyanifa à esquerda
com um recipiente na mão, seguidos pelo iniciado com o carrego e o seu ojugbonan que muitas
vezes pode ser o seu próprio babalawo.
114

Em um segundo momento vários rituais são processados desde a retirada do cabelo,


banho com folhas e pintura, não necessariamente nessa ordem, é evidente que nesse texto não
vou descrever em detalhes a sequência de um itefá.
Quando o iniciado sentado atrás do seu oluwo coloca suas mãos sobre os ombros dele,
o odu é obtido pelo sacerdote.
Esses rituais tem como finalidade chegar ao momento mais importante que é a obtenção
do odu de nascimento do iniciado, só no itefá isso é possível, esse odu serve como referência e
orientação, devendo ser estudado exaustivamente, pois dentro dele em suas histórias poderão
ser encontradas as respostas para todas as dúvidas.
Só aquele que foi submetido a um itefá tem a informação definitiva sobre o seu odu, só
aquele que foi submetido a um itefá conhece o seu destino.
Para mim a iniciação em ifá é comparada ao mapa que vai guiar o iniciado na viagem
da vida, aquele que não tem o mapa perde tempo e muitas vezes andam em círculos enfrentando
inúmeras dificuldades, mas a pior delas é a insegurança do caminho a ser seguido.
Obs: Na tentativa de manter em segredo alguns rituais o numero de buracos no chão
citado acima diferem daqueles usados na realidade, que servem somente como exemplo.
115

O Estudante de Ifá

“Em um isefa quando aparece como odu regente naquele momento servindo de
referencia e orientação para o pré-iniciado o odu ogbe Méjì e alguns outros odus específicos
o babalawo orienta a pessoa que ela tem que ser submetido há outra pequena cerimônia...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

O seguinte processo passa a ser seguido:


No período indicado por ifá que pode ser até o terceiro dia ou logo após a apuração do
odu o ifá é alimentado novamente incluindo agora um opele para praticar.
Primeiramente se aparecer esse odu o pré-iniciado ficará em um espaço reservado
esperando o babalawo alimentar iya odu imediatamente.
Após segue o ritual de alimentar o ifá e o opele, porém a partir desse momento o pré-
iniciado passa por mais uma cerimônia onde babalawo entrega o opele e orienta a pratica.
Na Nigéria em território yoruba é costume pintar com efun a impressão dos odus em
folhas de ewe eko, essas folhas são penduradas na casa do estudante que inicialmente deve
gravar em sua memória a impressão dos 16 odus, mais antigos.
Em território yoruba esse primeiro opele quase sempre é confeccionado com pequenos
pedaços de cabaça.
Existe uma grande diferença entre os isefas comuns e o citado acima, o odu ejiogbe
indica o sacerdócio, sendo assim um babalawo que não tem iya odu deve levar imediatamente
o pré-iniciado para a casa de seu oluwo, então o ritual para iya odu é feito no assentamento do
oluwo.
Depois de algum tempo o pré-iniciado que foi orientado no isefá fará o Ìtélodú, é
importante explicar que se no isefa Orunmila indicar o sacerdócio não é feita a cerimônia do
itefa como a iniciação de um babalorisa, os rituais necessários devem ser feitos para consagrar
o babalawo.
Passado algum tempo o agora awo passará por outro ritual onde demonstrará o seu
conhecimento sobre os odus e nesse momento será confeccionado os novos opeles.
Só após o Ìtélodú será orientado o estudo dos 240 Omo odus.
Com o opele alimentado e conhecendo os odus que inviabilizam o uso do opele os
estudos se aprofundam.
A partir desse momento começa uma longa história, de dedicação fé e carinho entre o
estudante e o seu instrutor, só com muita dedicação o estudante passará para um novo estágio
em seus estudos.
A consulta aos ikins, e os odus que inviabilizam o uso do opele, só são divulgados após
o juramento dentro do igbodu.
Obs: Cada pessoa reage diferente ao processo de estudo, algumas têm uma inteligência
comparativa outros não, por essa razão o Ojugbona (instrutor), necessita ter uma didática bem
apurada.
116

Algumas pessoas conseguem decorar e gravar as orientações em um prazo bem menor


que outras.Então pode acontecer que todo o processo acima citado evolua em um período de
tempo bem pequeno, mas desse ponto até iniciar outras pessoas o processo é bem demorado.
Um babalawo que não tem conhecimento quando faz rituais que não esta preparado
compromete o nome da família, a saúde dele e das pessoas que ele atende. Pior que isso o
babalawo que não tem conhecimento entra em conflito com os orisás e seus antepassados.
117

Orunmila e Ifá, Dúvidas Frequentes


1 - A pessoa que faz itefá deixa de incorporar as entidades que ela cultua anteriormente?
Resp. Não, somete quem faz Ìtélodú não incorpora mais, o itefa é muito indicado para
babalorisas e iyalorisas e isso não prejudica, pelo contrário favorece a ligação com o orisa.

2 - O assentamento de Orunmila tem okuta?


Resp. Não, o assentamento de Orunmila só tem ikins de quatro olhos ou mais.

3 - A mulher pode ser iniciada em ifá?


Resp. Sim, existem dois tipos de iniciações para mulheres, uma que ela se torna omo ifá e outra
que ela se torna iyanifa, as duas partem do itefa.

4 - Um iniciado em ifá pode ser pintado com waji?


Resp. Não, o iniciado é pintado com efun, (masculino) e osun ( feminino), essa interação
representa a fecundidade e a prosperidade, assim como a transcendência e a evolução espiritual.

5 - Quem faz isefá recebe nome?


Resp. Sim, quem faz isefa recebe nome e é considerado um membro da família do babalawo
que iniciou, sendo caracterizado um elo de ligação que responsabilidade o sacerdote pelo pré
iniciado, considerando a verdadeira iniciação é o itefa.

6 - Para fazer isefa raspa a cabeça?


Resp. Não, somente no itefa raspa a cabeça.

7 - Existe iniciação para iya apetebi?


Resp. Não necessariamente a iya apetebi é a mulher do babalawo que deve ser submetida a um
isefa ou itefa, mas isso não é iniciação de iya apetebi.

8 - Existe algum cargo acima de babalawo na religião tradicional yoruba?


Resp. Não, Araba e Oluwo são funções exercidas por babalawos embora isso não caracterize
que todo o babalawo possa um dia ser um Oluwo ou um Araba.

9 - Existe a possibilidade que exista um Araba ou Oluwo que não seja Ogboni?
Resp. Não, se isso acontecer certamente esse sacerdote não vai ter acesso há muitas informações
fundamentais.

10 - Um Babalawo pode ter mais de uma mulher?


Resp. No Odu ogbe Meji diz que um Babalawo deve ser um exemplo e que ele deve cumprir
as leis, sendo assim um Babalawo brasileiro que reside no Brasil não pode ter mais de uma
mulher. Odu osa iroso, o adultério não faz parte da vida daquele que segue ifá.

11 - Um Babalawo pode trabalhar em outra atividade fora da religião?


118

Resp. Um babalawo pode sim trabalhar em outra atividade, diz Orunmila que um babalawo não
deve comercializar as coisas de Ifá.

12 - Um Babalawo pode jogar búzios?


Resp. Um Babalawo consulta ifá com Opele.

13 - Uma mulher pode consultar Ifá com Opele?


Resp. sim se ela for iniciada como Iyanifa.

14 - Qual a roupa usada na iniciação de ifá (itefa)?


Resp. Só existe um tipo de roupa na iniciação, tanto para homens como para mulheres a roupa
é um tecido branco que deve envolver o corpo, finalizando com um nó sobre o ombro esquerdo.

15 - Quanto dia dura uma iniciação em ifá?


Resp. de três a dezessete dias.

16 - Depois de quanto um iniciado em ifá submetido ao Ìtélodú pode iniciar outras pessoas.
Resp. Cada caso é um caso, mas em media depois de quatro a cinco anos.
Obs: esse tempo pode ser considerado a partir do momento que o iniciado é submetido a um
segundo ritual após o isefa, onde ele recebe um opele, para praticar.

17 - Existe algum ritual que envolve a liberação do uso do opele para consultas de clientes?
Resp. primeiramente que existe mais de um tipo de opele, a consagração do opele para estudo
envolve o ritual onde o opele é alimentado junto com ifa do iniciado, já o opele para consulta
de clientes é submetido a um ritual completamente diferente que não deve ser divulgado, o awo
para praticar recebe um único opele que pode ser de cabaça ou fava, já para consultas de clientes
os opeles recebido pelo babalawo são no mínimo dois, considerando que alguns odus queimam
o opele, a necessidade de mais de um é caracterizado após o período de estudos.

18 - Mulher pode ver o assentamento de iya odu se ela for uma iyanifa?
Resp. Não nem mesmo sendo uma iyanifa a mulher pode ver iya odu.

19 - A pessoa que é Umbandista ou Candomblecista pode ser iniciada em ifá?


Resp. Sim, ela deve por varias razões, mas umas das principais razões além de conhecer os
ewos, é identificar claramente os orisás que devem ser cultuados.
Obs: No Brasil é comum que as pessoas tenham inúmeros orisás assentados, isso implica
diretamente em mais trabalho, mais culto, e não necessariamente em resultados positivos,
muitas vezes as orações feitas para um único orisá, podem render um resultado melhor do que
as feitas para vários orisás, explico em nosso país temos o habito de rezar para cada orisás de
acordo com o problema que enfrentamos, já no território yoruba essa prática não existe, é
comum ver pessoas que são iniciadas para um ou dois orisás.

20 - Uma pessoa que não é feita para um orisa pode ser iniciada e receber um assentamento?
119

Resp. Sim, não é comum mas acontece de pessoas que não são feitas serem iniciadas para um
orisa especifico, exemplo o isefa onde a pessoa não é feita e recebe o assentamento de Orunmila.

21 - Em um isefa é assentado esu para o pré-iniciado?


Resp. Sim dependendo do odu.

22 - Orunmila se alimenta de animais masculinos?


Resp. Sim, dos 256 odus, em 8 Orunmila se alimenta de animais masculinos.

23 - Iniciado em ifá no ritual de itefa coloca na cabeça pena de Agbe ou Aluko?


Resp. Não, um iniciado em ifá é apresentado com uma pena de ekodide, (ofun Meji ou
orangun).
Obs: Apena de ekodide não deve ser usado sobre pano de cabeça ou kete, para o uso do ekodide
existem várias normas, exemplo: no momento que o iniciado esta com a pena colocada em sua
cabeça, ele não toca o solo com o ekodide, (odu ogbe Meji), (aquele que usa o ekodide deve ser
respeitado).

24 - Quantos ikins são necessários no assentamento de Orunmila?


Resp. Um mínimo de 18 ikins.

25 - Quanto tempo demora a cerimonia do isefa?


Resp. De uma hora a três dias, depende da orientação de Orunmila.

26 - Quem faz uma pré-iniciação, isefa recebe opele?


Resp. Sim, em um Caso especifico quando o odu indica a necessidade de Ìtélodú, em um
segundo ritual o opele para praticar é consagrado para o uso de estudo, até a preparação para o
Ìtélodú.

27 - Quem faz itefa recebe opon e iroke?


Resp. normalmente não, somente quem faz Ìtélodú recebe esse instrumento que são usados por
babalawos e iyanifas.

28 - A pessoa pré-iniciada segue o sistema de ose no assentamento de Orunmila semanal?


Resp. Não a orientação do ose semanal, é indicada para alguns odus, em outros ifá alerta que o
assentamento não deve ser limpo, enquanto o compromisso assumido de um itefa subsequente
não seja realizado.

29 – quem é submetido ao isefa recebe ide ifá?


Resp. Sim, Okanran ogbe.

30 – Os ebós feitos no opon seguem alguma regra? E quem pode fazer esses ebós?
120

Resp. Os babalawos e iyanifas podem fazer ebó riru seguindo uma regra básica, que consiste
em seguir uma ordem pré-estabelecida dentro do egbe louvando Olodumare, Orunmila, os
orisás e os antepassados da família.
Cada família segue uma sequencia, o babalawo recebe diretamente dos seus iniciadores os
nomes e os odus a serem louvados dentro da sequencia do egbe, assim como os odus de esu que
devem ser usados e os odus transformadores de negativos em positivos.
121

A Responsabilidade do Babalawo Brasileiro

“Durante uma viagem de retorno de São Paulo para Porto Alegre eu estava
conversando com a minha Iya apetebi sobre um assunto sobre, o babalawo brasileiro. As
pessoas que praticam a religião de orisá no Brasil devem analisar com calma a
responsabilidade do Babalawo brasileiro, ela é muito maior que a responsabilidade de um
Babalawo Yorubano...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Primeiro, porque o Brasil é o país que mais cultua orisa no mundo.


Segundo porque precisamos preencher a lacuna deixada em aberto na historia do Ifá no
período da escravidão.
Terceiro a necessidade de corrigir alguns equívocos no culto de orisa no Brasil é
fundamentada no conhecimento sobre ifá, só quem conhece profundamente poderá orientar e
esclarecer.
A figura do babalawo é historicamente respeitada o conhecimento, a ética e o caráter
avalizam a postura do sacerdote, um babalawo deve ser uma reverência e um exemplo para a
comunidade.
O babalawo brasileiro na atualidade tem uma missão bastante difícil, ele necessita
iniciar muito mais pessoas que os babalawos nigerianos, a pessoa sendo indicada por ifá a um
caminho de sacerdócio deve ser iniciada imediatamente.
A falta de babalawos no Brasil é muito grande precisamos iniciar bons sacerdotes para
que em um futuro o culto a ifá seja restabelecido em proporção ao culto de orisa em nosso país.
Algumas pessoas me criticam porque cobro menos da metade que alguns babalawos,
explico. Entendo ifá em minha vida não como uma escolha minha e sim como uma missão a
ser cumprida se eu cobrar muito vou dificultar as iniciações e a minha missão é facilitar o
contato com ifá. Compreendo que faz parte do meu destino assim como de outros babalawos
iniciar sacerdotes sérios para que em um futuro o Brasil seja reconhecido pelo bom nível dos
sacerdotes de ifá. Se eu estivesse buscando lucro financeiro não seria sacerdote, acredito que
um babalawo deve facilitar o acesso aos orisás e acredito que se um sacerdote cobrar o que o
iniciado não pode pagar ele esta dificultando a iniciação, consequentemente ele se opõe com
esse gesto ao culto de orisa e ifá.
Vejo com bons olhos o futuro do ifá em nosso país à internet permite um contato com
os yorubanos e fica muito fácil saber quem é quem. Ilusionistas que engolem folgo mágicos
que enfiam facas nos olhos em bem pouco tempo vão deixar de existir, o povo brasileiro já
deixou de acreditar em contos de fada faz bastante tempo, somente alguns desavisados
acreditam em ebós que resolvem todos os problemas e magias que curam de unha encravada a
impotência.
Chegou a hora da verdade somente homens sérios poderão iniciar sacerdotes dignos que
em um futuro representarão o ifá no Brasil.
122

Os bons sacerdotes yorubanos se sentem orgulhosos com o saber dos babalawos


brasileiros, nós fizemos parte de um povo alegre, inteligente e temos todos os pré-requisitos
para ter grandes babalawos em nosso país.
Ser um babalawo no Brasil e muito difícil, enfrentamos todo dia olhares desconfiados,
vivemos em um país que ainda esta aprendendo a valorizar seu povo, é responsabilidade dos
bons sacerdotes orientar esse povo para o aumento da autoestima e a valorização dos que aqui
nascem. Não somos superiores, mas também não somos inferiores precisamos entender a
historia de nosso país para valorizar a gente que aqui vive.
Eu sempre digo que se Olodumare não quisesse o culto de orisá no Brasil a vinda de um
contingente enorme de escravos não teria acontecido, situações ruins, dolorosas muitas vezes
carregam em seu intimo ações que nós somos incapazes de julgar.
A luz do saber não é privilegio dos que seguem com os olhos fechados, temos que
levantar a cabeça, abrir bem os olhos e com a pureza no coração tentar construir um futuro
melhor, onde a barbárie não tem lugar onde o respeito ao próximo seja tido como obrigação,
onde a riqueza do homem seja medida por seus atos e não pelo que ele tem no bolso.
Não consigo entender algumas pessoas que sabem que temos excelentes cientistas,
médicos, engenheiros, professores, artistas e atletas em nosso país, mas que não conseguem ver
com bons olhos os babalawos brasileiros.
A verdade é que ifá é para todos e que nem todos são babalawos, mas não quer dizer
que no Brasil não temos pessoas capacitadas.
123

Consultando Opele Ifá.

“Há vinte e dois anos atrás conversando com um amigo yorubano (Adileke), desenvolvi
um método para gravar as impressões dos odus, baseado em um sistema usando algarismo
arábico...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

O método Ifagbaiyin, consiste em considerar a parte côncavo do opele como número


um e a convexa como número dois, sendo assim a impressão de um odu seria representada por
um milhar, usado duas vezes quando o odu é meji, o sistema de uso do opele e das impressões
de odu é fundamental para o inicio da manipulação do opele, todo babalawo quando inicia seus
estudos dedica muito tempo para gravar essas figuras, esse método visa facilitar a memorização.

Ogbè méjì = 1111/ 1111


Òyèkú méjì = 2222/ 2222
Ìwòrì-méjì = 2112/2112
Òdí méjì = 1221/1221
Ìròsùn meji = 1122/1122
Òwónrín méjì = 2211/2211
Òbàrà méjì = 1222/1222
Òkànràn méjì = 2221/2221
Ògúndá méjì = 1112/1112
Òsá méjì = 2111/2111
Ìká méjì = 2122/2122
Òtúrúpòn méjì = 2212/2212
Òtúrá méjì = 1211/1211
Ìretè méjì =1121/1121
Òsé méjì = 1212/1212
Òfún méjì = 2121/2121
A didática adequada favorece a memorização e facilita o estudo, todo awo deve ter como
base as impressões dos odus tanto na hora da consulta a opele como ikin.
Segue abaixo exemplos:
Ìrosùn méjì

* * 1 1
* * 1 1
** ** 2 2
** ** 2 2

Outros exemplos:
124

Òsé Òtúrá
1 1
2 2
1 1
1 2
Igual a 1212/ 1211

Ogbè Òbàrà = 1111/1222

Dentro de quinze dias esse método vai ser divulgado inúmeras pessoas e com certeza
vai aparecer um grande número de pessoas se dizendo o autor do sistema, o importante não é
isso, e sim a divulgação de métodos que facilitem os estudos para os novos iniciados em ifá, os
tempo mudaram e a tecnologia esta ai para facilitar os estudos.
125

INICIAÇÃO EM IFÁ SEM MISTÉRIOS

“Quando se ouve falar de um itefá algumas pessoas menos avisadas imaginam algo
impossível de ser feito no Brasil...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Na verdade o itefá já é feito no Brasil há muitos anos, vejo falar de tudo, leio coisas que
parecem um conto de fadas, já li desde plantas especiais, até tipo de terra especial em um
Igbodu, em meio a tudo isso fico imaginando o que o leigo consegue entender sobre a iniciação
em ifá e as suas implicações.
É evidente que entre esses grandes números de informações destorcidos, existem duas
ou três razões, a primeira delas é a falta de informações das pessoas que divulgam, a segunda
eu considero pior, que é o interesse em dificultar para que se sinta a implicação direta de que
quanto mais difícil mais caro deva ser cobrado.
Então seguindo os versos de ifá, vou tentar afastar os mistérios de uma iniciação,
pretendo aqui descrever alguns rituais sem ofender os segredos contidos dentro do Igbodu.
Todos sabem que para que um itefa seja realizado, é necessário mais de um Bàbàláwo, na
Nigéria é comum se ver, vinte Bàbàláwos para fazer um itefa, lá tudo é bem diferente daqui e
os Bàbàláwos são muito unidos, todos respeitam as diferenças familiares em rituais e convivem
em harmonia, o fato de necessitar várias pessoas para um itefá, poderá ser percebido conforme
segue a orientação de Orunmila nesse ifá. O trabalho que envolve uma iniciação pode ser visto
de duas formas, existem dois tipos de Igbodu, o que é construído só com folhas ou aquele que
já é pré-construído e abriga ìyá odu, durante todo o ano, esse segundo é mais comum, haja visto
que todos sabem que mulheres não podem ter acesso a esse assentamento, então na Nigéria é
comum que ìyá odu seja mantida em uma pequena construção de alvenaria ou madeira. Outro
erro que é visto no nosso país e a referência ao Igbodu, (floresta sagrada), tradução essa que é
vista por leigos como a necessidade de iniciar uma pessoa em ifá no meio das matas, é verdade
que em algumas aldeias retiradas, ainda tem bastante árvores, mais ninguém fica no meio do
mato abandonado por três dias e três noites, me divirto quando ouço esses relatos.
Após a consulta a ifá que identifica o momento exato da iniciação e é constatada a
autorização de ifá, para que aquele sacerdote dirija a cerimonia após a chegada da pessoa a ser
iniciada, com todos os matérias que foram previamente comprados de acordo com a orientação
do Bàbàláwo, se inicia as cerimônias, que depende da família, são em torno de 50 rituais
diferentes.
Um ou dois Bàbàláwos são encarregados de preparar o Igbodu com folhas, dividindo a
entrada e o espaço a ser utilizado em duas partes, um dos Bàbàláwos após a preparação do
ambiente, alimenta a terra e pede permissão para construir o caminho que eleva ao ambiente
sagrado, depositando na terra, búzios e dois ou três elementos a mais em número impar de um
lado e par do outro lado da estrada, que dá acesso ao local, previamente preparado.
O grupo que vai participar da iniciação se divide em tarefas, enquanto a ìyá apetebi
cuida dos pertences do iniciado, a Iyanifa prepara o carrego para a entrada no Igbodu, em meio
a isso, o Oluwo e o Bàbàláwo amarram simultaneamente em um dos braços e uma das pernas
126

um pedaço de tecido virgem branco que contém uma parte de um dinheiro que representam o
pagamento para o inicio dos rituais.
Começa então um cortejo que se desenvolve em direção ao Igbodu, com o Oluwo na
frente conduzindo Osun (antepassado), que representa o reconhecimento dos antepassados para
o ritual que se inicia, seguido pelo Bàbàláwo e a ìyá apetebi, com o yangui de Èṣù, sobre a
cabeça, esse ritual que apresenta o iniciado aos antepassados dos familiares retrata o esforço
que ele faz para agradar as divindades, em um carrego bastante amplo, amostras de cada um
dos elementos a serem usados na iniciação, são conduzidas sobre a cabeça do iniciado,
acompanhado dos membros do egbe ifá, amparado pelo Iyanifa que agrada com dendê, gim,
algumas divindades aos pés do cortejo. Na entrada do Igbodu o iniciado vai estar vendado, pois
até que sejam formalizados os rituais para que ele entre na parte que antecede o Igbodu, muitas
coisa acontece, ele é envolvido em um clima de expectativa sentado segurando os animais e o
material, enquanto o Oluwo e o Bàbàláwo oferecem Obì e orógbó para Èṣù Odara e Orunmila.
Após a autorização a venda é retirada todo material é colocado dentro do Igbodu e se inicia a
raspagem do iniciado, é claro que todos entendem a razão de omitir alguns detalhes aqui, vamos
seguir a descrição, deixando pequenos espaços, mas desmistificando o grosso dos rituais. Os
rituais prosseguem simultaneamente, os mesmos Bàbàláwos que preparam Osun
(antepassados), previamente para a cerimônia reservam uma parte das folhas que vai ser usada
junto com um elemento especifico para lavar os olhos das pessoas que vão começar os rituais
dentro do Igbodu.
O primeiro grupo trabalha na preparação da parte interna do Igbodu, e o segundo grupo
prepara o iniciado, pode acontecer nesse espaço de tempo que um terceiro grupo busque fora
elementos que caracterizam o ritual que jamais podem ser mencionados ou vistos por quem não
tenha participado de tal ritual antes.
O numero de cerimônias da uma dimensão da quantidade de trabalho, esse número
grande de pessoas precisa usar os banheiros que devem estar limpos e evidentemente precisa
estar bem alimentados, o que implica em muito trabalho nos bastidores.
Após a entrada o Oluwo e Bàbàláwo agradam ifá, Iya odu, Osun (antepassados) e Èṣù,
não necessariamente nessa ordem mais em ordem que não vamos divulgar aqui, o iniciado que
antes da entrada passou por uma consulta a ifá, e por um ebó riru, agora com a cabeça raspada,
vai conhecer o seu odu, que em seguida vai ser alimentado é evidente que antes disso são feitos
alguns imules e antes que o awo coloque os olhos no seu ifá, da terra vai brotar o segredo.
Depois disso alguns rituais envolvendo banhos, pinturas e a preparação da nova roupa do awo,
devem ser feitos de forma reservada, por pessoas do mesmo sexo, considerando o fato de que
para colocar uma roupa é necessário tirar outra que vai ser despachado junto com o cabelo, em
um local que não vamos definir aqui, posteriormente a isso e só posteriormente a isso, o Èṣù do
iniciado vai ser alimentado, em alinhamento com o odu ifá do awo. Após essa parte, todos os
participantes fazem um intervalo onde se alimentam e planeja a segunda etapa, na segunda
etapa o Èṣù da casa é alimentado, e abençoa o caminho do novo iniciado como membro do
egbe.
Seguimos descrevendo evidentemente em uma ordem que não deixe nítido o teor e a
sequencia dos rituais, o grupo desenvolve várias atribuições ao mesmo tempo, em um dado
momento ifá do iniciado sai do Igbodu para ser alimentado fora, porque o awo deve presenciar
127

esses rituais, e nem sempre quem participa de um itefa, em um futuro pode ter acesso a um
Igbodu.
Após esses rituais pequenos rituais, mas de grande importância confirmam o awo, como
membro do egbe, o awo que fez vários imules e compactuou com o segredo e assumiu a
responsabilidade com a verdade, é parabenizado por todos os membros do egbe, agora montado
por Orunmila em um momento único, abençoa todos os membros que participaram do itefa.
Em algumas famílias esses rituais são divididos em três partes, que podem ser feitos em
três ou sete dias, a grande maioria das famílias faz em três dias, quando o awo vai ao rio em
outro ritual que não podemos descrever aqui, ele se desfaz de sua vida pregressa, portador agora
de um novo nome, que o identifica com uma nova vida.
Quando me propus a escrever esse texto foi sabendo que os palpiteiros de plantão vão
comentar a minha ousadia, não vejo que eu esteja revelando algum segredo, esse texto tenta
contribuir para o esclarecimento visando afastar, definitivamente as histórias mirabolantes do
que é ser iniciado em ifá.
Do itefa ao Ìtélodú muito pouco pode ser descrito aqui, por razões bem claras, não
vamos explicar as três cerimonias que diferem um itefa de um Ìtélodú.
Que fique claro:
• Só um Bàbàláwo passa por um Ìtélodú.
• Só um Bàbàláwo faz imules com Iya odu.
• Só um Bàbàláwo vê Iya odu
• Aquele que vê Iya odu, não incorpora.
• Que um Bàbàláwo, não consulta mérìndilogun, consulta opele e ikin.
• Aquele que é submetido a um itefa pode incorporar ou não o seu òrìsà.
• Aquele que é submetido a um itefa pode ser um Babalórisá, Ìyálóòrìsà, ou Olóòrìsà, e
que essas pessoas não veem Iya odu.
• Que uma Iyanifa ou Iyaonifa consulta opele e ikin, mas não vê Iya odu.
• Que babalorisa não consulta mérìndilogun em cima de opon.
• Que opon ifá, é um instrumento usado por Bàbàláwos e awos com permissão de seus
Oluwo.
• Que opele ifá, é um instrumento usado por Bàbàláwos, Iyanifas, awos, com permissão
do seu Oluwo.
• O itefa é uma cerimônia de iniciação em ifá.
• O Ìtélodú é o reconhecimento do sacerdote por Iya odu.
• O Igbodu é o local que identifica áreas com diferentes funções parte do Igbodu, só
acessada pelo Bàbàláwos, a área que antecede o local onde fica Iya odu que geralmente
também chamada Igbodu, é acessada por pessoas que só tem a cerimônia de itefa, ou
Iyanifas. A designação de Igbodu é muito diferente da descrita em literaturas criadas
por pessoas que não foram submetidas ao Itelodu.
• Awo Elegan é a pessoa que é submetida ao itefa, mas que jamais vai ver Iya odu.
128

Religião Tem Regras Descritas Por Orunmila

“Com o passar do tempo muito se tem escrito sobre a verdadeira função do sacerdote
dentro da religião afro-brasileira, mas a impressão que eu tenho é que quase nada foi
esclarecido, um Babalawo ou um Babalorisa é confundido com um proprietário da pessoa
iniciada...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

A confusões acontecem ou por parte de quem é iniciado ou por quem inicia. É muito
comum ouvir em minhas palestras perguntas sobre a relação de pais e filhos ou irmãos na casa
de Orisa. Algumas pessoas acreditam que se forem iniciadas pelo mesmo sacerdote que iniciou
o seu cônjuge a situação caracteriza um incesto, isso nos leva a seguinte pergunta somos
católicos ou pertencemos a Religião Yoruba (Èsìn Yorùbá) qual é a nossa verdadeira religião?
Uma grande quantidade de pessoas iniciadas em Orisa ainda seguem preceitos católicos
ou orientações espiritas por desconhecer os versos de Ifá, não sabem que dentro desses versos
existem as normas de comportamento que orientam os iniciados e o seu comportamento diante
de Olodumare.
Eu escuto todo tipo de pergunta, é melhor assim, pior seria se as pessoas não
perguntassem, continuassem com suas dúvidas, acredito que devemos dividir informações.
Existe algumas coisas que devem ser esclarecidas, uma pergunta frequente é relativa a
preceito, sexo e pecado, no Odu Oworin Ofun, fala que o sacerdote não deve fazer sexo com
sua esposa naquele dia, ele está comprometido com os rituais, todos as orientações de
comportamento podem ser encontradas nos versos de Ifá, no Odu Osa Otura, fala que devemos
sempre falar a verdade, no Odu Ogundakete, diz que não devemos roubar.
Um texto de Ifá muito conhecido do Odu Osetura, fala da importância das mulheres, do
respeito que os homens devem manter por suas esposas, filhas e por suas mães, outro texto do
Odu Ofun Meji, diz que o iniciado em ifá deve ver Iya Odu e se tornar um Babalawo, já no Odu
Ogbe Meji, fica claro que a principal esposa de Orunmila só pode ser cultuada por quem passou
por um ritual chamado Ipanadu (cerimonia que o awo se torna um Babalawo, momento que
apaga se a luz para ver Odu).
No Odu Ogbe Yonu, fala sobre a relação financeira homem e a família da esposa diz
que até o casamento todas as despesas da mulher devem ser mantidas pela família, mas depois
do casamento o marido não deve deixar que a mulher passe necessidades, a manutenção da casa
é responsabilidade daquele que assumiu a relação diante da família.
Ainda no Odu Ogbe Yonu, vamos encontrar dados referentes ao casamento de um
Babalawo, nesse Odu diz que não deve haver a separação e nem o adultério, que as pessoas
deveriam antes de assumir uma relação pensar bastante, fala ainda que aquele que escolheu
viver com uma única mulher deve respeita-la e protege-la, ainda nesse Odu vamos encontrar
uma advertência contra o uso de magia maléfica contra o cônjuge, nesse caso Ifá vai se lançar
em sua defesa e não sabemos o que pode acontecer; nesse Odu diz que o Babalawo deve ter
129

uma postura digna e não deve se envolver com outras mulheres, a punição para o sacerdote que
não cumprir essa orientação diz Ifá: (que ele nuca vai atingir o sucesso em seu trabalho).
Obs: Com respeito ao numero de esposas o Babalawo deve seguir a orientação do seu
odu e buscar uma forma de respeitar a cultura local, podemos tomar como exemplo o odu Oyeku
Meji a onde ifá diz: Que aquele nascido sobre esse signo só pode ter uma esposa, é evidente
que também podemos considerar a leis de cada país, no Brasil é crime manter se casado com
mais de uma pessoa.
O Odu Ogbeyonu, fala da punição do Babalawo, que desejar a mulher de outro awo, diz
Ifá (aquele Babalawo ou iniciado em Ifá que deitar com a mulher de outro awo, não deve ver
outro amanhecer).
No Odu Ogbe Meji, a necessidade do comportamento digno é enfatizada, de tal forma
que a punição seria o infortúnio, a falta de sucesso e o total esquecimento, o abandono do
sacerdote, suas orações não devem ser ouvidas, essa é uma das punições mais temidas, a relação
homem Orisa deixa de existir.
No Odu Obara Egutan Encontramos em detalhes, a relação de um Babalawo, com a sua
Apetebi, nesse verso de ifá diz (a escolha da esposa de um Babalawo é apontada por Ifá quando
ela nasce), existe vários Odus que indicam essa relação, assim como também existe uma
identificação bem clara nos versos de Ifá sobre quem deve se tornar um Iniciado e quem deve
se tornar um Babalawo, ver Odu: Ogbe Meji, Oturupon Meji, Irete Meji, Iwori Meji etc.
No Odu Oworin Sindin, aparecem algumas indicações sobre a necessidade do homem
cumprir o seu destino, assim como no Odu ogbe Ogunda, fala do cuidado com o Ori e a relação
do homem com o destino por ele escolhido, tendo como testemunho Orunmila, isso nos remeti
a uma reflexão encontrada no Odu Ogbe Meji (nem um homem deve se comprometer com um
Orisa antes de conhecer o seu destino) essa afirmação indica claramente que o homem deve
conhecer a indicação de Ifá para ter uma orientação sobre a sua vida religiosa, não é o homem
que escolhe o Orisa é Ifá quem indica os Orisa que devem ser cultuados.
No Odu Obara Kosun, fala da punição violenta caso o iniciado não respeite o seu
sacerdote e vice versa, o respeito deve ser mantido a qualquer custo assim como a segurança da
egbe (família) o sacerdote deve usar todos os recursos que possui para proteger a sua família,
dele será cobrado à omissão.
Ainda no Odu Obara Kosun, Ifá alerta sobre o uso do Opele, quem pode usar e sobre a
remuneração, aquele que não usar o Opele com dignidade jamais vai ver o sucesso, nesse verso
ifá deixa claro que um sacerdote não pode mentir e usar um instrumento de consulta em seu
beneficio, jamais será aceito qualquer tipo de mentira usando o nome de Ifá.
O Odu Ogbe Alara, fala de Iwa (caráter) a indicação é clara nesse odu, a necessidade de
manter uma postura reta, faz parte do dia a dia do iniciado, temos a obrigação diante dos Orisas,
de manter um comportamento que honre toda nossa família e nossos antepassados,
independente de nossa idade, a juventude não é desculpa para o erro a pouca idade, é
característica que indica a inocência e não a má conduta, fica bem clara no verso do Odu Ofun
Ose, que diz (é preferível um sacerdote jovem e honesto que um velho sem caráter).
Nos versos de Ifá vamos encontrar inúmeras recomendações de comportamento,
inclusive referente à higiene, no Odu Ose Odi, consta uma relação bem clara sobre a
necessidade de se manter limpo e com o corpo asseado, ainda nesse Odu diz Ifá (o homem tem
130

responsabilidade com seus filhos até que possam se manter, encontrar uma ocupação e ter sua
renda, é responsabilidade dos pais manter os filhos menores).
O Odu Obara Kosun, em seus textos indica que a pessoa que foi iniciada no culto aos
Orisas ou no culto a Ifá deve fazer oferendas às divindades e manter os seus assentamentos em
ordem, limpos o Ose (limpeza semanal) é responsabilidade do iniciado e não do sacerdote.
Ainda falando do comportamento de um Babalawo, diz Ifá no verso do Odu Ofun
Gbadara, as coisas de Ifá não devem ser comercializadas por um Babalawo, (um Babalawo não
deve ser um comerciante), nesse mesmo Odu diz (aquele que lhe prestou um favor, lhe deu uma
ajuda deve ser recompensado) todo trabalho espiritual tem que ser remunerado, se não for assim
como o sacerdote vai poder manter os seus assentamentos e continuar atendendo as
necessidades dos que o procuram.
O Odu Ofun Nagbe, fala da prosperidade do Sacerdote fala que aquele que trabalha
corretamente terá uma vida tranquila, assim como aquele que possui Ikin nunca lhe faltara o
alimento (Odu Idin Ka).
Um verso do Odu Ogunda Ogbe, orienta sobre o dia do Ose semanal, um dia da semana
devem ser reservados para cuidar dos orisas, nesse dia os assentamentos dos Orisas devem ser
limpos, já no Odu Okanran Obara a orientação é sobre o assentamento de Egungun, diz Ifá
(aquele para quem aparece esse Odu deve manter viva a imagem de seus antepassados, essa
pessoa deve ser iniciada no culto a Egungun e deve honrar todos de sua família, com um
assentamento que deve ser mantido sempre limpo e bem cuidado, é obrigação dessa pessoa
escolher um sucessor que ira manter esse assentamento para que esse culto não deixe de existir.
No Odu Iwori Meji, fala sobre fazer magias para quem não tem como se defender, sobre
o uso do conhecimento de um sacerdote contra quem não merece tal atitude, diz Ifá (aquele que
ataca um inocente a maldade e a destruição voltariam para prejudica-lo).
No Odu Osa Meji, está bem claro que não devemos julgar o nosso semelhante, só Ifá
pode saber o futuro de cada pessoa diz Ifá: (um Ori coroado não pode ser reconhecido por um
ser humano, só Ifá identifica o Ori que será beneficiado), não devemos menosprezar ninguém.
O Odu Oturupon Ofun, fala sobre o suicídio, não é permitido a ninguém essa pratica só
Ifá sabe e pode mudar o dia da morte, ainda nesse Odu diz Ifá: à longevidade não é
encantamento, devemos nos afastar de tudo que possa diminuir o tempo de nossa vida, devemos
fazer tudo para alcançar a longevidade.
No Odu Ogbeyonu, Ifá é bem claro não devemos ser arrogantes dentro da relação
afetiva, devemos buscar o companheirismo como forma de melhorar os relacionamentos.
Em Ika Ogunda, ifá fala sobre a necessidade de orar para obter sorte e prosperidade, o
homem deve manter suas orações, como forma de disciplina e humildade, nesse Odu assim
como no Odu Ogbe Ogunda, diz: o horário de fazer as orações preferencialmente pela manhã
logo que acordamos.
O Odu Osetura, diz não devemos nos exibir, devemos manter uma vida regrada e sem
exageros, um homem não deve discriminar uma mulher e uma mulher não discriminar um
homem, um velho jamais deve ser discriminado por jovem da mesma forma que um jovem não
deve ser discriminado por um mais velho, o respeito deve existir indiferente da idade ou sexo.
No Odu Otura Irete, Ifá diz: (a bondade deve ser cultivada como forma de gratidão) a
bondade deve ser praticada, não devemos ser ingratos, só Ifá sabe se não vamos necessitar em
131

um futuro da ajuda de quem nos beneficiou no passado, não devemos desfazer de quem um dia
nos ajudou.
O Odu Otura Ofun, deixa bem claro a necessidade de manter os ebós indicados por Ifá,
se uma pessoa consulta, toma conhecimento do problema e não fazer os ebós indicados a
responsabilidade deixa de ser do sacerdote.
No Odu Òtúrúpon`Otúa, fala sobre a necessidade do sacerdote estudar e ter
conhecimento para honrar seus antepassados com sua capacidade, diz Ifá: é responsabilidade
do iniciado, assim como do sacerdote o aprendizado, a capacitação daquele que abre as portas
para o atendimento é uma responsabilidade assumida diante de Ifá, todo ato praticado dentro
da casa de Orisa tem que seguir a orientação dos versos de Ifá; no Odu Iwori Otura, fala sobre
a disciplina dos estudos e a educação do iniciado em Ifá deixando bem claro que devemos nos
dedicar para obter uma educação adequada. O Odu Irete Ofun, fala do estado de perfeição e o
alinhamento com Olodumare se não somos perfeitos devemos buscar a melhor forma de se
assemelhar com a perfeição.
O Odu Iwori Ofun, fala do respeito que temos que manter por todas as pessoas, se
queremos ser respeitados, devemos respeitar todas as pessoas sempre, a vida é um benefício
recebido das mãos de Olodumare cabe a nós tornar digno o viver.
132

Ifá Está Sendo Bem Representado!


Chefe Àkànó Fásínà Agboolà
Depois de ter nos presenteado com sua obra: Ifá Deus Sagrado Mensageiro da
Humanidade, o Chefe Awódiran Agboolà Lança mais um belo trabalho contribuindo para a
divulgação do culto de Ifá.
No primeiro livro ele escreveu:
Eu presto homenagem ao meu pai, Chefe Àkànó Fásínà Agboolà de Lagos que fez a
passagem em 14 de setembro de 1991.
Eu não estou sendo sentimental, quando digo que ele era o mais inteligente,
disciplinado, e insubstituível pai neste mundo.
Sem ele eu nunca teria nascido.
Eu prestarei homenagem fazendo referência ao Odu Ogbèalárà, o Odu que meu pai
nasceu durante a sua iniciação no culto de Ifá:
No canto da casa olhando discreto,
Fez divinação para Ogbè o pai de Òtúà,
Eu estou procurando o dinheiro que ainda não tenho
Ìrànran possibilite que meu pai me ajude a encontra-lo, ìrànràn.
Eu estou procurando uma boa esposa, mas ainda não encontrei.
Ìrànràn , possibilite que meu pai me ajude a encontra-lo , ìrànràn.
Eu estou procurando bons filhos, mas não consigo encontra-los.
Ìrànràn faça com que seja o destino do meu pai me ajudar a tê-los, Ìrànràn.
Estou procurando fazer uma boa casa, mas não consigo erguê-la,
ÌrànrÀn faça com que seja o destino do meu pai ergue-la, Ìrànràn.
Eu preciso de numerosas bênçãos, mas ainda não tenho,
Ìrànràn faça com que seja o destino do meu pai me ajudar a tê-las, Ìrànràn.
Assim como quando Ogbè gerou Òtúà
Ele lhe deu discípulos
E várias bênçãos
Homenagem especial a minha mãe a Sra. Mojísólá Ol´sindé Agboolà, minha amada
mãe também merece homenagens. Se ela não tivesse ouvido seu pai Chefe Abéeréfá Ògunjobí
para casar com seu aprendiz babaláwo Akano Fásinà Agboolà eu nunca teria nascido para
cumprir minha missão espiritual
Também foi prestada a ela no terceiro dia uma divinação. Na cultura Ioruba, para uma
criança nascer ela será trazido por Ifá por divinação no terceiro dia.
O Odu que aparece é ìretekàà.
Esse Odú fala que essa menina se casara com um adivinhador.
Depois de uma investigação, Ifà escolheu o jovem Babaàwo Àkànó Fásinà Agboolà.
O pai da criança, Abéeréfá Ògunjobí escutou as palavras de Olódùmarè que previu que
sua filha se casaria com um de seus seguidores, o resultado desta união é este seu humilde servo,
o único filho a sair desta criança (òkánláwòn) cujo nome dado como Awódiran significa que
este Ifá é hereditário.
Este Odú Ìretekàà que chamou minha mãe de Olásindé (O Surgimento da honra) e ele
diz isso:
133

O pato não flerta


A tumba de uma mulher estéril geralmente é coberta de lixo
Promiscuidade em sua vida causa desunião em sua família
Fez divinação para Oláa-wón-nù-lo (sua honra esta perdida)
A criança virá na hora exata
E a honra perdida será ressuscitada
O surgimento da honra (Olásindé) é um nome apropriado para chamar uma criança de
Ìretekàà.
Baba Awódiran Agboolá,é o atual Araba da cidade de Lagos, Nigéria, e também é
membro, do supremo conselho de ifá em Ilê ifé.
Constituindo assim a pessoa dele como uma das maiores autoridades sobre Ifá no
mundo, esse homem é um orgulho para toda nossa família e em especial para mim por se tratar
do irmão do meu Oluwo Oyeniyi Awolola Agboolá.
Os Mistérios de Ifá na terra.
Não deixe ler o livro do Araba Awodiran Agboola, esse trabalho é fruto da dedicação
desse grande homem que pertence a uma linhagem de grandes sacerdotes de Ifá.
Como todos podem ver nos textos do seu primeiro livro, o Araba nos brinda com seu
conhecimento escrevendo de forma simples e de fácil leitura, com grande conhecimento e
habilidade ele escreve sobre Ifá tornando a leitura leve e instrutiva.
É com grande prazer que homenageio esse grande sacerdote e escritor divulgando a
palavra de ifá, penso contribuir com essa indicação,para o aprendizado daqueles que assim
como eu tem interesse na Religião Tradicional Yoruba.
O Araba Awodiran Agboola, está entre os melhores autores sobre a religião tradicional
yoruba.
134

INICIAÇÃO EM IFÁ E SUAS VANTAGENS, QUEM DEVE S ER


INICIADO

“Durante o período que estive na Nigéria, um fato em especial me chamou a atenção,


o número de pessoas pertencentes a outras religiões que é iniciado em Ifá é muito grande...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Na cidade de Lagos conheci várias pessoas iniciadas em Ifá que não pertencem a nossa
religião, pensando sobre essa situação em especial, resolvi escrever sobre as vantagens de ser
iniciado em Ifá.
Que benefício eu posso ter sendo iniciado em Ifá?Essa pergunta eu já ouvi inúmeras
vezes eu costumo dizer que sair para uma viagem sem ter conhecimento da estrada, sem ter um
mapa é complicado, as chances de você se perder, pegar o caminho errado, é muito grande, pois
quando uma pessoa é iniciada, eu costumo comparar ao fato de você receber o mapa da estrada
antes de partir em uma viagem, isso vai certamente facilitar bastante o seu deslocamento.
Qualquer pessoa, em qualquer momento de suas vidas pode ser iniciada em Ifá,
independente de sua religião, a pessoa tem inúmeras vantagens em ser iniciada, mas a mais
importante é o autoconhecimento.
Vou tentar responder em um breve texto as curiosidades que normalmente as pessoas
têm em ralação a iniciação, ou em relação ao Isefá.
Você quando é iniciado por um Babalawo em Ifá você não perde a ligação com o seu
Babalorisa se você for iniciado em Orisa, o culto a Ifá pode acontecer paralelamente ao culto a
Orisa.
Durante a iniciação a pessoa recebe muitas informações sobre o seu destino, o caminho
que deve seguir fica mais claro; vou citar aqui uma parte de um texto que faz parte do nosso
blog pertencente ao Babalawo Ifamileke Agboola, quando ele explica sobre o odu,ele descreve
(transitório e não permanente). Em suma uma Harmonização entre o ser humano e o seu atual
destino que será cultuado, para uma vida nova dentro do culto e fora.
Respeitando os ewos (proibições) de seu Odú Ifá, e as normas de conduta no seu
cotidiano espiritual e material, para a sua total harmonia, entre o profano e o sagrado.
Uma pessoa quando é iniciada em Ifá passa por alguns rituais, dependendo da orientação
o isefá pode levar de um a três dias em média pode ou não exigir entre os rituais um bori e
muitas vezes pode indicar o oferecimento de um agrado aos antepassados ou a um orisa
determinado, na maioria das vezes a pessoa não necessita ficar recolhida, é claro que de uma
pessoa para outra pode haver grandes mudanças nos rituais.
Na verdade cada pessoa tem um destino, e naquele momento a orientação de Ifá não
segue uma regra ou receita milagrosa, para cada pessoa os rituais podem exigir uma sequencia
completamente distinta da outra, mas o objetivo final é alinhar a pessoa com o seu destino,
passar para ela a Orientação de ifá trazendo à luz a vida do inciado.
Uma pessoa deveria ser iniciada em Ifá antes de ser iniciada em Orisa, normalmente em
território Yoruba é isso que acontece, o fato de uma pessoa ser iniciada em um Orisa que não é
135

um daqueles indicado no seu odu pode trazer problemas, criando uma situação em alguns casos,
de prejuízos, financeiros, afetivos, emocionais e até mentais.
O não alinhamento com o seu odu, e o distanciamento dos Orisas que deveriam ser
cultuados, pode ser bastante prejudicial; e a questão pode ser mais abrangente criando
situações bastante complicadas para o individuo, na realidade, a grande maioria das pessoas
desconhece que está cultuando os Orisa errado, e não sabe a dimensão do que isso representa
em sua vida.
Isso implica em um comportamento onde a pessoa nesse momento pode estar sendo
totalmente indiferente a os Orisas que fazem parte do seu destino. Imagine o seguinte exemplo,
um filho de Ogun, trabalhando em um trabalho burocrático passando o dia todo sentado fazendo
calculose e atendendo telefone, esse tipo de situação caracteriza ou um erro de feitura ou na
pior hipótese o Orisa está errado ou a orientação do sacerdote na escolha do trabalho do iniciado
foi equivocada; isso descrevendo um exemplo genérico sem um exame prévio da questão.
Podemos citar outro exemplo, o daquele filho de Obatala que é selecionado como um
atleta de ponta, competitivo e dedicado exaustivamente a os treinamentos, implicando em um
desgaste de energia constante; é claro que qualquer pessoa que entenda de Orisa, sabe que isso
é impossível.
Essas situações no mínimo hilárias deixam de existir, quando a pessoa é iniciada e
conhece o seu odu, tudo fica mais fácil, esse tipo de erro bastante comum pode abreviar a vida
da pessoa e em um minuto a sua vida pode ser perder, o não alinhamento com o destino implica
na baixa estima e na baixa da imunidade podendo criar sérios problemas de saúde.
Sair de viagem sem conhecer a estrada, sem ter um mapa é uma grande temeridade, ser
iniciado em ifá torna a sua vida muito mais fácil, você cometendo menos erros, e se dedicando
de forma correta ao seu orisa, as chances de você cumprir o seu destino com êxito aumentam
consideravelmente.
Se for o fato de você descobrir que foi feito para o Orisa errado, isso não implica em
uma nova feitura, na verdade você vai ter mais informações sobre o seu verdadeiro Orisa
possibilitando uma dedicação paralela ao Orisa anteriormente cultuado e o Orisa indicado por
Ifá em um patamar de igualdade, visando assim corrigir o erro cometido, que na maioria das
vezes você desconhecia.
Em um ritual teoricamente simples com um assentamento do seu Ifá, o homem pode
mudar a sua história.
Em um igba com um número mínimo de dezoito ikins pode estar à resposta as perguntas
de toda sua vida!
136

Ìwàpèlè: O Conceito de Bom Caráter e o Ifá.


Segundo Abimbola, (data), os humanos necessitam oferecer sacrifício às duas forças
para sobreviver. O homem necessita oferecer sacrifício às forças benéficas para continuar
gozando de seu apoio a bênção. Necessita também oferecer sacrifício aos ajoguns e às àjé com
o objetivo de não encontrar sua oposição quando estiver prestes a realizar algum projeto
importante.
Todo indivíduo deve empenhar-se para ter Ìwàpèlè, com o objetivo ser capaz de ter uma
boa vida num sistema dominado por muitos poderes sobrenaturais e em sociedade controlada
pela hierarquia nas autoridades. O homem que possui ìwàpele não colidirá com nenhum dos
poderes, sejam humanos ou sobrenaturais e, desta forma, pode viver em completa harmonia
com as forcas que governam tal universo.

Wande Abimbola
Tradução:
Rodrigo Ifáyodé Sinoti

Para Epega et. al, no odú Ogbe Lara.


Òrúnmìlà enquanto ele estava vindo para o mundo. Ele [Ifá] disse que Òrúnmìlà nunca
cairia em desgraça. Um peixe deveria ser sacrificado.
Òrúnmìlà ouviu e realizou o sacrifício.

Então, desde a criação do mundo até os dias atuais, Òrúnmìlà nunca caiu em desgraça.
Ele foi quem primeiro nele [mundo] pisou. Ele treinou os sacerdotes de Ifá e situou os
odú em suas respectivas posições.
Apesar de todas essas coisas, ele nunca negligenciaria os sacrifícios prescritos para ele,
porque ele demonstrou aos seres humanos que "não pode haver paz sem sacrifício".

Esta claramente expresso em várias lições em Ifá que “os seres humanos não vivem em
paz sem oferecer sacrifícios”.
Além do mais, pequenos sacrifícios previnem a morte prematura.
Qualquer pessoa que deseja ter boa sorte sempre oferecerá sacrifícios.
Qualquer um que cultiva o hábito de fazer o bem, especialmente ao pobre deve fazer
sacrifício.

Afolabi Epega,John Neimark


Tradução para o português: Òsunléke

Observando esses dois belos textos concluímos em uma olhada superficial que o simples
fato de fazer os ebós e manter os princípios éticos e morais, seria o bastante para nos livrar de
todos os males.
Na verdade tudo isso depende de conjunto mais complexo, depende também do Ori (
destino) que eu escolhi antes de vir a terra.
137

Não podemos assim dizer que se eu me comportar bem, ter um bom comportamento e
fazer os sacrifícios isso vai mudar a minha situação, eu posso estar buscando algo que não faz
parte do meu destino.
É bom lembrar que uma parte do destino pode ser mudada pelas nossas ações, podemos
transformar uma grande parte dele, isso é certo, mas tem uma pequena parte que não pode ser
mudada jamais.
138

Ifá e o Homem, o Sacerdote e o Deus.

“Quando uma pessoa procura um sacerdote, muitas vezes espera encontrar um Deus,
e muito raramente aceita que ele seja um homem, ela procura milagres,e o mais fácil, o óbvio,
parece uma tolice e não uma solução...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Confundir o sacerdote com um Deus é comum, mas a não aceitação do sacerdote como
homem, isso sim me causa estranheza.
Para um grande número de pessoas é difícil separar, o sacerdote, do homem e entender
que ele tem a sua vida particular.
A curiosidade e muitas e a maldade, contribuem para uma enorme confusão, algumas
pessoas não conseguem entender que o sacerdote, também adoece, ama, e tem problemas como
todo ser humano.
È comum ouvir a frase absurda “se ele não tem nem para ele, como é que ele vai me
ajudar a adquirir alguma coisa.” A incapacidade ou a ignorância, não permite que as pessoas
compreendam que cada ser humano tem um Odu, e um destino, e que isso não implica
diretamente na capacidade ou no discernimento do sacerdote na hora de analisar o problema
do consulente.
Vamos analisar a seguinte hipótese: Um Babalorisa com um baixo poder aquisitivo,
pode dar um bori em uma pessoa com muito dinheiro?
Bem algumas cabeças, não pensantes, acreditam que se isso acontecer a pessoa que tem
muito dinheiro pode ter prejuízos, na verdade, a falta de conhecimento provoca tais equívocos.
Cada pessoa tem seu próprio Odu,e seu destino, se uma pessoa que tem muito dinheiro,
tomar um bori,com um milionário ou com alguém sem dinheiro, não há diferença,no aspecto
financeiro.
Tudo que existe na terra nasce de um Odu, alguns Odus beneficiam mais a situação
financeira, como o caso do Odu Ogbe Meji, que é o Odu mais rico que existe.
Mas em contrapartida,um sacerdote nascido em outro Odu como um caminho de
Oturupon, a capacidade de cura é maior; então é bem possível que essa pessoa regida pelo Odu
Ogbe Meji, com muita sorte, em um determinado momento de sua vida vai precisar muito da
pessoa regida por Otutupon, para lhe fazer um ebó para combater uma enfermidade.
Se não existir a pessoa com o poder de cura, com o asé , para afastar a doença, o bem
nascido, regido por um belo Odu, pode perder a sua vida e deixar de encontrar a cura para o seu
problema.
E como dizem os antigos, “o caixão não tem gavetas" e todo o seu dinheiro não vai
resolver o seu problema da saúde.
Na cultura Yoruba somente Osetura tem o privilégio de chegar aos pés de Olodumare,
carregando as nossas súplicas; na religião tradicional não se invoca Deus a todo momento, é
diferente das outras religiões, para isso temos os Odus e Orisas.
139

E os sacerdotes são homens escolhidos pelos Orisas para estabelecer essa ligação, entre
o divino e o profano.
Em nosso país um Babalawo, ou um Babalorisa em razão do sincretismo religioso
Yoruba cristão, enfrenta um grande número de proibições que em território Yoruba seriam
motivo de riso.
Então o tal preceito parece até coisa de maluco, imagine que existe casas que não
permite que uma mulher mantenha relações sexuais com seu marido noventa dias depois e ser
iniciada para seu Orisa.
As pessoas que inventaram tais regras, eu não sei nem como descreve-las, na verdade
eu sei, mas por respeito ao leitor não o farei nesse espaço.
Em fim poderia ficar aqui escrevendo uma semana ou mais sobre tais questões, fruto da
maldade, ou da falta de conhecimento, mas prefiro definir isso como parte de um elo perdido,
que hoje graças a Olodumare pode ser reconstituído.
Ifá é aquele que tudo vê e que tudo sabe, vamos deixar nas mãos dele o esclarecimento
dos menos favorecidos.
Confundir um sacerdote com um Deus, é esperar dele milagres, um homem não faz
milagres, nem realiza graças, isso é tarefa das divindades. Conforme o merecimento de cada
um,as coisas podem ou não acontecer, acreditar no contrario,é o mesmo que acreditar que nossa
senhora é Osun.
Eu não sei quem é mais errado, o que promete, ou o que acredita em milagres.O homem
e o sacerdote nunca podem ser confundidos com Deus.
140

Impressão de Odú

Um exemplo com os quatro principais odus.

1. ogbe 2. oyekú 3. Ìwòrì 4. Odí

* * ** ** ** ** * *
* * ** ** * * ** **
* * ** ** * * ** **
* * ** ** ** ** * *

Qualidade de Orixa não Existe, Ifá?

“Quando os Orisas chegaram ao Brasil vieram pelas mãos de escravos oriundos de


várias partes do território Yoruba. Evidentemente isso gerou alguns problemas, entre esses
podemos citar, a diferença de nomes dados ao mesmo Orisa...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Hoje em dia me surpreende que algumas pessoas ainda tenham dificuldade em entender
o óbvio. Em cada região o mesmo Orisa recebe nomes diferentes, o que alguns escritores
definem como títulos dados em determinados momentos de uma louvação ou exaltação.
Fazer disso um mercado onde em cada moeda adicionada em um igba é criada uma nova
qualidade de Orisa, caracteriza uma total falta de capacidade ou uma certa esperteza visando
lucro. Osun é Osun, se em um lugar ela recebe o nome de Opara, Apara, Ponda, Panda, Iponda
ou Igimum, isso não cria um novo Orisa. Da mesma forma, não me permite colocar uma espada,
um facão ou até mesmo um arpão no igba de um Orisa que em nada tem ligação com esses
elementos.
O nome dado à divindade não muda o comportamento do Orisa e sim algumas questões
relativas à geografia e a flora. Exemplo como folhas, hortaliças e tubérculos usados para os
rituais, encontrados em algumas regiões e em outras não, mas em nada muda a essência.
Com um nome Osun é uma figura feminina de grande vaidade, em outro lugar e com
outro nome pode ser reverenciada como guerreira. Mas de forma alguma a mudança de nome
não cria uma nova Osun com mais ou menos idade e muito menos com um comportamento
diferente. Isso se aplica a todos Orisas.
Um exemplo que eu gosto de usar é Oloogun Ede, que foi transformado de guerreiro em
uma criança, e algumas pessoas chegaram ao exagero de colocar nesse grande Orisa um espelho
em seu igba. Não contentes, chegaram ao cúmulo de fazer o assentamento desse Orisa em uma
vasilha de louça.
141

Existe uma infinidade de situações interessantes que podemos citar. Os filhos de Osaala
são vitimas de um grande numero desses equívocos. Normalmente, para eles, são assentados
inúmeros Orisas que não comem dendê, no entanto sabemos que a proibição do uso de dendê é
restrita somente a Osaala.
No Orisa Esu então é impressionante o numero de erros. Tem os que levam chifre, outros
que tem rabo e até um com pedras de encruzilhada e um com tridente de ferro. Outros com terra
de cemitério e alguns que também levam tabatinga. Será mesmo que essa gente não conhece a
terra que vai em Esu? Existe até o que é considerado feminino, mas com um nome de um
Vodum que com o tempo ficou afeminado (uma Léba).
Isso deixa qualquer um que conheça um mínimo sobre o assunto apavorado com o rumo
que está seguindo nossa religião. Sabemos que nossas tentativas podem com o tempo
contribuírem com a mudança de mentalidade de alguns sacerdotes, mas também temos
conhecimento de que estamos contabilizando um grande número de opositores. Mesmo assim
não mudaremos nossa linha de atuação, buscando esclarecer nossos leitores.
142

Mitos e Ritos

“Ao longo dos anos alguns mitos foram criados, nessa oportunidade tentaremos aqui
auxiliar para que tais equívocos sejam esclarecidos...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Mitos, Ritos e Orunmila I

1-Deve dar azeite de oliva para Obatala?


Obatala come comidas temperadas com banha de ori,entre algumas coisas; não se usa azeite de
oliva conhecido como azeite doce para nenhum orisa.

2-Sango tem medo de Egungun?


Sango convive em perfeita harmonia com Egungun.

3-Existe vários orisas que não aceitam dendê?


Somente Obatala não aceita dendê.

4-Obatala não aceita bebidas de álcool.


Obatala não deve consumir vinho de palma.

5-Se deve colocar obé em vários Orisas?


Somente Ogun é o dono do obé,que serve para os outros orisas.

6-Vai quartinha com água em todos Orisas?


Em poucos orisas vai quartinha com água, os principais é Osun,Yemonja e Obatala.

7-Ogun pode ser arrumado em vasilha de barro?


Jamais, Ogun pode ser arrumado em vasilha de barro, somente em vasilha de ferro,Ogun pode
ser assentado.

8-Olooogun Ede pode ser arrumado em vasilha de louça?


Olooogun deve ser arrumado em vasilha de barro.

9-Os búzios das vasilhas dos orisas devem ser abertos?


Os búzios abertos servem somente para jogo, os búzios das vasilhas sempre devem ser fechados.

10-Osun não aceita pombo?


Os únicos impedimentos de Osun seriam os igbin e a banha de Ori.
143

11-Esu pode ser assentado com pedra de rio?


Jamais Esu deve ser assentado com pedra de rio.

12- Sango deve ser assentado com pedra de rio?


Sango somente pode ser assentado em edun ara.

13-Agamju é assentado em edun ara?


Não, somente dois orisas levam em seu assentamento edun ara e não é Aganju.

14-Iya mi só deve ser cultuada por mulheres?


O culto a Iya mi está ligado a fecundidade, então não poderia haver fecundidade sem a presença
de ambos os sexos.

15-O culto de Egungun é somente praticado por homens.


Toda mulher tem antepassados masculinos que devem ser homenageados.

16-Iya petebi é um cargo que todas as mulheres de Osun podem ocupar.


Iya petebi é uma função da mulher do Babalawo ,independente do orisa que ela cultue.

17-Existe qualidade de orisa?


Não existe qualidades de orisa,o que existe são nomes diferentes, em lugares diferentes dados
ao mesmo orisa.

18-Sango não aceita obi?


Sango prefere orogbo,mas aceita obi.

19-O orogbo deve ser aberto com faca e descascado para oferecer ao orisa?
O orogbo não deve ser aberto com faca e não deve ser descascado para oferecer ao orisa.

20-O sacerdote não deve iniciar seus filhos carnais?


O sacerdote não só pode como deve iniciar seus filhos carnais existe um odu de Ifa que fala
sobre a iniciação dos próprios filhos.

Em outra oportunidade seguiremos com essa forma de abordagem por entendermos ser de fácil
compreensão para todos que estão se iniciando na religião tradicional yoruba,ou até mesmo
para as pessoas que ainda não conhecem nossa religião.

Mitos, Ritos E Orunmila II


144

1-As pessoas que não foram feitos para o seu Orisa, iniciados como se diz no Brasil, podem ser
iniciados no culto a Egungun ?
Certamente pois todas pessoas tem antepassados, se após uma consulta a Ifa houver a
necessidade ,sim uma pessoa pode até ser iniciado como Ojé.

2-Uma pessoa iniciada em Orisa pode ser também ser iniciada como Ojé?
Se essa for a orientação de Ifá, uma mesma pessoa pode ser inicia da em vários Orisas, assim
como no culto de Egungun, e na egbe de Iya mi,Oro, podendo também ser Ojé,ou até mesmo
um Apena Ogboni, tudo depende do seu odu, assim como tem pessoas que devem ser feitas e
outras somente iniciadas.

3-Ifá é para todas as pessoas?


Deveria ser, mas em nosso país as pessoas desconhecem essa necessidade, mal comparando se
o Orisa é o veiculo que vai te transportar por toda uma vida, Ifá é o mapa da estrada, a
orientação, o caminho pelo qual você deve seguir com o veiculo.

4-Existe a necessidade de ter um igba ori para dar comida a minha cabeça?
Não existe essa necessidade, na realidade o igba Ori só deveria ser montado após a pessoa
consultar Ifá e ter conhecimento de seu odu, na consagração do igba é fundamental conhecer
o odu e os Orisas que devem ser cultuados.

5-Uma pessoa pode usar um obé em rituais de Orisa sem ser iniciado no culto de Ogum?
Na verdade eu já vi isso acontecer muito, deve ser por desconhecimento, alguns rituais se
perderam, uma pessoa que não foi iniciada em Ogum não pode usar Obé, uma pessoa que não
foi iniciada no culto de Osun jamais pode atender alguém com o jogo de búzios.
Assim como alguém que jamais foi iniciado como Alabe, deve tocar um instrumento de ritual
religioso que foi devidamente consagrado.
Embora tudo isso seja parte do nosso dia a dia ainda existe pessoas que conhecem e praticam
os rituais de forma correta.

6-Em uma casa durante os rituais de feitura de Orisa, pessoas que não foram iniciadas podem
participar?
Quero deixar bem claro aqui, que uma pessoa iniciada, quando muito pode participar de uma
iniciação, mas jamais deve participar de uma feitura.

7- qual a diferença entre os Obés usados em rituais de Orisa?


Foi criado uma variação de formas para consagrar os Obés, mas todo obé deve ser consagrado
em Ogum, sendo assim não existe diferença entre um e outro obé, a diferença é uma opção de
escolha ou uma questão de pratica no uso, conforme o ritual que vamos praticar.

8-Qual a quantia de búzios deve usada no merindilogun, para consultar os Orisas?


O próprio nome está dizendo merindilogun (dezesseis) o número dezesseis é muito importante
na religião tradicional yoruba.
145

Existem alguns casos que podem ser consagrados mais de dezesseis búzios, isso pode acontecer,
para substituir os usados em jogo por desgaste.

9-Existe uma regra que deve ser seguida na ordem dos rituais para os Orisas?
Cada situação é determinada por Ifá, se houver a necessidade de culto a um Orisa que
normalmente não é cultuado no dia a dia, devemos seguir a orientação de Orunmila; não existe
uma receita cada pessoa tem seu próprio Ori,e cada Ori pode exigir um ritual diferente do outro,
assim como cada Orisa,a história do bori com peixe ninguém mais aguenta, é como se todas as
pessoas tivessem as mesmas necessidades em seu destino.

10-Toda pessoa tem um cargo na religião?


Na religião como na vida de um modo geral, existem diferentes funções, mas cargos só podem
ser determinados por Ifá.

Mitos, Ritos e Orunmila III

1-É necessário ser feito para Orisa para ser iniciado no culto de Iya mi?
Na verdade existe só uma indicação forma para ser iniciado em Iya mi, Ifá é quem indica essa
iniciação.
Normalmente isso acontece quando aparece na consulta a Ifá um determinado odu.

2-Todo mundo pode ser inciado no culto de iya mi?


Como expliquei na pergunta anterior, não é toda pessoa que pode ser iniciada no culto a Iya mi,
tanto homens como mulheres necessitam indicação de Ifá para essa iniciação.

3-Existe qualidade de orisa?


Não existe qualidade de orisa, ou caminho de Orisa;no Brasil se usa muito essa expressão, mas
na verdade toda Osun é uma só, o rio Osun em Osogbo é um só, existe sim várias denominações
para o mesmo Orisa.

4-Como fico sabendo se preciso ser feita para o Orisa?


Somente existe uma maneira de saber se você precisa ou não ser feita ou iniciada para um
Orisa,em uma consulta a Ifa ou através do merindilogun.

5-Preciso esperar sete anos para jogar os búzios?


Essa pratica foi inventada em alguns lugares do Brasil,em nenhum outro lugar do mundo existe
isso;na religião tradicional o (jogo de búzios) Merindilogun é preparado no exato momento da
feitura do Orisa.
Deve existir sim a autorização para atendimento, se a pessoa não estiver preparada para isso, o
jogo deve ser usado para um contato pessoal do iniciado com seu Orisa.
A autorização para atender outras pessoas varia de pessoa para pessoa, eu mesmo conheço
pessoas com mais de trinta anos de feito que não sabe jogar.
146

6- Quantos anos são necessários para abrir uma casa de culto afro?
Cada pessoa é uma história diferente, existem pessoas que nunca poderão abrir uma casa porque
não nasceram para isso.
A dedicação e o conhecimento devem servir de base para essa autorização acontecer.

7- Dentro do barracão é verdade que os abikus tem apenas que ser confirmado no santo e não
raspados?
Na verdade,isso é só mais um mito que existe,muitas pessoas que nasceram abiku e foram
raspados,continuam suas vidas normalmente.
As pessoas abikus podem ser feitas,iniciadas e confirmadas,tudo depende da indicação de ifá.

8- Iya mi só poder ser cultuada por filhas de Osun?


Não existe isso como eu já expliquei,todas as pessoas pode cultuar as Iya mi,isso sim depende
de uma indicação de ifá,a pessoa sendo feito de Osun ou de Obatalá não faz diferença.

9-Como possa saber se sou abiku?


Somente através de uma consulta a Ifa,ou Merindilogun.

10-O que fazer se fui feita no Orisa errado?


Não existe uma maneira de consertar isso fazendo outro Orisa na verdade tudo isso é bem mais
simples que parece, constatado o erro a principal atitude é tratar os dois Orisas em igualdade, o
(orisá) que deveria ter sido feito e o outro (orisá) que foi feito, devem ser cultuados de forma
bem semelhante.
É claro que existem algumas particularidades para manter isso tudo em harmonia.
147

Ìya Odu o Mais Importante de Todos Orixas

Ìyá mi Odùlógbòjé

Ìyá Odu, o mais importante assentamento no culto aos òrìsàs, representa o útero materno
gerador dos odus que dão origem a tudo que existe no universo. Ela também representa a
capacidade adquirida pelo Bàbàláwo de assentar qualquer òrìsà inclusive àqueles que ele não
foi iniciado.
Se todo òrìsà nasce em um odu, e o Bàbàláwo tem o assentamento de ìyá odu ele pode
invocar o odu de origem de qualquer òrìsà.
Para ser feito uma cerimonia de Itelodu existe a necessidade de ter o assentamento de
Iya Odu que deve ser alimentada, no itefa ìyá odu é alimentada de outra forma e não é
necessário o assentamento.
No território Yoruba é comum encontrar Bàbàláwos antigos que tem somente três
assentamentos, Èsu, Òrúnmìlà e Ìyá Odu.
Umas das diferenças entre um Bàbàláwo e um Babalórisá, é que um Babalórisá, só pode
assentar orixás que ele foi iniciado, um Bàbàláwo pode assentar qualquer òrìsà, para isso ele
tem que ter conhecimento e o assentamento de Iya odu.
Em território Yoruba as famílias do culto a ifá consideram que um awo que não tenha
sido apresentado para Ìyá odu durante o seu Itelodu, não é reconhecido como Bàbàláwo.
O assentamento de Ìyá Odu é aberto somente em situações muito especiais como nos
itelodus e no odun Ifá.
As mulheres e os homens que não foram submetidos ao Itelodu não podem ser
apresentados para esse assentamento sobre o risco da responsabilidade de tal ato cair sobre o
portador desse assentamento.
Em razão de existir um juramento feito pelos Bàbàláwos diante de Ìyá odu de jamais
divulgar o conteúdo do assentamento não entraremos em mais detalhes, esse assentamento é o
maior segredo do culto aos òrìsàs.
148

Frases do Babalawo Ifagbaiyin Agboola


Ifá é o mapa do caminho, e o Orisá o transporte que vai nos levar na estrada da vida.

Durante todos esses anos eu já ouvi tantas inverdades, crendices e lendas que não me admiro
ver tantas novidades em nossa religião.

A inveja é como um tiro depois que o projetil foi disparado e acertou o alvo o primeiro passo é
estancar o sangramento, mantendo a distancia desse povo.

Oferecer peixe e canjica para todas as cabeças é um atestado de incompetência comum aos
supostos sacerdotes.

Se o Ori esta ligado ao odu, e existe 256 odus diferentes, a grosso modo, teríamos no mínimo
256 tipos de bori. Mas a verdade é que esse procedimento não segue nenhuma regra e sim, uma
orientação de Ifá ocasional.

Cada pessoa em um determinado momento da vida, necessita de um tipo de bori, que supra as
suas carências, é responsabilidade do sacerdote identificar as mesmas com precisão.

Em nosso país, precisamos de um grande movimento buscando formas de informar melhor


sobre nossa religião.

No dia-a-dia é flagrante a falta de um material para a pesquisa dos interessados em aprender


sobre o culto aos orisas.

Eu sempre digo que o homem está ficando tão pretensioso que já criou regras para o
comportamento das divindades, e quase sempre termina se esquecendo de perguntar aos
mesmos, e coloca sua opinião como sendo a verdade.

Essa pretensão pode acontecer por várias razões: falta de conhecimento ou falta de caráter, mas
sempre quem paga o preço é o iniciado.

È permitido sim a permanência de mulheres nos rituais para egungun, eu não acredito quais
seriam os objetivos de tais rituais que não fossem os de manter a família e a estrutura de um
povo sem que a presença da mulher deixe de ser fundamental.

Uma pessoa deve sim cultuar egungun de sua família, assim como o egungun da família de
orisa a qual ela foi iniciada; cultuar um egungun de alguém que não tem nada em comum com
você é no mínimo desperdício para não dizer total desinformação.

Quanto a questão da roupa volto a dizer de forma bem clara, quem quiser acreditar em historia
de faz de conta que assim o faça, somente quem conhece os rituais de preparação de uma roupa
de egungun sabe a importância da mesma na preservação dos membros ali envolvidos.
149

Quanto ao fato de usar egungun para fazer maldade, eu sei que faz parte da historia humana
lançar mão de tudo que é possível para atingir seus intentos, mas é bem verdade que se amamos
um egungun e o respeitamos jamais pediremos para interferir em nosso beneficio causando
qualquer tipo de dificuldade ao outro

Muito se tem falado sobre Iya mi, mas pouco se tem divulgado dos detalhes do culto a esse
orisa, na verdade pouco se pode divulgar e isso todos compreendem, quando alguém tenta falar
um pouco mais imediatamente, vira alvo de criticas quase sempre feitas por pessoas que nem
são iniciadas.

Continuar voltando a terra para ver seus descendentes é um prazer, participar da vida da
comunidade ou da família possibilita ao individuo eternizar-se, entrar para historia e ser louvado
por seus descendentes.

Quando o imule é feito com Iya mi, a pessoa ao contrario do que se pensa desperta uma energia
que ela já possui, que somente com um ritual adequado e conduzido por pessoa habilitada
justifica essa relação homem divindade trazendo benefícios para o individuo.

Os orisas fecharam os olhos e ainda fecharam a boca .É natural que o orisa tenha um idioma de
origem, o yoruba, mas orisa é sabedoria e o que adiantaria um orisa falar somente yoruba em
uma terra que se fala português?

Entrar em um barracão e ver um orisa de olhos fechados sendo conduzido para um lado e outro,
saber que ele deixou de falar e que só vem ao mundo para dançar, me faz ficar em casa

A intenção, quando da criação desse texto chamado búzio para iniciantes, em nenhum momento
foi de ensinar as pessoas como jogar; a ideia é falar sobre a dualidade e o odu.
Fato esse ignorado por muitos em nosso país.

Durante a o processo de transferência dos orisas para o novo mundo, muito se perdeu, com o
passar do tempo, a falta da escrita, e a intolerância cravaram fundo a faca da desinformação em
nossa herança cultural

Eu poderia ficar aqui escrevendo por muito tempo, a lista do que foi transformado ou perdido,
é muito longa, mas prefiro pensar no que restou e no que podemos recuperar, até por que, quanto
mais exemplos eu citar, mais aumentarei a ira dos desinformados

Então a escolha do individuo permanece como o ponto fundamental em todas a situações, o


acerto, ou o erro vai caracterizar o sucesso ou o fracasso de uma iniciação.

Cultuar Orunmila é cultuar a informação a sabedoria e a filosofia do povo Yoruba, é ter como
regra de vida os sagrados versos de Ifá, o orisa do oráculo ,e sua eterna orientação como
ensinamento que deve ser usado diariamente.
150

O culto a Ifa se completa com os demais por que se você desconhece seu orisa como poderia
reverenciar o mesmo. Como pode cultuar seu antepassado tudo acontece simultaneamente e se
completa.

Eu me surpreendo quando as pessoas iniciadas ainda não conhecem algumas coisas básicas no
culto aos orisas , feminino e masculino interagem buscando assim a fecundidade.

Olhando com calma o Igba de um Orisa (vasilha do assentamento) vamos perceber claramente
os componentes femininos e masculinos ,tudo em um perfeito equilíbrio

É bem verdade, que considerando tudo que nossos antepassados tiveram que enfrentar, diante
das dificuldades da escravidão, muito foi conservado e pouco seriam os ajustes a ser feito, agora
é responsabilidade nossa corrigir o curso da historia indo de encontro as nossas raízes e
melhorando nossa relação com os nossa origem.

Eu sempre digo para as pessoas que tudo vai depender por qual ângulo estamos olhando dizer
que um abiku tem dificuldades na vida é verdade, mas quem não tem?

Eu já atendi algumas pessoas abiku muito bem de vida em todos os sentidos enquanto outros
que não tem esse problema vivem um verdadeiro pesadelo .

Falar de algo que não se conhece ou nunca se viveu é um grande erro, cabe a nós encontra uma
forma de divulgar a mais pura verdade sobre esse assunto.

È claro que tudo é muito mais complicado que parece, tal situação requer muito conhecimento
por parte do sacerdote, que se arvore como conhecedor, ele pode colocar muitas vidas em risco
inclusive a sua.

Eu sempre me digo uma pessoa calma , mas diante de tantas asneiras sendo ditas sobre Iya mi
na internet, minha paciência desapareceu, chamar a mãe da terra de bruxa, é no mínimo
desinformação

Os yorubas acreditam que o culto a egun serve para harmonizar a pessoa com o passado, mas
principalmente para reverenciar aqueles que contribuíram para a nossa existência, pois como
todos sabemos sem passado não existe presente e muito menos futuro.

No natal vejo que existe uma tendência quase que natural das pessoas parecerem e se
comportarem de uma forma estranha, muitas vezes forçando uma situação que na maioria das
vezes não beneficia ninguém, todos parecem muito generosos.

Alguns membros de nossa religião que durante o ano parecem grandes raposas, havidos por
dinheiro, conseguem com um esforço sobre natural fazerem gestos, se não ridículos, pelo menos
de mau gosto; se você tem uma camisa rasgada que não usa mais ao invés de doar para uma
pessoa pobre de para o seu cachorro dormir
151

No ano passado na véspera do dia das mães, eu vi uma propaganda que dizia, se você realmente
ama sua mãe de um diamante para ela, isso quer dizer que uma pessoa com baixo poder
aquisitivo não teria condições de amar sua mãe?

Na realidade a criatividade para tomar o dinheiro do povo em cada feriado, seja ele de natal ou
não, se multiplica, e em nome de uma religião ou de um falso objetivo, muitos se beneficiam.

Um dia quem sabe poderemos de fato festejar datas significativas sem ser induzidos ao
consumo, vamos nos unir pelo prazer do amor, ou da amizade, ou pelo simples dever de ajudar
os nossos semelhantes; longe da promoção e dos benefícios de parecer um bom sujeito.

Minha mãe Idelzuita me disse, quem tem a unha maior sobe o muro primeiro, que eu posso
fazer se fosse rói suas unhas?

Você pode esconder por algum tempo a verdade, se promover por alguns instantes, e até usar
artifícios para enganar as pessoas de bom coração, mas na realidade sempre vai existir, o Orisa,
ele vai se encarregar para que você nunca esqueça; sua lembrança vai ser o seu maior pesadelo.

Então meu irmão, seja verdadeiro, seja honesto, seja digno, seja o que o seu Orisa espera de
você.

Que diante desses falsos Mecenas que incentivam grupos infantis para dançar enquanto a
metade da verba do show serve para a reforma da piscina ou até mesmo para aquela viagem tão
esperada para Europa, existe mil maneiras de tornar de forma quase magica um canalha em um
benfeitor

Mas como tudo não é um mar de rosas, tive a oportunidade de ver coisas que seriam capaz de
deixar qualquer pessoa de cabelo em pé.

Me parece que quanto mais viajo, mais loucuras eu vejo, faz alguns meses que conheci um
famoso Babalorisa no centro do país, que é de Osun, e seu exu é a pomba gira rainha, porque
ele disse que todo Orisa tem um escravo.

Graças aos Orisas, eu não me cruzo no meu dia a dia com esse tipo de gente, porque na verdade
não sei exatamente o que eu seria capaz de dizer a essas pessoas.

Espero do fundo do meu coração, que um dia tudo isso mude, mas na verdade não acredito que
isso possa acontecer por bem, teria que ser na marra porque esse tipo de pessoa deve mesmo é
ser julgado e condenado

As vezes não sei definir com precisão o sentimento que toma conta de mim, não sei se é raiva
desprezo ou vergonha, mas o importante é que a indignação não me deixa ficar calado
152

Se você for a uma igreja, de qualquer outra religião, você vai ver um líder e vários seguidores,
na nossa religião, você vai ver um líder e um grupo enorme de pretensos lideres, gravitando à
volta, aguardando uma oportunidade de ascender ao poder.
Todos sabemos que com a geladeira vazia e com a conta da luz atrasada, alguns indivíduos
vendem títulos e recebem mensagens diretas dos Orisas gerando assim uma falsa expectativa.

Um assentamento de orisá, virou um investimento.


Os menos avisados rezam hoje pensando em acordar ricos amanhã; dentro de pouco tempo
provavelmente será criado um contrato, a onde devera constar o valor aplicado e a pretensão de
retorno

Não é errado pedir ajuda ao orisa ,mas a grande maioria das pessoas também deveriam trabalhar

Fico me perguntando, até quando poderemos manter essa religião tão linda, com tanta falta de
Cultura

Algumas pessoas estão se sentindo verdadeiros proprietários dos orisás, chegamos ao ponto de
achar que o orisá tem o dever de nos deixar ricos, ou dar caminho para isso, caso contrario, ele
não esta mais servindo.

Essa é a razão porque insisto na melhor preparação de nossos representantes, de nossos


sacerdotes, todos esses problemas podem ser identificados antecipadamente por um sacerdote
com um real conhecimento, evitando assim sofrimento e desilusão.

Quando temos fé, sentimos que não estamos sozinhos, que uma força existe dentro de nós, mas
às vezes não podemos dar um nome a ela, sentimos sua presença, precisamos desenvolver um
maior conhecimento, sobre tudo que está acontecendo.

A crença é necessária em todos os momentos, precisamos acreditar, mas também conhecer o


que acreditamos, fé sem conhecimento é alienação.

Em um mundo, onde quase tudo é aceitável, onde status e beleza viraram religião e o número
de filhos, é sinônimo de asé.

Fora da realidade, com todo o seu orgulho, divulgará aos olhos da ilusão, a continuação de um
ritual, onde a preocupação é o luxo e a necessidade de apresentar para aquela casa, mais um
membro, ou seria apenas mais um número, ou mais um troféu?

Hoje, o que vemos, por ai, não são casas preparadas, preocupadas em colocar os filhos em
sintonia com o orixá, mas o iniciado em sintonia com as necessidades da casa.

É a capacidade de transformar, é a força da fé, é a verdade nua e crua, é a realidade; não aceito
mais a ilusão, não vou compactuar com a mentira a mediocridade e a ignorância que se instalou.
153

Todos os dias quando acordo e faço minhas orações, me emociono com a beleza de nossa
religião, fico viajando em meus pensamentos, vou a terra de nossos antepassados e me
comunico com os Orisas; sinto nesse momento uma alegria muito grande de fazer parte dessa
religião, de ter meus Orisas, e de ter o privilégio de conhecer Ifá.

Percebi que meu caminho está traçado e que um grande número de pessoas pode não gostar do
que eu escrevo, mas que um pequeno grupo de pessoas a partir desse trabalho começaram ver
nossa religião de uma forma mais positiva.

Sei que assim como eu, existe um grande número de pessoas querendo uma mudança, existe
um grande número de pessoas que não suportam mais os desfiles de moda, o luxo e a vaidade
de algumas pessoas, que confundiram nossa religião com carnaval ou coisa bem pior.

A mentira não deve ser vista como o inverso da verdade e sim como a intenção maldosa de
enganar e envolver em nome do divino.

Que fato estranho é esse que nosso povo se comporta com tal dificuldade de aceitar os seus
compatriotas como pessoas comuns, porque sempre somos vistos, por nossos irmãos como
sendo inferiores.

Quando um médico sai da faculdade e ele formado nós o chamamos de enfermeiro? Não, nós
o chamamos de médico; quando um aluno se forma na faculdade de engenharia nós o chamamos
de mestre de obras ou de engenheiro? O sacerdote que passa por todos os rituais de iniciação
deve ser reconhecido pelo titulo que recebeu.

Sacerdote passar por rituais, não o habilita a realizar os mesmos, mas o torna reconhecido como
tal.

Devemos estar abertos ao diálogo, as mudanças e as transformações estão acontecendo na


natureza a todo momento, porque não aconteceria na nossa religião?

Eu gostaria de ser indiferente a tudo isso, não consigo, não sei se vocês já sentiram essa sensação
que não tem como ficar calado.

A situação fica te incomodando e você sente a necessidade de falar, vocês já sentiram isso? É
uma mistura de indignação com a sensação que você foi roubado e que nada vai acontecer, é
mais um daqueles crimes que você não tem para quem reclamar.

Quando uma pessoa procura um sacerdote, muitas vezes espera encontrar um Deus, e muito
raramente aceita que ele seja um homem, ela procura milagres, e o mais fácil, o óbvio, parece
uma tolice e não uma solução.

Você conhece aquela pessoa que fala mal de todo mundo?


154

Bem ele certamente vai falar mal de você também, no meu caso prefiro manter distancia desse
tipo de gente, parece simplista, mas é objetivo, com esse comportamento evito inúmeros
problemas.

Quando comecei a escrever em meu blog e resolvi criar uma comunidade, eu sabia das
dificuldades que encontraria ,imaginava encontrar opositores sacerdotes que têm uma formação
diferente da minha,isso tudo seria natural porque sabemos que existem algumas questões que
automaticamente geram polêmicas.Nunca imaginei que teria a dolorosa missão de contrariar
inúmeros amigos

O fato de ser aceito, em vários seguimentos religiosos distintos em território Yoruba, me


envaidece, mas aumenta muito a minha responsabilidade.

A honestidade é uma qualidade de ser verdadeiro, não mentir, não fraudar, não enganar, e
deveria ser a principal característica de um sacerdote.

É difícil acreditar que alguém use o nome de um Orisa em seu próprio beneficio, mas isso está
se tornando muito comum, em nome dos Orisas atos são proferidos e verbas são liberadas,
documentos são assinados, acordos são ignorados, pessoas são iludidas.

A obediência incondicional às regras existentes, dentro e fora da religião, faz de um sacerdote


um exemplo de comportamento, um elemento em permanente destaque, então olhe bem meu
colega, a onde você pisa e por onde você transita.

Não acorde reclamando porque que a vida não lhe sorri, sem antes examinar o seu
comportamento, e as suas atitudes.

Não existem procedimentos para burlar a verdade, mudar a realidade, os Orisas jamais mentem,
pode até acontecer uma interpretação errada do sacerdote, mas nunca um erro do Orisa, o Orisa
não erra e não mente.

Exercer o sacerdócio com honestidade em caráter amplo é muito difícil, mas é o mínimo que o
Orisa espera de você

Não estou aqui para julgar ninguém, mas acredito que usar uma pele de cordeiro durante o dia
e se transformar em fera durante a noite, não é o caminho.

Quando lhe procuram para uma consulta, honre a sua religião, honre o seu Orisa, seja digno de
seus antepassados, seja honesto.
Aquele que fala em nome dos Orisas tem obrigação de dizer sempre a verdade!

Certamente que encontrar a essência do orisa, não é ir à áfrica, existem várias essências no
ritual de culto aos Orisas, nunca deveríamos confundir com ir até as origens.
155

Eu pessoalmente acredito que toda pessoa que pratica a história do depois, tem um ou outro
problema, ou não sabe, ou tem insegurança sobre o que sabe e se a procedência é verdadeira.

Fica então um alerta nos dias de hoje, se não nos propomos a ensinar nossos filhos, a internet o
fará. E será que ele terá condições de eleger os melhores textos para ler?

Com certeza a nossa religião perdeu muito no dia de hoje com a morte desse grande sacerdote,
mas estamos perdendo tanto e a tanto tempo que a grande maioria das pessoas já se acostumou
a serem perdedores.

A escolha de um sacerdote para lhe orientar em sua vida espiritual, deve seguir um cuidadoso
sistema aonde você é a prioridade, trazer para sua vida um elemento que você desconhece pode
comprometer o seu futuro. Além de comprometer sua vida espiritual, você muitas vezes, pode
ter grandes prejuízos em sua saúde. O envolvimento com pessoas que muitas vezes não
correspondem a um comportamento moral adequado pode traumatizar e criar sequelas que
jamais serão curadas, afastando para sempre o individuo de sua crença

A insegurança e o medo, se explica mas não se justifica, muitas vezes a mentira é antecipada
pelo comportamento, tudo poderia ser previsto, só não poderia ser explicado.

O perdedor na verdade quase sempre ganha, é melhor só que mal acompanhado.


O homem não precisa ver o que está acontecendo para saber que tem alguma coisa errada,
muitas vezes ele sente tudo a sua volta, e quando o orisa quer a verdade aparece.

Deixe o tempo passar e os problemas poderão ser solucionados, suas tristezas vão diminuir, e
certamente você vai sair dessa uma pessoa mais forte, mais experiente e mais segura, não vai
lhe fazer falta o que você nunca teve, pelo menos da maneira que você pensava.

Pode acontecer que você tenha somente uma vasilha com uma pedra dentro e que esteja cercado
de pessoas que jamais deveria confiar.

Até ai estaria tudo correto é a história do vencedor sobre o vencido, natural e em todos lugares
podemos sentir isso, porém é natural que com o tempo as pessoas consigam cortar tais
influências,e terminem valorizando grande parte da essência original de uma cultura.

Quando falamos das religiões, podemos citar claramente uma tendência, cada vez maior, dos
católicos visitarem Roma na tentativa de se aproximar de sua raiz, o mesmo acontece com os
Judaicos, e também com os muçulmanos que constantemente viajam para suas terras de origem
buscando informação e aumentando o conhecimento religioso e filosófico.

Isso é só um detalhe, em nossa terra ainda existe quem leva o iyawo na igreja para rezar.
A minha pergunta é: será que nossos irmãos ignoram suas raízes ou admiram a origem de outras
culturas; ou, seria pior ainda, tem vergonha da real condição de nossa essência?
156

As informações estão a disposição das pessoas, mas a boa vontade em aprender tem que partir
delas, e o esforço para retirar de suas vidas o preconceito, vai exigir muito; temos que estar
preparados para o encontro com nossas raízes que certamente não é em Roma, e muito menos
em Salvador.

Eu não vou à missa e não comungo porque não sou católico, não tenho nada contra os católicos,
mas me incomodo muito com as pessoas que cultuam Orisa de forma católica, só falta fazer o
sinal da cruz antes de oferecer uma comida a Ogun.

Imagine o sujeito que adorou os Orisas, durante toda sua vida, quando ele morre, quem faz o
ritual é um sacerdote de outra religião, totalmente indiferente à fé do falecido, isso é inaceitável.

A crença daquele que deveria ser naquele momento reverenciado, termina sendo ofendida, e tal
circunstancia provoca todo tipo de constrangimentos, tanto para o sacerdote chamado naquele
momento como para as pessoas da família do falecido.

Pobre daqueles então, que já nascem sem que o sacerdote de suas famílias, tenham condições
de oficializar um simples batizado, imagine que durante toda a gravidez, a mãe pediu para Osun,
que seu filho nascesse saudável; agora quem oficializa o batismo, não permite se quer ser que
seja mencionado o nome de um orisa

Muitas vezes alguns Orisás são apresentados em festas publicas, com roupas caríssimas
reproduzidas em modelos que pertencem ao período colonial português, confeccionadas em
tecidos denominados em Francês e complementadas por capacetes dignos de uns centuriões
romanos, coisas de causar ciúme a qualquer carnavalesco.

O hábito cada vez mais frequente da ostentação e do desfile de modas, já faz parte do nosso dia
a dia, mas, se uma roupa tradicional Yoruba no esta do de São Paulo pode ser comprada por
menos de cem reais, porque o uso então de tais indumentárias.

O sujeito que coloca a foto do seu carro importado em um espaço dedicado para falar de orisa,
na verdade está querendo demonstrar poder aquisitivo, isso não representa asé, e sim
autoafirmação.

Essa situação deve causar tristeza, provocando em nossos antepassados, indignação e angustia;
como podemos honrar nossos antecessores, se nos permitimos influenciar por culturas
antagônicas a nossa crença.

Ao longo da história da humanidade o homem vem desenvolvendo uma série de atividades,


criando assim uma maior condição de sobrevivência, e desenvolvendo uma capacidade de
adaptação aonde o principio básico é a manutenção da vida

Nesse período a crença em uma força superior auxiliou muito na manutenção da esperança e na
compreensão das perdas assim como, estimulou a capacitação moral e ética.
157

Com o passar do tempo muito se tem escrito sobre a verdadeira função do sacerdote dentro da
religião afro-brasileira, mas a impressão que eu tenho é que quase nada foi esclarecido,

Quando vemos uma criança apontar um coleguinha como sendo o culpado por uma de suas
travessuras, já podemos imaginar como vai ser o futuro dessa pessoa se não houver a
interferência dos pais.

Quando uma consulta a um sacerdote acontece, nos desnudamos e assumimos nossas falhas, e
nossa real condição de impotência para lidar com o desconhecido ou com o inesperado.

A condição de solucionador de problemas do corpo e do espírito, não é verdadeira, na realidade


o sacerdote, é somente um elo de ligação, entre a solução e o problema, isso não justifica
algumas vaidades exteriorizadas

Quando analisamos do ponto de vista ético, um orientador, jamais deve afastar uma pessoa de
sua religião, e sim fortalecer nela aquilo que naturalmente se desenvolveu: confiança,
credibilidade e esperança; jamais tal comportamento deve unir o adepto ao emissário e sim a
divindade.

Assumir tais erros, é um ato de coragem, e sem dúvida, é uma questão ética, considerando o
fato que, além dos interesses envolvidos, houve uma expectativa gerada, nada mais justo que
um resultado positivo seja sentido, e a resposta aos questionamentos venha como solução ao
problema.

Se isso é positivo ou não, cabe a cada um fazer a sua própria analise, mas vou tecer um pequeno
comentário, para um Yoruba, não existe a possibilidade de uma pessoa se dedicar a tantas
culturas, e obter êxito, pois somente a religião tradicional yoruba, já seria o suficiente para um
ser humano dedicar toda sua vida estudando.

Caminhando de cabeça baixa, olhando em minha máquina, as fotos que já tinha tirado, distraido,
fui levado pelo destino, ao encontro dela.

Levantei a cabeça, e ela estava diante de mim! A emoção, não impediu, que eu tirasse uma bela
sequência de fotos.

Que crime o nosso amor cometeu que é obrigado a ficar entre linhas em um texto por nós já
escrito, mas ainda não divulgado.

Sei que em pouco tempo as fotos aqui postadas, vão correr o mundo, e muitos serão aqueles
que vão se dizer, proprietários das mesmas, as fotos podem ser levadas, mas a emoção que vivi
jamais alguém vai me tirar.
158

A curiosidade e muitas e a maldade, contribuem para uma enorme confusão, algumas pessoas
não conseguem entender que o sacerdote, também adoece, ama, e tem problemas como todo se
humano.

Não me falem da falta de conhecimento de poucos, me falem da sede de aprender de muitos,


pois é para essas pessoas que escrevo.
159

Anyàn a Consagração de um Onilu

“Tenho assistido ao longo dos anos, algumas consagrações de ogáns e fico espantado
com o que vejo, já vi homens serem carregados sentados em uma cadeira através do salão
como também já vi filas de orisás para se curvarem para alguém que se quer tenha agua de
quartinha na cabeça, mas por ser intimo do sacerdote tem a mão beijada a cada dois
minutos...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Há consagração da pessoa que vai tocar um ilu, é muito além de ser parceiro de festas,
regadas por cervejas, com experientes instrumentistas.
O conhecido no Brasil como ogán, consegue o prestigio e o respeito dos adeptos do
culto aos orisás, pela sua trajetória de vida, pelo seu conhecimento e pela sua habilidade para
lidar com os instrumentos, considerando um dom natural para a música.
A música no culto aos orisás tem varias funções:
Um ogán deve ser feito para o seu orisá, e pode ser iniciado em inúmeros orisás, mas o
fundamental é que seja iniciado no orisá Anyàn.
A iniciação em Anyàn tem varias fases, depois de uma consulta a ifá, o iniciado que
primeiramente deve ser feito para o seu orisá, passa por uma cerimonia onde envolve um bori
e um recolhimento com o tambor (ilu), que é alimentado com galos, frutas, inhame, eko e outros
alimentos.
O ilu repousa sobre um pano branco durante três dias, posteriormente em um ritual com
ou sem festa publica outros ogáns, mais antigos conduzem o ilu segurando pelo pano branco,
através do salão, o instrumento até o seu novo iniciado esse depois de parabenizado prepara os
instrumentos e pela primeira vez percuti sua mensagem aos orisás.
Esse ritual é muito bonito, e quase sempre se segue a manifestação de alguns orisás, que
vem confirmar a veracidade desse ritual, dançando diante do novo iniciado em Anyàn, que ai
sim de posse dos seus instrumentos, poderá ser chamado de “Onilu”.
Existe uma confusão entre Ayán (madeira), usada em alguns rituais para sango e a
divindade dos tambores Anyàn, que na tradição yoruba normalmente é cultuada dentro de
famílias dedicadas a comunicação com os orisás, através de instrumentos de percussão.
Obs: não gosto de usar a palavra ogán para definir um instrumentista, mas faço isso no
momento para um bom entendimento, prefiro usar a palavra Onilu.

Oríkì Onilu
(Louvando o espirito do tambor)

Iba fsa laalu, ologun ode, laaroye ago – ngo – lago, alamolamo o bata,
Eu respeito o espirito do tambor, dona da medicina da floresta, mensageiro Alamolamo o bata
(tambor), mensageiros dos sons e da luz.
160

A fe bata ku jo lamolamo, sekete peere, sekete peere, onile erede,


Eu toco o tambor para despertar os espíritos da terra

Okunrin firifiri ja pi, okunrin firifiri ja pi, okinrin firifiri ja pi,


Para que os homens venham imediatamente, os homens devem vir imediatamente, os homens
devem vir imediatamente. (responder ao som do tambor)

Okunrin de – de – de bi Orun ebako o b’elekun ni b’ekun, o mo sun ju t’elekunlo, elekun lo,


elekun ns ‘omi, la aroye ns ‘eje. Ase.
Os homens ficam olhando para o céu e com a força de um leopardo os filhos que enxergam a
face do leopardo, olhando as oferendas de água e sangue.

Asé

Oríkì Òrúnmìlà (Awo Falokun Fatunmbi)

Esse texto é uma homenagem ao meu querido amigo “Onilu” Antônio Carlos (Chico Toco), em
respeito a uma amizade de mais de cinquenta anos, tendo em vista que meu pai carnal foi
iniciado na casa do pai dele, (Tati do Bará), em 28/10/1960.

Oríkì Anyàn
(Louvando o ritmo do espirito do tambor)

Agalú asórò igi amuúnì mo ona ti a kò de ri.


Aquele que governa com a inspiração das árvores, e que recebe de maneira o que ninguém o
que nunca foi visto.

Igi gogoro ti i so owó ari degbe sòjúngòbi àyàn gbé mi.


Árvore alta que produz dinheiro, aquele em bronze faz oferendas em buscando receber
inspiração, me de inspiração, (faça me sentir o ritmo).

A ki i tele ó k ‘ebi o tun pa mi. Ase.


Vou segui-lo e nunca sentirei fome, (você me enriquece
161

Orisa Òkè
No Brasil, o culto a determinados orisás infelizmente acabou se perdendo é o caso do
orisa ÒkÈ, esse orisa é muito importante para as pessoas que buscam o prestigio e o
reconhecimento, assim como uma vida longa e tranquila.
O orisa da montanha como é conhecido é venerado em território yoruba com um culto
envolto de segredos e mistérios, o que podemos divulgar é que para se obter a essência do culto
existem alguns rituais, um deles o de buscar os okutas para o assentamento é muito bonito.
De posse de obi, orobo, oti e um eiyelé, iniciado e iniciador sobem a montanha e quando
descem trazem envolto em folhas os okutas para o assentamento.
No odu ogbe meji, é descrito o culto a orisa Òkè, que assim como o orisa Olókun e
Òrúnmilà vestem branco, mas que em suas oferendas recebem azeite de dendê.
Epa imóle

Orunmila, Ògbóni, Edan, Ìtagbè.

OGBE-YONU

Iyán di átúngún
Óbé di átu´nsè
Wón ni kó ebi ku ohun kóhun mó
Bikò se ohun àjogún bá won kan soso
Ti wón fi njo ba
Eyi kìíse ohun mìràn bikò se Sàkì
Ebi ni ki Sàkì ná di ti Rà `ndàwú
Rà `ndàwú gba Sàkì odi Aláse ilú
Ó joba lóri gbogbo won
Sàkì wá gba yì ó gb’éye
Ódi ohun olá odi ohun iyì
Bi akò bá n”Rà `ndàwú
Akó lè joyè baba eni
Ohun ti sùúrú seti
Ilè ní gbé

No odu ogbe/Yonu explica o uso do Ìtagbè ou Sàkì, (parte do vestuário ogboni, diz o
ese ifá, que jamais deve se desrespeitar aquele que cobre o ombro esquerdo, com tal
vestimenta).
O Sàkì representa a parte interna do estomago humano e caracteriza aquilo que tem
demais intimo dentro de cada um de nós, representa que o nosso interior esta exposto e nossas
intenções.
162

O homem que estiver usando essa peça do vestuário Ògbóni jamais pode ter a sua
palavra questionada ou colocada em dúvida, diz ifá, que nada pode superar a força de Edan
plantado na terra, aquele que possui Edan tem sua dignidade como marca registrada do seu
viver.
Odu irosun/ose fala da responsabilidade que o Ogboni tem com a verdade.
Odu irosun/iwori fala da insatisfação de Orunmila com o comportamento dos homens e
do pacto feito com Edan para que se mantenha a verdade.
A confecção do Ìtagbè fica a cargo das mulheres que cultuam Obalufon, processo é
demorado e envolve inúmeras orações e oferendas no momento da confecção.
Ifá nos revela na historia de Poroyen a mulher que salvou a vida de Orunmila com o
Ìtagbè.
Orunmila tinha caído durante a noite dentro de um buraco e ficou preso por sete dias e
sete noites, sem conseguir sair, no sétimo dia começou a cantar e a sua voz foi ouvida por
Poroyen, que se aproximou do buraco e olhando Orunmila se apaixonou por ele, fazendo uma
proposta que Orunmila aceitou. Poroyen disse que o tiraria do buraco o auxiliando com seu
Ìtagbè, se ele se casasse com ela, foi isso que aconteceu e eles tiveram filhos.
O Sàkì, só é usado sobre a cabeça dos anciões no conselho Ogboni quando eles
expressam a sua opinião em decisões dentro do conselho, todos o Ògbóni usa o Sàkì no ombro
esquerdo, salvo aqueles membros que não são iniciados no ifá, governantes, políticos e pessoas
de influências na sociedade, que tem conduta ilibada reconhecida.
As pequenas divergências que presenciamos sobre esse tema não diminui em nada
qualquer uma das partes, a interpretação diferente demonstra o plural e ifá nos ensina que o
singular é demonstração de falta de maturidade.
No território yoruba existem muitas faces para a mesma verdade.
A ki igbé Sàkì lé iká ka puro.
Ògbóni Ekùn!
163

Ifá e a Hierarquia
Muito se tem falado sobre a hierarquia no culto de orisa no Brasil, isso contribui para o
enriquecimento das informações sobre a religião Afro-Brasileira, mas infelizmente sobre a
hierarquia no culto de Ifá é muito raro encontrar informações confiáveis, sendo assim na
tentativa de contribuir com as informações disponíveis em nosso país estamos divulgando as
orientações por nós recebidas em território yoruba.

Primeiro escalão, grupo conhecido como Iwarefa.


ARABA (Oluawo)
O titulo de Araba é o mais importante dentro do culto de ifá, normalmente em terras
yorubas um Araba é escolhido com base em três critérios:
-Conhecimento inquestionável
-Conduta ilibada
-Apoio unânime
O Araba representa o grupo de Babalawos de uma cidade ou de um país, o que nos leva
a seguinte conclusão, as cidades com maior população de Babalawos tem um critério de escolha
mais exigente do que as cidades de pequenas populações.
Em uma cidade grande para que um Babalawo se torne um Araba ele será questionado
por um grupo maior de sacerdotes.
Esses questionamentos podem durar dias, e somente quando todos Babalawos estiverem
satisfeitos com as respostas, a data da cerimonia será marcada.
Observação: em uma cidade muito pequena com um grupo muito pequeno de
Babalawos a escolha de um Araba pode ser imediata desde que exista o apoio do grupo.
Existe também uma forma carinhosa de intitular o Babalawo mais velho em um Ile Ifá
que muitas vezes é confundido com o acima mencionado, já que carinhosamente o mais velho
dos sacerdotes dentro da família pode ser chamado de Araba, importante não confundir esse
titulo familiar restrito há casa da família com o Araba de uma cidade ou de um país.

AKODA
Babalawo Agbalagba preparado para substituir o Araba em caso de morte ocupa
imediatamente o cargo do Araba mantendo os rituais mesmo no período de luto.

ASEDA
Babalawo Agbalagba, o terceiro na hierarquia, preparado para substituir o Akódá.

AGBONGBON
Babalawo especialista em Oriki, considerado a memoria da família, capaz de recitar o
conhecimento contido nos versos de ifá durante dias e noites.

ERINMI
Babalawo com conhecimento inquestionável sobre os rituais secretos no Ile Ifá.

AGIRI
164

Babalawo experiente com profundo conhecimento sobre odu.

AWISE
No Brasil o titulo de Awise foi divulgado de forma errada, um Awise fala em nome da
família autorizado pelo seu Oluwo ou Araba, sendo assim deve ser um Babalawo bastante
experiente.

Segundo escalão no Egbe Ifá.

ALAKEJI
Esse titulo só pode ser usado por um Babalawo muito experiente ele substitui o Oluwo
dentro do Ile Ifá em todas as situações com exceção das iniciações.

ALARA
Babalawo experiente especialista na relação com os iniciados, e iniciações em geral.

OKUNMERI
Babalawo especialista nas cerimonias internas.

AGUNSIN
Babalawo experiente que acompanha o primeiro escalão em rituais ou festejos externos,
responsável pelo deslocamento dos membros do Egbe Ifá.

ARANISAN
Babalawo experiente que orienta cerimonia diante de Osun, no ritual de itefa.

AMUKINRO
Babalawo experiente que orienta os iniciados dentro do Ile Ifá em cerimonias que é
consultado ikin.

KAWOLEHIN
Babalawo experiente que orienta os iniciados em rituais e festejos internos e externos.

OLUWO
Existem dois títulos diferentes descritos pela palavra Oluwo, um dentro do ifá e outro
dentro da sociedade Ogboni imediatamente superior ao título de Apena na hierarquia.

Nessa abordagem vamos analisar o titulo restrito ao culto de Orunmila.


O Oluwo pode ser escolhido ou não entre os cargos acima citados.
O Oluwo é um Babalawo que tem autorização para iniciar outros Babalawos, não
devemos confundir com Olodu, (Babalawo que possui o assentamento de Iya Odu), o fato
isolado de possuir Iya Odu, não o torna um Oluwo.
O Oluwo é o sacerdote que tem a responsabilidade sobre as cerimonias de itefa e Ìtélodú,
sendo assim todas as situações que passo a descrever devem ter a autorização do Oluwo:
165

-Consultar ifá com opele ou ikin.


-Submeter se a ebó ou etutu.
-Participar de iniciações ou festejos referentes ao culto de Orunmila e Orisa.
-Fazer iniciações e consultas.

OJUGBONA
O Ojugbona é o Babalawo que participou da iniciação que tem a função de treinar, mas
não tem o poder de autorizar o novo awo para que faça iniciações ou consultas.

BALOGUN
Balogun é um titulo muito importante o Babalawo escolhido para essa função deve ser
muito experiente para lidar com as questões que envolvem os rituais e as relações internas e
externas da família, no tocante a proteção do Ile Ifá, e seus membros.

SOKINLOJU
Esse titula deve ser dado a um Babalawo antigo dentro do Egbe é uma espécie de
observador com autoridade para corrigir erros e procedimentos no dia a dia do Ile Ifá.

AKOGUN
Esse titulo só pode ser dado para um Babalawo experiente, normalmente o Akogun
auxilia ou substitui o Balogun.

SUREPAWO
Esse titulo pode ser ocupado por um Babalawo jovem, o Surepawo é encarregado de
pagamentos, compras e afazeres fora do Ile Ifa.

ASAWO
Babalawo jovem ou Awo kekere que auxilia o Surepawo.

IYANIFA
O nome Iyanifa é muito confundido, considerando se que pode ser usado em duas situações
diferentes.
-Iyanifa (aquela que possui ifá, sacerdotisa), também conhecida como Iyaonifa.
-Iyanifa (toda mulher submetida à itefa).

IYA APETEBI
Iya apetebi na religião tradicional yoruba é a esposa do Babalawo.
Observação: normalmente as iya apetebis devem ser iniciadas em Osun.

IYANIFA IYA APETEBI


166

No caso da Iyanifa Iya Apetebi (Aiya) esposa do Oluwo, do Egbe Ifá, as exigências são
maiores em razão da alteração da hierarquia considerando que o titulo é superior aos demais
remetendo imediatamente a Iya Apetebi e Iyanifa a o segundo cargo dentro do Egbe ifá.

IYALODE AWO
Iyanifa líder das mulheres no Egbe Ifá

AJIGBEDA AWO
Iyanifa experiente auxiliar da Iyalode.

Em cada família a hierarquia pode sofrer alterações mas de um modo geral o processo
é semelhante, sendo assim devemos aclara que a expressão primeiro e segundo escalão em
nosso texto foi usada por não nos ocorrer no momento palavra mais adequada, em nenhum
momento com intenção de diminuir ou menosprezar os demais.
167

Colcha de Retalhos e o Ifá

“Constantemente sou procurado por pessoas que alegam que suas vidas estão paradas e
que os resultados esperados por elas com a religião, não aconteceram...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Primeiramente casa de orixá não é agencia de emprego e muito menos é consultório


destinado a tratar de problemas sentimentais.
Quando vou visitar a casa de muitos dos que se dizem com problemas espirituais já na
chegada eu me surpreendo quando alguém que cultua orixá tem um assentamento de exu tranca
rua e uma pomba gira. Quase sempre encontro o famoso assentamento do caboclo, como se isso
existisse, além de uma bandeira branca hasteada para tempo. Em um diálogo com o dono da
casa descubro que ele se incorpora com um baiano, um exu catiço, um caboclo e evidentemente
não poderia faltar um cigano, além do primeiro orixá, do segundo etc e etc
Alguns moram em apartamentos e conseguem reunir tudo isso, outros mesmo morando
em casas espaçosas conseguem fazer uma tal colcha de retalhos que é de surpreender que ainda
se encontrem lúcidos. Se a casa é de culto a orixá necessita ter exu de orixá, evidentemente não
tem bandeira branca porque isso faz parte do culto a Inquice.
Além disso fica estranho que caboclo sendo parte da religião conhecida como umbanda,
tenha assentamento, a imaginação e a criatividade de alguns criou regras inquebrantáveis para
outros. A expressão conhecida como bola da vez está sendo usada nesse memento para o ifá,
não comparando, é o último pedaço de retalho na colcha da ignorância.
Depois querem os menos avisados que tudo isso funcione em seus benefícios,
desconhecem eles as regras básicas que se aplicam quando temos discernimento e coerência.
O que me deixa estarrecido diante de tais absurdos são as acomodações feitas onde os
supostos espiritualistas se incorporam com trezentos entidades e nenhuma delas os avisa que
estão fazendo maluquices. Será que eles recebem algum espirito mesmo?
A mistura de cultos afro-brasileiros com superstições europeias e ritos católicos, me faz
imaginar o resultado final, decepção além de perda tempo e dinheiro. Mas como dizem os sábios
de plantão, cada um é rei em sua casa e pode fazer a colcha com os retalhos coloridos que
quiser. Os laboratórios estrangeiros agradecem com suas contas bancarias satisfeitas, eles
seguem vendendo para os brasileiros todo tipo de drogas.
Para acreditar em alguém que joga búzios, joga cartas de tarô, consulta runas e se
incorpora para dar consulta, só tomando remédio para labirintite. É lamentável mas grande parte
do povo gosta disso, de fitinha do Bonfim no pulso, a pular sete ondas e comer lentilha na
entrada do ano, cada um acredita no que quer, só não vale culpar os orixás ou querer mágica.
168

Orixás Direitos e Deveres

“Em nossa casa frequentemente aparece um grupo de saguis, então vou colocar
bananas para eles e enquanto colocava alimentos para eles me ocorreu escrever esse texto
sobre a fé, os orixás e os direitos e deveres dos iniciados e sacerdotes...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Quando eu coloco todas as manhas bananas para os macaquinhos é com a esperança que
eles apareçam em nossa casa, mas em razão das chuvas eles pouco nos visitam, mesmo assim
eu coloco alimento todos os dias, parece sem sentindo, mas como é que vou adivinhar qual é o
dia que eles vão aparecer em nossa casa, então sigo colocando alimento todos os dias.
A mesma coisa acontece quando falamos de fé você não vê o orixá e nem sabe que dia
ao certo ele vai atuar em sua vida, mas você reza todos dias e cuida dele com carinho e respeita
partindo do princípio que ele também está cuidando de você.
Muitas vezes aos nossos olhos ele demora para interferir e nos auxiliar em dificuldades
que temos, mas na verdade o orixá é que sabe a hora certa para interferir e nos auxiliar.
O orixá constantemente interfere em nossas vidas, mas nós não temos condições de
perceber o que está acontecendo em nossa volta, isso porque somos seres imperfeitos, nos
preocupamos com as contas, com as aparências, com o que adquirimos, com as roupas, com o
carro, com a beleza da casa e muitas vezes não percebemos as mudanças do mundo espiritual.
Baseado nisso colocar na internet um texto que a princípio vamos chamar de direitos e
deveres, não é nenhuma citação que lembre o período da ditadura, quando os professores de
moral e cívica insistiam nos direitos e deveres nos cidadãos brasileiros.
Para começar vamos abordar desde a entrada no iniciado no ile orixá:
- É dever do iniciado cumprimentar ao entrar na casa de orixá os orixás para só depois
cumprimentar o sacerdote e membros da família.
- É direito do iniciado entrar nos quartos dos orixás para saudar os orixás e rezar, é dever do
sacerdote permitir a entrada e saudar e respeitar o orixá do iniciado, caso ele incorpore.
- O procedimento correto é colocar o orixá para dentro de um dos quartos, colocar uma roupa
adequada, retirar os calçados e levar o orixá para saudar o ojúbo do orixá dono da casa, para só
depois saudar o sacerdote.
- É dever do iniciado auxiliar nas atividades na casa de orixá, assim como limpeza e conservação
de todas as instalações.
- É um direito do iniciado em caso extremo ser atendido em consulta mesmo que não disponha
naquele momento de dinheiro.
- É dever do iniciado auxiliar na compra de materiais para a manutenção da casa.
- É dever do sacerdote auxiliar os iniciados que não disponham de materiais para a manutenção
dos igbas de seus orixás.
- É um direito dos iniciados fazerem as refeições na casa de orixá durante o período que eles
estejam em rituais e cerimonias.
169

- Também é de bom tom que o iniciado só se sirva de alimento durante as refeições depois que
o sacerdote tenha se servido.
- É um dever dos iniciados informar caso resolvam participar de alguma cerimônia religiosa em
outra casa, sendo assim é um dever do sacerdote orientar seus iniciados de como devem se
comportar, em visitas a outros ile orixás.
- É um dever do sacerdote passar ensinamentos para os seus iniciados, também é um dever do
sacerdote interferir quando necessário em benefício do iniciado.
- É um dever do iniciado respeitar e honrar a sua família e a casa que foi iniciado.

Sendo assim vamos observar as questões acima:


Primeiramente todo o sacerdote do ponto de vista lógico não é o dono da casa de orixá,
o dono da casa é o orixá, então é ele que deve ser cumprimentado primeiro.
Quando o iniciado entra no terreno do ile orixá deve primeiramente se dirigir ao exu da
casa e pedir permissão para entrar, depois se necessário for deve trocar de roupa e cumprimentar
o orixá dono da casa, para só depois cumprimentar o sacerdote principal, após isso cumprimenta
os demais, seguindo a hierarquia.
O cumprimento ao sacerdote que iniciou o iniciado deve ser com o ato de colocar a
cabeça no chão, (foribalè) já para os demais essa reverencia pode ser ou não substituída por
uma saudação.
Existe algumas exceções em algumas casas é exigido o mesmo tratamento dispensado
ao sacerdote para o ojúbona do iniciado.
Os iniciados de sexo feminino devem se vestir de acordo com as cerimônias usando saia
e pano da costa assim como o pano de cabeça, é dever dos iniciados se vestirem de forma
adequada ao ambiente da casa de orixá sendo vedado o uso de bermudas, shorts e roupas
cavadas.
- É dever dos iniciados de sexo masculino auxiliar as iniciadas nos trabalhos que exijam uma
maior força física e também não é nenhum demérito auxiliar em atividades teoricamente
femininas.
- É um dever dos iniciados do sexo masculino se afastarem dos ambientes que envolvam banhos
e rituais ou cerimonias onde as iniciadas de sexo feminino estejam sem roupa.
- É um direito das iniciadas de sexo feminino exigirem ser banhadas por pessoas do mesmo
sexo.
No período de iniciações pressupondo que o novo iniciado não disponha de condições
financeiras para as compras referentes a sua iniciação é dever dos iniciados mais antigos e do
sacerdote contribuírem com trabalho e dinheiro facilitando assim a situação do necessitado.
Em caso de visita de membros de outras famílias é dever do sacerdote abrir os quartos
dos orixás para que sejam saudados, também é dever do sacerdote e dos iniciados receber as
visitas com o máximo de respeito.
Obs: Para um melhor entendimento vamos definir nesse texto assentamento coletivo
como o ojúbo e assentamento particular como igbá.
- É dever de todos os iniciados participar do òsè dos ojúbos do ile orixá, assim como é um
direito do iniciado desfrutar de silêncio durante o òsè em seus igbas para que possa fazer suas
orações.
170

Òsè o dia que completa uma semana Yoruba, referente período de quatro em quatro
dias, òsè primeiro dia da nova semana, para nossa compreensão quinto dia depois do primeiro
òsè.
Mesmo os orixás tendo sido assentados para o sacerdote com exceção do seu orixá
principal quase todos os assentamentos devem ser tratados como ojúbo, salvo Orunmila, o exu
pessoal, Iya mi e Egungun orixás esses individuais, (igbá) não confundir com assentamento
coletivo de Egungun e Igbàlè ou ojúbo.
O òsè dos ojúbos deve ser feito pelos iniciados que já tem permissão do sacerdote para
esse ritual, é impossível que o sacerdote mantenha todos os orixás da casa limpos e tratados
sozinho, a participação de todos os membros é fundamental para que se estabeleça o conceito
de família.
O igbá do orixá do iniciado é de propriedade dele é dever do sacerdote entregar o igbá
para o iniciado que deve providenciar um local adequado para manter o assentamento.
Jamais o assentamento do orixá deve ser retido na casa de orixá por falta de qualquer
tipo de pagamento, os pagamentos são feitos por rituais e não por igbá, o assentamento do orixá
jamais poderá ser usado como garantia de um pagamento futuro.
- É dever do iniciado antecipadamente solicitar ao sacerdote autorização para levar amigos na
casa de orixá que poderá estar em cerimônias não permitidas para visitantes.
- É um direito do iniciado solicitar ao sacerdote que ele ministre cerimônias e rituais em caráter
privado, a terceirização dos rituais e a delegação de autoridade pode ser contestada em caráter
pessoal. É um dever do sacerdote corresponder à confiança depositada em suas mãos, não
devendo indicar pessoas estranhas ao iniciado em rituais e cerimônias secretas.
Exemplo: Os Boris devem ser realizados pelo principal sacerdote da casa de orixá e jamais por
outros membros mesmo aqueles com conhecimento comprovado.
Recomenda-se as pessoas em visita a casa de orixá que mantenham o habito de levar
para os orixás agrados como obi, orobo, esteiras, dendê, mel, gim, frutas e flores.
A manutenção da casa de orixás é dispendiosa e deve ser considerada como
responsabilidade de todos os membros.
Quanto a manutenção da fé ela não tem rituais específicos ou uma formulas secretas, os
rituais podem ser ensinados, mas a crença ela é desenvolvida sem o controle pré estabelecido.
Acreditamos ou desenvolvemos a fé com o passar do tempo, mas jamais a fé vai ser
instruída, os sentimentos afloram dispensando justificativas, o orixá opera em nós o milagre de
acreditar naquilo que não estamos vendo, mas que podemos sentir.
A força do orixá transforma, tranquiliza e fortalece o interior do iniciado sem que ele
perceba só o tempo atesta a evolução e o desenvolvimento espiritual. Não existe a possibilidade
de pular etapas, a vida se desenvolve dia após dia.
Vou continuar colocando bananas para os saguis todos os dias mesmo que eles só
venham uma ou duas vezes por semana.
171

A História do Ifá no Brasil

“Historicamente o Ifá no Brasil deve homenagem a dois homens, o Bàbàláwo Nigeriano


Fabunmi Sowunmi e o Bàbàláwo cubano Rafael Zamoura, esses dois sacerdotes construíram a
imagem inicial do Ifá no Brasil...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

A hegemonia terminou, mas a história continua. Um político e cientista italiano


chamado Antônio Gramsci formulou o conceito de hegemonia. Para Gramsci, hegemonia é o
domínio de uma classe social sobre as outras, em termos ideológicos, em especial da burguesia
com as classes de trabalhadores.
Em nível conceitual, a hegemonia indica um equilíbrio entre o domínio e a liderança.
Em sentido figurado, a hegemonia indica uma supremacia ou poder de um elemento sobre outro,
podendo ser pessoas ou coisas. O cubano Rafael Zamoura foi á pessoa que mais iniciou em Ifá
no estado do Rio de Janeiro, com seu trabalho o sacerdote (Ogundakete) plantou uma semente
que mantem até os dias de hoje o Ifá em destaque na cidade Carioca, enquanto o Nigeriano
Fabunmi Sowunm participou de um trabalho feito no estado de São Paulo no instituto Odùduwà
de propriedade do babalorixá Siriku Salami, Baba Fabunmi com carinho e seriedade fez muitas
iniciações em Ifá no estado de São Paulo, o sacerdote durante o tempo que esteve em nosso país
ajudou a divulgar a religião tradicional yoruba.
O trabalho da família Aworeni do Ifá tradicional nigeriano também é muito conhecido
no Brasil, principalmente no estado de São Paulo. Alguns dos Bàbàláwos dessa família também
fizeram um trabalho de divulgação do ifá no Uruguai e Argentina. Hoje a família que mais
inicia em Ifá no Brasil é a família Agboola, esse trabalho foi iniciado á quase quinze anos pelo
Bàbàláwo Oyeniyi Agboola.
Amanhã ou depois outras famílias poderão escrever uma história diferente no Ifá
brasileiro, com mais sucesso ou com mais iniciações, com outros excelentes sacerdotes, mas a
memória desses nossos antepassados deve ser respeitada.
A contribuição de Rafael Zamoura, Ifabunmi, Nelson Odi meji, Adilson Ogbe bara e
tantos outros devem ser vista com carinho por todos aqueles que hoje fazem parte do Ifá
brasileiro. A hegemonia terminou, hoje temos inúmeras famílias divulgando o culto a Òrúnmìlà
em nosso país, vamos olhar para o futuro com o respeito que nossos antepassados merecem.
Houve um tempo que o ifá era cultuado somente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo,
hoje o culto a Òrúnmìlà esta presente em todo o território nacional. Nós somos responsáveis
por manter a imagem e o respeito que os orixás e seus sacerdotes merecem, o Ifá e os nossos
antepassados merecem a nossa dedicação.
A união entre as famílias pode fortalecer o culto a orixá em terras brasileiras, juntos
podemos identificar as pessoas que prejudicam o trabalho de nossos antepassados, agindo assim
vamos garantir o respeito a nossos descendentes.
172

A história não vai ser diferente, em um futuro alguém vai escrever sobre o Ifá
novamente, se o seu nome vai ser citado amanhã depende do seu comportamento hoje.
Um Bàbàláwo tem que ser um exemplo, o sacerdote de Ifa tem um compromisso com a
verdade e com a honestidade, nenhuma pessoa se faz Bàbàláwo ela nasce Bàbàláwo,
infelizmente algumas com o passar do tempo se afastam dos seus destinos.
O itelodu da inicio a caminhada de um Bàbàláwo, a cerimônia é a retomada do destino,
mas é o caráter do iniciado que vai caracterizar o seu comportamento, é com suas atitudes que
ele vai conquistar o respeito e o direito de ser reconhecido como sacerdote.
Ser um Bàbàláwo é uma eterna busca pelo seu melhor, é a manutenção permanente do
bom caráter, é a elevação do espirito com base no conhecimento da doutrina de Òrúnmìlà.
Esse texto é uma homenagem á aqueles verdadeiros Bàbàláwos que escreveram a
história do Ifá no Brasil.
173

Jogo de Búzios
Esse texto é uma resposta para o grande número de leitores do nosso trabalho que
solicitam mais esclarecimentos sobre o jogo de búzios, deixo claro que esse capítulo é destinado
para leigos e iniciantes, em nenhum momento tive a preocupação com a acentuação da língua
yoruba, bem pelo contrario facilitamos o entendimento para uma leitura mais fácil para as
pessoas que não estão acostumadas a linguagem comumente usada por sacerdotes da religião
tradicional, assim como facilitamos as traduções da reza inicial. Consideramos que nenhum
segredo foi divulgado aqui por já existem na literatura brasileira trabalhos semelhantes.

Búzios para iniciantes.

Como efetuar consulta ao jogo de búzios.

Rezar mo juba (eu saúdo)


Iba Olódùmarè
Saúdo Deus
Iba origun mérin aiye
Saúdo quatro cantos da terra
Iba mérìndilogun odu agba
Saúdo dezesseis odus mais velhos.
Iba gbogbo Omo odu
Saúdo todos os odus filhos
Iba odu mi
Saúdo meu odu
Iba ìyá mi Osoronga
Saúdo minha mãe Ancestral
Iba gbogbo egúngún agba
Saúdo todos meus antepassados
Iba Èsu
Saúdo Exu
Iba Òrìsà mi
Saúdo meu orixá
Iba gbogbo òrìsà
Saúdo todos os orixás
Iba Osun
Saúdo Oxum
Iba Obàtálá
Saúdo Oxalá
Iba Òrúnmìlà
Saúdo Òrúnmìlà

*Perguntar três vezes Èsu soro ? (Exu você vai falar).


174

Obs: pode ser que o òrìsà não responda se isso acontecer pode rezar novamente e chamar os
orixás

Confirmar se o òrìsà esta respondendo


Dizer o nome da pessoa para quem vai ser feita a consulta e o nome de sua mãe.
Iniciar a consulta
1-odu
2-...
3-ibo
4-ire
5-ibi

Se estiver ibi segue a consulta

6-ibi orí (pode ser forma de pensar, maneira de ver as coisas, fazer bori se necessário).
7-ibi egúngún (conflito com antepassados descontentes com o caminho q a pessoa esta
seguindo, perturbação espiritual).
8-ibi òrìsà (verificar qual).
9- ibi ajogun (verificar qual).
10-ibi ikú (morte)
11-ibi arun (doença)
12-ibi ofo (perda)
13-ibi Ejò (confusão, problemas).
14-ibi igedé ou ajé (feitiço), abilu.
Segue a consulta para ver se a pessoa vai vencer aquele obstáculo.
15- isegun (vitória)

Se for o caso faz mais uma perguntar, qual òrìsà vai ajudar aquela pessoa nesse momento, ou
qual o òrìsà que protege aquela pessoa...

16-Orisa ire
Regras importantes:
1° ...
2° Caída impar é não e par é sim, nos casos de...
3° Ogbe é Absoluto, nunca se apura o jogo, é caída determinante.
4°Ofun só perde para Ogbe...
5° Quando o odu do ire e o ibi é igual o odu está ire, pedir mão direita se ...

1-Búzios abertos: Òkànràn- Èsu, Ṣàngó, Egúngún, Oya e Orànmiyán.

Problemas com justiça, sofrimento, coisas negativas, pessoa tem que fazer tudo certo, não se
opor contra convenções, cuidado com a saúde, doenças crônicas, falta de dinheiro, inimigos.
IRE- Novo caminho, oportunidade material, progresso.
IBI- Medo, insegurança, impulsividade.
175

2- Búzios abertos: Eji oko- Ibeji, Iya mi...


Escuridão, infelicidade, morte ma sorte, feminino, ancestral apoiando, solução para os
problemas, depressão, perigo, mulher ciumenta.
IRE-Nascimento, dualidade, inicia.
IBI-Morte, escuridão, desordem.

3-Búzios abertos: Ògúndá- Ògún, Ọ̀sanyìn e Èsu.


Brigas, traidores, hostilidades disputa, confiou na pessoa errada, problemas financeiros e
pessoais, dar de comer Ògún, e Orí.
habilidade em abrir portas para os outros, emprego.
IRE-Profissão, construção, força.
IBI-Violência, desastre, doença, brigas.

4- Búzios abertos: irosun- Ògún, Egúngún, Yemọja, Orí.


Popularidade, desanimo, perda de interesse, dificuldades financeiras, e emocionais, respeitar
ancestrais, ligação com o pai, aprender a ter paciência, agradar Èsu, Orí.
IRE-Caminhos abertos, realização, ambição
IBI-Intranquilidade, inquietação, arrependimento.

5- Búzios abertos: Ose- Osun, Ògún


Bom momento para amor, e dinheiro, casamento, agradar Osun, prosperidade, agradar Ṣàngó e
Ifá para vencer inimigos, deve fazer ebó autoconfiança é uma tragédia para essas pessoas, cuidar
da saúde.
IRE-Suavidade, ingenuidade , amor, riqueza, riqueza.
IBI- Ilusão, falta de foco, fofoca, curiosidade

6- Búzios abertos: Obàrà- Oxalá, Osòosì, Ṣàngó


Incerteza, suspense, fala de poder de decisão, compra por impulso, nervosismo, pressa, cuidar
do Orí, bloqueios ou dificuldades temporais e muitos inimigos.
IRE-Sorte, paciência, habilidade, potencial.
IBI- Inveja, roubo, perda, inquietação.

7- Búzios abertos: Odi - Lógunéde, Osòosì, Seu, Obàtálá.


Inimigos secretos,obstruções,sofrimento,pressão,calunia,morte,súbita,vida longa, cuidar Orí.
IRE-Liderança, persistência, sensibilidade.
IBI- Polêmicas, problemas, brigas, traições

8- Búzios abertos: Eji Ogbe- Obàtálá, Ifá, Yemọja, Obalúwàiyé


Iluminação, bem estar, vitória, despertar espiritual novos negócios, novos relacionamento,
masculino, primeiro, ciúmes, inicio da vida espiritual,
Equilíbrio, sucesso, negócio sem lucro, inimigos trabalhando, cuide bem saúde.
IRE-Alegria, encanto, felicidade, grandeza, sucesso, inicio.
IBI- Nervosismo, preguiça, altos e baixos.
176

9- Búzios abertos: Osa- Iya mi, Oya, Yemọja


Falta de coragem, fuga oposição, viagens, pessoa amedrontada, bons administradores,
mudanças inesperada, transtornos, sono ruim, problemas espirituais, agradar Ṣàngó, Iya mi para
ter uma eventual solução positiva contra os inimigos.
IRE-Viagens, Espiritualidade, Família, mudança.
10- Búzios abertos: Òfún- Oxalá
Boa fortuna, ter paciência com certo sacrifício o sucesso é garantido, pessoas generosas e
sábias, dificuldade de respirar, agradar Iya mi , Olókun, boas viagens, pessoa tem que agradar
os pobres.
IRE-Vitória, determinação, realização, paciência.
IBI- Lentidão, desânimo, fraqueza, fragilidade.
11 Búzios abertos: -Okanla ou Òwónrín- Oya, Egúngún
A importância dos ebós enfatizada, tomar bori, respeitar os mais velhos, cuidar viagens
negativas agradar Egúngún.
IRE-Pressa, poder, força, Otimismo, realização.
IBI- Perigo, acidente, violência.

12- Búzios abertos: Ejila - Ṣàngó.


Premunição, clarividência, vida longa, prosperidade, promoção no trabalho, os mistérios da
vida revelados, ter cuidado com viagens.
IRE-Emprego, dinheiro, negócios, política.
IBI- Avareza processos, loucura.

13- Búzios abertos: Metala- Soponnan, ìyá mi, Nana.


Preocupações, ter moderação, cercado de pessoas ruins, não pode contar com a família, nem
com amigos, vai colher o que plantou, agradar Ori, pessoas com ciúme, agradar Ifa e Ògún.
IRE-Espiritualidade
IBI- Perigos, doenças, feitiços, morte.

14- Búzios abertos: Merinla- ìyá mi, Obalúwàiyé


Persistência, pessoa vigorosa, com tratamento rude, questões ligadas a filhos, agradar Egungun,
e Òrìsà nla, complacência, deve escutar os pais, e os mais velhos, imprudentes, teimosos,
confusos, cuidar Orí, e Ifá.
IRE- Espiritualidade, vidência, intuição.
IBI- Doenças, fase negativa miséria.

15- Búzios abertos: Medogun, Èsu, Olóòkún, Òkè, Yemọja


Paz mental, bom caráter ,bons negócios, sucesso na arte de comprar e vender, sentimental, bom,
cuidar de Èsu, cuidar esgotamento, tirar tempo para descansar.
Agradar Ògún, Yemọja e Ifá.
IRE- A capacidade de recomeçar rapidamente.
IBI- A falta de Iniciativa, desilusão, decepção.
177

16- Búzios abertos: Mérìndilogun- Ifá, Soponnan, sociedade Ogboni.


Humildade, intriga dos inimigos, pessoa com cabeça dura, perda de oportunidade, todos os
filhos de Irete devem ser iniciados em Ifá, cuidar Orí, humilhação, estresse emocional, fatiga
,impaciência, agradar Soponna.
IRE-Ligação com a espiritualidade, renascimento
IBI-O fracasso, a morte.

0-Nenhum búzio aberto Opira ou àdakadekè


Iniciação em ifá, Ogboni, comida
IBI- Falta de coragem, duvidas depressão.
a terra, morte.

Ibò-búzios ou osso e demais objetos a serem usados.

Existe uma caída predominante que identifica sempre a mão direita...

OBS: Para o sistema do ibò (ver se ire ou ibi) usando a ordem .


-Se apurar Ibi no caso de ajoguns.
Morte, doença, perda, confusão.
-Se for Ire apurar o tipo de Ire
Vida longa, filhos, dinheiro, etc.

Observação: Por razões obvias muitos dos detalhes do mecanismo foram retirados desse texto,
a razão desse trabalho é a divulgação, as pessoas que quiserem aprender devem procurar os
seus iniciadores.
178

A CASA DO ORIXÁ E IFÁ

“No ano de 1981 comecei a viajar divulgando a religião dos òrìsà, durante esse período
tive a oportunidade de conhecer alguns países, e grande parte do território nacional brasileiro,
nessas viagens conheci varias casas de òrìsà e observei situações que me deixaram em algumas
ocasiões tristes e em outras em uma posição bastante desconfortável...”

Agboola, Ifagbaiyin.

Testemunhei equívocos nas casas de òrìsà que nem sempre são frutos da falta de
informação, muitas vezes a vaidade e a pretensão são as grandes responsáveis por esses erros.
Não temos a pretensão de apresentar esse trabalho como sendo a única e exclusiva
verdade sobre o assunto, vamos pautar a escrita pela logica e o respeito à herança religiosa dos
yorubas em nosso país.
A casa de òrìsà normalmente é uma propriedade fruto do trabalho de pessoas que
empregam o seu ganho para criar um espaço para o òrìsà, sendo assim a logica indica que o
proprietário é a divindade e não o homem.
Vamos explicar essa situação com exemplos do que acontece no dia a dia das casas de
òrìsà: Se o sacerdote tem uma filha que vai se casar e ele decidir convidar o jovem casal para
que habitem um dos espaços na área da casa de òrìsà é evidente que esse convite só pode ser
formulado depois de uma consulta com resposta positiva dos òrìsàs.
A mesma posição deve ser mantida para qualquer individuo que possa vir a ser iniciado
ou residir na área das divindades, tudo que possa influenciar no andamento do egbe deve ser
submetido à apreciação do proprietário do espaço, o òrìsà.

Outro exemplo que podemos citar é a pretensão de uma ampliação ou alteração na


construção, sem a consulta ao òrìsà, isso seria impossível, embora nós já tenhamos presenciado
inúmeras situações que o sacerdote toma as decisões sem ouvir a divindade.
É muito comum no Brasil após a morte do sacerdote titular de um terreiro que haja uma
disputa entre os herdeiros consanguíneos e os herdeiros ligados a religião.
Nesse aspecto gostaríamos de deixar bem claro que a religião dos òrìsà é uma forma de
manter acesa a chama ancestral, sendo assim, sempre, sem exceção quando houver duas pessoas
com o mesmo nível de informação e cargo religioso em litigio para ocupar uma função, a
tendência natural é que aquele que tem grau de parentesco seja escolhido em uma orientação
espiritual e não aquele que é um herdeiro exclusivamente religioso.
O espaço chamado casa de òrìsà por uma questão obvia destina o seu melhor aposento
para o òrìsà patrono daquela instituição, ou para um grupo de òrìsà cultuados naquele local.
Se a divindade é a proprietária é natural que o melhor espaço da propriedade seja
destinado a ela, fato esse confirmado no dia a dia das casas de religião onde quando visitadas,
o visitante primeiro saúda o òrìsà para depois saudar o sacerdote.
179

Se fosse o inverso o homem seria, mais importante que o seu ancestral e a palavra
religião não teria sentido, já que na tentativa de nos religarmos ao divino nos submetemos a
uma hierarquia bastante clara onde o òrìsà esta em primeiro lugar.
A questão da propriedade e da sua titularidade das casas de òrìsà habita os tribunais há
muito tempo, embora o ideal fosse que pessoas religiosas que se dizem sacerdotes não
precisassem recorrer a esse tipo de debate. Seria de bom tom que o religioso seguisse e
respeitasse a decisão dos Òrìșàs diante de qualquer tipo de litigio.
As controvérsias não acontecem somente nas questões da titularidade e da propriedade
em si, é comum presenciarmos a disputa da titularidade da função religiosa independente da
propriedade..
Presenciamos inúmeras vezes situações que criam uma enorme confusão diante da
sociedade, um exemplo é o duplo sacerdócio em uma mesma propriedade. Casais iniciados para
a mesma função desempenhando em um mesmo espaço trabalhos paralelo. Quando a regra é
simples o mais antigo e mais capacitado sempre deveria ser o titular.
Existe também uma grande polemica quando o herdeiro escolhido de uma casa de òrìsà
não esta capacitado, embora seja bem fácil de compreender a função do responsável interino,
que ocupa a titularidade com o tempo pré-estabelecido para a capacitação do real herdeiro.
Se não fosse só a questão financeira e jurídica o número de situações presenciadas por
nós não nos causaria tantas surpresas. Porém um agravante é bastante comum, supostos Òrìșàs
ou divindades em visita aos seus descendentes que muitas vezes terminam advogando em
causas de seus simpatizados criando uma imagem que prejudica muito a história de gerações e
gerações de sacerdotes.
A coerência e o respeito assim como a ética, comumente são deixados para trás por
pessoas movidas por ambição e ganância, isso não deveria acontecer nos meio religioso, mas
infelizmente essas situações são bastante comuns.
Esses fatos não aconteceriam ou seriam facilmente administrados se a formação dos
lideres religiosos fosse mais exigida, enquanto isso não acontece os tribunais substituem os
òrìsàs nas decisões.
180

Obrigação de Ano para Òrìsà

“Quando eu ouço falar em obrigação de um ano ou de sete anos, algumas associações


me ocorrem, minha mente automaticamente por ser associativa dispara inúmeros
questionamentos...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Você se alimenta uma vez por ano?


Você coloca credito no seu celular uma vez por ano?
Você coloca gasolina no seu carro uma vez a cada sete anos?

É estranho pensar que algumas pessoas imaginam que o òrìsà fica lá no assentamento a
disposição delas e que eles respondem todos os dias para proteger as pessoas como retribuição
a uma suposta obrigação anual.
O individuo que raciocina assim é o mesmo que tem em sua mente uma receita de bolo
para ebó e para as iniciações e as chamadas obrigações anuais, como pode alguém ser tão
pretencioso que supõe mesmo até um ano antes imaginar a data e aquilo que o òrìsà vai aceitar?
Será que esse povo pensa que o òrìsà esta ali a disposição deles e que ele é um prestador
de serviço?
É comum chegar pessoas minha casa para consultar dizendo que na obrigação de um
ano vai ser oferecido um determinado presente para o òrìsà, é difícil para mim que vivo o òrìsà
todo dia entender essa forma de pensar. Imaginem você em uma relação afetiva buscar contato
com a pessoa amada uma vez por ano, imagine você beijar os seus filhos uma vez por ano, tente
imaginar você recebendo carinho somente uma vez por ano!
Se você precisar do atendimento médico e o plantonista do hospital informar a você que
só daqui um ano você vai ter direito ao atendimento, como você vai se sentir?
Se a relação entre os homens ficar prejudicada em um contato único anual imaginem
com as divindades considerando o nível de exigência de alguns indivíduos que querem resolver
a vida sentimental, profissional e espiritual em um único contato com o òrìsà.
A inocência ou a ignorância não desculparia tal raciocínio por questão óbvia, se o òrìsà
nos abastece da mesma forma que a água mata nossa sede, como é possível imaginar uma
relação tão fria e sem afeto.
Alguns iniciados rezam para os orixás todos os dias e fazem seus pedidos diariamente,
mas tem o habito de agradecer uma vez por ano.
O que será que esse povo imagina que é o òrìsà?
Algumas pessoas quando vão namorar no motel ou abusam um pouco mais da bebida,
ficam bem à vontade porque imaginam que o òrìsà está na casa de asé, esquecem elas que o
òrìsà tudo vê e tudo sabe.
Talvez essa forma de pensar complemente o raciocínio acima descrito, pois se o òrìsà
esta a minha disposição ele vai aceitar ficar esperando que o efeito da bebida passe ou que eu
saia do motel para que ele se aproxime.
181

Se o òrìsà é na mente desse pessoal somente um servidor que vai responder quando eles
chamarem, então ele vai aceitar aquilo que eles oferecerem e quando eles quiserem, pensam os
idiotas!
Esse tipo de òrìsà imaginado por esses desavisados, totalmente sem vida e sem vontade,
quando invocado nas comumente descritas obrigações de ano, respondera da mesma forma que
foi tratado durante o ano.
Será que alguém acredita que ser iniciado para òrìsà é isso?
182

BÀBÀLÁWO

“No Brasil a grande maioria da população não conhece os verdadeiros Bàbàláwos, por
uma questão histórica em nosso país praticamente não existiram sacerdotes de Òrúnmìlà...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

Os traficantes de escravos temiam os Bàbàláwos por seus conhecimentos e pela


liderança que eles exerciam um sacerdote de Ifá em um navio escravo certamente poderia criar
grandes problemas para os donos dos navios.
Nos últimos anos o culto a Òrúnmìlà Ifá ficou muito popular fora da Nigéria, à
necessidade de conhecer melhor a religião tradicional impulsionou a procura por esses
sacerdotes.
Òrúnmìlà é o único òrìsà que conhece o destino dos homens e seus sacerdotes, os
Bàbàláwos, são grandes conhecedores dos odus e da palavra de Òrúnmìlà.
Os Bàbàláwos no território yoruba (Nigéria) são homens muito responsáveis e
respeitados por suas atitudes e em suas comunidades são considerados exemplos para todos os
cidadãos.
São muitos os episódios envolvendo falsos sacerdotes de ifá nigerianos e brasileiros em
nosso país. Porem nos últimos 30 anos, chegaram ao Brasil uma meia dúzia de bons sacerdotes
de Òrúnmìlà isso inspirou inúmeros brasileiros a serem iniciados em ifá.
É interessante esse raciocínio, pois tantos foram aqueles sem escrúpulo que
prejudicaram a imagem do culto a Òrúnmìlà que teoricamente não deveriam existir pessoas
querendo ser iniciadas em Ifá, no entanto bastou que poucos, mas verdadeiros Bàbàláwos
chegassem até a o nosso território para que a religião tradicional yoruba se tornasse respeitada
e o numero de iniciações em Ifá se multiplicasse.
Algumas pessoas me perguntam como identificar um Bàbàláwo de verdade, eu sempre
simplifico dizendo que um Bàbàláwo de verdade tem um nome de verdade, usado conforme a
tradição Yoruba. Na realidade identificar um Bàbàláwo vai muito além de observar o seu nome,
um Bàbàláwo tem uma postura digna, tem conhecimento, tem segurança e demonstra prazer
em ser identificado como membro da sua família. O culto a Òrúnmìlà e os demais òrìsàs é
ancestral e familiar, o que facilita a identificação do Bàbàláwo.
Não existe um Bàbàláwo ou uma Iyanifa que não use o nome de sua família, é
impossível ser um sacerdote de Òrúnmìlà sem que exista a ligação familiar.
Um sacerdote de ifá é educado para respeitar o seu Oluwo e a sua família, se isso não
acontecer, ele jamais será um Bàbàláwo ou uma Iyanifa, no Brasil é comum nas religiões de
matriz africana as pessoas desenvolverem um trabalho sozinho, longe de suas famílias, no ifá
essa possibilidade não existe. Um Bàbàláwo tem compromisso com a verdade, com a
ancestralidade, para isso ele estuda a vida toda, aprendendo a usar o conhecimento de seus
antepassados e baseando o seu comportamento nas orientações de Ifá.
183

Tudo Sobre Iya Mi Osoronga

“Escrever sobre Iya mi deveria ser um compromisso de todo o sacerdote do culto ao


Orixá e nossa obrigação tentar desmistificar e enaltecer as divindades do panteão Yoruba...”.

Agboola, Ifagbaiyin.

O Orixá é a razão de culto, é amor, é fé e o ideal é adotar uma postura de respeito e


carinho, se não for assim não tem sentido, por essa razão vou escrever mais uma vez sobre esse
Orixá maravilhoso.
Falar sobre Iya mi é transitar pelos textos dos odus Osá meji, Ose Oyeku, Irete meji,
Ogbe Sa e Irete Owonrin e Irete Ogbe, embora Iya mi se faça se presente em todos os odus.
Exu, Orunmila e Iya mi respondem nos duzentos e cinquenta e seis odus, porém em
alguns é exaltada a necessidade de pactuar com Iya mi de forma a criar uma aproximação do
indivíduo com a informação e a ritualística considerando que a energia já o acompanha desde
o nascimento.
Vejo constantemente supostos conhecedores falando mal de Orixá e de determinados
odus um desses é Osá meji famoso entre os incultos como odu negativo, é por essa razão que
vamos começar falando do aspecto positivo contido nesse odu e no culto a Iya mi Osoronga.
No odu Osá meji, Iya mi Odu quando chega a terra age sem limites desrespeitando os
Orixás a ponto de vestir a roupa de Egungun, nesse odu Iya mi encontra dificuldade para dançar
com a roupa de Egungun e Obàtálá introduz em uma incisão do tecido com uma rede para que
permita a ela conseguir enxergar.
É evidente que posterior a essas confusões algo tinha que ser feito e Iya mi deveria ser
acalmada então após uma consulta a Orunmila, Obàtálá é aconselhado a dividir seu alimento
com Iya mi. A água do igbin (omi ero), oferecida para Iya odu que imediatamente adota como
o seu principal alimento, o igbin, com esse ato Obàtálá acalma Iya Odu.
O trabalho de um Babalawo é interpretar os versos de ifá, considerando o citado acima
estamos falando de um convívio harmonioso entre um personagem masculino e um feminino,
a água do igbin é conhecido como a água que acalma, sendo assim esse odu fala de um período
de paz e prosperidade.
Já no odu Irete Owonrin, Obàtálá tenta ludibriar Iya mi se negando a pagar um tributo
para a grande mãe ancestral, Iya mi com habilidade percebe a armação e se antecipa ao embuste
criado.
Interpretando essa passagem do Odu Irete Owonrin percebemos que Iya mi só quer o
que é dela por direito deixando bem claro que ela não se antepõe aos Orixás ou aos seres
humanos. Em uma linguagem popular se fomos comparar o Orun a uma empresa usando assim
uma didática de fácil assimilação o processo seria composto da seguinte forma:
- Olódùmarè seria o equivalente ao presidente da empresa, que teria imediatamente dois
diretores de total confiança.
- Orunmila seria o equivalente a um diretor administrativo que identifica e orienta a questão.
184

- Iya mi seria o equivalente a um diretor executivo com a função de dar andamento as


orientações fornecidas por Orunmila, sendo assim o destino por nós escolhido diante de Ajala
antes de vir para terra é testemunhado por Orunmila e informado a Iya mi.
-Iya mi não interfere na escolha de nosso destino, ela segue as orientações de Orunmila
liberando os seus assistentes (ajoguns), para executarem o trabalho.
Os ajoguns, iku(morte), arun (doença), ejo (problemas), etc, são liberados por Iya mi
em quase a totalidade das situações correspondendo a uma escolha feita por nós mesmos, não
é Iya mi que é ruim ou perversa ela exerce uma função assim como os demais Orixás.
As pessoas iniciadas em Orixá não podem ser sepultadas em gavetas o ideal é que seus
corpos sejam restituídos a terra, sendo assim o ajogun iku(morte), não é ruim, ele exerce uma
função determinada por Iya mi porém em data quase sempre escolhida por nós.
No odu Ogbe Yonu, Orunmila orienta os Orixás para oferecerem efun e osun, além de
várias folhas para Iya mi Osoronga, Iya mi se compromete a não atacar os filhos dos Orixás.
No odu Ogbe Sa, Iya mi se compromete com Orunmila em fazer o bem quando chega a
terra, ela diz a Orunmila, que seus filhos vão ter prosperidade e felicidade.
No odu Irete meji Orunmila viaja para a cidade de Ota e descobri o segredo das Iya mi,
ele oferece o prato predileto delas e eles se tornam amigos.
No odu Irete Ogbe, Iya Odu se torna a esposa de Orunmila que reconhece o poder de
Iya quando ela invoca o pássaro Aragamágo como sendo muito superior ao seu.
No odu Ose Oyeku Orunmila orienta Ogun, Obaluaye, Oduduwa e Obàtálá para que
façam oferenda para Iya mi que reconhece os mesmos como filhos.
A figura materna de Iya mi é confirmada em vários versos de ifá, uma mãe tem o dever
de zelar pelos seus filhos, não tem o dever de agradá-los, nem tudo que uma mãe faz é
compreendido por seus descendentes.
Iya mi é uma mãe zelosa e poderosa que habita dentro de cada um de nós, em nossas
vísceras ela pode se manifestar de maneira positiva ou negativa. Iya mi pode criar um mal-estar
para impedir que a pessoa saia de casa e seja vítima de algo que não faça parte de seu destino,
o problema intestinal certamente vai ser visto de forma negativa, mas será necessário para
manter a pessoa longe do perigo.
A igreja católica ao longo da história combateu a figura feminina por temer a capacidade
que só as mulheres têm, que é abrigar uma nova vida dentro delas, as mulheres são muito
superiores aos homens em vários sentidos, essa é a verdadeira razão do combate histórico a
figura feminina. Iya mi foi uma das vítimas desse processo histórico.
Para cultuar Iya mi é necessário amar e respeitar a figura feminina, respeitar as mães, as
irmãs, as filhas, respeitar a natureza e o poder de criação, Iya mi é a própria vida, é quem nos
gerou, é quem nos abrigou no passado, é que nos abriga no presente, é com certeza quem vai
nos abrigar em um futuro quando passarmos dessa para uma outra.
Algumas pessoas em seu odu de nascimento necessitam se aprofundar no culto a Iya mi,
mais do que outras, isso se deve a própria história de cada odu e ao destino escolhido pela
pessoa, de qualquer forma o culto a Iya mi pode ser praticado por qualquer um, agradar aos
nossos antepassados femininos é muito mais fácil do que parece. Para agradar Iya mi temos que
estar em harmonia com a natureza e com os nossos semelhantes, a essência do culto a Iya mi é
a força feminina maternal que gera e mantém a vida, manter a vida é como amamentar o recém-
nascido, é conservar a essência e estimular o desenvolvimento do que temos de melhor.
185

Iya mi é a força da vida é a capacidade de criar, é a capacidade de amar, é a manutenção


da vida, é o leite que alimenta o recém-nascido é o desenvolvimento sadio é a evolução, é a
capacidade de renovar como forma de perpetuar a vida.
Em uma arvore grande e sadia podemos observar centenas de galhos como extensão do
tronco, podemos ver milhares de folhas e frutos como extensão dos galhos, os frutos dentro
deles têm centenas de sementes que geraram outras arvores.
É esse ciclo da vida que representa Iya mi a arvore é só um exemplo, quando estamos
diante de uma mulher gravida esse mesmo ciclo pode ser observado, assim é a história, nada
acontece sem essas senhoras.
Me causa espanto a falta de conhecimento sobre Iya mi, eu acredito que com o passar
do tempo muito desses mitos devem desaparecer.
O certo é que o tempo para a falta de informação está terminando.
186

BIBLIOGRAFIA

AWODIRAN; A. Ifá ,Ohun enu Olodumare

AWODIRAN; A. Ifá Ohun Ijinle Aye

EPEGA; A. A. Oráculo Sagrado de Ifa

BASCON; W. Ifá Divination

BALOGUN IFASE; A. O. DAFA – Um Poderoso Sistema Para Ouvir A Voz Do Criador.

POPOOLA; S. Ifa Dida An Invitation to Ifa Divination, vol 1

POPOOLA; S. Practical Ifa: For the Beginner and Professional

VERGER; P. Ewé: o uso das plantas na sociedade ioruba

VERGER; P. Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo

VERGER; P. Notas Sobre O Culto Aos Orixás E Voduns

VERGER; P. Saida de Iao

DOS SANTOS; E. Os Nagô e a Morte: Pàde, Àsèsè e o Culto Égun na Bahia Juana

FATUMBI; F. Oriki-Orunmila

SALAMY; A. Ifá a complete divination

SALAMI S. Mitologia dos Orixás Africanos 1

SALAMI S. Ogum: Dor e Júbilo (nos rituais de morte)

JUNIOR; E. F. Dicionário Yorubá (Nagô) Português

SILVA; A. C. A Enxada e a Lança

Вам также может понравиться