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F O R T U N A C R Í T I C A 6

Ivan Teixeira

NEW HISTORICISM
Influenciado pelas obras de Michel

Reprodução
Foucault e Derrida, o new historicism

Fotos
de Stephen Greenblatt afirma que a
produção poética está incrustada no
discurso coletivo de seu tempo,
restaurando a historicidade do texto e
postulando a textualidade da história O crítico Stephen Greenblatt

O movimento crítico hoje conhecido social, na qual se inscrevem não só


Série destaca as principais como new historicism originou-se nos elementos da língua adotada, mas tam-
tendências da crítica literária Estados Unidos, em 1988, por meio de bém das instituições e das convenções
“Fortuna Crítica” é uma série de seis
propostas apresentadas por Stephen segundo as quais se forma o repertório
artigos do ensaísta Ivan Teixeira sobre Greenblatt em seu livro Shakespearean do autor. Conforme a expressão de Louis
as principais correntes da crítica lite- negotiations: The circulation of social energy Montrose, outro defensor do novo
rária. As escolas de interpretação poé- in Renaissance England. Nas páginas dessa método, o crítico deve captar simultanea-
tica abordadas até este último texto fo- obra, o estudioso proclama o desejo de mente a historicidade do texto e a
ram a retórica de Aristóteles e Quin-
tiliano (publicado na CULT 12, em ju-
falar com os mortos. Em franca oposição textualidade da história. Partindo dessa
lho), o formalismo russo (CULT 13, agos- à orientação lingüística da análise textual perspectiva, o new historicism procura
to), o new criticism (CULT 14, setem- defendida pelo estruturalismo e pelos restaurar a forma mental da época
bro), o estruturalismo (CULT 15, outu- remanescentes do new criticism, tal decla- estudada, o que acaba por criar um objeto
bro) e o desconstrucionismo (CULT 16, ração tinha por objetivo restaurar polemi- próprio de pesquisa literária – objeto
novembro). Ivan Teixeira é professor do
camente a dimensão histórica dos estudos próprio mas multifacetado, a que
Departamento de Jornalismo e Editora-
ção da ECA-USP, co-autor do material literários. Greenblatt, apropriando-se da termino-
didático do Anglo – Vestibulares de São Apropriando-se de noções da teoria logia do antropólogo norte-americano
Paulo (onde lecionou literatura brasilei- dos discursos de Michel Foucault e de Clifford Geertz, chama cultura em ação.
ra durante mais de 20 anos) e autor de algumas posições do relativismo des- A integração da literatura no âmbito
Apresentação de Machado de Assis construcionista de Jacques Derrida, dos signos sociais obriga o entendimento
(Martins Fontes) e Mecenato pombalino
e poesia neoclássica (a sair pela Edusp).
Greenblatt recusa-se a entender a lite- do discurso histórico não como contexto,
Tem-se dedicado a edições comentadas ratura como fenômeno isolado das de- mas como texto de uma época. Conforme
de clássicos – entre eles, as Obras mais práticas sociais. Ao contrário, inter- os pressupostos foucaultianos do new
poéticas de Basílio da Gama (Edusp) e preta-a como uma dentre as muitas historicism, a produção poética de um
Poesias de Olavo Bilac (Martins Fon- estruturas em que se pode ler o espírito autor deve necessariamente ser consi-
tes) – e dirige a coleção “Clássicos para
de uma época. Como discurso, a literatura derada como discurso singular incrus-
o vestibular”, da Ateliê Editorial.
caracteriza-se antes de tudo como prática tado no discurso coletivo de seu tempo.

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Não se trata de entender a obra como verdadeiro etc. Os valores essenciais dos O ensaio mais célebre de Greenblatt
reflexo do contexto e muito menos de povos são sempre circunstanciais e su- talvez seja “Resonance and wonder”, de
considerar a história como pano de fundo jeitos ao jogo transitório das formulações 1990. Nesse texto, o autor enumera três
para uma compreensão supostamente históricas, das quais depende a escolha características essenciais do velho histo-
politizada da obra. Trata-se, ao contrário, das instituições e das pessoas que elabo- ricismo: (1) crença na idéia de que a
de entender a produção artística como ram e preservam o código que regula a história é presidida por um processo
parte integrante de um discurso mais relação entre os indivíduos e destes com inexorável e cujo curso o homem pratica-
amplo, o discurso histórico, do qual a os padrões e os valores vigentes. mente não pode alterar; (2) convicção de
obra de arte participa como se fosse frase Outro traço importante do pensa- que o historiador deve evitar juízos de
intercalada ou procedimento retórico. mento foucaultiano é a idéia de que a valor em seu estudo do passado ou de
Hayden White, que também partilha culturas antigas; (3) veneração do passado
da necessidade da renovação dos estudos ou da tradição.
culturais, julga que o discurso historio- Greenblatt opõe-se a essas três
gráfico possui a mesma natureza do categorias, propondo alternativas polê-
discurso literário, chegando a aplicar micas para elas. A primeira grande
categorias importantes da crítica literária, diferença entre o historicismo tradicional
como os gêneros e os tropos de linguagem, e o novo historicismo consiste na incor-
à classificação das diversas modalidades poração da idéia de história como dis-
de historiografia. Estabelece-se, assim, curso: a história não é o fato, mas o regis-
uma relação de homologia entre história tro dele. Essa noção não se esgota no
e literatura, e não apenas uma relação de preceito marxista segundo o qual a
complementaridade. As manifestações perspectiva do historiador determina a
culturais de um período nada mais são natureza política do registro. Trata-se de
do que uma constelação de signos da algo mais. Para que o fato se converta em
realidade que as compõe. A obra de arte história é preciso primeiro assumir a
integra essa constelação, a que Stephen condição de discurso, de logos, o que não
Greemblatt chamou poética da cultura, no O crítico Hayden White quer dizer que o evento deva necessa-
ensaio “Towards a poetics of culture”, de riamente atingir condição de enunciado
encontra uma relação de
1987. verbal para ser história, mas sim mani-
homologia entre o discurso
Segundo Foucault, as vozes do tempo festar-se num sistema autoconsciente de
historiográfico e o discurso
são variadas e quase infinitas, mas podem significação social. A morte absoluta-
literário, aplicando
ser sintetizadas pela idéia de episteme, mente ignorada de um indivíduo no
entendida como o modo de articulação categorias como gêneros e
deserto não pertence à história. Mas o
entre os vários discursos que compõem a tropos de linguagem aos assassinato secreto de um sem-terra nos
história de um povo: política, arte, relatos dos historiadores confins de uma fazenda do Mato Grosso
poética, ética, moda etc. O pensador é história, porque se insere num processo
francês não entende a história como história não é teleológica, quer dizer, não catalogado pela consciência social do
narrativa ou análise dos acontecimentos se orienta para um fim racionalmente momento. Nesse sentido, a história não é
em sua relação de causa e efeito, mas concebido pelo próprio devir das insti- feita pelo homem (categoria metafísica),
como um imenso discurso gerado pela tuições e dos fatos, como pensava a tra- mas por homens em busca de significação
vida orgânica das ocorrências físicas e dição metafísica. A concepção teleo- (categoria circunstancial). Não se trata,
espirituais de determinado momento. A lógica da história elege o presente como portanto, de um processo absoluto e
noção de episteme foucaultiana implica o ponto de chegada de todos os esforços irreversível, mas do resultado impre-
o afastamento de qualquer crença univer- do homem. Foucault, ao contrário, não visível de situações concretamente assi-
salizante, pois explica os valores em entende o presente como espaço privile- miláveis.
termos estritamente sociais, sem nenhum giado no tempo. Interpreta-o apenas Em sua refutação do segundo
recurso à metafísica. Cada época cria o como o lugar de onde se produz o conhe- princípio do historicismo tradicional,
padrão que estabelece a noção de certo cimento, do qual decorrem os discursos Greenblatt afirma que o passado deve
ou errado, de belo ou feio, de falso ou e as várias formas de poder de uma época. ser entendido pela perspectiva do

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presente, isto é, partilha da idéia da Shakespeare se reveste de tanta atitude escreveu também um admirável poema
necessidade de juízos de valor sobre o política quanto se revestiu de propriedades herói-cômico: O desertor (1774), com-
passado. Todavia, temeroso talvez de dramáticas a coroação de Elizabeth I. Em pletamente esquecido hoje em dia. A
destoar da doutrina foucaultiana, outros termos, o new historicism atenua os escassa fortuna crítica desse texto se deve
Greenblatt não deixa de problematizar a limites entre discurso artístico e discurso principalmente ao magistério da inter-
aplicação desses juízos, criando uma social, entendendo aquele como projeção pretação romântica, que, por força de seu
estratégia operacional a que chama senso da estrutura deste. Não se trata, repita-se, nacionalismo, desqualificou o poema sob
de distanciamento. O senso de distancia- pretexto de não apresentar interesse para
mento leva-o a ratificar a noção de que o a formação da literatura propriamente
presente não decorre de suposta inevita- brasileira.
bilidade histórica (recusa da história Pela perspectiva do new historicism,
como progressão teleológica), devendo esse não seria o modo correto de ler O
ser entendido apenas como o ponto a desertor. Tendo sido escrito como parte da
partir do qual se reconstrói o passado. celebração da reforma da Universidade
Além disso, o ensaísta considera que de Coimbra, levada a efeito pelo Marquês
há dois modos de relacionamento entre de Pombal em 1772, esse texto deve ser
passado e presente: por analogia e por restituído ao discurso social de que fez
causalidade. Em qualquer dos casos, julga parte. Nesse caso, caberia ao crítico
inevitável a presença de juízos de valor, recompor o universo do mecenato
pois afirma que a suposta isenção do velho pombalino e estudar as instituições e os
historicismo não passa de subserviência valores que o ministro representava.
aos valores oficiais do Estado e aos estudos Caberia também investigar o rigoroso
acadêmicos, visto que a consciência da repertório coletivo de convenções que
impossibilidade de isenção do historiador estabelecia desde as tópicas literárias
na formulação do discurso histórico (coisas retóricas) e o modo de apro-
conduz ao cerceamento da imposição Há uma homologia priação delas até os princípios de organi-
arbitrária de valores atuais sobre o passado. histórica e artística entre zação da frase e do poema. Efetuada essa
Quanto ao terceiro item do paralelo a Estátua Eqüestre de operação, O desertor talvez renascesse para
de Greenblatt entre o velho e o novo D. José I e a retórica a sensibilidade atual, que poderia apreciar
historicismo, não parece necessário dizer celebrativa contida na nele não apenas a deliciosa ironia contra
que o ensaísta recusa a teoria da vene- poesia de Silva Alvarenga a neo-escolástica jesuítica, mas também
ração do passado e da tradição. Ao e Basílio da Gama o sugestivo encômio alegórico ao
contrário, empenha-se em criar categorias Marquês de Pombal, cuja política
substitutivas que incorporem e repre- colocava então a cultura lusitana em
sentem uma visão crítica da história. Em de entender a arte como reflexo ou como contato com o discurso ilustrado europeu.
lugar da veneração, propõe o sentimento produto condicionado por elementos O mesmo se pode dizer dos versos que
de maravilha (wonder), responsável pelo exteriores a ela, como fazem supor certas Basílio da Gama, mentor de Silva
desencadeamento do trabalho historio- aplicações do marxismo. Cumpre apenas Alvarenga na propagação do ideário
gráfico, que não deve apenas se dedicar à entendê-la como parte de discurso mais pombalino, escreveu para os festejos da
reconstrução da totalidade de culturas, amplo, para cuja compreensão é necessário inauguração da Estátua Eqüestre de D.
mas também se empenhar na análise da desintegrá-la do todo e, depois, em José I (1775), erigida por Pombal em
marginália dos processos unificadores, movimento heurístico, reintegrá-la ao homenagem ao rei. Os festejos dessa
como fragmentos de lendas, acusações de organismo de que é parte. inauguração incorporaram diversos
bruxaria, manuais médicos – pormenores Tome-se um exemplo da literatura em traços retóricos da alegoria poética, assim
simbólicos que, segundo Greenblatt, língua portuguesa. Como se sabe, como os textos celebrativos do evento se
revelam toda a estrutura imaginária e Manuel Inácio da Silva Alvarenga, autor apropriaram de outras tantas fórmulas
ideológica da sociedade que os produziu. de Glaura (1799), o mais prestigiado políticas do Antigo Regime. Dentre
Nesse sentido é que se deve entender a poema lírico do setecentismo brasileiro outras coisas, esse monumento repre-
reveladora afirmação de que uma peça de depois de Marília de Dirceu (1792), sentou a glorificação da carreira política

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B I B L I O G R A F I A

de Pombal, verdadeira apoteose em vida: relações entre arte e história, a crítica


na parte superior do monumento, acima tradicional fala em alusão, símbolo,
de tudo, com ares emblemáticos, vê-se a alegoria, representação e, sobretudo, em • “Towards a poetics of culture”, de
figura alegórica de um rei abstrato, mimesis. Considerando esses termos Stephen Greenblatt. Em The new
cavalgando um heráldico cavalo sem vida. insuficientes, Greenblatt proclama a historicism, editado por H. Aram
Em baixo, como suporte do conjunto em necessidade da criação de nova termi- Veeser. Nova York/Londres, Rou-
que se eleva o rei, ostenta-se o busto do nologia, capaz de descrever satisfato- tledge, 1989.
marquês, com traços singulares, estiliza- riamente a transferência da matéria de • “Resonance and wonder”, de
dos como retrato de Sebastião José de uma esfera discursiva para outra e, ao
Stephen Greenblatt. Em Literary
Carvalho e Melo. Enfim, o monumento mesmo tempo, capaz de explicar a
theory today, editado por Peter Collier
encarna a idéia de que Pombal era a base transformação do discurso histórico em
da sustentação política do Rei, noção que discurso estético. Qualquer que seja a e Helga Geyer-Ryan. Ithaca, Nova
se transformou em coisa retórica na arte saída, o ensaísta enfatiza que a trans- York, Cornell University Press, 1990.
do período. Homóloga à concepção ferência não se processa numa só direção, • “Introduction”, de H. Aram Veeser.
arquitetônica da Estátua Eqüestre, a porque o próprio discurso histórico já Em The new historicism, editado por
tópica de Pombal como base do poder traz em si inúmeras propriedades H. Aram Veeser. Nova York/Londres,
reitera-se em diversos momentos da estéticas. Rouledge, 1989.
poesia de Basílio da Gama, dos quais os Dentre as inúmeras contribuições do • “What is the new historicism?”, de
versos seguintes, extraídos de diferentes new historicism para o exercício profissional Ross C. Murfin. Em The dead, de James
poemas, podem servir de exemplo: da crítica, talvez a mais instigante (e útil) Joyce. Editado por Daniel R. Schwarz.
seja a ratificação da idéia do Belo como
Reconheço a JOSÉ. POMBAL eu vejo, Boston/Nova York, Bedford Books of
decorrência de convenções históricas.
Que a Coroa na testa lhe sustinha. St. Martin’s Press, 1994.
Subjaz à sua visão do fenômeno literário o
Reverente me inclino, e o Cetro beijo. • “New historicism”, de Charles E.
princípio de que a beleza ou a qualidade
• Bressler. Em Literary criticism: An
artística não decorrem da Graça nem
A mão, seguro arrimo da coroa, introduction to theory and practice.
exclusivamente do talento individual.
A mão que da ruína ergueu Lisboa.
Resultam, antes, da conformidade das Englewood Cliffs, Nova Jersey,
Assim, a produção de épocas passadas aspirações do artista com os padrões e com Prentice Hall, 1994.
só ganha sentido artístico no presente o repertório de sua época. Embora ele- • New historicism and cultural
quando posta em situação histórica, mentar, essa noção, que necessariamente materialism, de John Brannigan. Nova
quando entendida como projeção de uma implica a atenuação de certezas transcen- York, St. Martin’s Press, 1998.
cultura em ação, regida por traços dentes, não parece suficientemente acli-
• Meta-história: A imaginação histórica
específicos que devem ser arqueolo- matada nas manifestações diárias do debate
do século XIX, de Hayden White.
gicamente restaurados. Ao abordar as literário entre nós.
Tradução de José Laurêncio de Melo.
São Paulo, Edusp, 1995.
O filósofo • Trópicos do discurso, de Hayden White.
Divulgação

francês Michel Tradução de Alípio Corrêa de Franca


Foucault dá o Neto. São Paulo, Edusp, 1994.
nome de episteme • Possessões maravilhosas, de Stephen
à articulação Greenblatt. Tradução de Gilson César
das várias vozes Cardoso de Souza. São Paulo, Edusp,
que compõem 1996.
um imenso • A ordem do discurso, de Michel
discurso gerado Foucault. Tradução de Laura Fraga de
por determinado
Almeida Sampaio. São Paulo, Edições
recorte histórico
Loyola, 1996.

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