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enfrentamento à

violência sexual contra


crianças e adolescentes

2
A CONSTITUIÇÃO
FEDERAL
E O ESTATUTO DA
Criança e do
Adolescente
e a Legislação
Complementar
Fernando Luz

NOSSA VOZ. NOSSA FO RTA L E Z A.


SUMÁRIO

1. Breve contexto histórico...........................................................................19


2. Convenção sobre os Direitos da Criança..................................................22
3. Constituição Federal.................................................................................26
4. Estatuto da Criança e do Adolescente..........................................................27
5. Outras normas relacionadas ao enfrentamento da violência sexual.....30

Referências......................................................................................................30

Perfis do autor e do ilustrador.....................................................................32


#FICAADICA
POR QUE É INAPROPRIADO CHAMAR
A CRIANÇA E O ADOLESCENTE DE MENOR?

Breve contexto Porque esse termo remonta ao período em que o olhar do Estado para com
crianças e adolescentes, sob a ótica da Doutrina da Situação Irregular,
HISTÓRICO somente os enxergava como pessoas “portadoras de necessidades” e, quando
muito, podiam receber algumas benevolências assistenciais. A partir da
O processo de redemocratização no Bra- visão traduzida pela Doutrina da Proteção Integral, indistintamente todas
sil coincide, principalmente na década de as crianças e adolescentes são vistos como sujeitos de direitos. O próprio
1980, com um período em que se constata, sentido da palavra denota uma visão superada de superioridade do adulto
em nível mundial, uma mudança profun- em relação a crianças e adolescentes. Portanto, por mais que possa parecer
da do olhar da sociedade sobre crianças um simples ato de encurtar a forma como se identifica esse grupo etário,
e adolescentes: estes passam a ser vistos a expressão carrega um significado bastante depreciativo e totalmente
como sujeitos de direitos e não mais como descompassado com as normas vigentes. Não cometa esse erro!
objetos de tutela.
Até então, a legislação brasileira sobre
crianças e adolescentes era marcada
pelo que se denominou de Doutri-
na da Situação Irregular, que
permeou todo o conjunto
das políticas sociais bra-
sileiras com um caráter
paternalista, assistencia-
lista e tutelar.
A superação do assis-
tencialismo e do pater-
nalismo ocorre quando
se supera a visão de que o
atendimento das necessi-
dades básicas dessa popu-
lação não era um favor, mas
sim direitos legal e constitu-
cionalmente assegurados.
Indiscutivelmente, houve
uma mudança paradigmática.
A visão da “criança-objeto” da
“criança menor” é confrontada
por forte mobilização social que
percebia a criança como sujeito
de direitos (PINHEIRO, 2006).

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 19


#FICAADICA
Você sabia que o conjunto de Este princípio garante o direito a O registro do nome fica sob
Direitos da Criança e do Adolescente proteção especial da criança para o a responsabilidade dos pais ou
é fundamentado e baseado na seu desenvolvimento físico, mental responsáveis legais da criança,
Declaração Universal dos Direitos e social. Ou seja, ela terá proteção bem como a alegação de sua
Humanos, que são propostos e a oportunidade de dispor de nacionalidade.
em dez princípios que devem ser serviços estabelecidos por lei que
respeitados e preconizados? possam ajudá-la no seu processo 4. Toda criança terá direito a
Veja detalhadamente cada um de desenvolvimento, seja físico, alimentação, recreação e
dos princípios que fundamenta os mental, moral, espiritual e social. assistência médica.
direitos das crianças: Esses serviços devem ser Neste princípio é assegurado
estabelecidos em lei e oferecidos a toda criança o direito a ter
1. Todas as crianças, de forma saudável e normal, além alimentação, moradia e assistência
independentemente de cor, de terem condições de liberdade e médica adequadas, tanto para
sexo, língua, religião ou dignidade para as crianças. criança, quanto para mãe.
opinião, devem ter os direitos
A criança e sua mãe então
garantidos. 3. Crianças têm direito
poderão ter a garantia de uma boa
a nome e nacionalidade.
Este primeiro princípio é o saúde, onde são disponibilizados
que garante que toda criança Este princípio garante que toda cuidados especiais que vão desde o
será assistida dos direitos criança tem direito, desde o seu pré-natal até o pós-natal, além de
propostos pela Unicef, com base nascimento, a ter um nome e uma um local para morar e os serviços
na Declaração dos Direitos da nacionalidade. médicos adequados.
Pequena Criança.
Neste conjunto de direitos, a
criança poderá desfrutar de todos
os direitos desta declaração,
sem distinção de raça, religião,
nacionalidade, idioma, opiniões
políticas ou razão de qualquer outra
natureza que seja inerente à
própria criança ou à sua família.
2. A criança será
protegida e
terá direito ao
desenvolvimento
físico, mental,
moral, espiritual e
social adequados.

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5. Toda criança portadora Este princípio aborda a 9. A criança será protegida
de necessidades especiais garantia do direito à educação contra qualquer crueldade e
terá direito a tratamento, gratuita das crianças e o direito ao exploração.
educação e cuidados lazer infantil. Neste princípio é garantido o
especiais. O interesse da criança em direito à criança de ser protegida
aprender deve ser superior e contra o abandono e a exploração
Este princípio é voltado
direcionador daqueles que têm a no trabalho.
para a garantia de que a saúde,
responsabilidade de educá-los. A criança não deve ser objeto
a educação e o tratamento
Portanto, a criança deve de nenhum tipo de tráfico e nem
de crianças portadoras de
ter seus ensinamentos e ser utilizada como mão de obra
necessidades especiais
aprendizados através de para qualquer tipo de trabalho sem
seja oferecida.
dinâmicas lúdicas como jogos ter uma idade mínima adequada.
Essas crianças sofrem algum
e brincadeiras, além de ter o Ela também não pode se ocupar
tipo de impedimento social e
direito de receber a educação de nenhum tipo de emprego ou
devem receber o tratamento
escolar de forma gratuita e trabalho que possa prejudicar
adequado para sua inserção na
obrigatória, pelo menos nas sua saúde ou a sua educação,
sociedade, tendo também em vista
etapas elementares. ou impedir seu desenvolvimento
as particularidades do seu caso.
Ela necessita de uma educação físico, mental ou moral.
6. Toda criança precisa que favoreça sua cultura geral
10. Toda criança terá proteção
de amor e compreensão. e lhe permita, em condições de
contra atos de discriminação.
igualdade de oportunidades,
Neste princípio é garantido O último princípio trata do
desenvolver suas aptidões e sua
que toda criança deve ter direito direito da criança de crescer
individualidade, seu senso de
ao amor e à compreensão tanto dentro de uma sociedade solidária,
responsabilidade social e moral,
por parte dos pais, quanto compreensiva, fraterna e justa.
vindo a ser um membro
da sociedade. Ela deve ser protegida contra
útil à sociedade.
Por estar em fase de toda e qualquer prática que
desenvolvimento, a criança 8. Toda criança estará, em fomente a discriminação racial,
necessita de amor e compreensão qualquer circunstância, religiosa ou de qualquer outra
para que ela cresça de maneira entre os primeiros a receber espécie, devendo ser educada
plena e harmoniosa, tendo o proteção e socorro. dentro de um espírito de
amparo necessário dos pais e compreensão, tolerância,
Este princípio fala sobre o amizade entre os povos,
responsáveis.
direito da criança de ser socorrida paz e fraternidade universais
7. Toda criança terá direito a em primeiro lugar, em casos de e com plena consciência de que
receber educação, que será acidentes ou catástrofes. Ela deve consagrar suas energias
gratuita pelo menos deve figurar entre os primeiros a e aptidões ao serviço
no grau primário. receber proteção e auxílio. de seus semelhantes.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 21


O mais importante neste movimento é a O Brasil avançou bastante em relação
afirmação da universalidade dos direitos à proteção de crianças e adolescentes no
da criança. Não se trata mais de categorizar tocante as suas normas. A proposta aqui é
a criança e o adolescente como algo menor, identificar tais avanços a partir de três nor-
como faziam os dois Códigos de Menores
(1927 e 1979), mas de afirmar sua condição
mas essenciais: a Convenção sobre os Di-
reitos da Criança, de 1989 (CDC); a Consti- Convenção
humana, a condição de plenos credores de
direitos humanos gerais e especiais, em ra-
tuição Federal de 1988 (CF/88); e o Estatuto
da Criança e do Adolescente, de 1990 (ECA). sobre
zão de sua condição geracional.
A violência sexual passa a integrar a
No entanto, é preciso ressaltar que, em-
bora esse avanço normativo seja um passo
OS DIREITOS
agenda pública a partir do momento que
suas principais vítimas, as mulheres, pas-
importante, depende do desenvolvimento
de políticas públicas protetivas e garanti-
DA CRIANÇA
sam a denunciar e revelar esta forma es- doras de direitos para ter concretude. Com a vigência da CDC, a qual repercute
pecífica de violação de direito. Apesar desses grandes avanços norma- na concepção da CF/88 e do ECA, impõe-se
O processo de atuação e mobilização da tivos, o Brasil ainda enfrenta imensos de- uma outra forma de compreender e agir
sociedade civil brasileira, durante e após safios para assegurar a dignidade humana em relação a crianças e adolescentes, sus-
a ditadura militar, leva a uma agenda de de suas crianças e adolescentes, o que é tentada pela concepção da Doutrina da
reconhecimento de uma série de direitos. também uma realidade mundial. Proteção Integral.
Nesse cenário, ganha força o entendimento
de que a violência sexual representa uma
grave violação de direitos humanos e refle- CDC: MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS
xo de um país desigual, com grupos sociais
sem direitos e sem cidadania.
A essência da Criança como Criança enquanto
A violência sexual, embora denunciada
CDC coloca objeto de tutela um Sujeito de
há muito tempo, passa a compor a agenda
para o mundo (Doutrina Direitos (Doutrina
pública brasileira a partir do final dos anos
uma mudança de Situação da Proteção
de 1970. O processo de enfrentamento da
paradigmática. Irregular). Integral).
violência sexual contra crianças e adoles-
centes, portanto, é marcado por esta trajetó-
ria de afirmação dos direitos das mulheres
e dos direitos de crianças e adolescentes.

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agrupáveis em quatro categorias: direitos à
sobrevivência, direitos ao desenvolvimento,
direitos à proteção e direitos à participação.
Em suma, a criança deve ter promovi-
do e garantido o direito à vida, o direito de
desenvolver sua vida e suas potencialida-
des com autonomia, o direito de partici-
par e ter suas opiniões respeitadas, mas,
Da Convenção se extraem quatro prin- quando quaisquer desses direitos forem
cípios que norteiam a realização dos di- violados, tem o direito de ser protegida.
reitos de crianças e adolescentes, que po- É importante destacar ainda que, em
dem ser assim sintetizados: 2000, foi firmada uma espécie de comple-
mento à Convenção, com a mesma força
• Direito à Participação: as crianças,
normativa, denominado de Protocolo Fa-
como pessoas e sujeitos de direito,
cultativo à Convenção sobre os Direitos da
podem e devem expressar suas opi-
Criança referente à Venda de Crianças, à
niões nos temas que lhes afetam;
Prostituição Infantil e à Pornografia Infan-
• Direito à sobrevivência e ao de- til1, o qual aborda, em maior profundida-
senvolvimento: as medidas que de, questões relacionadas à exploração se-
tomam os Estados-membros para xual de crianças e adolescentes, que serão
preservar a vida e a qualidade de melhor investigadas ao longo do curso.
vida das crianças devem garantir
um desenvolvimento com harmonia 1 Adotado em 25 de maio de 2000 e ratificado
nos aspectos físico, espiritual, psico- pelo Brasil em 27 de janeiro de 2004. Ver
Decreto 5007, de 8 de março de 2004
lógico, moral e social, considerando
suas aptidões e talentos;
• Interesse superior da criança: to-
das as políticas e decisões devem
considerar com primazia o interesse
superior da criança;
• Não discriminação: nenhuma crian-
ça deve sofrer discriminação por
motivos de raça, credo, cor, gênero,
idioma, casta, região, território ou
condição física.
Esses princípios devem balizar a imple-
mentação das normas disciplinadoras dos
direitos da criança, que, por seu turno, são

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 23


TÁ NA Lei
O QUE DIZ A CONVENÇÃO?

por instituições públicas ser ouvida em todo processo


Princípio da não
ou privadas de bem-estar judicial ou administrativo que a
discriminação (art. 2):
social, tribunais, autoridades afete, quer diretamente quer por
1. Os Estados Partes respeitarão os administrativas ou órgãos intermédio de um representante
direitos enunciados na presente legislativos, devem ou órgão apropriado, em
Convenção e assegurarão sua considerar, primordialmente, conformidade
aplicação a cada criança sujeita o interesse maior da criança. com as regras processuais da
a sua jurisdição, sem distinção legislação nacional.
alguma, independentemente de Direito à vida, à sobrevivência
raça, cor, sexo, idioma, crença, e ao desenvolvimento (art. 6): Proteção contra toda forma
opinião política ou de outra de violência (art. 19)
índole, origem nacional, étnica 1. Os Estados Partes reconhecem
ou social, posição econômica, que toda criança tem o direito 1. Os Estados Partes adotarão
deficiências físicas, nascimento inerente à vida. todas as medidas legislativas,
ou qualquer outra condição da 2. Os Estados Partes assegurarão administrativas, sociais e
criança, de seus pais ou de seus ao máximo a sobrevivência e o educacionais apropriadas para
representantes legais. desenvolvimento da criança. proteger a criança contra todas
as formas de violência física ou
2. Os Estados Partes tomarão
Direito à participação (art. 12): mental, abuso ou tratamento
todas as medidas apropriadas
negligente, maus tratos ou
para assegurar a proteção 1. Os Estados Partes assegurarão exploração, inclusive abuso
da criança contra toda forma à criança que estiver capacitada sexual, enquanto a criança
de discriminação ou castigo a formular seus próprios juízos estiver sob a custódia dos
por causa da condição, das o direito de expressar suas pais, do representante legal
atividades, das opiniões opiniões livremente sobre ou de qualquer outra pessoa
manifestadas ou das crenças todos os assuntos relacionados responsável por ela.
de seus pais, representantes com a criança, levando-se
legais ou familiares. devidamente em consideração Proteção contra a violência
essas opiniões, em função da sexual (art. 34):
Princípio do interesse superior idade e maturidade da criança.
DA criança (art. 3): 1. Os Estados Partes se
2. Com tal propósito, será comprometem a proteger a
1. Todas as ações relativas às proporcionada à criança, em criança contra todas as formas
crianças, levadas a efeito particular, a oportunidade de de exploração e abuso sexual.

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Nesse sentido, os Estados Partes
tomarão, em especial, todas as
medidas de caráter nacional,
bilateral e multilateral que
sejam necessárias para impedir:

a) o incentivo ou a coação para


que uma criança se dedique
a qualquer atividade sexual
ilegal;
b) a exploração da criança
na prostituição ou outras
práticas sexuais ilegais;
c) a exploração da criança em
espetáculos ou materiais
pornográficos.

Atenção às vítimas de toda


forma de violência (art. 39):
Os Estados-partes adotarão todas
as medidas apropriadas para
estimular a recuperação física
e psicológica e a reintegração
social de toda criança vítima de:
qualquer forma de abandono,
exploração ou abuso; tortura
ou outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos
ou degradantes; ou conflitos
armados. Essa recuperação e
reintegração serão efetuadas
em ambiente que estimule a
saúde, o respeito próprio e a
dignidade da criança.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 25


Constituição
Federal
No final dos anos 1980, ao tempo da rea-
lização do processo constituinte brasileiro
(1988), conclui-se o longo processo de es-
tabelecimento da CDC.
Neste período, o Criança Constituin-
te e o Criança Prioridade Nacional, dois
movimentos da sociedade civil, estabele-
cem no texto constitucional nascente os
princípios da proteção integral dos direi-
tos da criança e do adolescente com abso-
luta prioridade.
Pode-se perceber no destaque do pará-
grafo 4º, do art. 227, a relevância atribuída
ao enfrentamento da violência sexual con-
tra crianças e adolescentes, pois em todo
o texto constitucional, somente neste
dispositivo a violência sexual foi expli-
citamente tratada.
A Constituição Federal consagra logo
em seu art. 5º a condição de que crianças
e adolescentes são sujeitos de direitos, ao
dispor que “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza”.

26 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Além disso, no tocante a crianças e ado-
lescentes, afirma, em seu art. 227, os princí-
pios da prioridade absoluta, da responsabi-
lidade tripartite e da condição de sujeitos de
direitos a contarem com proteção integral.
Há ainda, nesse dispositivo legal, referência
Estatuto
expressa ao tema da violência sexual. da Criança
E DO ADOLESCENTE
TÁ NA Lei O Brasil foi o primeiro país a promulgar
um marco legal (o ECA), em 1990, em
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 consonância com a Convenção sobre os
Art. 227. É dever da família, da Direitos da Criança (1989), decorrido ape-
sociedade e do Estado assegurar nas um ano de sua aprovação no âmbito
à criança e ao adolescente, com das Nações Unidas. Estima-se que o ECA
absoluta prioridade, o direito à vida, tenha inspirado reformas legislativas em
à saúde, à alimentação, à educação, diversos países.
ao lazer, à profissionalização, à

LINHA DO Tempo
cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, A simples leitura do art. 1º das duas edições do Código de
discriminação, exploração, Menores, comparada ao último art. 1º, já denota claramente
violência, crueldade e opressão. (...) a mudança da nova legislação, que trata universalmente
§ 4º A lei punirá severamente o todas as crianças e adolescentes a partir do mesmo
abuso, a violência e a exploração patamar de sujeitos de direitos. Confira:
sexual da criança e do adolescente.
DO CÓDIGO DE MENORES AO ECA
1927 - Art.1º O menor, de um ou outro sexo, abandonado
ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade,
será submetido pela autoridade competente às medidas
de assistência e proteção contidas neste Código.
1979 - Art. 1º Esta Lei dispõe sobre assistência, proteção
e vigilância a menores.
1990 - Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral
à criança e ao adolescente.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 27


O ECA apresenta inovações que até nos distintos tratados internacionais de
hoje não encontram similaridade em ou- direitos humanos, já abordados no curso.
tros países, a exemplo dos Conselhos de Tais grupos de direitos revelam, de for-
Direitos, com composição paritária e cará- ma inequívoca, a concepção de que crian-
ter formulador, deliberativo e de controle ças e adolescentes são sujeitos de direi-
social das políticas públicas destinadas tos, na medida em que a lei dispõe sobre
a crianças e adolescentes, bem como os todo um conjunto de condições a serem
Conselhos Tutelares, eleitos na própria asseguradas a esse público, sem as quais
comunidade e com independência dos não podem viver com dignidade. O ECA
três Poderes, com as funções de ouvidoria dispõe detalhadamente sobre o direito à
comunitária e de fiscalização dos progra- educação, à saúde, ao lazer, à profissiona-
mas de atendimento. lização, com definições claras de atribui-
Além disso, a partir do Estatuto, foi ções e condições.
implementado um sistema de justiça e No ECA encontram-se também as di-
de segurança específico para crianças e retrizes para a atuação sistêmica das
adolescentes, com a criação de Juizados instituições quando inobservado o con-
da Infância e Juventude, bem como Nú- junto de direitos de que são credores as
cleos Especializados no Ministério Público crianças e os adolescentes. O fato de
e Defensoria, além de delegacias especia- que esse conjunto de regras, princípios
lizadas, tanto para atendimento de crian- e diretrizes estejam normatizados re-
ças e adolescentes vítimas quanto autores presentam um passo fundamental
da violência. Contudo, essa implantação para que sua observância seja exigí-
ainda é insuficiente para as dimensões do vel. É o que permite dar concretu-
país e sua diversidade regional, em espe- de e exigibilidade à realização da
cial em áreas de difícil acesso e de maior Doutrina da Proteção Integral.
vulnerabilidade social. Quanto à violência sexual,
Pode-se ler que a própria Conven- compreende-se que representa
ção, a Constituição Federal e o Estatuto todo ato atentatório ao direito
da Criança e do Adolescente afirmam ao humano ao desenvolvimento se-
longo de seus dispositivos quatro grupos xual da criança e do adolescente,
de direitos da criança e do adolescente: à praticado por agente em situação
vida, ao desenvolvimento, à proteção e à de poder e de desenvolvimento se-
participação. Estes direitos não excluem, xual desigual em relação a crianças e
porventura, quaisquer outros dispostos adolescentes vítimas.

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Esta abordagem permite entender que:
1. a violência sexual é uma violação
aos direitos humanos de crianças e
adolescentes;
2. crianças e adolescentes têm direito
ao desenvolvimento harmonioso
de sua sexualidade;
3. a violência sexual pode ser realiza-
da por atos complexos; e
4. e a violência sexual é praticada por
alguém numa situação de poder e
desenvolvimento sexual desigual
em relação à vítima.
O autor da violência sexual se vale des-
sa relação desigual, razão pela qual ela
deve ser considerada como conduta ilegal,
a demandar a devida responsabilização.
Portanto, crianças e adolescentes
têm o direito de ter sua sexualidade
protegida e promovida em obser-
vância a sua condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento (Art.
6º do ECA), e este direito impõe
um comportamento proativo à
sociedade e ao Estado para a ga-
rantia de seu exercício.

#FICAADICA
ASSISTA A ESSES VÍDEOS INTERESSANTES SOBRE O TEMA:
Direitos Humanos: o que são e para que servem?
(Plataforma EduLivre) -
www.edulivre.org.br/trilhas/19467/direitos-humanos-o-
que-sao-e-para-que-servem.
Prof. Antonio Carlos Gomes da Costa – Princípios do ECA -
www.youtube.com/watch?v=It-bZaFuXP0&t=44s.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 29


Outras normas
relacionadas
AO ENFRENTAMENTO
DA VIOLÊNCIA SEXUAL
Vale destacar que à luz de toda essa con-
cepção de infância e adolescência pre-
trado o amadurecimento da necessidade
de se pôr em prática a Doutrina da Prote- Referências
sente na CDC, CF e ECA é incompatível ção Integral. Porém, é necessário avaliar BRASIL. Convenção sobre os Direitos
com a violação do direito ao desenvol- as alterações na dinâmica social, e, por da Criança (Decreto nº 99.710/1990
vimento sexual saudável e protegido de consequência, nos fatores influenciado- – Promulga a Convenção sobre os
crianças e adolescentes. res das situações de violação de direitos. Direitos da Criança). Disponível em:
Por isso mesmo as condutas que con- Contata-se que as normas internacio- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
figuram violência sexual representam cri- nais e nacionais expressam uma opção decreto/1990-1994/d99710.htm. Acesso
mes, sejam aqueles tipificados no próprio ético-jurídico-política. Ao reconhecer a ci- em: 02 out. 2019.
ECA ou os tipificados no Código Penal. dadania e a condição humana de crianças
Ademais, é preciso enfatizar ainda a e adolescentes como sujeito de direitos, o BRASIL. Constituição da República
correlação do tema com o Código de Pro- Brasil assume, especialmente o poder pú- Federativa do Brasil. Brasília: Casa Civil,
cesso Penal, que vai dar às autoridades blico, a responsabilidade pela promoção, 1988. Disponível em http://www4.planalto.
competentes os parâmetros para a apu- controle e garantia desses direitos. gov.br/legislacao. Acesso em: 02 out. 2019.
ração de tais delitos e a responsabilização Contudo, é notória a dissonância en- BRASIL. Estatuto da Criança e do
de quem os comete. tre o que preconizam as normas e a reali- Adolescente (Lei nº 8069/1990). Disponível
O processo de elaboração, alteração e dade percebida. em: http://www4.planalto.gov.br/
consolidação do marco normativo até en- Milhões de crianças e adolescentes são legislacao. Acesso em: 02 out. 2019.
tão experimentado no Brasil tem demons- vítimas da violação de seus direitos pelo BRASIL. Protocolo Facultativo à Convenção
mundo adulto todos os dias, e em alguns sobre os Direitos da Criança referente
países a violência sexual ganha caráter à venda de crianças, à prostituição
endêmico. A explícita preocupação nor- infantil e à pornografia infantil (Decreto
mativa com essa forma de violência é jus- nº 5.007/2004 – Promulga o Protocolo
tificada por sua extensão (alcança muitas Facultativo). Disponível em: http://www.
crianças e adolescentes), mas, sobretudo, planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
por suas graves consequências para o in- 2006/2004/Decreto/D5007.htm. Acesso
divíduo que a sofre e para a coletividade, em: 02 out. 2019.
gerando medo e reproduzindo relações de
poder dominadoras.

30 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


CADERNO de Textos do PAIR nº 2:
Conteúdos para Capacitação. Disponível
em: http://pair.ledes.net/gestor/titan.
php?target=openFile&fileId=1108. Acesso
em: 02 out. 2019.
CARVALHO, F. L.; PAIVA, L.; ROSENO, R.
Estudo Proteger e Responsabilizar. O
desafio da resposta da sociedade e do
Estado quando a vítima da violência
sexual é criança ou adolescente. Brasília:
Comitê Nacional de Enfrentamento
da Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes, 2007.
COUTINHO, Carlos Nelson. O Estado
brasileiro: gênese, crise e alternativas.
In: LIMA, Júlio et NEVES, Lúcia (Orgs.).
Fundamentos da Educação Escolar do
Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2006.
FAÇA Bonito. Plano Nacional de
Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes, 2015. Disponível
em: https://www.facabonito.org.br/plano-
nacional. Acesso em: 02 out. 2019.
PAIVA, Leila. Violência Sexual Contra
Crianças e Adolescentes como Violação
dos Direitos Humanos: Construções
Históricas e Conceituais. Violência
Sexual Contra Crianças e Adolescentes:
cenários amazônicos, rede de proteção
e responsabilidade empresarial. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2017. v. 1. pp. 77-106.
PINHEIRO, Ângela. Criança e adolescente
no Brasil: porque o abismo entre a lei e a
realidade. Fortaleza: Editora UFC, 2006.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 31


FERNANDO LUZ (autor)
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em
Gestão do Conhecimento pela Universidade Católica de Brasília e integrante do Grupo
de Pesquisa Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas no Terceiro Setor (NEPATS) da
Universidade Católica de Brasília. É consultor do projeto Edulivre (Unesco e Sesi). Atuou
como consultor jurídico do Conselho Nacional do Sesi, coordenador adjunto do PAIR
Mercosul, coordenador das áreas de encaminhamento e monitoramento do Disque 100
e assessor técnico do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)


É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista.
Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia
do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e
em editoras paulistas.

Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação
Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019.

Todos os direitos desta edição reservados à: EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo
Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes
Fundação Demócrito Rocha e Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 Coordenadora Geral Leila Paiva Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto
fdr.org.br Gráfico Miqueias Mesquita Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Milena Bandeira Revisora
fundacao@fdr.org.br ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-938-8 (Fascículo 2)

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