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Texto do amigo Alex:

A vitória da chapa Bolsonaro-Mourão (PSL/PRTB) significa o avanço do militarismo,


do teologismo e do ultraliberalismo na estrutura de poder do Governo Federal.

As declarações do presidente eleito: “exterminar todos os vermelhos”, “pacificar


como Caxias”, “acabar com o ativismo”, demonstram a intenção de colocar na
ilegalidade todo e qualquer movimento social e partidos de “esquerda” com a
implantação de um governo despótico, controlado pelos militares, pastores e pelo
empresariado.

Para entender a ascensão da direita proto-fascista na política brasileira é


necessário recuperar nossas críticas aos governos petistas de conciliação de
classe. Recuperar como a estratégia social-democrata de disputar as eleições
burguesas servem, historicamente, para paralisar os movimentos proletários e,
consequentemente, criar as condições necessárias para o crescimento do fascismo. Em
seguida, é fundamental analisar os significados da vitória eleitoral da Chapa
Bolsonaro-Mourão e traçar as estratégias de luta nesse contexto de recrudescimento
da luta de classes.

A abordagem bakuninista exige: 1) uma análise materialista, isto é, entender a


guerra de classes analisando as ações concretas dos sujeitos políticos,
organizações e frações de classe nos processos de exploração e opressão
capitalistas; e 2) uma análise dialética, a qual recorremos à antinomia autoridade-
liberdade, isto é, as contradições entre as forças da ordem burguesa, ou do sistema
da autoridade, entre as forças populares e revolucionárias, ou do sistema da
liberdade.

Uma década de ilusões: o fortalecimento do ultraliberalismo, do teologismo e do


militarismo

A eleição da chapa Lula-José Alencar (PT/PL) em 2002 significou a vitória da


proposta de conciliação de classes. No governo, o PT realizou o que havia prometido
à burguesia: a formação de um mercado de consumo de massas. Através das políticas
neodesenvolvimentistas e das políticas mitigadoras de extrema pobreza, o petismo
conseguiu garantir o crescimento dos lucros da burguesia e reduzir relativamente a
miséria absoluta.

É fato que o cenário econômico mundial (especialmente o ciclo de commodities


mundial) e uma política fiscal de austeridade (cujo marco foi a Reforma da
Previdência de 2003) favoreceram os primeiros governos petistas, mas longe de
reverter a desigualdade de renda e a concentração de capital nos últimos 16 anos, o
que tivemos foi o aumento do lucro e ganhos para os principais grupos econômicos
atendendo as exigências do regime ultramonopolista de acumulação. Os setores mais
beneficiados foram: 1) agronegócio, com o incremento da monocultura de soja e da
cana e aumento do poder das multinacionais Louis Dreyfus Company, Bunge, Cargill,
ADM, Bayer/Monsanto e do capital monopolista nacional da BRF e JBS; 2) sistema
financeiro, cujo capital monopolista nacional é dominado por Bradesco e Itaú, que
tiveram lucros recordes; 3) grandes empreiteiras, como Camargo Corrêa, Odebretch e
Andrade Gutierrez, que lideraram o projeto neodesenvolvimentista com as grandes
obras do PAC e dos Megaeventos; 4) montadoras multinacionais, cujos lucros foram
tão altos que, durante o auge da crise econômica de 2008/2009, as matrizes foram
salvas com o aumento dos lucros das subsidiárias daqui; 5) mineração, a exemplo da
Vale, que nos anos 2000 se tornou a maior mineradora do mundo; 6) siderurgia, que
conta com o capital multinacional da CSA e com o capital monopolista nacional da
Gerdau, da Usiminas e da CSN; 7) petróleo e gás, com a valorização da Petrobrás com
a descoberta do Pré-Sal e o aumento contínuo da participação do capital privado e
internacional no setor; 8) outros setores monopolistas como Oi, AmBev, Pão de
Açúcar, Kroton Educacional e outras empresas que cresceram com fusões e aquisições
de concorrentes, em muitos casos contando com financiamentos do BNDES.

Se é verdade que a burguesia aumentou seus lucros no Brasil com a convergência das
políticas neodesenvolvimentistas do PT – cuja principal característica foi o uso
dos recursos públicos para alavancar o capital privado – com um cenário
internacional favorável (ao menos, até a crise econômica de 2008), esse aumento não
seria possível sem o crescimento das formas de exploração e opressão sobre a classe
trabalhadora. Esse processo de desenvolvimento capitalista apoiado pelo PT, nos
dizeres do Banco Mundial um “Neoliberalismo Inclusivo”, gerou a superexploração das
trabalhadoras e trabalhadores, num contexto de péssimas condições de moradia,
transporte, saúde, educação e violência. Nesse período também não foi revertido o
encarceramento em massa e o genocídio do povo negro e favelado, massacrado pelo
Estado, grupos paramilitares e facções criminosas. No campo, os massacres
continuaram contra camponeses e trabalhadores rurais, quilombolas e indígenas.
Afinal, a destruição das vidas das mulheres e homens do povo é fundamental para
manter a superexploração, pela aceitação de trabalhos precários e baixos salários,
e conter a revolta e a insurgência.

A militância nas favelas, periferias e no campo é de extremo risco para aqueles que
estão publicamente de frente. São corpos marcados para morrer, como um aviso para o
povo aceitar a exploração imposta pelas classes dominantes do Estado e do Capital.
Não por acaso o único condenado de 2013 no Rio de Janeiro é um jovem negro, Rafael
Braga, e não por acaso assassinaram a vereadora do PSOL Marielle Franco. A lista
das execuções é enorme: Oziel Terena, Cleomar Rodrigues, José Claudio Ribeiro da
Silva, Maria do Espírito Santo da Silva, Irmã Dorothy, Zé Maria do Tomé, Elias
Francisco Santos da Silva, Paulo Justino e tantos outros.

Neste período tivemos também o aumento do conservadorismo de base religioso, o


teologismo, realizado, principalmente, por igrejas evangélicas pentecostais e
neopentecostais. As principais entidades são Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD), Assembleia de Deus e Deus é Amor, que ocuparam as periferias e favelas dos
grandes centros urbanos, convertendo os fiéis em currais eleitorais. Há anos o PT
se articula com esses grupos para vencer eleições. Em particular, estabeleceu
alianças estratégicas com os quadros políticos da IURD, filados ao PL do José
Alencar. Para eleição da Dilma em 2010, quando o PT fez uma série de acordos com o
setor evangélico, compromisso firmado publicamente com a “Carta ao povo de Deus”i.
Durante seu mandato, Dilma não contribuiu com o avanço do PL João Nery (que
normatiza o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas trans) e vetou o
material educativo “Escola sem homofobia”, (chamado pelo conservadorismo religioso
de “kit gay”). Em 2013, o PT nomeou o pastor Marco Feliciano, ligado à Assembleia
de Deus, à Comissão de Direitos Humanos, nomeação que promoveu pautas
ultrarreacionárias como a Cura Gay e o Estatuto do Nascituro. Durante toda a era
Lula-Dilma, nada foi feito para reduzir o privilégio econômico das entidades
religiosas que mesmo sendo isentas de pagar vários impostos sobre suas propriedades
e patrimônios acumularam uma dívida de R$ 920 milhões em tributos à União. Deste
modo, é possível afirmar que as concessões e as alianças feitas pelos governos
federais petistas foram cruciais para a ampliação do poder político da bancada
evangélica.

Do ponto de vista militar tivemos uma série de medidas que fortaleceram as Forças
Armadas. Sob os governos de Lula (2003-2010), foram um dos setores mais
privilegiados. Podemos citar o fortalecimento do complexo industrial-militar em São
José dos Campos-SP e outros pontos, mas a questão do Haiti é, sem dúvidas,
fundamental. Sob o governo petista, as forças armadas lideraram a ocupação do Haiti
durante 13 anos, conferindo aos militares brasileiros um excepcional treinamento de
contrainsurgência em área urbana, experiência que os golpistas de 1964 não tiveram.
Tal experiência foi fundamental para as intervenções militares nas favelas via
assinaturas de decretos de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), cuja insegurança
jurídica das décadas de 1990 foram superadas pelos governos petistas.

Fundamental também foi a organização de uma Estratégia Nacional de Defesa, acordada


com os altos-comandos militares, o Governo Federal e os empresários. Essa
estratégia estabeleceu, por exemplo, a criação de uma segunda base naval na foz do
Amazonas, que se somaria à atual localizada no Rio de Janeiro. Em paralelo, o
fortalecimento da vigilância das jazidas off shore na plataforma marítima implica a
proteção de uma poderosa frota de submarinos convencionais e nucleares. Tivemos a
reativação do projeto nuclear da Marinha coordenado pelo vice-almirante Othon, que
ganhou impulso com as descobertas das enormes jazidas de petróleo chamados Pré-Sal,
que levaram o Governo Federal a estabelecer um acordo com a França para construir o
primeiro submarino nuclear, destinado a resguardar a zona chamada Amazônia Azul
(costa atlântica), de onde provém 90% da produção petrolífera brasileira. Os
governos petistas escolheram a Odebrecht para construir o estaleiro e uma base
naval para os submarinos, na baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Para finalizar
tivemos o acordo da Sueca Saab com a Embraer para fabricação dos novos caças da
Aeronáutica, além da autonomia em relação a base de satélites de Alcântara,
próximas a linha do equador.

Do ponto de vista da política externa, durante os dois governos de Lula (2003-


2010), o Brasil consolidou as bases da integração regional através da criação da
Unasul (União de Nações Sul-americanas) e da CELAC (Comunidade de Estados Latino-
Americanos e Caribenhos), entidades que se destacaram pela ausência dos Estados
Unidos, além de investir em sua participação do bloco BRICS, junto com Rússia,
China, Índia e África do Sul. Ademais, realizou enormes obras de infraestrutura em
parceria com as grandes empreiteiras, algumas baseadas na mesma visão estratégica
dos governos militares – como a represa de Belo Monte – e potenciou a renovação das
Forças Armadas como nenhum outro governo havia feito antes. Todo esse movimento de
semi-autonomia do Brasil emergindo como líder regional impactou o principal Estado
capitalista, os EUA, que respondeu reativando a Frota do Atlântico Sul e atuando
via Departamento de Estado.

Portanto, o projeto de conciliação de classes petistas assumiu a forma histórica da


capitulação e, consequente, degeneração da social-democracia no Brasil pós política
da anistia sob tutela militar. Esse processo de capitulação e degeneração,
resultantes da dialética de assimilação à ordem burguesa de organizações políticas
de origem popular, sindical e estudantil, ou seja, a supremacia do sistema da
autoridade sobre o sistema da liberdade. Em outras palavras, as forças populares
que assumiram a forma de movimentos de massa contra a Ditadura Empresarial-Militar,
foram convertidas em forças comprometidas com a ordem burguesa, resultado da
estratégia da via eleitoral para a conquista do poder.

A ascensão do reacionarismo ultraliberal

O ciclo de greve iniciado em 2012-2013, com muitas greves deflagradas contra


direções sindicais-partidárias (Jirau-Santo Antonio, COMPERJ, Educação, Garis do
Rio de Janeiro, Comerciários do São Luís e de Belém, Rodoviários do Rio de Janeiro
e de Porto Alegre), as mobilizações por demarcação de terras e o levante popular de
junho de 2013 abriram novo ciclo de lutas, que se estendeu com as ocupações
estudantis de 2015-2016. O desenvolvimento dessas forças populares que clamavam
pela liberdade, foi, dialeticamente acompanhado pelas forças da autoridade, com o
PT e seus aliados atuando rapidamente para criminalizar todas as lutas autônomas,
especialmente o movimento insurgente de junho de 2013. O que se observou nesse
período foi toda a esquerda social-democrata que, de um lado, defendeu o Estado e
de seus valores burgueses, e de outro lado, condenou a ação direta e auto-
organização popular.
A reação da direita proto-fascista veio em seguida, alimentada pelos escândalos de
corrupção dos governos petistas, instigada pela mídia corporativa e contando com
apoio de parcela do Judiciário que ganhava cada vez mais autonomia conforme o PT
ampliava seus poderes (Lei da Ficha Limpa e a Lei de Delação Premiada). Além disso,
o MPF e o Judiciário desenvolveram uma série de acordos de cooperação com o governo
dos EUA para o suposto combate a corrupção.

Em função da vitória apertada nas eleições de 2014, o candidato derrotado, Aécio


Neves/PSDB, não reconheceu a derrota e pediu a impugnação da chapa Dilma-Temer. Por
sua vez, Dilma recrudesceu as políticas neoliberais nomeando, com indicação do
Bradesco e do PMDB (atual MDB), Joaquim Levy para comandar a economia. A crise
econômica, agravada pelas medidas recessivas e pela crise fiscal, foi ampliada com
a crise política que desencadeou a manobra política que resultou no impeachmentii
de Dilma, articulado pelo avanço da Lava Jato, sob a liderança do juiz Sérgio Moro.
Se é verdade que o impeachment da Dilma foi uma manobra política, sob a liderança
do PSDB, do atual MDB e do DEM, uma ruptura unilateral de setores burgueses com o
pacto de conciliação de classes, foi, principalmente, uma reação de
contrainsurgência, isto é, uma reação ao movimento insurgente de 2013, ao ciclo
ascendente de greves e ocupações que se seguiu (2013-2017).

O período entre 2013-2017 a luta de classes no Brasil viveu um período de


acirramento com o desenvolvimento de lutas autônomas e da ação direta do povo que
questionaram tanto o pacto de conciliação de classes petista, quanto o próprio
sistema de dominação. Apesar de o governo Dilma ter aumentado a pressão e ampliado
a agenda neoliberal, a alternativa burguesa foi o recrudescimento do regime com o
impeachment e com a ascensão do atual MDB ao comando do governo federal, enquanto
medida de contrainsurgência.

Assegurado pelas Forças Armadas e pelo Judiciário, Michel Temer/MDB foi empossado
presidente com uma agenda político-econômica ultraliberal, a Ponte para o Futuro, e
de rompimento com a política externa Sul-Sul. Não por acaso uma série de militares
foram alçados a primeiro escalão no governo Temer, entre eles o Ministro da Defesa,
general Joaquim Silva e Luna, sendo a pela primeira vez desde a redemocratização
que um militar ocupa esse ministério.

Pela primeira vez na história, tropas dos Estados Unidos participam de um exercício
militar, AmaxonLog, no município Tabatinga, situado na margem esquerda do rio
Solimões, na tríplice fronteira entre Peru, Brasil e Colômbia. O chefe do Comando
Sul, Clarence K.K. Chinn, foi condecorado em Brasília com a Medalha do Mérito
Militar e visitou as instalações do Comando Militar da Amazônia, onde foram
realizados os exercícios do AmazonLog.

O aparato jurídico repressor, que já contava com a manutenção da LSN, com segurança
jurídica das GLOs e com a Lei Antiterrorismo (último ato de Dilma como presidenta),
foi incrementado com intervenções militares contra manifestações (utilizada durante
a Greve Geral de abril de 2017) e para a intervenção nos Estados (primeiro durante
a greve da PM do Espírito Santo e depois no Rio de Janeiro durante todo o ano de
2018) e com decreto de lei 9.527/2018, que estabelece o combate ao crime organizado
por meio de uma força-tarefa de inteligência. Esse decreto foi uma vitória dos
militares, pois coloca o general Ministro da Defesa como responsável pela
coordenação das ações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República (GSI), da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), dos centros das
Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), do Departamento de Polícia
Federal, do sistema penitenciário e da Receita.

Alimentado por uma cultura neoliberal e por uma série de fundações (Estudantes pela
Liberdade, Atlas Networking, MBL) e grupos econômicos (Irmãos Koch, Fundação
Lemann), o movimento contra o PT caminhou mais e mais para a direita. Assim, o
capitão da reserva Jair Bolsonaro, há mais de 25 anos no baixo clero da política,
surge como candidato antissistema pelo PSL. Com seu discurso moralista reacionário
atraiu o apoio dos pastores evangélicos e do clero católico e conseguiu fechar o
acordo de apoio dos comandantes das Forças Armadas definindo o General Mourão como
seu vice. O apoio das frações burguesas começou a se ampliar principalmente com a
adesão de Paulo Guedes, da Bozanno Investimentos, responsável pela agenda
ultraliberal de sua campanha.

As frações empresariais burguesas se dividiram durante o primeiro turno das


eleições de 2018 entre as candidaturas do PSDB, MDB, Novo e PSL. Assim, os
primeiros apoiadores da chapa Bolsonaro-Mourão foram os latifundiários, usineiros,
setores do comércio e serviços (Havan, Centauro, Riachuelo, Localiza, Coco Bambu),
construtura Tecnisa, o já citada Bozanno Invertimentos, e o apoio indireto da
Fundação Lemann. Mas no segundo turno, a chapa da direita proto-fascista contou com
o apoio de setores orgânicos do empresariado representados pela Associação
Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Associação Brasileira de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq), Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Associação
Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC), e pelo Instituto Aço Brasil. Trata-se do apoio à agenda
ultraliberal liderada por Paulo Guedes.

A articulação com pastores evangélicos, com o alto-comando do exército como os


generais Mourão e Heleno, com o grande capital, inicialmente do setor de comércio e
serviços, e a utilização de mídias digitais assessorados por Steve Banon (da
campanha de Trump) foram fundamentais para a ascensão da direita proto-fascista em
um cenário político-social de grave crise econômica, polarização política e de
violência. Com os grandes partidos, principalmente o PT, atingidos pela Lava Jato,
a candidatura de Bolsonaro-Mourão conquistou cerca de 57 milhões de votos no
segundo turno das eleições burguesas.

As bases do governo da direita proto-fascista

A candidatura Bolsonaro foi vendida como “outsider” e antissistema, mas suas bases
de sustentação estão totalmente estabelecidas entre os setores da “velha política”,
quer dizer, os poderosos de sempre. As mudanças no bloco no poder, substituição
pelo bloco de conciliação de classe tendo o PT na Presidência, agora é substituído
por um bloco ultraliberal, teológico e militarismo. A eleição de Bolsonaro
acompanha uma série de vitórias recentes da extrema direita: Donald Trump nos EUA,
Rodrigo Roa Duterte nas Filipinas, Recep Tayyip Erdoğan na Turquia, Viktor Orbán na
Hungria, Matteo Salvini que é vice-primeiro-ministro da Itália, Mauricio Macri na
Argentina, Sebastián Piñera no Chile e Iván Duque na Colômbia. Portanto, temos
elementos suficientes para considerar que o capital imperialista lança mão dos
governos de extrema direita/proto-fascistas para avançar sobre os direitos e os
recursos dos povos.

Do ponto de vista da política internacional o novo governo será totalmente


subserviente aos interesses estadunidenses e dos grandes grupos internacionais. A
nomeação de Ernesto de Araújo para o Ministro das Relações Exteriores explicita
vínculo e a subserviência com a extrema direita internacional, principalmente
estadunidense. A nomeação do liberal Paulo Guedes, assessor econômico na Ditadura
Pinochet no Chile, também é expressiva. Após indicar representantes do BTG Pactual
e Bradesco para Fazenda e BNDES, Bolsonaro chamou Roberto Campos Neto, que atua no
Santander, para o Banco Central, e o chamou o ex-ministro da Fazenda, de Dilma
Roussef (PT), indicado por Lula, Joaquim Levy, do Bradesco, para comandar o BNDES.
As articulações Sul-Sul promovida durante o governo Lula (como Fórum Bi-Regional
América do Sul-África, Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos,
MERCOSUL) tendem a ser deixadas de lado, assim como a articulação dos BRICS.
O general Augusto Heleno foi nomeado para o Gabinete de Segurança Institucional
(GSI), de onde comandará, por exemplo ABIN. Como boa parte do oficialato, Heleno
comandou invasões de favelas e periferias no Haiti, sendo acusado por organizações
de defesa de comandar ações que resultaram no massacre de civisiii. Para o
ministério da Defesa, o indicado foi o general Fernando Azevedo, que vinha
assessorando o atual presidente do STF, Dias Toffoli; para Secretaria de Governo,
Carlos Alberto dos Santos Cruz; para ministro da infraestrutura o General Tarcísio
Gomes de Freitas e para ministério das Minas e Energia o almirante Bento Costa Lima
Leite de Albuquerque Junior.

A ala militar que hoje ascende ao poder executivo representa o setor que, ao final
da Ditadura Empresarial-Militar, foi contrário ao projeto elaborado por Geisel e
Golbery que propunha a abertura lenta, gradual e segura do regime e que originou a
Anistia Geral e Irrestrita. Essa política possibilitou o controle do processo de
abertura, a tutela militar sobre a promulgação da Constituição de 1988 (que manteve
a Lei de Segurança Nacional) e manteve as Forças Armadas intocadas pelos sucessivos
governos civis. Em defesa de posição oposta, o presidente eleito, seu vice e a
maioria do alto-comando do exército foram todos formados na Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN) no final dos anos 1970. Isso significa que representam
pensamento da caserna, da doutrina anticomunista e da subserviência aos EUA do
período da Guerra Fria. Portanto, a vitória de Bolsonaro é a vitória dos porões da
Ditadura Empresarial-Militar.

https://uniaoanarquista.wordpress.com/2019/01/02/a-miseria-da-socialdemocraciaA
vitória da chapa Bolsonaro-Mourão (PSL/PRTB) significa o avanço do militarismo, do
teologismo e do ultraliberalismo na estrutura de poder do Governo Federal.

As declarações do presidente eleito: “exterminar todos os vermelhos”, “pacificar


como Caxias”, “acabar com o ativismo”, demonstram a intenção de colocar na
ilegalidade todo e qualquer movimento social e partidos de “esquerda” com a
implantação de um governo despótico, controlado pelos militares, pastores e pelo
empresariado.

Para entender a ascensão da direita proto-fascista na política brasileira é


necessário recuperar nossas críticas aos governos petistas de conciliação de
classe. Recuperar como a estratégia social-democrata de disputar as eleições
burguesas servem, historicamente, para paralisar os movimentos proletários e,
consequentemente, criar as condições necessárias para o crescimento do fascismo. Em
seguida, é fundamental analisar os significados da vitória eleitoral da Chapa
Bolsonaro-Mourão e traçar as estratégias de luta nesse contexto de recrudescimento
da luta de classes.

A abordagem bakuninista exige: 1) uma análise materialista, isto é, entender a


guerra de classes analisando as ações concretas dos sujeitos políticos,
organizações e frações de classe nos processos de exploração e opressão
capitalistas; e 2) uma análise dialética, a qual recorremos à antinomia autoridade-
liberdade, isto é, as contradições entre as forças da ordem burguesa, ou do sistema
da autoridade, entre as forças populares e revolucionárias, ou do sistema da
liberdade.

Uma década de ilusões: o fortalecimento do ultraliberalismo, do teologismo e do


militarismo

A eleição da chapa Lula-José Alencar (PT/PL) em 2002 significou a vitória da


proposta de conciliação de classes. No governo, o PT realizou o que havia prometido
à burguesia: a formação de um mercado de consumo de massas. Através das políticas
neodesenvolvimentistas e das políticas mitigadoras de extrema pobreza, o petismo
conseguiu garantir o crescimento dos lucros da burguesia e reduzir relativamente a
miséria absoluta.

É fato que o cenário econômico mundial (especialmente o ciclo de commodities


mundial) e uma política fiscal de austeridade (cujo marco foi a Reforma da
Previdência de 2003) favoreceram os primeiros governos petistas, mas longe de
reverter a desigualdade de renda e a concentração de capital nos últimos 16 anos, o
que tivemos foi o aumento do lucro e ganhos para os principais grupos econômicos
atendendo as exigências do regime ultramonopolista de acumulação. Os setores mais
beneficiados foram: 1) agronegócio, com o incremento da monocultura de soja e da
cana e aumento do poder das multinacionais Louis Dreyfus Company, Bunge, Cargill,
ADM, Bayer/Monsanto e do capital monopolista nacional da BRF e JBS; 2) sistema
financeiro, cujo capital monopolista nacional é dominado por Bradesco e Itaú, que
tiveram lucros recordes; 3) grandes empreiteiras, como Camargo Corrêa, Odebretch e
Andrade Gutierrez, que lideraram o projeto neodesenvolvimentista com as grandes
obras do PAC e dos Megaeventos; 4) montadoras multinacionais, cujos lucros foram
tão altos que, durante o auge da crise econômica de 2008/2009, as matrizes foram
salvas com o aumento dos lucros das subsidiárias daqui; 5) mineração, a exemplo da
Vale, que nos anos 2000 se tornou a maior mineradora do mundo; 6) siderurgia, que
conta com o capital multinacional da CSA e com o capital monopolista nacional da
Gerdau, da Usiminas e da CSN; 7) petróleo e gás, com a valorização da Petrobrás com
a descoberta do Pré-Sal e o aumento contínuo da participação do capital privado e
internacional no setor; 8) outros setores monopolistas como Oi, AmBev, Pão de
Açúcar, Kroton Educacional e outras empresas que cresceram com fusões e aquisições
de concorrentes, em muitos casos contando com financiamentos do BNDES.

Se é verdade que a burguesia aumentou seus lucros no Brasil com a convergência das
políticas neodesenvolvimentistas do PT – cuja principal característica foi o uso
dos recursos públicos para alavancar o capital privado – com um cenário
internacional favorável (ao menos, até a crise econômica de 2008), esse aumento não
seria possível sem o crescimento das formas de exploração e opressão sobre a classe
trabalhadora. Esse processo de desenvolvimento capitalista apoiado pelo PT, nos
dizeres do Banco Mundial um “Neoliberalismo Inclusivo”, gerou a superexploração das
trabalhadoras e trabalhadores, num contexto de péssimas condições de moradia,
transporte, saúde, educação e violência. Nesse período também não foi revertido o
encarceramento em massa e o genocídio do povo negro e favelado, massacrado pelo
Estado, grupos paramilitares e facções criminosas. No campo, os massacres
continuaram contra camponeses e trabalhadores rurais, quilombolas e indígenas.
Afinal, a destruição das vidas das mulheres e homens do povo é fundamental para
manter a superexploração, pela aceitação de trabalhos precários e baixos salários,
e conter a revolta e a insurgência.

A militância nas favelas, periferias e no campo é de extremo risco para aqueles que
estão publicamente de frente. São corpos marcados para morrer, como um aviso para o
povo aceitar a exploração imposta pelas classes dominantes do Estado e do Capital.
Não por acaso o único condenado de 2013 no Rio de Janeiro é um jovem negro, Rafael
Braga, e não por acaso assassinaram a vereadora do PSOL Marielle Franco. A lista
das execuções é enorme: Oziel Terena, Cleomar Rodrigues, José Claudio Ribeiro da
Silva, Maria do Espírito Santo da Silva, Irmã Dorothy, Zé Maria do Tomé, Elias
Francisco Santos da Silva, Paulo Justino e tantos outros.

Neste período tivemos também o aumento do conservadorismo de base religioso, o


teologismo, realizado, principalmente, por igrejas evangélicas pentecostais e
neopentecostais. As principais entidades são Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD), Assembleia de Deus e Deus é Amor, que ocuparam as periferias e favelas dos
grandes centros urbanos, convertendo os fiéis em currais eleitorais. Há anos o PT
se articula com esses grupos para vencer eleições. Em particular, estabeleceu
alianças estratégicas com os quadros políticos da IURD, filados ao PL do José
Alencar. Para eleição da Dilma em 2010, quando o PT fez uma série de acordos com o
setor evangélico, compromisso firmado publicamente com a “Carta ao povo de Deus”i.
Durante seu mandato, Dilma não contribuiu com o avanço do PL João Nery (que
normatiza o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas trans) e vetou o
material educativo “Escola sem homofobia”, (chamado pelo conservadorismo religioso
de “kit gay”). Em 2013, o PT nomeou o pastor Marco Feliciano, ligado à Assembleia
de Deus, à Comissão de Direitos Humanos, nomeação que promoveu pautas
ultrarreacionárias como a Cura Gay e o Estatuto do Nascituro. Durante toda a era
Lula-Dilma, nada foi feito para reduzir o privilégio econômico das entidades
religiosas que mesmo sendo isentas de pagar vários impostos sobre suas propriedades
e patrimônios acumularam uma dívida de R$ 920 milhões em tributos à União. Deste
modo, é possível afirmar que as concessões e as alianças feitas pelos governos
federais petistas foram cruciais para a ampliação do poder político da bancada
evangélica.

Do ponto de vista militar tivemos uma série de medidas que fortaleceram as Forças
Armadas. Sob os governos de Lula (2003-2010), foram um dos setores mais
privilegiados. Podemos citar o fortalecimento do complexo industrial-militar em São
José dos Campos-SP e outros pontos, mas a questão do Haiti é, sem dúvidas,
fundamental. Sob o governo petista, as forças armadas lideraram a ocupação do Haiti
durante 13 anos, conferindo aos militares brasileiros um excepcional treinamento de
contrainsurgência em área urbana, experiência que os golpistas de 1964 não tiveram.
Tal experiência foi fundamental para as intervenções militares nas favelas via
assinaturas de decretos de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), cuja insegurança
jurídica das décadas de 1990 foram superadas pelos governos petistas.

Fundamental também foi a organização de uma Estratégia Nacional de Defesa, acordada


com os altos-comandos militares, o Governo Federal e os empresários. Essa
estratégia estabeleceu, por exemplo, a criação de uma segunda base naval na foz do
Amazonas, que se somaria à atual localizada no Rio de Janeiro. Em paralelo, o
fortalecimento da vigilância das jazidas off shore na plataforma marítima implica a
proteção de uma poderosa frota de submarinos convencionais e nucleares. Tivemos a
reativação do projeto nuclear da Marinha coordenado pelo vice-almirante Othon, que
ganhou impulso com as descobertas das enormes jazidas de petróleo chamados Pré-Sal,
que levaram o Governo Federal a estabelecer um acordo com a França para construir o
primeiro submarino nuclear, destinado a resguardar a zona chamada Amazônia Azul
(costa atlântica), de onde provém 90% da produção petrolífera brasileira. Os
governos petistas escolheram a Odebrecht para construir o estaleiro e uma base
naval para os submarinos, na baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Para finalizar
tivemos o acordo da Sueca Saab com a Embraer para fabricação dos novos caças da
Aeronáutica, além da autonomia em relação a base de satélites de Alcântara,
próximas a linha do equador.

Do ponto de vista da política externa, durante os dois governos de Lula (2003-


2010), o Brasil consolidou as bases da integração regional através da criação da
Unasul (União de Nações Sul-americanas) e da CELAC (Comunidade de Estados Latino-
Americanos e Caribenhos), entidades que se destacaram pela ausência dos Estados
Unidos, além de investir em sua participação do bloco BRICS, junto com Rússia,
China, Índia e África do Sul. Ademais, realizou enormes obras de infraestrutura em
parceria com as grandes empreiteiras, algumas baseadas na mesma visão estratégica
dos governos militares – como a represa de Belo Monte – e potenciou a renovação das
Forças Armadas como nenhum outro governo havia feito antes. Todo esse movimento de
semi-autonomia do Brasil emergindo como líder regional impactou o principal Estado
capitalista, os EUA, que respondeu reativando a Frota do Atlântico Sul e atuando
via Departamento de Estado.

Portanto, o projeto de conciliação de classes petistas assumiu a forma histórica da


capitulação e, consequente, degeneração da social-democracia no Brasil pós política
da anistia sob tutela militar. Esse processo de capitulação e degeneração,
resultantes da dialética de assimilação à ordem burguesa de organizações políticas
de origem popular, sindical e estudantil, ou seja, a supremacia do sistema da
autoridade sobre o sistema da liberdade. Em outras palavras, as forças populares
que assumiram a forma de movimentos de massa contra a Ditadura Empresarial-Militar,
foram convertidas em forças comprometidas com a ordem burguesa, resultado da
estratégia da via eleitoral para a conquista do poder.

A ascensão do reacionarismo ultraliberal

O ciclo de greve iniciado em 2012-2013, com muitas greves deflagradas contra


direções sindicais-partidárias (Jirau-Santo Antonio, COMPERJ, Educação, Garis do
Rio de Janeiro, Comerciários do São Luís e de Belém, Rodoviários do Rio de Janeiro
e de Porto Alegre), as mobilizações por demarcação de terras e o levante popular de
junho de 2013 abriram novo ciclo de lutas, que se estendeu com as ocupações
estudantis de 2015-2016. O desenvolvimento dessas forças populares que clamavam
pela liberdade, foi, dialeticamente acompanhado pelas forças da autoridade, com o
PT e seus aliados atuando rapidamente para criminalizar todas as lutas autônomas,
especialmente o movimento insurgente de junho de 2013. O que se observou nesse
período foi toda a esquerda social-democrata que, de um lado, defendeu o Estado e
de seus valores burgueses, e de outro lado, condenou a ação direta e auto-
organização popular.

A reação da direita proto-fascista veio em seguida, alimentada pelos escândalos de


corrupção dos governos petistas, instigada pela mídia corporativa e contando com
apoio de parcela do Judiciário que ganhava cada vez mais autonomia conforme o PT
ampliava seus poderes (Lei da Ficha Limpa e a Lei de Delação Premiada). Além disso,
o MPF e o Judiciário desenvolveram uma série de acordos de cooperação com o governo
dos EUA para o suposto combate a corrupção.

Em função da vitória apertada nas eleições de 2014, o candidato derrotado, Aécio


Neves/PSDB, não reconheceu a derrota e pediu a impugnação da chapa Dilma-Temer. Por
sua vez, Dilma recrudesceu as políticas neoliberais nomeando, com indicação do
Bradesco e do PMDB (atual MDB), Joaquim Levy para comandar a economia. A crise
econômica, agravada pelas medidas recessivas e pela crise fiscal, foi ampliada com
a crise política que desencadeou a manobra política que resultou no impeachmentii
de Dilma, articulado pelo avanço da Lava Jato, sob a liderança do juiz Sérgio Moro.
Se é verdade que o impeachment da Dilma foi uma manobra política, sob a liderança
do PSDB, do atual MDB e do DEM, uma ruptura unilateral de setores burgueses com o
pacto de conciliação de classes, foi, principalmente, uma reação de
contrainsurgência, isto é, uma reação ao movimento insurgente de 2013, ao ciclo
ascendente de greves e ocupações que se seguiu (2013-2017).

O período entre 2013-2017 a luta de classes no Brasil viveu um período de


acirramento com o desenvolvimento de lutas autônomas e da ação direta do povo que
questionaram tanto o pacto de conciliação de classes petista, quanto o próprio
sistema de dominação. Apesar de o governo Dilma ter aumentado a pressão e ampliado
a agenda neoliberal, a alternativa burguesa foi o recrudescimento do regime com o
impeachment e com a ascensão do atual MDB ao comando do governo federal, enquanto
medida de contrainsurgência.

Assegurado pelas Forças Armadas e pelo Judiciário, Michel Temer/MDB foi empossado
presidente com uma agenda político-econômica ultraliberal, a Ponte para o Futuro, e
de rompimento com a política externa Sul-Sul. Não por acaso uma série de militares
foram alçados a primeiro escalão no governo Temer, entre eles o Ministro da Defesa,
general Joaquim Silva e Luna, sendo a pela primeira vez desde a redemocratização
que um militar ocupa esse ministério.
Pela primeira vez na história, tropas dos Estados Unidos participam de um exercício
militar, AmaxonLog, no município Tabatinga, situado na margem esquerda do rio
Solimões, na tríplice fronteira entre Peru, Brasil e Colômbia. O chefe do Comando
Sul, Clarence K.K. Chinn, foi condecorado em Brasília com a Medalha do Mérito
Militar e visitou as instalações do Comando Militar da Amazônia, onde foram
realizados os exercícios do AmazonLog.

O aparato jurídico repressor, que já contava com a manutenção da LSN, com segurança
jurídica das GLOs e com a Lei Antiterrorismo (último ato de Dilma como presidenta),
foi incrementado com intervenções militares contra manifestações (utilizada durante
a Greve Geral de abril de 2017) e para a intervenção nos Estados (primeiro durante
a greve da PM do Espírito Santo e depois no Rio de Janeiro durante todo o ano de
2018) e com decreto de lei 9.527/2018, que estabelece o combate ao crime organizado
por meio de uma força-tarefa de inteligência. Esse decreto foi uma vitória dos
militares, pois coloca o general Ministro da Defesa como responsável pela
coordenação das ações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República (GSI), da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), dos centros das
Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), do Departamento de Polícia
Federal, do sistema penitenciário e da Receita.

Alimentado por uma cultura neoliberal e por uma série de fundações (Estudantes pela
Liberdade, Atlas Networking, MBL) e grupos econômicos (Irmãos Koch, Fundação
Lemann), o movimento contra o PT caminhou mais e mais para a direita. Assim, o
capitão da reserva Jair Bolsonaro, há mais de 25 anos no baixo clero da política,
surge como candidato antissistema pelo PSL. Com seu discurso moralista reacionário
atraiu o apoio dos pastores evangélicos e do clero católico e conseguiu fechar o
acordo de apoio dos comandantes das Forças Armadas definindo o General Mourão como
seu vice. O apoio das frações burguesas começou a se ampliar principalmente com a
adesão de Paulo Guedes, da Bozanno Investimentos, responsável pela agenda
ultraliberal de sua campanha.

As frações empresariais burguesas se dividiram durante o primeiro turno das


eleições de 2018 entre as candidaturas do PSDB, MDB, Novo e PSL. Assim, os
primeiros apoiadores da chapa Bolsonaro-Mourão foram os latifundiários, usineiros,
setores do comércio e serviços (Havan, Centauro, Riachuelo, Localiza, Coco Bambu),
construtura Tecnisa, o já citada Bozanno Invertimentos, e o apoio indireto da
Fundação Lemann. Mas no segundo turno, a chapa da direita proto-fascista contou com
o apoio de setores orgânicos do empresariado representados pela Associação
Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Associação Brasileira de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq), Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Associação
Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC), e pelo Instituto Aço Brasil. Trata-se do apoio à agenda
ultraliberal liderada por Paulo Guedes.

A articulação com pastores evangélicos, com o alto-comando do exército como os


generais Mourão e Heleno, com o grande capital, inicialmente do setor de comércio e
serviços, e a utilização de mídias digitais assessorados por Steve Banon (da
campanha de Trump) foram fundamentais para a ascensão da direita proto-fascista em
um cenário político-social de grave crise econômica, polarização política e de
violência. Com os grandes partidos, principalmente o PT, atingidos pela Lava Jato,
a candidatura de Bolsonaro-Mourão conquistou cerca de 57 milhões de votos no
segundo turno das eleições burguesas.

As bases do governo da direita proto-fascista

A candidatura Bolsonaro foi vendida como “outsider” e antissistema, mas suas bases
de sustentação estão totalmente estabelecidas entre os setores da “velha política”,
quer dizer, os poderosos de sempre. As mudanças no bloco no poder, substituição
pelo bloco de conciliação de classe tendo o PT na Presidência, agora é substituído
por um bloco ultraliberal, teológico e militarismo. A eleição de Bolsonaro
acompanha uma série de vitórias recentes da extrema direita: Donald Trump nos EUA,
Rodrigo Roa Duterte nas Filipinas, Recep Tayyip Erdoğan na Turquia, Viktor Orbán na
Hungria, Matteo Salvini que é vice-primeiro-ministro da Itália, Mauricio Macri na
Argentina, Sebastián Piñera no Chile e Iván Duque na Colômbia. Portanto, temos
elementos suficientes para considerar que o capital imperialista lança mão dos
governos de extrema direita/proto-fascistas para avançar sobre os direitos e os
recursos dos povos.

Do ponto de vista da política internacional o novo governo será totalmente


subserviente aos interesses estadunidenses e dos grandes grupos internacionais. A
nomeação de Ernesto de Araújo para o Ministro das Relações Exteriores explicita
vínculo e a subserviência com a extrema direita internacional, principalmente
estadunidense. A nomeação do liberal Paulo Guedes, assessor econômico na Ditadura
Pinochet no Chile, também é expressiva. Após indicar representantes do BTG Pactual
e Bradesco para Fazenda e BNDES, Bolsonaro chamou Roberto Campos Neto, que atua no
Santander, para o Banco Central, e o chamou o ex-ministro da Fazenda, de Dilma
Roussef (PT), indicado por Lula, Joaquim Levy, do Bradesco, para comandar o BNDES.
As articulações Sul-Sul promovida durante o governo Lula (como Fórum Bi-Regional
América do Sul-África, Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos,
MERCOSUL) tendem a ser deixadas de lado, assim como a articulação dos BRICS.

O general Augusto Heleno foi nomeado para o Gabinete de Segurança Institucional


(GSI), de onde comandará, por exemplo ABIN. Como boa parte do oficialato, Heleno
comandou invasões de favelas e periferias no Haiti, sendo acusado por organizações
de defesa de comandar ações que resultaram no massacre de civisiii. Para o
ministério da Defesa, o indicado foi o general Fernando Azevedo, que vinha
assessorando o atual presidente do STF, Dias Toffoli; para Secretaria de Governo,
Carlos Alberto dos Santos Cruz; para ministro da infraestrutura o General Tarcísio
Gomes de Freitas e para ministério das Minas e Energia o almirante Bento Costa Lima
Leite de Albuquerque Junior.

A ala militar que hoje ascende ao poder executivo representa o setor que, ao final
da Ditadura Empresarial-Militar, foi contrário ao projeto elaborado por Geisel e
Golbery que propunha a abertura lenta, gradual e segura do regime e que originou a
Anistia Geral e Irrestrita. Essa política possibilitou o controle do processo de
abertura, a tutela militar sobre a promulgação da Constituição de 1988 (que manteve
a Lei de Segurança Nacional) e manteve as Forças Armadas intocadas pelos sucessivos
governos civis. Em defesa de posição oposta, o presidente eleito, seu vice e a
maioria do alto-comando do exército foram todos formados na Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN) no final dos anos 1970. Isso significa que representam
pensamento da caserna, da doutrina anticomunista e da subserviência aos EUA do
período da Guerra Fria. Portanto, a vitória de Bolsonaro é a vitória dos porões da
Ditadura Empresarial-Militar.

https://uniaoanarquista.wordpress.com/2019/01/02/a-miseria-da-socialdemocracia-e-a-
ascensao-do-fascismo-no-brasil/-e-a-ascensao-do-fascismo-no-brasil/

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