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Aluno: Raphael de Souza Sampaio

Disciplina: Teologia Bíblica


Seminário e Instituto Bíblico Maranata

Resenha crítica: Continuidade e Descontinuidade: Perspectivas sobre o relacionamento entre


o Antigo e o Novo Testamentos

O livro Continuidade e Descontinuidade apresenta um debate de artigos sobre as teologias


aliancistas e dispensacionalistas. John Feinberg, o organizador e colaborador de alguns artigos
presentes no livro, se propõe a ajudar e a facilitar o debate dividindo o livro em 7 seções, onde
a primeira ele traz um artigo tratando a relação dos testamentos ao longo da história da igreja.
As seções seguintes tratam dos principais pontos de debates das teologias aliancistas e
dispensacionalistas. O livro foi lançado originalmente em 1988 e foi traduzido em 2013.
Portanto, os artigos continuístas não dialogam com a mais recente visão dispensacionalista.
De qualquer forma o autor tentou organizar os artigos de uma forma que o leitor pudesse
entender o que cada uma das duas visões falam a respeito de determinado assunto. As seções
são as seguintes: Sistemas Teológicos, Hermenêutica, Salvação, Lei, Povo de Deus e as
Promessas do Reino. Cada seção se inicia com um artigo reformado ou aliancista e termina
com um artigo dispensacionalista ou não-reformado. Apesar dessa organização, os artigos não
dialogam uns com os outros e aparentemente os artigos continuístas não dialogam nem com a
visão revisada do dispensacionalismo.

No primeiro artigo, que trata a respeito de uma visão histórica, Rodney Petersen teve como
objetivo mostrar como o debate sobre o relacionamento dos evangelhos era visto ao longo da
história da igreja. Ele mostra, então, a importância e as implicações das visões acerca desse
relacionamento durante 2 mil anos de história do cristianismo.
Em alguns momentos Petersen parece afirmar que esse debate sempre foi primário na história
da igreja em outros momentos ele afirma que as grandes questões sobre o relacionamento dos
testamentos começaram no século XX. De qualquer forma esse artigo cumpriu seu papel de
mostrar como os livros do NT (Evangelhos, Cartas Paulinas, Hebreus), os pais da igreja,
teólogos escolásticos, teólogos reformados e os teólogos do século XX respondem às questões
dos relacionamentos entre os testamentos.
Para Petersen, a discussão entre o relacionamento dos testamentos durará até a segunda vinda
de Cristo e ele apresenta quatro visões que se pôde aprender com a história da igreja: ler o AT
como mera história; ler o AT a luz do NT; compreender o AT a luz dele mesmo; ler o AT de
forma alegórica ou simbólica.

A segunda seção busca apresentar os dois sistemas de teologia. O primeiro artigo desta seção
aborda a teologia da aliança. Williem VanGemeren é o autor deste artigo. VanGemeren
procurou explicar o que é a teologia da aliança, trouxe seus pontos fortes e fracos, mostrou o
desenvolvimento dessa teologia ao longo dos anos e buscou evidenciar uma relação entre
calvinismo e teologia da aliança.
O autor começa seu artigo falando que o tema da aliança não é a principal contribuição de
Calvino à teologia. O reformador estava mais preocupado no pensamento teológico,
interpretação bíblica e vida cristã. O autor faz uma boa crítica a respeito de quem acha que o
calvinismo se resume apenas aos 5 pontos de Dort.
Olhando de uma maneira geral este capítulo - embora os capítulos não dialogam uns com os
outros de uma maneira mais profunda -, para se entender o motivo de Calvino não ter dado
tanta ênfase na aliança você deve ver como os protestantes pensavam sobre isso nesse
período. Como o capítulo 1 mostra, você tinha duas opções: 1) adotar a visão de continuidade
entre os testamentos e 2) seguir a visão anabatista de descontinuidade. Como o anabatismo
não era bem visto no meio protestante, os cristãos seguiam a posição de continuidade entre os
testamentos. Tratando de uma maneira mais lacônica, este artigo falha em esclarecer o motivo
pelo qual Calvino não escreveu tanto sobre a aliança. As confissões só seguiram o que o
momento histórico delas permitiu seguir.
Somente no século XVII a teologia da aliança ganhou força e passou a ser considerada parte
do pensamento calvinista. Mas os teólogos não entraram em um consenso em relação ao
conceito de aliança. Foi então que surge a ideia de pacto e trataram a aliança como se fosse
um contrato. Porém VanGemeren afirma que a aliança não depende do homem, ela é
exclusiva de Deus. Ele toma a iniciativa, e a administra com graça e promessas ao seu povo.
O autor aborda algo sobre uma espécie "escolasticismo reformado" que trazia em sua
interpretação das Escrituras uma hermenêutica cristocêntrica. Essa hermenêutica tem sido
amplamente criticada nos últimos anos por não-reformados pois ela quer colocar Cristo em
cada passagem das Escrituras, o que muitas vezes não é possível.
VanGemeren faz uma boa critica a abordagem racionalista que impediu o avanço da teologia
protestante ortodoxa contra a assim chamada alta crítica. Mas ele apresentou alguns avanços
na teologia bíblica reformada partindo, é claro, de uma abordagem de continuidade histórica
da revelação de Deus. Embora ele afirme que existam elementos da história (que é
progressiva) que também apresentam descontinuidade, ele não os aborda no artigo. Depois
dessas considerações, VanGemeren se apressa em mostrar os elementos de continuidade e
conclui seu artigo endossando o aspecto continuísta da teologia reformada (ou da aliança).
O artigo que se segue é do organizador do livro, John Feinberg. Ele se propõe - e deixa isso
muito claro - a falar sobre os elementos que são a essência do sistema dispensacionalista.
Uma crítica que é digna de nota é que Feinberg apresenta alguns pensadores não-cristãos que
têm opiniões tanto a favor da continuidade quanto da descontinuidade. A questão não é dizer
que os pensadores não-cristãos não possam ter uma compreensão mínima das Escrituras se
eles estudarem muito. A questão é que, para o argumento principal do artigo, essas
informações não são relevante.
De forma geral, o artigo é genial. Feinberg mostra que em ambos os lados (continuísmo e
descontinuísmo) não há uma abordagem monolítica. O autor gasta 5 páginas (na versão em
português) para afirmar que o fundamento do dispensacionalismo não é: definição do termo
“dispensação”, dizer que em cada dispensação envolve um teste, fracasso e julgamento de
Deus para o homem, o número de dispensações, soteriologia e a lei. Feinberg desenvolve uma
ideia de que a essência do dispensacionalismo é a distinção entre Israel e igreja. Um grande
aspecto positivo sobre este artigo é que Feinberg utiliza muitos textos bíblicos para provar seu
argumento principal. O que diferencia do artigo anterior onde VanGemeren tenta provar o
continuísmo apelando para confissões de fé e história da teologia.
Feinberg apresenta 6 itens para desenvolver a ideia da distinção entre Israel e igreja. Nesses
itens o autor desenvolve uma ideia de hermenêutica literalista, bem como aborda as alianças
incondicionais que Deus fez com Israel no AT e com base nisso ele apresenta um futuro para
o Israel étnico. Segue argumentando que a igreja não surgiu no AT, mas sim no NT. Mais
especificamente no dia de pentecostes.

O capítulo 4 abre a sessão de discussão sobre a hermenêutica. O autor deste artigo, Palmer
Robertson, apresenta a hermenêutica da continuidade. Robertson basicamente usa dois textos:
Am 9:11-15 e At 15:16,17. O autor fala que nessa passagem do NT, o cumprimento genuíno
da passagem de Amós está sendo realizado na era presente da igreja e ele afirma que isso está
de acordo com o que Tiago fala. Em outras palavras, o texto do NT está interpretando, ou tem
prioridade em relação ao texto do AT. A maior crítica, portanto, é que o autor não está, então,
deixando que o texto fale por si mesmo, ou seja, ele não está tirando as conclusões de forma
indutiva, mas está interpretando o texto do AT com base em algo maior, i.e., vendo de forma
dedutiva. Outra crítica que se pode fazer é o fato do autor afirmar que o texto de Amós é o
texto mais importante para os dispensacionalistas. Talvez essa afirmação dele seja para o que
se chama hoje de dispensacionalismo clássico. Como os artigos neste livro são anteriores ao
dispensacionalismo progressivo e pouco dialogam com o dispensacionalismo revisado, a
maioria das críticas que se poderia fazer aos capítulos continuístas seria exatamente de
alguém que tem na cabeça a visão do dispensacionalismo progressivo hoje.
O artigo seguinte não é bem um artigo, é uma monografia. Ele fecha a parte de hermenêutica
e seu autor é Paul Feinberg. A parte inicial da monografia Paul Feinberg mostra de maneira
brilhante que a discussão entre continuidade e descontinuidade além de ser uma tarefa árdua
pois envolve vários elementos, o autor afirma que tanto aliancistas quanto dispensacionalistas
trabalham seriamente para responder essas questões. Ele lida basicamente com questões de
predição, promessa, profecia e cumprimento utilizando como caso teste os textos de Joel
2:28-32 e Atos 2:16-21.
Feinberg também traz a discussão questões sobre o significado do texto e a intenção autoral.
O ponto de debate seria qual intenção sobressairia sobre a outra: a divina ou a humana. Uma
segunda abordagem seria a teoria do ​sensus plenior​. Essa teoria afirma que o autor humano,
embora estivesse preso ao seu contexto histórico, falava de coisas que não sabia e nem sempre
compreendia o que falava.
A terceira abordagem sobre o significado do texto seria de uma associação do texto ao
entendimento dos leitores nos dias dos profetas. Dessa forma, os significados que os escritores
do NT encontram não seriam derivados de uma hermenêutica histórico-gramatical.
Por fim, a abordagem final diz respeito a importância do texto. O cerne dessa teoria
hermenêutica seria a distinção entre “significado” e “significância”. Em termos práticos,
significado diz respeito à interpretação e significância se relaciona a aplicação.
Feinberg divide essas abordagens em dois grupos: 1) os que se opõem a um objeto e
significado único e 2) os que se opõem ao duplo propósito ou ​sensus plenior​.
O autor apresenta então uma visão coerente de predição. Para ele, as predições no AT tiveram
um sentido que foi conhecido pelo autor do texto e seus ouvintes e leitores. E a interpretação
atual do texto, o exegeta deve utilizar-se do método hermenêutico histórico-gramatical. E dá
uma explicação bem simples e direta a respeito de referente e referencial. Para Feinberg a
relação entre AT e NT está quase sempre ligada a predição/cumprimento e tipo/antítipo. E o
autor conclui sua monografia apresentando um caso teste Joel 2/Atos 2. Ele dá uma
interpretação que fica no meio termo do aliancismo e do dispensacionalismo clássico. Para
ele, At 2 não é um referente completo de Jl 2. De fato, houve um cumprimento de muita coisa
no texto do NT mas não tudo. Segundo o autor, a segunda parte da profecia não foi cumprida
no dia de Pentecoste. Porém o autor não diz qual é essa parte que falta ser cumprida. Feinberg
conclui sua monografia afirmando que a “unidade dos dois Testamentos não requer a
uniformidade deles”. Com isso ele quer dizer que o fato dos Testamentos formarem uma só
Escritura, essa unidade não exclui descontinuidade entre eles.

A terceira sessão de artigos vão abordar o método bíblico de salvação. Sendo Fred Klooster o
primeiro artigo a ser apresentado, ele vai defender uma continuidade no método de salvação
nos Testamentos. Algumas críticas podem ser feitas em relação ao dispensacionalismo que é
exposto por ele, porém como ele não dialoga com a visão progressiva do dispensacionalismo
justamente pela data da publicação deste artigo, então essa crítica não deve ser feita ao autor.
Klooster visa apresentar as diferenças entre o método de salvação da teologia reformada e da
teologia dispensacionalista na perspectiva do reino, aliança e igreja. O erro do autor se dá em
transparecer que no dispensacionalismo a soteriologia toma lugar de fundamental importância
ou central na teologia dispensacionalista. Como bem disse Michael Vlack em seu livro
Dispensacionalismo, crenças essenciais e mitos comuns, o dispensacionalismo “está
preocupado principalmente com as doutrinas da eclesiologia (igreja) e escatologia (final dos
tempos)”. Como a soteriologia não está no cerne do dispensacionalismo, pode-se encontrar
tanto teólogos arminianos bem como calvinistas (em relação a salvação) que são
dispensacionalistas. Um ponto positivo deste artigo é que o autor fala que embora existam
diferenças quanto a forma de expressar o entendimento (e ele fala de Feinberg), ambos os
teólogos (tanto reformados quanto dispensacionalistas segundo a visão de Feinberg)
concordam nos pontos principais: 1) a vida, morte e ressurreição de Cristo é a única base ou
fundamento para a salvação; 2) a fé no Deus vivo revelado nas Escrituras é o único requisito
para a salvação em cada período da história bíblica; e 3) o próprio Deus é a finalidade última
da fé. O que se segue no artigo é a apresentação dos estágios da revelação progressiva de
Deus e uma comparação das duas teologias: reformada (aliança) e dispensacionalista.
O artigo que fecha a sessão da salvação entre os Testamentos foi feito por Allen Ross. E por
estar no lado da descontinuidade, o autor começa falando no seu artigo que não existe
descontinuidade no método de salvação entre os Testamentos. O que existe de descontínuo é
em relação o conteúdo da fé, expressões de fé, na obra do Espírito Santo e na esperança do
salvo. Mas a salvação sempre foi pela graça mediante a fé. Isso Ross deixa claro aqui. Deixa
mais claro o que foi criticado nesta resenha em relação ao capítulo anterior: a soteriologia não
é a área determinante para o dispensacionalismo. Um ponto de concordância entre aliancistas
e os teólogos dispensacionalistas que pensam como Allen Ross. O autor afirma que existe
dois aspectos de continuidade na salvação que é a salvação pela graça e mediante a fé. Para
argumentar em favor disso o autor cita algumas passagens que fazem alusão a salvação pela
graça como Gn 6 onde Noé encontrou graça perante o Senhor. Bem como a demonstração de
graça na restauração do povo pecador em Jr 31:20; Os 2:19. E para a salvação ser mediante a
fé o autor dá algumas passagens que caminham nessa direção. A mais famosa seria a de
Habacuque 2:4 “​O ímpio está envaidecido; seus desejos não são bons; mas o justo viverá pela
sua fidelidade.”
O aspecto de descontinuidade se daria no conteúdo da fé, e o autor se baseia na história do
AT. Aqueles que eram salvos no AT não necessariamente sabiam tudo sobre Cristo para
serem salvos. Ou seja, eles não sabiam que Jesus era o Messias iria morrer numa cruz e que
sua morte seria base da salvação.
Outro aspecto de descontinuidade seria na expressão da fé. Ross diz que isso não deve ser
confundido com método de salvação. Essas expressões se davam em dois aspectos: a
obediência a lei e adoração por meio dos sacrifícios. Talvez uma crítica a essa abordagem seja
que não dá para obedecer a lei sem crer. Ou seja, isso se confundiria facilmente com um
método de salvação se não for analisado com cuidado.
Em terceiro lugar, está a obra do Espírito Santo. Para o autor o batismo no Espírito Santo só
diz respeito ao NT. Ou seja, a habitação do ES no crente vem a partir do NT e no AT o
máximo que o ES fazia era capacitar, fazê-los profetizar, mas não habitar. Uma crítica a isso
seria a citação de base bíblica para apoiar esse argumento.
Por fim, a expectativa do salvo no AT era diferente do NT. No AT a fé era em algo futuro
enquanto no NT essa expectativa foi cumprida. Quanto a este ponto não há discussão.

A sessão seguinte diz respeito a lei entre os testamentos. Quem escreve o primeiro artigo é
Knox Chamblin e ele se propõe a falar sobre a posição continuísta. O autor defende no artigo
que a lei de Cristo é a mesma lei de Moisés. O que vai mudar é a compreensão e observância
da lei pois foram impactadas pela vinda de Cristo. Segundo o autor, a lei é, com Cristo,
administrada de maneira diferente. Cristo aprofunda a lei. A descontinuidade que poderia ser
defendida pelo autor seria na forma ou modelo da lei, mas não sua essência. Cabe aqui uma
crítica a essas afirmações. Segundo o autor de Hebreus, quando se muda o sacerdócio,
muda-se então a lei (Hb 12:7 citação livre). Não é uma nova interpretação ou um
aprofundamento da lei de Moisés, o que o autor de Hebreus está dizendo é de uma lei
diferente. Essa seria a lei de Cristo. Lei essa que é diferente em essência, não em forma ou
modelo.
Em seguida, Chamblin vai falar sobre a tripartição da lei, a saber: lei moral, lei cerimonial e
lei civil. O autor antecipa uma crítica válida que é em relação a uma visão única da lei que os
autores do NT fazem. Para os escritores do NT, sempre que eles falam da lei eles estão
falando da lei toda, não em parte dela.
Há uma incoerência em relação a obediência que o autor traz no artigo quando ele fala que os
crentes devem obedecer. E esse ato impõe a necessidade de considerar as três dimensões da
lei. O motivo que ele dá demonstra incoerência. Ele diz que há uma inseparabilidade entre as
dimensões. O questionamento é: se há uma inseparabilidade nessas dimensões da lei, por que
existe uma divisão em dimensões?
O artigo seguinte quem escreve é Douglas Moo. Apesar de não ser dispensacionalista, o Dr.
Moo se posiciona do lado da descontinuidade em relação a lei de Cristo.
O ponto crucial deste capítulo é o grau de continuidade entre a lei do AT e NT. Moo divide
seu artigo basicamente em 3 partes. Na primeira parte ele explica o que Jesus quis dizer que
veio “cumprir a lei e os profetas”, na segunda parte ele trabalha na questão de Paulo afirmar
que cristo é o “TELOS da lei” e, por fim, ele apresenta o que seria a lei de Cristo. Um grande
ponto de debate que se pode ter deste capítulo está na terceira parte. Douglas Moo divide essa
parte em mais três pontos: 1) Como o amor e a lei se relacionam, 2) O que significa estar
“debaixo da lei” e 3) Interpretação de Gálatas 5-6. Os críticos afirmam que a definição de “lei
de Cristo” por parte dos dispensacionalistas é vaga. Moo dá uma definição satisfatória do que
seria a lei de Cristo. Ele afirma que a lei de Cristo “é a forma de Paulo afirmar a exigência de
Deus que está vinculado os cristãos desde a vinda de Cristo”. Essa lei, então, abraçaria duas
definições que ele tratou como visões separadas da lei de Cristo: Amor e Andar pelo Espírito.
E isso estaria fundamentado quando Paulo, depois falar sobre a liberdade e a lei em Gálatas 5,
fala sobre a vida pelo Espírito apresentando os frutos do Espírito. Douglas Moo não dá
margens a críticas aliancistas em relação a uma lei mal definida. Os teólogos da aliança
sempre argumentam que aqueles que advogam que a lei de Cristo é diferente da lei de Moisés
não conseguem definir o que é essa lei. Ao afirmar que a lei de Cristo não é só o amor, mas
também um andar sob a direção do Espírito Santo, Moo dá um norte para os
dispensacionalistas em relação a lei de Cristo e torna essa interpretação aceitável. Talvez uma
crítica que se possa fazer a esse artigo é a definição de estar “debaixo da lei”. O autor dá uma
visão geral de cada passagem sobre o que significaria estar debaixo da lei mas ele
aparentemente não explica o que significa dizer que Jesus nasceu debaixo da lei como Paulo
diz em Gl 4:4. A explicação sobre este ponto (estar debaixo da lei) parece não ter relevância
no contexto dessa parte do artigo que é a explicação do que seria a lei de Cristo.

A penúltima sessão de artigos é sobre a relação entre o povo de Deus nos Testamentos. Essa
sessão é importante pois traz ao debate o ponto principal no dispensacionalismo: a relação
entre Israel e igreja. O primeiro artigo foi escrito por Marten Woudstra que se propõe a
apresentar a visão aliancista, isto é, a relação de continuidade entre Israel e igreja. O autor
começa seu artigo falando algo extremamente válido. Ele critica aqueles que dizem que o AT
é simplesmente as Escrituras judaicas ou “Bíblia hebraica” e dizer que o NT “reinterpreta” o
AT é diminuí-lo como Escritura.
O autor afirma que o episódio de Peniel, o qual Jacó luta com Deus, equivale a uma
experiência de conversão. O que é uma incoerência com o que ele fala em seguida pois Jacó
parece não ter mudado o comportamento depois desse episódio. Woudstra segue seu artigo
falando que desde Gênesis 1, Israel já estava presente. O ponto do autor é apresentar Israel
como um conceito de linhas de relacionamento de Deus com o ser humano. Por um lado Deus
se relaciona com todos os homens dando bençãos para todas as nações. Por outro, Deus tem
seu próprio povo exclusivo. O autor chama essas linhas de relacionamento de linha de
inclusão e linha de exclusão, respectivamente. E ele aplica isso a igreja no NT. Então ele
segue desenvolvendo seu argumento mostrando como era a relação dessas linhas no AT e em
seguida no NT. Para falar da continuidade entre Israel e a igreja, o autor usa um texto muito
conhecido pelos aliancistas que é Ef 2:14 onde Paulo afirma que Cristo destruiu o muro da
inimizade entre Israel e os gentios. Ele cita também Rm 10:12, onde Paulo diz que não há
distinção entre judeu e grego, uma vez que Cristo é Senhor de todos. Uma possível crítica
dispensacionalista a esse autor seria que ele está utilizando de textos-prova. O autor não
explica o contexto das passagens, e elas soltas parecem indicar o que ele está querendo
afirmar. Algo que passa despercebido pelo autor é que Israel é uma nação, a igreja não. O
povo de Deus no AT era formado basicamente pelo povo de Israel enquanto no NT, na igreja,
não há distinção de raça, tribo, povo e nação. Nesse caso, a definição de Israel por si mesma
não se aplica à igreja por essa não ser formada por uma nação, mas sim por várias nações.
Robert Saucy é quem escreve o artigo do lado dispensacionalista. O autor rejeita a posição
aliancista de que igreja substituiu Israel no plano de Deus e também uma espécie de
“dispensacionalismo primitivo” que aborda Israel e igreja como pessoas terrenas e celestiais,
essencialmente sem nenhuma continuidade. Saucy apresenta uma boa definição sobre o povo
de Deus que envolve adoção, relacionamento especial e exclusividade. Israel se distinguia dos
outros povos por sua religião, segundo o autor. Israel não foi rejeitado por Deus no NT.
Haverá um futuro para essa nação, conforme Paulo fala em Rm 11. Além disso, existem
realidades espirituais presentes na igreja do NT que não estavam presentes no AT em Israel.
O autor lista duas realidades: o batismo com o Espírito Santo e a igreja como corpo de Cristo.
Embora essas realidades não se apliquem a Israel no AT elas foram prometidas a eles. Se
Israel não desfruta disso hoje é porque em algum dia no futuro ela há de experimentar essas
bênçãos. O autor afirma que a diferença entre Israel e igreja estão menos relacionadas às
realidades espirituais e mais na identidade de Israel como nação. A grande questão é
realmente essa. A igreja é uma comunidade formada por várias nações enquanto Israel é um
único povo, uma única nação. A relação matemática é simples: Israel + povos = Israel e
Outros povos; Igreja + povos = Igreja. Talvez uma crítica que se pode ter deste artigo seria o
fato do autor citar os acontecimentos recentes de Israel como algo que levanta a questão sobre
a relação entre Israel e igreja. Talvez o autor tenha em mente algo que se costumava ouvir
dispensacionalistas falando: “quando falamos de escatologia nós temos que ler a Bíblia e
prestar atenção nos jornais falando de Israel”. Esse tipo de comentário é perigoso e prejudicial
a igreja visto que a única regra de fé e prática são as Escrituras, não os jornais ou
interpretações dedutivas que se pode ter ao ler jornais e aplicar na Bíblia.

A última sessão de artigos vai trabalhar uma questão que dá continuidade a sessão anterior.
Apesar dos capítulos do livro não dialogarem entre si, esta última sessão se relaciona a sessão
anterior pelo menos no título. Os capítulos 12 e 13 vão abordar as promessas do reino nos
Testamentos. Como de costume, o primeiro artigo da sessão vai trabalhar os aspectos de
continuidade e o segundo de descontinuidade.
O autor deste capítulo é Bruce Waltke. Ele se propõe a explicar como as promessas do reino
feitas no AT se cumprem de modo abrangente na igreja no NT e não na nação Israel.Waltke
tem dois pontos positivos no começo do seu artigo. Esses pontos são óbvios quando ele
afirma o compromisso do ​Sola Scriptura​ rejeitando a autoridade da tradição e quando ele
reconhece que hoje em dia Israel não tem um papel de mediação de reconciliação. O erro do
autor é em afirmar que não existe de forma nenhuma um futuro diferente para Israel como
nação no plano de Deus. Outro ponto negativo do autor é em afirmar que o fato da “Escritura
interpretar a Escritura” significa dizer que o NT interpreta o AT de forma total e absoluta.
Waltke parece ser bem tóxico ao questionar a visão dispensacionalista de seu tempo que não
viam uma conexão entre as promessas do AT cumpridas na igreja no NT. De forma mais
geral, ainda que o NT tenha um certo aspecto de prioridade em relação ao AT, as Escrituras
devem ser interpretadas de acordo com seus próprios termos e períodos. Ou seja, o AT deve
ser interpretado de uma maneira geral a luz do seu próprio contexto, a não ser que o NT diga
explicitamente o que a passagem do AT quis dizer. O autor fala sobre a história da salvação
como sendo a história do povo de Deus que foi eleito para desfrutar a restauração do
relacionamento com Deus. Deus, então, forma e mantém esse “reino” pela promessa do
messias no AT e pela pregação do evangelho no NT. Segundo o autor tudo isso começou com
Adão e Eva e foi passando por Sete, Sem, Abraão e foi seguindo até Israel.
Uma grande crítica que se pode ter do artigo e dos aliancistas de forma geral é que eles
desconsideram o fato da aliança que Deus fez com o povo de Israel ser perpétua. Isso leva a
uma interpretação espiritual do livro de Apocalipse por parte dos aliancistas e amilenistas. Se
eles não crêem que as promessas e alianças que Deus fez ao povo de Israel são para sempre,
não há como interpretar literalmente as Escrituras quando os autores neotestamentários falam
do reino de Deus e do cumprimento escatológico das profecias do AT. Há uma argumentação
que pode ser válida se não analisada com cuidado. Waltke afirma que a argumentação
dispensacionalista da pergunta dos discípulos de Cristo em At 1:7, de que Cristo teria
corrigido eles se essa pergunta fosse errada, o autor fala sobre o apóstolo João e o
questionamento de Pedro em relação a como João morreria. A resposta de Jesus foi um
silêncio. Mas a questão aqui é que você não pode fazer uso de uma teologia bíblica de um
livro e aplicar em outro apesar de Cristo ser o mesmo em ambos os livros. As passagens
devem ser analisadas de acordo com seu contexto imediato, levando em consideração a
teologia bíblica do livro e como o autor do livro faz uso da linguagem para se fazer entendido
no texto. A interpretação de Rm 11 pelo autor é equivocada no fato dele não perceber o
contexto da passagem. Paulo começa no versículo 1 falando que Deus não rejeitou seu povo.
Existem promessas feitas a Israel que não tem como serem cumpridas na igreja. As promessas
sobre a terra não se aplicam de forma alguma para a igreja no NT. A igreja não é uma nação,
a igreja é uma comunidade composta por várias nações e essas nações têm suas respectivas
terras. Mas Israel é um povo distinto e precisa de uma terra. Portanto, as promessas de um
reino terreno de Cristo só podem ser cumpridas para a nação de Israel.
O autor fala algo que pode parecer irônico para aqueles que criticam sua visão aliancista. Ele
afirma que Israel e sua lei foram permanentemente substituídos pela igreja e pela nova
aliança. Mas os continuístas afirmam que a lei de Cristo é a mesma da lei de Moisés e esta
continua até hoje. Waltke segue falando sobre tipologia e profecia. O autor segue uma linha
em que define tipologia como algo que considera o “propósito histórico do tipo no drama da
salvação dentro de seu próprio horizonte histórico”. Ele trabalha com ideias de tipo e
antítipos. O que aconteceu no AT é um tipo e no NT seu antítipo correspondente pode ser
encontrado. Já as profecias, o autor afirma que elas devem ser interpretadas de acordo com
suas formas, necessidades, natureza genérica e seus esclarecimentos ao longo da história
progressiva. Uma última crítica ao autor é a afirmação bizarra de que as confissões são
sacrossantas e que os dispensacionalistas estão rejeitando essas expressões de santidade.
O último artigo, mas não menos importante, foi escrito por Walter Kaiser Jr. O autor se
propõe a falar sobre o reino de Deus na perspectiva do dispensacionalismo. Walter Kaiser
começa dando um aspecto escatologico ao reino de Deus, com isso ele coloca esse reino para
o dia do Senhor, um tempo onde o próprio Cristo há de reinar sobre a terra assim como ele
reina nos céus.
Uma crítica inicial do artigo está relacionada a sua forma. O autor não define bem o que será
tratado ao longo do artigo e, por isso, o que se segue parece algo desconexo. Kaiser segue seu
artigo apresentando como o AT lida com a questão do reino de Deus. Para ele, a doutrina do
reino de Deus é parte da doutrina das promessas do AT que passa pela grande promessa feita
a Davi e pelas promessas feitas pelos profetas de um rei sobre Sião que abençoaria e julgaria
todas as nações da terra. A promessa feita a Davi tem grande relevância na discussão pois
Deus afirma que estabeleceria o trono do seu reino para sempre. Essa promessa, obviamente
teve um duplo alcance. Ela se cumpriu em Salomão mas em Cristo ela tem sua plenitude.
Uma crítica que se pode fazer ao autor é que ele aparentemente discorda de uma parte bem
importante de uma citação que ele mesmo faz em seu artigo. A citação diz, em certo sentido,
que no reino de Cristo, apesar de ser futuro e literal na terra, existem aspectos espirituais nos
quais hoje os cristãos experimentam. Em outras palavras, Cristo já reina sobre o seu povo,
mas ainda não na sua plenitude aqui na terra e, mais especificamente, em Israel para todas as
nações. Um aspecto positivo é a afirmação de um reinado de Cristo literal e um futuro para a
nação de Israel distinto da igreja. O autor conclui afirmando a existência de aspectos
espirituais e literais no reino de Deus. Os espirituais seriam: justiça, paz e alegria no Espírito
Santo. Não em palavras mas em poder e está em todos os crentes. Uma última crítica seria o
uso do grego que o autor faz. Para ele, as formas verbais caracterizam tempo, o que faz com
que ele sustente que o reino tem caráter tanto presente quanto futuro.

Sem dúvidas o livro continuidade e descontinuidade organizado por John Feinberg tem suas
críticas e seus pontos positivos. Infelizmente esse livro chegou em uma época em que os
argumentos continuístas estavam ultrapassados em relação a visão dispensacionalista mais
difundida nos seminários hoje em dia. De forma geral a teologia continuísta se prende muito
confissões, interpretações espirituais e espantalhos do dispensacionalismo. Já a teologia
dispensacionalista foi apresentada de forma mais contundente por seus proponentes neste
livro. O organizador do livro também utilizou-se de um artigo de um não dispensacionalista,
Douglas Moo, para defender sua posição em relação a lei de Cristo. Isso mostra que a teologia
dispensacionalista não parou seus estudos e sempre continuou a se desenvolver, enquanto a
teologia aliancista ainda está presa ao século XVI.
Feinberg termina seu epílogo de forma bem positiva. Ele teve realmente a intenção de não
falar aos escritores dos artigos quais eram os textos e por onde seus oponentes começariam a
falar sobre seus pontos teológicos. A questão em relação a continuidade e descontinuidade
não é que um lado só fale de uma coisa e o outro lado só fale de outra coisa, o ponto é a
ênfase que se é dada. Os aliancistas veem mais continuidade do que descontinuidade entre os
Testamentos. Já os dispensacionalistas veem mais descontinuidade do que continuidade. Mas
isso não quer dizer que ambos os lados não vejam ambos os aspectos presentes no diálogo dos
Testamentos. Com tudo isso Feinberg coloca algo essencial na discussão sobre os temas no
livro: os autores são todos evangélicos piedosos e o que eles escreveram não deve ser um teste
de ortodoxia. De modo geral, os assuntos discutidos no livro dão luz a discussão e guiam os
debates futuros no meio acadêmico em relação aos temas de continuidade e descontinuidade.

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