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TOBIAS BARRETO-SE
2008
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TOBIAS BARRETO-SE
2008
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RESUMO
Argumenta que as variedades da nossa língua têm suas próprias regras, explicáveis
pela história da língua portuguesa ou pela comparação com línguas estrangeiras. Demonstra
que falar diferente não é falar errado e o que parece erro de acordo com português padrão
pode ter uma explicação científica (lingüística, histórica, sociológica, psicológica). Numa
deliciosa e bem-humorada narrativa, três universitárias passam férias no interior e acabam
reciclando seus conhecimentos lingüísticos. E mais do que isso, passam a encarar de uma
nova maneira as variedades não-padrão da língua portuguesa. A novela trata a Socioligüística
como ela deveria ser tratada: com seriedade, mas sem sisudez. Uma leitura importante para
quem quer aprender um pouco mais do nosso idioma mergulhando numa “viagem ao país da
Lingüística”.
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INTRODUÇÃO
Nessa jornada lingüística, vários conceitos são abordados, os principais são: o mito da
língua homogênea, ou seja, as variedades lingüísticas existem e precisam ser respeitadas, e o
seu uso não deve ser considerado errado, pois são maneiras diferentes de se falar a mesma
língua e sua utilização não prejudica o entendimento e tudo que parece erro no Português
não-padrão tem uma explicação lógica e científica e incentiva o ensino da norma padrão pois
esta foi criada para que exista um modelo de comunicação nacional, no entanto sugere que o
ensino desta seja voltado para a Lingüística.
O livro busca sempre comparar o Português padrão com o não-padrão para provar que
há mais semelhanças que diferenças entre eles. Neste contexto discute que os falantes da
norma não-padrão têm dificuldade de aprender a norma padrão, primeiramente porque o
primeiro é transmitido naturalmente, já o segundo requer aprendizado e como na maioria das
vezes essas pessoas pertencem à classe baixa, abandonam a escola cedo para trabalhar ou
desistem de estudar por serem discriminadas lingüisticamente, dessa forma o problema
adquiriu grandes proporções.
Todavia, a eficácia do Português não-padrão não pode ser negada, pois consegue
diminuir as regras gramaticais as tornando mais simples, isso ocorre freqüentemente com o
uso de concordância, plural e conjugação verbal. Essa postura não deve ser abominada pois
esse processo é comum em muitas outras línguas, mesmo na norma padrão delas como o
Inglês, por exemplo.
No caso do Português, há ocorrências de vários fenômenos lingüísticos, os principais
são: Rotacismo que é a troca de L por R, este pode ser explicado através da origem das
palavras no latim que recebiam R, mas com o passar do tempo essas palavras sofreram
modificações, porém alguns falantes não tiveram ciência disso e assim estão preservando os
traços do Português arcaico, Yeísmo que é a troca de LH por I, essas mudanças ocorreram
devido a ser mais cômodo pronunciar I do que LH, Assimilação é a transformação de ND em
N e de MB em M, isso se explica porque essas consoantes são dentais e o som de uma está
muito próximo da outra, Redução: ocorre quando as vogais E e O são pronunciadas como I e
U, Contração das proparoxítonas em paroxítonas, que não é exclusivo do Português não-
padrão que tem um ritmo paroxítono, já que palavras proparoxítonas em Latim passaram a
serem paroxítonas também no Português padrão, Desnalização de vogais postônicas que
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ocorre na norma padrão e não-padrão, caracteriza-se por eliminar o som nasal das vogais que
estão depois da sílaba tônica, o que é uma tendência natural da língua, Arcaísmo que surgiu
devido ao Português arcaico ter sido ensinado no Brasil, com isso seus traços ainda
permanecem em regiões afastadas das metrópoles brasileiras pela falta de contato com as
mudanças que surgiram na língua, Analogia que é a mudança lingüística causada pela
interferência de uma forma já existente, por exemplo, palavras que mudam de classe
gramatical por causa do som de uma vogal, e o caso do pronome oblíquo mim como sujeito
de infinitivos, com este ocorreu algo interessante, pois esse costume foi transmitido dos
menos cultos para os mais cultos. Seu uso, entre outras explicações justifica-se pelo pronome
mim ser tônico e procurar enfatizar a oração.
Com o surgimento desses fenômenos a língua tornou-se mais complexa e quando é
necessário aplicar as normas gramaticais novas regras são geradas pelo Português não-padrão
que é inovador, a referente à função da partícula se como verdadeiro sujeito da oração é uma
delas, dessa forma a ordem sujeito-verbo-objeto é obedecida, embora essa norma não seja
aceita pela Gramática Tradicional (neste caso), seu uso é totalmente compreensível pois reúne
uma explicação sintática, uma semântica na qual o sentido da oração é respeitado e outra
pragmática que aborda o uso que o falante faz da fala para obter determinado efeito.
Após a apresentação desses temas o livro questiona o ensino tradicional de Língua
Portuguesa e aponta como solução para reduzir o abismo entre o Português padrão e o não-
padrão que as escolas incorporem usos lingüísticos novos utilizados pela literatura, aceitem o
fim do mito da língua única e admitam que a língua esteja em constante mudança. O ensino
de língua Portuguesa também precisa abordar temas como variantes lingüísticas e fenômenos
da língua, para informar o aluno sobre o uso prático da língua, assim evitando preconceitos e
nunca deixar de mencionar seu valor social, para instruí-lo quando ele deve usar o Português
padrão.
Evidentemente essas transformações não acontecerão rapidamente, pois há imposições
para que o ensino não mude, por parte dos gramáticos que não cansam de criar regras para
conservar o Português padrão e em conseqüência disso o distanciam do Português não-
padrão.
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FATOR HISTÓRICO
Tudo o que está neste livro surpreende a muita gente que só via na língua portuguesa
uma forma de falar, ou seja, a forma português padrão, a forma acadêmica. Vemos que todos
os erros de português nele mostrado sempre foram vistos com preconceito, principalmente por
alguns gramáticos.
A professora Irene, personagem principal do livro, recebe em sua casa nas férias de
julho, sua sobrinha e duas amigas dela da faculdade. As meninas acham engraçado o modo de
falar de Eulália, amiga de Irene, que usa termos como: “véio”, “trabáio”, “cuié”, “broco",
“grobo”...
Irene começa a mostrar às meninas que cada cultura tem seu jeito próprio de falar,
modos herdados de antepassados, ou mesmo dificuldade na língua (órgão) ao pronunciar
certas palavras.
Certas palavras consideradas erradas por alguns gramáticos tem sua origem em outras
línguas, como o latim e no caso da região nordeste do Brasil a influência dos franceses e
holandeses que tentaram uma colonização em séculos passados.
Os preconceitos citados nesse livro (racial, religioso, sexual e etc...) também são
ligados ao uso da fala. O povo brasileiro não dá valor as nossas raízes, nossa cultura, só
valorizando o que vem dos países de primeiro mundo.
À medida que se vai avançando na leitura desse livro, vamos nos achando até patéticos
por até agora só vermos a forma correta e impecável de falar o Português Padrão, aquele
usado pelos acadêmicos. Mas vamos descobrindo que até em países de primeiro mundo como
nos Estados Unidos, os negros têm um modo de falar diferente dos brancos, e aí entra o
preconceito; são negros e por isso falam errado.
O que fica claro no livro é que não existe um jeito certo ou errado de falar, mas sim
heranças lingüísticas vindas de outros países e certas línguas, já consideradas mortas, como o
Latim.
No Brasil quem não fala o português acadêmico é considerado sem cultura. Mas
felizmente alguns escritores estudiosos de línguas, estão lutando para libertar o povo desses
preconceitos lingüísticos, e vamos querer acreditar que o ensino da língua portuguesa, num
futuro bem próximo, seja dado de uma forma que respeite o Brasil como um todo, levando-se
em consideração o falar de cada estado, cada região, cada aldeia. O que interessa realmente é
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que o Brasil é um país riquíssimo em cultura e que a diversidade da nossa língua é um fator
muito importante, que não deve ser alvo de preconceito.
Ainda, que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo
(diacrônica) e varia no espaço (diatópica). Muda com o tempo, porque a
língua que falamos hoje no Brasil não é a mesma do início da colonização e
provavelmente também é diferente da língua que será falada aqui mesmo
dentro de trezentos ou quatrocentos anos. E é por isso que não existe a língua
portuguesa: o que existe é a norma-padrão, que é aquele modelo ideal de
língua que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas
pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas, aquela que deve ser ensinada e
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Irene continua explicando que, no momento que se estabelece uma norma padrão, ela
ganha tanta importância que todas as demais variedades são consideradas "impróprias",
"erradas" e "feias". Os motivos que levam determinada variedade a servir de base para o
padrão não tem nada a ver com as qualidades intrínsecas, internas, lingüísticas dessas
variedades e sim por motivos históricos, econômicos e culturais.
Irene afirma, então, que existe um português padrão (PP) que é usado para a literatura,
nas escolas, etc; e um português não-padrão (PNP) que é falado pela grande maioria de pobres
e pelos analfabetos. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais marginalizadas e
oprimidas pelas injustiças sociais que impera no Brasil, o PNP é vítima dos mesmos
preconceitos que pesam sobre essas pessoas.
Como podemos ver, trata-se de um problema amplo e complexo que passa pela
transformação radical do tipo de sociedade em que vivemos. Se conhecêssemos melhor o
português não-padrão, talvez conseguíssemos identificar as diferenças que o distinguem do
português padrão. Irene diz que o PNP deve ser encarado como aquilo que ele realmente é:
uma língua bem organizada, coerente e funcional.
Irene comenta que na tentativa diária da aceitação das diferenças, devemos incluir
também uma língua diferente da nossa, sendo humildes e tentando ver o que os falantes do
PNP têm a nos ensinar sobre nós mesmos.
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Ensina ainda que a noção de "erro" deve ser reservada para problemas individuais. Se
alguém, ao invés de dizer cavalo diz cafalo estará cometendo um erro, porque essa palavra
não faz parte do registro de variedade do português do Brasil. Porém, se disser pranta no
lugar de planta não é um erro, esse é um fenômeno chamado de rotacismo, que acontece em
diversas regiões do país e que participou da formação da língua portuguesa padrão ao longo
dos séculos. Para chegar a tal constatação deve-se: comparar o PNP com outras línguas e
mostrar que nelas também ocorreram fenômenos semelhantes; buscar na história da própria
norma-padrão as explicações para determinar características que aparentemente são
exclusivas do PNP. Da mesma maneira que o latim se transformou lentamente nas diversas
línguas românicas hoje existentes, também cada uma delas continua se transformando.
Irene afirma que a diferença do português-padrão para o português não-padrão é que
este é:
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Paulo e Minas Gerais encontramos os caipiras tão ridicularizados, pelos moradores das
grandes cidades. No interior do Rio Grande do Sul, vamos encontrar a fala do imigrante
italiano e alemão, no Norte do país, a fala do índio, que são variedades significativas da língua
portuguesa falada no Brasil.
Podemos concluir, feita a leitura do capítulo que essas variedades geográficas,
culturais, urbanas, etc. estão intimamente atreladas ao poder socioeconômico. É culto e
importante quem sabe a norma-padrão, sem se levar em conta a bagagem de conhecimento e
sabedoria, que muitas vezes são abafadas pelo preconceito.
Por esses falantes da variedade serem desconsiderados, por não terem seus direitos
lingüísticos reconhecidos e sendo obrigados a assimilar uma variedade que é estranha a eles,
por nossa escola não conhecer uma multiplicidade de variedades do português e tentar impor
a norma-padrão para todos os alunos, sem procurar saber em que medida ela é na prática uma
"língua estrangeira", cabe a todos o professores, já que se servem da língua como meio de
transmissão dos conteúdos, a transformação do modo de olhar as variedades não-padrão em
todos os campos da educação, sendo tarefa de todos e não apenas dos professores de língua
portuguesa.
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Conclusão
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valorização do "macho"; o cultural: o desprezo pelas práticas medicinais "caseiras", além dos
socio-econômicos: como a valorização do rico e o desprezo pelo pobre; entre outros.
Desvendando a sociolingüística de maneira especial, o autor se preocupa em transmitir
através desta obra, que por mais estranhas que possam parecer certas pronúncias, por mais
incompatíveis que sejam com o português padrão que aprendemos na escola, cada uma dessas
palavras têm uma origem perfeitamente explicável dentro da história da língua portuguesa.
A Língua de Eulália conduz o leitor a uma verdadeira "viagem ao País da Lingüística",
e ajuda a entender mais a nossa língua portuguesa.
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Referências Bibliográficas
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