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SALVAROS FENÓMEN)S 103

Ensaio sobre ø noçõo de teoria f{sicn de Plntdo a Galileo

Ønclusio

Muitos fìlósofos, após Giordano Bruno, criticaram duramente Andreas Osiander


pelo prefácio que ele colocou no início do livro de Copérnico. Os conselhos dados a
Galileo por Bellarmino e por U¡bano VIII foram tratados com igual severidade, desde
o dia em que foram publicados. os flsicos de nosa época pesaram mais minuciosa-
mente do que seus predecessores o valor exato das hipóteses empregadas na Astrono-
mia e na Flsica; eles viram que se dissipavam muitas ilusões que, ainda hd pouco,
passavam por certezas. E necessário reconhecer e declarar hoje em dia que a Iógica
estava ao lado de osiander, de Bellarmino e de urbano vIII, e não do lado de Kepler
e de Galileo; que aqueles haviam compreendido o alcance exato do método experimen.
tal e que, nesse æpecto, estes se enganaram.
A história das ciências, no entanto, celebra Kepler e Galileo, que coloca entre os
grandes reformadores do método experimental, enqua¡to que nÍo pronuncia os
nomes de osiander, de Bellarmino ou de urbano VIII. Será isso uma suprema injustiça
de sua parte? Não teria ocorrido, ao contrário, que aqueles que atribuíam um falio
alcance e um valor exagerado ao método experimental tenham acabado por trabalhar
muito mais e melhor para o aperfeiçoamento desse método do que aqueles cuja apre-
ciação fora, inicialmente, mais precisa e mais exatamente medida?

Durante. a Antigüidade e a Idade Média, a Física nos apresenta duas partes tão
distintas urha da outra, que elas são, por assim dizer, opostas entre si; dJ um hdo,
encontra-se a Ffsica das coisæ celestes e imperecíveis; do outro, a Física dæ coisas
sublunares, submetidas à geração e à conupção.
Considera-se que os seres de que trata a primeira dessas duas Ffsicas são de uma
rLatuleza infìnitamente mais elevada do gue aqueles de que se ocupa a segunda; claí
se conclui que a primeira é inconparavelmente mais difícil do que a segunda; Proclos

Ao contrário do que pensavam os homens da Antigüidade e da Idade Médía, a


Física celeste que haviam construído era singularmente mais avançada do que a Física
terrestre.
104 PiqreDuhem

Desrle a época de Platão e de Aristóteles, a ciência dos astros foi organizada de a-


cordo com o plano que atualmente ainda impomos ao estudo da Natureza. De um la-
do , estava a Astronomia; geômetras, como Eudoxos e Callipos, combinavam teorias
matemáticas por meio das quais podiarn ser descritos e previstos os movimentos ce-
lestes, enquanto que os observadores julgavam o grau de concordáncia entre as previ-
sões do ciílculo e os fenômenos naturais. De outro lado, estava a Flsica propriamente
dita ou, para falar a linguagem moderna, a Cosmologia celeste; pensadores como Pla'
tão e Aristóteles meditavam sobre a natureza dos astros e sobre a causa de seus movi-
mentos. Que relações tinham entre si essas duas partes da Física celeste? Que frontei
ra precisa as separava? Que afinidade unia as hipóteses de uma às conclusões da outra?
Essas sa'o questões que os astrônomos e os físicos discutiam durante a Antigüidade e
a Idade Mèdia, que resolviam em diferentes sentidos, pois seus espíritos eram dirigi-
dos por tendências diversas, aliás muito semelhantes às que atraem os Mbios modernos.
Demorou muito para que a Ffsica dæ coisas sublunares atingisse na hora correta es-
se grau de diferenciação e de organização. Também ela, nos tempos modernos, sení di-
vidida em duas partes, semelhantes àquelas em que se divide a Flsica celeste desde a
Antþüidade. Em sua parte teóric4, ela agrupará sistemas matemáticos que permitirão
conhecer, através de suas fórmulas, as leis precisas dos fenômenos. Em sua parte cos-
mológica, procurará desvendar a natvreza dos corpos, de seus atributos, das forças que
eles sofrem ou exercem, das combinações que podem formar entre si.
Na Antigüidade, durante a Idade Média e o Renæcimento, teria sido difícil fazer
esa divisão. A Flsica sublunar quase nâ-o conhecia teorias matemáticas. Apenas dois
capltulos dessa Física, a Óptica ou Persp ectìv a e a Estâtica ou S ci entia d e pond ribus,,
haviam revestido essa forma, e os físicos se embaraçavam muito qualdo queriam, na
hierarquia das ciências, asinalar o verdadeiro lugar à Perspectiva e à Scimtiø de ponde-
ribus. Forz desses dois capítulos, a análise dæ leis que presidem os fenômenos pernla-
necia pouco precisa, puramente qualitativa; não havia ainda se desprendido da Coslt.to'
logia.
Na Dinâmica, por exemplo, as leis da queda livre dos graves, entrevistas desde o sé'
culo XfV, e as leß do movimento dos projéteis, vagamente suspeitadas no século XVI,
permaheciam envoltas em discusões metafísicas sobre o movimento local, sobre o mo-
vimento natural e o movimento violento, sobre a coexistência do motor e do móvel.
Apenas na época de Galileo vemos a parte teórica desprender-se da parte cosmológica,
ao mesmo tempo em que sua forma matemática se torna precisa. Até então as duas
partes conservavam-se intimamente unidas, ou melhor, encaixadas de uma forma inex-
trinciível; seu conjunto constituía a Física do movimento local.
Por outro lado, a antiga distinção entre a Flsica dos corpos celestes e a Física das
coisas sublunares apagala-se gradualmente. Após Nicolas de Cusa e Iæotrardo da Vin'
ci, Copémico havia ousado afirmar a semelhança entre a Terra e os planetas. Pelo es-
tudo ãa estrela que havia aparecido e depois desaparecido, em 7572, Tycho Brahe
mostrara que os astros também podiam ser gerados e perecer. Descobrindo as manchas
do Sol e as montanhæ da Lua, Galileo havia acabado de reuni¡ as duas Físicas em uma
só ciência.
SALVAROSFENÔMENOS 105
Ensb sobre a rnçõo de tæria flsicø de Pløtão a Galileo

Desde então, quando um Copérnico, um Kepler ou um Galileo declarava que a As-


tronomia devia tomar por hipoteæs proposições cuja verdade fose estabelecida pela
Flsica, essa afìrmação, apenas urna em apar€ncia, continhao na realidade, duas proposi'
ções bem distintas.
Uma afirmação como essa, de fato, podia sþnifìcar que as hipóteæs da Astronomia
eram julgamentos so celestes e sobre s
podia signifìcar que essas hipóteses, o
iria enriquecer nosso gicos com novas v
sentido era encontrado, por assim dizer, na própria superfície da afirmação: aparecia
antes do que o outro; era o sentido que os grandes astrônomos do século )o/I e do sé-
culo XVII viam claramen{e, aquele que enunciavam de uma maneira formal; enfim, es-
se era o sentido que atraia sua adesão. Ora, tomada com esle sþnificado, a afìrmação
era falsa e nociva; Osiander, Bellarmino e Urbano VIII consideravam'na, com toda jus-
tiça, como contrária à Lógica; mæ foi necessário que esta afirmação gerasse inúmeros
enganos na Ciência humana, pítra que se decidisse, enfim, rejeitá-la.
Por t¡ás desse primeiro sentido ilógico, mas aparente e sedutor, a afirmação dos as-
trônomos da Renascença continha um outro; exigindo que as hipóteses da Astronomia
estiyesem de acordo com os'ensinamentos da Física, exigia*e que a teoria dos movi'
mentos celestes repousasse sobre bases capazes de sustentar igualmente a teoria dos
movimentos que obsewamos aqui em baixo; exigia-se que o movimento dos astros, o
fluxo e o refluxo do mar, o movimento dos projéteis e a queda dos corPos pesados fos-
sem salvos com a ajuda de um mesmo conjunto de postulados, formulados na lingua-
gem da Matenr,ítica. Mas ese sentido permanecia profundamente oculto; nem Coperni-
co, nem Kepler, nem Galileo o percebiam nitidamente; ele permaneceria, no entanto,
dissimulado, mas fecundo, abaixo do sentido claro, porém errôneo e perigoso' que era
o único captado por esses astrônomos. Enquanto o sþnifìcado falso e ilógico que atri-
bulam a seu princípio gerava polêmicæ e disputæ, foi o sigrifìcado verdadeiro, mas
oculto, desse mesmo princípio, quefez nasceremos ensaios científicos desses invento-
res; enquanto se esforçavam para zustentar a exatidão do primeiro sentido, sem o saber
tendiam a estabelecer a correçlio do ægundo sentido; quando Kepler multiplicava suas
bntativas para dar conta dos movimentos dos astros com a ajuda das propriedades das
correntes de água ou dos ímãs, quando Galileo procurava conciliar o movimento dos
projéteis com o movimento da Terra ou a tirar deste último movimento a explicação
das marés, ambos acreditavam provar que as hipóteses de Copernico fundavarn-se na
natuteza das coisæ; mas a verdade que eles gradualmente introduziam na Ciência era
que uma mesma Dinâmica, com um conjunto único de fómulas matemáticas, deve re'
presentar os movimentos dos ætrOS, as oscilações dos oceanos e a queda dos corpoS pe-
sados. Acreditavam estar renovando fuistóteles; preparavam o caminho para Newton.
Apesar de Kepler e Galileo, acreditamos hoje, com Osiander e Bellarmino, que as hi-
póteses da Flsica não passam de artifícios matemáticos destinados a vtvar os fenôme-
n s; mas, graças a Kepler e Galileo, nós lhes exigimos que vtvem (n ußsmo temry to'
dos os fenômerns do Universo inanimado.

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