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Digitalizado pelo Arquivo Histórico José Fereira da Silva - Blumenau - SC


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MAIO DE 1959 N.o 5

Fragmentos da História de Rio do Sul


Victor LUCAS
o presente trabalho foi escrito, em 1950, para figurar no "Livro
do Centenário de Blumenau".
Entretanto, por lhe ter vindo, demasiado tarde, a solicitação, o autor
não pôde fazê-lo chegar em tempo, às mãos da respectiva comissão. Sendo,
porém, o assunto' de incontestável interêsse para os estudiosos do passado
da nossa terra, resolvemos encaminhá-lo, a pedido do sr. Ferreira da
Silva, para publicação em "Blumenau em Cadernos".
Atendendo a um pedido de no- sará, de firmar e fixar aconteci-
bre, quão bondoso amigo, ligado à mentos, fatos e nomes ligados ao
comissão dos festejos do primeiro desenvolvimento do nosso Vale do
centenário da fundacão de Blu- Itajaí e, especialmente, de Rio do
menau, recebi o honrõso, mas tam- Sul, minha terra, município que
bém espinhoso encargo de escre- está entrando na vida econômica
ver alguma cousa sôbre Rio do de Santa Catarina como um fator
Sul e sua história, em homenagem preponderante, ombreando honro-
a velhos riosulenses que vieram samente com os maiores centros
par;; estas plagas, em época já bem industriais do nosso Estado, embo-
remota . Falo c.? época remota, ra o mesmo não contar mais que
menos no SE'T'tlrl,o do tempo que alguns lustros, tomando-o como
nos separa da l!1eSma, que no sen- Comarca autônoma . Esta tentati-
tido do desenvclvim ento vertigino- va, porém, tendo a minha modesta
so, quase inacreditável, desta re- e deslustrada pessoa como seu
gião, principalmente para aquê- intérprete, dá-nos uma demons-
les que aqui começaram a civiliza- tração perfeita até que ponto Rio
ção . Alguns ainda vivem e se mo- do Sul está desligado de sua his-
vimentam em nosso meio . São pes- tória . Falar, mesmo, de história de
soas veneráveis pela sua idade e Rio do Sul, seria adiantar-se aos
por tudo que fizeram, direta e in- fatos, pois, esta história, como já
diretamente, para lançar os ali- frizei, que é desconhecida de quase
cerces econômicos e sociais desta todos, vive apenas na memória de
vasta região catarinense, que se alguns poucos velhos riosulenses
estende ao longo do rios Itajaí do que certamente, em vão, tentam
Sul e do Oeste e se situa entre a concatenar dados ou datas para fir-
Serra do Mar e a Serra Geral. A má-la ou trazê-la à lume . Será,
idéia dêsse meu amigo é louvável assim, minha. crônica, em si in-
sob todos os pontos de vista, pois, completa e, talvez, também desco-
constituirá efetivamente uma ten- lorida, mais uma demonstração de
tativa, e disso certamente não pas- boa vontade, que o resultado de
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estudos aprofundados de aconteci- mília foi, como poucos outros, nos-
mentos que antecederam à colo- sos amigos no infortúnio, pois era
nização de Rio do Sul e que, ine- assim considerada a mudança pa-
gàvelmente, teriam o seu valor in- ra os sertões riosulenses, aquela
confundível na determinação exa- que conhece Rio do Sul desde a
ta de datas e acontecimentos. Sei, edificação de sua primeira cabana,
perfeitamente, que não passo de feita de barro e coberta de palha, e
um croniqueiro vulgar, que escre- que estava situada no lugar onde
ve mais por lazer que por voca- hoje se ergue o majestoso prédiO
ção ou preparo, mas também é REX, em pleno coração da cidade.
verdade, e infelizmente, que até a Era então a estrada que margeia
presente data não se encontrou o rio do SUL e que nos liga ao
entre os homens cultos e intelec- municípiO de Itupuranga, nada
tuais, filhos ou não de Rio do Sul, mais que um simples picadão, aber-
alguém que tomasse a peito esta to pelo sr. Paulo Cordeiro, um dos
tarefa. homens que mais se destacaram
O trabalho, em sí, seria um dos no desbravamento dos nossos ser-
mais gratos, pois, colocaria em po- tões e que, posteriormente, quandO
sição de destaque essa. obra, já que Rio do Sul já era município, des-
hoje, como sempre, é ainda o pas- membrado, como foi, do antigo
sado que nos aponta diretrizes, grande municípiO de Blumenau,
sendo como é e sempre será, a fon- muito fêz pelo desenvolvimento
te de onde haurimos o nosso saber desta região do Vale do Itajaí,
e de onde colhemos a nossa expe- principalmente em construções de
riência. Servirá, também, para in- estradas e pontes, como chefe do
flar o nosso peito de ânimo, quan- executivo municipal. Quando le-
do vemos periclitar o resultado de mos as histórias de catequese dos
nossos esforços ou quando não so- chavantes nos longinquos sertões
mos compreendidos em nossos in- nordestinos e que são consideradas
tentos, pois, é justamente, lá do quase que como reminiscências
passado, que ressurgem vultos que pré-históricas, poucos são aquêles
bem nos dão um exemplo do quan- que julgam possível que t:,mbém
to pode a tenacidade, a temerida- Rio do Sul, há 50 anos atras ape-
de e a clareza de propósitos. Ele- nas, tivesse sido também teatro de
mentos os houve e os há, por cer- lutas abertas e sangrentas entre o
to, que teriam estado em condições selvagem e o colonizador que,
de transmitir à posteridade, me- intrepidamente, invadira a região,
lhor e, provàvelmente, de maneira que o aborígene tresmalhado consi-
mais brilhante, fatos interessantes derava sua propriedade, indispu-
da vida do nosso Rio do Sul e que tada durante séculos, e de onde re-
valeria a pena serem fixados e cuava passo a passo, embebendo a
relembrados como valores históri- terra - mãe com o seu sangue in-
cos. Faltou-lhes, no mínimo, âni- domável que derramava em holo-
mo ou a lembrança de legar à pos- causto à liberdade e à soberania
teridade aquilo que já hoje nos faz assim enxovalhada . Contudo, não
tanta falta e que será considerado, era possível que a civilização, em
no futuro, e nisto não creio errar, plena marcha ascendente, fizesse
como uma falta imperdoável dos alto diante de tais obstáculos, em-
nossos homens intelectuais, que, bora ferisse profundamente os di-
infelizmente, se perdem na azáfa- reitos ingênitos de uma raça acos-
ma de uma vida muito materiali- tumada à liberdade selvagem e a
zada. Seria assim de minha parte direitos até então incontestes. O
muita pretensão querer preencher selvícola, acossado rudemente des-
esta lacuna; mas, mesmo assim e de a mais remota época colonial,
correndo ainda o risco de deturpar, já tinha então quebrantado o seu
em um ou outro detalhe, a visão ânimo de luta; e a resistência que
histórica de nosso município e, oferecia, já não se caracterizava
principalmente, cidade, procuro mais, salvo uma ou outra exceção,
vasculhar, na memória, o passado, por uma luta organizada por
para que a outros seja dado ava- grande número, mas aparecia em
liar o esfôrço do homem riosulen- pequenos grupos e utilizava-se de
se pela elevação de nossa vida so- sua astúcia e dos conhecimentos
cial. Aconteceu que a nossa fa- topográfiCOS que possui a desta re-
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gião, para atacar isoladamente co- pelos selvícolas ,tendo sido morta,
lonos ou quem ousasse ir além dos após curta e violenta luta, a sua
limites traçados pelo bom senso. espôsa.
Foi preciso tôda a coragem e ener- Idêntico ataque tivera que supor-
Foi preciso tôda a coragem e tar, também, em pleno dia, quan-
energia de um ' Eduardo para do se dirigia para a roça, na
conjurar, definitivamente, êste pe- margem esquerda do rio do Oeste,
rigo, que ameaçava constante- uns 500 metros ditante do campo
mente o trabalho pacífico dos do Esporte Clube Concórdia, a
primeiros desbravadores dos nossos família de Carlos Basílio, velho
sertões . A colônia dos bugres, for- morador desta cidade. Felizmente,
mada no planalto do vizinho mu- esta família não teve perdas de
nicípio de Ibirama, antigamente vida a lamentar; sairam-se todos
também pertencente ao grande com pequenas escoriações . Temos
município de Blumenau, dá-nos ainda a mencionar o caso Moser,
uma idéia exata do perigo que tive- que se verificou em Mosquitinho,
ram de afrontar aquêles que de- uns 10 quilômetros desta cidade,
mandaram esta região. ~ste fato, onde residia Carlos Reuter, um dos
porém, por si só, ainda não seria nomes tradicionais, ligados à co-
bastante para destacar a temerida- lonização riosulense . Encontrava-
de e a coragem dos nossos paes e se Carlos Reuter, juntamente com
avós, pois, idêntica luta era co- o seu ajudante, de nome Joaquim
mum a tôdas as regiões do vasto Moser, abrindo um caminho, Mos-
território nacional e não represen- quito a dentro, quando foram cer-
ta, portanto, um papel especial na cados pelos bugres. Após curta e
história de nossa colonização. dramática refrega, o sr . Carlos
Forçoso é convir, porém, que não Reuter, conseguindo contornar o
era a raça brasileira Ousa) tem- assédio, logrou evadir-se, abando-
perada nas intempéries do nosso nando, porém, no campo da luta,
clima tropical e afeita, durante sé- mortalmente ferido por uma cer-
culos, à luta dos sertões, que pro- t eira frechada, o seu companheiro
curava subjugar afoitamente a de trabalho . Reuter, vendo-se as-
natureza, inclemente e traiçoeira; sim acossado, dirigiu-se diretamen-
mas era um povo estranho a tudo, te a Rio do Sul em busca de socor-
que, há umas décadas apenas, co- ro. Reuniram-se os poucos mora-
meçava a infiltrar-se, mais ou me- dores e formaram uma expedição
nos organizados, nesta região. Em- armada que seguiu para o campo
bora grande parte já tivesse nasci- da luta; mas, quando ali chegou, já
do aqui, quase tudo lhes era es- os índios tinham abandonado o
tranho, basta dizer que eram pou- terreno, deixando, apenas, o mor-
cos aquêles que possuiam uma no- to, que foi então transportado pa-
ção, mais ou menos apurada, de ra esta cidade.
nossa lingua . Apreciando, assim, "ÉStes casos, porém, não ficaram
os fatos por êste prisma e ângulo, isolados. Temos ainJa o da turma
t emos que louvar-lhes a sua bravu- chefiada pelo sr. Paulo Cordeiro,
ra, pois, foram êles que abriram durante a abertura da estrada pa-
para a civilização brasileira um ra Ituporanga que, na altura de
dos mais férteis vales conhecidos Aurora (Lauterbach ) fôra cercada
em todo o território nacional . Não durante semanas pelos selvagens
seria interessante fechar êstc capí- de forma ameaçadora. Esta tur-
tulo, que trata do rompimento dos ma era composta de um pequeno
sertões riosulenses, sem mencionar grupo de homens bem dispostos,
o tributo de sangue que diversas que não se deixaram esmorecer
famílias aqui radicadas foram o- com simples ameaças dos sitiantes.
brigadas a fornecer. Quero citar, As ameaças que sofreram, recru-
em primeiro lugar, a família de desciam principalmente durante a
Carlos Rennert, velho pioneiro rio- noite, sem que, porém, os selva-
sulense, que se fixara em pleno gens chegassem a abrir a luta, cer-
perímetro urbano desta cidade, à tamente com o receio da violên-
margem direita do rio do Sul, ou cia do rebate, pois, os assim cer-
Braço do Sul, nome pelo qual fi- cados tinham os seus espias, que
cou designado naquela época, e não pouparam com sinais ineludí-
que fôra atacado, em pleno dia, veis, em forma de tiros que estru-
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giam nos ares, e que, certamente, aumentaram de brilho e o seu ros-
convenceram aos sitiantes que o to se abriu num sorriso satisfeito
preço da vitória não seria lá mui- e comovido, quando. cheio de emo-
to barato. Isto tudo Se deu entre ção, provocada pelo grande inte-
os anos de 1907 até 1909, quer di- rêsse por mim demonstrado pela
zer, precisamente há 50 anos a- vida e luta que tiveram que susten-
trás . Mas o perigo continuava e tar os nossos velhos desbravadores
somente terminou aí pelo ano de dos sertões, retendo por uns mo-
1915, quando entrou em cena o cé- mentos a respiração e firmando-se
lebre Eduardo que, usando mais de melhor no seu leito alvo e macio,
estratagemas que de violência, começou a narrar: "sim", disse,
conseguiu, a muito custo, catequi- "estamos chegando àquela época
zar os nossoS bugres . E:stes fatos que com tanta satisfação evoco e
aqui relatados não representam, que hão devia ficar no olvido, pois,
no entanto, o que houve de mais representa uma página verdadeira-
dramático na luta do selvagem mente épica, vivida por um punha-
contra o seu inimigo secular, mas do de homens audaciosos quase a-
são casos estreitamente ligados ventureiros ,sendo que somente a-
com nomes de famílias riosulenses, quêles que conheceram os sertões
a todos familiares , pois aqui se a- riosulenses de cêrca de 55 anos a-
cham radicados e aqui vivem em trás, podem avaliar com acêrto o
nosso meio . sacrifício que representava a mu-
Com o fim de levantar um pouco dança para esta região inóspita .
mais o véu que cobre acontecimen- Recordo-me, perfeitamente, quan-
tos tão interessantes para nós rio- do em 1904, época em que já aqui
sulenses, tive ensejo e a grande fe- me encontrava para derribar ma-
licidade de entrevistar um velho tas e construir a nossa choGa do
pioneiro riosulense, na pessoa sim- pavor espalhado pela notícia da
pática do Sr. Willy Hering sr., re- luta travada por um grupo de tro-
sidente em Matador, onde fixou peiros, que vinham descendo o pla-
residência no ano de 1906, cujos nalto com destino ao litoral, em
cabeles grisalhos enchem-nos de busca de suprimentos, nas cerca-
respeito e cuja vida tem sido um nias do morro Timbêzinho, num
corolário de lutas, onde a alegria desvio do caminho que já desapa-
e o sofrimento se revesavam, sem receu completamente, com nume-
que lhe pudessem abater o ânimo, rosa tribo da botocudos . Esta luta
acostumado como estava, desde a transformou-se em verdadeira. ba-
sua mocidade, às agruras da vida talha, constituindo uma das mais
que Deus reserva para aquêles que dolorosas tragédias verificadas nos
se deixaram arrastar pelo seu espí- sertões desta região, pois, tal foi
rito indomável e que se esboroa- a sanha e a ferocidade dos selva-
va de encontro às leis da natureza gens, que não pouparam ninguém.
que aqui se apresentavam crueis e Ficaram prostrados no campo da
inclementes. Estando o mesmo ho- luta nada menos que 14 mortos, ou
.i e preso à cama, por má sorte do seja, o total dos componentes des-
destino, como que sorvendo até a ta tropa, ficando assim o chão co-
última gôta o cálice da amargura, berto de cadáveres de homens e
não teve a família , mesmo assim, animais, em meio à desordem pro-
dúvida em franquear-me a sala vocada pelos objetos espalhados a
onde se encontrava recluso êste esmo e em tôdas as direções. Du-
exemplar chefe de família.. Notc- rou semanas até que foi possível
riamente conformado com o seu reconstituir mais ou menos os fa-
destino, recebeu-me o mesmo vi- tos ali desenrolados. Os que dali se
sivelmente satisfeito . Cientificado aproximaram tapavam o nariz e
do objetivo de minha visita, que lhe contornavam apavorados êste lu-
expliquei sem grandes rodeios, re- gar, pois, os corpos em plena de-
cordou incontinente gratas passa- composição ficaram expostos aos
gens de sua mocidade, quando e- corvos que se juntaram em grande
ram, êle e meu pai, inseparáveis quantidade, emprestando assim um
amigos . Na proporção que vínha- aspeto ainda mais lúgubre ao qua-
mos discorrendo sôbre o passado, dro aqui pintado em poucos traços
rememorando fatos e datas, a êle e que talvez ainda não traduzem
tão ligados, vi como os seus olhos bem aquela triste tragédia que se
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desenrolava em pelno sertão e lon- midos em meio às contorsões an-
ge do mundo civilizado. Eu, pessoal- gustiantes das pobres vítimas, pois,
mente, tive oportunidade de con- logo que recebemos o pedida de
tar <lepois as cruzes levantadas socorro, pusemo-nos a caminho
em homenagem a estas almas cris- para salvar o que fôsse possível .
tãs e certifiquei-me da obstinação Formou-se, assim, um grupo de
do nosso selvagem em não arredar homens bem dispostos, como Leo-
o pé dêste chão para êle tão sagra- poldo Schroeder, Carlos Rose-
do e que defendia com tanto calor mann, Reinhold e Richard Kopel-
e sangue . Embora. o govêrno tives- ke, Hermann Heuser, Edgar Ode-
se proibido a caça e a guerra ao brecht e a minha insignificância .
selvagem, êstes não se conforma- Pelo rio, com a canôa, seguiu o
ram com a conquista pacífica de sr. Vicente Catarina, com mais
suas terras e das regiões onde im- um companheiro, a fim de recolher
peravam e se homiziaram durante os feridos e transportá-los para
milênios talvez . Sabemos também, Rio do Sul. Ainda hoje fico toma-
"continuou o sr . Willy Hering", que do de compaixão ao me recordar
nem sempre podemos taxá-los de das cenas que ali se desenrolaram
selvagens no sentido da crueldade, com os feridos, dois dos quais não
pois, a guerra, embora proibida, suportaram o transporte e morre-
não cessara nunca contra os mes- ram em caminho, sendo enterrados
m os, principalmente pela famige- pert.o de Barra do Trombudo. Tam-
r ada família dos "Pires", antiga- bém eu, pessoalmente, sofri um a -
mente donos de grandes fazendas, taque em forma dum cêrco que os
que lhes moviam uma tremenda índios me fizeram aí pelo mês de
perseguição, jogando-os para o li- setembro de 1904, quando aqui me
toral, onde por sua vez lhes era encontrava preparando minha ro-
cercado o passo pelo avanço lento, ça e construindo minha choupana.
mas contínuo, da colonização teu- Mas, felizmente, nada houve, pois,
ta e ítala. Quem sab e da guerra os selvagens, temendo talvez mais
que esta família de fazendeiros dois enormes cachorros que possuia,
movia friamente contra os selva- que a nós homens, retiraram-se
gens, com o único fito de aniqui- sem atacar-nos.
lá-los, como se aniquila um ani- Anos após foram mortos no mor-
mal, acha fàcilmente a explicação ro da Atafona, abaixo um pouco
da transformação, com o correr do de Ri.a chuelo, o sr . Manoel Loren-
tempo, destes homens em verdadei- tino que recebeu uma frechada
ras feras humanas, bandoleiros e quando viajava para Blumenau.
assassinos, que punham em perigo Tombou ainda morto nesta mesma
até êstes dias tôda a zona serrana, redondeza um imigrante de nome
pois, esta vontade de matar en- Germano Voigt, além de ,outros
trara-lhes pelo sangue e não mais casos denunciados pelo número de
distinguiam entre selvagens e civi- cruzes levantadas à beira do ca-
lizados. Felizmente, no cêrco que minho.
a policia lhes fizera há poucos a- Os últimos remanescentes dos
nos, na região do Rio do Campo, selvagens renderam-se, sem luta,
conseguiu liquidar com o principal a Eduardo aí pelos anos de 1914,
chefe dos remanescentes desta fa- em número de sessenta, entre ho-
migerada quadrilha de bandidos. m ens, mulheres e crianças. Certa-
Logo em seguida àquela chacina, mente não viram outro meio de
tiveram alguns audaciosos pionei- escapar à sanha dos famosos Pi-
ros que enfrentar, nas cercanias res, pois, a rendição foi uma con-
de Barra das Pombas, outra luta, sequência direta da guerra e per-
Quase idêntica, mas desta vez mais seguição que êstes lhes moviam".
feliz, pois o número de mortos fi- Como a nossa conversa ia já
cou limitado a 2, que morreram ao longe e divagávamos repetidamen-
serem transportadas para esta ci- t e para outro terreno, achei pru-
dade, sem mencionar os grave- dente não abusar da bondade do
mente feridos e os levemente atin- doente, que já dava sinais de visí-
gidos. "Ê:Ste fato pude presenciar vel cansaço . Despedi-me, assim
em pessoa e ficou-me tão bem gra- intimamente satisfeito de não ter
vado na memória que parece-me deixado de anotar êstes fatos in-
estar ouvindo, ainda hoje, os ge- teressantes para todos quantos es-
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timam o valor e honram o passado. agricultura. Tudo aqui é o resulta-
É assim de certo modo justo e ho- do do esfôrço pessoal; e o dinamis-
nesto que honremos a memória dos mo que anima o seu povo, é uma
nossos velhos sertanistas, sem dis- das mais sólidas garantias para o
tinção de raç.a, verdadeiros pionei- futuro desta região previlegiada.
ros desta hoje tão apreciada e lou- O trabalho prestado por êste pu-
vada região catarinense . Creio po- nhado de homens à civilização, va-
der afirmar mesmo, não pOl'suir o le por sí só por um monumento.
Vale do Itajaí, êmulo que se lhe Evidencia-se de um modo tão fla-
ombreie, considerando o desenvol-
vimento vertiginoso da indústria, grante que me abstenho de entrar
do comércio e principalmente da em pormenores.

PARECERES E SUGESTõES

Ainda o centenário de Itajaí


--*--
Do nosso prezado colaborador, SSmo. Sacramento d'Itaj aí, logo
sr . J . Ferreira da Silva, recebe- que seus munícipes tenham pron-
mos o seguinte : tificado, à sua custa, casa para as
"Quando fui convidado, pela co- sessões da Câmara".
lenda Câmara Municipal de ItajaÍ,
a opinar sôbre a data em que se Parece que a cousa é bem clara:
deveria comemorar o centenário Itajai estava em condições de ser
da elevação de Itajaí a municípiO, município, mas só o seria quando
se eu tivesse relido a lei 464, de 4 tivesse lugar onde a Câmara pu-
de abril de 1859, certamente não desse se reunir . Daí se deduz que ,
teria dado o parecer que emiti . enquanto os moradores não arran-
jassem casa, nas condições de ser-
Como outras pessoas consultadas, vir para o legislativo municipal,
eu entendi que as comemorações Itajaí continuaria simples distri-
deveriam ser feitas na data da lei, to, ou freguesia, que é o seu equi-
e não na da instalação do muni- valente .
cípio .
Folgo em confessar Elue me en- Está, portanto, certo, no meu
ganei . entender, o sr . Prefeito municipal
em determinar que os festejOs co-
E isso, por ter confiado muito memorativos do centenário da ele-
na minha memória . Repassando, vação de Itajaí a municípiO, se
agora, o texto daquela lei, constato realizem na data do centenário da
que o município de Itajaí não foi, sua instalação, no ano próximo.
propriamente, criado a 4 de abril . Só então, em 1860, com o adim-
plemento da. condição - sine qua
Leia-se o artigo 1.0, daquele dis- non - de se arranj ar casa para a
positivo legal, subscrito pelo presi- Câmara, é que a lei entrou, real-
dente João José Coutinho, e ver- mente, em vigor.
-se-á que tenho razão:
"Art . 1.0 - Será elevada à ca- O raciocínio é suficientemente
tegoria de Vila a paróquia do claro para que exija explanação."

DOUTOR WASHINGTON LUíS PEREIRA DE SOUSA, presidente


O eleito da República, visita Blumenau a 29 de maio de 1926. Nessa
ocasião o dr. Victor Konder é convidado para ocupar o ministério da
Viação.
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A "CULTURVEREIN"
Frederico KILIAN
(Continuação da página 67)
Na reumao de 13 de Dezembro, a comissão eleita no mês anterior apre-
sentou os Estatutos, em sua nova redação . Rezava o seu artigo 1.°: Para fo-
mentar a agricultura, bem como elevar o nivel social, moral e científico da
Colônia Blumenau, constituiu-se nela uma sociedade com o nome de "Socie-
dade de Cultura". Nos artigos seguintes encontramos as disposições que visa-
vam conseguir as finalidades fixadas no artigo 1.0, bem como o modo de sua
administração, admissão de sócios, deveres e direitos dêstes e outras determi-
nações referentes à atividade da sociedade. Todos os moradores da Colônia,
do sexo masculino, que houvessem completado 15 anos, podiam ser sócios da
seciedade, porém só adquiriam o direito de voto aos 21 anos . Sócios menores
de 21 anos, pagavam uma mensalidade de oitenta réis (Cr.$ 0,08) e os sócios
maiores -o dôbro, ou seja, cento e sessenta réis (Cr.S 0,16) por mês . As rendas
da sociedade se destinavam, imicamente, para fins de utilidade, espeCialmente
para aquisição de sementes, máquinas agrícolas, livros, manutencão de uma
biblioteca, etc. . Tôda a aplicação de dinheiro da sociedade dependia de auto-
r ização prévia tomada em reunião dos sócios. Para despesa que não ultrapas-
sasse um mil réis (Cr.$ 1,00 ) a Diretoria não necessitava de autorização prévia .
Todo sócio era obrigado a entregar ao secretário, para o devido arquivamento ,
logo após a conferência ou relatório, que por êle fosse lido, o manuscrito do
mesmo . Após a aprovação dos Estatutos os sócios ainda trataram de vários
assuntos, tendo o Sr . KIeine feito uma interessante conferência sôbre a cultura
de tubérculos . seguindo-se ao mesmo um intenso debate. Em vista da impor-
tância do tema, foi adiada a continuação dos debates para a reunião seguinte .
Os senhores L . Scheeffer , Schroeder e Riemer, ofereceram -se para fazerem ex-
periências com a cultura do taiá . O Sr . Friedenreich prosseguiu na sua confe-
rência sôbre o tema: "O papel do agricultor", abordando, nesta, especialmente,
a criação de animais domésticos, notadamente o aperfeiçoamento de raças ca-
valares . A "Caixa de perguntas" continha a seguinte pergunta: "Não considera
a sociedade muito proveitoso incentivar a criação de ovelhas na Colônia, não só
para o consumo de lã, como também para aumentar o mercado de carne para
'0 consumo da colônia? Na r eunião de 17 de Janeiro de 1864, o Sr. Frieden-
reich relatou sôbre o conteúdo de amido nas diferentes plantas, constatando-se,
segundo as pesquisas do Sr . Dr. Eberhard, as seguintes porcentagens de amido:
Cará amarelo = 7 Y2%; mangarito amarelo = 9%; Taiá = 9,3% ; Cará mimoso
= 12 % ; Batatas doces - 12,6 %; Aipim = 17% % ; Araruta = 20 % . Sôbre a cul-
tura da araruta houve um longo debate, n o decorrer do qual se chegou à con-
clusão que, para produzir uma merca doria que se prestasse para a exportação,
isso somente poderia ser feito, com vantagem, por meio de produção em esta-
belE'cimento fabril .
Na reunião de 14 de fevereiro de 1864, foi debatida a questão da impor-
tação e criação de ovelhas na colônia, tendo sido elaborado um regulamento,
a r espeito, contendo, em seus 7 artigos, importantes diSPosições sôbre a distri-
buicão de reprodutor es, devendo o faltante , no custo dos mesmos, ser levan-
tado por coleta voluntária 8ntre os sócios . O sócio adquirente de reproduto-
res. t rnha o prazo de um ano para pagar , em duas prestações, o valor do ani-
mal, acrescido das despesas havidas com a importação . A matança de ovelhas
só seria permitida, si o criador pudesse provar que já havia criado um número
maior de ovelhas do que o que pretendia matar. Carneiros machos só poderiam
ser abatidos, si nenhum colono tivesse interêsse em um reprodutor e ficava
o proprietário obrigado a consulta r todos os demais sócios da sociedade a êste
respeito, antes da matança do carneiro . Todos os sócios se obrigavam a obser-
var o regulamento, ficando os contraventores sujeitos à apreensão e perda dos
animais que lhe foram cedidos pela sociedade, ficando obrigado a indenizar o
valor dos animais faltantes . - Em seguida o Sr. Friedenreich leu um artigo
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sôbre a importância da mudança de sementes na cultura das plantas ,tendo,
em face disto, o Sr . Riemer proposto que se solicitasse, ao Dr . Blumenau a
importação de sementes novas de milho, principalmente de qualidAdes de cau'les
curtos, da América do Norte e da Europa. Igual proposta foi feita com refe-
rência às batatas, mas que, neste caso, a importação deveria ser feita do Estado
do Rio Grande do Sul. - A oitava reunião, realizou-se no dia 13 de março de
1864, tendo sido debatido o assunto da cultura do algodão e solicitado ao Dl'.
Blumenau, se interessasse para a introdução de uma qualidade, já adaptada ao
clima do sul do país . Na nona reunião, realizada no dia 10 de abril de 1864,
o Sr. Riemer propôs fôsse sugerido ao Sr. Dr. Blumenau, de conseguir mudas
do chamado bambú da Espanha . DéCima reunião, no dia 8 de maio de 1884 .
Com referência à resolução da reunião anterior, sôbre a introdução do bambú
da Espanha, vários sócios fizeram ver que tal planta se tornaria uma praga e
pre.iudicaria os terrenos, mas não obstante esta advertência, foI mantida a reso-
lução anterior. A seguir foi distribuída semente de trigo proveniente da Mol-
dávia (Rumânia) . Uma proposta do Sr. Romer, referente à importação de se-
mentes de hortaliças da Alemanha, foi aceita e resolvido importar, anualmente,
cerca de vinte quilos de diferentes qualidades de hortaliças. Finalmente o Sr.
Friedenreich leu, ainda, aos presents um trcho de um livro denominado "Via-
gem às Indias Ocidentais". - Reunião do dia 12 de junho de 1864. - O Sr.
Friedenreich distribuiu certa quantidade de uma qualidade de milho de. grãos
miúdos, muito próprio para o trato de franguinhos. O Sr. Dr. Eberhard pros-
seguiu em sua conferência sôbre "A vida das plantas" e o Sr . Pastor Hesse fez
uma conferência sôbre "A História do Brasil". O Sr . Sametzky propôs fosse
organizada uma estatística sôbre a época da introdução, na Colônia, das dife-
rentes plantas produtivas e seus rendimentos. Foi incumbido o Sr . Pastor Hesse,
para coligir os respectivos dados. A uma observacão do Sr. Scheeffer, de que
as raizes do aipim e da mandioca apodreciam fàcilmente, quando plantadaS
as mudas em terrenos constante de pasto recém-arado, o Sr. Sametzky decla-
rou que em face do exuberante crescimento da grama e capim, não era sufi-
ciente arar o -pasto uma só vez, mas que se tornava necessário arar, o mesmo,
pelo menos três vêzes, até o completo apodrecimento da grama e sua transfor-
mação em adubo . - Na 12.'" reunião o Sr. Sametzky falou sôbre a planta deno-
minada "mata-cavalo", tendo, nesta oportunidade, o Sr . Friedenreich relatado
sôbre o estado interno de um cavalo submetido à autópsia e que morrera por
ter comido desta planta. O Sr . Friedenreich propôs que se desse uma gratifi-
cação de cinco mil reis (Cr.S 5,00 ) a quem trouxesse um exemplar desta planta,
ainda desconhecida dos colonos. Para procurar esta herva foi incumbido um
lJortuguês, chamado Constantino. Na reunião de 14 de agôsto de 1864, o Sr.
Friedenreich apresentou uma planta dizendo tratar-se do comentado "mata-
-cavalo". Resolveu-se então, para fazer experiências com a mesma, adquirir '.lm
cavalo para servir de cobaia e angariar a quantia necessária à compra do ca-
valo entre os proprietários dêstes animais. O Presidente leu o relatório do ano
findo, seguindo-se as conferências dos Srs. Dr . Eberhard, sôbre "A vida das
plantas" e a continuação da "História do Brasil" lida pelo Pastor Hesse. A 14.&
reunião, do dia 9 de outubro de 1864, tratou somente da rer..ovação, por eleição,
da Diretoria . - Na 15/' reunião, realizada no dia 8 de j anr ' ::J ele 1865, o Sr.
Bewiahn propôs que a sociedade intercedesse para um aurr ~. da criação de
ovelhas, propondo ainda que, pela sociedade, fôsse adquiri( " ".1:> máqUina de
fiar, para o melhor aproveitamento da lã e algodão produzin oc; n a colônia. A
seguir. o Sr. Friedenreich fêz uma interessante conferência sôbre a formação
da lua! (Certamente o Sr. Friedenreich não imaginava que cem anos depois,
talvez um descendente seu teria. a oportunidade de desembarcar na lua, para
verificar nessoalmente a formacão da mesma). - 16.& reunião, no dia 12 de
fevereiro -de 1865. Foi debatido ' o assunto da aquisição da máqUina de fiar e
aprovada a proposta, resolvendo-se encarregar o Sr. Dr . Blumenau de adquirir
tal máquina na Alemanha, por conta da Sociedade. - Após um intervalo de
dez meses, realizaram os sócios a 17.a reunião, no dia 10 de dezembro de 1865,
tendo nesta o Sr . Fri edenreich apelado para os presentes, que não deixassem
decair a sociedade, propondo ainda que se acrescentasse um parágrafo nos esta-
tutos, que determinasse Que os haveres da sociedade, de forma alguma, pudes-
sem ser aplicados para outros fins, a não ser os declarados nos estatutos, e,
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si por ventura a sociedade algum dia deixasse de existir, seus bens deveriam
ser guardados, pela diretoria, até que se formasse outra sociedade agrícola e
com os mesmos fins, à qual ditos bens seriam então entregues . A proposta fni
aceita. A seguir, procedeu-se à eleição da nova diretoria que ficou assim cons-
tituida: Presidente - H. Baucke . Vice-Presidente - Pastor Hesse. Secretário
- Th . Schroder. 18. a Reunião, no dia 11 de fevereiro de 1866. Após a admis-
são de vários sócios, foi eleita uma comissão composta dos senhores Pastor Hesse,
G. Labes e Th . Schroeder, para uma revisão dos estatutos . 19.a reunião. no
dia 11 de março de 1866. A comissão encarregada da revisão dos estatutf!s
apresentou o projeto da reforma dos mesmos, o qual foi discutido e aprovado,
devendo os estatutos dos mesmos serem remetidos ao Sr. Dr . Mueller, em Des-
têrro, (Florianópolis) para serem apresentados ao Sr . Presidente da ·Província ,
para a aprovação e para obtenção dos direito,> corporativos. Houve várias nOV:1-
cões nos estatutos, entre as quais uma, contida no § 3.°, que fixava a Assem-
bléia. Geral de fim de ano, para o dia 2 de Dezembro, na qual se comemoraria ,
também, logo a data natalícia do Imperador . - A mensalidade foi aumentar.a
para duzentos reis (Cr.$ 0,20) , e fixada uma jóia de um mil reis (Cr.S 1,00 ).
A aplicação das rendas ficou inalterada, isto é, para aquisição de sementes,
insUumentos e máqUinas agrícolas, animais para reprodução, livros e revistas
sôbre agricultura e para a formação de uma biblioteca popular. Despesas sune-
riores a cinco mil reis (Cr.S 5,00 ) careciam de autorizacão, aprovada em reunião
mensal. 20. a reunião, no dia 13 de maio- de 1866. O Presidente comunicou que
o Sr . Pastor Hesse renunciou ao seu cargo de Vice-Presidente, tendo a vaga
sido preenchida com a eleiçáo do Sr . Labes. O Presidente propôs que se orga-
nizasse uma exposição pecuária, ficando encarregado o Sr . Labes de elaborar
um projeto para a mesma, correndo as despesas da exposição, por conta d s
sociedade. Foi aceita ainda a proposta do Sr. V. Losecke, de pagar um m ~l
reis (Cr.S 1,00) de aluguel para a ocupação da sala, por reunião. Na 21. a reu-
nião, realizada no dia 10 de junho de 1866, o Sr. Labes apresentou o pro.ieto
para a exposição pecuária, o qual fei aceito com algumas modificaçõe8. A 22.a
reunião, do dia 8 de julho de 1866, teve come assunto principal a aquisicão de
"ários livros técnicos referentes à criacão de animais domésticos. Em 9 de se-
tembrc se discutiram vários assuntos -e na 24. a reunião, realizada no dia 14
de outubro de 1866, fo-i debatido o programa para a reunião do dia 2 de De-
zembro e a festa comemorativa do aniversário do Imperador D . Pedro II . De-
batendo assuntos agrícolas, o Sr . Schadrack propôs a importação de S'ement~s
de grama e capim dos Estados de La Plata, visto que aquelas qualidades eram
mais resistentes às geadas, tendo sido encarreg'ado o Sr. Friedenreich de tratar,
talvez, por intermédio do Sr . Presidente da Província, da. importação de tais
sementes. A 26. a reunião realizou-se no salão do farmacêutico Keiner, tendo
se procedido à eleição da nova diretoria, permanecendo nos cargos os Srs. Bauc-
ke e Labes, que foram reeleitos e, no lugar do Sr . Schroeder, que não quis
aceitar sua reeleição para ·0 ca.r go de secretário, foi eleito, para êste cargo,
o sr. Theodor Kleine, a quem também foi entregue o saldo em caixa, que im-
portava em Rs. 114$600 (ou seja Cr.S 114,60). O sr . Labes falou sôbre a criação
no bicho d= seda, fazendo ver as vantagens e o rendimento que esta criação
proporcionava . Expôs também crias de uma qualidade de bicho de sêda (Bom-
byx arrindia) cásulos, fios ,etc ., como resultado dos seus esforços na cultura
dêstes bicho-s. Após a reunião, os presentes dirigiram-se ao jardim do sr. Koi-
ner e aí, ao ar livre, debaixo das laranj eiras festejaram, com música e palts-
tras, o aniversário de Sua Majestade, o Imperador do Brasil .

ANIVERSARIOS DE CIDADES
Em maio, ocorrem: a 1.0 de 1876, Itajaí é elevado à categoria de
cidade; em 3, de 1877, Joinville também é elevado à cidade; em 7 de
1935, Hammonia, hoje Ibirama, é elevada à vila; em 13 de 1934 Ibirama
é elevado à Comarca; em 29 de 1922, 'l'imbó é elevado à categoria de
distrito de paz.
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NOSSAS CASAS DE SAúDE
o povo-de Presidente Getúlio, a sLmpática cidade oriunda da antiga
colôn.i a Hansa-Hammonia, não desmentiu o tradicional interêsse das
populações itajaienses pelo progresso, pelo engrandecimento das res-
pectivas comunas. E como fator dêsse engrandecimento deve-se con-
tar, por certo, e em primeira plana, com a solução dos problemé!-s rela-
cionados com a saúde. Onde quer que se levante um povoado, cuida-se
logo de erguer ao lado da igreja e da escola o hospital dotado dos
p~ssíveis rec~~sos da ciência.

É de Presieiente Getúlio o hospital <lue se vê na foto acima. Noso-


cômio moderno, com todos os re<lulsitos exigidos para estabelecimentos
dêsse gênero, levanta-se em aprazível colina, donde se descortina mag-
nífico pan.orama. Dispõe de amplas enfermarias, de aposentos parti-
culares, dirigido por enfermeiras dedicadas e por médicos competentes.
Sua construção obedece ao estilo original das edificações do Vale do
Itajaí, casando-se admiràvelmente com a paisagem circundante, rica
ainda de luxuriosa vegetação. É um bucólico recanto, cuja tranqüi-
lidade e beleza auxiliam a cura dos enfermos que a êle se recolhem.

EM percebia
1855, o comandante da polícia da província de Santa Catarina
40 Cr.S por mês de ordenado, mais 10 Cr.S de gratificação
e 40 centavos diários para forragem de sua montaria. O segundo
comandante ganhava 30 cruzeiros por mês, o primeiro sargento 25, o
s,e gundo 22, o furriel 20, os cabos 18, os cornetas 18 os soldados 17 cru-
zeiros mensais. Como se vê, um soldado ganhava pouco mais da me-
tade do que ganhava o segundo comandante.

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ESTANTE
*
DE "CADERNOS "
"MINISTROS DA MARINHA" - Notas Biográficas - 3. a Série
1865 - 1889 - Lucas A. Bo~teux. - Imprensa Naval - 1959.-
Com honrosa dedicatória de seu autor, recebemos um exemplar da bro-
chura em que o brilhante e douto mestre, almirante Lucas A. Boiteux,
enfeixou as biografias dos ilustres brasileiros que, entre 1865 e 1889,
ocuparam o cargo de ministro de Estado dos Negócios da Marinha.
São dados muito interessantes sôbre a vida e a atuação de vinte e
quatro estadistas e patriotas que, à freIlte daquela pasta, prestaram
assinalados serviços ao país.
O volume é o terceiro da série, que o almirante Boiteux vem publi-
cando, o pr i:t:neiro da qual se refere aos ministros da marhlha de 1808 a
1840 e o segundo, dêste último ano até 1865. O quarto e quinto, que s~
encontram em elaboração, referem-se aos titulares da pasta de 1889 a
1930 e dêste ano até a época atual.
O trabalho do ilustre mestre Boiteux, como tôda a sua já vasta e
erudita bibliografia. é vasado em estilo simples, leve, agradável, que se
lê com entusiasmo e aoroveitamento .
Agradecendo ao eminente conterrâneo e consagrado historiador a
gentileza da oferta, felicitámo-Io por mais êsse inestimável serviço pres-

*
t ado às letras e à história. da nossa pátria .
"ANUÁRIO DE ITAJAÍ PARA 1959" - Laércio Cunha. - O .iovem
e inteligente jornalista conterrâneo, Laércio CUJ;lpa e Silva, realizou ,
com a publicação que acaba de fazer, do "Anuário de Itajaí'" uma obra
realmente digna de registro e de louvores. Com magnífic'1 apresenta-
ção, desde o desenho da capa ao ótimo papel e à impressão cuidadosa e
limpa, o "Anuário" traz bUhante contribuição literária e histórica de
nomes conhecidos do mundo intelectual catarinense, como os de Lucas
Boiteux. Roberto de Fa.ria, Pe. Raulino Reitz, Juventino Linhares, Laú-
s imar Laus, Marcos Konder Reis, Abdon Fóes, Arnaldo Brandão, Simões
Bidigary, Lauro Ullel', Osny Du.arte Pereira, Antônio Nóbrega Fontes,
J. Ferreira da Silva, Eduardo Tavares, Víctos Márcio Konder e outros,
que versam assuntos ligados ao passad.o e ao preset;lte da simpática ci-
dade da fóz do grande Itajaí. Além da escolhida parte literária, o
"Anuário" traz, ainda, interessante cópia de informações sôbre a admi-
nistração pública municipal, com breves biografias dos homens que, até
agora, governaram a modelar comuna; sôbre o seu importante comércio
e as suas indústrias, ora em franco desenvolvimento, o seu pôrto que é,
hoje, o mais frequentado de Santa Catarina. Homenageando os senho-
res Prefeito Municipal, Carlos de Paula Seara, o senador Irineu Bornhau-
sen, Genésio de Mil'anda Lins e outras figuras desta,.cadas, que empres-
taram o seu apôio moral e material à concretizaç~o do utilíssimo em-
preendimento, o "Anuário" destaca a atuação dêsses e de outros elemen-
tos, que patrioticamente, vêm dando os seus melhores esforços em
pról do engrandecimento da terra de Lauro Mueller.
O trabalho de Laércio Cunha presta, assim, um excelente serviço,
não apenas à sua terra natal, mas a todo o Estado. Enviamos, daqui, ao
prezado conterrâneo os nossos parabéns. E que êle, no próxirn,o ano, nos
dê outro "Anuário" comemorativo do centenário d,a elevação. da Itajaí
a município.
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FIGURAS DO PRESENTE

Dr. ALFREDO HOESS


Se há um contemporâneo que mereça a estima, o respeito, a consideração
dos habitantes do Vale do Itajaí, êsse é o Dr. Alfredo Hoess que, durante muitos
anos, foi diretor do Hospital Santa Isabel, de Blumenau ,
Dotado de extraordinária. capacidade profissional, alia aos seus predica-
dos de médico competente, uma bondade e uma dedicação à tôda prova e que
lhe conquistaram verdadeira veneração de quantos já necessitaram de seus
cuidados.
Nasceu na Alemanha, em 22 de abril de 1890 . Terminados os estudos
primários, ingre:ssou na Faculdade de Medicina de Viena, tendo sido obrigado
a interromper os estudos em 1914, a fim de seguir para a frente de batalha,
como oficial. Mal chegado ao front, foi aprisionado pelos russos e levado para
o Ural. Sabendo-o estudante de medicina, prestes a colar grau, os inimigos
libertaram-no para que pudesse prestar serviços profissionais junto aos feridos.
Se, já na faculdade, Alfredo Hoess dera provas de perícia na arte operatória,
mostrou-se, nos hospitais de sangue, um cirurgião hábil, abnegado, verdadei-
ramente compenetrado da sua responsabilidade. Trabalhava, muitas vêzes, por
vinte e quatro horas consecutivas, sempre alegre e sem'pre disposto a atender
onde quer que fôsse precisa a sua presença . Quando, dominado pelo cansaço,

Na sua vivenda
de Massarandu-
ba, o Dr. Alfredo
Hoess reparte, com
as aves que lhe
enfeitam e ale-
gTam a linda chá-
cara, os seus mo-
mEntos de paz c
de tranqüilidade,
longe do bulício
da cidade.

necessitava de algum repouso, deitava-se em qualquer canto do hospital, em


que trabalhava, apenas os minutos necessários ao retemperamento momentâneo
de suas fôrças.
Não raro, teve que fazer longos percursos em trenós, sôbre o gêlo, atra-
vessando lugares perigosos, habitados por feras, às quais, mais de uma vez,
fôra obrigado a atirar cães vivos para escapar, êle próprio, com vida .
Nêsse trabalho sobrehumano, numa demonstração magnífica de solida-
riedade para com o próximo, mesmo quando inimigo, e de arraigada afeição
à missão que abraçara, o Dr . Hoess permaneceu, até 1918, quando, ao término
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da guerra, regressou à Viena, terminando o curso no ano seguinte. Clinicou
em Viena e, posteriormente, entrou para a Clínica Universitária de Linz,
também na Austria.
Convidado para dirigir o hospital de Massaranduba, distrito de Blume-
nau, o Dr. Hoess embarcou para o Brasil em 1921. Dedicou-se, com entusiasmo,
ao engrandecimento do nosocômio entregue à sua competência e aos seus cui-
dados e aos doentes da localidade, que nele encontraram mais que um mé-
dico: um pai e um amigo.
Em 1930, essa freira extraordinária que é . a Irmã Aloisianis, chamo:u-o
para o Hospital Santa Isabel, de Blumenau, onde, durante 21 anos, o dr. Hoess
desenvolveu o verdadeiro apostOladO, que para êle é o exercicio da medicina
e da cirurgia, arte em que se tornou mestre, merecedor ~e absoluta confiança.
Em 1951, depois de três décadas dedicadas exclusivamente ao bem-estar
do próximo, o dr. Hoess recolheu-se à sua vivenda de Massaranduba, onde,
entretanto, ainda não se nega a. atender àqueles que ali vão socorrer-se da sua
inteligência e singular capacidade cirúrgica.
Blumenau deve a êsse grande cirurgião e médico muita estima e muita
gratidão, mais que pela sua ciência e gra.nde competência profissional, pelo
seu grande e boníssimo coração que nunca soube negar, nem ao rico, nem ao
pobre, o auxílio de que carecesse. Honra seja a êsse grande amigo do Vale
do Itajaí!
Salomão MATTOS.

AAnatácio
LEI n.o 1024, de 18 de maio de 1883, autoriza o cidadão Manoel
Pereira e outros a erigir em uma capela sob a invocação
do Divino Espírito Santo e um cemitério, em terreno doado pelo
cidadão Marcelino José Bernardo, na freguesia de N.a s.a de Bomsu-
cesso de Camboriú, no lugar denominado "Garcia".

---*--
Adede5 de7Itajaí,
maio de 1917 foi aprovada a lei n .o 72, do Conselho Municipal
que decretou o ensino primário obrigatório de crianças
a 12 anos.

---*---
ARoquette
20 de maio de 1929 é inaugurada, em Blumenau, a estátua ao sábio
Fritz Mueller . Ao ato inaugural esteve presente o douto brasileiro
Pinto, que pronunciou erudita conferência, mais tarde en-
feixada em folheto, sob o título "Uma glória sem rumor".

--*--
NAfaleceu,
ALEMANHA, onde fôra em busca de alívio aos seus padecimentos,
a 30 de maio de 1898, o sr. Marcos Konder, comerciante
em Itajaí e pai do.s irmãos Marcons, Adolfo, Victor e Arno que de-
sempenharam destacada atuação na política do país.

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R'ELATÓRIOS DO DR. BLUMENAU
1856
(CONTINUAÇAO)
Sabendo êles logo manejar o ma- guns dêles, cujos adiantamentos
chado, que já não ferem os pró- ordinàriamente são consideráveis e
prios pés em vez de paus, sa.bendo deixando viúva e as vêzes quatro
roçar com a foice e capinar e en- filhinhos, o adia.ntamento não só
fim trabalhar e merecendo ou jul- fica perdido mas ainda se deve fa-
gando de merecer um jornal re- zer sacrifícios para sustentar a fa-
gular, pedem ou vão se embora ou mília para que não pereça de fo-
se estabelecem por própria conta me. Tôdas estas circunstâncias
sem se lembrarem do que por êles desfavoráveis, em parte inheren-
fiz e gastei. Considerando o atual tes a tais emprêsas e quase inse-
subido preço da comida, que é de paráveis dela, daqui em alguns
500, 580 e 600 réis e até foi de 640 anos se hão de melhorar, diminu-
réis diários, a repetição de tais sa- indo-se com a crescente popula-
crifícios pouco a pouco chega a al- ção e o engrandecimento da colô-
guma monta sem que eu, conve- nia, as despesas, perdas e sacrifí-
nientemente, me possa a êles sub- cios e aumentando-se a receita; no
trair. Enfim não houve e não há entretanto, porém, tornam penosa
na colônia prejuízo e infortúnio, e dificílima a minha situação, To-
não há desgraça em que os colonos davia não desanimo e cumprindo
ou a maior parte' deles não recorra meu dever com tôda a consciência
a mim, uns considerando-me como e circunspecção, que as minhas
o rico empreendedor de colônia, fracas faculdades intelectuais e
subvencionado ainda em cima pe- fôrças físicas permitem e não re-
lo Govêrno Imperial e quase res- cuando diante de sacrifício algum.
ponsável pelo bem estar e futuro, espero levar a êxito satisfatório a
trabalhem êles e se acomodem bem minha emprêsa colonial, Se, con-
ao país ou não, pela circunstância tudo, se pode dizer, com razão, de
de terem êles vindo atraídos pelos alguma arte que seja longa e a vida
meus escritos, entretanto que ou- breve, seguramente a de colonizar,
tros mais modestos se restrigem de em que se está experimenta.ndo
apelar aos meus sentimentos de desde séculos e até desde os tem-
compaixão e piedade, E, rara.<> vê- pos do antigos Gregos e Cartagi-
zes, neguei-me 'e até me posso ne- nenses, sem ter chegado a uma re-
gar, em contribuir com o meu qui- gra infalível e à tôda prova,
nhão, posto que nos últimos tem- Ao concluir êste meu relatório
pos, e depois de feitas muitas tris- chegavam a esta colônia por via do
tes experiências, a minha paciên- vapor hamburguês "Teutônia" e do
cia e piedade ter sido muitas vêzes R.io de Janeiro, uma família com-
e de maneira mais indigna abusa- posta de sete pessoas, e três irmãos
da, me restringi a êsse respeito, solteiros, em tudo dez pessoas. I-
Uma fonte de consideráveis per- naugurava-se pois esta nova linha
das existe ainda nos adiantamen- de vapores com favoráveis auspí-
tos das passagens que, forçosa- cios, não havendo dúvida que para
' mente, e em larga escala, devo fa- o futuro se pode tornar da mais
zer para haver o necessário núme- subida importância não só para
ro de colonos e trabalhadores, Com esta colônia mas para a coloniza-
o maior cuidado na escolha e no ção brasileira - alemã em geral,
enganjamento dêles, nem sempre Os gastos pequenos que os recém-
se fica com gente boa e fugindo, chegados deviam fazer na côrte
sobretudo os solteiros, com facili- e no Desterro, montavam porém à
dade no vasto país e sendo dificíli- considerável importância, sendo
mo apanhá-los, de novo, e obter contudo certo que por alguns ex-
justiça contra êles, resulta daí gra- pedientes do Govêrno Imperial po-
ve prejuízo, Os pais de família não dem ser muito diminuidos , Peço,
fogem e com tanta facilidade não pois, licença para apresentar, nu-
podem fugir, morrendo porém al- ma memória especial, as minhas

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idéias a êste respeito. - Não me Tenho, enfim, a pedir perdão pe-
posso, todavia, dispensar de men- la imperfeição e falta de coerência
cionar já um fato, que no Rio de do presente relatório e a grande
Janeiro se deu com os mesmos co- demora na sua expedição. A repe-
lonos e cuja repetição, no futuro, tida Chegada de novos colonos, as
é muito neeessário remover. Ei-Io: incessantes interrupções e os mui-
Trazendo destes colonos o pai de tos trabalhos que êles, e o princí-
família e dos dos solteiros, cada um pio do novo ano, me traziam e que
uma espingarda, ficaram retidas por causa da repetida doença do
°
na Alfândega da Côrte e não foi meu guarda-livros os quais, por
possível obtê-las até momento semanas, só pesavam nos meus
em que largava o vapor do Sul, que hombros, como enfim e sobretudo
conduziu os colonos ao Destêrro . os meus próprios e contínuos in-
Chegando êstes aqui e estabelecen- cômodos de saúde têm culpa desta
do-se, é impossível ou perigosíssi- imperfeição e demora. Infelizmen-
mo, sobretudo na atual estação, te, êstes meus padecimentos, reu-
deixá-los sem arma de fogo, que os máticos e gastro-hemorroidais,
deve acompanhar a cada passo que complicados com uma extrema ir-
fazem no mato e na roça. O duplo ritabilidade física, mas sobretudo,
assassinato, que os bugres comete- cançada pelos muitos cuidados e
ram no ano passado foi, talvez, já dificuldades, com que tenho a lu-
consequência de uma negligência a tar e dos inúmeros desgostos, liga-
êste respeito e desde então já não dos aos meus negócios, se agrava-
posso permitir que colono algum ram no último semestre de manei-
fique sem arma. Ora, como as dos ra tal que me privaram e ainda me
referidos colonos ficaram sem cul- privam de grande parte do meu
pa sua no Rio, vejo-lne constran- tempo e não me deixam sempre
gido, para não excitar queixas bem aquela liberdade de espírito e de
fundadas dêles, comprar armas e ação, que é necessária para desem-
emprestar-lhes até que cheguem penhar bem e a todo o respeito, a
as suas. Quem conhece a Alfânde- missão que me é confiada. O em-
ga da Côrte, sabe, além disso, pregado público, que se achar do-
quanto é difícil, dispendioso e ente, pede licença para tratar de
combinado com perda de tempo, sua saúde; na minha posição, po-
tirar, dela, miúdezas tais, como rém, não ouso dirigir ao Govêrno
espingardas sôltas e com quanta Imperial o pedido, que me seja per-
facilidade podem ser trocadas e mitido retirar-me por algum tempo
estragadas pela incúria dos em- para restabelecer a minha saúde
pregados subalternos. É pois mui- por meio de um tratamento hidro-
to a desejar que os colonos, que, pático, regular e único, que, há
como tais, se tem legitimado, logo sete anos e em idênticas circuns-
no ato do despacho das suas ba- tâncias, me trouxe alívio e confor-
gagens possam levar, com estas, tação . Restrinjo-me, portanto, a
também as suas armas de fogo ou expôr a situação em que me acho
que estas fiquem depositadas num para que não seja atribuído ao
lugar, onde aquêles as possam re- desleixo ou à inércia o que é con-
ceber, sem demora, antes de em-
barcarem para o seu ulterior des- sequência de conjunturas além da
tino, até quando o respectivo va- minha vontade e do meu poder.
por ou barco costeiro queira partir
de madrugada . Precisa nisso com- Colônia Blumenau, 10 de feverei-
binar as conveniências fiscais com ro de 1857.
as necessidades e cômodos dos co- ,".(;Í];!! .•:t'QL,-h"~:·"''Lkn .~'t,) . -;" iE;-;
lonos. Dr. H. Blum.e nau.

LICEU PROVINCIAL DE DEST1l:RRO foi criado pela lei n.o 417, de


6 de maio de 1856, assinada pelo presidente João José Coutinho. Dois
colonos blumenauenses foram convidados para ocupar cargos de pro-
fessores dêsse estabelecimento: o sábio Fritz Mueller, de matemáticas
e o Dr. Becker, professor de latim.
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ESCA&VIP

CHRiST. OEEKE

Christiana Deeke BARRETO


JANEIRO DE 1959 16 - Em homenagem, justa e
1 - Comemora o seu jubileu de merecida, é entregue aAJ Dr . Mar-
Prata de ordenação, o reverendo cilio João da Silva Medeiros, Meri-
Pastor Lauss, da comunidade evan- tíssimo Juiz de Direito da 1.a. Vara
gélica do bairro de Itoupava Sê- da nossa comarCa" o título de "Ci-
ca, Paróquia de Blumenau. Por dadão Blumenauense" pela Câmara
iniciativa dêste estimado sacerdo- Municipal. A saudaçáAJ, ao ilustre
te, foi construído o magnífico tem- homenageado, é feita pelo verea-
plo novo, no bairro da Velha, co- dor Sr. Wadislau Constansky, au-
mo também vem dirigindo as obras tor da preposição da instituição do
de construção da majestosa e mo- título. O primeiro secretário da
derna igreja de Itoupava Sêca . Mesa procede à leitura do decreto
2 - Assume o Sr. Dr. Arnaldo que outorgou a honrosa distinção
Xavier as funções de delegado re- ao Dr . Marcílio . A entrega do títu-
gional de Polícia, substituindo no lo é realizada pelo Presidente do
cargo o major Celino Camargo Pi- Legislativo Municipal, à senhora
res. de homenageado, que o passa às
3 - Publicam os jornais que, em mãos de seu espôso. Em eloquênte
consequência do novo salário míni- discurso, O Dr. Marcílio Medeiros
mo, mais de uma centena de ope- agradece, sensibilizado, a homena-
rários foram dispensados dos ser- gem. Após a cerimônia, o Sr. Pre-
viços e indenizados, visto algumas feito Municipal oferece um coque-
firmas da nossa cidade não supor- tél no Salão Nobre da Prefeitura .
tarem o pesado onus . 21 - Efetua-se a emancipação
'1 - No decorrer de alguns dias do Rio do Testo, até entáAJ distrito
atinge a mil o número dos desem~ do município de Blumenau, que
pregados . passa a denominar-se "Município
9 - Chega à nossa cidade o Sr . de Pomerode" . O ato é assistido
Ministro José Ferraz, do Tribunal por autoridades administrativas,
de ·C ontas de São Paulo, em com- estaduais e municipais, além do
pan}:lia do sr. Orlando Costa Mei- Senador, eleito por Santa Cata-
ra . O Sr . Prefeito Municipal ofe- rina a 3-X-58, Sr . Irineu Born-
rece um almoço, no Restaurante hausen . O ato é presidido pelo Dr.
Soclter, ao qual comparecem, além Marcilio Medeiros, juiz de Direito
dos homenageados, autoridades ci- da 1.a. Vara da nossa comarca, à
vis e representantes da imprensa. qual continua pertencendo o nó-
O ilustre visitante, que pretendia vel município .
fazer, a Blumenau, apenas uma 22 - Visitam Blumenau mais de
visita de passagem, indo hospedar- 300 far~acéuticos de todo o país,
se no Hotel Oasis, Rio do Testo, convenclOnais do XI Congresso
gostou da nossa cidade, passando o Nacional de Farmacéuticos, reali-
dia visitando o seu comércio e pon- zado nos últimos dias em Floria-
tos pitorescos. nópolis . O presidente de honra do
14 - Encontra-se, nesta cidade, mencionado Congresso, Dr. José
o Sr. Roberto "de ·Oliveira, presi- de Oliveira Dias, oferece aos con-
dente da COAP, reunindo-se sob a gressistas um banquete no Teatro
sua presidência a Comissão Muni- Carlos Gomes, do qual participam
cpal de Prêços, para reorganiza- as autoridades locais, civis, milita-
çao da COMAP . Na manhã do mes- res e eclesiásticas, além do Presi-
mo dia, S. S. assistiu, também, à dente da SOCiedade dos Amigos de
reunião do Sindicato de Fiacão e Blumenau, representantes da im-
Tecelagem, onde prestou esclareci- prensa etc . Os visitantes percor-
mentos sôbre as medidas a serem rem a cidade e realizam visitas ao
adotadas pela COMAP. seu parque industrial . Encontra-se

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nesta cidade, acompanhado de sua do Garcia, é oferecido ao governa-
Exma. Expôsa, o Dr. J . Gustavo dor da cidade uma festa íntima dos
Paiva, catedrático da Universidade moradores, ainda em regozij o à
de São Paulo, que veio para reali- efeméride natalícia.
zar uma confer~ncia, sob os auspí- 27 - É realizada uma reumao,
cios da Associação Odontológica de no C . N. América, para assentar
Blumenau. normas para a campanha pró-
23 - Data do 20. 0 aniversário do restauração da bibliotéca forense
23. 0 R. 1., aquartelado na nossa ci- Dr. Amadeu Luz, parcialmente
dade, é comemorada festivamente destruída no incêndio, ocorrido no
com a presença das autoridades prédio da Prefeitura Municipal,
civis e religiosas e representantes em novembro do ano passado. A
de imprensa e rádio, e de entida- reunião compareceu grande nú-
des de classe . Realizam-se atos mero de advogados e pessoas inte-
militares, tais como compromisso ressadas, e o plano em questão é
de recrutas, desfile da guarmçao elaborado a contento de todos.
perante a Bandeira, entrega de ta- 28 - Inaugura-se o posto de
cas e medalhas etc. A noite há abasteecimento do SAPS nesta ci-
uma festa íntima no Tabajara Tê- dade, realizando-se, assim, uma as-
nis Clube, da qual participa a ofi- piração da população local, de
cialidade e convidados especiais. longa data. Após poucos dias apa-
24 e 26 - A população da cidade recem na imprensa local sugestões
se comove com a dor e aflição que para tornar mais eficiente êste ser-
abala o casal Heinz e Renata Tal- viço de abastecimento, cujo arma-
lmann, com o desaparecimento de zém foi estabelecido à rua Itajaí,
seu filhinho de 3 anos de idade, propondo a instalação de um gran-
Gerd Harro, cujo corpo, dias após, de armazém central, ou pequenos
é encontrado no Itajaí-Açu, perto postos nos bairros, já que o atual
de Belchior. não pôde atender a todos os inte-
25 - Na praia "Atalaia", perto ressados.
de Itajaí, perece afogado o blume- Encerra a Câmara Municipal
nauense Sr. Max Edgar Scheeffer, (1954/1958) o seu período legisla-
functonário da matrjz da firma tivo. Nesta reunião é aprovado o
Samarco SI A. (Itajaí) após ter novo regimento interno daquela
dirigido o salvamento de três pes- casa.
soas, que se achavam em perigo, 29 - A firma "Cia. Schrader",
no mar agitado, às 9 horas da noi- concessionária da "Mercedes Benz",
te. lança o primeiro ônibus desta mar-
21 a 25 - Na data natalícia do ca, de fabricação brasileira, ofe-
Sr. Prefeito Municipal, os funcio- recendo, em regosijo ao aconteci-
nários lhe oferecem pequena recor- mento, uma churrascada no Taba-
dação e corbeille de flores, falan- jara Tênis Clube, às autoridades
do, em nome de todos, o oficial de locais e imprensa escrita e falada,
gabinete, Sr . Adriano Curi. No do- com exibição de filmes das fábri-
mingo seguinte (25-D, no bairro cas Mercedes Benz.

DATAdoênciadeEstado,
26 de maio de 1878 a fundação da Colônia Urussanga, no Sul
com a chegada ao vale do rio dêsse nome, na conflu-
do ri!) América, dos primeiros colonos italianos de Longa-
rone, província de Beluno e que vieram para o Brasil no navio fran-
cês "São Martinho". Os engenheiros Emílio Odebrecht e Teodoro Kleine,
da colônia Blumenau, foram eficientes auxiliares do fundador de Urus-.
sanga, o engenheiro Vieira Ferreira.
--*--
ANOEL Joaquim d'Almeida Coelho, major, prestou juramento e en-
M trou no exercício do cargo de secretário da Câmara municipal de
Destêrro, em 16 de maio de 1849. Aposentou-se nêsse pôsto em de-
zembro de 1864. Almeida Coelho escreveu a "Memória histórica" sôbre
a província de S. Catarina.
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NOTíCIAS
de

BRUSQUE E NOVA TRENTO isto é das Colônias


ITAJAí E PRíNCIPE DOM PEDRO
na Província de Santa Catarina
IMPÉRIO DO BRASIL
por
D. Arcângelo Ganarini

-*-
Trento
Estbl. Tip. G. B. Monauni, Edit.
1880
Traduzidas do Italiano
por
LUCAS ALEXANDRE BOITEUX

(CONTINUAÇAO)
*
CLIMA Ordinàriamente nos mêzes de de-
zembro, janeiro, fevereiro o ter-
Como todos sabem, o Brasil con- mômetro marca depois do meio
ta dois climas, o tropical e o tem- dia 24° a 25°, enquanto que de
perado, de acôrdo com a situação junho a agôsto pela manhã oscila
geográfica. O primeiro, quente e entre 8° e 13°.
húmido na estação das chuvas, É esta uma temperatura tão a-
tornando-se temperado e sêco fóra gradável e sêca, especialmente nos
desta. Tôdas as nascentes do gran- lugares bem arejados a tornar o
de Amazonas além de se encon- inverno destas colonias a estação
trarem debaixo do equador, gozam mais bela do ano.
de um clima delicado, amenizado
como é pelos ventos que constan- Algumas vêzes o termômetro, em
temente sopram do mar para terra consequência dos ventos que so-
por milhares de quilômetros . pram do sul ou de temporais, desce
Quem teve a felicidade de visitar quase a zero, mas é coisa passa-
aquelas paragens, afirma que a geira de algumas manhãs, e logo
variedade e vigor prodigiosos da após o clima volta ao acostumado
vegetação que ali se encontra, não estado. Nesses abaixamentos de
sofre comparação com outra qual- temperatura que costumam acon-
quer região . Nos paízes da zona tecer dos meiados de maio a.os de
temperada o clima é suave, e quan- setembro, ocorrem belas geadas
to mais se caminha para o sul mais que, prolongadas e fortes acarre-
se acentua o inverno . Deve-se no- tam danos consideráveis às pasta-
tar porém que em igual grau de gens, ao café, à mandioca e às
latitude nêste hemisfério corres- plantações de bananeiras. A pri-
ponde menor grau de calor do que mavera e o outono são tempera-
no hemisfério setentrional. dos com alguns dias caniculares.
A temperatura média anual de O calor do estio é atenuado pelas
Nova Trento é de 17 ° Reaumur, brisas marinhas, que de acôrdo
enquanto a máxima observada nos com a exposição dos lugares vêm
três últimos anos alcança 29 ° e a trazendo sua frescura . As noites,
mínima a meio grau acima do ze- mesmo nos dias dos maiores calo-
ro. res, são frescas, como as que se
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gozam em os nossos Alpes em ju- ríola que ataca de preferência os
lho e agôsto . brasileiros e negros, como se obser-
Seria inacreditável, se os fatos vou neste ano, ficando quasi todos
não o demonstrassem, que na pro- os nossos colonos imunes. A febre
víncia de Santa Catarina em so- amarela até agora só se limita aos
mente 27.° de latitude meridional, portos, deixando em paz os povoa-
por isso mais vizinha do equador dos do interior .
do que o Egito, se goze de um cli-
ma tão suave de apresentar so- CHUVAS
mente uma média de 17.° quando
o Egito o é de 24.° ; e enquanto no As chuvas começam em Novem-
verão se possa ter quando muito bro e vão até fins de Maio, varian-
uma média de 20.°, encontro para do um pouco êstes limites segundo
o Egito 25.°. as localidades . Chove muito do rio
De qualquer maneira, levando-se Amazonas até o Parnahyba, pouco
em conta as bruscas mudanças, pa- dêste ao rio S. Francisco, e mais
ra o que se aconselha vestir sem- dêste até ao sul. A imensa bacia
pre em tôdas as estações uma fla- dêsse rio, que compreende as re-
nela de lã muito justa, mesmo as- giões chamadas pelos habitantes
sim a oscilação termométrica anual sertão, está sujeita a duas esta-
não ultrapassa 26.°, enquanto en- ções: uma das chuvas de Janeiro
tre nós é mais de 30.° cada ano ; a Maio, e a outra de sêca pelo res-
pelo que a priori já se deva con- to do ano . Em Junho cessa intei-
cluir da salubridade dêste clima. ramente a vegetação e as semen-
Um clima tão temperado, afas- tes amadurecem, e em Julho ama-
tado dos grandes frios e dos gran- r elam as fôlhas e começam a cair .
des calores, é assaz propício à saú- Em Agôsto milhares de quilômetros
de, e médicos que conhecem o Bra- de superfície apresentam o aspeto
sil não encontram óbices para cer- do inverno europeu, com exceção
tas moléstias do peito em aconse- da neve . As gramíneas e outras
lhar aos seus clientes uma estadia ervas rasteiras, que crescem com
mais ou menos longa nestas para- prodigiosa abundância, secam e
gens . Os missionários, que mais servem como feno de pasto a nu-
que qualquer outra classe de pes- merosas manadas de animais. É
sôas conhecem os climas das di- esta a estação mais favorável à
versas r egiões do mundo, quando preparação do café que se cultiva
alguns dos seus sofre do peito, po- nos môrros . Faz-se a colheita, es-
dendo, enviam-no ao Brasil, e, se tende-se sôbre o árido solo, que lhe
é a tempo, sempre com bom resul- absorve a umidade, enquanto o
tado . vento sêco concorre a acelerar ês-
Com exceção das margens de al- te processo, não lhe deixando tem-
guns rios e de lugares baixos e pa- po para fermentar.
ludosos, onde em algumas esta- Entre Dezembro e Janeiro come-
ções do ano aparecem febres in- çam as chuvas, e os rios até então
termitentes, o clima desta provín- quasi secos se entumecem ràpida-
cia é muito saudável, e em vão se mente e despertando a vida em a
procurem certas moléstias agudas, natureza morta . Em poucos dias
que aparecem em nosso país no in- aqueles áridos rincões se transfor-
verno . As pessôas idosas especial- mam e se reanimam, e como · por
mente, sujeitas a reumatismos, e a encanto se recobrem de verdura, de
marasmos, aqui parecem rejuve- flôres e de plantas alimentícias,
nescer . A única coisa de que se que as solertes mãos humanas aca-
lamentam é, no geral, de não te- bam de plantar .
rem mais as fôrças que tinham Pobres daquelas regiões que se
em sua terra; e é natural, que o lhes falta a propícia chuva; um
clima quente enfraqueça, enquan- ano inteiro de sol abrazador a cal-
to o inverno enrija . As moléstias cina, séca os rios, tosta as selvas,
mais comuns n estas colônias são as past agens, as plantações; fogem
febres, o chamado mal-da-terra, os pássaros, os animais; o gado
anemia, chagas nos membros in- pouco produz; nasce a carestia,
feriores, supuração da cutis mais e com esta, as epidemias nas po-
ou menos geral, alguma febre ner- pulações, que começam a emigrar
vosa . Algumas vêzes aparece a va- para o litoral .
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Tivemos um terrível exemplo nos Aqui é raro haver chuvas conti-
três anos passados, em que falta- nuadas, sem interrupção, como en-
ram as chuvas. Províncias inteiras tre nós em algumas estações do
foram quasi totalmente abandona- ano em que durante semanas in-
das, e apesar dos muitos milhões teiras mantêm-se diluviais . ~ ra-
dispendidos peló govêrno e dos a.u- ro haver dois dias de chuvas se-
xílios das beneficências privadas, guidas, e mesmo na estação nim-
aquelas populações fugitivas dian- bosa dá-se sempre alguma estiada.
te do flagelo foram dizimadas par-
te pela fome e parte pelas molés- Os rios entumecem com facilida-
tias de caráter maligno e conta- de, mas logo se escôam não exis-
gioso. São pungentes as situações tindo em nossas montanhas neves
daquelas caravanas de gente que para alimentá-los . O barômetro
acabrunhada e macilenta abando- assinala com regularidade as mu-
na sua pátria, deixando as estra- danças de tempo, e especialmente
das semeadas de mortos e mori- o vento com as suas repentinas
bundos . Parece incrivel que em baixas às vêzes de 18 a 20m/m.
tanta apertura se tenha desviado
para as eleições o dinheiro do go- No inverno se mantém usalmen-
vêrno destinado aos famintos . ~ te mais alto do que no estio, por
esta uma mancha que os conser- causa dos vapores que se formam
vadores lançam sôbre alguns em- em mínima quantidade sob um cli-
pregados do govêrno liebral, e da ma mais fresco . Para quem tem
qual até agora não se penitencia- um pouco de prática, com um ba-
ram diante da consciência dú povo. rômetro aneróide perfeito, pode
arriscar-se algumas vêzes desem-
A mandioca, que se pagava de 7 penhar o papel de profeta com êxi-
a 9 francos ao saco, na Bahia era to satisfatório . Especialmente pa-
vendida a 20 e no interior quasi ra quem tem que fazer uma via-
a 40 francos . gem é sempre bom consultá-lo, a
Neste ano apareceram as chuvas fim de evitar quanto possível ba-
e os sobreviventes estão voltando nhos involuntários .
às suas atividades, as quais come-
çam a reanimar-se . Antes de passar a falar alguma
Amédia das chuvas que caem coisa sôbre os produtos produzidos
nas costas do Brasil é de dois me- pelos terrenos nestas colônias é
tros, alcançando em alguns lugares mesmo necessário lançar um rápi-
perto do equador, como em Per- do olhar às riquezas naturais dêste
nambuco, até 2,600 ms . país. Na nossa terra, em que no
estio e outono bandos de caçado-
Nestas colônias as chuvas se- res e de alpinistas e amadores de
guem geralmente a estação geral,
abundando de Dezembro a Junho, história natural são frequentemen-
e escasseando no resto do ano. No te encontrados, poder-se-ia fran-
ano passado de meiados de Maio e zir o nariz e olhar com desprêzo
todo Setembro tivemos só 78m/m para um país que nada dispõe pa -
de chuvas, enquanto no resto do
ano superou um metro . Comumen- ra satisfazer seu inocente deleite .
te a chuva supera anualmente 1,5 No entanto, auxiliado por um livro
metros . No verão, durante sema- (O Brasil na Exposição de Phila-
nas inteiras, pela tarde, desabam delphia), irei referindo resumida-
aguaceiros acompanhados de re- mente o que existe de mais co-
, lâmpagos e trovões fragorosos a-
companhados algumas vêzes de nhecido nestas colônias, evitando
granizo que se o suporta bem o as fieiras de nomes técnicos, que
milho, destroça e esmaga as plan- embora sejam do agrado dos ver-
tações de mandioca, aipim e taba- sados nesse ramo de estudos são
co, e causa estragos às matas de
onde parte um estridor, um atri- sempre enfadonhos àqueles que
tar, um crepitar de frondes e de não entendam do riscado .
ramos, que se torcem e lascam com
a fúria da ventania . (Continua)
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~ A~:t:,:oÇã:v~11;~sp'~~~b~;d~~e '~e ' ~1]~ ~R= D~O':LVA. ~
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~: Tôda correspondência deverá ser dirIgida a ~:~
~ Caixa Postal, 425 ~
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