Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Do ano 2000 para cá, quando teve início uma vasta reengenharia da P&D na
GlaxoSmithKline (GSK), a empresa vem tentando fazer isso tudo. Por ora, os
resultados sugerem que está no caminho certo. Quando a iniciativa foi
lançada, apenas dois produtos do laboratório estavam em fase final de
desenvolvimento — um dos menores números do setor —, apesar de uma década
de elevados gastos na P&D. Hoje, são 34 medicamentos e vacinas — o maior
número do setor, segundo a firma de análise de investimentos Cowen. Um
estudo da respeitada agência de benchmarking de pesquisa farmacêutica CMR
International comparou oito dos maiores laboratórios do mundo em quesitos
cruciais da P&D (quantidade e fluxo de produtos no chamado pipeline, por
exemplo) e mostrou que a produtividade da GSK é, hoje, duas ou três vezes
maior do que a média das concorrentes.
Algumas das medidas singulares tomadas nos últimos oito anos já provaram
seu valor. A mais importante foi a divisão da gigantesca organização de
P&D em pequenos grupos transdisciplinares, cada qual voltado a uma família
de enfermidades correlatas. Outras iniciativas potencialmente
transformadoras ainda estão em andamento. Destas, a mais notável é a
tentativa de separar o processo de investigação de terapias
revolucionárias do processo usado para desenvolver o melhor medicamento
numa classe de fármacos já descoberta.
O xis do problema
O modelo de negócios dos grandes laboratórios não tem segredos. A operação
envolve descobrir, desenvolver, lançar e proteger por meio de patentes um
novo produto. No começo o produto se beneficia do preço monopolista — no
mínimo, oligopolista. Em geral, depois de dez ou 12 anos vence a patente.
É quando surgem no mercado genéricos mais baratos, levando a receita de um
campeão de vendas a evaporar em questão de semanas. A P&D precisa estar
continuamente substituindo produtos velhos por medicamentos mais novos
para impedir que a base da receita encolha. O problema, obviamente, é que
essa reposição está cada vez mais difícil.
A queda na produtividade da P&D da indústria farmacêutica — medida pelo
custo médio de P&D de cada novo medicamento aprovado, o que inclui o
montante gasto com os que não chegam às farmácias — foi plenamente
documentada. Embora o investimento total do setor em P&D tenha disparado
de US$ 2 bilhões em 1980 para US$ 43 bilhões em 2006, o total de fármacos
aprovados pela autoridade sanitária nos Estados Unidos (a FDA) em 1980 e
em 2006 foi praticamente o mesmo.
Reformular a organização
A maioria dos laboratórios farmacêuticos mantém até hoje uma estrutura
organizacional que funcionava bem na década de 1960: uma pirâmide com
silos funcionais (química, farmacologia, desenvolvimento clínico e outros)
que se uniam lá no alto. Só que na década de 1960 um grande laboratório
empregava uns mil cientistas, no máximo; a pirâmide tinha poucos níveis de
gerência; havia menos projetos; os cientistas trabalhavam juntos num único
local; e a alocação de recursos era relativamente simples. Mas, a caminho
do novo século, algo ocorreu. O número de funcionários foi multiplicado
por 20. A pirâmide virou um monstro, o que abalou tudo. A comunicação
entre silos deixou de ser natural. Foram criadas equipes matriciais
excessivamente complexas para tentar superar a ridigez. O processo
decisório perdeu velocidade. E gerentes de escalão médio e alto perderam o
domínio de uma ciência em rápida evolução.
Cientes de que todo projeto precisa de um líder forte, embarcamos com tudo
num programa para formar um quadro de indivíduos excepcionalmente
talentosos. É relativamente fácil identificar um líder desses. É um
indivíduo que ama a ciência, mostra ardor em seu desejo de vencer, tem
resiliência para seguir em frente mesmo depois de reveses e se importa
realmente com os integrantes da equipe. Inspirador, esse descobridor de
produtos em geral representa menos de 1% de toda a população da P&D,
embora seu valor seja exponencialmente maior. É preciso identificar,
proteger e apoiar gente assim.
Ser a pioneira de uma classe significa se aventurar por onde ninguém ainda
esteve. Para entender de verdade a patologia fundamental de uma doença a
empresa precisa de recursos, concentração e o acúmulo de conhecimento e
competência institucionais por um período de tempo que pode chegar a 25
anos. Do ponto de vista econômico, esse é, de longe, o caminho mais
arriscado, pois envolve o trabalho pioneiro na biologia (para descoberta
de um novo alvo), na química (para a localização do composto certo) e no
desenvolvimento e aprovação do fármaco (para tornar o produto seguro e
eficaz e para que seu uso seja aprovado numa área na qual reguladores não
possuem diretrizes ou normas estabelecidas). Apesar do considerável
esforço, as grandes farmacêuticas tiveram êxito limitado nessa arena, a de
inauguração de uma categoria. Quando conseguimos, contudo, nossa reputação
junto a pagadores, pacientes e públicos externos é acentuada. Ao fim e ao
cabo, curar doenças é nossa razão de ser. Sem a descoberta de fármacos que
inaugurem toda uma classe, a indústria farmacêutica perderia sua alma.
Assim que a validade de um alvo para atacar uma doença é determinada, tem
início a corrida para descobrir e desenvolver a melhor molécula da
categoria para atacá-lo. Aqui, a agilidade é essencial, a química é vital
é a biologia experimental é irrelevante. O objetivo é otimizar a molécula
— criar uma ratoeira melhor. O Lipitor, da Pfizer — há anos considerado a
melhor estatina do mercado — foi a primeira estatina a ser descoberta. Já
que a busca do melhor fármaco da categoria não significa desbravar um novo
terreno na biologia ou no desenvolvimento e aprovação do fármaco, a
empreitada é bem menos arriscada do que um programa de descoberta de uma
nova classe de remédios. Já o retorno financeiro pode ser equiparável —
ou, às vezes, até maior.
Por mais difícil que venha a ser essa separação, o esforço valerá a pena.
Conforme vimos nos centros de excelência nos quais a GSK já tomou essa
medida, a execução bem-sucedida desse novo modelo trará um aumento
considerável na produtividade da P&D.
Ao longo dos anos, medicamentos novos com potencial para combater males
comuns como diabetes ou colesterol elevado foram testados em populações de
pacientes grandes e diversificadas em testes clínicos. Se um teste desses
produzisse os resultados esperados e o órgão regulador aprovasse o
medicamento, o resultado era um “blockbuster instantâneo”. É comum, no
entanto, que um medicamento cause efeitos colaterais num pequeno segmento
da população visada. Anos atrás, esses efeitos muitas vezes só eram
detectados depois que o fármaco era lançado no mercado e usado por milhões
de pacientes. Hoje, a FDA exige que os laboratórios tentem identificar
efeitos colaterais raros ou inesperados antes da estréia do produto — o
que levou a um recorde no total de rejeições iniciais e, em virtude disso,
à demora no lançamento de novos medicamentos.
Uma arquitetura aberta para projetos de P&D tem muitas vantagens. Produz
uma competição entre equipes científicas internas e externas e entre
distintas abordagens a uma solução terapêutica comum. Torna a organização
mais flexível, permitindo o cancelamento de programas sem a necessidade de
uma penosa reestruturação. Para operar dessa maneira, no entanto, a
empresa terá de fortalecer e ampliar sua capacidade de avaliar
oportunidades, negociar acordos e promover apostas científicas externas em
grande escala — em outras palavras, terá de agir como um capitalista de
risco com conhecimento profundo da ciência em jogo.
___________________________
Jean-Pierre Garnier ( jean-pierre.garnier@gsk.comEste endereço de e-mail
está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar
activado para poder visualizar o endereço de email ) ocupou até
recentemente a presidência da GlaxoSmithKline.