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DIREITO PROCESSUAL PENAL – 2° Bim.

26.04.12

PROVA

O processo nada mais é que um instrumento de reconstrução de um fato


supostamente delituoso. Isso porque a conduta do agente percorre os elementos de um
tipo penal e ele fica sujeito a uma sanção, sendo necessário averiguar se ele é ou não o
responsável. O processo servirá, então, para que o juiz reconstrua o fato supostamente
delituoso para que, terminada a instrução, possa dizer se o sujeito é ou não culpado.
Nessa visão do processo como reconstrução do fato supostamente delituoso, a
prova é o elemento capaz de atestar a veracidade de uma das versões trazidas ao
processo.
Prova não se confunde com meio de prova nem com objeto de prova.
Meio de prova é o meio utilizado para a produção de determinada prova. A
interceptação das comunicações telefônicas é um meio de prova. Nesse caso, a prova
será constituída pelas conversas gravadas. Outro exemplo de meio de prova é a perícia,
sendo o laudo pericial a prova.
Objeto de prova é a parte da versão do fato que se pretende provar com a
produção de determinada prova.

Momentos da Prova

O primeiro momento é o da proposição, ainda que num sistema inquisitório o


juiz possa produzir provas de ofício. Na denúncia, a acusação arrola as testemunhas que
serão ouvidas e a defesa faz o mesmo na resposta à acusação.
Em seguida, tem-se a admissão, em que o juiz irá verificar a necessidade, bem
como a licitude da produção da prova. A análise quanto à necessidade ocorre por se
tratar de sistema inquisitório. Num sistema acusatório, o juiz teria de admitir todas as
provas, salvo se ilícitas.
A produção é o terceiro momento. Na prova oral, o momento de produção se dá
com a oitiva da testemunha; nas interceptações telefônicas, a produção se dá no
momento em que as gravações são juntadas aos autos; na prova pericial, a produção se
dá com a juntada do laudo aos autos.
No momento de avaliação, o juiz irá valorar as provas, o que, na verdade, já vai
acontecendo quando da produção dessas provas. O problema é que muitas vezes o laudo
é feito de maneira precária. O método utilizado pelos psicólogos, por exemplo, é o
método intuitivo, sendo considerado psicopata o sujeito que não demonstra
sensibilidade com a narração dos fatos, o que está errado, pois essas pessoas estão
normalmente sedadas. O discurso científico, de todo modo, é o que vigora, de modo que
o juiz decide com base nos laudos, ainda que realizados de forma precária. No fundo,
quem decide nesses casos é o psicólogo/médico. A despeito da livre valoração do juiz,
prevalece o laudo médico.

Sistemas de Avaliação de Prova

O primeiro sistema que se tem na história é o sistema da fase mística, religiosa,


qual seja, o sistema dos juízos de deus, no qual a valoração da prova é feita de acordo
com o tamanho do milagre. O valor da prova é dado pela intervenção divina. Lógico
que esse sistema em tese não existe no Brasil, mas na prática às vezes se verifica.
Tem-se, em seguida, a fase da tarifa legal ou prova tarifada. Nesse sistema, o
valor da prova está preestabelecido na lei, cabendo ao juiz apenas fazer a operação
matemática. Isso acontecia na inquisição, quando a prova maior era a confissão. O
julgador, na verdade, se eximia da valoração da prova, fazendo meramente uma
operação matemática. Esse sistema traz falsa sensação de segurança, pois se diz que o
juiz não faz juízo valorativo acerca das provas, mas era comum que manipulasse a
produção de provas. Também na França, no velho regime, havia um sistema tarifário de
provas, com a mesma realidade de manipulação, sempre a favor dos nobres.
No Brasil, verificam-se resquícios desse sistema tarifário, a exemplo do grande
valor dado à prova pericial que, por ter caráter científico, prevalece sobre as demais,
com valoração prévia, ainda que informalmente. Outro resquícios do sistema
inquisitório é a estrutura das atenuantes, pois o sistema inquisitório preferia condenar
atenuadamente a absolver.
As partes podem arguir, antes do depoimento da testemunha, algum defeito em
relação à testemunha, como o fato de ser parente do acusado. Há, curiosamente, a
chamada testemunha indigna de fé. Antes, prostitutas, desempregados eram indignos de
fé, hoje não mais. De regra, indigno de fé é a testemunha presa. Trata-se também de
valoração prévia, resquícios do sistema tarifário de provas, pois o depoimento do
indigno de fé tem menos valor que de outras testemunhas.
Outro sistema é o da convicção íntima, em que o juiz valora livremente as
provas e não tem o dever de fundamentar essa valoração. O juiz simplesmente profere a
decisão e não precisa fundamentar. Isso acontece no tribunal do júri, pois os jurados
valoram as provas e não são obrigados a argumentar. Isso torna o júri uma instituição
não confiável, pois os jurados decidem de qualquer jeito e não podemos contestar a
decisão. Na Espanha, o júri é obrigado a fundamentar a decisão, o que permite um
recurso mais adequado.
Há, ainda, o sistema do livre convencimento ou da convicção racional. Nesse
sistema, o juiz valora livremente as provas, mas se questiona até que ponto o juiz não é
condicionado. A ideia é que o juiz não estaria condicionado à lei, mas estaria obrigado à
fundamentar suas decisões, conforme art. 93, IX/CF. Certamente que o juiz não é
obrigado a abordar todos os pontos; ele pinça as provas nas quais se baseou.
No nosso sistema há, portanto, o sistema do livre convencimento, da conviccção
íntima e, informalmente, o sistema tarifário.

Princípios relativos à prova

1. Princípio da Verdade Material.

O juiz, no processo penal, deve buscar a verdade real dos fatos, comprovar o que
realmente aconteceu. Essa ideia é bastante ultrapassada e se sabe que não é possível. O
juiz não tem como saber como as coisas aconteceram. O problema é que, partindo da
premissa de que o juiz vai decidir com base numa versão do fato, não chegando à
verdade material, não seria possível um sistema inquisitório, eis que seria
constantemente questionado. Não há motivo para sustentar um sistema inquisitório,
dando todas as possibilidades ao juiz, se ele não vai chegar à verdade material.
O que se diz, então, é que o juiz deve sempre buscar, ainda que nunca alcance, a
verdade material. Deve decidir com base no maior número de provas possível, o que
não acontece na prática. O princípio da verdade material, portanto, serve para legitimar
o sistema inquisitório. Coloca-se uma meta inalcançável para o juiz que, na dúvida,
sabendo que não pode analisar todas as implicações do fato, condena.

2. Princípio do ônus da prova.

Serve para determinar a quem incumbe provar a versão dos fatos, sobre quem
recai a carga de provar determinada versão dos fatos. De acordo com o art. 156/CPP,
essa carga incumbe à parte que trouxer a versão dos fatos ao processo. Em tese, assim
que se distribui o ônus da prova, mas o juiz pode produzir provas de ofício. Diante
disso, não faz sentido falar em ônus: mesmo que a acusação alegue fato e não prove,
não surge para ela o ônus de sentença desfavorável, porque o juiz poderá produzir prova
em determinado sentido.
Numa interpretação constitucional, o art. 156 deve ser entendido da seguinte
forma: O MP acusa e deve apresentar provas para comprovar suas alegações. Somente
depois de comprovada a acusação é que surge o ônus do acusado de comprovar a sua
versão dos fatos.
O problema está na jurisprudência. Em caso de prisão em flagrante, para o que
basta que a pessoa seja encontrada com os instrumentos ou produtos do crime, de
acordo com a jurisprudência, o MP não tem ônus de produzir prova. Nesse caso, o ônus
da prova seria afastado do MP e recairia todo sobre o acusado.
Outro exemplo: empresa apresenta documento falso para processo de licitação
(normalmente certidão negativa). Imediatamente, pressupõe-se que o sócio da empresa
tinha condições de saber que a certidão era falsa. Recairá sobre ele o ônus de comprovar
que não tinha conhecimento das ações do departamento responsável pelas licitações, em
clara inversão do ônus da prova. Os crimes societários em geral são assim.

3. Princípio da inadmissibilidade da prova ilícita.

O art. 5°, LVI/CF veda absolutamente a produção da prova ilícita. Os autores


fazem, a partir de Pietro Nevoloni, a seguinte classificação:

a) Prova ilícita – produzida mediante a violação de regra de direito material. Ex.:


interceptação de ligações telefônicas sem autorização judicial, confissão sob tortura,
condutas que são crimes, bem como apreender documentos mediante violação de
domicílio.

b) Prova ilegítima – produzida mediante a violação de regra de direito


processual. Ex.: testemunha ouvida em desconformidade com a ordem estabelecida no
Código para a prestação do depoimento.

A não admissão da prova ilegítima é questão já superada. A prova ilegítima,


produzida mediante a violação de regra processual, é INVÁLIDA, será declarada nula.
A discussão está no que se refere à prova ilícita. A primeira teoria defende a
admissão da prova ilícita, estando Franco Cordeiro entre seus adeptos. Diz-se que a
regra processual penal é composta de preceito e sanção, de modo que se o ato
processual for praticado em desconformidade com o tipo, fica sujeito à sanção da
invalidade. A regra penal também é composta de preceito e sanção. Se é feita a
interceptação telefônica sem autorização judicial, são preenchidos os elementos do tipo
penal e serão submetidos à sanção. Com isso, sustenta-se que a sanção cabível é a
sanção penal e não seria lógico que ficasse sujeito também à sanção processual. O
grande problema disso é que o conceito de ilicitude não pode ser dividido entre os
vários ramos do direito. Se a prova é ilícita, o é no sentido do ordenamento como um
todo. A teoria da admissibilidade da prova ilícita divide a ilicitude, o que está errado. A
prova ilícita não pode ser admitida em razão da unidade da ilicitude, que é conceito
geral. Essa é a primeira teoria que surge como crítica à teoria da admissibilidade da
prova ilícita.
Além dessa teoria que defende a inadmissibilidade da prova ilícita em razão da
unidade do ordenamento, há a teoria que se baseia na absoluta vedação pelo texto
constitucional, caso do Brasil. A professora é adepta dessa teoria, a vedação de
admissão de prova ilícita é absoluta, não cabendo ponderação, pois se trata de regra, não
de princípio.
Uma teoria que vem ganhando força é a teoria que admite prova ilícita
verificando o princípio da proporcionalidade. Na verdade, é a teoria que abre
possibilidade de manipulação. Diz que é possível relativizar a vedação quando a prova
ilícita é a favor do acusado. Não faz sentido, porque, se for aceito a favor do acusado,
também será aceito a favor da acusação.

Uma distinção importante é que a prova ilegítima é nula, mas a prova ilícita não
é nula. Não será causa de nulidade, como se vê nos manuais. A prova ilícita deverá ser
desentranhada, enquanto a prova ilegítima não necessariamente precisa ser
desentranhada.

09.05.12

Espécies de prova ilícita

a) Confissão mediante tortura;

b) Produção de prova documental mediante violação de domicílio

c) Prova obtida mediante violação de correspondência. As correspondências


são invioláveis e a Constituição não admite regulamentação de nenhuma exceção. No
entanto, há duas situações bastante delicadas. O Código de Processo Penal admite, no
art. 240, que se utilize carta obtida em busca e apreensão. No entanto, em razão da
inviolabilidade absoluta da correspondência, não seria possível, mesmo que a carta
esteja aberta no local onde foi realizada a busca. Outra polêmica diz respeito à
correspondência do preso. A jurisprudência tem entendido que, em caso de suspeita de
crime, é possível quebrar o sigilo de correspondência. O problema é que essa “suspeita
de crime” é muito vago.
Ainda, há bastante dúvida quanto aos emails. A jurisprudência é oscilante, mas a
professora entende que o tratamento deve ser o mesmo dado a cartas, tratando-se
também de correspondência.

d) Provas obtidas mediante intercepção telefônica. Comunicação telefônica é


transmissão, emissão, receptação e decodificação de sinais linguísticos, caracteres
escritos, imagens, sons, símbolos de qualquer natureza, veiculados pelo telefone, móvel
ou fixo. Desse modo, torpedo também é comunicação telefônica.
Intercepção ocorre quando há um terceiro estranho ouvindo a comunicação. Para
que seja lícita, a interceptação deve ser autorizada por ordem judicial, atendidos os
requisitos da Lei 9296/96. Pode ser que um dos interlocutores saiba, cosentiu, com a
interceptação. Nesse caso, chama-se escuta telefônica, mas sempre haverá o terceiro
ouvindo a comunicação. A escuta também deve ter autorização judicial.
Terceira hipótese é a chamada gravação clandestina, para a qual não precisa
autorização judicial. Ocorre quando o interlocutor resolve gravar as conversas e
somente ele poderá fazer uso delas no processo.
O prazo para intercepção telefônica é de 15 dias, prorrogáveis por mais 15. As
conversas são todas gravadas, não há como filtrar, mas na degravação somente consta o
que interessa para o processo. Quem seleciona o que interessa é a polícia, de modo que
ou se confia na degravação ou ouve tudo para ver se não há nada mais relevante.
O prazo de 15 dias é muito curto, abrindo espaço para abusos, porque ocorrem
sucessivas prorrogações, perdurando a intercepção por ano ou mais.
Se a interceptação revela crime diverso daquele que estava sendo investigado, o
ideal é que a gravação seja enviada para a polícia, para que esse crime seja investigado
em separado. Se há ligação, mesmo que distante, entre os crimes, é comum que sigam
sendo investigados juntos, mas não deveria ser assim.
Ada Pellegrini Grinover, quanto à gravação por interlocutor, defende que mesmo
nessa hipótese deve haver autorização judicial.

Quanto aos dados telefônicos, pode o juiz oficiar a operadora para que
disponibilize esses dados. O próprio cliente pode requerer. Somente a parte contrária,
por uma questão de contrato entre o cliente e a operadora, não poderá requerer. Dados
telefônicos são os registros de chamadas, realizadas e recebidas, constando horário e
tempo.
e) Dados obtidos por meio de gravação ambiental. Em relação a conversas que
não são reservadas, é possível o uso da escuta ambiental, como numa repartição pública,
onde não é lugar para conversar reservadas. Já num consultório, não seria possível o uso
de escuta ambiental. A exceção que nossa lei traz é quanto às organizações criminosas,
casos em que, mesmo para conversas reservadas, é possível colocar escuta ambiental,
sempre dependendo de autorização judicial.

10.05.12

f) Prova obtida mediante quebra de sigilo bancário: regulado pela LC


105/2001. A quebra do sigilo bancário ou fiscal deve ser decretada pelo juiz, assim
como pode ser decretada pelas CPIs. Também os agentes administrativos que trabalham
na receita acabam tendo acesso a esses dados. As autoridades da Receita não podem
quebrar, diretamente, o sigilo bancário, embora tenham acesso ao sigilo fiscal. Quebra-
se o sigilo fiscal quando há suspeita de um crime e, depois, quebra-se o sigilo bancário.
Antes, isso era automático. Discute-se, ainda, a possibilidade do MP determinar a
quebra do sigilo ou não. Temos decisões do STF no sentido de que se o crime ofende o
erário público, seria possível o MP quebrar o sigilo. O STJ entende que o MP não pode.
A professora não vê porque o MP deve determinar a quebra do sigilo. O mais acertado
seria ele requerer ao juiz.

g) Prova emprestada: prova produzida em outro processo ou outro


procedimento administrativo que vai ser trazida ao processo. A prova emprestada tem
essa conotação ampla; a questão é saber se ela é aceita no processo penal, o que não é
pacífico. Há um problema com as provas periciais que são produzidas no inquérito
policial e não podem ser repetidas, há interceptações telefônicas, quebra do sigilo fiscal,
etc. Ou seja, são provas produzidas sem contraditório. A rigor, para que a prova possa
fundamentar a fundamentação jurisdicional, ela deve ser produzida sob o crivo do
contraditório. Portanto, as testemunhas ouvidas na fase do inquérito devem ser ouvidas
novamente na fase processual, mas isso não é possível quanto às perícias e a
interceptação telefônica. A reforma de 2008 determinou que o juiz não pode sentenciar
com base, exclusivamente, nas provas do inquérito – o que significa que ele pode
utilizá-las. As provas emprestadas não têm como ser repetidas no processo. Por isso
criou-se uma justificativa, chamando essas provas de provas de contraditório
postergado: provas que se submetem ao contraditório após a sua realização.

Quando se fala em trazer a prova do inquérito para o processo do mesmo crime,


não se trata de prova emprestada. Quando ela é trazida de outro inquérito que não tem
relação direta com aquele processo, trata-se de prova emprestada. A maioria dos autores
tem se posicionado no sentido de que é possível emprestar prova de outro inquérito,
desde que seja produzida sob o crivo do contraditório e as partes tenham participado do
contraditório, o que limita bastante a utilização da prova emprestada. É uma prova
precária, que deve ser corroborada pelas demais provas, não pode ser utilizada sozinha
para condenar. Deve ter sido produzida num outro processo, sob o crivo do
contraditório, com a participação do acusado. Na prática, empresta-se prova de outro
inquérito que não tem relação direta com o processo. A professora afirma que os
próprios juízes costumam enviar provas para os processos nas CPIs, até mesmo sem
requisição, o que ela considera um ativismo exagerado.

- Provas derivadas das provas ilícitas: a Reforma de 2008 regulamentou essa


questão. Com o art. 156 do CPP estabeleceu-se uma regulamentação dessa questão. As
provas ilícitas não podem ser admitidas, assim como aquelas derivadas das ilícitas.
Numa confissão mediante tortura, o acusado indica possíveis co-réus: essa prova não
poderá ser utilizada, diante da ilegalidade da prova. Nosso CPP faz uma ressalva,
definindo que se a prova nova não mantiver nexo de causalidade com a prova ilícita, é
possível que ela seja utilizada. É o juiz que vai criar toda uma argumentação retórica
para explicar se a prova mantém ou não relação com a prova ilícita. Segundo a
professora, não há como referir uma relação segura de causa e efeito. Se não se pode
estabelecer um nexo de causalidade entre a prova produzida e a prova ilícita, não existiu
derivação. Se a prova não derivou da ilícita, ela pode ser utilizada. A professora entende
que essa determinação sobre a causalidade ou não é dirigida ao juiz para que,
retoricamente, argumente se a prova é derivada ou não da ilícita.

Ainda, as provas derivadas da ilícita serão aceitas se puderem ser obtidas por
fontes independentes. A professora diz que os juízes justificam a utilização dessas
provas dizendo que “qualquer um teria descoberto mesmo assim”. A lei criou uma
“muleta” para o juiz. Se ele justificar adequadamente, a prova poderá ser utilizada. A
questão da prova decorrente da ilícita ocorre muito no caso das interceptações
telefônicas.

Provas em espécie

Prova testemunhal

É uma das provas mais utilizadas no processo. A prova testemunhal é a prova


obtida mediante relato de uma terceira pessoa sobre suas impressões sensoriais acerca
de fatos relevantes para o processo.
Características:

I. Judicialidade: nossos autores insistem em copiar a doutrina de outros


países e dizer que a prova testemunhal deve ser obtida sempre na
presença do juiz. Para que a prova possa ser utilizada para fundamentar a
sentença, ela deve ser produzida na presença do juiz. Isso não faz sentido
no nosso sistema, porque nosso Código permite a utilização pelo juiz das
provas produzidas no inquérito; portanto, é possível que o juiz utilize
uma prova testemunhal do inquérito, desde que não se baseie
exclusivamente nela. Assim, a judicialidade relaciona-se mais aos países
europeus e não ao nosso sistema.

II. Oralidade: os depoimentos das testemunhas quanto aos aspectos


sensoriais dos fatos relevantes ao processo devem ser orais. A Lei de
Abuso de Autoridade (Lei 9848) permite a prestação de testemunho
escrito, configurando uma exceção. Também se mitiga a característica
da oralidade quando se trata de testemunhas surdas-mudas, conforme art.
33: no caso do surdo, as perguntas podem ser passadas por escrito e ele
responde oralmente, se conseguir. No caso do mudo, a pergunta é feita
oralmente e ele responde por escrito. No caso do surdo mudo, utiliza-se a
escrita ou a linguagem de sinais (se não souber ler e escrever e se
comunicar por sinais, não é possível ser testemunha). Ainda, algumas
autoridades podem prestar seu depoimento por escrito, conforme art.
221, parágrafo 5º.

III. Objetividade: o testemunho deve ser o mais objetivo possível. a


testemunha fará um relato, a partir dos seus sentidos, dos fatos relevantes
ao processo. Essa narrativa será subjetiva; o que não pode ocorrer é a
manifestação de juízos de valor pela testemunha sobre o acusado ou
sobre o fato (por exemplo, “ele é um bandido”, “ele é cruel”, etc.). Por
vezes, o juiz não consegue impedir essas manifestações.

IV. Retrospectividade: o depoimento da testemunha será sobre fatos que


aconteceram, fatos pretéritos. Há testemunhas que não falarão sobre fatos
diretamente do processo, mas sobre fatos importantes sobre o processo.
Por exemplo, um tenente que vai falar sobre o comportamento de um
cabo envolvido num acidente. O tenente sequer presenciou o fato do
acidente, mas vai falar de um aspecto interessante ao processo; nesse
caso não há retrospectividade. A professora questiona o fato de que as
testemunhas se lembram de tudo, até de detalhes, de fatos ocorridos há
um certo tempo, alertando para a criação de falsas memórias. O
testemunho acaba sendo uma prova muito manipulável.

V. Imediação: a prova testemunhal é a impressão que a pessoa teve dos


fatos, de forma direta, de forma imediata. Isso é imediação. Nem sempre
essa característica é respeitada, a testemunha se apresenta afirmando que
“ouviu dizer” por outra pessoa.
VI. Individualidade: o depoimento das testemunhas deve ser colhido de
forma individual, as testemunhas devem ser ouvidas separadamente (com
exceção da acareação). As testemunhas também devem aguardar os seus
depoimentos separadamente, para não trocarem informações, impressões
e falsas memórias. A jurisprudência já entendeu que a violação dessa
incomunicabilidade é mera irregularidade.

15.05.12

Classificação das testemunhas

a) Testemunha direta. É aquela que presenciou os fatos e vai depor sobre suas
impressões pessoas, sensoriais, dos fatos.
b) Testemunha indireta. Não presenciou o fato, somente “ouviu dizer”.

a) Testemunha própria. Presta depoimento sobre os fatos propriamente ditos,


sobre os fatos que integram o mérito do caso penal.
b) Testemunha imprópria. Presta depoimento sobre fatos relevantes para o
processo, sobre circunstâncias relevantes para o processo, mas que não necessariamente
integram o mérito do caso penal. Ex.: chamar perito para depor como se comporta
determinado veículo, embora nada saiba dos fatos relacionados ao mérito.

a) Testemunha numerária. Presta compromisso e integra o número legal. no


processo penal, cada procedimento tem o número máximo de testemunhas estabelecido.
No procedimento comum ordinário, as partes podem indicar até oito testemunhas e, no
cômputo desse número, entram apenas as que prestam compromisso.
b) Testemunha informante. Não presta compromisso, porque tem algum tipo de
relação com o réu, por ser parente, por exemplo.
c) Testemunha referida. São aquelas que, de alguma maneira, são referidas no
depoimento das outras testemunhas e serão ouvidas como testemunhas do juízo. Estas
testemunhas também prestam compromisso.

De acordo com o art. 202/CPP, qualquer pessoa pode ser testemunha no


processo penal. Não há nenhuma restrição: crianças e doentes mentais podem prestar
testemunha. Se prestarão ou não compromisso com a verdade, é outra história.

Deveres da Testemunha

a) Dever de comparecer. Há exceções, como as testemunhas que moram em


comarca fora do juízo processante. Neste caso, será enviada carta precatória para a
oitiva da testemunha. Também não tem dever de comparecer pessoas com
impossibilidade de locomoção em razão de doença ou idade avançada – a testemunha
poderá, inclusive, ser ouvida na própria casa.
Ainda, algumas autoridades podem ser ouvidas em seu local de trabalho, em
horário pré- agendado; ou prestar depoimento por escrito, como é o caso do Presidente
da República.
As demais testemunhas, ainda que não prestem depoimento, tem o dever de
comparecer. Se não o fizerem, o juiz pode promover condução coercitiva (art.
218/CPP). Se a testemunha mesmo assim se negar pode responder por crime de
desobediência, pagar multa e custas da diligência.
Entra aqui a questão da proteção da testemunha. Nos casos mais simples, não há
como se admitir que a testemunha não queira depor. No entanto, em casos envolvendo
organizações criminosas, tráfico de drogas, a situação é mais delicada, até havendo
justificativa para a testemunha se negar a depor. De todo modo, tem o dever de
comparecer e poderá ficar sob tutela

b) Dever de depor. Não tem esse dever os parentes do acusado, justamente


porque, uma vez tendo relação direta com aquele, não darão depoimento imparcial. No
entanto, se assim quiserem, podem depor. Já os que tem dever de sigilo profissional não
podem prestar depoimento, salvo se autorizados pela parte.

c) Dever de prestar compromisso. Os doentes mentais não tem esse dever,


tampouco os menores de 14 anos, mesmo porque nem poderiam ser punidos pelo crime
de falso testemunho. Contudo, há uma incongruência, porque entre 14 e 18 anos,
embora tenham de prestar compromisso, não podem ser punidos pelo crime de falso
testemunho.
As demais testemunhas devem prestar esse compromisso e estarão praticando
falso testemunho se faltarem ou omitirem a verdade. De qualquer forma, é difícil
detectar o falso testemunho. Se o for, o juiz deve encaminhar, após a sentença final, os
autos para a autoridade policial ou para o MP para apuração desse crime. Há quem
entenda que não é necessário esperar a sentença final. Ainda, alguns entendem que, para
julgar o crime de falso testemunho, é necessário esperar a sentença final; outros acham
que não.

Momentos do depoimento

O primeiro momento do depoimento é a identificação. A testemunha será


identificada, vai apresentar os documentos e uma série de informações requeridas pelo
escrivão. O segundo momento é bastante importante, o da verificação de vinculação
da testemunha. Analisa-se, aqui, se há algum defeito em relação à testemunha. Faz-se a
contradita ou a arguição de defeito.

São causas para contradita:

(i) falsa identidade - a testemunha, mesmo apresentando documentos falsos,


pode ser ouvida.
(ii) existência de parentesco ou relação de amizade da testemunha com qualquer
das partes – o parente até pode prestar depoimento, mas sem prestar compromisso com
a verdade; em relação ao amigo, também é aconselhável que não preste compromisso
com a verdade.
(iii) impedimento da testemunha em razão de estar submetida a sigilo
profissional – nestes casos, o juiz não deixa prestar compromisso ou pele menos avisa o
sujeito de que estará cometendo crime de violação de sigilo profissional.

São causas para arguição de defeito:

(i) testemunha suspeita – já esteve envolvida em fato análogo.


(ii) testemunha indigna de fé – antes, dizia respeito a prostitutas, vadios, mas não
podemos mais usar esse critério.
Aqui, ambas prestarão compromisso de dizer a verdade.

O terceiro momento é o das perguntas, que serão feitas diretamente pelas partes.
Tudo será registrado por áudio e fica disponibilizado nos autos.
O juiz pode indeferir a pergunta quando induz a testemunha, quando é pergunta
repetida ou quando ofende a honra da testemunha.
Cabe ressaltar que o acusado deve estar presente na oitiva das testemunhas,
salvo se sua presença constranger a vítima. A solução, nesses casos, é a
videoconferência, mas não há esse recurso em todos os fóruns, o que é um problema,
porque o acusado, no interrogatório, está praticando autodefesa, inclusive do que foi
dito pelas testemunhas, daí a necessidade de presenciar todos os autos.

Prova pericial

Prova pericial é a prova obtida mediante a realização de um exame pericial.


Perícia é um exame procedido por sujeito que possui determinados conhecimentos
técnicos, científicos, artísticos, sobre circunstâncias relevantes para a solução do caso
penal.
De acordo com o nosso CPP, a perícia deve ser feita por peritos oficiais, ou seja,
peritos vinculados ao Estado, que foram aprovados em concurso públicos e integram
órgão da chamada polícia científica. O perito deve ter curso superior, determinação
recente do CPP.
Caso não haja perito oficial para determina área ou em determinado local, é
possível que o juiz nomeie DOIS peritos. Esses peritos nomeados pelo juiz devem
prestar o compromisso de bem desempenhar a função, o que não se exige do perito
oficial, cujo compromisso já foi prestado quando da aprovação em concurso e
nomeação.
Os peritos não podem ser suspeitos (artigos 277 e 279/CPP) e não pode estar sob
interdição. O perito oficial não pode se negar a realizar a perícia. Já o perito nomeado
pelo juiz pode se negar, desde que fundamentado.
A perícia é um exame técnico, mas não deixa de ter uma margem de
subjetividade. Cada perito vai avaliar seu objeto de análise de uma maneira. O perito faz
o exame e produzo o laudo, uma espécie de relatório do que foi observado. Quando se
trata de perito oficial, é mais fácil a elaboração do laudo. Quando for caso de dois
peritos nomeados eles podem divergem. Nesse caso, a divergência pode ser registrada
no laudo ou podem fazer dois laudos. Diante disso, o juiz pode pedir um terceiro laudo e
pode, inclusive, desconsiderar tudo.
Ainda, pode o juiz pedir que o perito complete o laudo. De regra, o perito tem
prazo de 10 dias para a entrega do laudo, mas é prorrogável.

A perícia normalmente é feita na fase do inquérito policial, para aproveitar que


os vestígios do crimes ainda podem ser examinados. Em razão da possibilidade de
desaparecimento dos vestígios, a perícia é feita já no inquérito. Diz-se que se tem um
contraditório postergado, que vem depois. Claro que os peritos devem conservar ao
máximo o que foi utilizado para fazer o exame. As partes podem nomear assistentes
técnicos, peritos que irão acompanhar o resultado da perícia. Não acompanham a
realização da perícia em si, somente seu resultado, tendo acesso aos materiais utilizados
etc. O assistente técnico, entretanto, é uma figura complicado no processo penal,
porque, se divergir, desconstruir do que foi colocado pelo perito oficial, vira uma
bagunça.
As partes podem apresentar quesitos ao perito, o problema é que, como a perícia
é feita durante o inquérito policial, essas perguntas das partes somente poderão ser feitas
depois.
A perícia pode ser realizada a qualquer hora, em face da possibilidade de
desaparecimento dos vestígios; pode ser realizada por carta precatória; pode o juiz
indeferir a perícia requerida pelas partes.
Nosso CPP detalha bastante como realizar determinadas perícias, o que é
questionável. São desnecessárias estas previsões no CPP, eis que há normativa
regulamentando a atividade pericial. Além disso, as técnicas evoluem, mudanças que
não foram acompanhadas pelo nosso Código.

Exame de corpo de delito

Nada mais é que um exame pericial sobre os vestígios deixados pelo crime.
Corpo de delito é o conjunto de vestígios deixados pelo crime. Os vestígios podem ser
permanentes ou transeuntes. Se permanentes, é mais fácil, porque o exame pode ser
feito inclusive durante o processo. Por outro lado, se for transeunte, é necessário fazer
durante o inquérito policial, sem contraditório.
Nos crimes que deixam vestígios, o exame de corpo de delito é imprescindível,
sob pena de não se ter comprovada a materialidade do delito. Se falta materialidade,
falta justa causa para acusar e comprovação da materialidade para condenar, devendo o
juiz absolver.
Além disso, de acordo com o art. 564/CPP, a ausência do exame de corpo de
delito é causa de nulidade absoluta. Para a professora, essa previsão está errada, porque
seria causa de absolvição. Ou não será recebida a peça acusatória e, se for um lapso do
juiz, for recebida, deverá ocorrer absolvição.
De regra, não se admite a substituição do exame de corpo de delito. Somente é
cabível o chamado exame de corpo de delito indireto quando não for possível o exame
de corpo de delito direto. Não se pode incluir aqui a desídia do Estado. Se não deu para
fazer porque o Estado foi negligente, deverá o juiz absolver o acusado ou nem receber a
denúncia. Se a droga sumiu ou a arma do crime sumiu, absolve ou desconsidera a
violência, grave ameaça. Exemplo de impossibilidade de realização do exame de corpo
de delito é quando a pessoa foi jogada no mar.

Exceções à exigência do exame de corpo de delito:

(i) Nos juizados especiais criminais, basta o prontuário médico, atestado,


dispensando a realização do exame de corpo de delito;
(ii) No caso de tóxicos, basta o laudo de constatação para oferecimento
da acusação, mas para que o juiz sentencie, será necessário o exame
de corpo de delito;
(iii) A Lei Maria da Penha admite a comprovação por meio de atestados,
prontuários médicos.

22.05.12

Prova indiciária
É a prova obtida a partir de circunstâncias conhecidas e provadas que nos
permitem deduzir algo a respeito do fato supostamente delituoso. Temos, por exemplo,
o conhecimento de que no dia do crime estava chovendo; isso é uma circunstância
conhecida e provada. O fato de estar chovendo nos permite deduzir, por exemplo, num
acidente de trânsito, que o sujeito tentou frear e não conseguiu, o que poderia mudar um
homicídio doloso para um homicídio culposo. A partir dessas circunstâncias deduz-se o
resto, a partir de relações de causalidade.
Essa questão é muito polêmica no processo penal, porque a maioria das provas
no processo penal é indiciária. Por exemplo, o caso da Isabela Nardoni. A única prova
concreta era a de que a menina caiu e morreu em razão dos ferimentos da queda. Essa é
a única prova pericial, a única prova que incide diretamente sobre os vestígios deixados
pelo crime. O resto é prova indiciária. Em tese, teria sido periciada uma camiseta do
Alexandre Nardoni, e nela teriam sido encontradas marcas da rede de proteção. Isso é
prova de que ele se debruçou e jogou a menina? Não, a prova que existe é a de que ele,
em algum momento, se debruçou sobre a janela. Além da prova encontrada pela perícia,
todas as demais são indiciárias, fruto de dedução.
A prova indiciária, como diz o próprio Código, é uma prova frágil, que só pode
ser aceita se for corroborada por outras provas. É difícil ter uma prova pericial robusta
no processo penal; geralmente as provas são indiciárias e testemunhais. Neste aspecto, o
processo penal tem muito a evoluir.
A prova indiciária deve ser, necessariamente, corroborada pelas demais provas
para ser aceita, porque ela parte de probabilidades.

Confissão

A confissão é a declaração que o acusado faz contra si ou que o indiciado faz


contra si, admitindo sua responsabilidade em relação ao delito. A confissão, em regra, é
realizada no interrogatório, tanto no inquérito quanto no processo penal. O acusado é
chamado para ser interrogado como suspeito ou acusado, tem direito a silenciar sobre as
acusações que estão lhe sendo impostas, mas pode, sim, admitir sua responsabilidade
pelo delito e se auto-defender, já que, às vezes, essa confissão implica também na
declinação de sua responsabilidade, porque a confissão não precisa ser total. Ele pode
dizer que fez tais condutas e outras não, já que o MP costuma atribuir todas as condutas
a todos os acusados. O acusado pode confessar nesse sentido, de forma parcial, para
delimitar o que ele fez.
Ainda, é possível que o acusado confesse e alegue que sua ação se deu porque
ele acreditava estar agindo conforme o direito, o que não deixa de ser uma confissão.
A doutrina fala em confissão implícita: “ele age como se fosse um criminoso”,
ideia com a qual a professora não concorda. Determinado ato do suspeito é interpretado
como confissão do crime.
Quando o acusado faz a confissão ele não a faz sob juramento, tanto que é muito
comum que o acusado se retrate em juízo, já que no inquérito ele geralmente está sob
muita pressão, sob “tortura”. Alguns autores acreditam que o acusado pode mentir em
relação à sua qualificação e identidade, do que outros discordam. Na chamada de corréu
o acusado pode mentir. Ele afirma que não praticou determinado ato sozinho, mas com
dada pessoa. Ao acontecer isso, o juiz chama essa outra pessoa para ser ouvida ou para
ser acusada no processo. Entretanto, essa pessoa foi nomeada a partir da confissão do
outro acusado, que poderia estar mentindo. Seria injusto colocar alguém no processo,
por conta do depoimento do acusado, que pode mentir.
Há uma polêmica, porque quando o acusado chama o corréu ele estaria atuando
como testemunha; ele teria que prestar compromisso. A professora acredita que, neste
aspecto, quando o acusado chama o corréu, ele deveria prestar compromisso, sob pena
de falso testemunho. Mas não é assim que acontece.
A confissão é uma prova que pode ser obtida no interrogatório, mas o
interrogatório não pode ser visto como instrumento para se obter a confissão, tanto que
ele foi transferido para o final do processo (antes era no começo para que o acusado
confessasse logo e evitasse a produção de prova). O interrogatório não deve ser visto
como meio de produção de prova, mas como ato de autodefesa.

Prova Documental

É a prova obtida mediante apresentação de documentos. Documentos são


representações materiais do pensamento ou da vontade dos indivíduos, com o objetivo
de demonstrar a veracidade de um fato. A prova documental é a prova da prova. O
documento em si é a prova, e a prova documental é a apresentação desse documento.
Para o nosso CPC, documentos são apenas escritos, papeis que representam o
pensamento humano. Diante da nossa realidade – já que o CPP é de 1941 – os
documentos não podem ser apenas os papeis; podem ser fotos, imagens, gravação de
áudio, documentos eletrônicos, desenhos.
Os documentos podem ser apresentados pela parte ou requisitados pelo juiz.
Uma vez juntado aos autos o documento ele deve ser mostrado a outra parte, para que
ela tenha ciência e possa impugná-lo. Os documentos podem ser apresentados a
qualquer momento, com exceção do Tribunal do Júri, em que os documentos que serão
lidos em Plenário devem ser apresentados até 3 dias antes do Julgamento, conforme
artigo 479 do CPP.

Espécies de Documentos/Classificação:

Nominativos
Anônimos: aqueles cujo autor não se sabe quem é, como fotos, filmagens,
gravação de áudio.

Público: aquele produzido por funcionário público no exercício de suas funções.


Este terá maior credibilidade, porque os funcionários públicos assumem determinados
compromissos quando assumem posse dos seus cargos.
Privado: aquele produzido pelos particulares.

Original: é o documento no seu formato inicial, é o documento autêntico.


Cópia: é a reprodução do documento original. As cópias não se confundem com
as segundas vias, que são documentos originais. As fotocópias podem ser aceitas no
processo penal, e é possível juntar fotocópias sem autenticação – mas que ficam sujeitas
à impugnação. Se houver impugnação, a parte deve juntar a fotocópia autenticada. Se a
outra parte não impugnar, permanece a fotocópia sem autenticação

Formas dos Documentos

Devem ser produzidos na língua portuguesa. Se forem em língua estrangeira


devem ser traduzidos por tradutor oficial ou o juiz determina sua tradução por um
tradutor juramentado. O ideal é que o documento não tenha rasuras, mas se ele tiver
rasuras, se tiver ilegível, o juiz pode chamar a pessoa que produziu o documento para
que preste seus esclarecimentos sob juramento. O ideal é que as fotocópias juntadas
sejam autenticadas.
O documento deve ser autêntico, não pode ser falso. Se houver desconfiança
quanto à autenticidade do documento, a parte contrária pode suscitar incidente de
falsidade. O documento poderá ser declarado falso para fins de prova.
As certidões são resumos de anotações que existem em livros. O documento
mesmo está no livro; a Certidão é apenas um resumo deste documento.

23.05.12

Se o documento for considerado falso, ele será desentranhado e enviado para


autoridade policial e o MP para que tomem as devidas providências. O juiz não poderá
decidir sobre a pena pela falsidade naquele processo.
Com relação ao destino dos documentos, depois do término do processo o juiz
não devolve tudo de imediato. A devolução deve ser requerida pelo dono do documento
e o juiz, caso entenda que ele não é mais necessário, faz uma cópia dele e devolve o
autêntico para o dono. Do contrário, ele permanece nos autos. Por exemplo, se a
extinção da punibilidade foi declarada com base na morte do acusado, o atestado de
óbito deve permanecer no processo. Se por um acaso a sentença está fundada num
determinado documento e existe pedido de revisão criminal naquele caso, o juiz não
devolverá este documento. Se existe uma discussão sobre a falsidade deste documento
que aconteceu posteriormente à instrução processual, o documento deve ser mantido nos
autos. Nos demais casos o juiz pode deferir o pedido para a devolução. Se ele se
recusar, cabe mandado de segurança.

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Procedimento do Juizado

É um procedimento que nega a tradição do nosso sistema. Veio, em tese, para


inovar. Em que pese não tenha obtido muito sucesso nessas inovações, instituiu a justiça
negocial. Os projetos de Lie que deram origem tanto à Lei 9099/95, que instituiu o
procedimento do juizado especial, e a Lei 10258/2001, que estabeleceu o procedimento
para a justiça federal têm uma longa história. Em 1991 foi apresentado o novíssimo
projeto do código de processo civil, onde já havia alguns dos institutos do procedimento
do juizado, como o termo circunstanciado e o aumento da oralidade. Esse projeto foi
devidamente engavetado por conta da CF de 1988, mas já trazia esses institutos.
Na Constituinte, conseguiu-se que a nova CF determinasse a Constituição de
Juizados de pequenas causas nos Estados. Começaram movimentos para a criação
desses juizados previstos na CF. A Associação dos Magistrados de SP elaborou um
projeto de Lei para tentar estabelecer o novo procedimento. Esse projeto de lei foi
elaborado sob a batuta de Ada Pelegrini Grinover. Esse projeto foi parar na mão do
deputado Michel Temer. Na mesma época foi apresentado um projeto, também para a
instituição dos juizados de pequenas causas, pelo Deputado Nelson Jobim. Os dois
caminharam para o Senado, que resolveu elaborar outro projeto, de forma mais
simplificada. A idéia era a de uma competência concorrente, sendo que na lei federal
deveria constar os princípios, a regulamentação geral para que cada Estado fizesse seus
próprios projetos adequando os juizados à sua necessidade. Esse projeto foi deixado de
lado. Outro projeto foi aprovado para os Juizados Especiais Cíveis, conforme a proposta
de Nelson Jobim. E outro projeto foi aprovado para os Juizados Especiais Criminais,
conforme o projeto de Michel Temer, redundando na Lei 9099.
Houve pressão para que se estabelecesse procedimento para o Juizado Especial
Criminal na Justiça Federal. A única novidade desse projeto que instituiu o juizado na
justiça federal foi a de que houve mudança no patamar de pena. Na lei 9099 os crimes
de menor potencial ofensivo a pena máxima era de 1 ano; na justiça federal a pena
passou a ser de 2 anos. Mas o procedimento era o mesmo.

DIREITO PROCESSUAL PENAL – 3° Bim.

19.09.12

Tribunal do Júri

O procedimento do Tribunal do Júri foi criado na Inglaterra em 1776, por


Henrique VIII. Nessa época, o júri não decidia com base em provas, mas com base nos
fatos que conhecia do caso. Havia primeiro o Júri de acusação e, se comprovado que
havia fundamento na acusação, ia para o pequeno júri. Com o passar dos anos, o júri de
acusação acabou sendo eliminado. Alguns autores remetem a existência do Júri ao
direito romano, porque havia órgãos colegiados para o julgamento dos crimes de
sangue, o que a professora acha que não tem muita relação.
O júri brasileiro não é o júri inglês, tendo sua forma moldada pelo júri francês
que surgiu após a Revolução Francesa. Era um júri bastante democrático, que acabou
domesticado pelo Código Napoleônico. O procedimento é muito parecido com o nosso.
No júri francês há jurados e juízes decidindo as questões. São 9 jurados e 3
juízes togados que decidem os casos. Algo interessante, implantado na França em 2000,
é a possibilidade de recorrer também ao júri. Na Itália isso também é possível.
Na França, os crimes julgados pelo tribunal do júri são os crimes considerados
mais graves, assim como no nosso sistema. Na Itália, vão a júri crimes com pena
superior a 24 anos. O júri italiano é formado por 6 jurados e 2 juízes togados, e a
decisão é sempre por maioria.
Um júri bastante diferenciado é a o júri da Espanha, país que demorou muito
tempo para implantá-lo, o que ocorreu no final do século passado. Há um juiz e 9
jurados, estes que são remunerados e devem motivar suas decisões. O júri não é visto
como um direito do cidadão ser julgado pelos seus pares, mas um direito da sociedade
de participar do julgamento. Outra diferença é que na Espanha é possível fazer uma
audiência prévia com os jurados, que serão questionados acerca de suas convicções
políticas, religiosas, aspectos que interessariam ao julgamento. A decisão do júri
espanhol é por maioria também.
No júri norte americano, as decisões absolutórias não há possibilidade de
recurso. A única possibilidade de rever essa decisão seria conseguir algum argumento
para ter sua apreciação por um júri federal, se demonstrado que a questão tem
relevância para o país, é um caso paradigmático. Isso garante a autonomia do júri, que
no Brasil é muito mitigada.
No Brasil, o júri foi criado em 1822, sendo formado por 24 pessoas e julgava os
crimes de opinião, de imprensa. A Constituição de 1924 previa que o Tribunal do Júri
deveria julgar questões cíveis e criminais, regra constitucional que foi regulamentada
por lei de 20 de setembro de 1830. Esta lei teria regulamentado o Tribunal do Júri nos
moldes do júri revolucionário francês, que tinha por base o júri inglês. Interessante que
nossos jurados eram, antes, eleitos. Se o juiz não concordasse com o veredicto, poderia
submeter à instância superior.
O júri ganhou força no Brasil com o Código de Processo de 1832. Todas as
infrações deveriam ser julgadas pelo júri, exceto as chamadas infrações de bagatela,
com pena somente de multa ou até seis meses. Estas infrações menores eram julgadas
pelo juiz paz, que realizava toda a investigação preliminar e, se fosse infração de
bagatela, já aplicava a pena. Com o Código de 1832, a polícia ficou restrita à
investigação dos casos de polícia.
Quem fazia o juízo de admissibilidade da acusação era o delegado. Ele
investigava, o promotor fazia a acusação e o próprio delegado admitia ou não a
denúncia. Com a Lei de 1842, a competência do júri acabou reduzida, com a ampliação
do poder da polícia
A Lei de 1850 tira ainda mais competência do Tribunal do Júri. Em 1890 é
criado o júri federal e logo na sequência se estabelece a competência para este júri. Deu-
se liberdade aos estados, mas a maioria copiou a Lei de 1841 acrescida da lei que criou
o inquérito policial, o que não reduziu
A Constituição de 1937 não previa o júri, razão pela qual alguns acharam que
não haveria mais júri. Por isso, veio um decreto em 1938 regulamentando o júri. O
nosso Código somente ficou pronto em 1941, dando contornos ao júri muito
semelhantes ao atual, a despeito das alterações ocorridas em 2008.
Já no CPP de 1941 fica estabelecido que o júri tem competência pra julgar os
crimes contra a vida, o que é confirmado pela Constituição de 88, em seu art. 5°,
XXXVIII. Fica clara a existência do júri, as suas garantias, como sigilo dos votos,
soberania das decisões.
Em 2008, houve a reforma, com alterações significativas no júri. Permaneceu, de
qualquer forma, o sigilo das votações e a incomunicabilidade dos jurados. Uma
alteração significativa trazida pela reforma de 2008 foi a simplificação dos quesitos, as
perguntas que dizem respeito à autoria, materialidade do delito e teses da acusação e
defesa. Antes, a estrutura da quesitação era muito complexa e o jurados normalmente se
perdiam.
O procedimento do júri é extremamente moroso, ainda que tenha sido
simplificado pela reforma. De todo modo, o processo precisa de tempo para efetivação
das garantias, considerando que quem é julgado pelo júri cometeu crime grave.
São de competência do júri: Homicídio, induzimento/instigação do suicídio,
infanticídio e aborto. Além disso, a competência do júri traz os crimes conexos, pois
sempre prevalece, exceto nos casos de prerrogativa de função.

Procedimento do Tribunal do Júri

O procedimento do júri é escalonado. Há o inquérito policial, o júri dá a decisão


de pronúncia. Depois disso ainda é possível fazer alguma diligência e, por fim, haverá a
instrução no plenário.

1. Acusação. De regra, será por denúncia, exceto em casos que o MP ficou de


braços cruzados e coube à vítima apresentar queixa.
2. Juízo de admissibilidade. O Juiz pronuncia o acusado, dizendo que vai a júri.
3. Citação.
4. Resposta. Aqui não há possibilidade de absolvição sumária. O acusado faz
alegações preliminares e deverá apresentar testemunhas, no máximo 8. Pode apresentar
exceção, que será autuada em apartado.
5. Manifestação do MP. Isso está invertido, porque a defesa deve sempre falar
depois da acusação, não antes. Discute-se, inclusive, a constitucionalidade. O problema
é que os juízes gostaram dessa inversão e aplicam mesmo no procedimento ordinário.
6. Audiência. O juiz tem dez dias para marcar após a manifestação do MP. Essa
audiência segue a mesma ordem do procedimento ordinário: fala a acusação, defesa,
testemunha de acusação, defesa, peritos e por fim alegações, de 20 minutos, tempo que
pode ser prolongado se houver necessidade. Em seguida, o juiz deveria dar a sentença,
mas não é o que acontece. As alegações serão apresentadas por escrito e o juiz profere a
decisão, que pode ser de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou
desclassificação.
Da denúncia até a decisão é o chamado ius accusationis.

20.09.12

A decisão de pronúncia é uma decisão interlocutória mista não terminativa. Em


tese, trata da regularidade processual e põe fim a uma fase do procedimento do júri, mas
não põe fim ao processo. É a decisão que fixa a competência dos jurados para decidirem
o caso penal. Para que o juiz profira essa decisão, ele deve verificar que estão presentes
indícios suficientes de autoria e deve estar provada a materialidade do delito (que em
tese deveria estar provada no momento do oferecimento da denúncia).
Alguns juízes defendem que essa decisão é uma decisão pró societatis. Isso
significa que, na dúvida, o juiz deve enviar ao júri e deixar a sociedade decidir. Isso é
incompatível com a CF, que diz na dúvida deve ser decidido em pro do acusado, ele
deve ser absolvido.
A decisão de pronúncia deve ser muito cuidadosa, já que não significa o
julgamento definitivo e o juiz irá mandar o caso ao tribunal do júri. O juiz deve ser o
mais contido possível. Deve estar comprovada a materialidade e deve haver indícios
suficientes de autoria. A decisão deve fazer a classificação jurídica do crime,
mencionando as qualificadoras e as causas especiais de aumento, deixando de fora as
agravantes, que serão colocadas no momento da fixação da pena.
Além disse, se o juiz está preso preventivamente, o juiz deve demonstrar que
ainda se apresentam os requisitos da prisão preventiva, mas provavelmente não se
sustentam mais, porque a instrução inicial já ocorreu. Nesse caso, o juiz deve liberar o
acusado, mas não precisa liberar totalmente, podendo substituir por medida cautelar que
não prive a liberdade de locomoção do acusado.
Supondo que o juiz no momento de proferir a decisão de pronúncia verifica que
surgiram novos fatos, o que irá provocar mudança na imputação, na narrativa fática.
Nesse caso, o juiz deve seguir o procedimento do artigo 344, da mutatio libelis,
remetendo os autos ao MP para que faça a mudança da acusação. Se surgirem novas
pessoas, o juiz também deve mandar para o MP, mas claro que levaria muito tempo o
MP alterar a acusação, oportunizar a defesa para essas demais pessoas. Nesses casos, o
juiz irá separar, para assegurar os direitos do acusado.
O juiz pode mudar o enquadramento típico feito pelo MP, desde que não mude
os fatos. Seria a hipótese de emendatio libelis, de acordo com o artigo 383.
Na decisão de pronúncia, o juiz deve fazer somente menção ao crimes conexos,
que serão também enviados ao júri, mas sem esmiuçá-los, porque a pronúncia diz
apenas respeito ao crime doloso contra a vida.
Da decisão de pronúncia cabe recurso em sentido estrito, que permite a
retratação do juiz. Pode o juiz se retratar da decisão e impronuncia o acusado. Dessa
decisão, o MP pode recorrer e, subsidiariamente, o assistente da acusação. Nesse caso, o
recurso é de apelação.
A decisão de pronúncia é causa interruptiva da prescrição, assim como sua
confirmação através do recurso.

O juiz irá proferir decisão de impronúncia quando verificar que não está
comprovada a materialidade como deveria e não há indícios suficientes de autoria. Essa
decisão é interlocutória mista terminativa. Nessa decisão, o juiz se manifesta sobre a
regularidade do processo e coloca fim ao processo. Tanto a decisão de pronúncia quanto
impronúncia tratam de condição da ação, razão pela qual se fala em regularidade do
processo. No entanto, há muita discussão na doutrina, porque também haveria certa
análise de mérito. Com a reforma de 2008, inclusive, alterou-se o recurso para apelação.
Quando o juiz impronuncia o acusado, é uma decisão gravada dos efeitos
análogos ao da cláusula rebus sic standibus, pois se surgirem novas e melhores provas,
pode o MP oferecer a denúncia novamente. Na reforma, perderam uma boa
oportunidade de retirar essa decisão, porque o juiz deixa o sujeito na condição de
“acusado”, restando sobre ele uma presunção de culpa, ferindo o texto constitucional,
que garante a presunção de inocência. Na dúvida, o juiz deve absolver, o in dúbio pro
reu deve ser aplicado nesse momento.
A impronúncia do acusado não impede o julgamento dos demais crimes, sendo
os crimes conexos mandados para o juiz competente.

Quando o juiz tiver certeza de que o fato não aconteceu, não está provada a
materialidade e jamais será provada, ou se ficar provado que o sujeito não é autor do
fato, ou a conduta não constitui crime (excludente), ocorrerá a absolvição sumária.
Se o sujeito for mentalmente enfermo, e esta for a única tese da defesa, será
possível absolver sumariamente e aplicar a medida de segurança. No entanto, se a
defesa apresentar outras teses, deve o juiz dar a oportunidade para que o indivíduo seja
absolvido propriamente pelo júri e não seja aplicada medida de segurança. No entanto, é
muito complicado levar a julgamento em plenário pessoa inimputável. De qualquer
forma, a ideia é que o sujeito possa se defender perante o tribunal do júri, que é
competente, e seja absolvido propriamente.
Ao absolver sumariamente, o juiz envia os crimes conexos para o juiz
competente.
Da decisão sumária caberá apelação, pois se trata de decisão de mérito.

Pode também o juiz proferir decisão de desclassificação, que é uma decisão de


declaração de incompetência. O Juiz, não modificando os fatos narrados na denúncia,
vai decidir que o crime não é de competência do Tribunal do Júri porque não se trata de
crime doloso contra a vida. Nesse caso, o crime deverá ser remetido ao juiz competente,
assim como os crimes conexos. Essa é a chamada desclassificação própria.
Existe a possibilidade da desclassificação imprópria, quando o juiz não muda a
competência, mas muda a classificação do crime. O sujeito em princípio era acusado
por infanticídio e passa, por exemplo, a responder por homicídio. A professora acha
essa diferenciação desnecessária, pois seria mera decisão de pronúncia em que o juiz
altera o enquadramento típico.
No Código anterior, a defesa poderia se manifestar sobre a mudança na
qualificação, mas isso não é mais possível. Era mais adequada a previsão anterior,
porque, em havendo alteração do delito, o acusado deveria ter oportunidade de se
defender de tudo.

Proferida a pronúncia, as partes devem ser intimadas. A intimação da decisão de


pronúncia é muito importante, pois a partir desse momento o acusado tem consciência
de que será julgado em plenário. MP, defensor nomeado e acusado devem ser, então,
pessoalmente intimados. O defensor constituído, como sempre, será intimado via diário
oficial. Se o acusado estiver solto e não for encontrado, será intimado por edital.
O recurso contra a decisão de pronúncia tem efeito suspensivo, pois impede que
ocorra o julgamento em plenário.
Após preclusão da decisão de pronúncia, há a possibilidade da acusação e depois
a defesa, na prazo de 5 dias, apresentar requerimento de produção de provas. Importante
lembrar que os documentos que serão utilizados devem ser juntados até 3 dias antes do
julgamento. Podem ser indicadas 5 testemunhas para serem ouvidas em plenário.
Feitos os requerimentos, o juiz irá realizar as diligências, se julgar convenientes.
Nesse momento também vai verificar a regularidade do processo, saneando o processo.
Feitas as diligências e o saneamento do processo, o juiz faz um relatório, que é peça
importante no que se refere às nulidades. Nesse relatório deve constar tudo o que
ocorreu até o momento, tudo o que foi apurado, mas o juiz deve se contar, não induzir
nenhuma espécie de julgamento. O problema é que o juiz não tem prazo para juntar esse
relatório nos autos e normalmente junta no dia do julgamento. Se o juiz juntar antes, o
advogado poderá impugnar o relatório, até mesmo por meio de HC.
Feito esse relatório, ocorre toda a preparação do plenário.

25.09.12

Feito o relatório, o juiz escolhe um dia para colocar em pauta o julgamento.


Paralelamente ao que aconteceu desde a decisão de pronúncia, foi organizado o tribunal
do júri. Em tese, os jurados são escolhidos a partir de listas contendo de 800 a 1000
nomes, feitas pelo juiz presidente do tribunal do júri. A lista será submetida a duas
publicações: uma primeira ocorre no dia 10 de outubro, para dar publicidade, a fim de
que pessoas possam eventualmente possam apontar alguma problema relativa à
idoneidade moral. O jurado deve ser maior de 18 anos, de reconhecida idoneidade moral
e não pode ser excluído da lista por conta de suas crenças religiosas, convicções
políticas, sexo, raça. A única possibilidade de exclusão é por eventual falta de
idoneidade moral. A segunda publicação, esta definitiva, ocorre no mês seguinte.
Jurados tem uma série de prerrogativas, como preferência em concurso público,
licitação, quando estiver em igualdade de condições. Não pode sofrer desconto no
salário. A participação do jurado é um dever e, caso não compareça, será multado. Uma
pessoa que por, questões políticas, religiosas ou ideológicas, não queira atuar como
jurado, deverá prestar serviço comunitário, como atuar na parte administrativa da
Justiça. Isso é muito discutido, porque seria pena para quem não quer participar do júri,
Os jurados têm causas de suspeição e impedimento, algumas semelhantes a dos
juízes e outras pela própria estrutura do júri, como a proibição de os jurados serem
parentes entre si. É suspeito jurado que já tenha se manifestado sobre o caso, seja
publicamente ou em outro júri (caso de divisão do júri pelo elevado número de
acusados).
Publicadas as listas e não houve nenhuma impugnação, as fichas dos jurados
contendo nome e profissão serão colocadas em urnas e sorteadas. O sorteio deve ocorrer
na presença de um representante do MP, da OAB e da Defensoria. Nas reuniões, são
sorteados 25 jurados para cada sessão plenária. É necessário esse número acima do
número efetivamente usado (sete), porque pode haver impedimentos, alguns podem
faltar. É um ritual e qualquer desvio desse ritual irá gerar nulidade.
Os julgamentos são colocados em pauta, com preferência aos acusados presos,
dentre os presos, os mais antigos.
Assistente da acusação deverá se habilitar até cinco dias antes do julgamento.
Quem quer apresentar documentos, vídeos, deve indicar até três dias antes do
julgamento, para que nãoe exista nenhuma surpresa.
Antes do início das atividades do plenário, pode ocorrer o desaforamento,
quando a ordem pública reclamar, quando houver dúvida sobre a imparcialidade do
tribunal do júri, quando houver risco para o acusado ou por excesso de serviço. O
critério da ordem pública não é muito claro, assim como o risco para o acusado. A
imparcialidade do júri é mais fácil de ser identificada. O excesso de serviço é uma
questão delicada e, para a professora, somente se justifica numa capital como São Paulo,
não como Curitiba. A Súmula 712 do STF prevê que sempre que houver desaforamento,
deve ser ouvida a defesa, mesmo para o caso de excesso de serviço.

Vencida essa etapa do desaforamento, o juiz verifica todos os impedimentos,


suspeições dos jurados; alerta acerca de sua incomunicabilidade, não podendo conversar
sobre o caso entre eles nem com pessoas de fora.
O julgamento pelo tribunal do júri poderia ser adiado se por acaso faltar o MP.
Lógico que se o promotor não aparecer sem justificativa, isso será comunicado à
Corregedoria. O julgamento também poderá deixar de ocorrer se não houver os 15
jurados para instalar os trabalhos. Se o advogado defensor do acusado não comparecer,
o que por vezes é utilizado como estratégia. Se houver um motivo, o julgamento será
adiado. Se não houver justificativa, a OAB será comunicada. Se na próxima data o
advogado não comparecer, a defensoria será cientificada para que na data seguinte o
defensor público faça a defesa do acusado.
Se o acusado não comparecer, o julgamento ocorrerá normalmente, desde que
tenha sido intimado regularmente. O acusado tem o direito de não comparecer ao seu
julgamento. No caso de acusado preso, além de ser intimado pessoalmente, ele será
requisitado, levado pelo Poder Público ao julgamento. O acusado preso poderia se
recusar a ir? Para evitar problemas, deve registrar por escrito, fazendo uma carta para
demonstrar que não compareceu ao julgamento porque não quis.
Quanto às testemunhas, se não foram intimadas e moram na comarca do juízo
processante, o juiz adia o ato e manda intimar a testemunha. Se a testemunha foi
intimada e não compareceu, o juiz manda conduzir. Se mesmo assim não adiantar, aí
sim ocorre o julgamento sem a testemunha.
Assim, o adiamento do julgamento somente ocorrerá quando faltar o MP, faltar o
defensor ou quando faltar intimação de alguma testemunha ou do acusado.
Verificado tudo isso, serão instalados os trabalhos, desde que haja os 15 jurados.
Ocorre sorteio dos sete jurados. Se houver, por exemplo, na acusação assistente de
acusação ou na defesa, mais de um acusado, cada um terá direito a três recusas. Se, com
isso, não houver jurados suficientes, será adiado.
Se estiver tudo correto, os jurados recebem cópia da decisão de pronúncia, bem
como do relatório e tem início a instrução em plenário, o que é curioso, porque nada
pode ser dito sobre a decisão de pronúncia, decisão de algema ou silêncio do acusado.
Poderá ser ouvida a vítima (se estiver viva), testemunhas de acusação e defesa. Todos
serão inquiridos diretamente, menos os jurados, que poderão fazer perguntas através do
juiz.
Feita a inquirição das testemunhas, ocorre o interrogatório do acusado, momento
culminante do julgamento, porque o acusado vai para o meio do tribunal do júri e
começa a sofrer a censura da sociedade, posto no lugar do acusado mesmo, no banco
infamante.
Em seguida, acusação e defesa falam cada uma por uma hora e meia. Réplica e
tréplica por 1 hora. Nesses debates, a parte pode ser interrompida por um aparte, de
modo que se faça um debate mais direto.
Terminados os debates, pergunta-se aos jurados se eles têm alguma dúvida. O
juiz expõe então os quesitos, as perguntas que serão feitas aos jurados na sala secreta.
Os quesitos são anunciados, cabendo impugnação. Se os jurados tiverem dúvidas,
deverão fazer perguntas em plenário, porque na sala secreta em tese não pode fazer
perguntas. Aceitos os quesitos, o juiz se recolhe com os jurados, MP e defesa na sala
secreta (ou manda todo mundo sair do plenário se não houver sala secreta).

26.09.12

Estávamos vendo a votação dos quesitos. O primeiro dos quesitos diz respeito à
materialidade do delito. Os jurados recebem cédulas contendo “sim” e “não”. O Oficial
de Justiça passa com uma urna e em seguida são contados os votos. O segundo quesito é
relativo à autoria, repetindo-se o aquele processo. Nesse momento, em tese, os jurados
não podem mais fazer perguntas ao juiz, o que poderia induzir a resposta, mas na prática
isso acontece.
A grande novidade da quesitação foi o terceiro quesito, se o jurado absolve o
acusado, momento que trata das excludentes. Essa pergunta vem em terceiro lugar se
não houver tese de desclassificação, caso contrário essa pergunta deve vir antes que a da
absolvição. Se a resposta for maioria “sim” para a existência de dolo, a competência do
júri é fixada. Caso contrário, se a maioria dos jurados entender que o acusado não queria
a morte da vítima, afasta-se a competência do júri e a sentença será fixada pelo juiz.
Em seguida, vem as causas de diminuição de pena. Por fim, são quesitadas
qualificadoras e causas de aumento (agiu o acusado por motivo fútil, torpe). Essa é a
quesitação básica, certamente que, dependendo do caso, haverá outros quesitos. Se
houver, por exemplo, crimes conexos, também serão quesitados.
Feita a quesitação, o juiz elabora a sentença com base nas respostas dadas pelos
jurados. O juiz, portanto, está limitado pelo veredicto dado pelos jurados. Nesse
momento ele irá considerar atenuantes e agravantes, que influenciam na dosimetria da
pena. Como em qualquer decisão, o juiz deverá fundamentar, sobretudo explicando
porque fixou determinada pena. O juiz também irá decidir sobre a necessidade de
continuidade da medida cautelar. Por se tratar de sentença, cabe apelação e apelação
pode ser tanto no sentido de buscar o novo júri como no sentido da reforma da decisão
elaborada pelo juiz, porque o erro pode ser na dosimetria na pena, pela
incompatibilidade da sentença com o veredicto. Por outro lado, se a decisão dos jurados
for manifestamente contrária às provas dos autos, pode ocorrer nulidade, sendo
necessária a realização de um novo júri.
Discute-se muito acerca da soberania do veredicto do júri, o que acaba mitigado
pela possibilidade de reforma pela revisão criminal. Se o júri fosse realmente soberano,
o máximo que poderia acontecer seria a anulação de realização de novo júri. Outra
questão é a comunicação dos jurados, sendo que o PLS 156 prevê a possibilidade de
discussão entre os jurados, com decisão unânime. A ideia era colocar 8 jurados no
tribunal do júri para evitar a decisão que dá 4 a 3, ou seja, por um voto, que pode ser de
um jurado que sequer sabe o que está fazendo, o acusado irá passar um bom tempo na
prisão. Em relação aos demais aspectos, o júri fica praticamente igual.

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