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TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO ESTRUTURAL EM PAREDES ANTIGAS DE

ALVENARIA

João C. Almendra Roque


Instituto Politécnico de Bragança, Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Departamento de Mecânica Aplicada
Apartado 134, 5301- 857 Bragança
e-mail: jroque@ipb.pt

Paulo B. Lourenço
Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil
Azurém, 4800-058 Guimarães

INTRODUÇÃO

A presença de estruturas de alvenaria antiga está difundida por toda a Europa,


em centros históricos e urbanos, em diferentes tipos de estruturas como edifícios,
igrejas, torres, campanários, arcos, muros, fortes, muralhas, etc. O valor patrimonial,
cultural e arquitectónico que representam fez com que a sua conservação e manutenção
sejam, hoje em dia, de grande interesse para quem os tutela.
Os avanços que se realizam continuamente quer no domínio dos materiais, quer
no projecto de estruturas são pensados, essencialmente, para a aplicação directa a novas
concepções. No entanto, as construções antigas, além do valor patrimonial que
representam, ocupam áreas significativas em muitos centros históricos urbanos,
frequentemente em mau estado de conservação, pelo que urge proceder à sua
requalificação com intervenções adequadas.

TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO ESTRUTURAL

Em estruturas antigas, as intervenções estruturais devem não só repor (ou


melhorar) a segurança estrutural como também respeitar a identidade cultural e o valor
histórico das construções. O planeamento das intervenções deve adoptar uma
metodologia de aproximação às estruturas que inclua uma apreciação geral, com

1
informação de carácter qualitativo, seguida de uma análise mais rigorosa, geralmente de
carácter quantitativo, que conduza à identificação das características dos materiais e da
estrutura, bem como à origem das patologias apresentadas. À peculiaridade das
estruturas de alvenaria antigas parece adequar-se uma abordagem metodológica, por
etapas e realizada por equipas multidisciplinares, semelhante à utilizada em medicina
[6]:
• Anamnese: análise historial, documental e de outras informações relevantes;
• Diagnóstico: identificação das causas das anomalias e avaliação da segurança
estrutural;
• Terapia: escolha e aplicação da solução de intervenção;
• Controlo: acompanhamento e controlo da eficiência da intervenção.
Nesta perspectiva, e atendendo a que as intervenções em estruturas antigas, são
sempre perturbadoras do seu equilíbrio, comportando sempre um risco, a extensão das
intervenções deve ser a estritamente necessária para alcançar os objectivos traçados –
Princípio da Intervenção Mínima.
As técnicas de reabilitação estrutural podem diferenciar-se, de acordo com as
características dos materiais, em técnicas tradicionais ou inovadoras e, quanto aos
efeitos, em técnicas activas ou passivas. Relativamente aos efeitos salienta-se que
existem soluções mais vocacionadas para a melhoria das características mecânicas das
alvenarias e soluções mais aptas para a correcção de deficiências do comportamento
estrutural. Contudo, atendendo a que a maioria dos materiais utilizados nas intervenções
são, hoje em dia, diferentes dos originais, há três características fundamentais que
devem assegurar-se a este respeito [10]:
• Compatibilidade: as técnicas e os materiais utilizados devem minimizar a
alteração das características da rigidez da construção e do funcionamento
estrutural original (compatibilidade mecânico-estrutural), bem como evitar o
aparecimento de novas patologias, por apresentarem diferentes comportamentos
físicos e/ou químicos, relativamente aos materiais existentes (compatibilidade
físico-química);
• Durabilidade: a necessidade de preservação das estruturas antigas,
especialmente históricas, por um longo período de vida, justifica que as
exigências de durabilidade dos materiais a utilizar sejam mais severas que em
estruturas novas;

2
• Reversibilidade: deve ser salvaguardada a possibilidade de poder remover, sem
provocar danos nos materiais originais, os novos elementos resultantes da
intervenção, no fim da sua vida útil ou no caso de revelarem sinais de
inadequabilidade.
As técnicas de reabilitação estrutural, mais utilizadas neste tipo de intervenções
estão, geralmente, associadas a soluções com injecções, pregagens, refechamento das
juntas, desmonte e reconstrução, rebocos armados e encamisamentos. De acordo com os
resultados disponíveis da investigação, e a experiência da sua aplicação, faz-se
seguidamente uma apresentação resumida destas técnicas.
As injecções constituem uma solução de reforço “passiva” e irreversível.
Preservam o aspecto original exterior das paredes pelo que são uma solução
frequentemente utilizada em intervenções sobre edifícios de reconhecido valor artístico
e/ou arquitectónico. É particularmente indicada para a reabilitação de alvenarias de
pedra onde exista uma fina rede de vazios interiores, comunicantes entre si.
Esta solução consiste na emissão de uma calda fluída (cimentícia, hidráulica ou
de resinas orgânicas), em furos, previamente efectuados e convenientemente
distribuídos, para preencher cavidades interiores, sejam elas fissuras ou vazios
(Figura 1). A granulometria das caldas de injecção depende da dimensão das fendas ou
vazios. Em geral, é usada uma calda de ligante com água sem areia. No entanto, se os
vazios são de grande dimensão, é preferível uma argamassa ou um betão de consistência
fluída.

(a) (b)

Figura 1- Injecção de alvenarias: (a) selagem de fendas; (b) consolidação material.

A eficácia desta técnica tem sido bem sucedida em alvenarias, com um índice de
vazios compreendido entre os 2% e os 15%. Abaixo de 2% os resultados são em geral

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fracos, salvo os casos em que esta percentagem corresponda à presença de vazios de
grande dimensão. Na ausência de tais condições a injecção não é aplicável, ou é pouco
eficaz, havendo que recorrer a técnicas combinadas ou alternativas [8].
Como efeitos, salientam-se melhorias nas características mecânicas das
alvenarias com reflexos num melhor desempenho mecânico-estrutural. Parece ser a
técnica mais adequada para a reabilitação de paredes de alvenaria de pedra,
especialmente para paredes compostas, se combinada com pregagens transversais.
Requisitos como resistência, penetrabilidade e, especialmente, compatibilidade devem
ponderar-se na definição da calda adequada.
A prescrição de injecções carece de um conjunto prévio de procedimentos
experimentais, in-situ e em laboratório, para averiguar a sua adequabilidade e, afinar as
características da calda. As características e tipos de dano da alvenaria determinam as
características da calda e o processo de injecção a utilizar. De acordo com o processo
utilizado, as soluções de injecção podem classificar-se como:
- injecção sob pressão: é frequentemente utilizada em alvenarias, ainda que
degradadas, desde que possuam capacidade para conter o impulso da pressão aplicada.
A calda é injectada através dos tubos de adução procedendo, por norma, de baixo para
cima e dos extremos em direcção ao centro, para evitar desiquilíbrios que possam
afectar a estabilidade estrutural. Os pârametros correntes que o projecto de execução
deve estabelecer são o número e a distribuição de furos, a composição da calda e o valor
de pressão a adoptar na sua injecção;
- injecção por gravidade: destina-se a paredes fortemente degradadas e é realizada
mediante a emissão da calda através tubos de adução, inseridos nas fissuras, ou
cavidades da parede, ou mediante utilização de seringas hipodérmicas actuando sobre
tubos predispostos na parede;
- injecção por vácuo: é indicada para intervenções em pequenos elementos
arquitectónicos, ou em elementos de alguma forma removíveis (pináculos ou estátuas),
com requisitos de caldas muito fluídas (por exemplo as resinas orgânicas)
[8]. Neste processo, a penetração da calda faz-se por aspiração do ar nos tubos
superiores, enquanto se procede à injecção nos tubos inferiores.
Em estruturas antigas, as caldas inorgânicas, não-cimentícias, como a cal
hidráulica, devem ser preferidas por razões de compatibilidade com as argamassas
existentes. As argamassas orgânicas (poliester ou epoxy), mais fluídas, devem apenas

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ser usadas quando haja, sem comprometer a compatibilidade, maiores requisitos de
resistência.
Outra solução, frequentemente combinada com outras técnicas, é a utilização de
pregagens. Entende-se como pregagem a utilização de uma solução mecânica para
reforçar ou promover a ligação entre elementos que se pretendam colaborantes. Esta
técnica foi desenvolvida em Itália, após a II Guerra Mundial, para reforço e reabilitação
de estruturas antigas de alvenaria. Consistia na colocação de barras metálicas, com
protecção anti-corrosão, em furos de pequeno diâmetro, previamente abertos, que
cruzavam os elementos a reforçar. Após o posicionamento dos reforços, os furos eram
selados com caldas de injecção apropriadas. Esta solução generalizou-se, num vasto
campo de aplicações, com pregagens de características específicas, em reforços
localizados ou generalizados. Assim, as pregagens podem ser utilizadas para reforço da
alvenaria como material (pregagens generalizadas e pregagens transversais), para
melhorar ligações estruturais (pregagens costura) e ainda para melhorar a integridade
global da estrutura (pregagens longas).
A ancoragem/fixação das pregagens pode fazer-se por via química, com a
selagem dos furos com argamassas adequadas; por via mecânica, com adopção de
dispositivos de ancoragem exterior; ou com soluções que combinam a via química com
a mecânica.
As pregagens generalizadas podem modificar, substancialmente, as
propriedades mecânicas da alvenaria, tornado-a num material semelhante ao betão
armado, capaz de resistir a esforços de tracção e de corte, além de melhorar a resistência
à compressão (Figura 2). O seu uso tem um amplo campo de aplicações na manutenção
e reforço de estruturas de alvenaria. Existem, no entanto, algumas limitações. Paredes
ou elementos com espessuras de 0.50 m a 2.0 m podem ser reforçadas com sucesso.
Paredes em alvenaria de pedra, com espessura inferior a 0.50 m, são extremamente
difíceis de reparar, pelos danos provocados pela perfuração. Pelo contrário, as paredes
em alvenaria de blocos cerâmicos não apresentam grandes entraves à sua reparação.
Estruturas pesadas, com mais de 2 metros de espessura, raramente, necessitam deste
tipo de intervenção. Em alvenarias com argamassas fracas é conveniente uma prévia
injecção e tratamento das juntas antes de iniciar a perfuração [5].
Aconselha-se alguma prudência na avaliação e aplicação desta técnica, uma vez
que as soluções associadas são relativamente invasivas, de elevado custo e com
resultados práticos e durabilidade discutíveis [1].
5
(a) (b) (c)

Figura 2 – Pregagens generalizadas: (a) furação; (b) e (c) reforço de elementos


estruturais.

As pregagens transversais constituem uma solução, essencialmente, utilizada


para o confinamento transversal de paredes de secção composta (Figura 3). Para o
efeito, são distribuídas e instaladas barras de aço, com tratamento anti-corrosão,
transversalmente à parede, dotadas de dispositivos de ancoragem nas extremidades que
facilitam a sua amarração. No caso das barras serem roscados na(s) extremidade(s) é
possível dar um pré-esforço. A eficácia do confinamento transversal depende da
distribuição e eficácia das ancoragens. Por serem uma solução prática e eficaz no
controlo da dilatação transversal das paredes as pregagens transversais são
frequentemente combinadas com outras técnicas de intervenção.
A sua aplicação em paredes de alvenaria de pedra, irregular, apresenta alguns
problemas relacionados com a instalação e ancoragem das barras, face à frequente falta
de correspondência das juntas em faces opostas da parede. Contudo, o seu desempenho
no confinamento parece ser mais eficiente que as injecções [8].

Contorno de inflexão

Pregagem
transversal

(a) (b)
Figura 3 – Pregagens transversais: (a) confinamento da secção transversal; (b) pormenor de
ancoragem mecânica.
6
As pregagens costura destinam-se, essencialmente, a melhorar a ligação entre
paredes ortogonais (Figura 4). Geralmente, são constituídas por tirantes curtos, em aço
duro, com protecção anti-corrosão. Quando utilizados na ligação em cunhal das paredes
(Figura 4-b) podem ter maior comprimento (cerca de 4 metros ou, até atingir o vão de
janela ou, vão de porta mais próximo) [3].

(a)
(b)
Figura 4 – Pregagens costura: (a) paredes ortogonais; (b) paredes de canto.

Os recentes sistemas de pregagens curtas são constituídas por varões de aço


inoxidável, inseridos em mangas de tecido de algodão, que albergam a argamassa de
selagem, facilitando a adaptação às irregularidades dos furos e, evitando, especialmente
em paredes de grande espessura, fugas da calda com as consequentes penalizações
económicas e irreversibilidade.
As pregagens longas, por seu lado, destinam-se a melhorar a ligação entre
paredes paralelas (Figura 5), reduzindo a possibilidade de movimentos horizontais
relativos entre si. Os seus efeitos manifestam-se no comportamento estrutural global,
nomeadamente, sob acções horizontais. Os nossos antepassados materializavam já estas
pregagens utilizando os vigamentos dos pavimentos, em madeira, com dispositivos
metálicos de ancoragem nas extremidades, para melhorar quer a ligação das paredes,
quer a ligação das paredes com os pavimentos (Figura 5-c).
Uma solução de reforço/reabilitação alternativa, ou complementar, às pregagens,
nomeadamente na melhoria das ligações parede-pavimentos, é a utilização de cintas
(geralmente com bandas metálicas ou compósitos FRP) exteriores ao edifício, aplicadas
ao nível dos pavimentos e do coroamento das paredes (Figura 5-d).

7
As pregagens longas podem ter um carácter activo se forem pré-esforçadas
[Figura 5-b]. No entanto, geralmente, os níveis de pré-esforço aplicados são muito
baixos. A sua aplicação em intervenções de reabilitação de edifícios antigos correntes é
reduzida. Tal como as pregagens generalizadas, esta solução não é aconselhável para
paredes com espessuras inferiores a 50 cm, especialmente no caso das alvenarias de
pedra. Com efeito, o uso de pré-esforço, perpendicular ao plano das paredes (como é o
caso dos pregagens 3, na Figura 5-b) é condicionado pela fraca resistência ao
punçoamento das alvenarias. A sua aplicação carece de uma prévia avaliação destas
condições e da escolha da ancoragem de características adequadas, podendo justificar-se
a consolidação local da alvenaria.

(a) (b)

Parafuso Cavilha metálica de ancoragem

Esticador

Barra aço ø20mm


Chapa metálica (50 x 6 mm)
Viga madeira Soldadura
Ancoragem de Viga de madeira
extremidade

(c)
(d)
Figura 5 - Pregagens longas: (a) nº de pregagens em função das características do edifício [9];
(b) aspecto típico de reforço de um edifício com pregagens longas; (c) pregagens e ancoragens
tradicionais [4]; (d) cintagem de edifício.

O nível de compressão axial imposto pelo pré-esforço, no plano das paredes, é


também limitado pela capacidade resistente da secção ou, por mecanismos de
instabilização. A este respeito, o efeito da compressão axial, em alvenarias de pedra
irregular, com fraca qualidade de assentamento e não convenientemente confinadas,
pode agravar a sua susceptibilidade a fenómenos de instabilização.

8
As pregagens longas (pré-esforçados ou não) podem ser interiores ou exteriores
aos elementos. A colocação pelo exterior dispensa o complexo equipamento de furação
e a perturbação inerente. Esta solução é utilizada, há séculos, para contrariar a
deformabilidade de paredes sob a acção do impulso de arcos ou abóbadas. A actual
disponibilidade de equipamentos de perfuração, de grande precisão e potência, permite
a abertura de furos de pequeno diâmetro e de grande extensão, o que facilita a colocação
de reforços interiores, em posições estratégicas, para corrigir patologias estruturais.
O refechamento das juntas é uma técnica vocacionada para o restabelecimento
da integridade das fachadas e/ou melhoria da sua protecção. Os seus efeitos reflectem-se
ainda em incrementos da resistência mecânica. Esta solução preconiza a substituição da
argamassa das juntas, degradadas. Consiste na remoção parcial da argamassa (extracção
e limpeza da argamassa das juntas, numa profundidade de 5 a 7 cm); lavagem das juntas
abertas, com água a baixa pressão e, finalmente, na reposição das juntas. Se a
intervenção é programada para ambas as faces da parede, a profundidade máxima da
extracção, não deve exceder 1/3 da espessura total (Figura 6). Neste caso, para que a
estabilidade das paredes não seja prejudicada, a remoção da argamassa das juntas, na
face oposta, só deve fazer-se depois da reposição das juntas na face reparada
inicialmente.

e/3 2/3 e e/3 e/3 e/3 e/3 e/3 e/3

Figura 6 – Fases de execução do refechamento das juntas em ambas as faces da parede.

Uma variante do refechamento das juntas, só exequível em paredes de junta


regular, é a sua combinação com a disposição de armadura nas juntas (Figura 7). Esta
solução, se combinada com pregagens transversais, melhora o comportamento em
serviço das estruturas com incrementos da resistência última, mesmo em casos com
elevados estados de compressão [2].

9
(a) (b) (c)
Figura 7 – Paredes de junta regular. Refechamento das juntas reforçadas com armadura.

A possibilidade de substituição de elementos, ou partes de elementos, nas


alvenarias antigas, constitui uma vantagem para a sua manutenção. A substituição é
efectuada, mediante cuidadosa acção de desmonte e reconstrução, utilizando os
materiais originais, ou materiais novos, e argamassas pouco retrácteis como, por
exemplo, argamassas gordas de cal e areia ou de cimento, cal e areia [1]. É um processo
trabalhoso, mas muito eficaz, para melhorar a capacidade mecânica das alvenarias,
corrigir fendilhações, degradações localizadas ou, ainda, para melhorar a qualidade
construtiva das alvenarias (Figura 8).
A operação de desmonte exige um prévio escoramento, que suporte,
temporariamente, a zona que gravita sobre o elemento em reconstrução, até que este
possa, novamente, entrar em carga. Deve fazer-se por pequenos tramos e deixar-se
contornos irregulares, para facilitar a ligação com a alvenaria original.
O desmonte completo de elementos estruturais, em alvenarias de pedra sã,
requer algum cuidado construtivo na numeração prévia das peças e na sua reposição,
durante a reconstrução.

Alvenaria de boa qualidade Alvenaria de fraca qualidade

Figura 8 - Intervenções diferenciadas de desmonte e reconstrução em alvenarias de pedra


ordinária, em função da sua qualidade construtiva [9]: Alvenaria de boa qualidade - colocação
de pequenas pedras e refechamento das juntas; Alvenaria de fraca qualidade – desmonte e
reconstrução completa.
10
Os rebocos armados constituem uma das soluções técnicas mais usuais que
muito se têm desenvolvido com a experiência da sua utilização. Destinam-se a paredes
em bom estado geral, mas com acentuada degradação superficial. A execução dos
rebocos armados consiste na colocação de uma malha de armadura, fixada à parede,
através de pequenas pregagens, sobre a qual se aplica uma camada de argamassa de
revestimento com espessuras de 2 a 3 cm (Figura 9). Tradicionalmente são usadas,
como armadura, malhas de aço electrossoldadas, com varões de pequeno diâmetro, ou
malhas de metal distendido. No entanto, com o desenvolvimento de armaduras
sintéticas, como a rede de fibra de vidro, e o aparecimento das fibras curtas, sintéticas
ou de aço, dispõe-se hoje em dia de um leque alargado de opções.
Os rebocos armados reflectem-se na melhoria da ligação entre paredes, no
controlo da fendilhação, na resistência ao corte e na ductilidade. É, contudo, uma
solução que poderá ter condicionantes estéticas [7].

Figura 9 – Reboco armado. Pormenores da fixação da malha de reforço [7].

O encamisamento com betão armado é uma técnica muito invasiva, semelhante


aos rebocos armados, mas com espessuras superiores (aprox. 10 cm), e com maiores
requisitos de desempenho mecânico. Só deve prescrever-se nos casos em que se
esgotem as soluções alternativas de intervenção.
A utilização de elementos reticulados de betão (pilares e vigas) paralelos à
estrutura original, solução que assistimos com frequência, corresponde também, em
geral, a uma má solução associada à deficiente concepção das ligações entre os novos
materiais e os materiais existentes, especialmente em zonas sísmicas [1].
As fundações de estruturas antigas de alvenaria podem ser entendidas como um
prolongamento das suas paredes mestras, pelo que, algumas das técnicas referidas
11
podem, também aqui, ser utilizadas. Contudo, intervenções de reforço/reabilitação de
fundações apenas se justificam quando se constate que, combinada ou isoladamente,
existem:
- alterações das condições de utilização e/ou da própria estrutura, com
aumento de carga nas fundações;
- condições para a ocorrência, ou agravamento, de possíveis assentamentos
diferenciais;
- degradações ou insuficiência das fundações existentes.
No entanto, ainda que um diagnóstico sustentado, com o reconhecimento das
características da fundação e do solo, permita concluir da origem das patologias no
comportamento das fundações, deve ponderar-se o seu reforço face à possibilidade de
optar por outras soluções. Com efeito, as intervenções de reabilitação das fundações
compreendem três tipos distintos de actuação:
a) sobre o terreno de fundação;
b) sobre as fundações;
c) adopção de medidas correctivas como a criação de juntas estruturais,
redução de cargas, amputação de ampliações, confinamento da estrutura, etc;
que podem, contudo, ser combinadas em soluções de intervenção mistas.
As intervenções de reabilitação/reforço das fundações existentes, designadas por
recalçamentos, podem classificar-se em dois grandes grupos, em função da sua
profundidade:
a) Recalçamentos superficiais;
b) Recalçamentos profundos.
Face à vulnerabilidade das estruturas antigas de alvenaria a movimentos,
associados a descompressões ou a assentamentos diferenciais, as operações de
recalçamento devem ser precedidas de especiais medidas de segurança, que minimizem,
eventuais, situações de risco. Devem, por exemplo, ser executados com a abertura
intercalada de pequenos poços laterais convenientemente escorados. Os recalçamentos
superficiais mais frequentes relacionam-se com:
- Aumento da área de contacto solo-fundação;
- Rebaixamento das cotas de fundação;
- Melhoria local dos solos subjacentes;
- Consolidação do material de fundação.

12
Na Figura 10, apresentam-se alguns exemplos de intervenções de recalçamento
superficial.

Fundação original Pilar de


granito
Pregagens para
solidarizar a
Alvenaria da
fundação original e fundação
os recalçamentos original
Poço escorado
Recalces Nível da fundação original
adossados Caixa de betão
Alvenaria nova para
Injecção de armado
recalçamento
cimento

Injecção química
Sapata em betão armado
Camada de betão de regularização

(a) (b) (c)

Figura 10 – Recalçamentos superficiais [11]: (a) aumento da superficie de contacto; (b)


rebaixamento e aumento da superfície de contacto; (c) consolidação da sapata e do solo
subjacente com injecções confinadas por paredes-cortina de betão armado.

Por seu lado, os recalçamentos profundos justificam-se nos casos em que se


verifique:
- insuficiente capacidade resistente do solo de fundação superficial, não sendo,
economicamente viável a melhoria das fundações existentes ou do solo
imediatamente subjacente;
- dificuldade de execução de recalçamentos superficiais (níveis freáticos
elevados, solos instáveis, etc.);
- execução de ampliações sob a estrutura existente (novas caves, etc.);
- realização de obras nas proximidades (escavações, túneis, edifícios contíguos
com fundações a nível inferior, etc.) que possam afectar o bom
comportamento das fundações existentes;
- substituição ou reforço de estacas de madeira, em mau estado de
conservação.
Os recalçamentos profundos podem aplicar-se em fundações directas ou em
fundações indirectas (Figura 11). As soluções mais usuais recorrem a:
- microestacas que cruzam as fundações originais;
- estacas de betão armado:
a) instaladas sob a fundação original, através da abertura de poços
subjacentes, e colocadas em carga imediata com auxílio de macacos
hidráulicos;

13
b) para apoio das longarinas que suportam vigas transversais à fundação
existente;
c) para confinamento da fundação existente.

Pavimento
Maciços de betão
Maciço de
Travessa encabeçamento
à parede
Fundação
original
Maciços originais
a desactivar

Microestacas
Ø aprox. 15 cm Estacas de
madeira originais
Barras de reforço
microestacas Estacas de
Ø aprox. 20 mm betão armado

(a) (b)
Figura 11 – Recalcamentos profundos: (a) , com microestacas, em fundações superficiais; (b)
com microestacas ou com estacas de betão armado, em fundações indirectas
[11].

O melhoramento dos solos, recorre a técnicas geotécnicas que actuam, não


sobre as fundações, mas sobre o solo que as suporta. Por estarem fora do âmbito deste
trabalho, e tratados em literatura específica, as técnicas e soluções de melhoria dos solos
terão aqui uma breve referência. Entre as técnicas mais utilizadas destacam-se:
- Injecções do solo;
- “Jet-gouting” (injecções localizadas a alta pressão);
- Inclusões rigídas localizadas (por exemplo micro-estacas ou estacas).

CONCLUSÕES

Realça-se a importância da necessidade da prévia caracterização da tipologia das


paredes e das fundações, das estruturas antigas de alvenaria, como forma de melhor
compreender o seu comportamento mecânico e a origem de muitas das suas patologias
e, finalmente, como forma de facilitar a sua intervenção com a escolha adequada de
técnicas e materiais.

14
As soluções apresentadas não esgotam, longe disso, as possibilidades de
intervenção. Não se trata de um receituário geral, mas de uma apresentação de possíveis
soluções, a adaptar a cada caso concreto. O empenho, a responsabilidade, o bom senso
do projectista e o respeito com que se encaram as especificidades destas estruturas
devem constituir a melhor base para qualquer intervenção.
O acompanhamento dos trabalhos de intervenção, durante e após a sua execução,
é aconselhável para controlar a adequabilidade da solução e a eventual necessidade de
intervenções complementares. Finda a intervenção, é necessário preconizar um
programa detalhado com procedimentos de manutenção e intervenções futuras.

REFERÊNCIAS

1. Appleton, J., “Tecnologias de intervenção em edifícios antigos. Consolidação de


estruturas”. Contribuição para um curso de introdução à reabilitação urbana.
CCRLVT, Lisboa, Março 1993.
2. Binda, L.; Modena C.; Valluzzi M., “Bed joints reinforcement in historic
strutures”. CIB W23 - Wall Structures, 36th Commission Meeting, Porto, Portugal,
September 23-24, 1999.
3. Ferreira, J.; Appleton, J., “Reforço e reabilitação estrutural de um edifício de
habitação do século XVIII”. Ingenium, 2ª série, Nº65, Fevereiro 2002, pp. 67-72
4. Giuffrè, A., “Sicurezza e Conservazione dei Centri Storici. Il caso de Ortigia”.
Codice di pratica per gli interventi antisismici nel centro storico. Editori Laterza,
1993.
5. Hill, P. R.; David, J. C., “Practical Stone Masonry”. Donhead, London, 1995.
6. ICOMOS (International Scientific Committee for Analysis and Restoration of
Structures of Architectural Heritage), “Recommendations for the analysis,
conservation and structural restoration of architectural heritage”. Paris, September
2001.
7. Meli, R.,“Ingeniería Estructural de los Edifícios Históricos”.Fundación ICA,
México, 1998.
8. Valluzzi, M., “Comportamento meccanico di murature consolidate con materiali e
tecniche a base di calce”. Università di Padova, Italy, 2000.
9. Carocci, C., “Guidelines for the safety and preservation of historical centres in
seismic areas”. Historical Constructions 2001: Possibilities of numerical and
15
experimental techniques. Universidade do Minho, Guimarães, Portugal, 7-8-9
Novembro 2001 pp.145-165.
10. Roque, J. A., “Reabilitação Estrutural de Paredes Antigas de Alvenaria”. Tese de
Mestrado, Universidade do Minho, Setembro 2002. (disponível em:
www.civil.uminho.pt/masonry)
11. Rodríguez Ortiz, J., “Refuerzo de cimentaciones”. Evaluación y rehabilitación
estrutural de edifícios. Posibilidades de las técnicas numéricas y experimentales.
CIMNE, Barcelona, Nº 65, 3-5 Abril 2002 pp.207-220.

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