Вы находитесь на странице: 1из 15

Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia, neurociências e a medicalização do amor

Mercedes Duarte e Silva

Introdução
Esse trabalho pretende abordar algumas pesquisas sobre as neurociências relativas
a emoções, mais propriamente o “amor”, compreendidas por estas como epifenômenos
do cérebro. O arcabouço teórico da abordagem parte dos Estudos Sociais em Ciência e
Tecnologia (ESCT) para compreender discursos neuroéticos acerca de pesquisas
laboratoriais com duas espécies de ratazanas, que buscaram alterar comportamentos
poligâmicos e monogâmicos dos animais mediante intervenções neuroquímicas. Essas
pesquisas laboratoriais geraram ampla discussão de caráter neuroético, encabeçada por
um grupo de neuroeticistas da Universidade de Oxford, a respeito das possíveis
intervenções em humanos relacionadas ao que podemos nomear por medicalização1 do
amor.
Assim, abordarei uma das argumentações desses pesquisadores, em defesa de tais
intervenções, a partir dos ESCT, pois compreende-se aqui que a produção do
conhecimento científico é resultado da amálgama de instrumentos de pesquisa, elementos
estudados, animais não humanos, discursos e práticas sociais em interação. Desse modo,
é apresentada, na próxima seção, uma breve introdução da constituição do campo dos
ESCT, para situar a abordagem proposta.

Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia (ESCT): uma introdução

Os estudos em questão são considerados um campo interdisciplinar que concentra


perspectivas sociológicas, antropológicas, filosóficas, históricas, estudos de gênero e
ciência política, voltadas para a ciência e tecnologia. Esses estudos, apesar de plurais, em
termos metodológicos, temáticos e de seus objetos, possuem alguns marcadores que os
constituem como campo. A união de suas distintas abordagens está em temas vinculados
ao que lhe dá nome, como mencionado: Ciência e Tecnologia. As investigações variam
entre os condicionantes sociais do campo científico; formação dos conteúdos científicos
e tecnológicos e sua construção e organização institucionais; relação com a indústria;

1
Por medicalização, de acordo com Peter Conrad (2007), se compreende "um processo pelo qual problemas não
médicos passam a ser definidos e tratados como problemas médicos, frequentemente em termos de doenças ou
transtornos" (Conrad, 2007, p.4).

1
consumo das inovações tecnológicas; contextos de produção e difusão dos conhecimentos
científicos e tecnológicos, etc. (PREMEBIDA, et al, 2011). Tais abordagens buscam
mostrar a prática científica
como uma ação para além da pura contemplação humana na apreensão
do mundo em seu caráter material e abstrato, algo muito diferente do
que aparece em muitos livros-texto de cursos de graduação. A ciência
envolve uma socialização, uma execução rotineira de aprendizado
formal e informal. Ela exprime uma ativa diligência sobre substâncias,
seres vivos, moléculas, proteínas, compostos químicos e artefatos
técnicos, não apenas em um reflexo da realidade tal como é, mas
construindo-a através de relatos provisórios com a ajuda de máquinas e
equipamentos de análise e organização de dados. (PREMEBIDA, et al,
p. 24, 2011)

O arcabouço teórico inicial do campo tem como referência trabalhos filosóficos


como os de Max Scheler, Karl Mannheim e Ludwik Fleck, de finais do século XIX e
inícios do século XX, que trazem novas perspectivas acerca da produção do
conhecimento. Mas entre os anos de 1940 e 1960, tais estudos se consolidam com as
pesquisas de Robert K. Merton, reconhecido como fundador da sociologia da ciência e,
por alguns, como precursor dos estudos sociais da ciência (LIMA, 2002), que passam a
se caracterizar pelo estudo da dinâmica e organização das comunidades científicas, e o
lugar do cientista na sociedade. Nesse período o estudo do conteúdo científico gerado não
era considerado passível de análise pelos ESCT. Mas no final da década de 70, autores
como David Bloor, Bruno Latour, Barry Barnes, Pierre Bourdieu, Harry Collins, entre
outros, passam a analisar o conteúdo produzido pela comunidade científica, buscando
compreender a influência do contexto social nessa produção (PREMEBIDA, et al, 2011).
Como apontado por Premebida et al (2011), David Bloor e Robert Merton
encabeçam as diferentes fases supracitadas, sendo que Bloor é relativamente mais
relevante nas perspectivas contemporâneas dos ESCT. A ênfase de Merton era referente
aos processos de institucionalização, ao grau de autonomia, organização e o ethos da
comunidade científica, de modo a compreende-la como um corpo de valores e normas
autorreguladas. Bloor, por sua vez, em contraponto, influenciou abordagens que se
preocupavam com questões epistemológicas (ontológicas) e metodológicas acerca da
produção científica. Assim, dá origem ao Programa Forte em Sociologia do
Conhecimento, junto com Barnes, que tem como influencia algumas abordagens das
pesquisas de Thomas Kuhn, como é o caso da noção de paradigma.
Thomas Kuhn é autor de referência para os estudos sobre a ciência. Sua obra
Estrutura das Revoluções Científicas, escrita em 1962, causa grande impacto na filosofia

2
da ciência do século XX, e é considerada precursora da análise sociológica utilizada por
abordagens relativistas do conhecimento que influencia o Programa Forte (LIMA, 2002).
Entretanto, muitas convergências são apontadas entre Merton e Kuhn, como a
preocupação central de ambos em considerar os determinantes socioculturais nas
estruturas e desenvolvimento da ciência (KROPF e LIMA, 1999). No entanto,
diferentemente de Kuhn, Merton buscava compreender apenas os contornos institucionais
da comunidade científica, tendo como questão central compreender “em que medida a
organização social da atividade de pesquisa contribui para favorecer ou entravar o livre
exercício do método científico” (KROPF e LIMA, p. 14, 1999). Enquanto que a teoria
kuhniana pode ser considerada precursora de estímulos para pesquisas tomarem como
objeto de estudos sociológicos os conteúdos científicos, pois sua perspectiva aborda
aspectos sociais e cognitivos da ciência como indissociáveis (KROPF e LIMA, 1999).
Desse modo, o Programa Forte, originado na Escola de Edimburgo, tendo como
figuras centrais David Bloor e Barry Barnes, tomam a interpretação “radical” da noção
de paradigma2 de Kuhn para suas análises, sobretudo a partir da apropriação de Barnes
(1986), a qual concebe a atividade científica a partir de sua natureza sócio-cognitiva.
Desse modo, abrem caminho para os estudos que tomam o próprio conhecimento
científico como objeto, para além de seu caráter institucional (KROPF e LIMA, 1999).
O Programa Forte possuía quatro princípios programáticos, a saber: causalidade,
imparcialidade, reflexividade e simetria. Este último se torna, introdutoriamente, o mais
importante segundo Premebida et al (2011), o qual propunha a busca pelo tratamento
equivalente entre as concepções científicas de verdadeiro e falso e os aspectos científicos
e sociais relativos à ciência. Alguns autores, como Bruno Latour, desenvolvem este
conceito de modo a compreenderem analiticamente humanos e não-humanos (organismos
biológicos de qualquer espécie e objetos, por exemplo) de forma equivalente e simétrica
nos processos sóciotécnicos. Assim, o conceito de ator-rede de Latour toma a diversidade
de atores de modo simétrico, de forma a romper com uma perspectiva radicalmente
antropocêntrica (PREMEBIDA, et al, 2011).
No processo de construção e nomeação de um artefato tecnológico, por
exemplo, parte-se geralmente de ensaios experimentais em laboratórios
que, aos poucos, vão caracterizando as qualidades esperadas e não
esperadas de um produto, bem como seus atributos e sentidos sociais.
Estas experimentações mobilizam um conjunto de respostas incluídas

2
"toda a constelação de crenças, valores, técnicas etc., partilhadas pelos membros de uma comunidade
determinada" (KUHN, 1989, p. 218), ou seja, aspectos sociais e cognitivos partilhados grupo.

3
em um sistema de provas e considerações metodológicas para a
validação do artefato no campo científico ou, seguindo a matriz
conceitual da teoria do ator-rede, no interior das redes sociotécnicas. O
produto ou objeto antes inexistente vai substantivando-se através de um
sistema de representação que envolve uma estreita relação entre
equipamentos laboratoriais, teorias, conceitos, agendas de pesquisa,
agências de fomento, divulgação científica e debate entre os pares. A
ciência e a tecnologia emergem dessas pesquisas, não como
provenientes de uma natureza ou realidade pré-existente, e sim como
realização da prática humana, como um movimento incessante de
entrechoques e acomodações entre atores, princípios teóricos e dados
empíricos (PREMEBIDA, et al, p. 28-29, 2011)

Assim, as novas abordagens dos estudos sociais da ciência e tecnologia buscam


posições intermediárias, entre os aspectos “internos” e “externos” à comunidade
científica. E apesar de trabalharem com conceitos diversos, muitos deles compartilham
determinadas premissas, como é o caso das noções “ator-rede” (LATOUR, 2005) e
“coprodução” de Sheila Jasanoff (2004). Além de questionarem binarismos como
natureza e cultura, ambas noções convergem com a ideia de simetria, que busca romper
com qualquer hierarquização do conhecimento científico, como as concepções de
verdadeiro e falso.
A teoria de coprodução elaborada por Jasanoff (2004), a qual é apreendida por
diversos autores contemporâneos dos ESCT (JASANOFF, 2004), compreende que
conhecimentos científicos e tecnológicos constituem e são constituídos por práticas
sociais, identidades, normas, convenções, discursos, instrumentos e instituições. Assim,
propõe a análise das relações entre conhecimento científico e sociedade, a partir das
interações entre os diferentes elementos supracitados. Tal abordagem, segundo a autora,
colocaria em xeque categorias que são bases do pensamento social, como estrutura e
agência, natureza e cultura, ciência e política, Estado e sociedade (2004, p.8). Assim, é
proposto um novo idioma, o idioma da coprodução, que busca superar perspectivas
determinísticas, sejam elas sociais ou biológicas.
The dominant discourses of economics, sociology and political science lack
vocabularies to make sense of the untidy, uneven processes through which the
production of science and technology becomes entangled with social norms
and hierarchies. Still less do these conceptual frameworks allow us to evaluate
how sociotechnical formations loop back to change the very terms in which we
human beings think about ourselves and our positions in the world (Hacking
1999; 1992; Foucault 1972). (JASANOFF, 2004, p. 8).

4
Cérebro como lócus do desenvolvimento das emoções e comportamentos

Rogério Azize (2010), em sua pesquisa intitulada “A nova ordem cerebral: a


concepção de ‘pessoa’ na difusão neurocientífica”, busca compreender a difusão das
neurociências e a visibilidade que o cérebro toma para além das discussões acadêmicas.
Azize aponta que qualquer experiência, física ou moral, ganha uma explicação baseada
no cérebro. O cérebro então ganharia uma status explicativo para as sensações e
experiências cotidianas. O autor se refere a esse fenômeno por “cerebralismo”, que seria
um fisicalismo radicalizado, sendo o cérebro considerado superior em relação ao restante
do corpo. De acordo com Alain Ehrenberg (2009), Francisco Ortega e Fernando Vidal
(2007), existe uma tendência a um determinismo biológico ou neurológico que pode ser
constatado por meio da divulgação científica e da comunicação jornalística e publicitária,
que incorpora o discurso cerebralista.
Assim, segundo Ehrenberg (2009), as neurociências, ciência multidisciplinar,
teriam contribuído para este discurso. A partir dos anos 1980, as neurociências teriam
possibilitado algumas transformações. O autor se refere a uma nova maneira de tratar as
doenças neurológicas e as doenças mentais, que passam a ser consideradas como um
mesmo tipo de doença, bem como passam, as neurociências, a abordar emoções,
comportamentos sociais e sentimentos morais, de modo a torna-los objetos de
laboratórios, em função das tecnologias que permitem produzir imagens do cérebro e das
técnicas de biologia molecular (EHRENBERG, 2009).
No entanto, entre finais e inícios do século XX, como pesquisado por Otniel Dror
(2001), há uma convergência entre estudos do cérebro e fisiologia das emoções,
corporificada em laboratórios. Tais pesquisas passam a produzir experiências de dor para
investigação, as universalizando e desconsiderando a experiência subjetiva dos sujeitos e
seus contextos sócio-culturais e históricos. Como salienta Dror (2001), antes do século
XIX, as emoções eram relacionadas a fatores externos e não ao corpo. Há então uma
ruptura epistêmica em finais do século XIX, que reduz as emoções ao processo fisiológico
mecanicista, radicalizando, assim, a abordagem naturalística de Darwin concernente às
emoções. Cérebro, fisiologia e emoções passam a ser estudados em relação, através da
produção de emoções nos laboratórios, em cérebros decorticados de animais, da
confrontação entre gatos e cachorros, da mensuração da atividade cerebral de tais

5
organismos, entre outros métodos. Assim, ocorre uma exclusão das dimensões
psicológicas e afetivas dos estudos das emoções, de modo a serem, as emoções,
apreendidas de modo padronizado, e, em algumas pesquisas, como mero reflexo (DROR,
2001).
Como vemos, a compreensão do “espírito”, das emoções e comportamentos, a
partir de um substrato materialista, e a tensão entre essa concepção (acerca do “sujeito
corporal”, biológico) e o “sujeito falante” (compreendido a partir de seu contexto social)
não são novas, como apontado por Alain Ehrenberg (2009). Entretanto, com a fusão da
neurologia e psiquiatria pelas neurociências, entre outras disciplinas, com o
desenvolvimento de tecnologias, e a intensa e progressiva preocupação contemporânea
com o sofrimento psíquico, faz da perspectiva biologicista uma perspectiva prática,
produtora de terapêuticas diversas, sobretudo medicamentosas (EHRENBERG, 2009).
Ehrenberg divide as neurociências em dois programas, que possuem dois tipos de
interesses, a saber: o “programa fraco” - que se preocuparia com as doenças neurológicas
(como Parkinson e Alzheimer) e com a descoberta de aspectos neuropatológicos das
doenças mentais, como é o caso da esquizofrenia - e o “programa forte”:
que identifica, filosoficamente falando, conhecimento do cérebro e
conhecimento de si mesmo e, no plano clínico, acredita poder fundir
neurologia e psiquiatria, quer dizer, in fine, tratar as psicopatologias
neuropatologicamente e, talvez num prazo mais longo, agir mais eficazmente
sobre nossa maquinaria cerebral para aumentar nossas capacidades de decisão
e ação. Tal versão maximalista visa construir uma biologia do espírito, “uma
neurobiologia da personalidade”, dito de outro modo, uma biologia do
indivíduo (p. 2, 2009)

De acordo com Ehrenberg (2009) a busca por tratar as patologias psiquiátricas


como neurológicas e por compreender e direcionar comportamentos e emoções a partir
do cérebro, promoveria esse órgão, não somente a objeto de estudo científico, mas a uma
espécie de ator social, pois busca-se justificar os atos pelas reações neuroquímicas. Essa
compreensão, como supracitado, sai dos laboratórios e ganha a vida social, através de
uma linguagem naturalista. Desse modo, vê-se ampla divulgação dos resultados acerca
de circuitos neurais da violência, da crença, do luto, do amor, etc. (EHRENBERG, 2009).
A título de exemplo da compreensão do cérebro enquanto substrato material e da
perspectiva de defensores do “programa forte” acerca da tensão entre natureza e cultura,
nas próximas seções apresentarei projetos e discursos vinculados às neurociências que se
relacionam a intervenções nos sistemas neuronais e seus processos neuroquímicos que
dizem respeito à experiência do amor.

6
Tais projetos, que podem ser nomeados por medicalização do amor, tratam-se de
propostas emergentes relativas a intervenções neuroquímicas em indivíduos que estariam
insatisfeitos ou sofrendo por conta de relacionamentos amorosos. Essas propostas são
discutidas e defendidas por um grupo de pesquisadores e professores que compõe um
Instituto para Estudos Neuroéticos (The Oxford Centre for Neuroethics - OCN), da
Universidade de Oxford.

O cérebro como base material do amor

O grupo de Oxford, após experimentos realizados com duas espécies de ratazanas


silvestres, pelo neurobiologista norte-americano Larry Young, diretor da Divisão de
Neurociência Comportamental do Centro de Pesquisa Yerkes, da Emory University
(EUA), divulgou com entusiasmo, através de artigos e entrevistas3, os principais
resultados da pesquisa, que buscou intervir na dinâmica do vínculo e atividade sexual das
ratazanas mediante intervenção neuroquímica, que poderia ser estendida aos humanos.
Estes experimentos, de acordo com o grupo de Oxford, ensejou uma nova
compreensão do “amor”, não mais relativa a uma perspectiva lírica ou subjetiva, mas
referente a ideia de que o desejo e o vínculo afetivo são resultados de circuitos neurais
determinados, podendo ser alterados se necessário. Desse modo, o “amor” seria passível
de ser controlado mediante a biotecnologias “anti” e “pro-amor” (EARP, et al, 2015).
Young presented a view of love as “an emergent property of a cocktail of
ancient neuropeptides and neurotransmitters” (148)—a view that we shall
largely adopt for the purposes of this article (see Box 1)—and then went on to
speculate that “drugs that manipulate brain systems at whim to enhance or
diminish our love for one another may not be far away” (emphasis added). In
other words, something like an “anti-love” potion may be shifting from the
world of medieval alchemy and children’s fairy tales to genuine medical
Science (EARP, et al, p. 4, 2015)
.
O artigo If I Could Just Stop Loving You: Anti-Love Biotechnology and the Ethics
of a Chemical Breakup (EARP, et al, 2013), entre outros objetivos, apresenta os
experimentos de Young feitos com duas espécies de ratazanas. Os dois grupos de animais
são diferenciados pelos comportamentos monogâmico (ratazanas da pradaria) e
poligâmico (ratazanas da montanha). Ambos teriam a mesma origem, sendo separados,
acredita-se, por um acidente geográfico. Produzem então comportamentos sócio-sexual
díspares. A diferença comportamental se circunscreveria à variação da expressão de

3
E.g.: http://istoe.com.br/356120_O+AMOR+PODE+TER+CURA/

7
oxitocina e vasopressina e da distribuição de seus receptores em cada uma das espécies.
Assim, a expressão do receptor da vasopressina (um dos hormônios considerado relevante
para a construção do vínculo) foi concebida, nas ratazanas da montanha, sensivelmente
menor, o que explicaria o comportamento sexual poligâmico.
Wudarcyk, et al, (2013) explicam que mamíferos “socialmente monogâmicos”
possuem uma profusão de receptores de oxitocina, vasopressina e dopamina. Estas
substâncias são consideradas hormônios neuromoduladores que são liberados através do
toque, sexo, orgasmo e amamentação, desempenhando papel fundamental na formação e
manutenção dos vínculos entre parceiros sexo-afetivos e entre mães e seus filhos.
Desse modo, a manipulação no aumento dos níveis de oxitocina nas ratazanas
fêmeas e vasopressina nas ratazanas macho, da espécie polígama (da montanha),
intensificou o vínculo entre os pares. O experimento também foi feito de modo inverso,
bloqueando os receptores de oxitocina e dopamina das ratazanas fêmeas, fazendo com
que alterassem o comportamento monogâmico da preferência por copular com um único
parceiro.
Entretanto, ainda que não tenha sido comprovado de forma conclusiva que o
sistema hormonal das ratazanas seja equiparável ao dos humanos, no que diz respeito ao
apego (attachment), acreditam que a seleção natural teria “conservado” o mesmo sistema
bioquímico. Essa teoria é complementada por pesquisas que lançam mão da
neuroimagem, as quais mapeiam alterações nos níveis de vasopressina, oxitocina e
dopamina quando mães observam imagens de seus filhos ou indivíduos apaixonados
observam imagens do(a) parceiro(a) (EARP, et al, 2013).

Argumentos neuroéticos em defesa da medicalização do amor

De acordo com o grupo de Oxford as principais circunstâncias que mereceriam


intervenções se referem a relacionamentos onde um dos indivíduos sofre violência, neste
caso o vínculo deveria ser enfraquecido. E, em casos de insatisfação e mitigação do
vínculo no casamento, especialmente quando o relacionamento envolve filhos pequenos,
neste contexto o laço deveria ser intensificado. O escopo aqui é discutir somente os
argumentos, do grupo de Oxford, que defendem a intervenção no último contexto
referido.
No artigo Could intranasal oxytocin be used to enhance relationships? Research
imperatives, clinical policy, and ethical considerations, Wudarcyk, et al, (2013),

8
apresentam reflexões acerca dos experimentos que estão sendo realizados com a
administração de oxitocina. Ainda que tais experimentos em humanos sejam insipientes
e, portanto, os resultados não sejam conclusivos, os autores se antecipam e defendem a
prescrição e o uso futuros de oxitocina intranasal para a manutenção e aprimoramento
(enhancement) de relacionamentos sexo-afetivos.
O argumento central dos pesquisadores em neuroética de Oxford para defenderem
a medicalização pró-amor, diz respeito a uma tensão, considerada por eles, entre natureza
e cultura. A partir de uma perspectiva evolucionista alegam que a seleção natural teria
moldado quimicamente o cérebro de nossos ancestrais para relações monogâmicas
somente no Pleistoceno (época geológica da Terra), quando, todavia, estariam no auge da
vulnerabilidade. Assim, nessa época, a monogamia teria sido fundamental para o sucesso
reprodutivo. Entretanto, passado este período não havia mais necessidade biológica de
relações monogâmicas, de modo que a exclusividade sexual não teria se desenvolvido
entre os homo sapiens. Desse modo, o que prevê as relações monogâmicas, das
sociedades ocidentais, não seria uma predisposição psicobiológica, mas sim a cultura
baseada em um ideal moral de amor. Assim, existiria uma tensão entre valores morais
(cultura) e predisposições biológicas não-monogâmicas (natureza), sendo que tais
predisposições superariam nossos valores morais na contemporaneidade.
A superação dos valores morais, pelas predisposições psicobiológicas, seria então
responsável pelas relações extraconjugais e pelo aumento do número de divórcios. Desse
modo, apesar dos indivíduos buscarem iniciar e manter um “relacionamento saudável”,
de acordo com Wudarcyk, et al, (2013), tal intento seria difícil sustentar por conta da
insatisfação conjugal influenciada por fatores psicobiológicos referentes às
predisposições poligâmicas.
Os autores apontam que apenas 37% dos indivíduos norte-americanos asseguram
ser felizes no casamento. No entanto, defendem que um “bom casamento” traria
importantes benefícios para a saúde dos indivíduos. Entre muitos benefícios citados, eles
destacam a diminuição dos níveis de stress; taxas mais baixas de distúrbios
diagnosticados; maior expectativa de vida; diminuição de problemas de saúde
diagnosticados; maior realização na carreira profissional; diminuição de problemas
financeiros; e o aumento da própria atividade sexual como fator relevante para a
promoção da saúde (EARP, et al, 2012). Em contraste, o “casamento fracassado” traria
conflitos emocionais, problemas de saúde e na vida social.

9
Por outro lado, advogam que crianças pequenas não apenas precisam da presença
de ambos, pai e mãe, como também necessitam que o par possua um “vínculo positivo”
para seu desenvolvimento saudável, pois, caso contrário, as tensões entre o casal
poderiam gerar danos às crianças. Este seria o principal caso a ser medicalizado.

While individual couples should be free to use pharmacological interventions


to sustain and improve their romantic connection, we suggest that they may
have an obligation to do so as well, in certain cases. Specifically, we argue that
couples with offspring may have a special responsibility (EARP, et al, 2012,
p.1)

No que diz respeito às principais indicações feitas pelos autores para o uso de
“tecnologias do amor”, tais como a infusão de oxitocina, no artigo Natural Selection,
Childrearing, and the Ethics of Marriage (and Divorce): Building a Case for the
Neuroenhancement of Human Relationships (EARP, et al, 2012), fazem menção a uma
defesa anterior4, realizada por dois dos autores deste artigo mencionado, relativa ao
direito dos indivíduos escolherem moldar livremente seus cérebros e, consequentemente,
seus relacionamentos, através de substâncias farmacológicas, baseados em princípios
liberais.
The argument was liberal. In general, individuals should have the freedom to
alter their own brain states—through drugs or other means—in order to pursue
their personal goals or realize their conception of the good life, so long as they
do not harm or infringe upon the rights of others. Marital autonomy extends
this sort of reasoning to the activities of individuals who are in committed
relationships and who wish to give their mutual love a “helping hand” through
science-based neurochemical intervention (p.2).

Entretanto, no artigo supracitado os autores ampliam a defesa do uso de tais


tecnologias com base no que acreditam ser as responsabilidades e obrigações maritais.
Defendem que alguns casais devem ter o dever moral de usarem love drugs, ainda que
não advoguem um dever coagido legalmente, mas concordam que os casais devem
reconhecer as responsabilidades conjugais e com isso lançarem mão de tecnologias
disponíveis para cumprir tais responsabilidades.

But how could someone have a duty to take love drugs at all? There is a general
argument and a more specific one. In the case of marriages generally, the
individuals involved have voluntarily placed themselves under a mutual oath
to stick together “for better or worse” and “until death do us part”. The relevant
duty is simply to honor that marital oath with the full strength of one's efforts,

4
Savulescu, J., & Sandberg, A. (2008). Neuroenhancement of love and marriage: the chemicals between
us. Neuroethics, 1, 31–44.

10
instead of abandoning it too easily when things go “worse” (EARP, et al, 2012,
p.2).

Além da obrigação moral que existiria com o casamento, existe a obrigação moral
vinculada aos filhos. Desse modo, como o divórcio seria algo danoso e traumático para
uma criança, seus pais teriam a responsabilidade de melhorar seus relacionamentos em
prol, não apenas de seus votos de fidelidade ou mesmo de preservar suas saúdes, mas de
não prejudicar seus filhos (EARP, et al, 2012). No entanto, ainda que defendam que um
casamento infeliz seja menos traumático, para toda a família, que o divórcio, contemplam
casos de violência doméstica, por exemplo, os quais não deveriam ser tratados com
substâncias “pro-amor” e sim com o que nomeiam por biotechnology anti-love (EARP,
et al, 2013).
Tais tecnologias, ou biotecnologias, “anti-amor”, ainda que não estejam
circulando no mercado, se encontram em substâncias que circulam em medicamentos
como antidepressivos, as quais diminuiriam a libido de seus usuários. Mesmo que a
diminuição da libido não aja de forma seletiva, ou seja direcionada para um indivíduo
determinado, existem esperanças que no futuro essas tecnologias se desenvolvam a tal
ponto (WUDARCYK, et al, 2013).

Reflexões

Compreende-se aqui que a comunidade científica forma o que Fleck (2010)


chamou de “coletivo de pensamento”, que possui ideias comuns, compartilhadas, de
modo a contribuir para a formação de determinado “estilo de pensamento” (FLECK,
2010). O fato científico então não é fixo, pois dependeria das transformações de
pensamento relativas à sua época (FLECK, 2010). Assim, as neurociências, que
consistem na amalgama recente de disciplinas e novas tecnologias, apontam para uma
nova maneira de conceber o indivíduo, vinculada ao aprendizado de determinado modo
de ver e de fazer perguntas.
No idioma da coprodução (JASANOFF, 2004), essa nova maneira, de
determinado conhecimento científico, de compreender ações, comportamentos e
emoções, constitui e é constituída por práticas sociais, normas, identidades, convenções,
discursos, instrumentos e instituições. Existiria assim uma interação entre o ato de nomear
as coisas e as coisas nomeadas, bem como entre as coisas e as nossas concepções, de
acordo com o nominalismo dinâmico de Hacking (2009).
11
Desse modo, vê-se a linguagem das neurociências do “programa forte”
impactando sobre o modo como os sujeitos se compreendem, a partir de uma perspectiva
cerebralista, assim como certa demanda dos sujeitos por tecnologias que melhorem seus
desempenhos mediante intervenção neuroquímica (EHRENBERG, 2009).
No entanto, gostaria de ressaltar que a perspectiva dos pesquisadores de Oxford,
acerca do comportamento e emoções humanas, não se restringe a uma apreensão
neurobiológica reducionista. Como apresentado acima esses pesquisadores atribuem à
construção social a organização familiar ocidental monogâmica (obviamente não estão
considerando as sociedades não-monogâmicas). Outro traço da cultura que poderia ser
considerado por eles, é a própria intervenção das neurociências no mundo, que se proporia
controlar a ‘natureza”, ou seja, a refrear a predisposição à poligamia dos humanos. A
cultura então, nesse caso, é compreendida por um caráter instrumental, como sendo útil
para nosso domínio sobre a natureza. A cultura, considerada um desdobramento da
natureza, não seria redutível a ela, uma vez que colocaria certos limites, obstáculos, a
nossas predisposições naturais.
Essa ênfase feita acima objetiva apontar para a manutenção da compreensão
binária acerca da constituição dos indivíduos, que se referente a ideia de conceber o
humano fundado duplamente por aspectos biológicos e sociais. Não apenas vemos a
manutenção dessa dicotomia em coletivos de pensamento vinculados às neurociências,
mas também nas próprias ciências humanas contemporâneas.
Segundo Tim Ingold (1994), ainda que antropólogos se proponham superar a
dicotomia natureza/cultura, a partir de um determinismo cultural, mantém os pressupostos
que almejam destruir, pois se a dicotomia é construída culturalmente, a cultura as constrói
como opostas. Assim, existiria uma regressão infinita, de forma que essa superação
proposta, mediante ao determinismo cultural, seria ilusória. O binarismo estaria implícito,
então, a toda proposta que o utiliza como modo de comparação, o que apontaria para uma
compreensão dualista da humanidade.
Portanto, a concepção dualista, permeia tanto perspectivas vinculadas às ciências
biológicas quanto às relativas às ciências humanas. Ainda que exista a compreensão da
prevalência do discurso que lança mão de determinismos biológicos, fisicalistas, para
compreender os indivíduos, e ainda que existam teorias contemporâneas como os ESCT,
por exemplo, que buscam superar estes dualismos - mediante um novo idioma e
vocabulário - a concepção de nós mesmos num registro binário se mantém.

12
Para além dos registros possíveis de compreensão da humanidade, gostaria de
levantar a questão sobre qual o tipo de tecnologias e intervenções queremos. Construo
essa pergunta com base em uma hipótese e uma questão, relativa aos argumentos do grupo
de Oxford, que objetiva o exercício da reflexão.
Para defenderem o uso da oxitocina, os pesquisadores neuroéticos apontam para
o crescente número de divórcios e de insatisfação conjugal, o que geraria sofrimento e
desenvolvimento de inúmeras doenças e baixa do desempenho na vida cotidiana. Se
generalizarmos este sofrimento, o tomarmos como um dado e trabalharmos com a ideia
de que ele pode ser considerado um problema de saúde, podemos nos perguntar: o
sofrimento causado pela efemeridade dos relacionamentos não seria um fenômeno
passageiro? De outra forma: o ideal do amor romântico não estaria caindo por terra? Por
um lado, podemos pensar, como o grupo de Oxford, nos relacionamentos e no amor por
meio de um registro utilitarista, instrumentalista, por outro, podemos pensar
relacionamentos e o amor num registro vinculado a diferentes modelos de família, e a
ideias de “relacionamento aberto”, “amor livre”, “poliamor”, noções que cada vez mais
ganham espaço entre os jovens (SHEFF, 2005). Ambos registros prescindem, ou se
afastam, do ideal romântico de amor, o que pode nos levar a pensar que talvez o
sofrimento incapacitante ensejado pelas rupturas e insatisfação dos e nos relacionamentos
seja transitório, e por que não necessário?
Gostaria de encerrar com uma passagem de Ehrenberg (2009) que ressalta a tensão
entre os discursos acerca de nossa constituição e questiona a necessidade que teríamos
das emoções:

Os mecanismos biológicos são derivados da constituição social do homem que


engloba a sua biologia. Também não se compreende, na verdade, por que uma
das características naturais maiores da espécie humana consista em viver em
sociedade, como se fosse somente uma questão de opção, como se as
necessidades da espécie não fossem sociais. Suponhamos que se descubram,
um dia, os mecanismos biológicos da culpa, da vergonha, da angústia. Será que
não teríamos mais nenhuma razão (social e moral) para nos sentirmos
culpados, envergonhados e angustiados? Esses sentimentos desempenham um
papel lógico e antropológico tão indispensável para viver a vida humana
quanto o corpo. Somos, portanto, equipados biologicamente para vivermos
como seres sociais. Isso implica tomar como critério do mental não a
interioridade, mas a significação (Descombes, citado por Ehrenberg & Lovell,
2001), em outras palavras, a normatividade social: sem corpo não há ser
humano, mas sem vida social, sem mundo comum, tampouco. (p. 15)

13
Referências bibliográficas

AZIZE, Rogerio Lopes. A nova ordem cerebral: a concepção de ‘pessoa’ na difusão


neurocientífica. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio
de Janeiro/ Museu Nacional, 2010.

CONRAD, Peter. The medicalization of society. On the transformation of human


conditions into treatable disorders. Johns Hopkins University Press. Baltimore, 2007.

DROR, Otniel. Techniques of the brain and the paradox of emotions (ano)

EARP, B. D.; SANDBERG, A.; SAVULESCU, J. “The Medicalization of Love”.


Cambridge Quarterly of Healthcare Ethics. Cambridge, vol. 24, nº 03, p. 323-336, Jul,
2015.

EARP, B. D., WUDARCZYK, O. A., SANDBERG, A., SAVULESCU, J. If I could just


stop loving you: anti-love biotechnology and the ethics of a chemical breakup.
The American Journal of Bioethics. Vol. 13, nº11, p.3-17, 2013.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3898540/ Acesso em 25/08/2016.

EARP, B. D., Sandberg, A., & Savulescu, J. Natural selection, childrearing, and the ethics
of marriage (and divorce): Building a case for the neuroenhancement of human
relationships. Philosophy & Technology. v. 25, n. 4, p. 561-587, 2012.

EHRENBERG, Alain. O sujeito cerebral. Psicol. Clin., Rio de Janeiro , v. 21, n. 1, p.


187-213, 2009.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
56652009000100013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 15 Jan. 2017.

FLECK, Ludwik. Gênese e Desenvolvimento de um Fato Científico: introdução à


doutrina do estilo de pensamento e do coletivo de pensamento. Belo Horizonte,
Fabrefactum Editora, 2010.

HACKING, Ian. Ontologia Histórica. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2009.

INGOLD, T. Become persons: consciousness and sociality in human evolution. Cultural


Dynamics, v. 4, n. 3, p. 355-378, 1991.
Disponível em http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs13347-012-0081-8 Acesso
em 25/08/2016

JASANOFF, Sheila. States of knowledge: the co-production of Science and the social
order. International Library of Sociology. London and New York: Routledge, 2004.

KROPF, Simone Petraglia; LIMA, Nísia Trindade. Os valores e a prática institucional da


ciência: as concepções de Robert Merton e Thomas Kuhn. Hist. cienc. saude-
Manguinhos, Rio de Janeiro , v. 5, n. 3, p. 565-581, Feb. 1999 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010459701999000100002&l
ng=en&nrm=iso>. access on 16 Jan. 2017.

14
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. 3ª edição. São Paulo: Perspectiva,
1989.
LATOUR, B. Reassembling the Social: an introduction to actor-network-theory. New
York: Oxford University Press, 2005.

LIMA, N. T. Valores Sociais e atividades científicas: um retorno à agenda de Robert


Merton. In Filosofia, história e sociologia das ciências I: Abordagens Contemporâneas.
Org. Vera Portocarrero. [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994. 272 p. ISBN:
85-85676-02-7. Disponível em: SciELO Books <http://books.scielo.org>.

ORTEGA, Francisco e VIDAL, Fernando. “Mapeamento do sujeito cerebral na cultura


contemporânea”. RECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, vol.1, nº 2,
p. 257-261, Jul/Dez, 2007.

PREMEBIDA, A.; NEVES, F. M.; ALMEIDA, J. Estudos sociais em ciência e tecnologia


e suas distintas abordagens. Sociologias, Porto Alegre, ano 13, nº 26, jan./abr. 2011, p.
22-42. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/sociologias/article/view/19919

SHEFF, Elisabeth. Gender, family and sexuality: exploring polyamorous community


(Dissertação de Mestrado). Departamento de Sociologia, Universidade do Colorado,
Boulder, 2005.

WUDARCYK, O. A., Earp, B. D., Guastella, A., & Savulescu, J. Could intranasal
oxytocin be used to enhance relationships? Research imperatives, clinical policy, and
ethical considerations. Current Opinion in Psychiatry. v. 26, n. 5, p. 474-484, 2013.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3935449/ Acesso em 25/08/2016.

15

Вам также может понравиться