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e possibilidades de transição1
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PAULUS, Gervásio
RESUMO
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Este artigo toma como base a dissertação apresentada pelo autor ao Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em
Agroecossistemas. Acesse aqui a dissertação na íntegra.
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Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agroecossistemas pela UFSC. Extensionista Rural da Emater-
RS/Ascar, E-mail: gpaulus@emater.tche.br
1 A QUESTÃO
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“Conquanto seja óbvio que as fazendas freqüentemente produzam os animais de tração de que
necessitam, não podem produzir tratores agrícolas. Nem tampouco podem produzir os fertilizantes
químicos e os inseticidas” (SCHULTZ, 1965, p. 123).
retorno da burguesia ao poder, levou Marx a compará-los a um saco de
batatas, no sentido de não constituírem uma classe social, deixando-se
manipular por interesses de outros grupos:
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Esta posição é contestada por alguns autores marxistas contemporâneos, os quais argumentam que,
para entender a questão agrária em Marx, seria necessário recorrer aos escritos do “velho Marx”,
principalmente a troca de correspondência com os populistas russos, nos quais Marx admitia a
possibilidade da passagem pré-capitalista (a partir das comunas russas - os Mir), diretamente para o
socialismo, rompendo dessa forma com o esquema evolucionista histórico. Para maiores detalhes,
pode-se ver Dilemas do Socialismo. A controvérsia entre Marx, Engels e os populistas russos.
FERNANDES, R. C. (Org.). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
modernos - e continuam a exercer grande influência nos dias atuais. As
discussões recentes sobre agricultura familiar e sustentabilidade estão
fortemente marcadas - de forma explícita ou implícita - pela influência do
debate clássico a partir das concepções de Lênin e Kautski sobre as
tendências de diferenciação/reprodução do campesinato em um país
capitalista. O núcleo teórico dessas concepções gira em torno da crescente
polarização social do campesinato, com a passagem inevitável do camponês
rico a capitalista e do pobre a assalariado (LENIN, 1974), e da superioridade da
produção em grande escala comparativamente à pequena escala:
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Alexander Chayanov fazia parte de uma corrente de pensamento econômico chamada Escola de
Organização da Produção, que existiu na Rússia no início do século XX. Devemos lembrar que a
Rússia pré-revolução socialista já possuía um eficiente serviço de recenseamento e coleta de dados,
estimulando assim o desenvolvimento de estudos sobre a organização e a produção agrícola nesse
país.
proporções entre a intensidade anual de trabalho da família e o grau
de satisfação de suas necessidades. (CHAYANOV, 1974, p. 84-85)
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“Torna-se necessário, portanto, definir uma perspectiva de interpretação que destaque os vínculos
estruturais entre a situação de subdesenvolvimento e os centros hegemônicos das economias centrais,
mas que não atribua a estes últimos a determinação plena da dinâmica do desenvolvimento. Com
efeito, se nas situações de dependência colonial é possível afirmar com propriedade que a história - e
por conseguinte a mudança - aparece como reflexo do que se passa na metrópole, nas situações de
dependência das “nações subdesenvolvidas” a dinâmica social é mais complexa. (...) o centro político
da ação das forças sociais tenta ganhar certa autonomia ao sobrepor-se à situação do mercado; as
vinculações econômicas, entretanto, continuam sendo definidas objetivamente em função do mercado
externo e limitam as possibilidades de decisão e ação autônomas. Nisso radica, talvez, o núcleo da
problemática sociológica do processo nacional de desenvolvimento na América Latina.” Dependência e
Desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1975, p. 30.
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Entre eles, citamos Francisco de Oliveira, José de Souza Martins, André Gunder Frank e Caio Prado
Júnior.
consequências são amplamente estudadas e conhecidas. Aliado a isso, o
“milagre brasileiro” foi em grande medida impulsionado por uma conjuntura
econômica internacional francamente favorável - lembremos que esse foi um
período de crescimento vertiginoso da dívida externa brasileira - permitindo
assim o lastreamento ainda maior da demanda interna por bens de consumo.
Nesse quadro, a proposta de Reforma Agrária não mais estava colocada na
ordem do dia para os sucessivos governos militares, o que não significa que
não ocorreram conflitos de terra nesse período.
Em 1985, o Governo da “Nova República” lançou o Plano Nacional de
Reforma Agrária (PNRA), um plano - como todos os planos de governo - cheio
de boas intenções e, inclusive, com metas ousadas, mas com tempo de vida
reduzido. Na verdade, como os fatos estão a mostrar, os avanços na Reforma
Agrária deram-se menos em função de uma legislação mais ou menos
avançada, e muito mais como resultado da pressão organizada dos
movimentos sociais, principalmente pela ocupação de áreas improdutivas. O
fato é que a forma como ocorreu o processo de modernização da agricultura
agravou ainda mais a crise agrária. Diante das implicações dessa opção
modernizante, na história recente do Brasil, poder-se-ia perguntar se uma
mudança de padrão produtivo que desconsidere o problema agrário, ainda que
ambientalmente favorável - uma espécie de “segunda revolução verde” - não
iria aprofundar ainda mais os problemas sociais existentes. De outra parte, é
preciso reconhecer que uma reestruturação fundiária por si só não implica em
um modelo de produção agrícola diferente do padrão moderno, como se pode
constatar na estratégia produtiva de vários assentamentos de reforma agrária
no Sul do Brasil.
É dentro do quadro de debates e do contexto político acima que se
insere o processo de modernização da agricultura no Brasil, para o qual
concorreram políticas públicas de estímulo à adoção das tecnologias geradas e
difundidas a partir da Revolução Verde.
4 A CRISE DO PADRÃO AGRÍCOLA MODERNO
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Embora não seja o caso de aprofundar essa questão no presente trabalho, considero que seria muito
rica a reflexão sobre a estreita vinculação entre a concepção clássica da produção do conhecimento
científico e a consagração de um estilo de vida consumista, voltado para a suprema valorização da
posse de bens materiais e a negação dos valores filosóficos e espirituais.
Ao assumir a postura de separação entre a natureza e a sociedade, o
pesquisador ou técnico não está isento das implicações práticas daí
decorrentes.
Diante disso, é fundamental buscar novas abordagens para os
problemas agronômicos, que reconheçam na diversidade cultural um
componente insubstituível, e que partam de uma concepção inclusiva do
homem no meio ambiente.
É oportuno mencionar que, entre as várias correntes de agricultura que
destoam do que se convencionou denominar padrão moderno de agricultura,
algumas reconhecem na diversidade um componente fundamental e inserem-
se na perspectiva de uma concepção da natureza diferente da predominante
na sociedade ocidental, como veremos a seguir.
6 TRANSIÇÃO DO QUE PARA AONDE?
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As balsas eram carregadas no período de águas baixas e desciam o Rio Uruguai em direção à
Argentina na época das chuvas, quando o nível da água subia, permitindo assim a passagem do Salto
do Yucumã. Uma música bastante popular no Rio Grande do Sul, chamada Balseiros do Rio Uruguai,
retrata bem esse acontecimento em versos: “Oba, viva, veio a enchente/o Uruguai transbordou/vai dar
serviço prá gente/vou soltar minha balsa...”
Sul, que era de 36% em 1850, com 0,5% desmatado, foi reduzida para 30,7%
em 1881, 25% em 1914 e 17,5% em 1945. Ainda segundo este autor (1989,
p.39), a média anual de desmatamento em 160 anos de colonização (1822-
1982) foi de 52.192 hectares. Da mesma forma, estava ocorrendo uma perda
gradual da fertilidade do solo, decorrente da intensificação do uso do mesmo e
da redução do período de pousio, à medida que aumentava a pressão
demográfica. Um dos fatores que contribuiu para acelerar o processo erosivo
dos solos nos lotes foi o traçado dos mesmos por ocasião da demarcação,
invariavelmente no sentido do alto do espigão até um curso d’água.
Isso não significa que a agricultura tradicional, praticada sobretudo por
imigrantes europeus no Sul do Brasil no período anterior à Revolução Verde,
não tenha méritos intrínsecos, mas que é preciso relativizar a noção de que a
mesma era não apenas mais “ecologicamente correta” como ainda tinha um
grau de autonomia quase absoluto em relação aos setores do comércio e da
indústria. Esses argumentos carecem de comprovação em fatos históricos.
Sobre essa “grande” autonomia dos produtores no período que antecedeu à
modernização da agricultura, vale a pena lembrar o trabalho de Paulilo (1990),
realizado no Sul do Estado de Santa Catarina, no qual a autora mostra que a
dependência do agricultor em relação a outros agentes econômicos é histórica,
tendo iniciado muito antes da presença das agroindústrias integradoras na
região (suínos, aves e fumo). Desde o início da colonização, os agricultores
não tinham autonomia para definir os preços de seus produtos, que eram
vendidos para os comerciantes que dominavam o comércio local, os quais por
sua vez vendiam aos agricultores produtos que eles necessitavam. Embora
essa pesquisa tenha sido realizada no Sul do Estado de Santa Catarina, o
processo de ocupação da área foi muito parecido com o da região colonial do
Rio Grande do Sul, e não temos razões para acreditar que nesse último caso
tenha sido diferente.
É certo que a transição de um padrão para outro de agricultura não
ocorre de forma homogênea, e que a adoção do padrão moderno não
significou a eliminação pura e simples das formas de agricultura tradicional.
Nesse sentido, pode-se afirmar que não se trata tão somente de rupturas, mas
de rupturas e, ao mesmo tempo, continuidades. Ou seja: novos estilos
produtivos ocorrem “misturados” com formas convencionais de produzir.
Entretanto, resulta bastante evidente que quanto mais intenso foi o processo de
modernização, mais distantes ficaram as formas tradicionais de agricultura. O
mesmo pode-se dizer da concentração fundiária e da desagregação de
comunidades rurais (há casos na região Planalto do RS em que comunidades
inteiras ficaram reduzidas a quatro ou cinco proprietários das terras).
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Difel, 1985. 582 p.
PIMENTEL, D. et al. Food production and the energy crisis. Science, n.182, p.
443-449, 1973.
______. O que é questão agrária. 12. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. 114 p.