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RESUMO
O Nordeste ganhou destaque no início do século XXI pois sua produção passou a crescer
acima da média nacional, impulsionada, principalmente, pelas expansões do emprego e da
renda, do crédito ao consumo e da atração de um relevante bloco de investimentos públicos
e privados. A implementação e consolidação das políticas sociais (transferência de renda e
valorização do salário mínimo) contribuíram para o dinamismo da economia regional, assim
como o desenvolvimento do agronegócio ligado à exportação de frutas nos perímetros
irrigados da região. A dinâmica econômica recente impactou a estrutura produtiva pela
redução da importância relativa de bases produtivas tradicionais ligadas aos complexos
pecuária/algodão/policultura e sucroalcooleiro, pelo avanço significativo do terciário, da
indústria e do agronegócio, pela dinamização de bases produtivas de pequeno e médio portes
e de arranjos produtivos locais além da promoção e consolidação de projetos de investimentos
produtivos e em infraestrutura econômica. É a partir da constatação dessa dinâmica que o
artigo se propõe a caracterizar o surgimento de um processo de expansão do emprego e da
renda das famílias, que se mostrou favorável a uma redução da desigualdade de renda na
região.
ABSTRACT
The Northeast of Brazil gained prominence at the beginning of the 21st century because its
production grew faster than the national average, driven mainly by the expansion of
employment and income, consumer credit and the attraction of a relevant investment block
public and private. The implementation and consolidation of social policies (income transfer
and valorization of the minimum wage) contributed to the dynamism of the regional economy,
as well as the development of agribusiness related to fruit exports in the irrigated perimeters
of the region. The recent economic dynamics impacted the productive structure by reducing
the relative importance of traditional productive bases linked to the livestock / cotton /
polyculture and sugar and alcohol complexes, by the significant advance of the tertiary,
industry and agribusiness, by the dynamization of productive bases of small and medium size
and of local productive arrangements and, in addition, the promotion and consolidation of
productive investment projects and economic infrastructure. It is this dynamic that the article
rafael.fernandes55@yahoo.com.br
1 INTRODUÇÃO
Os anos 2000 caracterizam-se por uma retomada do papel ativo do Estado na
dinâmica da atividade produtiva, a partir do fortalecimento e ampliação de políticas
públicas e investimentos em infraestrutura social e econômica, com destaque para os
Programas de Aceleração do Crescimento I e II. Para Araújo (2017, p. 26), “a
retomada do crescimento da atividade econômica em um cenário internacional
favorável até 2008, permitiu o avanço do processo de integração regional com
desconcentração do produto em favor das regiões mais pobres, mesmo que baseado
mais em políticas implícitas do que explícitas de desenvolvimento regional”.
Esse cenário do início do século XXI é o período de interesse do presente artigo
pois é o momento em que o país deu sinais de superação da crise da dívida e da
inflação que caracterizaram os anos 1980 e início dos 1990, bem como conseguiu
apresentar certa capacidade de reativação de sua economia.
O Brasil nesse período passou por um processo de dinamização da sua
atividade econômica com ampliação e formalização do emprego, melhores condições
de vida de sua população e redução da desigualdade de renda. Processo esse,
iniciado com a expansão das exportações, que permitiu o incremento do consumo
interno, reflexo de um bom momento do mercado de trabalho, dos investimentos
econômicos e sociais e de políticas de ampliação do crédito e da renda das famílias,
a partir de programas como o Bolsa Família e a política de valorização real do salário
mínimo, e da consolidação e ampliação do Benefício de Prestação Continuada e da
previdência.
É nesses ambientes mundial e nacional favoráveis que a economia do Nordeste
ganha destaque. Sua produção passou a crescer acima da média nacional,
impulsionada, principalmente, pelas expansões do emprego e da renda, do crédito ao
consumo e da atração de um relevante bloco de investimentos públicos e privados. A
implementação e consolidação das políticas sociais (transferência de renda e
valorização do salário mínimo) contribuíram para o dinamismo da economia regional.
O crescimento das exportações de commodities favoreceu a expansão da fronteira
Tabela 1 - Taxa média anual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a preços constantes
(%a.a.) Brasil e Grandes Regiões, 2003-2015
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Norte 5,8 9,7 5,5 5,0 3,8 3,9 0,0 10,1 6,5 3,2 2,9 3,0 -2,6
Nordeste 1,6 6,7 3,8 4,6 4,7 5,4 1,0 6,6 4,1 3,0 3,1 2,8 -3,4
Sudeste -0,1 5,4 3,7 4,1 6,3 5,6 -0,6 7,6 3,5 1,8 2,0 -0,5 -3,8
Sul 2,8 5,0 -0,4 2,9 6,8 3,0 -1,1 7,6 4,3 -0,4 6,1 -0,1 -4,1
Centro-Oeste 3,3 6,4 4,5 3,5 6,9 5,7 2,5 7,0 4,6 4,4 3,9 2,5 -2,1
Brasil 1,1 5,8 3,2 4,0 6,1 5,1 -0,1 7,5 4,0 1,9 3,0 0,5 -3,5
Fonte: IBGE – Sistema de Contas Regionais. Elaboração Própria.
Tabela 2 - Taxa média anual de crescimento do Valor Adicionado Bruto a preços constantes (%a.a.)
segundo atividade econômica Região Nordeste, 2002-2015
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Agropecuária 4.5 10.4 5.1 4.2 -0.4 10.8 -4.7 0.6 10.3 -17.3 -0.1 15.2 0.5
Indústrias extrativas 3.0 3.6 -6.2 -4.4 6.1 -1.5 -4.2 8.5 6.9 0.8 -0.7 1.5 -10.6
Indústrias de transformação 8.8 9.3 3.7 2.9 4.7 4.1 -3.3 7.4 0.5 3.1 -0.3 -1.5 -5.1
Construção -13.7 16.6 -3.7 7.4 9.4 8.6 5.2 13.1 10.2 3.3 3.0 -1.5 -11.3
Transporte, armazenagem e correio -3.1 9.0 3.0 3.2 6.4 9.5 -5.2 12.3 6.2 5.5 1.9 6.5 -3.3
Alojamento e alimentação 2.2 5.4 6.7 6.3 0.4 6.6 1.7 4.0 8.4 7.1 0.5 5.2 -4.9
Informação e comunicação 1.3 1.5 7.1 0.1 5.2 9.4 -8.4 4.6 3.4 9.3 6.3 7.5 -6.1
Atividades imobiliárias 4.2 5.5 3.9 4.7 6.3 5.5 4.0 5.3 2.5 6.0 5.5 0.7 -0.5
Educação e saúde privadas 2.2 1.5 3.1 -0.5 -0.3 4.1 1.0 4.1 5.6 5.4 -0.3 5.5 -0.5
Outros serviços -0.2 5.1 4.4 2.7 0.3 7.3 6.8 -1.3 0.2 4.2 0.7 1.2 -0.7
Valor Adicionado Bruto Total 1.6 6.5 3.5 4.3 4.5 5.1 1.1 6.0 3.9 2.4 2.7 2.5 -3.2
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Agropecuária 6,4 7,2 6,7 5,5 5,1 5,2 5,4 5,2 4,8 5,1 4,9 5,3 5,0 5,0
Indústria 26,4 27,0 28,6 28,5 27,7 27,1 27,3 25,6 27,4 27,2 26,0 24,9 23,8 22,5
Indústrias extrativa 2,0 2,2 2,5 3,1 3,5 3,0 3,8 2,2 3,3 4,4 4,5 4,2 3,7 2,1
Indútrias de Transformação 14,5 16,9 17,8 17,4 16,6 16,6 16,5 15,3 15,0 13,9 12,6 12,3 12,0 12,2
Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de
3,4 3,3 3,5 3,4 3,2 3,0 2,6 2,7 2,8 2,7 2,4 2,0 1,9 2,4
gestão de resíduos e descontaminação
Construção 6,5 4,6 4,9 4,6 4,3 4,6 4,4 5,4 6,3 6,3 6,5 6,4 6,2 5,7
Serviços 67,2 65,8 64,7 66,0 67,2 67,7 67,3 69,2 67,8 67,7 69,1 69,9 71,2 72,5
Comércio, manutenção e reparação de veículos
7,7 9,5 9,9 10,8 11,2 11,7 12,3 12,7 12,6 12,9 13,4 13,5 13,6 13,3
automotores e motocicletas
Transporte, armazenagem e Correios 3,7 3,4 3,5 3,5 3,4 3,7 4,0 3,8 4,3 4,4 4,5 4,5 4,6 4,4
Alojamento e alimentação 2,0 1,7 1,6 1,6 1,9 2,0 1,8 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,4
Informação e comunicação 4,3 4,1 4,5 4,6 4,3 4,4 4,4 4,3 3,8 3,7 3,6 3,5 3,4 3,4
Atividades financeiras, de seguros e serviços
7,9 7,4 6,5 7,1 7,2 7,3 6,5 6,6 6,8 6,4 6,4 6,0 6,4 7,1
relacionados
Atividades Imobiliárias 10,7 9,9 9,5 9,3 8,9 8,8 8,4 8,7 8,3 8,4 8,8 9,2 9,3 9,7
Serviços prestados às empresas 6,5 6,4 6,3 6,3 6,7 6,8 6,9 7,3 7,4 7,6 7,9 8,0 8,1 8,0
Administração, educação, saúde, pesquisa e
16,5 16,0 15,6 16,0 16,3 16,3 16,5 17,1 16,3 16,1 15,9 16,4 16,4 17,2
desenvolvimento públicas, defesa, seguridade social
Educação e saúde privadas 3,9 3,7 3,7 3,1 3,4 3,3 3,1 3,2 3,0 3,0 3,4 3,5 3,8 4,1
Outros serviços 4,0 3,6 3,6 3,7 3,8 3,4 3,4 3,5 3,1 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0
Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Tabela 4 - Participação das Unidades da federação no total do Valor Adicionado Bruto da Região
Nordeste Região Nordeste, 2002-2015
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Sergipe 4,7 4,7 4,7 4,7 4,7 4,8 4,7 4,8 4,8 4,8 4,8 4,7 4,6 4,6
Alagoas 5,9 5,7 5,7 5,7 5,9 5,6 5,7 5,7 5,6 5,7 5,6 5,5 5,6 5,6
Rio Grande do Norte 7,5 7,6 7,4 7,3 7,2 7,1 7,0 7,0 6,9 6,9 6,8 6,8 6,8 6,8
Bahia 29,7 29,9 30,7 30,8 30,3 30,4 30,4 30,1 29,9 29,4 29,4 28,9 28,8 28,9
Piauí 4,0 4,2 4,2 4,2 4,2 4,3 4,3 4,5 4,4 4,4 4,5 4,5 4,6 4,7
Pernambuco 18,9 18,1 17,9 17,9 18,0 18,1 18,0 18,1 18,1 18,2 18,4 18,4 18,3 18,0
Paraíba 6,2 6,4 6,2 6,1 6,3 6,1 6,1 6,1 6,3 6,4 6,5 6,7 6,6 6,7
Maranhão 8,2 8,5 8,5 8,7 8,6 8,8 8,7 8,7 8,4 9,0 9,1 9,3 9,4 9,3
Ceará 15,0 15,0 14,7 14,6 15,1 14,8 15,2 15,1 15,1 15,2 14,9 15,1 15,3 15,3
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
70,0 12,0
60,0 10,0
50,0
8,0
40,0
6,0
30,0
4,0
20,0
10,0 2,0
- -
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
5 Segundo os dados do Censo Agropecuário de 2006, 82,2% do pessoal ocupado com mais de 14 anos
na agropecuária encontravam-se em estabelecimentos da agricultura familiar.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
Agrícola 36,5 37,1 36,1 36,0 33,8 32,4 30,8 29,6 27,7 25,3 24,8 25,5 23,9
Indústria 9,0 9,2 9,4 9,7 9,4 10,0 9,8 9,3 9,0 9,0 9,2 8,7 8,6
Indústria de transformação 8,3 8,4 8,7 9,0 8,8 9,3 9,1 8,6 8,3 8,5 8,6 8,0 8,0
Construção 5,9 5,2 5,4 5,4 5,9 5,9 6,9 6,9 7,9 8,5 8,9 9,0 9,1
Serviços 44,7 44,5 45,0 44,6 46,2 46,8 47,3 48,9 49,8 51,7 51,9 51,3 52,5
Comércio e reparação 15,6 16,2 15,5 15,9 16,0 16,5 16,2 17,0 17,1 17,8 17,1 17,5 18,1
Alojamento e alimentação 3,3 3,1 3,2 3,3 3,4 3,3 3,5 3,6 4,6 4,7 4,6 4,6 4,9
Transporte, armazenagem e
3,6 3,6 3,7 3,5 3,7 3,8 3,8 3,7 4,3 4,5 4,5 4,5 4,5
comunicação
Administração pública 4,5 4,6 4,9 4,7 4,8 4,8 5,0 5,2 5,6 5,7 5,7 5,2 5,1
Educação, saúde e serviços sociais 8,1 7,8 7,6 7,8 8,0 8,2 8,4 8,5 8,7 9,1 10,0 9,8 10,1
Serviços domésticos 6,3 6,0 6,4 6,4 6,7 6,8 6,6 7,2 6,5 6,4 6,5 6,0 6,3
Outras atividades 3,7 3,8 3,9 4,0 4,5 4,5 4,8 5,0 5,5 5,4 5,1 5,4 5,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
O emprego industrial expandiu-se de 9,0% para 10,0% entre 2002 e 2007. Mas,
de maneira geral, chama a atenção a relativa resiliência da manutenção do peso
relativo da ocupação na indústria de transformação nordestina no total da atividade
da região entre 2002 e 2015, especialmente em um cenário em que o país e a região
passaram a perceber uma redução do peso relativo da indústria de transformação no
total do PIB.
Certamente, a ampliação dos projetos de investimentos, da renda das famílias,
do crédito habitacional e dos incentivos advindos do programa MCMV na região
refletiram-se no aumento da participação do setor da construção no total do emprego,
apesar de o setor ter apresentado perda relativa em termos de Valor Adicionado, se
comparado os anos de 2002 e 2015 (Tabela 3).
Assim como para o VA, o peso no total da ocupação no setor de serviços
ampliou-se sensivelmente. Puxada pelos setores do comércio e reparação,
alojamento e alimentação e transporte a participação no total do emprego dos serviços
passou de 44,7% para 52,5%, entre 2002 e 2015. A elevação do peso relativo desse
setor está diretamente relacionada à expansão do próprio emprego e da renda das
famílias, que, associada ao crédito, impulsionaram o mercado doméstico da região
criando um impulso expressivo não só para a atividade produtiva como para a criação
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
Empregado com carteira 16,4 17,2 17,2 17,8 18,5 19,9 20,9 21,6 24,7 25,4 26,0 26,0 25,3
Outros empregados 21,6 20,5 21,1 21,2 21,4 20,8 21,1 20,8 19,7 20,4 19,7 19,8 19,4
Empregador 3,0 2,8 2,9 3,0 3,1 2,5 3,3 3,2 2,5 2,8 2,6 2,4 2,7
Conta própria 27,6 27,9 27,4 26,3 26,1 25,4 24,8 24,9 24,9 24,6 24,4 24,9 27,3
Trabalhador na construção
0,2 0,1 0,1 0,1 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
para o próprio uso
Trabalhador na produção
5,8 6,5 6,4 7,7 7,5 8,5 8,7 7,8 9,0 8,5 9,7 9,6 8,1
para o próprio consumo
Não remunerado 13,4 13,2 12,5 11,8 10,5 9,9 8,2 7,6 5,3 4,8 3,6 4,2 3,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
Gráfico 2 - Taxa de formalização (contribuição para instituto de previdência) Região Nordeste, 2002-
2015
100%
90%
80%
70%
60%
20%
10%
0%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
Formal Informal
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
Gráfico 3 - Evolução do valor real do rendimento médio mensal do trabalho principal dos ocupado
segundo posição na ocupação (2002 = 100) Nordeste, 2002-2015
180
170
160
150
140
130
120
110
100
90
80
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
nos diversos setores da economia nordestina foi relevante para caracterizar esse
período. No entanto, não se pode deixar de notar que, do ponto de vista da estrutura
de remuneração do mercado de trabalho regional, para além da predominância do
peso relativo das faixas mais baixas de remuneração (até dois salários mínimos), a
expansão do emprego acabou por reforçar uma característica que se mostra
historicamente estrutural do ponto de vista do mercado de trabalho.
Uma já elevada participação de ocupados com até dois salários mínimos,
64,3% em 2002, foi ampliada para mais de 72% do total da ocupação da região.
Apesar de ser razoável considerar que esse bom momento da economia e do mercado
de trabalho na região foram importantes para alterar sobremaneira a realidade de uma
das regiões mais pobres do país, pondera-se que, em termos estruturais, ainda que
se faça uma ressalva a respeito do pouco tempo, não houve alterações mais
significativas. Isso fortalece o argumento de que o cenário de crise do após 2015 foi
suficiente para reverter diversas conquistas do ponto de vista do emprego e da renda
no mercado de trabalho da região.
Tabela 7 - Participação dos ocupados na semana de referência segundo faixas de salário mínimo
Região Nordeste, 2002-2015
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
Sem rendimento 19,7 19,9 19,2 19,7 18,4 18,6 16,8 15,3 14,4 13,7 13,7 14,1 11,8
Até 2 salários mínimos 64,3 64,4 65,8 67,2 68,1 66,9 68,5 69,7 67,9 70,5 68,8 68,7 72,6
Mais de 2 a 5 salários mínimos 10,4 10,6 9,4 8,5 8,6 9,5 9,6 9,8 10,3 10,2 10,8 11,7 10,7
Mais 5 salários mínimos 4,7 4,1 4,5 3,9 4,3 4,2 4,0 4,1 4,2 3,8 4,2 3,9 4,0
Sem declaração 0,9 0,9 1,1 0,7 0,7 0,8 1,0 1,0 3,2 1,8 2,5 1,6 1,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
Gráfico 4 - Índice de Gini para o rendimento domiciliar per capita Brasil e Região Nordeste, 2002-
2015
0,603
0,600 0,590 0,594
0,581 0,580
0,593 0,571
0,584 0,566 0,566
0,576 0,572 0,548
0,550 0,564 0,544 0,540
0,557
0,550 0,545
0,535 0,534 0,521 0,517
0,529
0,516 0,510
0,500
0,450
0,400
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Nordeste Brasil
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
7 Considera-se que um esforço no sentido de mapear esse fenômeno para o Nordeste é absolutamente
válido, porém, foge ao espaço do presente artigo.
0,800
0,746
0,750 0,734 0,729
0,717 0,714
0,706
0,697 0,693
0,700 0,680
0,669 0,669
0,659
0,651 0,653 0,645 0,646 0,646 0,649
0,650 0,632
0,623
0,651 0,613
0,644 0,644 0,639
0,636 0,593 0,589 0,592
0,600 0,624
0,615 0,573
0,603
0,559
0,584 0,579 0,580
0,550 0,563
0,550
0,500
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaboração Própria.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
1º 100 85 94 99 105 112 120 119 163 169 171 173 170
2º 100 88 92 102 110 117 123 127 130 148 161 157 158
3º 100 92 93 103 113 119 123 131 150 158 162 167 147
4º 100 90 94 103 110 116 126 133 142 154 161 161 161
5º 100 97 101 110 120 126 130 138 139 147 164 160 160
6º 100 92 96 104 116 120 125 131 134 151 159 150 155
7º 100 99 103 112 130 128 132 136 136 153 140 149 143
8º 100 94 103 106 102 120 123 131 127 157 153 143 151
9º 100 93 97 99 108 110 115 122 141 152 152 132 150
10º 100 87 95 96 104 104 109 113 120 123 135 114 108
Total 100 90 94 98 108 112 116 121 129 139 145 129 132
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração Própria.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
1º 2,1 2,0 2,2 2,1 2,1 2,0 2,1 2,0 2,1 2,2 2,1 2,3 2,0
2º 3,5 3,6 3,7 3,8 3,8 3,8 4,0 3,9 4,2 4,3 4,1 4,3 4,3
3º 4,3 4,4 4,4 4,9 4,5 4,9 4,7 4,8 5,0 5,3 5,5 5,6 5,4
4º 5,7 5,4 5,7 5,9 5,8 5,6 5,8 5,9 5,9 5,9 5,6 6,0 6,1
5º 5,3 6,2 5,9 6,3 6,1 6,6 7,1 7,0 7,4 7,1 7,5 7,7 7,9
6º 7,6 7,6 7,6 7,5 8,0 7,9 8,2 8,2 8,6 8,6 8,6 9,3 9,3
7º 6,8 8,5 8,9 10,1 7,3 9,7 8,1 8,4 7,4 7,8 7,0 6,7 8,3
8º 9,4 8,8 8,7 7,3 10,2 8,3 9,2 9,0 10,1 9,7 10,1 10,5 9,4
9º 15,2 14,7 14,0 14,6 13,5 14,0 13,8 14,0 13,5 13,7 13,8 13,6 13,9
10º 39,9 38,7 38,9 37,4 38,7 37,2 37,1 36,7 35,8 35,3 35,7 33,9 33,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração Própria.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procurou-se apontar, no presente Artigo, que o dinamismo econômico
alcançado pelo Nordeste, ao proporcionar a expansão do emprego e da renda nesse
início de século, possibilitou melhorias nas condições do mercado de trabalho da
região em que se observaram: 1) a redução das ocupações sem remuneração; 2) o
aumento da participação do assalariamento com carteira; 3) a elevação do rendimento
médio; 4) a expansão do emprego formal com ampliação da formalização de postos
de trabalho; e 5) a redução no grau de concentração da renda.
Apesar desse processo se mostrar relativamente favorável, algumas
considerações são necessárias: 1) o processo observado ocorreu em paralelo à perda
relativa de participação do setor industrial no VAB e, em menor medida, no total do
emprego da região; 2) os subsetores responsáveis pelos maiores incrementos na
geração de ocupação foram a construção, a prestação de serviços pessoais e o
comércio; 3) grande parte do emprego criado circunscreve-se à faixa de rendimentos
de até dois salários mínimos; 4) não se pode afirmar que nesse processo houve
mudanças estruturais no mercado de trabalho regional (basta observar a rápida
reversão da tendência de queda da taxa de desocupação na desaceleração e no após
2015); 5) apesar de a análise se limitar ao último ano da divulgação da PNAD anual,
sugere-se que a queda do PIB em 2016 e a lenta “recuperação” após 2017 não
garantirá ao grande contingente de trabalhadores desocupados sucesso na busca por
emprego no curto prazo.
Apesar de não ser causa exclusiva do bom momento vivido pelo Brasil, o
crescimento econômico do Nordeste mostrou-se peça chave na reativação do
mercado de trabalho, especialmente em seu segmento formal, mesmo que
reconhecidas suas limitações.
A realidade é que o dinamismo econômico possibilitou a ampliação do escopo
da condução da política econômica em âmbito nacional, o que se refletiu de forma
implícita no bom comportamento da economia e do mercado de trabalho regionais. A
promoção e a ampliação de políticas públicas também tiveram um papel relevante
nesse processo, especialmente aquelas voltadas à criação de emprego, como é o
caso dos blocos de investimentos direcionados à região, às que proporcionaram a
melhoria das condições no mercado de trabalho, como a valorização real do salário
mínimo, e as orientadas para a redução da pobreza, como é o caso do Programa
Bolsa-Família, do BPC e da Previdência Rural.
Em síntese, a reversão desse cenário no período de crise e de lenta
“recuperação” tem aprofundado complexos desafios para o desenvolvimento regional
em termos de desigualdades associadas ao mercado de trabalho e à concentração
da renda.
O crescimento da atividade produtiva mostrou-se fundamental para a melhoria
da condição social e para a redução de algumas desigualdades que caracterizam a
região nordestina. No entanto, o tipo de crescimento a ser perseguido (com ou sem
concentração de renda, com níveis altos ou baixos de desemprego, com piores ou
melhores condições de trabalho etc.) é que parece ser o ponto central que deve
nortear o debate sobre os rumos para o Nordeste no seu longo caminho para o
desenvolvimento socioeconômico regional. Para além do crescimento, política
regionais que permitam mudanças estruturais na base produtiva regional, também são
importantes para se pensar no desenvolvimento da região no longo prazo.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, Juliana Bacelar de. Mercado de trabalho e desigualdade: o Nordeste
brasileiro nos anos 2000. 2017. 319 p. Tese (Doutorado em Economia) -
Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia, Campinas, SP, 2000.
RESENDE, G.M.; CRUZ, B.O.; MONTEIRO NETO, A.; CASTRO, C.N.; BARUFI,
A.M.B.; COELHO, M. H. P.; e OLIVEIRA, C.W.A. Fatos Recentes do
Desenvolvimento Regional no Brasil. Texto para discussão, n. 2054. Brasília, Rio
de Janeiro: IPEA, mar. 2015.