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São Luís
2012
16
JAMES WERLLEN DE JESUS AZEVEDO
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Sustentabilidade de Ecossistemas
da Universidade Federal do
Maranhão para obtenção do Titulo
de Mestre em Sustentabilidade de
Ecossistemas.
Orientados: Prof. Dr. Antônio
Carlos Leal de Castro.
Co-orientador: Prof. Dr. Marcio
Costa Fernandes Vaz dos Santos.
São Luís
2012
17
Azevedo, James Werllen de Jesus.
Assoreamento em ambientes costeiros e seus efeitos sobre a
sustentabilidade: Estudo de caso da embocadura estuarina de São Luís
- MA.
124 f.
Impresso por computador (Fotocópia)
Orientador: Antônio Carlos Leal de Castro
Co – orientador: Marcio Costa Fernandes Vaz dos Santos
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Maranhão.
Departamento de Oceanografia e Limnologia. Programa de Pós-
Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas, 2012.
1. Assoreamento – Dinâmica Costeira 2. Sustentabilidade 3.
Batimetria. I. Título
CDU 502.13: 566.51 (812.1)
CDU:999 (999.99)
18
Dedicatória
19
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus e Meishu Sama, por está todos os dias me acompanhando,
protegendo e dando-me permissão para superar os obstáculos da vida.
Aos meus pais Juarez Azevedo e Marinalva de Jesus Azevedo e aos meus irmãos
Jaqueline, Alessandra, Margarida, Felix e Júlio pelo apoio, confiança, amizade e
distração em todos os momentos.
À minha querida e amada esposa Tatiane, por está sempre ao meu lado me apoiando e
incentivando em toda a minha jornada, muitas das vezes me dando motivação para
nunca desistir.
Ao “grande mestre”, professor Antonio Carlos Leal de Castro pela oportunidade,
orientação, confiança, apoio, companhia e acima de tudo, amizade.
Ao meu co-orientador Professor Marcio Vaz pelo esforço em disponibilizar os dados e
informações, os quais sem eles, o trabalho não teria se concretizado, além de deixar a
disposição, o espaço da AMBITEC para o aprendizado das técnicas de
geoprocessamento.
A todos os professores da graduação e pós-graduação que me ofereceram momentos de
discussão e pensamento criativo, não só nas aulas como também fora delas.
À Gizelle Cardozo pelo apoio fundamental na utilização das ferramentas de
geoprocessamento, obrigado.
A todos os amigos da Graduação e Mestrado em especial aqueles que compartilharam
aprendizados em sala de aula.
Aos amigos funcionários do Labohidro, Marcelo, Leonardo, Helen, Vivian, Moacir,
Amaral, Denílson, Henrique, Guimarães, Junior, Floripes, Marcelo e Zezinho, pelas
ajudas, conversas descontraídas e pela amizade.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pela bolsa
de estudo concedida.
E a todos que de alguma forma colaboraram para a realização deste trabalho.
20
LISTAS DE FIGURA
FIGURA 01: Componentes primários envolvidos na morfodinâmica costeira (adaptado
de BARROSO, 2009). .......................................................................................................20
FIGURA 02: Definição das escalas temporal e espacial na evolução costeira, com
exemplos de feições sedimentares. ...................................................................................21
FIGURA 03: Morfologia geral de uma embocadura estuarina, segundo Davis (1994). ...23
FIGURA 04: Classificação dos deltas de maré vazante mostrando as variações
produzidas pela interação de processos gerados por maré e ondas. .................................24
FIGURA 04: Continuação... .............................................................................................. 25
FIGURA 05: Diagrama esquemático da interação entre as correntes de maré e a deriva
litorânea em uma embocadura, segundo Oertel (1988). ....................................................26
FIGURA 06: Processos envolvidos na migração dos pontais arenosos. A) largura e
direção de expansão de um pontal e B) cenário para o crescimento de um pontal,
adaptado de Petersen et al. (2008). ....................................................................................29
FIGURA 07: Posicionamento do Banco da cerca (indicado pela seta cinza) e do banco
do cotovelo (indicado pela seta escura), nas proximidades da embocadura estuarina de
São Luís. ............................................................................................................................ 33
FIGURA 08: Banco de São Marcos. ................................................................................34
FIGURA 09: Banco da Minerva. ...................................................................................... 35
FIGURA 10: Cotas consideradas num levantamento batimétrico realizado com
ecobatímetro. ....................................................................................................................40
FIGURA 11: Mapa da Área de Estudo. .............................................................................43
FIGURA 12: Bacia do Bacanga. ...................................................................................... 45
FIGURA 13. Ocupação da bacia hidrográfica do Rio Anil. .............................................48
FIGURA 14: Flutuador que será utilizado durante a trajetória de derivadores (A) e
Flutuador lançado na foz do Bacanga durante a campanha de maio de 2011 (B). ............50
FIGURA 15: Equipamento utilizado para realização dos levantamentos batimétricos. ...53
FIGURA 16: Disposição das linhas de sondagem. .......................................................... 53
FIGURA 17: Nível da maré para o dia 20/04/2011, conforme dados do DHN. ...............55
FIGURA 18: Correlação entre hora e cota de maré referente ao primeiro intervalo de
preamar para baixamar. .....................................................................................................55
FIGURA 19: Mosaico e vetorização das imagens aéreas da Embocadura Estuarina de
São Luís. Sobrevôo ocorrido em fevereiro de 2011. ........................................................ 58
21
FIGURA 20: Mosaico e vetorização das imagens aéreas da Embocadura Estuarina de
São Luís. Sobrevôo ocorrido em agosto de 2011. ............................................................ 58
FIGURA 21. Carta de Mouchez – 1867. ..........................................................................63
FIGURA 22. Hidrografia do Rio Bacanga e Rio Anil – Antigo Porto de São Luís –
1947. .................................................................................................................................64
FIGURA 23. Sondagem de 1966 com correções até 1968. ..............................................65
FIGURA 24. Sondagem de 1974. ..................................................................................... 66
FIGURA 25. Detalhe da Carta 430 – Sondagem de 1974. ...............................................67
FIGURA 29. Batimetria da embocadura de São Luís para o ano de 1947. ...................... 76
FIGURA 30. Batimetria da foz para o ano de 1966. ........................................................ 77
FIGURA 31. Batimetria da foz para o ano de 1984. ........................................................ 78
FIGURA 32. Batimetria da foz para o ano de 2006. ........................................................ 79
FIGURA 33. Batimetria da foz para o ano de 2011. ........................................................ 80
FIGURA 34: Taxas anuais de assoreamento por período na Embocadura Estuarina de
São Luís (linha escura). Taxa anual por arrasto oriundos das praias de São Luís em
direção à Embocadura (linha tracejada). ..........................................................................81
FIGURA 35a: Muro de contenção em frente ao hotel Brisamar, localizado na
extremidade leste da praia da Ponta da Areia. ..................................................................82
FIGURA 35b: Detalhe do muro de contenção na extremidade leste da praia da Ponta da
Areia. ................................................................................................................................ 83
FIGURA 36. Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 1999, B - situação em 2005. .....84
FIGURA 37: Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 2007, B – projeção para 2027. .84
FIGURA 38: Evolução dos processos erosivos na extremidade oeste da praia da Ponta
da Areia. ............................................................................................................................ 85
22
FIGURA 39: Ponto de erosão localizado a sotamar do espigão costeiro, extremidade
oeste da praia da Ponta da Areia, em frente ao corpo de bombeiros. ............................... 86
FIGURA 40: Processos erosivos na praia da Ponta da Areia, disposto cerca de 300 m a
barlamar do espigão. .........................................................................................................86
FIGURA 41. As distintas taxas de erosão na porção intermediária da Ponta da Areia. A
linha vermelha indica a linha de preamar de 2007 e a foto é de 1988 (AERODATA 88). 87
FIGURA 42. Redução de espelho d´água contribuindo para o volume de prisma de maré
no estuário dos rios Bacanga e Anil. ................................................................................88
FIGURA 43. Transporte natural de areia para a foz dos rios Bacanga e Anil como
conseqüência da ação de correntes da deriva litorânea. ...................................................90
FIGURA 44: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de vazante. ...................................91
FIGURA 45: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de enchente. .................................92
FIGURA 46: Pontos de lançamento dos flutuadores para a obtenção da velocidade das
correntes. Azul – flutuadores lançados em meia maré vazante. Laranja – flutuadores
lançados em meia maré de enchente. ................................................................................93
FIGURA 47: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 1947. ............................................................................................. 94
FIGURA 48: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2006. ............................................................................................. 95
FIGURA 49: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2011. ............................................................................................. 96
FIGURA 50: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na foz dos
rios Anil e Bacanga. Ambas as fotos tiradas em maré baixa. A Ponta da Areia está na
parte superior da foto e a Ponta do Bonfim na sua porção inferior. .................................97
FIGURA 51: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na praia do
Boqueirão e Ponta da Guia. .............................................................................................. 98
FIGURA 52. Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama nas praias da
Ponta da Areia e São Marcos. ............................................................................................ 99
FIGURA 53: Visualização do efeito da redução do espigão hidráulico na Embocadura
de São Luís. A imagem a esquerda representa a situação do canal em foto aérea de 1967
(linha azul escuro é o limite de bancos em baixa-mar), e à direita o comprometimento
do canal em foto aérea de 1999. ...................................................................................... 101
FIGURA 54: Rampa Campos Melo em 1908. ................................................................ 105
FIGURA 55: Terreno localizado na proximidade da praia da Ponta da Areia, com
potencialidade para transformar em condomínio multifamiliar. .....................................110
23
FIGURA 56: Rede de condomínios construídos na península da praia da Ponta da Areia
em fase finalizada, e na extremidade direita da foto é apresentado outro, ainda em fase
de construção. .................................................................................................................111
24
LISTA DE TABELA
TABELA 01: Cotas aproximadas para alguns limites de unidades de paisagem da região
entre marés utilizadas para completar o modelo digital de terreno dos estuários dos rios
Anil e Bacanga. .................................................................................................................59
TABELA 02: Volumes hídricos abaixo da cota 6,5 m DHN (Cota 4 m IBGE), que
representa o limite da preamar máxima para a foz dos rios Anil e Bacanga. ...................69
TABELA 03. Medições e estimativas de volumes de sedimento assoreado e erodidos
para a área de estudo na foz. ............................................................................................. 70
TABELA 04. Volumes de sedimento assoreado por classe de cota. Estão realçados em
negrito as classes com maior assoreamento por período. .................................................75
TABELA 05: Estimativas do valor econômico anual dos recursos ambientais para a foz
dos rios Anil e Bacanga. ................................................................................................. 107
TABELA 06: Valor venal de terrenos e edificações residenciais e comerciais para a
Península da Ponta da Areia. ........................................................................................... 109
TABELA 07. Estimativa de população residente. ........................................................... 109
25
LISTA DE SIGLAS
UTM – Universal Transversa de Mercator
GPS – Global Positioning System
DHN – Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica
MMA – Ministério do Meio Ambiente
CHM – Centro de Hidrografia da Marinha do Brasil
ZCIT – Zona de Convergência Intertropical
MTD – Modelo Digital de Terreno
AVEN – Associação de Vela e Esportes Náuticos
GIZC – Gestão Integrada da Zona Costeira
ZC – Zona Costeira
26
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................16
27
5.3. Efeitos do Assoreamento na Sustentabilidade Ambiental .........................................100
5.3.1. Evolução e consequências do assoreamento da Embocadura de São Luís.............100
5.3.2. Efeitos do assoreamento e dos processos erosivos sobre a sustentabilidade
ambiental, social e econômico da Embocadura de São Luís. ...........................................103
6. CONCLUSÃO ..............................................................................................................115
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................118
28
RESUMO
A costa brasileira e de muitos outros países foram ocupadas sem levar em conta a
dinâmica costeira, e estas intervenções antrópicas fez surgir nas ultimas décadas graves
problemas de assoreamento e erosão nestas áreas. Entre as regiões que sofrem com o
processo de assoreamento encontra-se a embocadura estuarina de São Luís e devido as
graves consequências destes processos, tais como comprometimento da navegabilidade
e perda de obras civis, torna-se necessário retratar as mudanças ocorridas nesta área,
sobretudo associadas à dinâmica costeira e às principais alterações na sua configuração
natural. Neste sentido a presente pesquisa objetivou avaliar o processo de assoreamento
na embocadura estuarina de São Luís e a influência deste no comprometimento da
sustentabilidade ambiental local, validando estimativas realizadas em estudos pretéritos.
A área em questão estende-se da Ponta da Guia até a Ponta da Areia compreendendo os
braços de mar do Bacanga e Anil, localizados na margem leste da Baía de São Marcos.
A metodologia consistiu em levantamentos relacionados à direção e velocidade das
correntes com auxílio de flutuadores e levantamentos batimétricos. A evolução
morfológica foi obtida a partir da digitalização e vetorização das cartas náuticas de
1947, 1966, 1974 e 1984, levantamentos batimétricos realizados em 2006, pela VALE,
e imagens de fotos áreas datadas de 2011. Além disso, procurou-se associar os cenários
de assoreamento ao comprometimento da sustentabilidade ambiental, econômica e
social das bacias hidrográficas investigadas. Os resultados indicaram um processo de
preenchimento sedimentar que coincide com as principais intervenções que ocorreram
na foz dos rios Anil e Bacanga. Por outro lado, observou-se uma forte tendência
evolutiva, atingindo valores na ordem de 30.000.000 m3 em períodos que antecedem aos
determinados em estudos anteriores. A dinâmica das correntes indicaram velocidades
sempre abaixo de 0,5 m/s. O cenário futuro da embocadura estuarina de São Luís
sinaliza um fluxo reduzido na renovação da água dos estuários devido ao seu
assoreamento, evidenciando claramente uma redução na capacidade de transporte de
sedimento e na diluição dos valores de concentração em todos os padrões de drenagem,
comprometendo a sustentabilidade ambiental, econômica e social das bacias dos rios
Anil e Bacanga.
Palavras – chave: assoreamento, embocadura estuarina de São Luís, dinâmica costeira,
sustentabilidade, batimetria, Ponta da Areia.
29
ABSTRACT
The Brazilian coast and many other countries were occupied without regard to coastal
dynamics, and these human interventions in recent decades has raised serious problems
of sedimentation and erosion in these areas. Among the regions that suffer from siltation
process is tidal inlets of São Luís and because of the serious consequences of these
processes, such as impairment of navigability and loss of civil works, it is necessary to
portray the changes at the tidal inlets of São Luís, particularly associated with coastal
dynamics and major changes in the natural setting of the area. This study aimed to
evaluate the process of silting in the tidal inlets of São Luís and its influence on the
commitment of local environmental sustainability, validating estimates in the studies
have done. The area in question extends from the Ponta da Guia to Ponta da Areia,
including rivers Anil and Bacanga, located on the eastern shore of the São Marcos By.
The methodology consisted of surveys related to the direction and speed of currents
with the aid of floats and bathymetric surveys. The morphological evolution was
obtained from the scanning and vectorizing of charts, 1947, 1966, 1974 and 1984
bathymetric surveys conducted in 2006, by Vale, photos and images from areas dating
back to 2011. We tried to link the scenarios to the silting commitment to environmental
sustainability, economic and social development of hydrographic basins investigated.
The results indicated a process of sedimentary fill that matches the key interventions
that occurred in the rivers Anil and Bacanga. Also there was a strong evolutionary trend,
reaching values of around 30.000.000 m3 in shorter periods than those determined in
previous studies. The dynamic current speeds when indicated below 0.5 m / s. The
future scenario of the tidal inlets of São Luís indicates a reduced flow of water renewal
in estuaries due to the silting up, clearly showing a reduction in the capacity of sediment
transport and dilution of the concentration values in all drainage patterns, compromising
environmental sustainability, economic and social development of hydrographic basins
Anil and Bacanga.
Keywords: siltation, tidal inlets of São Luís, coastal dynamics, sustainability,
bathymetry, Ponta da Areia.
30
1. INTRODUÇÃO
A costa brasileira e de muitos outros países foram ocupadas sem levar em conta
a dinâmica costeira. Esta deve ser analisada em diversas escalas espaciais e temporais.
Desde escalas regionais e de milhares de anos, para compreender o arcabouço geológico
e a evolução das zonas costeiras após a última grande glaciação, até escalas locais e
períodos de dias (ANGULO, 2004).
Em escalas regionais e nos últimos 6.000 ou 7.000 anos o mar tem permanecido
mais estável, variando, em geral, menos que 10 m. Contudo, estas variações são
suficientes para provocar mudanças dramáticas na zona costeira. Por exemplo, grande
parte dos balneários brasileiros foram construídos sobre terrenos que emergiram há
menos de 5.000 anos (ANGULO, 2004).
31
sedimentação, circulação das águas, correntes de maré e na qualidade da água,
provocando modificações na dinâmica costeira.
Fragoso Junior et al, (2008) avaliou que no Brasil, grande parte dos estuários
encontram-se em processo de evidente preenchimento sedimentar. Neste quadro,
encontra-se a região de estudo, que é a Embocadura Estuarina de São Luís, localizada
na capital maranhense, mais precisamente, no interior da Baía de São Marcos. A região
da Embocadura é formada pela foz do rio Anil e Bacanga e de acordo com os dados da
Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN, 2011), sofre grandes variações
de níveis d’água, que ultrapassam os 6,0 m de amplitude, entre a baixa-mar e a preamar
de sizígia, originando correntes hidráulicas de magnitudes consideráveis no interior do
estuário. Na Embocadura Estuarina de São Luís, as correntes externas são
condicionadas pela circulação proveniente das correntes de enchente e vazante da Baía
de São Marcos (HM, 2007).
32
Estudos realizados pela VALE/FSADU (2007) assinalam que a embocadura
associada à foz do rio Anil e Bacanga teve, a partir da década de 1960, o equilíbrio do
balanço sedimentar alterado, afetando também os processos litorâneos na Praia da Ponta
da Areia. Esse desequilíbrio se deve basicamente às intervenções realizadas no estuário,
sendo a principal delas a implantação da Barragem do Bacanga, que reduziu
significativamente o prisma de maré, e conseqüentemente as vazões e velocidades das
correntes de maré, ocasionando erosão e assoreamento nas áreas adjacentes.
33
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
34
TOPOGRAFIA E
DINÂMICA DE FLUÍDOS ESTATIGRAFIA
Δt
TRANSPORTE DE SEDIMENTO
35
4. Geológica na qual a importância de flutuações individuais é pequena,
sendo resultado de uma média das condições ambientais sobre milênios.
FIGURA 02: Definição das escalas temporal e espacial na evolução costeira, com
exemplos de feições sedimentares.
36
embocadura do estuário, onde este se encontra com o mar (HASLETT, 2000). A
morfologia de um estuário e de sua embocadura é determinada ao longo do tempo pela
dinâmica do transporte de sedimentos e esta por sua vez depende da propagação das
marés no estuário, do aporte fluvial e da atuação das ondas sobre o estuário.
37
acordo com o processo costeiro predominante, estas feições serão mais ou menos
desenvolvidas. Em embocaduras dominadas por marés, o delta de maré vazante será
bem desenvolvido e o delta de maré enchente será pequeno ou quase inexistente. Já em
canais dominados por ondas, o delta de maré vazante sofrerá influência de forma direta
e, portanto, será pequeno, pois seus sedimentos serão erodidos pelas ondas e estes
passarão para dentro do canal através dos fluxos de maré, sendo acumulados no delta de
maré enchente que será bem desenvolvido neste caso.
38
FIGURA 04: Classificação dos deltas de maré vazante mostrando as variações
produzidas pela interação de processos gerados por maré e ondas.
39
FIGURA 04: Continuação...
40
A interação entre os padrões de transporte de sedimentos em uma embocadura e
a deriva litorânea foi descrita por Oertel (1988). Segundo este autor, nos períodos de
estofa os sedimentos são depositados no canal podendo este sofrer assoreamento; nos
períodos de maré enchente, os sedimentos são transportados para dentro do canal e pode
ocorrer o aumento do esporão arenoso associado aos bancos dentro do canal, reduzindo
a largura deste; e nos períodos de vazante, os sedimentos do canal e da deriva litorânea
são transportados e acumulados no delta de maré vazante (Figura 05).
41
processos hidrológicos, tais como, Le Conte (1905); O’Brien (1931); O’Brien (1969);
Escoffier (1940); Bruun & Gerritsen (1960); Jarret (1976); Walton & Adams (1976);
Hume & Herdendorf (1988); Van-Kreeke (1992); Barroso (2009).
42
Pontais arenosos podem ser formados pela ação construtiva das ondas sobre um
fundo suavemente inclinado onde o transporte ao longo da costa constrói um perfil
costeiro e, em cujo caso o pontal assemelha-se com uma barreira e tende a ser normal às
ondas que chegam (PETERSEN et al., 2008), ou as correntes levam o sedimento para
dentro de uma feição deposicional, subaérea, prolongada estendendo-se para fora de um
promontório em erosão ou outra fonte de areia. Para a evolução de um simples pontal
arenoso, o suprimento de material produzido por um promontório é suficiente para ser
depositada em uma feição mais ou menos paralela à linha de costa. A areia transportada
ao longo do pontal é depositada em sua extremidade sobre o fundo, permitindo o
crescimento e/ou aumento do pontal. Porém, se este suprimento de areia for baixo,
existirá uma tendência desse material ser transportado para dentro de uma baía,
formando uma praia no interior desta ao invés de um pontal, ou ainda se essa taxa for
realmente muito pequena, formará somente uma praia na entrada da baía (DEAN &
DALRYMPLE, 2004).
43
FIGURA 06: Processos envolvidos na migração dos pontais arenosos. A) largura e
direção de expansão de um pontal e B) cenário para o crescimento de um pontal.
44
Logo, percebe-se como são complexos os processos referentes à dinâmica em
embocaduras estuarinas e como toda problemática que tende a ocorrer nessas áreas
costeiras, pelo menos em boa parte, são consequências da contribuição antrópica, que
através de suas atividades, acabam por alterar os padrões de circulação e do volume de
sedimentos colocados à disposição do ambiente costeiro, contribuindo para o aumento
da instabilidade dessas áreas.
Os bancos de areia são definidos como corpos costeiros arenosos que formam
uma sobre-elevação no leito, caracterizada por um contorno batimétrico fechado. São
encontrados em estuários e áreas costeiras onde há abundância de areia, e o regime
hidrodinâmico é capaz de transportá-la. Os bancos tendem a ocorrer em grupos,
ocupando extensas profundidades tanto em estuários como em embocaduras de maré e
na plataforma, quando solitários ocorrem próximos à costa ou abrigados por
promontórios, ilhas ou bancos rochosos submersos (BELDERSON et al, 1982). Eles
são potenciais fornecedores de agregados marinhos; provêem um sistema de defesa
costeiro natural, mas também representam uma ameaça à navegação, além disso, são
regiões preferenciais de acúmulo de microorganismos.
Com o intuito de facilitar o estudo destas feições morfológicas, Dyer & Huntley
(1999) estabeleceram um sistema classificatório qualitativo baseado numa relação
genérica entre diferentes bancos em função de sua origem e desenvolvimento. Sua
classificação é composta de três tipos principais de bancos e vários subtipos conforme
demonstrado a seguir:
45
Tipo 1. Bancos de plataforma (open shelf ridges)
Bi) Bancos de foz estreita com recessão - Deltas de maré vazante (with recession - ebb
tidal deltas).
Bii) Bancos de foz estreita sem recessão - Bancos conectados à costa (without recession
– shoreface connected ridges)
headland)
46
B) Bancos alternados - promontório com recessão (alternating ridges – recessional
headland)
Banco da Cerca
Banco do Cotovelo
Trata-se de um alto fundo de areia que deita da Ponta da Areia para NW por
cerca de 0,2 m.n.,e daí estende-se por cerca de 1 m.n. para NE, descobrindo-se na
baixamar.
1
Milhas náuticas é uma unidade de medida de comprimento ou distância, equivalente a 1.852 m, utilizada
quase exclusivamente em navegação marítima e aérea e na medição de distâncias marítimas.
47
FIGURA 07: Posicionamento do Banco da cerca (indicado pela seta cinza) e do banco
do cotovelo (indicado pela seta escura), nas proximidades da embocadura estuarina de
São Luís.
48
FIGURA 08: Banco de São Marcos
Banco de Minerva
49
FIGURA 09: Banco da Minerva
2.3. Batimetria
50
Durante as últimas décadas, um desenvolvimento considerável nos
equipamentos e métodos utilizados na hidrografia foi observado. Em relação ao
posicionamento da embarcação, a utilização do GPS configurou-se como um grande
avanço em razão de suas características superiores aos sistemas anteriores, sendo o
sistema de posicionamento mais utilizado pela comunidade marítima. As vantagens do
GPS consistem na sua exatidão no posicionamento, cobertura global e disponibilidade
ininterrupta, inclusive independente das condições meteorológicas.
51
ser conjugado a um ecobatímetro, pois não fornecem a profundidade da área varrida,
somente as variações significativas do fundo.
52
lateral ou ecobatímetro multifeixe de alta resolução, de forma a se obter uma
ensonificação integral de fundo (100%);
53
• Áreas de aproximação a portos e ancoradouros e outras águas usadas regularmente
para a navegação devem ser hidrografadas em uma escala igual ou maior a 1 : 20.000,
mas nunca menor que 1 : 25.000.
Em relação aos níveis de referência, três devem ser considerados, que estão
relacionados entre si, sendo eles: as referências de nível (RN), o zero da régua e o nível
de redução. A referência de nível pode ser um ponto exterior ao levantamento,
materializado com uma marcação, ao qual estará amarrado todo o levantamento
batimétrico. A partir das RN, as coordenadas, latitude, longitude e altitude dos diversos
pontos do levantamento podem ser referenciados.
O zero da régua corresponde ao menor nível que pode alcançar o corpo de água
sem perda da medição. A régua não precisa estar instalada necessariamente no ponto
mais baixo do corpo de água a ser medido, porém esta deve estar situada de maneira que
compreenda todo o intervalo de variação de nível do corpo de água. O nível de redução
é considerado como nível mínimo esperado do corpo de água, podendo ser influenciado
pelo regime de água de um rio e das situações extremas de maré. O nível de redução é
considerado como o zero para determinação das alturas de maré.
54
As profundidades obtidas por ecobatímetro se referem às alturas entre o casco da
embarcação, onde está instalado e o fundo do leito do reservatório. Para o cálculo das
profundidades reais do reservatório, deve ser considerado o valor do calado do navio
(Figura 10). Outro ponto imprescindível é a redução das sondagens, que consiste na
correção dos valores de nível de água medidos descontando-se as elevações de maré
ocorridas durante o instante da medição.
55
Portanto, a sequência exata dos métodos estabelecidos, permitirá o
enquadramento mais próximo do real para qualquer corpo hídrico investigado, gerando
resultados que servirão de subsídio para discutir quaisquer processos que comprometam
as zonas costeiras, estuarinas, rios, lagos e etc.
56
3. OBJETIVOS
57
4. METODOLOGIA
58
4.1.1. Bacanga
59
máximas em torno de 2,5 a 3,5 m (DHN). De fato, com a inauguração da Av. Presidente
Médici (atual Av. dos Africanos) em 1973, que margeava o reservatório pela sua borda
direita e prolongando-se ao longo do Rio das Bicas, apresentando em alguns trechos
cotas inferiores a 6,0 m (DHN), no processo de ocupação urbana desenvolveram-se
bairros em áreas que seriam anteriormente alagadas entre a meia-maré e a preamar,
como os de Areinha, Coroado e Coroadinho.
60
O clima da região apresenta classificação climática, definida pelo IBGE, como
quente úmido tropical de zona equatorial. De acordo com os dados climatológicos da
série temporal entre 1993 –2009, da Estação Meteorológica Cunha Machado – Tirirical,
a chuva apresenta média anual de 1.857,16 mm com valor mínimo anual de 1.239,5mm
e máximo de 2.563,9 mm, temperatura média anual de 27°C e umidade média anual de
80%. A sazonalidade da chuva na área é marcante indicando o período chuvoso de
janeiro a junho e o período seco de julho a dezembro.
61
4.1.2. Anil
O rio Anil é, na verdade, um braço de mar alimentado pelo fluxo das marés da
Baía de São Marcos. Seu regime hidrológico no período de estiagens é totalmente
vinculado ao fluxo das marés, sem contribuições relevantes de montante. Na época das
chuvas há um evidente acréscimo de vazões, mas que pouco se estendem além do
período das precipitações, sem, entretanto provocar maiores oscilações do nível d´água
nos canais. A bacia hidrográfica do rio Anil é menor do que a do rio Bacanga,
possuindo 33 km2 de área e 13 km de comprimento. Por outro lado, vem sofrendo
significativamente com o forte adensamento populacional dos últimos 30 anos, após a
implantação da Ponte José Sarney em 1970, com a ocupação das áreas mais baixas,
onde estão manguezais e várzeas.
Margem direita
Margem esquerda
62
FIGURA 13. Ocupação da bacia hidrográfica do rio Anil
A bacia do rio Anil localiza-se na porção noroeste de São Luís, entre as latitudes
02º29’14” e 02º34’47” S e as longitudes 44º12’55” e 44º 19’15” W. Possui
aproximadamente 14 km de extensão, a qual está localizada no quadrante NW da ilha de
São Luís – MA (LABOHIDRO, 1980). Tem suas nascentes localizadas no bairro da
63
Aurora. Limita-se com as bacias oceânicas ao Norte, com a Bacia do Rio Paciência ao
Leste, com a do Bacanga ao Sul e com a Baía de São Marcos à Oeste.
Com relação às condições climáticas, a bacia do anil está inserida em uma região
com clima tropical úmido, caracterizado por dois períodos sazonais bem definidos,
principalmente pela distribuição da pluviosidade, apresentando como características
básicas, elevadas temperaturas e com pequenas oscilações ao longo de todo ciclo anual,
precipitações com distribuição sazonal regular, marcada pela alternância de uma estação
chuvosa e uma estação seca, e ventos moderados, soprando predominantemente de
nordeste (MARANHAO, 2001).
Do ponto de vista da geologia, a área faz parte da Bacia Sedimentar de São Luís,
que compreende todo o litoral ocidental do Estado, inclusive o Golfão Maranhense.
Caracteriza-se pela presença de aluviões marinhos com depósitos recentes, sendo
constituída por cascalho, areia e argila inconsolidadas (NUGEO/LABGEO, 1999 apud
VIANA, 2008). Ocorre a predominância de formações de origem terciária e quaternária,
estando constituída por rochas sedimentares, principalmente, arenitos e argilitos
inconsolidados do Terciário, significativamente alterados. A bacia apresenta uma
estratigrafia, na qual se distinguem essencialmente, três sequências, com as seguintes
representações: arenitos e argilitos da Formação Itapecuru; arenitos, argilitos, folhelhos
e calcários das Formações Pirabas, São Luís e Turiaçu pertencentes à Série Barreiras
(MARANHAO, 2001)
A bacia do rio Anil apresenta solo do tipo latossolo amarelo, estes caracterizam-
se por serem profundos, bem drenados com textura variando de média a muito argilosa,
64
são ácidos, poroso e friáveis de cor amarelada. Nos terrenos de terra firme,
predominam principalmente os Latossolos Amarelos (LA) e Vermelho Amarelo (LVA),
sendo registradas ocorrências localizadas de Laterita Hidromórfica (LH)
(MARANHAO, 2001). A Bacia apresenta também solos Hidromórficos
Indiscriminados (HG) e Halomórficos Indiscriminados de Mangues (SM). Segundo
LAMBERTI (1966), UFMA / LABOHIDRO (1980; 1983) e IBGE (1984), estes tipos
de solos, são mal drenados, com alto conteúdo de sais minerais provenientes da água do
mar e de compostos de enxofre, elevada participação de matéria orgânica e com textura
variando desde argilosa até arenosa. Distribuem-se nas faixas costeiras, em trecho da
baixada litorânea, nas proximidades das embocaduras dos rios, margens de lagoas e
partes baixas da orla marítima, (NUGEO/LABGEO, 1999 apud VIANA, 2008).
A B
B
FIGURA 14: Flutuador utilizado para a medição da velocidade das correntes (A) e
flutuador lançado na foz do Bacanga durante a campanha de maio de 2011 (B).
65
Após obtidos os pontos de partida e de chegada do flutuador, os mesmos foram
lançados em uma imagem georeferênciada da área de estudo, utilizando-se o software
ArcGis para a obtenção da distância percorrida pelos flutuadores. De posse dos dados de
distancia e de tempo (período de 10 minutos) estimou-se as velocidades das correntes.
4.2.2. Batimetria
Para o presente estudo, a obtenção dos dados batimétricos, foi realizado através
de um levantamento na foz dos estuários Anil e Bacanga. A área coberta pelo
levantamento foi de aproximadamente 4,0 Km2, sendo o trecho logo a jusante da
barragem até a margem direita do Anil e ponta de São Francisco, fechando até a Ponta
do Bonfim.
66
diferença de tempo entre a emissão e a recepção do sinal, capaz de detectar
profundidades entre 0,5 e 800 metros com precisão de 0,1 metros. A amostragem de
dados de profundidade é feita em intervalos de 2 segundos. O posicionamento do GPS
permite uma precisão inferior a 10 m de raio e adquire valores de posição da
embarcação em intervalos de 1 segundo.
A escala adotada para o levantamento foi de 1:10.000, uma vez que a mesma
apenas apresentou o objetivo de complementar as cotas obtidas pelas imagens aéreas da
área de estudo . Com relação ao espaçamento entre as linhas de sondagem, segundo
norma para levantamentos hidrográficos da Marinha (Marinha, 2007), estas não devem
ser maiores que 10 mm, observado na carta elaborada com a escala adotada, conforme
indicado na expressão abaixo:
67
FIGURA 15: Equipamento utilizado para realização dos levantamentos batimétricos.
68
Quanto à precisão das profundidades obtidas no levantamento, a norma da
marinha determina que o erro total na medida não deve exceder 0,3 metros em
profundidades de 0 a 30 metros e 1 % das profundidades para aquelas maiores que 30
metros, com uma probabilidade de 90 %. Neste caso, a variável reduzida z da
distribuição normal é igual a 1,64 e a tolerância (x-μ) deve ser inferior a 0,3 metros.
Então, a equação que calcula o limite do erro na medição da profundidade fica
estabelecida da seguinte forma:
69
FIGURA 17: Nível da maré para o dia 20/04/2011, conforme dados do DHN.
FIGURA 18: Correlação entre hora e cota de maré referente ao primeiro intervalo de
preamar para baixamar.
70
Os coeficientes da equação foram:
A = 14,36 e B = - 0,986
Uma vez obtida a equação, era possível obter a cota de maré em qualquer
horário, desde que se enquadrasse no intervalo correspondente. Determinado a cota de
maré para cada hora referente ao levantamento batimétrico, aplicou-se a seguinte
equação abaixo para a correção das profundidades:
Ps = Pr - hm
Onde: PS é a profundidade na sondagem
PR é a profundidade real
hM é a altura da maré no instante da sondagem
O modelo conceitual, por sua vez, pode ser utilizado para a elaboração de
cenários de assoreamento e fundamentar a discussão de impactos potenciais.
71
A batimetria utilizada foi extraída de cartas náuticas da DHN para os anos de
1947, 1966, 1974 e 1984. Paralelamente foram resgatados os dados batimétricos
realizados pela VALE no ano de 2006, além dos levantamentos primários realizado em
2011. Infelizmente, para o caso das cartas da DHN, as mesmas não representam a
totalidade da área dos estuários dos rios Anil e Bacanga, restringindo, portanto, cenários
de assoreamento ao longo de uma série temporal para a foz destes corpos d’água.
72
FIGURA 19: Mosaico e vetorização das imagens aéreas da Embocadura Estuarina de
São Luís. Sobrevôo ocorrido em fevereiro de 2011.
73
Em função das cartas batimétricas da DHN não apresentarem detalhamento de
cotas para os bancos de areia, uma vez que seu objetivo explícito é o mapeamento
confiável dos canais de navegação, e também por mapearem apenas uma área restrita da
foz, foi adotada uma metodologia específica para enriquecimento do modelo digital de
terreno. Esta consistiu no georeferenciamento altimétrico de limites notáveis, tais como
limites da floresta de mangue e sua planície de bancos de lama adjacentes (o lavado);
como também os limites máximos e mínimos das marés de sizígias (Tabela 01).
TABELA 01: Cotas aproximadas para alguns limites de unidades de paisagem da região
entre marés utilizadas para completar o modelo digital de terreno dos estuários dos rios
Anil e Bacanga.
COTA
COTA
IBGE
LIMITE DHN OBSERVAÇÃO
(Imbituba)
(metros)
(metros)
Colonização por
Laguncularia racemosa (mangue branco ou tinteira) é
indivíduos de
uma das espécies de mangue que mais tolera a
Laguncularia sp. 2,56 0,0 inundação diária por marés.
isolados
Limite inferior da
Reconhecido por faixas características da vegetação de
floresta de mangue 4,40 1,84
manguezal
desenvolvida
74
Para avaliar com maior precisão a evolução geomorfológica da foz foi calculado
o volume de assoreamento propriamente dito, a partir da superposição dos modelos
digitais de terreno para a morfologia de fundo da área de estudo. A metodologia
consiste na transformação dos modelos digitais de terreno, obtidos a partir da
vetorização das cartas náuticas, batimetria da VALE e levantamentos primários, em
grades regulares de pontos, que poderão então, ser superpostas em software específico
para cálculo de volumes de erosão e deposição. Os anos considerados serão 1947, 1966,
1984, 2006 e 2011. Para a obtenção dos volumes para cada um dos períodos analisados
utilizou-se o software SURFER 10 (Golden Software), assim como para a geração do
Modelo Digital de Terreno, pelo método de interpolação denominado kriging.
Aos padrões de circulação na área de estudo, conforme foi descrito no iten 4.2.1;
75
4.2.4. Efeitos do assoreamento na sustentabilidade ambiental
Para a definição do valor dos diversos bens ambientais, inúmeras técnicas são
utilizadas, muitas baseadas nos preços de mercado, outras nos custos e algumas no valor
agregado. Os métodos de valoração de bens não-mercadológicos utilizam-se da
microeconomia e do conceito de excedente do consumidor, e os de natureza ecológica,
relacionam-se às perdas de bens e serviços ambientais. Assim, o caminho mais indicado
para calcular o valor existente de ecossistemas é através de um método de valoração que
possibilite sua estimativa.
76
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
77
FIGURA 21. Carta de Mouchez – 1867.
78
FIGURA 22. Hidrografia do rio Bacanga e rio Anil – Antigo Porto de São Luís – 1947.
79
FIGURA 23. Sondagem de 1966 com correções até 1968.
80
FIGURA 24. Sondagem de 1974.
81
FIGURA 25. Detalhe da Carta 430 – Sondagem de 1974.
82
FIGURA 26. Carta DHN 1984.
83
Através de uma simples avaliação visual, percebe-se ao longo do período, uma
diminuição do canal principal de acesso ao porto de São Luís, sendo sua dimensão
reduzida tanto em largura como em profundidade. Salienta-se que na carta de 1974, por
exemplo, ao longo do canal, as profundidades alcançavam cerca de 6m, enquanto que na
carta de 1984 as profundidades nestes mesmos pontos não ultrapassavam a casa dos 3m.
TABELA 02: Volumes hídricos abaixo da cota 6,5 m DHN (Cota 4 m IBGE), que
representa o limite da preamar máxima para a foz dos rios Anil e Bacanga.
VOLUME VOLUME
ANO Abaixo da cota de Abaixo da cota de limite inferior do
preamar máxima (m3) mangue (m3)
1966 48.532.267
1974 45.136.517
1984 43.404.791
84
A área selecionada para a análise da dinâmica de fundo tem como limites a
Ponta da Areia, ao norte, Avenida Beira-Mar ao sul e a Ponta do Bonfim à oeste. O
critério de seleção baseou-se na disponibilidade de dados batimétricos para a série
temporal escolhida e também por representar a sua zona mais crítica, uma vez que, é
nela que o processo de assoreamento se mostra com mais evidência.
2011-2017 06 31.644.358
85
Este ajuste de curva gerou uma função quadrática da forma:
Y = AX2+BX+C, onde:
86
embocadura começam a se modificar, coincidindo também com a implantação da
barragem do Bacanga. No intervalo de 1984 a 2006 (período de 22 anos e acumulado de
59 anos) já pode ser evidenciado um nível elevado de depósito sedimentar na área de
estudo, com grandezas superiores a 15.000.000 m3, ou seja, o processo de
preenchimento sedimentar praticamente quadruplicou durante o período analisado.
50.000.000
40.000.000
Assoreamento (m3 )
30.000.000
20.000.000
10.000.000
-10.000.000
periodo
87
A análise da dinâmica morfológica do fundo também permite que os valores de
assoreamento sejam discriminados por intervalo de cota. Esta abordagem é muito útil
para analisarmos a dinâmica deste processo, conforme ilustrado na Tabela 04. A análise
mostra que o assoreamento se dá inicialmente nos trechos de canais (nunca expostos em
baixa-mar), e só depois afetando a região entre-marés. Esta informação torna-se
importante, pois faz com que o processo de preenchimento sedimentar seja inicialmente
percebido apenas por aqueles que navegam nos canais; passando despercebido por
outros que observam apenas os padrões morfológicos dos bancos de areia expostos em
baixa-mar.
88
Para o período de 1966 a 1974 já pode ser observado o assoreamento nos bancos
de areia e canais. Nos primeiros, este assoreamento é representado pelo aumento de
áreas acima da cota 0 (linhas vermelhas). Contudo, a mudança mais significativa é o
rápido assoreamento dos canais, e uma já visível projeção da península da Ponta da
Areia.
No período de 1984 a 2006 ocorre a descaracterização total dos cenários
originais de 1947 e 1966. Em 1966, em baixa-mar, o canal do estuário do rio Bacanga
se fundia ao do rio Anil à altura da Ponta do São Francisco e este canal único é que
constituía o acesso para a Baía de São Marcos. Em 2006, estão presentes, em baixa-mar,
dois canais distintos de acesso para a baía, com a diferença que suas profundidades são
tão pequenas que não permitem o acesso para esta última em qualquer horário de maré.
O crescimento da Ponta da Areia, em estágio avançado, já afeta o trajeto do canal do rio
Anil, que começa a se direcionar à Ponta do Bonfim.
89
gerando possibilidades para uma invasão por vegetação de mangue. Apesar desta
potencial colonização por mangue em um novo sítio, ser bem vinda, no caso específico
da foz dos rios Anil e Bacanga assumiriam aspecto negativo. Isto porque o mangue
contribuiria ainda mais para a redução das velocidades das correntes de maré, e
aceleraria o processo de sedimentação e assoreamento.
TABELA 04. Volumes de sedimento assoreado por classe de cota. Estão realçados em
negrito as classes com maior assoreamento por período.
90
FIGURA 29. Batimetria da embocadura de São Luís para o ano de 1947.
91
FIGURA 30. Batimetria da foz para o ano de 1966.
92
FIGURA 31. Batimetria da foz para o ano de 1984.
93
FIGURA 32. Batimetria da foz para o ano de 2006.
94
FIGURA 33. Batimetria da foz para o ano de 2011.
95
Para o período atual, as taxas enquadraram-se conforme os valores estabelecidos
para as contribuições anuais por arrasto para a embocadura, entendo-se este fato, como
fruto de uma estabilização nos processos de urbanização das bacias e/ou intervenções
que geravam o carreamento de sedimentos para a mesma.
96
É importante frisar que as análises em questão datam de momento anterior à
implantação do espigão costeiro na praia da Ponta da Areia, obra implantada com o
intuito de promover engordamento da praia e revitalização do canal de navegação na
embocadura, logo torna-se necessário a realização de estudos após a implantação da
obra, de modo a permitir o acompanhamento das mudanças na linha de costa.
97
FIGURA 35b: Detalhe do muro de contenção na extremidade leste da praia da Ponta da
Areia
98
A B
FIGURA 36. Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 1999, B - situação em 2005.
A B
FIGURA 37: Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 2007, B – projeção para 2027.
99
Analisando o cenário proposto para 2027, caso nenhuma intervenção fosse feita
na região delimitada na figura anterior, teríamos o comprometimento de uma área de
aproximadamente 11.027,8 m2 atingido parte do terreno do corpo de bombeiros e
tornando extinto o local onde hoje localiza-se o Memorial Bandeira Tribuzzi. Além
disso, algumas áreas no entorno também já começam a apresentar sérios
comprometimentos, áreas estas que nos dias atuais são ocupadas por grandes edifícios
de luxo. A figura 38 mostra a evolução da erosão no periodo de 1999, 2005 e 2007,
além das projeções para 2008, 2009, 2010, 2015, 2020 e 2027 na referida região.
Analisando a figura, percebe-se que de 2010 até 2020 seria o período onde os processos
ocorreriam com mais intensidade, onde as áreas comprometidas passariam da ordem de
3.000 m2 para 10.000m2.
FIGURA 38: Evolução dos processos erosivos na extremidade oeste da praia da Ponta
da Areia.
100
FIGURA 39: Ponto de erosão localizado a sotamar do espigão costeiro, extremidade
oeste da praia da Ponta da Areia, em frente ao corpo de bombeiros.
FIGURA 40: Processos erosivos na praia da Ponta da Areia, disposto cerca de 300 m a
barlamar do espigão.
101
Ainda com relação aos processos erosivos, VALE/FSADU (2007) destacaram
que na porção distal da praia da Ponta da Areia a erosão chegou a atingir a taxa de 15
m/ano. Na porção mais central da praia, a taxa de erosão cai para menos de 1m/ano
(Figura 41).
Analisando a figura, percebe-se que de oeste para leste, a taxa cai de 4 m/ano
para menos de 0,5 m/ano. Na extrema direita da foto ocorreu avanço (deposição), sendo
que a erosão volta a predominar na região da Praça do Sol e Hotel Brisamar. Contudo,
neste setor, a erosão torna-se menos visível, uma vez que, a linha de costa é protegida
por estruturas de concreto e enrocamento.
102
intervenções de engenharia e aterro na foz, iniciadas com a construção da Barragem do
Bacanga em 1969 a 1970. Intervenções posteriores de monta foram os aterros
hidráulicos do Promorar (década de 1980) e do Bacanga (início da década de 1990).
FIGURA 42. Redução de espelho d’água contribuindo para o volume de prisma de maré
no estuário dos rios Bacanga e Anil.
Fonte: adaptado de VALE/FSADU (2007).
103
A redução do prisma e conseqüente alteração das velocidades de correntes
também contribuem para a eliminação da barreira hidráulica relacionado ao
deslocamento natural de areia pela deriva litorânea de leste para oeste, efeito este,
conhecido como espigão hidráulico.
As correntes de maré mais fortes estão nas áreas que concentram o maior
volume de água e onde o atrito com o fundo é menor, e assim podemos esperar que as
maiores velocidades de corrente ocorram nos canais mais profundos, conseqüentemente
a alteração no traçado e volume dos canais terá efeito direto sobre a velocidade de
correntes e manutenção do espigão hidráulico.
104
FIGURA 43. Transporte natural de areia para a foz dos rios Bacanga e Anil como
conseqüência da ação de correntes da deriva litorânea.
Fonte: HM 2007.
105
FIGURA 44: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de vazante.
Fonte: HM engenharia 2007.
106
FIGURA 45: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de enchente.
Fonte: HM engenharia 2007.
107
Com relação aos levantamentos primários, realizados em abril de 2011, utilizou-
se flutuadores para verificar o deslocamento em meia maré de vazante e enchente. Em
todos os pontos amostrados, as velocidades ficaram abaixo de 0,5 m/s.
Os resultados indicam que durante o período de 2007 até 2011 houve intensa
diminuição na velocidade das correntes, fruto da evolução do assoreamento na
embocadura estuarina, contudo, para o caso específico deste estudo, entende-se a
necessidade da utilização de equipamentos mais precisos para a medição da velocidade
das correntes. Além disso, tornar-se interessante um novo monitoramento na área, com
o intuito de verificar, se com a implantação do espigão costeiro houve uma melhora no
deslocamento das correntes marinhas dentro da embocadura.
FIGURA 46: Pontos de lançamento dos flutuadores para a obtenção da velocidade das
correntes. Azul – flutuadores lançados em meia maré vazante. Laranja – flutuadores
lançados em meia maré de enchente.
108
5.2.3.3. Evidências do assoreamento a partir do MDT e da dinâmica dos
bancos de areia da foz
Com relação à evolução do assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís,
as figuras 47, 48 e 49, ilustram, através do Modelo Digital de Terreno a evolução deste
processo, os períodos utilizados foram 1947, 2006 e 2011. A evidência do processo de
preenchimento sedimentar é justificada pela diminuição da área que fica
permanentemente submersa, representado pela cor azul. A Figura 50 detalha a dinâmica
dos Bancos na foz, e revela considerável modificação de padrões de deposição e
assoreamento para período de apenas 08 anos. Analisando-se as imagens, observa-se o
prolongamento da praia da Ponta da Areia e o aumento da área de bancos no canal de
acesso ao rio Anil, a área ocupada pelos bancos em 1999 era de 210,77 ha, em 2007 foi
de 436,4 ha.
Ponta do Bonfim
Ponta da areia
FIGURA 47: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 1947.
109
Ponta do Bonfim
Ponta da areia
FIGURA 48: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2006.
110
Ponta do Bonfim
Ponta da areia
FIGURA 49: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2011.
111
FIGURA 50: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na foz dos
rios Anil e Bacanga. Ambas as fotos tiradas em maré baixa. A Ponta da Areia está na
parte superior da foto e a Ponta do Bonfim na sua porção inferior.
Fonte: Imagem 1999 - AMBTEC ciências ambientais; Imagem 2007 - GOOGLE EARTH PRO.
112
FIGURA 51: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na praia do
Boqueirão e Ponta da Guia.
Fonte: Imagem 2001 - AMBTEC ciências ambientais; Imagem 2007 - GOOGLE EARTH PRO.
113
FIGURA 52. Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama nas praias da
Ponta da Areia e São Marcos.
Fonte: Imagem 2001 - AMBTEC ciências ambientais; Imagem 2007 - GOOGLE EARTH PRO.
114
5.3. Efeitos do Assoreamento na Sustentabilidade Ambiental
115
FIGURA 53: Visualização do efeito da redução do espigão hidráulico na Embocadura
de São Luís. A imagem a esquerda representa a situação do canal em foto aérea de 1967
(linha azul escuro é o limite de bancos em baixa-mar), e à direita o comprometimento
do canal em foto aérea de 1999.
Segundo Lima (2007), interrupções na descarga oriundos dos rios podem gerar
alteração dos padrões de circulação e sedimentação nos estuários, acarretando no déficit
de sedimentos para a zona costeira, maior intrusão salina, reorganização espacial do
zoneamento ecológico e crescimento ou fechamento das barras de embocadura.
Segundo este mesmo autor, o fechamento das embocaduras através do crescimento dos
pontais arenosos vem ocorrendo com freqüência no litoral baiano, promovendo a
diminuição da seção critica estuarina (diminuição da embocadura), fenômeno este,
possivelmente ocasionado pela perda de competência no aporte fluvial.
116
condições desfavoráveis para o livre fluxo da maré estão tornando o leito do canal cada
vez mais raso. O resultado disso é que em um futuro próximo a ligação do rio Anil com
o mar pode ficar seriamente comprometida, com conseqüências que vão desde o simples
mal-cheiro, provocado por aumento exagerado de vegetação aquática, à inundações
periódicas em bairros como o Coroadinho, Bairro de Fátima, Camboa e Liberdade.
2
Comunicação pessoal de Marcio Costa Fernandez Vaz dos Santos, em 03 de Dezembro de 2004.
Reportagem Jornal Pequeno.
117
5.3.2. Efeitos do assoreamento e dos processos erosivos sobre a sustentabilidade
ambiental, social e econômico da Embocadura de São Luís.
118
controlar a ocupação, pelas comunidades mais pobres, das áreas baixas que surgiriam
pela redução das alturas de maré. Importante salientar, que mais grave ainda, seria a
interrupção da renovação hídrica para o lago do Bacanga e Lagoa da Jansen, com
conseqüências em saneamento ambiental e na qualidade de vida de milhares de pessoas.
De acordo com Martins & Lopes (2009), as doenças mais frequentes no rio Anil
são infecções intestinais e dermatite, frutos do contato com a água deste corpo hídrico.
Conforme a CETESB (2005), cólera, febre tifóide e paratifóide são as doenças mais
freqüentemente ocasionadas por contato com água contaminada, além de infecções
intestinais, dentre muitas outras. Deste modo, em condições de baixa renovação de água
para a Embocadura, teríamos uma maior proliferação destas doenças afetando os
diferentes usuários dos recursos ambientais do rio Anil.
Contudo, mesmo antes do cenário acima descrito ser atingido, teríamos graves
repercussões sobre a vida econômica na área de estudo, associados com o continuado
assoreamento. Mesmo em situação secundária, em termos de portos e contribuição para
a economia ludovicense, a foz é vital para o equilíbrio econômico do Centro Histórico.
Nela temos 4 pequenos pontos de desembarque de bens, mercadorias e passageiros. A
área de desembarque pesqueiro, conhecida como Portinho, por exemplo, movimenta
aproximadamente 2 toneladas de peixe por dia, enquanto que o terminal de passageiros
da rampa Campos Melo movimenta, diariamente, centenas de passageiros para as
cidades de Alcântara, Cajapió, São Bento, Guimarães e Cedral. Este terminal se torna
mais importante ainda devido o seu valor histórico uma vez que desde as épocas mais
remotas o mesmo funcionava como local para a atracação das embarcações, voltadas
para o transporte da população de São Luís e outras regiões e também no comércio. A
figura 54 apresenta uma imagem da rampa Campos Melo no início do século passado.
119
FIGURA 54: Rampa Campos Melo em 1908.
Fonte: www.panoramio.com
120
desembarque, tais como postos de combustível, fábricas de gelo, armazéns de secos e
molhados, e o pequeno comércio varejista do Mercado Central, aumentando ainda mais
os problemas decorrentes de um processo de assoreamento na área de estudo,
acarretando, em graves prejuízos econômicos e sociais.
121
em R$ 7.377.146,91, afetando o bem estar das famílias que praticam suas atividades
econômicas e/ou de subsistência ao longo da foz dos rios Anil e Bacanga.
TABELA 05: Estimativas do valor econômico anual dos recursos ambientais para a foz
dos rios Anil e Bacanga.
O centro histórico de São Luís poderia ser atingido por inundações periódicas,
em cenário de formação de laguna costeira sobre influência de fortes precipitações,
onde as estruturas em condições de maior fragilidade poderiam sofrer desabamento. As
atividades de turismo nesta área se tornariam cada vez menores não só pela
possibilidade de alagamento como também pela baixa atividade comercial, fruto da
diminuição no desembarque de produtos na rampa Campos Melo. Vale ressaltar que o
centro histórico, Patrimônio Cultural da Humanidade, já sofreu investimentos superiores
a R$ 40.000.000,00 nos últimos 20 anos.
122
pequenas embarcações. Esta situação levaria ao crescente desestímulo ao turismo
náutico e ecoturismo, uma vez que muitas pessoas dirigem-se a esta área para locação
de embarcação para viagens em torno do litoral maranhense e conhecer pontos turísticos
como, por exemplo, a ilha do Medo. Além disso, professores das Universidades do
Estado normalmente usufruem deste tipo de locomoção para realização de suas
atividades de pesquisa e ministração de aulas práticas, ou seja, teríamos o
comprometimento da sustentabilidade do ponto de vista econômico, turístico e
educacional.
123
TABELA 06: Valor venal de terrenos e edificações residenciais e comerciais para a
Península da Ponta da Areia.
Terrenos não
91 212.074 800 169.659.200,00
Edificados
Terrenos com
66 95.145 800 76.116.000,00
Área Edificada
TOTAL 632.865.200,00
Casas 52 208
TOTAL 1.060
124
FIGURA 55: Terreno localizado na proximidade da praia da Ponta da Areia, com
potencialidade para transformar em condomínio multifamiliar.
125
FIGURA 56: Rede de condomínios construídos na península da praia da Ponta da Areia
em fase finalizada, e na extremidade direita da foto é apresentado outro, ainda em fase
de construção.
126
ecológica dos ecossistemas costeiros; (b) reduzir os conflitos de uso dos recursos
naturais; (c) manter a saúde do meio ambiente; (d) facilitar o progresso do
desenvolvimento multi-setorial, respeitando os valores humanos e os recursos naturais.
Contudo, desde a sua criação, o Gerenciamento Costeiro, enquanto Plano Nacional tem
demandado várias correções de rumo, que procuraram superar desde problemas
metodológicos dos instrumentos (zoneamento, banco de dados/sistema de informações e
monitoramento), até questões relacionadas com o foco, objetivos imediatos e de
integração institucional.
Com relação ao Projeto Orla, por exemplo, este deveria potencializar estudos
técnico-científicos sobre os problemas ambientais da zona costeira, em especial aos
processos de assoreamento e erosão costeira, fomentando parcerias entre o poder
público, instituições de pesquisa e o setor privado, na busca da melhoria da qualidade
127
ambiental da orla, bem como fortalecer e viabilizar ações integradas para a melhoria da
qualidade ambiental da orla marítima, em escala local. Entende-se que as políticas de
planejamento e ordenamento territorial pouco têm incorporado os conhecimentos
técnico-científicos disponíveis sobre as praias e sua dinâmica costeira. Como
conseqüência emerge a necessidade de implantação de obras costeiras, que além de
exigirem elevados gastos para serem construídas, muitas das vezes acabam alterando de
forma irreversível a hidrodinâmica da região e desestruturando as comunidades bióticas
da área afetada.
128
Aprimoramento contínuo da qualificação dos profissionais que atuam na
gestão costeira;
129
6. CONCLUSÃO
O volume da área delimitada pela Ponta da Areia, ao norte, Avenida Beira Mar,
ao sul e Ponta do Bonfim, à oeste, indicou uma diminuição em aproximadamente
22.000.000 m3, ou seja, perda de 34% do volume do prisma desde 1947. Já as áreas
mais baixas, próximas do canal de navegação, a redução foi de aproximadamente 56%,
indicando que essas áreas estão assoreando de forma mais acelerada. Contudo,
percebeu-se, a partir das análises de 2011 que o processo em questão começa a se tornar
mais elevado nas cotas mais altas, uma vez que, as cotas mais baixas já foram
preenchidas.
130
Analisando o processo de preenchimento sedimentar na Embocadura, por cota
de maré, observou-se que ao longo dos anos analisados, os processos passaram a ocorrer
com mais intensidade das cotas mais baixas para as cotas mais elevadas.
Com relação à velocidade das correntes, foi possível detectar uma diminuição na
velocidade das mesmas quando comparado aos obtidos em estudos anteriores, onde em
nenhum momento os resultados ultrapassaram valores acima de 0,5 m/s, fruto da
evolução do assoreamento na embocadura. Contudo entende-se a necessidade da
utilização de equipamentos modernos voltados para a obtenção deste parâmetro.
131
A região de estudo apresenta hoje uma obra denominada de espigão costeiro, que
apresenta como objetivo promover o engordamento da praia nos pontos onde ocorre
erosão, e induzir a erosão nos pontos onde ocorre o assoreamento. Isto impõe a
necessidade de monitorar a dinâmica da foz do Anil e Bacanga, além dos processos
erosivos na praia da Ponta da Areia após a implantação desta obra, de modo a verificar
se as taxas de assoreamento estão diminuindo assim como a evolução dos processos
erosivos, permitindo que o volume assoreado estimado para 2017 (31.644.358 m3) seja
prolongado para períodos posteriores, ou até mesmo possa indicar certa estabilidade no
balanço sedimentar da área.
132
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