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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SUSTENTABILIDADE DE
ECOSSISTEMAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ASSOREAMENTO EM AMBIENTES COSTEIROS E SEUS EFEITOS SOBRE


A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO DA
EMBOCADURA ESTUARINA DE SÃO LUÍS – MA.

JAMES WERLLEN DE JESUS AZEVEDO

São Luís
2012

16
JAMES WERLLEN DE JESUS AZEVEDO

ASSOREAMENTO EM AMBIENTES COSTEIROS E SEUS EFEITOS SOBRE


A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO DA
EMBOCADURA ESTUARINA DE SÃO LUÍS – MA.

Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Sustentabilidade de Ecossistemas
da Universidade Federal do
Maranhão para obtenção do Titulo
de Mestre em Sustentabilidade de
Ecossistemas.
Orientados: Prof. Dr. Antônio
Carlos Leal de Castro.
Co-orientador: Prof. Dr. Marcio
Costa Fernandes Vaz dos Santos.

São Luís
2012

17
Azevedo, James Werllen de Jesus.
Assoreamento em ambientes costeiros e seus efeitos sobre a
sustentabilidade: Estudo de caso da embocadura estuarina de São Luís
- MA.
124 f.
Impresso por computador (Fotocópia)
Orientador: Antônio Carlos Leal de Castro
Co – orientador: Marcio Costa Fernandes Vaz dos Santos
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Maranhão.
Departamento de Oceanografia e Limnologia. Programa de Pós-
Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas, 2012.
1. Assoreamento – Dinâmica Costeira 2. Sustentabilidade 3.
Batimetria. I. Título
CDU 502.13: 566.51 (812.1)
CDU:999 (999.99)

18
Dedicatória

Dedico este trabalho a


minha esposa, pais, irmãos,
familiares e amigos.

19
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus e Meishu Sama, por está todos os dias me acompanhando,
protegendo e dando-me permissão para superar os obstáculos da vida.
Aos meus pais Juarez Azevedo e Marinalva de Jesus Azevedo e aos meus irmãos
Jaqueline, Alessandra, Margarida, Felix e Júlio pelo apoio, confiança, amizade e
distração em todos os momentos.
À minha querida e amada esposa Tatiane, por está sempre ao meu lado me apoiando e
incentivando em toda a minha jornada, muitas das vezes me dando motivação para
nunca desistir.
Ao “grande mestre”, professor Antonio Carlos Leal de Castro pela oportunidade,
orientação, confiança, apoio, companhia e acima de tudo, amizade.
Ao meu co-orientador Professor Marcio Vaz pelo esforço em disponibilizar os dados e
informações, os quais sem eles, o trabalho não teria se concretizado, além de deixar a
disposição, o espaço da AMBITEC para o aprendizado das técnicas de
geoprocessamento.
A todos os professores da graduação e pós-graduação que me ofereceram momentos de
discussão e pensamento criativo, não só nas aulas como também fora delas.
À Gizelle Cardozo pelo apoio fundamental na utilização das ferramentas de
geoprocessamento, obrigado.
A todos os amigos da Graduação e Mestrado em especial aqueles que compartilharam
aprendizados em sala de aula.
Aos amigos funcionários do Labohidro, Marcelo, Leonardo, Helen, Vivian, Moacir,
Amaral, Denílson, Henrique, Guimarães, Junior, Floripes, Marcelo e Zezinho, pelas
ajudas, conversas descontraídas e pela amizade.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pela bolsa
de estudo concedida.
E a todos que de alguma forma colaboraram para a realização deste trabalho.

20
LISTAS DE FIGURA
FIGURA 01: Componentes primários envolvidos na morfodinâmica costeira (adaptado
de BARROSO, 2009). .......................................................................................................20
FIGURA 02: Definição das escalas temporal e espacial na evolução costeira, com
exemplos de feições sedimentares. ...................................................................................21
FIGURA 03: Morfologia geral de uma embocadura estuarina, segundo Davis (1994). ...23
FIGURA 04: Classificação dos deltas de maré vazante mostrando as variações
produzidas pela interação de processos gerados por maré e ondas. .................................24
FIGURA 04: Continuação... .............................................................................................. 25
FIGURA 05: Diagrama esquemático da interação entre as correntes de maré e a deriva
litorânea em uma embocadura, segundo Oertel (1988). ....................................................26
FIGURA 06: Processos envolvidos na migração dos pontais arenosos. A) largura e
direção de expansão de um pontal e B) cenário para o crescimento de um pontal,
adaptado de Petersen et al. (2008). ....................................................................................29
FIGURA 07: Posicionamento do Banco da cerca (indicado pela seta cinza) e do banco
do cotovelo (indicado pela seta escura), nas proximidades da embocadura estuarina de
São Luís. ............................................................................................................................ 33
FIGURA 08: Banco de São Marcos. ................................................................................34
FIGURA 09: Banco da Minerva. ...................................................................................... 35
FIGURA 10: Cotas consideradas num levantamento batimétrico realizado com
ecobatímetro. ....................................................................................................................40
FIGURA 11: Mapa da Área de Estudo. .............................................................................43
FIGURA 12: Bacia do Bacanga. ...................................................................................... 45
FIGURA 13. Ocupação da bacia hidrográfica do Rio Anil. .............................................48
FIGURA 14: Flutuador que será utilizado durante a trajetória de derivadores (A) e
Flutuador lançado na foz do Bacanga durante a campanha de maio de 2011 (B). ............50
FIGURA 15: Equipamento utilizado para realização dos levantamentos batimétricos. ...53
FIGURA 16: Disposição das linhas de sondagem. .......................................................... 53
FIGURA 17: Nível da maré para o dia 20/04/2011, conforme dados do DHN. ...............55
FIGURA 18: Correlação entre hora e cota de maré referente ao primeiro intervalo de
preamar para baixamar. .....................................................................................................55
FIGURA 19: Mosaico e vetorização das imagens aéreas da Embocadura Estuarina de
São Luís. Sobrevôo ocorrido em fevereiro de 2011. ........................................................ 58

21
FIGURA 20: Mosaico e vetorização das imagens aéreas da Embocadura Estuarina de
São Luís. Sobrevôo ocorrido em agosto de 2011. ............................................................ 58
FIGURA 21. Carta de Mouchez – 1867. ..........................................................................63
FIGURA 22. Hidrografia do Rio Bacanga e Rio Anil – Antigo Porto de São Luís –
1947. .................................................................................................................................64
FIGURA 23. Sondagem de 1966 com correções até 1968. ..............................................65
FIGURA 24. Sondagem de 1974. ..................................................................................... 66
FIGURA 25. Detalhe da Carta 430 – Sondagem de 1974. ...............................................67

FIGURA 26. Carta DHN 1984. ........................................................................................ 68

FIGURA 27: Curva da função quadrática utilizada para a obtenção da equação


matemática que representa a evolução dos volumes líquidos. .........................................71

FIGURA 28: Evolução do Assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís no


periodo de 1947 até 2006, com inclusão dos cenários para 2017 e 2027. ........................ 72

FIGURA 29. Batimetria da embocadura de São Luís para o ano de 1947. ...................... 76
FIGURA 30. Batimetria da foz para o ano de 1966. ........................................................ 77
FIGURA 31. Batimetria da foz para o ano de 1984. ........................................................ 78
FIGURA 32. Batimetria da foz para o ano de 2006. ........................................................ 79
FIGURA 33. Batimetria da foz para o ano de 2011. ........................................................ 80
FIGURA 34: Taxas anuais de assoreamento por período na Embocadura Estuarina de
São Luís (linha escura). Taxa anual por arrasto oriundos das praias de São Luís em
direção à Embocadura (linha tracejada). ..........................................................................81
FIGURA 35a: Muro de contenção em frente ao hotel Brisamar, localizado na
extremidade leste da praia da Ponta da Areia. ..................................................................82
FIGURA 35b: Detalhe do muro de contenção na extremidade leste da praia da Ponta da
Areia. ................................................................................................................................ 83
FIGURA 36. Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 1999, B - situação em 2005. .....84
FIGURA 37: Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 2007, B – projeção para 2027. .84
FIGURA 38: Evolução dos processos erosivos na extremidade oeste da praia da Ponta
da Areia. ............................................................................................................................ 85

22
FIGURA 39: Ponto de erosão localizado a sotamar do espigão costeiro, extremidade
oeste da praia da Ponta da Areia, em frente ao corpo de bombeiros. ............................... 86
FIGURA 40: Processos erosivos na praia da Ponta da Areia, disposto cerca de 300 m a
barlamar do espigão. .........................................................................................................86
FIGURA 41. As distintas taxas de erosão na porção intermediária da Ponta da Areia. A
linha vermelha indica a linha de preamar de 2007 e a foto é de 1988 (AERODATA 88). 87
FIGURA 42. Redução de espelho d´água contribuindo para o volume de prisma de maré
no estuário dos rios Bacanga e Anil. ................................................................................88
FIGURA 43. Transporte natural de areia para a foz dos rios Bacanga e Anil como
conseqüência da ação de correntes da deriva litorânea. ...................................................90
FIGURA 44: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de vazante. ...................................91
FIGURA 45: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de enchente. .................................92
FIGURA 46: Pontos de lançamento dos flutuadores para a obtenção da velocidade das
correntes. Azul – flutuadores lançados em meia maré vazante. Laranja – flutuadores
lançados em meia maré de enchente. ................................................................................93
FIGURA 47: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 1947. ............................................................................................. 94
FIGURA 48: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2006. ............................................................................................. 95
FIGURA 49: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2011. ............................................................................................. 96
FIGURA 50: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na foz dos
rios Anil e Bacanga. Ambas as fotos tiradas em maré baixa. A Ponta da Areia está na
parte superior da foto e a Ponta do Bonfim na sua porção inferior. .................................97
FIGURA 51: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na praia do
Boqueirão e Ponta da Guia. .............................................................................................. 98
FIGURA 52. Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama nas praias da
Ponta da Areia e São Marcos. ............................................................................................ 99
FIGURA 53: Visualização do efeito da redução do espigão hidráulico na Embocadura
de São Luís. A imagem a esquerda representa a situação do canal em foto aérea de 1967
(linha azul escuro é o limite de bancos em baixa-mar), e à direita o comprometimento
do canal em foto aérea de 1999. ...................................................................................... 101
FIGURA 54: Rampa Campos Melo em 1908. ................................................................ 105
FIGURA 55: Terreno localizado na proximidade da praia da Ponta da Areia, com
potencialidade para transformar em condomínio multifamiliar. .....................................110

23
FIGURA 56: Rede de condomínios construídos na península da praia da Ponta da Areia
em fase finalizada, e na extremidade direita da foto é apresentado outro, ainda em fase
de construção. .................................................................................................................111

24
LISTA DE TABELA

TABELA 01: Cotas aproximadas para alguns limites de unidades de paisagem da região
entre marés utilizadas para completar o modelo digital de terreno dos estuários dos rios
Anil e Bacanga. .................................................................................................................59
TABELA 02: Volumes hídricos abaixo da cota 6,5 m DHN (Cota 4 m IBGE), que
representa o limite da preamar máxima para a foz dos rios Anil e Bacanga. ...................69
TABELA 03. Medições e estimativas de volumes de sedimento assoreado e erodidos
para a área de estudo na foz. ............................................................................................. 70

TABELA 04. Volumes de sedimento assoreado por classe de cota. Estão realçados em
negrito as classes com maior assoreamento por período. .................................................75
TABELA 05: Estimativas do valor econômico anual dos recursos ambientais para a foz
dos rios Anil e Bacanga. ................................................................................................. 107
TABELA 06: Valor venal de terrenos e edificações residenciais e comerciais para a
Península da Ponta da Areia. ........................................................................................... 109
TABELA 07. Estimativa de população residente. ........................................................... 109

25
LISTA DE SIGLAS
UTM – Universal Transversa de Mercator
GPS – Global Positioning System
DHN – Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica
MMA – Ministério do Meio Ambiente
CHM – Centro de Hidrografia da Marinha do Brasil
ZCIT – Zona de Convergência Intertropical
MTD – Modelo Digital de Terreno
AVEN – Associação de Vela e Esportes Náuticos
GIZC – Gestão Integrada da Zona Costeira
ZC – Zona Costeira

26
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...............................................................................19


2.1. Dinâmica em Embocaduras Estuarinas ......................................................................19
2.2. Aspectos Gerais sobre Bancos de Areia .....................................................................30
2.3. Batimetria ...................................................................................................................35
3. OBJETIVOS ..................................................................................................................42
3.1. Objetivo Geral ............................................................................................................42
3.2. Objetivos específicos ..................................................................................................42
4. METODOLOGIA..........................................................................................................43
4.1. Área de Estudo ..........................................................................................................43
4.1.1. Bacanga ...................................................................................................................44
4.1.1.1. Caracterização da Bacia do Bacanga ....................................................................45
4.1.2. Anil .......................................................................................................................... 47
4.1.2.1. Caracterização da bacia do Anil ...........................................................................48
4.2. Variáveis Oceanográficas ........................................................................................... 50
4.2.1. Direção e Velocidade das Correntes ........................................................................50
4.2.2. Batimetria ................................................................................................................51
4.2.3. Evolução do assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís e da erosão na
Praia da Ponta da Areia .....................................................................................................56
4.2.4. Efeitos do assoreamento na sustentabilidade ambiental ..........................................61
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................62
5.1. Cartas Náuticas Utilizadas ......................................................................................... 62
5.2. Evolução do assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís e da erosão na
Praia da Ponta da Areia .....................................................................................................69
5.2.1. Avaliação da Dinâmica de Assoreamento na Foz ...................................................69

5.2.2. Processos Erosivos na Praia da Ponta da Areia ....................................................... 82


5.2.3. Fatores que evidenciam o assoreamento na área de estudo .....................................87
5.2.3.1. Dinâmica Geomorfológica na Foz dos Rios Anil e Bacanga ............................... 87
5.2.3.2. Evidências do assoreamento a partir dos padrões de circulação .......................... 90
5.2.3.3. Evidências do assoreamento a partir do MDT e da dinâmica dos bancos de areia
da foz .................................................................................................................................94
5.2.3.4. Comparação dos Padrões Espaciais dos Bancos de Areia ...................................97

27
5.3. Efeitos do Assoreamento na Sustentabilidade Ambiental .........................................100
5.3.1. Evolução e consequências do assoreamento da Embocadura de São Luís.............100
5.3.2. Efeitos do assoreamento e dos processos erosivos sobre a sustentabilidade
ambiental, social e econômico da Embocadura de São Luís. ...........................................103
6. CONCLUSÃO ..............................................................................................................115
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................118

28
RESUMO
A costa brasileira e de muitos outros países foram ocupadas sem levar em conta a
dinâmica costeira, e estas intervenções antrópicas fez surgir nas ultimas décadas graves
problemas de assoreamento e erosão nestas áreas. Entre as regiões que sofrem com o
processo de assoreamento encontra-se a embocadura estuarina de São Luís e devido as
graves consequências destes processos, tais como comprometimento da navegabilidade
e perda de obras civis, torna-se necessário retratar as mudanças ocorridas nesta área,
sobretudo associadas à dinâmica costeira e às principais alterações na sua configuração
natural. Neste sentido a presente pesquisa objetivou avaliar o processo de assoreamento
na embocadura estuarina de São Luís e a influência deste no comprometimento da
sustentabilidade ambiental local, validando estimativas realizadas em estudos pretéritos.
A área em questão estende-se da Ponta da Guia até a Ponta da Areia compreendendo os
braços de mar do Bacanga e Anil, localizados na margem leste da Baía de São Marcos.
A metodologia consistiu em levantamentos relacionados à direção e velocidade das
correntes com auxílio de flutuadores e levantamentos batimétricos. A evolução
morfológica foi obtida a partir da digitalização e vetorização das cartas náuticas de
1947, 1966, 1974 e 1984, levantamentos batimétricos realizados em 2006, pela VALE,
e imagens de fotos áreas datadas de 2011. Além disso, procurou-se associar os cenários
de assoreamento ao comprometimento da sustentabilidade ambiental, econômica e
social das bacias hidrográficas investigadas. Os resultados indicaram um processo de
preenchimento sedimentar que coincide com as principais intervenções que ocorreram
na foz dos rios Anil e Bacanga. Por outro lado, observou-se uma forte tendência
evolutiva, atingindo valores na ordem de 30.000.000 m3 em períodos que antecedem aos
determinados em estudos anteriores. A dinâmica das correntes indicaram velocidades
sempre abaixo de 0,5 m/s. O cenário futuro da embocadura estuarina de São Luís
sinaliza um fluxo reduzido na renovação da água dos estuários devido ao seu
assoreamento, evidenciando claramente uma redução na capacidade de transporte de
sedimento e na diluição dos valores de concentração em todos os padrões de drenagem,
comprometendo a sustentabilidade ambiental, econômica e social das bacias dos rios
Anil e Bacanga.
Palavras – chave: assoreamento, embocadura estuarina de São Luís, dinâmica costeira,
sustentabilidade, batimetria, Ponta da Areia.

29
ABSTRACT
The Brazilian coast and many other countries were occupied without regard to coastal
dynamics, and these human interventions in recent decades has raised serious problems
of sedimentation and erosion in these areas. Among the regions that suffer from siltation
process is tidal inlets of São Luís and because of the serious consequences of these
processes, such as impairment of navigability and loss of civil works, it is necessary to
portray the changes at the tidal inlets of São Luís, particularly associated with coastal
dynamics and major changes in the natural setting of the area. This study aimed to
evaluate the process of silting in the tidal inlets of São Luís and its influence on the
commitment of local environmental sustainability, validating estimates in the studies
have done. The area in question extends from the Ponta da Guia to Ponta da Areia,
including rivers Anil and Bacanga, located on the eastern shore of the São Marcos By.
The methodology consisted of surveys related to the direction and speed of currents
with the aid of floats and bathymetric surveys. The morphological evolution was
obtained from the scanning and vectorizing of charts, 1947, 1966, 1974 and 1984
bathymetric surveys conducted in 2006, by Vale, photos and images from areas dating
back to 2011. We tried to link the scenarios to the silting commitment to environmental
sustainability, economic and social development of hydrographic basins investigated.
The results indicated a process of sedimentary fill that matches the key interventions
that occurred in the rivers Anil and Bacanga. Also there was a strong evolutionary trend,
reaching values of around 30.000.000 m3 in shorter periods than those determined in
previous studies. The dynamic current speeds when indicated below 0.5 m / s. The
future scenario of the tidal inlets of São Luís indicates a reduced flow of water renewal
in estuaries due to the silting up, clearly showing a reduction in the capacity of sediment
transport and dilution of the concentration values in all drainage patterns, compromising
environmental sustainability, economic and social development of hydrographic basins
Anil and Bacanga.
Keywords: siltation, tidal inlets of São Luís, coastal dynamics, sustainability,
bathymetry, Ponta da Areia.

30
1. INTRODUÇÃO

A costa brasileira e de muitos outros países foram ocupadas sem levar em conta
a dinâmica costeira. Esta deve ser analisada em diversas escalas espaciais e temporais.
Desde escalas regionais e de milhares de anos, para compreender o arcabouço geológico
e a evolução das zonas costeiras após a última grande glaciação, até escalas locais e
períodos de dias (ANGULO, 2004).

É importante considerar que a configuração atual da costa do planeta é resultado


do arcabouço geológico e dos processos ocorridos nos últimos 21.500 anos, após o
último máximo glacial quando o mar subiu mais de 120 m e inundou a maior parte das
plataformas continentais do planeta. Vivemos num período de mar alto, ou seja, apenas
3% do tempo dos últimos 2 milhões de anos, o nível do mar esteve tão ou mais alto que
o atual (PIRAZZOLI, 1996).

Em escalas regionais e nos últimos 6.000 ou 7.000 anos o mar tem permanecido
mais estável, variando, em geral, menos que 10 m. Contudo, estas variações são
suficientes para provocar mudanças dramáticas na zona costeira. Por exemplo, grande
parte dos balneários brasileiros foram construídos sobre terrenos que emergiram há
menos de 5.000 anos (ANGULO, 2004).

No interior da zona costeira, um dos seus componentes mais importantes são os


estuários, sendo estes, corpos d´água costeiros, ambientes de transição entre o
continente e o oceano, que apresentam uma livre conexão com o mar aberto e estão
sujeitos à influência de vários agentes motores como as marés, a agitação marítima e os
ventos. Tais agentes são responsáveis pela geração de correntes, o que faz com que as
zonas costeiras se tornem sistemas geomorfologicamente dinâmicos e heterogêneos
(FRAGOSO JUNIOR et al, 2008).

Entende-se que esses processos, comuns, envolvidos em um estuário, tais como


a interação entre água doce e água do mar, os transportes de sedimentos em suspensão e
de nutrientes orgânicos e inorgânicos, são de grande importância para o
desenvolvimento urbano, social e econômico das regiões costeiras. No Brasil, segundo
Miranda et al,(2002), muitos ambientes estuarinos forneceram um local propício para o
desenvolvimento de grandes e médias cidades e, como conseqüência de fenômenos
naturais e antrópicos, vêm sofrendo alterações nos seus processos de erosão e

31
sedimentação, circulação das águas, correntes de maré e na qualidade da água,
provocando modificações na dinâmica costeira.

Os materiais de fundo desses ambientes estuarinos são compostos por


sedimentos, os quais são freqüentemente transportados pelas correntes provocando
variações morfológicas dos fundos. Além disso, a ocupação humana das margens de
estuários e lagunas conduz, freqüentemente, ao lançamento de águas residuárias que
causam problemas de degradação ambiental. A renovação e depuração das águas desses
ambientes dependem de interações entre processos físicos, químicos, biológicos e
geológicos (MIRANDA et al, op cit).

Dentro destes ambientes, muitas vezes, as ações antrópicas se sobrepõem às


mudanças provocadas por efeitos regionais e globais, dificultando um adequado
reconhecimento ou discriminação das causas da variabilidade ambiental.

Mediante todos estes processos de intervenção e ocupação da costa, surgiu,


sobretudo nas ultimas décadas, intensos problemas de assoreamento e erosão nestas
áreas, sendo, portanto, um reflexo do desequilíbrio na zona costeira afetando
praticamente todos os países com litoral, podendo em alguns casos alcançar estágios
bastante elevados (CUNHA, 2004). As repercussões econômicas, tais como a perda de
infra-estruturas públicas ou propriedades privadas podem ser extremamente sérias,
sobretudo nos países em desenvolvimento, devido a falta de recursos para a recuperação
dos danos ambientais.

Fragoso Junior et al, (2008) avaliou que no Brasil, grande parte dos estuários
encontram-se em processo de evidente preenchimento sedimentar. Neste quadro,
encontra-se a região de estudo, que é a Embocadura Estuarina de São Luís, localizada
na capital maranhense, mais precisamente, no interior da Baía de São Marcos. A região
da Embocadura é formada pela foz do rio Anil e Bacanga e de acordo com os dados da
Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN, 2011), sofre grandes variações
de níveis d’água, que ultrapassam os 6,0 m de amplitude, entre a baixa-mar e a preamar
de sizígia, originando correntes hidráulicas de magnitudes consideráveis no interior do
estuário. Na Embocadura Estuarina de São Luís, as correntes externas são
condicionadas pela circulação proveniente das correntes de enchente e vazante da Baía
de São Marcos (HM, 2007).

32
Estudos realizados pela VALE/FSADU (2007) assinalam que a embocadura
associada à foz do rio Anil e Bacanga teve, a partir da década de 1960, o equilíbrio do
balanço sedimentar alterado, afetando também os processos litorâneos na Praia da Ponta
da Areia. Esse desequilíbrio se deve basicamente às intervenções realizadas no estuário,
sendo a principal delas a implantação da Barragem do Bacanga, que reduziu
significativamente o prisma de maré, e conseqüentemente as vazões e velocidades das
correntes de maré, ocasionando erosão e assoreamento nas áreas adjacentes.

Com o tempo, entende-se que a evolução dos processos de assoreamento da


embocadura, além das erosões associadas à Praia da Ponta da Areia, poderá
comprometer a navegabilidade na foz desses rios, além de perdas de obras civis, tais
como ruas, edificações, casas e monumentos, levando a perdas de todos os
investimentos já realizados na área. A piora nas condições de navegabilidade refletiria
ainda, em um desestimulo às atividades turísticas, esportes aquáticos e pesca. Com o
aumento do assoreamento na embocadura estuarina de São Luís, reduziria as trocas de
água e volume do prisma o que afetaria seriamente a biota aquática local.

Assim, avalia-se como extremamente necessário retratar as mudanças ocorridas


na embocadura de São Luís, sobretudo associadas à dinâmica costeira e às principais
alterações na configuração natural da área.

Entende-se, deste modo, que uma avaliação ambiental da Embocadura Estuarina


de São Luís, do ponto de vista da evolução morfológica, através da validação dos
estudos feitos no passado, permitirá um maior conhecimento do processo de
assoreamento, principalmente no sentido da intensidade, velocidade e seus impactos,
gerando subsídio para implementação de políticas publicas voltadas ao controle e gestão
desses processos na área em questão. Além da prevenção e planejamento em outras
áreas potenciais.

33
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Dinâmica em Embocaduras Estuarinas

A zona costeira é um ambiente altamente dinâmico e sensível, e seus diversos


ecossistemas estão entre os mais complexos e produtivos, sendo também uma
importante fonte de recursos. As regiões costeiras estão entre as mais povoadas, com
aproximadamente 70% da população mundial habitando estes ambientes ou vivendo
próximo a eles, o que aumenta o risco de problemas ambientais gerados por fatores
antrópicos como, por exemplo, a erosão costeira e o assoreamento de embocaduras
estuarinas (CHARFAS, 1990; KOMAR, 1998).

A evolução costeira é o produto dos processos morfodinâmicos que ocorrem em


resposta a mudanças nas condições externas. A morfodinâmica costeira é definida como
o ”ajuste mútuo da topografia e dinâmica de fluidos envolvendo o transporte de
sedimentos” (WRIGHT & THOM, 1977). O transporte de sedimentos fornece o
mecanismo de acoplamento pelo qual o ajuste ocorre. A dinâmica de fluidos dirige o
transporte de sedimentos resultando em mudanças morfológicas ao longo do tempo
(Figura 01). Mudanças progressivas da topografia alteram as condições de contorno
para a dinâmica de fluidos, produzindo mudanças nos padrões de sedimentos e seus
produtos deposicionais (CARTER & WOODROFFE, 1994).

34
TOPOGRAFIA E
DINÂMICA DE FLUÍDOS ESTATIGRAFIA

Δt

TRANSPORTE DE SEDIMENTO

FIGURA 01: Componentes primários envolvidos na morfodinâmica costeira.

Fonte: adaptado de BARROSO, 2009.

As propriedades essenciais dos processos morfodinâmicos costeiros são


atribuídos a essa retroalimentação entre topografia e dinâmica de fluidos que dirigem o
transporte de sedimentos produzindo mudanças morfológicas. Esta retroalimentação
pode ser positiva ou negativa. Esta confere propriedades de auto-regulação em resposta
a menores perturbações e a positiva significa crescimento de instabilidades e confere
propriedades de auto-organização, o qual resulta em novos modelos de operação
(CARTER & WOODROFFE, 1994). Os processos morfodinâmicos ocorrem em
diferentes escalas espaciais e temporais (Figura 02) sendo agrupados em 04 classes:

1. Instantâneos, que ocorrem durante um ciclo de atuação dos agentes


primários;

2. De eventos, que levam a formação das unidades sedimentares


fundamentais e sequências deposicionais;

3. De engenharia (e histórica), que envolvem a evolução morfológica que


levam à alterações nos processos responsáveis pelo transporte de sedimentos;

35
4. Geológica na qual a importância de flutuações individuais é pequena,
sendo resultado de uma média das condições ambientais sobre milênios.

FIGURA 02: Definição das escalas temporal e espacial na evolução costeira, com
exemplos de feições sedimentares.

Fonte: Cowell & Thom (1994).

Um dos mais complexos ambientes da zona costeira são os estuários. Esses


ambientes são muito comuns ao longo das zonas costeiras ao redor do mundo, sendo
altamente importantes por promover troca de material entre o continente e o oceano.

Pritchard (1955) elaborou uma definição clássica para estuários, determinando –


o como um corpo de água costeiro semifechado, com uma livre ligação com o oceano
aberto, no interior do qual a àgua do mar é mensuravelmente diluída pela água doce
oriunda da drenagem continental.

Ainda baseados no conceito de estuário, percebe-se que a forma dos estuários é


bastante variada, entretanto em todos eles encontramos: a cabeça do estuário, onde o rio
entra no estuário; as margens estuarinas que definem os lados do estuário e a

36
embocadura do estuário, onde este se encontra com o mar (HASLETT, 2000). A
morfologia de um estuário e de sua embocadura é determinada ao longo do tempo pela
dinâmica do transporte de sedimentos e esta por sua vez depende da propagação das
marés no estuário, do aporte fluvial e da atuação das ondas sobre o estuário.

A influência e o estudo de embocaduras estuarinas sobre os ambientes


adjacentes, assim como sua importância econômica e ecológica, têm proporcionado
considerações especiais dentro das ciências costeiras (MEHTA, 1996). A pressão
antrópica nesses sistemas tem resultado em sérias consequências ambientais. Algumas
das alterações ou atividades que afetam essa região incluem construções costeiras
desordenadas, dragagens, mudanças no fluxo do rio, poluição, obras de engenharia,
entre outras. Adicionalmente, a pressão natural também tem aumentado devido às
mudanças globais (HUNTLEY et al., 2001), necessitando o gerenciamento e
entendimento dos processos que ocorrem nessas áreas.

As embocaduras são sistemas dinâmicos, e a geometria do canal e dos corpos


sedimentares associados a esses ambientes é controlada pela altura da maré, aporte de
sedimentos, ação de ondas incidentes, aporte de água doce (descarga dos rios),
batimetria local e pelas correntes. Em conjunto, esses processos, promovem a entrada de
energia que forma e modifica os ambientes, erodindo, transportando e depositando
sedimentos (BIRD, 1996).

Podemos classificar as embocaduras, de acordo com o processo costeiro predominante:

 Sobre condições de domínio da maré, o canal principal é fundo e


relativamente estável, com fortes correntes de maré removendo os sedimentos
depositados (BOOTHROYD, 1985) e assim podemos dizer que a embocadura é
estável;

 Com o aumento da influência das ondas, o canal torna-se menos estável e


tende a migrar de acordo com o sentido predominante da corrente de deriva
litorânea e, portanto, podemos dizer que a embocadura é instável, em alguns
casos esta migração pode ocorrer no sentido oposto a deriva litorânea
(FITZGERALD, 1988; DAVIS, 1994).

Geralmente as embocaduras, além do canal, apresentam dois elementos


principais: os deltas de maré vazante e os deltas de maré enchente (Figura 03). De

37
acordo com o processo costeiro predominante, estas feições serão mais ou menos
desenvolvidas. Em embocaduras dominadas por marés, o delta de maré vazante será
bem desenvolvido e o delta de maré enchente será pequeno ou quase inexistente. Já em
canais dominados por ondas, o delta de maré vazante sofrerá influência de forma direta
e, portanto, será pequeno, pois seus sedimentos serão erodidos pelas ondas e estes
passarão para dentro do canal através dos fluxos de maré, sendo acumulados no delta de
maré enchente que será bem desenvolvido neste caso.

Segundo Davis (1994), os deltas de maré vazante podem ser classificados de


acordo com os processos envolvidos em sua formação e manutenção (Figura 04): os
deltas dominados por maré são caracterizados por canais compridos e orientados
transversalmente à costa, e os deltas dominados por ondas se dividem em três tipos, dois
com condições fortes de deriva litorânea e outro com fraca deriva litorânea. Os deltas de
maré enchente, geralmente, apresentam uma morfologia sob a forma de uma plataforma
em rampa.

FIGURA 03: Morfologia geral de uma embocadura estuarina.

Fonte: Davis (1994).

38
FIGURA 04: Classificação dos deltas de maré vazante mostrando as variações
produzidas pela interação de processos gerados por maré e ondas.

Fonte: Davis (1994).

39
FIGURA 04: Continuação...

40
A interação entre os padrões de transporte de sedimentos em uma embocadura e
a deriva litorânea foi descrita por Oertel (1988). Segundo este autor, nos períodos de
estofa os sedimentos são depositados no canal podendo este sofrer assoreamento; nos
períodos de maré enchente, os sedimentos são transportados para dentro do canal e pode
ocorrer o aumento do esporão arenoso associado aos bancos dentro do canal, reduzindo
a largura deste; e nos períodos de vazante, os sedimentos do canal e da deriva litorânea
são transportados e acumulados no delta de maré vazante (Figura 05).

FIGURA 05: Diagrama esquemático da interação entre as correntes de maré e a deriva


litorânea em uma embocadura.

Fonte: Oertel (1988).

O estudo da estabilidade de embocaduras tem sido de grande importância, uma


vez que estes ambientes estão relacionados com canais de navegação, marinas e portos,
além de gerar atividades tanto recreacionais quanto econômicas que necessitam de um
ambiente estável. Assim como, também podemos relacionar aspectos ecológicos,
devido à troca de substâncias dissolvidas e particuladas controlando a qualidade de água
e ecologia dos ambientes associados (GOODWIN, 1996). Devido a esta importância,
muitos estudos tiveram como objetivo entender os processos que controlam a
estabilidade de embocaduras considerando uma relação empírica entre morfologia e

41
processos hidrológicos, tais como, Le Conte (1905); O’Brien (1931); O’Brien (1969);
Escoffier (1940); Bruun & Gerritsen (1960); Jarret (1976); Walton & Adams (1976);
Hume & Herdendorf (1988); Van-Kreeke (1992); Barroso (2009).

As feições arenosas associadas às embocaduras, além dos deltas de maré vazante


e enchente, incluem os bancos marginais associados aos deltas e os pontais arenosos.
Estas feições possuem uma forte influência na troca sedimentar das regiões costeiras,
afetando a estabilidade das regiões adjacentes como as praias e os sistemas estuarinos.
Além disso, a presença de pontais e bancos arenosos em embocaduras influenciam,
fortemente a distribuição da energia de ondas ao longo das zonas costeiras adjacentes.

A evolução de bancos arenosos é uma resposta devido a variações sazonais nas


forçantes (SIEGLE et al. 2004; SIEGLE et al. 2007), por exemplo, uma tempestade que
produz erosão do fundo marinho, ou erosão de uma região costeira, transporta este
material erodido tanto por carga de fundo como de suspensão podendo formar um
banco.

Os bancos arenosos são feições presentes em muitas regiões costeiras, e sua


localização depende da presença de correntes de maré ou outras correntes capazes de
mover o sedimento, considerando, tanto a areia, como a disponibilidade desta na região.
A presença dessas feições são mais comuns onde as elipses de maré tendem a ser
circulares, já os bancos arenosos lineares ocorre onde as correntes são mais retilíneas
(DYER & HUNTLEY, 1999). Geralmente estas feições são formadas por areias médias
ou grossas, entretanto quando as correntes de maré são suficientemente fortes e existe
uma fonte de cascalho, podemos ter a formação de bancos de cascalhos.

Os bancos arenosos são considerados de grande importância uma vez que


aqueles localizados perto da costa podem fornecer a esta uma fonte de sedimentos,
interagindo com os ambientes praiais e ajudando na estabilização destes. A dissipação
da onda devido a refração ao redor dos bancos pode ser crucial na manutenção da forma
da linha de costa e proteger esta da erosão em tempestades (DYER & HUNTLEY,
1999). Contudo, os bancos arenosos podem ser perigosos para a navegação
principalmente quando formados em regiões próximas a entrada de canais e
embocaduras.

42
Pontais arenosos podem ser formados pela ação construtiva das ondas sobre um
fundo suavemente inclinado onde o transporte ao longo da costa constrói um perfil
costeiro e, em cujo caso o pontal assemelha-se com uma barreira e tende a ser normal às
ondas que chegam (PETERSEN et al., 2008), ou as correntes levam o sedimento para
dentro de uma feição deposicional, subaérea, prolongada estendendo-se para fora de um
promontório em erosão ou outra fonte de areia. Para a evolução de um simples pontal
arenoso, o suprimento de material produzido por um promontório é suficiente para ser
depositada em uma feição mais ou menos paralela à linha de costa. A areia transportada
ao longo do pontal é depositada em sua extremidade sobre o fundo, permitindo o
crescimento e/ou aumento do pontal. Porém, se este suprimento de areia for baixo,
existirá uma tendência desse material ser transportado para dentro de uma baía,
formando uma praia no interior desta ao invés de um pontal, ou ainda se essa taxa for
realmente muito pequena, formará somente uma praia na entrada da baía (DEAN &
DALRYMPLE, 2004).

Em muitos casos, entretanto, os pontais são formados como uma forma de


acumulação sobre abrigo (proteção) de um promontório ou uma ilha. Tais pontais
crescem primariamente devido à deposição de sedimentos ocasionada pelo transporte
longitudinal e formam um ângulo com as ondas que chegam. O pontal formado pelo
transporte longitudinal pode ter uma forma complexa, por exemplo, serem recurvados
ou em forma de gancho se o clima de ondas tiver um amplo intervalo de direções. Os
processos básicos envolvidos na migração de pontais arenosos estão ilustrados na figura
06. Segundo Zenkovitch (1967), considerando a relação entre o ângulo da onda e a
capacidade de transporte longitudinal, para que exista depósito de sedimentos para o
crescimento dos pontais, o ângulo da onda em relação ao pontal deverá ser maior do que
45°, onde o transporte de sedimentos é máximo. Os tipos diferentes de pontais e suas
características são tratados extensivamente na literatura geomorfológica.

43
FIGURA 06: Processos envolvidos na migração dos pontais arenosos. A) largura e
direção de expansão de um pontal e B) cenário para o crescimento de um pontal.

Fonte: adaptado de Petersen et al. (2008).

O crescimento de pontais arenosos pode causar erosão na linha de costa das


regiões adjacentes uma vez que os sedimentos passam a ser retidos pelos pontais, no
sentido da deriva litorânea, gerando uma perda de suprimentos de sedimentos, do outro
lado do pontal (a sotamar) onde a deriva não consegue chegar, e consequentemente
causando erosão nas praias (DOMINGUEZ & BITTENCOURT, 1996). Contudo, são
importantes estruturas da dinâmica costeira e representam formas geomorfológicas
complexas as quais são muito comuns ao longo de costas irregulares (KOMAR, 1998).

44
Logo, percebe-se como são complexos os processos referentes à dinâmica em
embocaduras estuarinas e como toda problemática que tende a ocorrer nessas áreas
costeiras, pelo menos em boa parte, são consequências da contribuição antrópica, que
através de suas atividades, acabam por alterar os padrões de circulação e do volume de
sedimentos colocados à disposição do ambiente costeiro, contribuindo para o aumento
da instabilidade dessas áreas.

2.2. Aspectos Gerais sobre Bancos de Areia

Os bancos de areia são definidos como corpos costeiros arenosos que formam
uma sobre-elevação no leito, caracterizada por um contorno batimétrico fechado. São
encontrados em estuários e áreas costeiras onde há abundância de areia, e o regime
hidrodinâmico é capaz de transportá-la. Os bancos tendem a ocorrer em grupos,
ocupando extensas profundidades tanto em estuários como em embocaduras de maré e
na plataforma, quando solitários ocorrem próximos à costa ou abrigados por
promontórios, ilhas ou bancos rochosos submersos (BELDERSON et al, 1982). Eles
são potenciais fornecedores de agregados marinhos; provêem um sistema de defesa
costeiro natural, mas também representam uma ameaça à navegação, além disso, são
regiões preferenciais de acúmulo de microorganismos.

Os bancos de areia modificam as correntes residuais de maré conforme crescem.


Dentre os fatores que irão determinar seu crescimento destaca-se a disponibilidade de
areia, o tamanho do grão e a presença de fluxos secundários. Bancos são formados em
decorrência da assimetria no transporte de sedimentos em cada um de seus lados, devido
ao escoamento reversível da maré. Eles inicialmente se desenvolvem de forma circular e
evoluem para uma forma mais alongada. A morfologia dos bancos é resultado de uma
interação não linear entre correntes de maré, transporte de sedimentos e a batimetria.
Devido à interação desses processos, uma variedade de bancos de diferentes origens
pode existir no mesmo ambiente de maré.

Com o intuito de facilitar o estudo destas feições morfológicas, Dyer & Huntley
(1999) estabeleceram um sistema classificatório qualitativo baseado numa relação
genérica entre diferentes bancos em função de sua origem e desenvolvimento. Sua
classificação é composta de três tipos principais de bancos e vários subtipos conforme
demonstrado a seguir:

45
Tipo 1. Bancos de plataforma (open shelf ridges)

 Estes bancos possuem até 80km de extensão, 13km de largura média e


dezenas de metros de altura. Eles parecem estar quase em equilíbrio com o
escoamento. Em geral, estão orientados a um ângulo com relação ao
escoamento, são assimétricos e parecem migrar na direção de sua face mais
íngreme.

Tipo 2. Bancos da foz de estuários (estuary mouth).

A) Bancos de foz larga (wide mouth ridges).

 São bancos lineares formados na foz de estuários largos, estando


alinhados com o escoamento e migrando no sentido contrário à face mais
íngreme.

B) Bancos de foz estreita (narrow mouth ridges).

 São bancos que ocorrem em estuários de foz estreita, as correntes de


maré são fortes o suficiente para fechar a embocadura, enquanto as ondas são
dominantes.

Bi) Bancos de foz estreita com recessão - Deltas de maré vazante (with recession - ebb
tidal deltas).

 Bancos formados próximo à foz como deltas de vazante e enchente

Bii) Bancos de foz estreita sem recessão - Bancos conectados à costa (without recession
– shoreface connected ridges)

 Ocorrem quando a costa está se retraindo, neste caso o delta de vazante


forma uma fonte primária de areia para a região próxima à costa, a qual pode ser
modificada por tempestades e originar bancos conectados à costa

Tipo 3. Bancos associados a promontórios (Headland associated banks)

A) Banner banks - promontório sem recessão (banner banks - nonrecessional

headland)

 Estes tipos de bancos podem ser gerados através de vórtices de maré


produzidos por cabos.

46
B) Bancos alternados - promontório com recessão (alternating ridges – recessional
headland)

 Os bancos alternados ou "en-echelon" ocorrem quando o cabo está se


retraindo, onde estes tendem a ficar isolados da costa conforme ela regride.

Entre os bancos localizados na embocadura estuarina de São Luís e na


proximidade da mesma destacam-se:

 Banco da Cerca

Situado a 05 milhas náuticas1 (m.n.) a nordeste (NE) da Ilha do Medo, é um alto


fundo de areia, com 04 m.n. de extensão e 0,5 m.n. de largura. Suas orlas oeste (W) e
leste (E) caem a pique. Nas suas proximidades o mar é desencontrado e a corrente de
maré bastante forte, atingindo por vezes a velocidade de 5 nós. O mar arrebenta em toda
a sua extensão na baixa-mar.

 Banco do Cotovelo

Trata-se de um alto fundo de areia que deita da Ponta da Areia para NW por
cerca de 0,2 m.n.,e daí estende-se por cerca de 1 m.n. para NE, descobrindo-se na
baixamar.

Na figura 07 pode ser observado o posicionamento dos respectivos bancos


citados.

1
Milhas náuticas é uma unidade de medida de comprimento ou distância, equivalente a 1.852 m, utilizada
quase exclusivamente em navegação marítima e aérea e na medição de distâncias marítimas.

47
FIGURA 07: Posicionamento do Banco da cerca (indicado pela seta cinza) e do banco
do cotovelo (indicado pela seta escura), nas proximidades da embocadura estuarina de
São Luís.

Fonte: VALE/FSADU (2007)

 Banco de São Marcos

É o que apresenta-se mais distante da área de estudo, constitui um alto fundo de


areia e coral, com cabeços onde se pruma menos de 1 m, cujo extremo W fica cerca de
1,2 m.n. NE da Ponta de São Marcos. Sobre ele o mar arrebenta por ocasião das baixa-
mares. Tem 03 m.n. de extensão e 0,7 m.n. de largura. Próximo à Ponta de São Marcos
ficam vários recifes isolados, sempre descobertos (Figura 08).

48
FIGURA 08: Banco de São Marcos

Fonte: VALE/FSADU (2007)

 Banco de Minerva

A respectiva feição morfológica caracteriza-se por ser um extenso “alto” fundo


de areia que descobre em meia-maré e que obstrui quase completamente a reentrância
da costa onde estava situado o Porto de São Luís, e deixava apenas um canal navegável,
de 0,1 a 0,2 m.n. de largura, com fundo de 2 a 6 m na baixa-mar, e que vai da Ponta da
Areia até em frente à cidade de São Luís (Figura 09).

49
FIGURA 09: Banco da Minerva

Fonte: VALE/FSADU (2007)

2.3. Batimetria

As informações obtidas através de levantamentos batimétricos são de utilidade


para a navegação, administração portuária e entidades que utilizam o mar como fonte de
atividade. Outras importantes aplicações são a produção e atualização de cartas
náuticas. Especificamente, em aproveitamentos hidroenergéticos, os levantamentos
batimétricos são úteis para a caracterização da morfologia de fundo na fase de
implantação, além do monitoramento da sedimentação e erosão na fase de operação.

50
Durante as últimas décadas, um desenvolvimento considerável nos
equipamentos e métodos utilizados na hidrografia foi observado. Em relação ao
posicionamento da embarcação, a utilização do GPS configurou-se como um grande
avanço em razão de suas características superiores aos sistemas anteriores, sendo o
sistema de posicionamento mais utilizado pela comunidade marítima. As vantagens do
GPS consistem na sua exatidão no posicionamento, cobertura global e disponibilidade
ininterrupta, inclusive independente das condições meteorológicas.

Recentemente, o sistema GPS vem sendo integrado a outros sistemas que


também necessitam de coordenadas precisas, como nas orientações de dragagens, nos
levantamentos batimétricos e sistemas de informação geográfica (GIS). A utilização do
sistema integrado GPS e ecobatímetro para realização de levantamentos batimétricos é
bastante recente, de forma que a literatura ainda é escassa para essas aplicações. Os
fabricantes de equipamentos para a navegação vêm reunindo os recursos de GPS e de
ecobatímetro no mesmo aparelho. Os problemas de simultaneidade entre os dois
recursos são drasticamente reduzidos, visto que no instante de aquisição do sinal as
coordenadas GPS são mostradas juntamente com a profundidade para o mesmo ponto
medido.

Embora tais equipamentos sejam classificados para uso recreativo e atividades


pesqueiras, eles vêm sendo utilizados na medição de reservatórios, hidrelétricas,
apresentando resultados bastante satisfatórios, sendo que sua maior utilização ocorre
para a cobertura dos portos brasileiros. Trabalhos relativos ao mapeamento batimétrico
de hidrelétricas, por exemplo, estão relatados em Meurer (2006), e foram realizados
com ecobatímetros acoplados ao GPS. A literarura técnica sobre levantamentos que
utilizam ecobatímetro-GPS ainda é escassa, existindo algumas referências em Meurer
(2006), Álvares et al. (2000) e Krueger (1999).

Este tipo de ecobatímetro integrado ao GPS é de feixe único, e funciona


tipicamente na freqüência de 200 kHz e, em grandes profundidades, acima de 120 m,
com maior eficiência, porém com menor resolução, na freqüência de 50 kHz.
Entretanto, os ecobatímetros de feixe único, em função do seu cone de emissão, não
abrangem grandes áreas do relevo submarino em comparação com aqueles de feixe
múltiplo. Para aplicações de extrema importância, por exemplo, o levantamento de
perigos à navegação, pode ser empregado um sonar de varredura eletrônica, que deve

51
ser conjugado a um ecobatímetro, pois não fornecem a profundidade da área varrida,
somente as variações significativas do fundo.

O sistema de posicionamento horizontal deste ecobatímetro, isto é, determinação


da latitude e longitude é baseada no GPS, o qual apresenta uma precisão de 90 metros
da posição terrestre exata. Adicionalmente, o ecobatímetro pode ser equipado com o
sistema WAAS, disponível apenas na América do Norte e DGPS, o qual apresenta um
aumento de precisão em relação ao GPS. O sistema DGPS – Diferential Global
Positioning System – tem o objetivo de compensar os erros inerentes ao sinal de GPS,
fazendo a triangularização do receptor GPS, satélite e uma estação de referência de
coordenada conhecida, podendo, também, utilizar transmissores existentes do sistema
de radio farol.

O sistema DGPS consiste na utilização de dois receptores de GPS, um operando


em uma estação de referência e outro a bordo da embarcação. A estação de referência
diferencial calcula as correções do sinal baseadas nos erros da posição conhecida e da
posição dada pelo receptor GPS da embarcação. A precisão do DGPS varia devido ao
número de satélites observados, número DOP (dilution of precision) e com a distância
entre a estação de referência e a embarcação, alcançando de 1 a 10 metros.

Os dois métodos amplamente utilizados para o posicionamento da embarcação


em um levantamento batimétrico são o método de interseção a vante, que consiste na
amarração da posição da embarcação a duas estações em terra realizando uma
triangulação através de métodos topográficos convencionais e o método utilizando
DGPS, o qual dispensa os apoios em terra.

A precisão do levantamento batimétrico está relacionada com o tipo de aplicação


a que se destina. A Marinha do Brasil (MARINHA, 2010) classifica os tipos de
aplicação em quatro ordens de levantamento hidrográfico: Ordem especial, ordem 1,
ordem 2 e ordem 3, onde:

 Ordem Especial: são de aplicação restrita a áreas críticas específicas, de folga


mínima sob a quilha e onde as características do fundo sejam potencialmente
perigosas à navegação, como portos, atracadouros e canais críticos. Nesses
levantamentos faz-se necessário o uso de linhas de sondagem com espaçamento
próximo, em conjunção com equipamento multitransdutor, sonar de varredura

52
lateral ou ecobatímetro multifeixe de alta resolução, de forma a se obter uma
ensonificação integral de fundo (100%);

 Ordem 1: destinam-se às áreas portuárias, canais de acesso, rotas recomendadas,


canais de navegação interior e áreas costeiras com grande densidade de tráfego
mercante, onde a folga sob a quilha seja menos crítica e as propriedades
geofísicas do fundo sejam menos perigosas à navegação (como fundo de lama
ou arenoso). Os levantamentos desta ordem devem limitar-se às áreas com
profundidades menores que 100m;

 Ordem 2: destinam-se às áreas com profundidades menores de 200m, não


abrangidas pela Ordem Especial e Ordem 1 e onde uma descrição geral da
batimetria seja suficiente para assegurar a inexistência de obstruções capazes de
colocar em risco as embarcações suscetíveis de transitar ou operar na referida
área. É o critério a ser adotado para uma variedade de usos marítimos que não
justificam levantamentos hidrográficos de uma ordem mais alta;

 Ordem 3: destinam- se a todas as áreas não abrangidas pela Ordem Especial,


Ordens 1 e 2 e onde as profundidades sejam superiores a 200m.

A escala adotada do levantamento batimétrico deve estar de acordo com o nível


de detalhamento que pretende-se representar, considerando a precisão mínima. Outras
variáveis como tempo e esforço despendidos na sondagem também são considerados na
escolha da escala. A escala do levantamento conduzirá a uma maior ou menor densidade
de malha, na qual deve ser considerada a importância da área, a morfologia do fundo, a
profundidade, a cobertura fornecida pela sondagem e os meios disponíveis para o
levantamento. Dependendo da finalidade do levantamento e sua aplicação, é possível
definir a sua escala.

Para as finalidades pretendidas do levantamento batimétrico, a Marinha do


Brasil estabelece escalas usuais em suas Especificações para Levantamentos
Hidrográficos (MARINHA, 2010).

• Portos, ancoradouros, canais e área de praticagem devem ser hidrografadas numa


escala maior ou igual a 1 : 10.000.

53
• Áreas de aproximação a portos e ancoradouros e outras águas usadas regularmente
para a navegação devem ser hidrografadas em uma escala igual ou maior a 1 : 20.000,
mas nunca menor que 1 : 25.000.

• Áreas costeiras com profundidades de até 30 metros ou 40 metros, onde navios de


grande calado operam ou onde há suspeita de existência de casco soçobrado e outros
obstáculos devem ser hidrografadas em uma escala igual ou maior a 1 : 50.000.

• Levantamentos hidrográficos em profundidades entre 30 e 200 metros podem ser


realizados em uma escala menor que 1 : 50.000, dependendo de vários fatores, sendo os
mais críticos a importância da área coberta, a profundidade e a configuração do fundo.
A escala não deve ser menor que 1 : 100.000, exceto em circunstâncias excepcionais.

A disposição das linhas de sondagem em levantamentos batimétricos de rios ou


canais deve ter um sentido perpendicular a linha de talvegue destes, por permitir uma
aproximação mais exata da declividade do fundo e um traçado mais correto das
isobatimétricas (linhas de mesma profundidade). O afastamento das linhas de sondagem
segue o padrão recomendado pela Marinha do Brasil, fixado em no máximo 10 mm, o
que representa um afastamento de 10 mm na carta elaborada com a escala adotada
(MARINHA, 2010).

Em relação aos níveis de referência, três devem ser considerados, que estão
relacionados entre si, sendo eles: as referências de nível (RN), o zero da régua e o nível
de redução. A referência de nível pode ser um ponto exterior ao levantamento,
materializado com uma marcação, ao qual estará amarrado todo o levantamento
batimétrico. A partir das RN, as coordenadas, latitude, longitude e altitude dos diversos
pontos do levantamento podem ser referenciados.

O zero da régua corresponde ao menor nível que pode alcançar o corpo de água
sem perda da medição. A régua não precisa estar instalada necessariamente no ponto
mais baixo do corpo de água a ser medido, porém esta deve estar situada de maneira que
compreenda todo o intervalo de variação de nível do corpo de água. O nível de redução
é considerado como nível mínimo esperado do corpo de água, podendo ser influenciado
pelo regime de água de um rio e das situações extremas de maré. O nível de redução é
considerado como o zero para determinação das alturas de maré.

54
As profundidades obtidas por ecobatímetro se referem às alturas entre o casco da
embarcação, onde está instalado e o fundo do leito do reservatório. Para o cálculo das
profundidades reais do reservatório, deve ser considerado o valor do calado do navio
(Figura 10). Outro ponto imprescindível é a redução das sondagens, que consiste na
correção dos valores de nível de água medidos descontando-se as elevações de maré
ocorridas durante o instante da medição.

FIGURA 10: Cotas consideradas num levantamento batimétrico realizado com


ecobatímetro.

Fonte: Ferreira 2007.

Em relação ao posicionamento da sonda, os métodos comumente utilizados são


métodos de interseção a vante, e através do posicionamento por satélite. O método de
interseção a vante necessita de estações de apoio em terra, pois consiste na
determinação das posições através de triangulações entre a embarcação e duas estações
em terra através do emprego de equipamentos típicos de levantamentos topográficos.
Por outro lado, o método de posicionamento por satélites pode utilizar o sistema DGPS
para obter as coordenadas dos pontos a serem sondados e, por essa razão, dispensa a
presença de estações de apoio em terra.

55
Portanto, a sequência exata dos métodos estabelecidos, permitirá o
enquadramento mais próximo do real para qualquer corpo hídrico investigado, gerando
resultados que servirão de subsídio para discutir quaisquer processos que comprometam
as zonas costeiras, estuarinas, rios, lagos e etc.

56
3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

 Avaliar o processo de assoreamento na embocadura estuarina de São Luís e a


influência deste no comprometimento da sustentabilidade ambiental local.

3.2. Objetivos específicos

 Realizar o levantamento batimétrico da área de estudo;

 Verificar a evolução dos bancos de areia na área;

 Avaliar as mudanças na direção e velocidade das correntes marinhas tanto na


enchente como na vazante;

 Validar as estimativas de assoreamento estabelecidas em estudos pretéritos;

 Verificar a evolução morfológica do fundo, para a área de estudo;

 Associar os cenários de assoreamento da Embocadura Estuarina de São Luís ao


comprometimento da Sustentabilidade Ambiental, Econômica e Social.

57
4. METODOLOGIA

4.1. Área de Estudo

A Ilha do Maranhão (Ilha de São Luís) está localizada entre as coordenadas de


02°24’09” e 02°46’13” S e 44°01’20” e 44°29’47” W de Greenwich, encontrando como
limites à oeste, a baía de São Marcos; à leste a baía de São José; ao sul o Estreito dos
Mosquitos e ao norte, o Oceano Atlântico. Na ilha, existem quatro municípios: São
Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa (COELHO, 2006).

No espaço do município de São Luís encontra-se a área de estudo, que abrange a


embocadura estuarina de São Luís. Esta área estende-se da Ponta da Guia até a Ponta da
Areia compreendendo os braços de mar Bacanga e Anil estando localizada na margem
leste da Baía de São Marcos (Figura 11).

FIGURA 11: Mapa da Área de Estudo.

Conforme pode ser observado na figura acima, as bacias do Anil e do Bacanga


tendem a contornar toda a porção leste da embocadura estuarina, exercendo grande
influência nos processos morfodinâmicos da mesma, por isso, será apresentada em
seguida uma caracterização destas duas bacias.

58
4.1.1. Bacanga

O rio Bacanga representa um braço de mar, com suas nascentes na região do


Maracanã, que adentra 22 km na Ilha de São Luís, tendo como principal tributário o Rio
das Bicas. Ambos têm dimensões reduzidas e os seus comportamentos hidrodinâmicos
se devem quase que exclusivamente à variação das marés. Como as marés na Baía de
São Marcos têm valores consideráveis, quando dos níveis de preamar têm-se grande
prisma de maré confinado no estuário.

Devido à sua localização geográfica, o rio Bacanga constituía um empecilho


natural à ligação rodoviária (BR-135) entre o centro de São Luís e o Porto de Itaqui,
representando 36 km de percurso, que foram reduzidos para 9 km e constituíram trecho
do Anel Viário de São Luís. Por outro lado, o rio Bacanga representava um grande
depositário dos esgotos de São Luís, recebendo os dejetos de descargas diretas, ou
através de um seu tributário que tem suas nascentes dentro da própria cidade. Assim,
concebeu-se a idéia de construir um aterro-barragem, de modo a encurtar a ligação
rodoviária para o Porto de Itaqui, bem como produzindo o represamento de um volume
de água que funcionasse como uma lagoa de decantação, melhorando as condições
sanitárias da região marginal de São Luís. O sistema foi implantado ao final da década
de 1960, constituindo-se de uma barragem de terra transversal ao estuário, tendo em sua
crista a passagem da estrada que liga o centro de São Luís ao Porto do Itaqui. O
vertedouro de concreto de 42,5 m de largura é composto de três vãos dotados de
comportas, que foram implantados para permitir o fluxo das águas na margem esquerda
do estuário, no Tamancão, sendo que sobre ele foi construída a ponte de concreto
armado para a travessia entre as duas margens do estuário.

Antes da construção da barragem, na região fronteiriça do porto, o canal


principal de descarga situava-se pela margem direita do estuário, o que foi totalmente
modificado, vindo a se colmatar o canal antigo que dava acesso ao porto. No interior da
barragem ocorre uma tendência natural de ocorrência de processos de deposição e
assoreamento, com conseqüente diminuição do prisma de maré.

A barragem existente foi originalmente projetada para manter níveis internos à


cota 5,8 m (DHN). Posteriormente, visando ao aproveitamento de certas áreas marginais
ao lago, a operação no reservatório foi modificada objetivando a fixação de cotas

59
máximas em torno de 2,5 a 3,5 m (DHN). De fato, com a inauguração da Av. Presidente
Médici (atual Av. dos Africanos) em 1973, que margeava o reservatório pela sua borda
direita e prolongando-se ao longo do Rio das Bicas, apresentando em alguns trechos
cotas inferiores a 6,0 m (DHN), no processo de ocupação urbana desenvolveram-se
bairros em áreas que seriam anteriormente alagadas entre a meia-maré e a preamar,
como os de Areinha, Coroado e Coroadinho.

4.1.1.1. Caracterização da Bacia do Bacanga

A bacia do Bacanga localiza-se na região noroeste do município de São Luis.


Está compreendida entre as coordenadas geográficas 2° 31’ 30’’ a 2° 39’ 13’’ de
Latitude Sul e 44° 14’ 25’’ a 44° 20’ 27’’ a Oeste do Meridiano de Greenwich (Figura
12).

De acordo com Coelho (2006) a bacia do Bacanga apresenta os seguintes


limites, ao norte: baía de São Marcos associado à embocadura estuarina de São Luís, ao
sul: o Tabuleiro Central da Ilha na região do Tirirical, à leste: o divisor de águas que
separa as bacias dos rios Anil, Paciência e Tibiri e à oeste: pelo divisor de águas que
separa a bacia do Bacanga das bacias litorâneas do lado oeste da Ilha.

FIGURA 12: Bacia do Bacanga.

Fonte: Castro, 2008.

60
O clima da região apresenta classificação climática, definida pelo IBGE, como
quente úmido tropical de zona equatorial. De acordo com os dados climatológicos da
série temporal entre 1993 –2009, da Estação Meteorológica Cunha Machado – Tirirical,
a chuva apresenta média anual de 1.857,16 mm com valor mínimo anual de 1.239,5mm
e máximo de 2.563,9 mm, temperatura média anual de 27°C e umidade média anual de
80%. A sazonalidade da chuva na área é marcante indicando o período chuvoso de
janeiro a junho e o período seco de julho a dezembro.

Do ponto de vista geológico, na área da bacia do rio Bacanga existe basicamente


a presença de Aluviões fluvio-marinhos, que são depósitos aluvionares recentes,
constituídos por cascalhos, areias e argilas inconsolidadas (MARANHÃO, 2002).

O modelo hidrogeológico da Ilha de São Luís caracteriza-se por dois aquíferos,


sendo o primeiro semi-confinado, relacionado aos sedimentos cretáceos, pertencentes à
Formação Itapecuru e o segundo aquífero livre, constituído pelos níveis arenosos dos
sedimentos terciários Barreiras (PEREIRA, 2006). As áreas potenciais para recarga do
Aquífero Barreiras na bacia do Bacanga em função do índice topográfico coincidem
com a região do Tabuleiro (cotas acima de 40 metros), ao leste e sul da bacia, e as áreas
de menor potencial, também definidas pelo índice topográfico, coincidem com as
regiões de suaves colinas (cotas de 20 a 30 metros) (CASTRO, 2008).

Do ponto de vista geomorfológico, a bacia do Bacanga apresenta basicamente


duas feições denominadas de Terrenos de Terra Firme e Terrenos de Médio Litoral
(MARANHÃO-GEAGRO, 2003).

Os Terrenos de Terra Firme de idade Terciário ocupam aproximadamente 9.300


hectares, com 96,4% da região e os Terrenos de Médio Litoral, ocupam uma área de
aproximadamente 345 hectares, correspondente a 3,6% do território (CASTRO, 2008).

Os tipos de solos que predominam na região, baseados em mapeamento de


1:100.000 são Argilossolos, Gleissolos, Neossolos e Solos Indiscriminados de Mangue
(MARANHÃO, 2002).

61
4.1.2. Anil

O rio Anil é, na verdade, um braço de mar alimentado pelo fluxo das marés da
Baía de São Marcos. Seu regime hidrológico no período de estiagens é totalmente
vinculado ao fluxo das marés, sem contribuições relevantes de montante. Na época das
chuvas há um evidente acréscimo de vazões, mas que pouco se estendem além do
período das precipitações, sem, entretanto provocar maiores oscilações do nível d´água
nos canais. A bacia hidrográfica do rio Anil é menor do que a do rio Bacanga,
possuindo 33 km2 de área e 13 km de comprimento. Por outro lado, vem sofrendo
significativamente com o forte adensamento populacional dos últimos 30 anos, após a
implantação da Ponte José Sarney em 1970, com a ocupação das áreas mais baixas,
onde estão manguezais e várzeas.

Com relação aos seus tributários, o rio Anil apresenta os seguintes:

 Margem direita

Igarapé da Ana Jansen, Igarapé do Jaracati, Igarapé do Vinhais e rio Ingaúra.

 Margem esquerda

Rio Jaguarema, Córrego da Vila Barreto, Córrego da Alemanha e Igarapé da


Camboa.

De acordo com informações da VALE/FSADU (2007), o processo de


urbanização em desenvolvimento alcança atualmente uma ocupação de 65,2% de todos
os solos disponíveis da bacia hidrográfica do rio Anil (Figura 13). Este processo
estende-se lateralmente por todo o espaço disponível pela margem esquerda,
correspondendo aos terrenos que compreendem desde o bairro da Praia Grande até o do
Anil, além do setor extremo a NW pela margem direita, incluindo a faixa de terras entre
a Ponta da Areia e o Renascença, continuando pela margem direita avançando para SE
acompanhando o traçado dos eixos viários principais, alternando-se com feições de
vegetação em diferentes estágios de degradação. Merece registro o gradual acréscimo de
áreas ocupadas da planície flúvio-marinha em terrenos de manguezais aterrados
mecanicamente.

62
FIGURA 13. Ocupação da bacia hidrográfica do rio Anil

Fonte: ALCÂNTARA & SILVA, 2003.

Em virtude dos levantamentos relacionados à ocupação da bacia do Anil,


entende-se que de 1980 aos dias atuais, esta bacia hidrográfica foi intensamente
modificada pela crescente urbanização, potencializando-se nas ações de pré-urbanização
a gradual remoção da cobertura vegetal, com conseqüente exposição de solos a intensos
processos de intemperismo, que se alternam ao longo do ciclo climatológico anual.
Assim durante as chuvas, de janeiro a junho, predominam a lixiviação e/ou erosão
pluvial e durante o período de estiagem ocorre a dessecação ou erosão eólica.
Evidências destas conseqüências são encontradas no assoreamento que obstrui
parcialmente o canal principal na região do médio curso do rio, imediatamente a jusante
da ponte Governador Newton Belo.

4.1.2.1. Caracterização da bacia do Anil

A bacia do rio Anil localiza-se na porção noroeste de São Luís, entre as latitudes
02º29’14” e 02º34’47” S e as longitudes 44º12’55” e 44º 19’15” W. Possui
aproximadamente 14 km de extensão, a qual está localizada no quadrante NW da ilha de
São Luís – MA (LABOHIDRO, 1980). Tem suas nascentes localizadas no bairro da

63
Aurora. Limita-se com as bacias oceânicas ao Norte, com a Bacia do Rio Paciência ao
Leste, com a do Bacanga ao Sul e com a Baía de São Marcos à Oeste.

Com relação às condições climáticas, a bacia do anil está inserida em uma região
com clima tropical úmido, caracterizado por dois períodos sazonais bem definidos,
principalmente pela distribuição da pluviosidade, apresentando como características
básicas, elevadas temperaturas e com pequenas oscilações ao longo de todo ciclo anual,
precipitações com distribuição sazonal regular, marcada pela alternância de uma estação
chuvosa e uma estação seca, e ventos moderados, soprando predominantemente de
nordeste (MARANHAO, 2001).

A temperatura da Bacia apresenta uma média anual superior a 27ºC com


mínimas absolutas superior a 20ºC. A amplitude máxima anual é inferior a 1,5ºC, o que
sugere grande estabilidade térmica ao longo do ciclo sazonal (MARANHAO, 2001). A
umidade relativa do ar anual é superior a 82% (NUGEO/LABMET, 2000 apud VIANA
2008).

Do ponto de vista da geologia, a área faz parte da Bacia Sedimentar de São Luís,
que compreende todo o litoral ocidental do Estado, inclusive o Golfão Maranhense.
Caracteriza-se pela presença de aluviões marinhos com depósitos recentes, sendo
constituída por cascalho, areia e argila inconsolidadas (NUGEO/LABGEO, 1999 apud
VIANA, 2008). Ocorre a predominância de formações de origem terciária e quaternária,
estando constituída por rochas sedimentares, principalmente, arenitos e argilitos
inconsolidados do Terciário, significativamente alterados. A bacia apresenta uma
estratigrafia, na qual se distinguem essencialmente, três sequências, com as seguintes
representações: arenitos e argilitos da Formação Itapecuru; arenitos, argilitos, folhelhos
e calcários das Formações Pirabas, São Luís e Turiaçu pertencentes à Série Barreiras
(MARANHAO, 2001)

Geomorfologicamente, a bacia faz parte do Golfão Maranhense, cuja área é


resultante do intenso trabalho de erosão fluvial do Quaternário antigo, posteriormente
colmatada, originando uma paisagem de planícies aluviais, ilhas, lagos e rios
divagantes, que constitui o coletor principal do sistema hidrológico (IBGE, 1984).

A bacia do rio Anil apresenta solo do tipo latossolo amarelo, estes caracterizam-
se por serem profundos, bem drenados com textura variando de média a muito argilosa,

64
são ácidos, poroso e friáveis de cor amarelada. Nos terrenos de terra firme,
predominam principalmente os Latossolos Amarelos (LA) e Vermelho Amarelo (LVA),
sendo registradas ocorrências localizadas de Laterita Hidromórfica (LH)
(MARANHAO, 2001). A Bacia apresenta também solos Hidromórficos
Indiscriminados (HG) e Halomórficos Indiscriminados de Mangues (SM). Segundo
LAMBERTI (1966), UFMA / LABOHIDRO (1980; 1983) e IBGE (1984), estes tipos
de solos, são mal drenados, com alto conteúdo de sais minerais provenientes da água do
mar e de compostos de enxofre, elevada participação de matéria orgânica e com textura
variando desde argilosa até arenosa. Distribuem-se nas faixas costeiras, em trecho da
baixada litorânea, nas proximidades das embocaduras dos rios, margens de lagoas e
partes baixas da orla marítima, (NUGEO/LABGEO, 1999 apud VIANA, 2008).

4.2. Variáveis Oceanográficas

4.2.1. Direção e Velocidade das Correntes

Para a determinação da direção e velocidade da corrente foram lançados


flutuadores nas fases de meia maré de vazante e enchente. Uma vez lançados na
Embocadura, estes objetos apresentaram diversos comportamentos, dirigindo-se no
sentido em que as correntes promoveram seu carregamento.

Os flutuadores (Figura 14) foram monitorados com o auxilio de uma lancha, e


um GPS, onde, foi plotado em coordenada UTM o ponto inicial, e após cerca de 10
minutos, o ponto final do flutuador.

A B
B

FIGURA 14: Flutuador utilizado para a medição da velocidade das correntes (A) e
flutuador lançado na foz do Bacanga durante a campanha de maio de 2011 (B).

65
Após obtidos os pontos de partida e de chegada do flutuador, os mesmos foram
lançados em uma imagem georeferênciada da área de estudo, utilizando-se o software
ArcGis para a obtenção da distância percorrida pelos flutuadores. De posse dos dados de
distancia e de tempo (período de 10 minutos) estimou-se as velocidades das correntes.

4.2.2. Batimetria

Como batimetria entende-se a coleta de medidas de profundidade, que


posteriormente são transformadas em cotas de fundo.

O levantamento batimétrico requer o conhecimento da curva de maré durante o


levantamento, para que as sondagens de profundidade sejam transformadas em cotas de
fundo georeferenciadas para um determinado datum vertical. Isto geralmente é feito
com observação simultânea do nível de maré em um ponto cotado ou relacionando o
levantamento batimétrico com uma curva de maré estimada por tábua de maré.

A maneira mais simples de realizar batimetria consiste em obter medidas de


profundidade com uma trena com peso na ponta. A cada medida de profundidade,
anota-se a localização (obtida com GPS de navegação) e o horário da medida (para
posterior correção com o nível de maré). Para melhor otimizar o tempo de coleta, um
perfil transversal do estuário (seção) poderá ser realizado.

Em áreas profundas e com correntes fortes, o uso da trena é inviável, e a melhor


opção é o uso de um ecobatímetro digital. Neste caso, a leitura de profundidade é
realizada pelo eco e a posição com o GPS, assim como os horários.

Para o presente estudo, a obtenção dos dados batimétricos, foi realizado através
de um levantamento na foz dos estuários Anil e Bacanga. A área coberta pelo
levantamento foi de aproximadamente 4,0 Km2, sendo o trecho logo a jusante da
barragem até a margem direita do Anil e ponta de São Francisco, fechando até a Ponta
do Bonfim.

Os equipamentos utilizados foram, basicamente, uma ecossonda/GPS, da marca


Console - RAYMARINE CHARTPLOTTER RC320 (RAYCHART), interface -
RAYMARINE E85001, com auxílio de um computador portátil para aquisição dos
dados (Figura 15). Esta ecossonda/GPS compreende uma unidade display, conectada a
uma antena GPS e a um transdutor submerso. O trandustor trabalha com a emissão de
pulsos nas freqüências de 50 kHz ou 200 kHz e calcula a profundidade através da

66
diferença de tempo entre a emissão e a recepção do sinal, capaz de detectar
profundidades entre 0,5 e 800 metros com precisão de 0,1 metros. A amostragem de
dados de profundidade é feita em intervalos de 2 segundos. O posicionamento do GPS
permite uma precisão inferior a 10 m de raio e adquire valores de posição da
embarcação em intervalos de 1 segundo.

A escala adotada para o levantamento foi de 1:10.000, uma vez que a mesma
apenas apresentou o objetivo de complementar as cotas obtidas pelas imagens aéreas da
área de estudo . Com relação ao espaçamento entre as linhas de sondagem, segundo
norma para levantamentos hidrográficos da Marinha (Marinha, 2007), estas não devem
ser maiores que 10 mm, observado na carta elaborada com a escala adotada, conforme
indicado na expressão abaixo:

Logo, o espaçamento das linhas de sondagem resultou em 100 metros. Em


relação ao espaçamento entre as sondagens, a norma da Marinha determina que esta não
deve ser inferior a 5 mm, o que corresponde a 25 m neste caso.

A disposição das linhas de sondagem tiveram sentido perpendicular a linha de


talvegue na foz dos rios (Figura 16), o que permitiu uma aproximação mais exata da
declividade do fundo e um traçado mais correto das isobatimétricas (linhas de mesma
profundidade).

67
FIGURA 15: Equipamento utilizado para realização dos levantamentos batimétricos.

FIGURA 16: Disposição das linhas de sondagem

68
Quanto à precisão das profundidades obtidas no levantamento, a norma da
marinha determina que o erro total na medida não deve exceder 0,3 metros em
profundidades de 0 a 30 metros e 1 % das profundidades para aquelas maiores que 30
metros, com uma probabilidade de 90 %. Neste caso, a variável reduzida z da
distribuição normal é igual a 1,64 e a tolerância (x-μ) deve ser inferior a 0,3 metros.
Então, a equação que calcula o limite do erro na medição da profundidade fica
estabelecida da seguinte forma:

Onde, é a precisão das profundidades


z é a variável reduzida para 95 % de probabilidade
x são as medidas realizadas;
μ é a média das medidas;

O valor encontrado de 0,18 metros é superior à precisão do equipamento, que é


de 0,1 metros, sendo, portanto, adequada, sua utilização na medição de profundidade. O
nível de probabilidade neste caso seria de 99,7 %, sendo este, maior que o requerido,
que é de 90 %.

Para a realização das correções batimétricas, utilizou-se os dados referentes aos


horários e cota da maré para o exato dia dos levantamentos batimétricos (Figura 17),
fornecidos pela Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN). A partir da
obtenção dos dados, gerou-se uma curva através da correlação entre a hora e cota de
maré apenas para o intervalo de tempo referente às atividades batimétricas (Figura 18).
A equação gerada foi do tipo Y = A + BX, sendo esta, uma equação linear.
Onde: Y representa a cota da maré
X representa o horário da maré

69
FIGURA 17: Nível da maré para o dia 20/04/2011, conforme dados do DHN.

FIGURA 18: Correlação entre hora e cota de maré referente ao primeiro intervalo de
preamar para baixamar.

70
Os coeficientes da equação foram:
A = 14,36 e B = - 0,986
Uma vez obtida a equação, era possível obter a cota de maré em qualquer
horário, desde que se enquadrasse no intervalo correspondente. Determinado a cota de
maré para cada hora referente ao levantamento batimétrico, aplicou-se a seguinte
equação abaixo para a correção das profundidades:
Ps = Pr - hm
Onde: PS é a profundidade na sondagem
PR é a profundidade real
hM é a altura da maré no instante da sondagem

Após a realização das correções da profundidade, todos os resultados obtido


estavam enquadrados na cota DHN, logo elaborou-se a subtração das cotas por 2,56,
permitindo a transformação das cotas de DHN para a cota IBGE (Imbituba). Este
procedimento se tornou necessário para o estudo, devido ao fato de boa parte dos dados,
utilizados para discutir a evolução do assoreamento, encontrar-se na ultima cota citada.

4.2.3. Evolução do assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís e da


erosão na Praia da Ponta da Areia

A estruturação geomorfológica contemplada neste estudo procurou discutir os


padrões de deposição e erosão do canal de acesso ao porto de São Luís (embocadura).
Uma cobertura batimétrica total da área de estudo exigiria uma demanda elevada de
recursos financeiros tornando inviável sua realização. Desta maneira, um procedimento
metodológico alternativo foi adotado a partir da elaboração de uma discussão da
evolução dos padrões de erosão e deposição da embocadura dos rios Anil e Bacanga.

A idéia central da metodologia proposta, consistiu na elaboração de um modelo


conceitual a partir da análise de batimetria de cartas náuticas de diferentes períodos,
associado a uma batimetria realizada pela VALE em 2006 e análises batimétricas de
fotos aéreas obtidas em 2011. Como complementação dos dados, foi inserido o
levantamento batimétrico realizado em maio de 2011.

O modelo conceitual, por sua vez, pode ser utilizado para a elaboração de
cenários de assoreamento e fundamentar a discussão de impactos potenciais.

71
A batimetria utilizada foi extraída de cartas náuticas da DHN para os anos de
1947, 1966, 1974 e 1984. Paralelamente foram resgatados os dados batimétricos
realizados pela VALE no ano de 2006, além dos levantamentos primários realizado em
2011. Infelizmente, para o caso das cartas da DHN, as mesmas não representam a
totalidade da área dos estuários dos rios Anil e Bacanga, restringindo, portanto, cenários
de assoreamento ao longo de uma série temporal para a foz destes corpos d’água.

Para a realização do estudo, as cartas náuticas, inicialmente foram escaneadas e


georeferenciadas para o sistema de coordenadas UTM, datum horizontal SAD69. Neste
formato suas isóbatas e limites de bancos de areia e lama foram vetorizados, sendo as
linhas digitais resultantes convertidas em arquivos de pontos cotados, que foram assim,
utilizados para cálculo dos volumes de corte e aterro utilizando o software SURFER 10
(Golden Software). O mesmo procedimento foi adotado para as imagens 2011, apenas
não havendo a necessidade de serem escaneadas, uma vez que as mesmas já foram
obtidas no modelo digital. Nas figuras 19 e 20 pode ser observado os mosaicos montado
para as fotos aéreas datadas de fevereiro e agosto de 2011 delimitados em aquirvos
shapefile, representando as cotas de maré. A vetorização das cotas ocorrem através do
software ArcGis 9.3.

72
FIGURA 19: Mosaico e vetorização das imagens aéreas da Embocadura Estuarina de
São Luís. Sobrevôo ocorrido em fevereiro de 2011.

Fonte: Aerofotos AMBTEC (2011)

FIGURA 20: Mosaico e vetorização das imagens aéreas da Embocadura Estuarina de


São Luís. Sobrevôo ocorrido em agosto de 2011.

Fonte: Aerofoto AMBTEC (2011)

73
Em função das cartas batimétricas da DHN não apresentarem detalhamento de
cotas para os bancos de areia, uma vez que seu objetivo explícito é o mapeamento
confiável dos canais de navegação, e também por mapearem apenas uma área restrita da
foz, foi adotada uma metodologia específica para enriquecimento do modelo digital de
terreno. Esta consistiu no georeferenciamento altimétrico de limites notáveis, tais como
limites da floresta de mangue e sua planície de bancos de lama adjacentes (o lavado);
como também os limites máximos e mínimos das marés de sizígias (Tabela 01).

TABELA 01: Cotas aproximadas para alguns limites de unidades de paisagem da região
entre marés utilizadas para completar o modelo digital de terreno dos estuários dos rios
Anil e Bacanga.

COTA
COTA
IBGE
LIMITE DHN OBSERVAÇÃO
(Imbituba)
(metros)
(metros)

O lavado é a região entre marés que só é exposta


quinzenalmente, nas fases de lua nova e cheia.
Limite inferior do
1,56 -1,0 Tecnicamente equivale à média das baixa-mares de
Lavado
sizígia É desprovido de vegetação de mangue devido
ao excessivo tempo de submersão.

Colonização por
Laguncularia racemosa (mangue branco ou tinteira) é
indivíduos de
uma das espécies de mangue que mais tolera a
Laguncularia sp. 2,56 0,0 inundação diária por marés.
isolados

Limite inferior da
Reconhecido por faixas características da vegetação de
floresta de mangue 4,40 1,84
manguezal
desenvolvida

Limite inferior das


O nível médio das marés induz a uma “poda”
copas de árvores de 5,26 2,70
sistemática da porção inferior das copas.
mangue

É o limite da região de marés com a terra firme. É


Limite máximo da facilmente identificável, pois o contraste, em fotos
6,56 4,00
preamar de sizígia aéreas, entre a vegetação de mangue e a de terra firme
é evidente.

74
Para avaliar com maior precisão a evolução geomorfológica da foz foi calculado
o volume de assoreamento propriamente dito, a partir da superposição dos modelos
digitais de terreno para a morfologia de fundo da área de estudo. A metodologia
consiste na transformação dos modelos digitais de terreno, obtidos a partir da
vetorização das cartas náuticas, batimetria da VALE e levantamentos primários, em
grades regulares de pontos, que poderão então, ser superpostas em software específico
para cálculo de volumes de erosão e deposição. Os anos considerados serão 1947, 1966,
1984, 2006 e 2011. Para a obtenção dos volumes para cada um dos períodos analisados
utilizou-se o software SURFER 10 (Golden Software), assim como para a geração do
Modelo Digital de Terreno, pelo método de interpolação denominado kriging.

Com relação às atividades erosivas que alteraram a praia da Ponta da Areia,


procurou-se estimar a área que seria afetada para anos futuros baseado nas taxas de
erosão obtidas em imagens aéreas de 1999, 2005 e 2007. A região selecionada consistiu
na extremidade oeste da praia, nas proximidades do Memorial Bandeira Tribuzzi.

As imagens obtidas foram georeferênciadas no software ArcGis e, por


conseguinte, foram observadas a evolução das áreas erodidas. Os pontos danificados
pela erosão foram delimitados, e calculado a área, em seguida, através da equação da
função linear, estabeleceu-se estimativas para a expansão da erosão na mesma região.

Para incrementar as discussões sobre o assoreamento na área de estudo,


procurou-se implementar fatores que evidenciassem a evolução do processo em questão.
Assim, foram realizados levantamentos primários e secundários relacionados a:

 Dinâmica geomorfológica da foz dos rios Anil e Bacanga;

 Aos padrões de circulação na área de estudo, conforme foi descrito no iten 4.2.1;

 A partir da evolução da área, observado através do modelo digital de terreno


(MDT) e;

 A partir da dinâmica dos bancos de areia na Embocadura e áreas adjacentes.

75
4.2.4. Efeitos do assoreamento na sustentabilidade ambiental

Para verificar como os processos de preenchimento sedimentar comprometeriam


a sustentabilidade ambiental na área de estudo, foi avaliado, primeiramente, a evolução
dos cenários, e como estes tenderiam a modificar o ambiente, tanto do ponto de vista
físico, como biótico e social. Por conseguinte, foi analisado e discutido como essas
mudanças comprometeriam a sustentabilidade ambiental da embocadura estuarina de
São Luís, ou seja, procurou-se realizar uma espécie de associação entre a
sustentabilidade ambiental, social e econômica com os cenários de assoreamento.

Com o objetivo de incrementar as perdas oriundas do processo de assoreamento


e erosão, procurou-se atribuir técnicas de valoração ambiental, uma vez que estas são de
especial utilidade para enriquecer a análise custo- benefício, pois permitem incluir os
valores de não-mercado dos impactos ambientais na avaliação econômica e, por
conseguinte, na tomada de decisões.

Para a definição do valor dos diversos bens ambientais, inúmeras técnicas são
utilizadas, muitas baseadas nos preços de mercado, outras nos custos e algumas no valor
agregado. Os métodos de valoração de bens não-mercadológicos utilizam-se da
microeconomia e do conceito de excedente do consumidor, e os de natureza ecológica,
relacionam-se às perdas de bens e serviços ambientais. Assim, o caminho mais indicado
para calcular o valor existente de ecossistemas é através de um método de valoração que
possibilite sua estimativa.

No caso da valoração dos impactos ambientais negativos decorrentes dos


processos de assoreamento na embocadura estuarina de São Luís e erosão na praia da
Ponta da Areia, utilizou-se alguns parâmetros relacionados à perda de bens e serviços
ambientais referentes à Pesca Artesanal, Vegetação, Serviços Ecossistêmicos. Além
destes, estimou-se as perdas econômicas referentes à moradia e ao comércio.

A estimativa de valoração para os impactos decorrentes do assoreamento e


erosão na Embocadura Estuarina de São Luís e praia da Ponta da Areia,
respectivamente, foram baseados nos estudos de caso de valoração econômica da
biodiversidade em áreas de manguezais e zona costeira brasileira, publicado pelo
Ministério de Meio Ambiente (MMA, 2000).

76
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Cartas Náuticas Utilizadas

A execução de uma análise da evolução topo-batimétrica da região se torna


interessante, uma vez que permite entender as mudanças hidrosedimentológicas
observadas na embocadura estuarina de São Luís. Logo o primeiro documento que
delineia o perfil batimétrico da área investigada é a Carta Náutica de 1867,
correspondente à sondagem de Mouchez (Figura 21).

Além da carta de 1867, a região de estudo está coberta pelas sondagens


batimétricas realizadas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) do Centro de
Hidrografia (CHM) da Marinha do Brasil (MB), representadas nas Cartas Náuticas
correspondentes às seguintes sondagens:

• Carta Náutica 412 - Sondagem de 1947 – (Figura 22)

• Carta Náutica 412 - Sondagem de 1968 – (Figura 23)

• Carta Náutica 412 - Sondagem de 1974 – (Figura 24)

• Carta Náutica 430 - Sondagem de 1974 – (Figura 25)

• Carta Náutica 412 - Sondagem de 1984 – (Figura 26)

77
FIGURA 21. Carta de Mouchez – 1867.

A Carta de Mouchez não apresenta resolução suficiente para uma comparação


volumétrica do prisma de maré, entretanto apresenta informações importantes. Pode-se
observar um canal natural para o antigo Porto de São Luís com cotas de profundidades
maiores que 5,0 m (DHN), na região que hoje encontra-se assoreada com profundidades
muito reduzidas, próximas a 0,0 m (DHN). A Carta de Mouchez, por ter sido levantada
em época em que nenhuma obra de dragagem, ou de fixação de dunas tinha sido
realizada, indica claramente que no início do século, havia um canal de razoável
profundidade mantido naturalmente pelas correntes de maré de enchente e vazante.
Quanto à região da Ponta da Areia, pode-se notar que a carta não apresenta a
proeminente língua de areia que se projeta da ponta, o que também não se observa nas
cartas náuticas até meados da década de 1970.

78
FIGURA 22. Hidrografia do rio Bacanga e rio Anil – Antigo Porto de São Luís – 1947.

79
FIGURA 23. Sondagem de 1966 com correções até 1968.

80
FIGURA 24. Sondagem de 1974.

81
FIGURA 25. Detalhe da Carta 430 – Sondagem de 1974.

82
FIGURA 26. Carta DHN 1984.

83
Através de uma simples avaliação visual, percebe-se ao longo do período, uma
diminuição do canal principal de acesso ao porto de São Luís, sendo sua dimensão
reduzida tanto em largura como em profundidade. Salienta-se que na carta de 1974, por
exemplo, ao longo do canal, as profundidades alcançavam cerca de 6m, enquanto que na
carta de 1984 as profundidades nestes mesmos pontos não ultrapassavam a casa dos 3m.

5.2. Evolução do assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís e da


erosão na Praia da Ponta da Areia

5.2.1. Avaliação da Dinâmica de Assoreamento na Foz

A tabela 02 mostra os volumes de água que ocupariam o espaço compreendido


entre o nível máximo de preamar e o fundo de uma área de 726 hectares na foz dos rios
Anil e Bacanga. A análise da tabela ilustra a dificuldade de ser avaliado o nível de
assoreamento a partir do estudo da redução do prisma de maré. Exemplo é a redução de
56% no volume abaixo da cota mínima para crescimento de mangue, enquanto que a
redução do volume de prisma para o intervalo entre baixa-mar mínima e preamar
máxima é de 34%. Em síntese, a utilização de valores globais de volume hídrico
mascara a real dimensão do problema.

TABELA 02: Volumes hídricos abaixo da cota 6,5 m DHN (Cota 4 m IBGE), que
representa o limite da preamar máxima para a foz dos rios Anil e Bacanga.

VOLUME VOLUME
ANO Abaixo da cota de Abaixo da cota de limite inferior do
preamar máxima (m3) mangue (m3)

1947 47.830.955 30.053.562

1966 48.532.267

1974 45.136.517

1984 43.404.791

2006 32.793.561 15.172.189

2011 31.525.777 13.001.816

84
A área selecionada para a análise da dinâmica de fundo tem como limites a
Ponta da Areia, ao norte, Avenida Beira-Mar ao sul e a Ponta do Bonfim à oeste. O
critério de seleção baseou-se na disponibilidade de dados batimétricos para a série
temporal escolhida e também por representar a sua zona mais crítica, uma vez que, é
nela que o processo de assoreamento se mostra com mais evidência.

A Tabela 03 apresenta os resultados das comparações de morfologia de fundo


para a série temporal selecionada. Importante esclarecer que os volumes contabilizados
como erodidos, não necessariamente são carreados para fora da área de estudo, havendo
a possibilidade que sejam apenas deslocados dentro da mesma. De qualquer maneira, foi
realizada a subtração dos volumes erodidos pelo volume total assoreado e chegou-se ao
acréscimo real por período de comparação.

TABELA 03. Medições e estimativas de volumes de sedimento assoreado e erodidos


para a área de estudo na foz.

Volume Volume Diferença entre


Volume Volume
Intervalo Assoreado Erodido Volumes
Período Assoreado Erodido
(anos) Cumulativo Cumulativo Cumulativos
(m3) (m3)
(m3) (m3) (m3)

1947-1966 19 1.150.896 1.889.059 1.150.896 1.889.059 -738.163

1966-1984 18 5.874.880 760.163 7.025.776 2.649.222 4.376.554

1984-2006 22 11.710.720 1.090.356 18.736.496 3.739.579 14.996.917

2006-2011 05 12.717.913 1.046.700 31.454.409 4.786.278 26.668.131

2011-2017 06 31.644.358

2011 - 2027 16 46.561.524

A tabela 03 acima, também apresenta um cenário volumétrico de assoreamento


para os anos de 2017 e 2027. Este cenário foi estimado a partir da obtenção de equação
matemática que representa a evolução dos volumes cumulativos líquidos (volume
assoreado subtraído do volume erodido). Para simplificação da equação foi considerado
zero o volume cumulativo líquido para o período de 1947 a 1966, ou seja, os primeiros
19 anos.

85
Este ajuste de curva gerou uma função quadrática da forma:

Y = AX2+BX+C, onde:

X = é o número de anos, e Y = o volume assoreado estimado para o período.

Os coeficientes para esta equação foram:

A = 14438,6445; B = -674080; C = 8080600

Na figura 27 é apresentada a curva da função quadrática com sua respectiva


equação estabelecida.

FIGURA 27: Curva da função quadrática utilizada para a obtenção da equação


matemática que representa a evolução dos volumes líquidos.

A figura 28 ilustra o crescimento do assoreamento desde 1947 até 2011. Além


disso, inclui os cenários para 2017 e 2027 caso o processo ocorresse em uma mesma
taxa de acumulação de sedimentos. Analisando a figura, percebe-se que nos primeiros
19 anos (1947-1966) os resultados indicaram taxa de assoreamento negativo, portanto,
entende-se que para esse período havia ainda certo equilíbrio ente as taxas de transporte
de sedimentos que entravam e saiam da embocadura estuarina. Contudo no período de
1966 a 1984 (período de 18 anos e acumulado de 37 anos) os processos que ocorriam na

86
embocadura começam a se modificar, coincidindo também com a implantação da
barragem do Bacanga. No intervalo de 1984 a 2006 (período de 22 anos e acumulado de
59 anos) já pode ser evidenciado um nível elevado de depósito sedimentar na área de
estudo, com grandezas superiores a 15.000.000 m3, ou seja, o processo de
preenchimento sedimentar praticamente quadruplicou durante o período analisado.

Considerando o período de 2006 a 2011 (intervalo de 05 anos e acumulado de 64


anos) o volume do assoreamento extrapolou valores de ordem de 26.000.000 m3,
aumento de mais de 70% com relação aos resultados no período de 1984 a 2006.

Com o uso da equação matemática, obtida pela curva da função quadrática,


obteve-se cenários para o futuro, o que resultou, no período de 2011 a 2017, em uma
estimativa de assoreamento na ordem dos 31.000.000 m3 e de 2011 a 2027 em um
volume acumulado de 46.561.524 m3, o que acaba indicando uma forte tendência
evolutiva deste processo.

50.000.000

40.000.000
Assoreamento (m3 )

30.000.000

20.000.000

10.000.000

-10.000.000

periodo

FIGURA 28: Evolução do Assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís no


periodo de 1947 até 2006, com inclusão dos cenários para 2017 e 2027.

87
A análise da dinâmica morfológica do fundo também permite que os valores de
assoreamento sejam discriminados por intervalo de cota. Esta abordagem é muito útil
para analisarmos a dinâmica deste processo, conforme ilustrado na Tabela 04. A análise
mostra que o assoreamento se dá inicialmente nos trechos de canais (nunca expostos em
baixa-mar), e só depois afetando a região entre-marés. Esta informação torna-se
importante, pois faz com que o processo de preenchimento sedimentar seja inicialmente
percebido apenas por aqueles que navegam nos canais; passando despercebido por
outros que observam apenas os padrões morfológicos dos bancos de areia expostos em
baixa-mar.

As grades cotadas, representando a morfologia do fundo da foz, podem ser


utilizadas para gerar mapas planialtimétricos da área de estudo e assim permitir a
visualização da dinâmica de bancos de areia e canais. Os mapas também têm
demarcados os limites altimétricos potenciais para surgimento de mangue na área de
estudo, utilizando os critérios de cota apresentados na Tabela 01.

As Figuras 29 a 33 mostram a batimetria da foz dos rios Anil e Bacanga para os


anos de 1947, 1966, 1974, 1984, 2006, 2011. Para todas as figuras, a cota 0 indica o
limite de exposição em baixa-mar de sizígia (áreas abaixo da cota 0 nunca são
expostas), a exceção fica para a figura que representa a batimetria de 2011 que está
enquadrada na cota IBGE (Imbituba), onde para esta, é a cota -2,5 que indica o limite de
exposição em baixa-mar de sizígia. Para estas figuras, a linha azul clara representa o
limite a partir do qual o mangue Laguncularia pode começar a crescer. A linha azul
escura é o limite inferior da floresta desenvolvida de mangue. A linha marrom é o limite
máximo de preamar. A área de ocorrência potencial para mangue está entre as linhas,
azul-clara e marrom. A Ponta do Bonfim está no canto inferior esquerdo e a Ponta da
Areia está no topo direito da figura.

A análise da seqüência de figuras mostrando a evolução da morfologia de fundo


para o período de 1947 a 2011 mostra uma estabilidade de limites entre 1947 e 1966,
com pequenas alterações na linha de cota zero para as áreas interiores dos bancos. De
uma forma geral, contudo, os limites dos bancos e canais são preservados e não se
observa projeção da Ponta da Areia em direção à Ponta do Bonfim. Esta relativa
estabilidade está também representada na Tabela 04 que mostra para o período um
volume cumulativo negativo de 738.000 m3.

88
Para o período de 1966 a 1974 já pode ser observado o assoreamento nos bancos
de areia e canais. Nos primeiros, este assoreamento é representado pelo aumento de
áreas acima da cota 0 (linhas vermelhas). Contudo, a mudança mais significativa é o
rápido assoreamento dos canais, e uma já visível projeção da península da Ponta da
Areia.
No período de 1984 a 2006 ocorre a descaracterização total dos cenários
originais de 1947 e 1966. Em 1966, em baixa-mar, o canal do estuário do rio Bacanga
se fundia ao do rio Anil à altura da Ponta do São Francisco e este canal único é que
constituía o acesso para a Baía de São Marcos. Em 2006, estão presentes, em baixa-mar,
dois canais distintos de acesso para a baía, com a diferença que suas profundidades são
tão pequenas que não permitem o acesso para esta última em qualquer horário de maré.
O crescimento da Ponta da Areia, em estágio avançado, já afeta o trajeto do canal do rio
Anil, que começa a se direcionar à Ponta do Bonfim.

De 2006 para 2011 o processo continuou evoluindo drasticamente, onde não


verifica-se mais, mesmo em pouca extensão, a presença de canais definidos. O canal do
Bacanga, que em 2006, embora apresentasse profundidades muito baixas, tinha certa
definição, em 2011, ao longo deste mesmo percurso, o canal apresenta várias
interrupções que impede um delineamento claro do mesmo e faz com que o fluxo
hídrico, na baixa-mar, apresente baixas velocidades, gerando como consequências, uma
irregularidade no balanço sedimentar da Embocadura. Outro fato importante é que na
região entre - marés os processos de assoreamento também começam a ser evidenciado
de forma clara, o que antes ocorria apenas nos canais.

Apesar do grande volume líquido de deposição, superior a 20.000.000 de m3,


ainda não temos os bancos de areia da foz atingindo cotas favoráveis para a colonização
por mangues (região delimitada nas Figuras 29 a 33 pelas linhas, azul claro e marrom).
Com exceção de pequenas machas em frente à Ponta do Bonfim, o mangue ainda não se
desenvolveu apesar de cota favorável, fato que pode ser explicado, por se tratar de uma
área exposta às ondas e correntes.
Para o cenário de assoreamento de 2017, se mantidas a atual tendência, ocorrerá
um volume de sedimento a ser depositado na foz na ordem de 30.000.000. Outro ponto
marcante, é que baseado na tendência apresentada na tabela 04, entende-se que agora o
assoreamento estará atingindo, mais ainda, as cotas da região entre – marés, e desta vez,

89
gerando possibilidades para uma invasão por vegetação de mangue. Apesar desta
potencial colonização por mangue em um novo sítio, ser bem vinda, no caso específico
da foz dos rios Anil e Bacanga assumiriam aspecto negativo. Isto porque o mangue
contribuiria ainda mais para a redução das velocidades das correntes de maré, e
aceleraria o processo de sedimentação e assoreamento.

Importante salientar, que em um cenário para 2017 os portos existentes na foz


deixariam de funcionar, a não ser em curtos períodos próximos dos horários de preamar.
Além disso, a colonização dos bancos de areia da foz por espécies de macrofitas
também poderia ser considerado como um cenário potencial.

TABELA 04. Volumes de sedimento assoreado por classe de cota. Estão realçados em
negrito as classes com maior assoreamento por período.

CLASSE PERIODO (ANOS)


INUNDAÇÃO POR MARÉ 1947-1966 1966-1984 1984-2006 2006-2011
Cota DHN (m)
Volume (m3)
Nunca exposta -11,6 a -11,0 263
Nunca exposta -11 a -10 9.566 1.225
Nunca exposta -10 a -9 12.826 23.744
Nunca exposta -9 a -8 17.803 40.790
Nunca exposta -8 a -7 26.793 62.753
Nunca exposta -7 a -6 48.301 81.849 15.562
Nunca exposta -6 a -5 79.263 102.471 61.845
Nunca exposta -5 a -4 71.823 301.315 124.822
Nunca exposta -4 a -3 102.571 440.167 207.041
Nunca exposta -3 a -2 137.388 708.663 315.559 3.228
Nunca exposta -2 a -1 171.419 1.101.599 473.459 33.044
Nunca exposta -1 a 0 238.799 1.678.895 892.533 692.434
Exposta baixa-mar sizígia 0a1 91.383 562.644 3.766.585 1.392.764
Exposta baixa-mar 1a2 72.939 349.234 3.153.407 1.757.440
Exposta baixa-mar sizígia 2a3 42.692 223.924 1.670.214 3.162.858
Exposta baixa-mar 3a4 16.553 137.294 546.081 3.857.160
Exposta todas baixa-mares 4a5 5.606 58.685 303.664 823.857
Exposta todas baixa-mares 5a6 4.138 28.622 135.012 698.606
Submersa apenas na preamar
6 a 6,5 1.033 7.717 44.936 296.522
de sizígia
TOTAL (m3) 1.151.159 5.911.591 11.710.720 12.717.913

90
FIGURA 29. Batimetria da embocadura de São Luís para o ano de 1947.

91
FIGURA 30. Batimetria da foz para o ano de 1966.

92
FIGURA 31. Batimetria da foz para o ano de 1984.

93
FIGURA 32. Batimetria da foz para o ano de 2006.

94
FIGURA 33. Batimetria da foz para o ano de 2011.

Analisando as taxas anuais de assoreamento por período, verificou-se que apenas


nos anos de 1966-1984 e 1984-2006, os valores estiveram acima do correspondente à
contribuição anual das praias de São Luís, ou seja, conforme dados estabelecidos pela
HM (2007), as contribuições de areia por arrasto vindo das praias, e depositado na
Embocadura são de aproximadamente 214.000.000 m3, logo apenas em dois períodos
analisados, os valores estiveram acima do que é contribuído pelas praias (Figura 34).
Esta situação pode ser explicado pela ocorrência de fortes processos de urbanização ao
longo da bacia do Anil e Bacanga, tais como construção de casas, supressão da
vegetação, a própria construção da barragem, os aterros, entre outros. Logo, todas estas
interferências no ambiente geraram impactos negativos sobre a bacia, e entre eles
estavam o carreamento de sedimentos oriundo da drenagem para o ambiente aquático,
contribuindo ainda mais para o preenchimento sedimentar da Embocadura Estuarina de
São Luís.

95
Para o período atual, as taxas enquadraram-se conforme os valores estabelecidos
para as contribuições anuais por arrasto para a embocadura, entendo-se este fato, como
fruto de uma estabilização nos processos de urbanização das bacias e/ou intervenções
que geravam o carreamento de sedimentos para a mesma.

FIGURA 34: Taxas anuais de assoreamento por período na Embocadura Estuarina de


São Luís (linha escura). Taxa anual por arrasto oriundos das praias de São Luís em
direção à Embocadura (linha tracejada).

A análise dos resultados quando comparados aos resultados estimados pela


VALE/FSADU (2007) indicou que a evolução do processo em questão, ocorre de forma
mais acelerada. Para o estudo anterior as estimativas indicavam um assoreamento acima
de 30.000.000 m3 apenas para 2027, enquanto que no presente estudo as estimativas
indicaram esses resultados já para 2017 projetando um volume de 46.000.000m3 para 10
anos depois. Deste modo, entende-se como essencial para a área da Embocadura a
aplicação de estudos que monitorem a evolução destes processos, associado a aplicação
de políticas de gestão costeira voltadas para a conscientização das fragilidades,
potencialidades e dinâmica nestas áreas.

96
É importante frisar que as análises em questão datam de momento anterior à
implantação do espigão costeiro na praia da Ponta da Areia, obra implantada com o
intuito de promover engordamento da praia e revitalização do canal de navegação na
embocadura, logo torna-se necessário a realização de estudos após a implantação da
obra, de modo a permitir o acompanhamento das mudanças na linha de costa.

5.2.2. Processos Erosivos na Praia da Ponta da Areia

Com relação ao avanço da Ponta da Areia, este gerou como conseqüência,


processos erosivos na referida praia. Outrora o espigão hidráulico, barreira hidráulica
relacionado ao deslocamento natural de areia pela deriva litorânea de leste para oeste,
cumpria o papel de reter a areia da deriva litorânea a barlamar e, portanto, engordava a
praia. Contudo, com a redução do efeito de espigão hidráulico observou-se um
gradativo processo erosivo. A erosão em curso é especialmente danosa, pois a Ponta da
Areia é uma península arenosa sem qualquer proteção de embasamento e afloramento
rochoso. A infra-estrutura pública também não foi projetada, como no caso da Avenida
Litorânea, para receber o embate direto de ondas, exceção feita na extremidade leste da
praia, em frente ao Hotel Brisamar (Figura 35a e 35b). Em síntese, a região é
especialmente frágil a um processo de erosão marinha descontrolado.

FIGURA 35a: Muro de contenção em frente ao hotel Brisamar, localizado na


extremidade leste da praia da Ponta da Areia.

97
FIGURA 35b: Detalhe do muro de contenção na extremidade leste da praia da Ponta da
Areia

A figura 36 apresenta as modificações que ocorreram na área próxima ao


Memorial Bandeira Tribuzi e ao Corpo de Bombeiros na península da Ponta da Areia,
fruto de processos erosivos. Observa-se que em um período de apenas seis anos uma
área de 1.021,1 m2 foi comprometido pelos processos erosivos e dois anos após (2007),
uma área de 2.271,9 m2 já estava danificada. Através de uma projeção estimada a partir
da correlação entre o período (anos) e a expansão das áreas danificadas, determinou-se
para o ano de 2027 um cenário de erosão na extremidade oeste da praia da Ponta da
Areia, caso nenhuma intervenção fosse realizada (Figura 37).

98
A B

FIGURA 36. Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 1999, B - situação em 2005.

A B

FIGURA 37: Visualização da taxa de erosão da praia da Ponta da Areia em foto aérea
vertical. Detalhe da extremidade oeste. A- situação em 2007, B – projeção para 2027.

99
Analisando o cenário proposto para 2027, caso nenhuma intervenção fosse feita
na região delimitada na figura anterior, teríamos o comprometimento de uma área de
aproximadamente 11.027,8 m2 atingido parte do terreno do corpo de bombeiros e
tornando extinto o local onde hoje localiza-se o Memorial Bandeira Tribuzzi. Além
disso, algumas áreas no entorno também já começam a apresentar sérios
comprometimentos, áreas estas que nos dias atuais são ocupadas por grandes edifícios
de luxo. A figura 38 mostra a evolução da erosão no periodo de 1999, 2005 e 2007,
além das projeções para 2008, 2009, 2010, 2015, 2020 e 2027 na referida região.
Analisando a figura, percebe-se que de 2010 até 2020 seria o período onde os processos
ocorreriam com mais intensidade, onde as áreas comprometidas passariam da ordem de
3.000 m2 para 10.000m2.

FIGURA 38: Evolução dos processos erosivos na extremidade oeste da praia da Ponta
da Areia.

Atualmente a área em questão encontra-se revitalizada com apenas um ponto


erodido, onde parte da estrada sofreu desabamento, conforme mostrado na figura 39.
Contudo, em outros pontos da praia pode ser observado processos erosivos que
danificaram boa parte da cobertura vegetal (Figura 40).

É importante esclarecer que a erosão observada é conseqüência do processo de


assoreamento atualmente em curso na foz dos rios Bacanga e Anil, e não a sua causa.
Também importante é a constatação que o presente fenômeno não está relacionado à
elevação de nível do mar ou ao processo de aquecimento global.

100
FIGURA 39: Ponto de erosão localizado a sotamar do espigão costeiro, extremidade
oeste da praia da Ponta da Areia, em frente ao corpo de bombeiros.

FIGURA 40: Processos erosivos na praia da Ponta da Areia, disposto cerca de 300 m a
barlamar do espigão.

101
Ainda com relação aos processos erosivos, VALE/FSADU (2007) destacaram
que na porção distal da praia da Ponta da Areia a erosão chegou a atingir a taxa de 15
m/ano. Na porção mais central da praia, a taxa de erosão cai para menos de 1m/ano
(Figura 41).
Analisando a figura, percebe-se que de oeste para leste, a taxa cai de 4 m/ano
para menos de 0,5 m/ano. Na extrema direita da foto ocorreu avanço (deposição), sendo
que a erosão volta a predominar na região da Praça do Sol e Hotel Brisamar. Contudo,
neste setor, a erosão torna-se menos visível, uma vez que, a linha de costa é protegida
por estruturas de concreto e enrocamento.

FIGURA 41. As distintas taxas de erosão na porção intermediária da Ponta da Areia. A


linha vermelha indica a linha de preamar de 2007 e a foto é de 1988 (AERODATA 88).
Fonte: VALE/FSADU (2007).

5.2.3. Fatores que evidenciam o assoreamento na área de estudo

5.2.3.1. Dinâmica Geomorfológica na Foz dos Rios Anil e Bacanga

O processo de erosão da praia da Ponta da Areia e deposição de material nos


canais e em bancos de areia e lama da foz não pode ser considerado natural nas taxas
observadas atualmente. È correto afirmar que a tendência de zonas de praia e áreas
estuarinas protegidas, é a erosão e deposição, respectivamente. Contudo, as cartas
náuticas da marinha do Brasil de 1949 e 1967 mostram uma foz relativamente estável,
que quando comparada à apresentada na carta náutica de Mouchez de 1867 revela um
cenário de estabilidade. Portanto, não se constitui coincidência o fato da erosão e
assoreamento ter se manifestado de forma clara no período posterior às principais

102
intervenções de engenharia e aterro na foz, iniciadas com a construção da Barragem do
Bacanga em 1969 a 1970. Intervenções posteriores de monta foram os aterros
hidráulicos do Promorar (década de 1980) e do Bacanga (início da década de 1990).

A aceleração do processo de assoreamento e erosão está associada à diminuição


do volume de prisma de maré que diariamente adentra a foz, com o conseqüente efeito
sobre a velocidade das correntes de maré na foz. Estas últimas, por sua vez, são
responsáveis pelo papel de escavação natural dos canais de navegação, e a redução de
sua velocidade induz o assoreamento.

Cálculos de volumetria, realizados nos estudos da HM (2007) para todo o


estuário, revelaram um volume original máximo de renovação de 80 milhões de m3 (em
1966). Este volume estaria hoje reduzido a aproximadamente 38 milhões de m3. Na
figura 42 pode ser observado a redução do espelho d’água contribuinte para o volume
do prisma de maré na região da embocadura. A figura representa em azul claro as
contribuições do rio Bacanga, em azul escuro as contribuições do rio Anil e em
vermelho as áreas que não contribuem mais.

FIGURA 42. Redução de espelho d’água contribuindo para o volume de prisma de maré
no estuário dos rios Bacanga e Anil.
Fonte: adaptado de VALE/FSADU (2007).

103
A redução do prisma e conseqüente alteração das velocidades de correntes
também contribuem para a eliminação da barreira hidráulica relacionado ao
deslocamento natural de areia pela deriva litorânea de leste para oeste, efeito este,
conhecido como espigão hidráulico.

As correntes de maré mais fortes estão nas áreas que concentram o maior
volume de água e onde o atrito com o fundo é menor, e assim podemos esperar que as
maiores velocidades de corrente ocorram nos canais mais profundos, conseqüentemente
a alteração no traçado e volume dos canais terá efeito direto sobre a velocidade de
correntes e manutenção do espigão hidráulico.

Com relação ao assoreamento, entende-se que a sua redução natural, em função


da diminuição do volume de areia transportado, é muito improvável uma vez que a
geografia das praias da Ponta da Areia, Marcela, Olho D’Água, e Araçagi propiciam um
deslocamento de areia de nordeste para sudoeste, obedecendo a deriva litorânea gerada
pelas ondas e ventos predominantes de nordeste. A baixa probabilidade deste cenário
está no fato de que o padrão predominante de ventos é de caráter regional e sem
possibilidades de mudanças, a curto e médio prazo, ou seja, somente em cenários de
mudanças climáticas globais teríamos possibilidade de alteração no posicionamento da
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e ventos alísios associados (Figura 43).

104
FIGURA 43. Transporte natural de areia para a foz dos rios Bacanga e Anil como
conseqüência da ação de correntes da deriva litorânea.
Fonte: HM 2007.

Em síntese, entende-se que a única solução coerente, na impossibilidade de


reversão da perda de prisma e na constatação da continuidade de transporte de areia pela
deriva litorânea, é a dragagem, escavação e relocação do material depositado na foz,
associado a uma interrupção deste transporte para a área em questão.

5.2.3.2. Evidências do assoreamento a partir dos padrões de circulação

As figuras 44 e 45 mostram os padrões de circulação em meia-maré de vazante e


enchente, respectivamente realizados pela HM (2007). Pode-se ver a existência de um
padrão de corrente de maior velocidade ao largo da foz e península da Ponta da Areia,
que flui independentemente dos padrões mais próximos da linha de costa. Ressalta-se
ainda, como são bem menores as contribuições do Bacanga e Anil durante a meia-maré
de vazante, fruto das intervenções realizadas na área, fazendo com que a carga hídrica
lançada pelos dois rios na baia de São Marcos, seja baixa.

105
FIGURA 44: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de vazante.
Fonte: HM engenharia 2007.

106
FIGURA 45: Padrões de circulação superficial associados às correntes de maré para a
foz dos rios Anil e Bacanga. Situação em meia-maré de enchente.
Fonte: HM engenharia 2007.

107
Com relação aos levantamentos primários, realizados em abril de 2011, utilizou-
se flutuadores para verificar o deslocamento em meia maré de vazante e enchente. Em
todos os pontos amostrados, as velocidades ficaram abaixo de 0,5 m/s.

Os resultados indicam que durante o período de 2007 até 2011 houve intensa
diminuição na velocidade das correntes, fruto da evolução do assoreamento na
embocadura estuarina, contudo, para o caso específico deste estudo, entende-se a
necessidade da utilização de equipamentos mais precisos para a medição da velocidade
das correntes. Além disso, tornar-se interessante um novo monitoramento na área, com
o intuito de verificar, se com a implantação do espigão costeiro houve uma melhora no
deslocamento das correntes marinhas dentro da embocadura.

Na figura 46 pode ser observado os pontos de coleta para obtenção da


velocidade das correntes tanto em meia maré de enchente como em meia maré de
vazante.

FIGURA 46: Pontos de lançamento dos flutuadores para a obtenção da velocidade das
correntes. Azul – flutuadores lançados em meia maré vazante. Laranja – flutuadores
lançados em meia maré de enchente.

108
5.2.3.3. Evidências do assoreamento a partir do MDT e da dinâmica dos
bancos de areia da foz
Com relação à evolução do assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís,
as figuras 47, 48 e 49, ilustram, através do Modelo Digital de Terreno a evolução deste
processo, os períodos utilizados foram 1947, 2006 e 2011. A evidência do processo de
preenchimento sedimentar é justificada pela diminuição da área que fica
permanentemente submersa, representado pela cor azul. A Figura 50 detalha a dinâmica
dos Bancos na foz, e revela considerável modificação de padrões de deposição e
assoreamento para período de apenas 08 anos. Analisando-se as imagens, observa-se o
prolongamento da praia da Ponta da Areia e o aumento da área de bancos no canal de
acesso ao rio Anil, a área ocupada pelos bancos em 1999 era de 210,77 ha, em 2007 foi
de 436,4 ha.

Ponta do Bonfim

Ponta da areia

FIGURA 47: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 1947.

109
Ponta do Bonfim

Ponta da areia

FIGURA 48: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2006.

110
Ponta do Bonfim

Ponta da areia

FIGURA 49: Modelo Digital de Terreno (MDT) para a área da Embocadura Estuarina
de São Luís no ano de 2011.

111
FIGURA 50: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na foz dos
rios Anil e Bacanga. Ambas as fotos tiradas em maré baixa. A Ponta da Areia está na
parte superior da foto e a Ponta do Bonfim na sua porção inferior.

Fonte: Imagem 1999 - AMBTEC ciências ambientais; Imagem 2007 - GOOGLE EARTH PRO.

5.2.3.4. Comparação dos Padrões Espaciais dos Bancos de Areia

Comparando-se a dinâmica dos bancos na foz, conforme pôde ser observado na


figura 50 com a de outras áreas mesmo próximas da embocadura, como do caso da praia
do Boqueirão e Ponta da Guia (Figura 51) e praias da Ponta da Areia e São Marco
(Figura 52), percebe-se que o ambiente praticamente não demonstra grandes alterações
do ponto de vista da erosão e do assoreamento, o que evidencia o entendimento de que a
dinâmica de erosão e deposição está basicamente restrita à foz dos rios Anil e Bacanga.

112
FIGURA 51: Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama na praia do
Boqueirão e Ponta da Guia.

Fonte: Imagem 2001 - AMBTEC ciências ambientais; Imagem 2007 - GOOGLE EARTH PRO.

113
FIGURA 52. Comparação dos padrões espaciais de banco de areia e lama nas praias da
Ponta da Areia e São Marcos.

Fonte: Imagem 2001 - AMBTEC ciências ambientais; Imagem 2007 - GOOGLE EARTH PRO.

Logo, a diminuição do prisma de maré, do efeito de espigão hidráulico, a


diminuição da velocidade das correntes nas proximidades da foz do rio Anil e Bacanga,
a evolução da embocadura demonstrado através do Modelo Digital de Terreno (MDT) e
as mudanças expansivas no padrão dos bancos de areia da foz, evidenciam, de forma
clara, o assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís. Além disso, a erosão na
Praia da Ponta da Areia também pode ser evidenciada através das taxas demonstradas
no estudo da VALE/FSADU (2007) e também nas imagens aéreas e foto registrada para
os anos de 1999, 2005 e 2007, respectivamente.

Portanto, baseado nestas evidencias, entende-se como crucial o constante


monitoramento destes parâmetros com o intuito de verificar sua evolução e assim
promover os estudos necessários para o controle dos processos de assoreamento e
erosão, evitando assim graves prejuízos ambientais, econômicos e sociais.

114
5.3. Efeitos do Assoreamento na Sustentabilidade Ambiental

5.3.1. Evolução e consequências do assoreamento da Embocadura de São Luís

Os dados analisados, mediante a avaliação das cartas náuticas, demonstraram


que foi a partir da década de 1960, que começou a ocorrer um desequilíbrio do balanço
sedimentar da Embocadura de São Luís, afetando inclusive regiões adjacentes, como no
caso da praia da Ponta da Areia, que teve seus processos litorâneos modificados. Esse
desequilíbrio coincidiu com certas intervenções realizadas nos estuários que contornam
a embocadura, sendo a principal delas a implantação da Barragem do Bacanga. Estas
obras reduziram significativamente o prisma de maré, que é o volume de água que
adentra o estuário do Anil e do Bacanga, e conseqüentemente as vazões e velocidades
das correntes de maré. Devido à drástica redução do prisma de maré, o banco de areia
que mantinha a Praia da Ponta da Areia mais larga a leste da embocadura projetou-se
formando um cordão arenoso único, à custa de uma redução da largura da Praia da
Ponta da Areia, devido os efeitos erosivos que têm atingido as construções no pós-praia
(VALE/FSADU, 2007).

Durante a maré de vazante a embocadura do rio Anil recebia contribuição das


águas provenientes do rio Bacanga e, durante a maré de enchente, as águas que
entravam no Estuário de São Luís concentravam-se na embocadura do rio Anil, o que
constituía um padrão de circulação responsável pela manutenção das profundidades
verificadas no passado. Porém, atualmente vem ocorrendo uma situação inversa (HM,
2007), na qual parte considerável do escoamento do rio Anil, bloqueada pela Ponta da
Areia, deriva-se para o rio Bacanga durante a vazante, enquanto que na enchente o
escoamento para o estuário se dá de forma menos concentrada, com as águas atingindo
o rio Anil após contornar a Ponta da Areia. Com isso, o canal do rio Bacanga apresenta,
hoje, uma embocadura bem definida e praticamente bloqueada pelas areias da Ponta da
Areia.

A figura 53 demonstra como as intervenções realizadas na década de 60, para a


área de estudo, promoveram a redução do espigão hidráulico durante o período de 32
anos, gerando como consequências, as mudanças nos padrões de circulação das águas e
também do traçado no canal principal, que é representada pela linha azul clara.

115
FIGURA 53: Visualização do efeito da redução do espigão hidráulico na Embocadura
de São Luís. A imagem a esquerda representa a situação do canal em foto aérea de 1967
(linha azul escuro é o limite de bancos em baixa-mar), e à direita o comprometimento
do canal em foto aérea de 1999.

Fonte: adaptado de VALE/FSADU (2007)

Segundo Lima (2007), interrupções na descarga oriundos dos rios podem gerar
alteração dos padrões de circulação e sedimentação nos estuários, acarretando no déficit
de sedimentos para a zona costeira, maior intrusão salina, reorganização espacial do
zoneamento ecológico e crescimento ou fechamento das barras de embocadura.
Segundo este mesmo autor, o fechamento das embocaduras através do crescimento dos
pontais arenosos vem ocorrendo com freqüência no litoral baiano, promovendo a
diminuição da seção critica estuarina (diminuição da embocadura), fenômeno este,
possivelmente ocasionado pela perda de competência no aporte fluvial.

Para a área da embocadura de São Luís, também ocorre uma situação de


bloqueio, ocasionado pelo cordão arenoso da Ponta da Areia, onde observou-se que nos
últimos trinta anos, houve um avanço de 400 metros em direção à Ponta do Bonfim
(VALE/FSADU, 2007). O depósito de areia, trazido pelas ondas do mar, aliado às

116
condições desfavoráveis para o livre fluxo da maré estão tornando o leito do canal cada
vez mais raso. O resultado disso é que em um futuro próximo a ligação do rio Anil com
o mar pode ficar seriamente comprometida, com conseqüências que vão desde o simples
mal-cheiro, provocado por aumento exagerado de vegetação aquática, à inundações
periódicas em bairros como o Coroadinho, Bairro de Fátima, Camboa e Liberdade.

Ainda de acordo com VALE/FSADU (2007), com o passar do tempo e continuo


efeito desse processo de assoreamento, poderia resultar no surgimento de uma laguna
costeira onde hoje é a foz dos dois rios. Esta laguna não teria condições de renovação
das águas devido ao desequilíbrio com o nível do mar na baía de São Marcos,
facilitando a formação de bancos de lama e a decomposição de macrófitas aquáticas, o
que poderia gerar fortes odores nas regiões adjacentes.

Com o surgimento dessa laguna, ocorreria o impedimento no acesso ao porto de


São Luís prejudicando milhares de pessoas que dele dependem para embarque e
desembarque. Esta situação já pôde ser presenciada em dezembro de 2010, quando
houve ocorrência do encalhamento de 04 embarcações que fazem travessia de São Luís
para Alcântara.

Trabalhando em um cenário, de formação da laguna costeira, entende-se a


ocorrência, lógica, de outro problema, que seria o de drenagem superficial e inundações,
podendo este, aparecer durante as chuvas de inverno, pois grandes quantidades de água
não teriam como escoar pelo pequeno canal, elevando, assim, o seu nível na laguna e,
consequentemente, ocasionando inundações nas áreas baixas.

De acordo com Vaz dos Santos2, a ocorrência de um completo assoreamento da


laguna, sem condições de drenagem e diluição de esgotos, associadas às elevadas
precipitações pluviométricas facilmente provocariam inundações de áreas como a
Camboa, Liberdade, Vila Palmeira, Areinha, Kennedy, Bairro de Fátima e Coroadinho,
prejudicando cerca de 100 mil pessoas.

2
Comunicação pessoal de Marcio Costa Fernandez Vaz dos Santos, em 03 de Dezembro de 2004.
Reportagem Jornal Pequeno.

117
5.3.2. Efeitos do assoreamento e dos processos erosivos sobre a sustentabilidade
ambiental, social e econômico da Embocadura de São Luís.

Analisando o prisma de maré na área de estudo, a sua perda se torna irreversível


sob uma ótica de custo e benefício. Isto se deve ao fato da maior perda de volume estar
associada à construção da Barragem do Bacanga, que teve como principal conseqüência
não apenas a formação de um lago artificial, mas também a redução da cota de preamar
à montante. Esta redução do nível de inundação possibilitou a ocupação direta de
antigas áreas de apicuns e marismas por mais de 20.000 pessoas, e só a inundação da
área residencial e infra-estrutura construída – em caso de conversão da barragem em
ponte – acarretaria em um prejuízo superior a 250 milhões de reais, segundo relatório da
Prefeitura de São Luís para o Banco Mundial.

Em se tratando dos cenários de assoreamento, estende-se que este não esta


diminuindo, e sim aumentando de forma exponencial, assim como os processos erosivos
na praia da Ponta da Areia, logo, com a ocorrência destes processos sem intervenção,
provavelmente teríamos todo o potencial urbanístico e turístico, nesta área, seriamente
comprometido.

No caso da formação e evolução de uma possível laguna costeira, os impactos


estariam relacionados basicamente à redução da altura de maré. Esta redução
comprometeria o volume de renovação por maré, com implicações para a manutenção
da qualidade da água do estuário, uma vez que o complexo estuarino do Anil e Bacanga
recebem hoje grande parte dos esgotos in natura de São Luis, comprometendo assim
toda a dinâmica e distribuição da biota aquática local. Além disso, inviabilizaria os
portos comerciais existentes no complexo estuarino.

Em um segundo estágio de evolução do assoreamento, provavelmente de 10 a 20


anos, teriamos o assoreamento da foz com formação de manguezais e bancos de
macrófitas. Este assoreamento extremo comprometeria ainda mais o volume de
renovação por maré e estabeleceria uma redução significativa na qualidade da água dos
estuários, caso tenhamos ainda a maioria dos nossos esgotos sendo lançados in natura.

Neste estágio os portos na foz deixariam de existir, e a sociedade ludovicense


enfrentaria graves problemas de mau cheiro, associado à decomposição maciça de
toneladas de plantas aquáticas. Além disso, o governo teria imensas dificuldades em

118
controlar a ocupação, pelas comunidades mais pobres, das áreas baixas que surgiriam
pela redução das alturas de maré. Importante salientar, que mais grave ainda, seria a
interrupção da renovação hídrica para o lago do Bacanga e Lagoa da Jansen, com
conseqüências em saneamento ambiental e na qualidade de vida de milhares de pessoas.

De acordo com Martins & Lopes (2009), as doenças mais frequentes no rio Anil
são infecções intestinais e dermatite, frutos do contato com a água deste corpo hídrico.
Conforme a CETESB (2005), cólera, febre tifóide e paratifóide são as doenças mais
freqüentemente ocasionadas por contato com água contaminada, além de infecções
intestinais, dentre muitas outras. Deste modo, em condições de baixa renovação de água
para a Embocadura, teríamos uma maior proliferação destas doenças afetando os
diferentes usuários dos recursos ambientais do rio Anil.

Contudo, mesmo antes do cenário acima descrito ser atingido, teríamos graves
repercussões sobre a vida econômica na área de estudo, associados com o continuado
assoreamento. Mesmo em situação secundária, em termos de portos e contribuição para
a economia ludovicense, a foz é vital para o equilíbrio econômico do Centro Histórico.
Nela temos 4 pequenos pontos de desembarque de bens, mercadorias e passageiros. A
área de desembarque pesqueiro, conhecida como Portinho, por exemplo, movimenta
aproximadamente 2 toneladas de peixe por dia, enquanto que o terminal de passageiros
da rampa Campos Melo movimenta, diariamente, centenas de passageiros para as
cidades de Alcântara, Cajapió, São Bento, Guimarães e Cedral. Este terminal se torna
mais importante ainda devido o seu valor histórico uma vez que desde as épocas mais
remotas o mesmo funcionava como local para a atracação das embarcações, voltadas
para o transporte da população de São Luís e outras regiões e também no comércio. A
figura 54 apresenta uma imagem da rampa Campos Melo no início do século passado.

119
FIGURA 54: Rampa Campos Melo em 1908.

Fonte: www.panoramio.com

VALE/FSADU (2007) destacam que o desembarque de pescados e passageiros


ocorre em pequenos portos e terminais localizados na foz dos rios Bacanga e Anil.
Nesta região, três portos se destacam: o Terminal Campos Melo, onde ocorre a maior
movimentação de passageiros; o Portinho, importante ponto de desembarque de
pescado; e o Porto da Vovó, onde ocorre principalmente desembarque de caranguejos.
Além destes, ocorre ainda a área de fundeio e ancoradouro da Associação de Vela e
Esporte Náutico (AVEN).

O estudo destacou ainda que o Terminal Campos Melo apresenta um volume de


tráfego de até mil pessoas por dia gerando 40 empregos diretos, o Portinho e Porto da
Vovó com volume em torno de 100 desembarques/mês movimenta aproximadamente
duas toneladas de peixes diariamente gerando 100 empregos diretos, para o Porto da
Camboa destacou-se um volume de 20 a 30 desembarques por mês de carvão vegetal e
peças de madeira dando origem a 50 empregos diretos. No que se refere a AVEN
destacou-se a presença de Píer e Ancadouro para cerca de 40 embarcações de lazer,
promovendo a geração de 40 empregos diretos.

Percebe-se, assim, como os recursos e as condições da Embocadura de São Luís


permitem a sobrevivência de várias famílias. Contudo, ainda deve ser levado em
consideração que toda uma economia de serviços, gravita em torno destes pontos de

120
desembarque, tais como postos de combustível, fábricas de gelo, armazéns de secos e
molhados, e o pequeno comércio varejista do Mercado Central, aumentando ainda mais
os problemas decorrentes de um processo de assoreamento na área de estudo,
acarretando, em graves prejuízos econômicos e sociais.

Os cenários de assoreamento sinalizam o aumento da área de mangue para a


embocadura estuarina, o que, para este caso específico, teria um efeito negativo, uma
vez que promoveria a aceleração das taxas de assoreamento, devido a redução das
correntes marinhas em função dos impactos destas com as árvores de mangue dispostas
no novo sítio. Associado a esta condição teríamos o fechamento do cordão arenoso da
Ponta da Areia, logo ocorreria a formação de uma laguna costeira com extrema
limitação na troca de água, e recebendo grandes quantidades de esgotos.

Segundo Macêdo & Rocha (1995) a bacia do Anil possuía 98 fontes de


lançamentos de esgotos, logo em um ambiente sem troca de água e com uma qualidade
hídrica extremamente baixa toda a biota aquática local estaria comprometida.

Em dezembro de 2010 pescadores do rio Anil receberam 43 embarcações,


financiados pelo governo estadual, para o desenvolvimento de suas atividades
pesqueiras, na área e regiões adjacentes, gerando um investimento de R$ 115.000,00
(MARANHÃO, 2010). Logo, diante de um cenário de laguna com baixa qualidade da
água, ocorreria a diminuição ou até escassez da produção pesqueira. Além disso, seria
perdido todo o investimento realizado pelo governo para a melhoria das condições de
vida dos pescadores da bacia do Anil.

Baseado nos estudos elaborados pelo MMA (2000) procurou-se estimar as


perdas que ocorreriam em toda a área de manguezal na zona estuarina dos rios Anil e
Bacanga, tanto para produção artesanal de peixes, como para a pesca comercial, em um
cenário de comprometimento da renovação por maré do atual estuário do rio Anil. Com
relação à valoração das perdas referentes à captura do Caranguejo-Uçá (Ucides
cordatus), o estudo baseou-se nas estimativas elaboradas por Castro (1986).

Na tabela 05 é mostrado as estimativas de perdas para a Embocadura Estuarina


de São Luís, perfazendo uma área total de 648,74 ha. A tabela mostra como seriam as
perdas econômicas na área da embocadura, acarretando em um prejuízo anual estimado

121
em R$ 7.377.146,91, afetando o bem estar das famílias que praticam suas atividades
econômicas e/ou de subsistência ao longo da foz dos rios Anil e Bacanga.

TABELA 05: Estimativas do valor econômico anual dos recursos ambientais para a foz
dos rios Anil e Bacanga.

Valor da produtividade do ecossistema Valor (U$) Valor (R$)


Produção artesanal de peixes – U$ 228/ha/ano 147.912,72 258.847,26
Pesca comercial de peixes – U$ 470/ha/ano 304.907,80 533.588,65

Capturas de caranguejo-uçá – (Ucides cordatus) 2,9 ind/m2 -


29.000 caranguejo/ha. Valor médio/caranguejo - U$ 0,20 3.762.692,00 6.584.711,00
(CASTRO, 1986)

CUSTO AMBIENTAL 4.215.512,52 7.377.146,91

Valor de U$ 1,00 em 06/03/2012 – R$ 1,75

O processo de assoreamento também repercutiria na renovação hídrica da Lagoa


da Jansen, esta situação poderia contribuir para o aumento da degradação na área, dos
bancos de Ruppia marítima e elevação do odor característico. A Lagoa da Jansen
enquadra-se como unidade de conservação do tipo Parque Ambiental, sendo atualmente
um dos pontos turísticos mais visitados de São Luís, devido toda a beleza cênica e
extensa rede de restaurantes disponíveis no local. Contudo, em cenário de extremo
assoreamento e conseqüente diminuição da renovação hídrica neste ponto, todas as
atividades de lazer e econômicas ofertadas direta ou indiretamente pela Lagoa da Jansen
seriam perdidas, comprometendo a sustentabilidade ambiental, social e econômica desta
laguna.

O centro histórico de São Luís poderia ser atingido por inundações periódicas,
em cenário de formação de laguna costeira sobre influência de fortes precipitações,
onde as estruturas em condições de maior fragilidade poderiam sofrer desabamento. As
atividades de turismo nesta área se tornariam cada vez menores não só pela
possibilidade de alagamento como também pela baixa atividade comercial, fruto da
diminuição no desembarque de produtos na rampa Campos Melo. Vale ressaltar que o
centro histórico, Patrimônio Cultural da Humanidade, já sofreu investimentos superiores
a R$ 40.000.000,00 nos últimos 20 anos.

O ancoradouro para embarcações de esporte e lazer nas proximidades do Iate


Clube deixariam de existir devido o processo de preenchimento sedimentar, uma vez
que, só haveria condição de navegabilidade na Embocadura Estuarina de São Luís, para

122
pequenas embarcações. Esta situação levaria ao crescente desestímulo ao turismo
náutico e ecoturismo, uma vez que muitas pessoas dirigem-se a esta área para locação
de embarcação para viagens em torno do litoral maranhense e conhecer pontos turísticos
como, por exemplo, a ilha do Medo. Além disso, professores das Universidades do
Estado normalmente usufruem deste tipo de locomoção para realização de suas
atividades de pesquisa e ministração de aulas práticas, ou seja, teríamos o
comprometimento da sustentabilidade do ponto de vista econômico, turístico e
educacional.

A barragem do Bacaga formou logo à sua montante, um lago artificial que


depende da abertura das comportas para a realização das trocas de água. Sabe-se que a
salubridade desta área é crucial para dezenas de famílias que dependem do recurso
ofertado por este ambiente para sua alimentação e geração de renda. Por conseguinte,
em um cenário de assoreamento extremo, não haveria mais troca de água, mesmo com a
abertura das comportas, o que poderia promover elevadas mortandades dos recursos
vivos existente no corpo hídrico em questão, culminando em prejuízos de cunho social e
econômico.

Associado ao assoreamento existe os processos erosivos que ocorrem na praia da


Ponta da Areia, sendo que, a principal conseqüência da ação desse processo, seria as
perdas de obras de infra-estrutura e moradia, tais como ruas, casa, apartamentos, hotéis,
monumentos, entre outros.

VALE/FSADU (2007), destacaram a ocupação da península da Ponta da Areia


através de um mapeamento na área, levando a uma caracterização tanto das habitações
como da estimativa populacional, conforme a tabela 06 e 07 abaixo.

123
TABELA 06: Valor venal de terrenos e edificações residenciais e comerciais para a
Península da Ponta da Areia.

VALOR VENAL VALOR VENAL


ÁREA TOTAL UNITÁRIO (subtotal)
CATEGORIA QUANTIDADE
(m2)
(R$ por m2) (R$ por m2)

Terrenos não
91 212.074 800 169.659.200,00
Edificados

Terrenos com
66 95.145 800 76.116.000,00
Área Edificada

Área Edificada 66 129.030 3.000,00 387.090.000,00

TOTAL 632.865.200,00

Fonte: VALE/FSADU (2007)

TABELA 07. Estimativa de população residente.

CATEGORIA QUANTIDADE DE IMÓVEIS POPULAÇÃO ESTIMADA

Casas 52 208

Apartamentos 213 852

TOTAL 1.060

Fonte: VALE/FSADU (2007)

Neste quadro, percebe-se quão elevado seriam as perdas na área da Ponta da


Areia. Estes resultados se tornariam mais extensos ainda, caso fossem consideradas as
populações flutuantes de hotéis e empreendimentos de lazer e comercial, o potencial de
conversão de terrenos ocupados por casas ou não, conforme é mostrado na figura 55, em
condomínios multifamiliares, e nem o comprometimento da rede de abastecimento de
água, elétrica e telefônica.

124
FIGURA 55: Terreno localizado na proximidade da praia da Ponta da Areia, com
potencialidade para transformar em condomínio multifamiliar.

É interessante observar os altos valores econômicos da área, mesmo esta sendo


uma região que apresenta taxas de ocupação de terrenos de apenas 30% e população
permanente de aproximadamente mil pessoas. A explicação estaria na alta valorização
imobiliária da península, que não tende a ser revertida em curto prazo em função da fase
de crescimento econômico por que passa o município.

Considerando um cenário de evolução do assoreamento associado aos processos


erosivos da praia da Ponta da Areia, o maior comprometimento do ponto de vista da
sustentabilidade econômica e social estaria associado ao comprometimento da infra-
estrutura pública e imobiliária da península. Este impacto seria ainda maior se levarmos
em conta o comprometimento do seu potencial de expansão imobiliário, uma vez que,
atualmente existem muitas construções imobiliárias iniciadas e outras em fase final
(Figura 56).

125
FIGURA 56: Rede de condomínios construídos na península da praia da Ponta da Areia
em fase finalizada, e na extremidade direita da foto é apresentado outro, ainda em fase
de construção.

A Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD),


também conhecida como Comissão de Brundtland, desenvolveu um relatório que ficou
conhecido como “Nosso Futuro Comum”. E neste relatório está exposta uma das
definições mais difundidas do conceito de desenvolvimento sustentável, sendo esta,
como o desenvolvimento que atende as necessidades do presente sem comprometer as
possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. Logo,
baseado nesta definição, entende-se que as intervenções realizadas na embocadura
estuarina de São Luís não seguiram um modelo de desenvolvimento sustentável, uma
vez que com a evolução dos cenários descritos, mediante os processos de balanço
sedimentar na área, as futuras gerações não poderiam usufruir das condições
estratégicas ofertados pela embocadura, tais como transporte hidroviário, turismo,
pesca, lazer e comércio, este ultimo, principalmente relacionado ao desembarque
pesqueiro.

A Gestão Integrada da Zona Costeira (GIZC) tem quatro principais objetivos


(NRC, 1993; Chua, 1993; Turner & Adger, 1996): (a) restaurar e manter a integridade

126
ecológica dos ecossistemas costeiros; (b) reduzir os conflitos de uso dos recursos
naturais; (c) manter a saúde do meio ambiente; (d) facilitar o progresso do
desenvolvimento multi-setorial, respeitando os valores humanos e os recursos naturais.
Contudo, desde a sua criação, o Gerenciamento Costeiro, enquanto Plano Nacional tem
demandado várias correções de rumo, que procuraram superar desde problemas
metodológicos dos instrumentos (zoneamento, banco de dados/sistema de informações e
monitoramento), até questões relacionadas com o foco, objetivos imediatos e de
integração institucional.

Embora o formato jurídico institucional esteja afinado com as perspectivas


descentralizadoras e participativas, as quais estão previstas na Lei Federal nº 7.661/1988
e no Decreto Federal nº 5.300/2004, a prática mostra alguns problemas na aplicação
desses e outros instrumentos legais ambientais. Esses problemas se referem à
operacionalidade do sistema de gestão, à falta de normas claras voltadas ao
ordenamento territorial e ao controle e fiscalização ambiental da Zona Costeira (ZC), e à
falta de maior envolvimento e responsabilidade dos municípios nos processos de GIZC.

O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro ainda não se consolidou como um


mecanismo eficaz de gestão participativa e gerenciamento dos recursos naturais e dos
espaços antrópicos da ZC, e tampouco de integração das várias políticas públicas
incidentes nesse território.

Em termos de implementação dos instrumentos de apoio à gestão nos estados,


Souza (2009) sinaliza que a situação atual não é muito favorável. O Zoneamento
Ecológico- Econômico Costeiro encontra-se totalmente elaborado e regulamentado
apenas em cinco estados. E em alguns outros, os zoneamentos já foram elaborados,
porém ainda não estão regulamentados. Apesar disso, vem representando expressiva
contribuição para as análises de licenciamento ambiental, notadamente nos estudos de
impacto ambiental, bem como para os novos Planos Diretores Municipais e orientações
para toda gama de intervenções na ZC.

Com relação ao Projeto Orla, por exemplo, este deveria potencializar estudos
técnico-científicos sobre os problemas ambientais da zona costeira, em especial aos
processos de assoreamento e erosão costeira, fomentando parcerias entre o poder
público, instituições de pesquisa e o setor privado, na busca da melhoria da qualidade

127
ambiental da orla, bem como fortalecer e viabilizar ações integradas para a melhoria da
qualidade ambiental da orla marítima, em escala local. Entende-se que as políticas de
planejamento e ordenamento territorial pouco têm incorporado os conhecimentos
técnico-científicos disponíveis sobre as praias e sua dinâmica costeira. Como
conseqüência emerge a necessidade de implantação de obras costeiras, que além de
exigirem elevados gastos para serem construídas, muitas das vezes acabam alterando de
forma irreversível a hidrodinâmica da região e desestruturando as comunidades bióticas
da área afetada.

Logo, como desafios da Gestão Integrada da Zona Costeira podem ser


destacados:

 Fortalecimento do papel articulador e coordenador do Ministério do Meio


Ambiente no Gerenciamento Costeiro e junto aos estados, do papel articulador e gestor
dos estados junto aos municípios, e dos municípios no principal papel de gestor da zona
costeira;

 Urgente implantação dos Planos Municipais de Gerenciamento Costeiro


e Projetos Orla;

 Maior articulação de políticas públicas e elaboração de diretrizes para


ações federais, estaduais e municipais incidentes na orla marítima;

 Priorização, incremento e fomento à pesquisa em ciência e tecnologia


voltadas ao estudo da dinâmica costeira, através de apoio institucional e financeiro, e
maior articulação entre as instituições de pesquisa e os gestores costeiros;

 Incorporação efetiva dos resultados dessas pesquisas aos instrumentos de


gestão costeira;

 Estabelecimento de uma rede de monitoramento praial, visando à


definição e ao mapeamento de indicadores ambientais relacionados aos processos de
erosão costeira;

 Maior agilidade de atuação dos gestores públicos frente às mudanças do


padrão de urbanização da orla marítima (pressões imobiliárias crescentes com forte
investimento de capital;

128
 Aprimoramento contínuo da qualificação dos profissionais que atuam na
gestão costeira;

 Maior agilidade e esforço para dotar os municípios de infraestrutura


compatível com o desenvolvimento e o crescimento urbano sustentáveis;

 Maior rigor legal na aplicação das legislações ambientais vigentes;

 Elaboração de instrumentos legais normativos para as praias e áreas


contíguas a elas, com o estabelecimento de zonas de proteção da praia, levando em
consideração os resultados de pesquisas científicas sobre o tema e os atributos de cada
região costeira do Brasil;

 Estabelecimento de medidas de gestão da zona costeira, com indicações


de diretrizes e ações (restritivas ou adaptativas) de curto, médio e longo prazos,
baseadas nos estudos de dinâmica costeira e nas previsões de elevação do nível relativo
do mar e de mudanças climáticas.

129
6. CONCLUSÃO

A avaliação da dinâmica de assoreamento na Embocadura Estuarina de São Luís


mostrou que o volume depositado na área veio se intensificando ao longo de 64 anos de
monitoramento, ou seja, de 1947 a 2011. Uma simples avaliação visual das cartas
náuticas obtidas pelas sondagens da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha
(DHN) dão indícios dos processos de preenchimento sedimentar nas fozes dos rios Anil
e Bacanga, onde locais que apresentavam profundidades maiores que 6 m, hoje,
raramente apresentam-se em cotas acima de 3 m.

O volume da área delimitada pela Ponta da Areia, ao norte, Avenida Beira Mar,
ao sul e Ponta do Bonfim, à oeste, indicou uma diminuição em aproximadamente
22.000.000 m3, ou seja, perda de 34% do volume do prisma desde 1947. Já as áreas
mais baixas, próximas do canal de navegação, a redução foi de aproximadamente 56%,
indicando que essas áreas estão assoreando de forma mais acelerada. Contudo,
percebeu-se, a partir das análises de 2011 que o processo em questão começa a se tornar
mais elevado nas cotas mais altas, uma vez que, as cotas mais baixas já foram
preenchidas.

O volume cumulativo do assoreamento na Embocadura evoluiu de -738.163 m3


em 1947 para 26.668.131 m3 em 2011 demonstrando a forte tendência evolutiva deste
processo. As estimativas determinadas em estudos pretéritos indicaram um
assoreamento na ordem de 30.000.000 m3 para o ano de 2027, para o presente estudo as
estimativas indicaram valores desta grandeza, já para 2017.

A análise da dinâmica morfológica do fundo desde 1947 até 2011 indicou em


um primeiro momento (1947 a 1966) certa estabilidade na região, com pequenas
alterações na linha de cota zero, porém ao longo do tempo começaram a ocorrer grandes
transformações, representadas principalmente pelo aumento do número de áreas acima
da cota zero e pela mudança morfológica nos canais de navegação. Para 2011 presencia-
se a total descaracterização dos canais de navegação oriundos tanto da foz do rio
Bacanga como do Anil, onde os mesmo deixam de apresentar um delineamento que seja
claramente perceptível.

130
Analisando o processo de preenchimento sedimentar na Embocadura, por cota
de maré, observou-se que ao longo dos anos analisados, os processos passaram a ocorrer
com mais intensidade das cotas mais baixas para as cotas mais elevadas.

A análise dos processos erosivos na praia da Ponta da Areia indicou, no período


de 1999 a 2005, o comprometimento de uma área de 1.021,1 m2 e de 2005 para 2007 a
área comprometida foi de 2.271,9 m2, realizando projeções para 2027 o
comprometimento seria na ordem dos 11.027,8m2, ou seja, caso não houvesse ocorrido
a revitalização da área, boa parte da infra-estrutura localizado na extremidade oeste da
praia poderia estar comprometida.

Com relação à velocidade das correntes, foi possível detectar uma diminuição na
velocidade das mesmas quando comparado aos obtidos em estudos anteriores, onde em
nenhum momento os resultados ultrapassaram valores acima de 0,5 m/s, fruto da
evolução do assoreamento na embocadura. Contudo entende-se a necessidade da
utilização de equipamentos modernos voltados para a obtenção deste parâmetro.

As evidencias do assoreamento na embocadura também puderam ser verificadas


através do Modelo Digital de Terreno (MDT) e da dinâmica dos Bancos de Areia na
Foz, onde no primeiro a evidência mostrou-se através de uma diminuição no volume
das cotas que sempre ficam submersas e no segundo observou-se a expansão dos
bancos.

Considerando os efeitos do assoreamento sobre a sustentabilidade ambiental,


percebe-se considerável comprometimento do ponto de vista econômico, social e
ambiental, prejudicando o comércio, transporte marítimo, causando desempregos,
gerando doenças, comprometendo a biota aquática. As estimativas para os valores
econômicos anuais dos recursos ambientais na foz indicaram custos na ordem de R$
7.400.000,00. Já com relação à erosão, a principal conseqüência da ação desse processo,
seriam as perdas de obras de infra-estrutura e moradia, tais como ruas, casa,
apartamentos, hotéis, monumentos, o que geraria perdas na ordem de R$
632.865.200,00.

As informações obtidas evidenciam como é preocupante e comprometedor os


processos de assoreamento e erosão na Embocadura Estuarina de São Luís e praia da
Ponta da Areia, o que leva à necessidade urgente de grandes intervenções nestas áreas.

131
A região de estudo apresenta hoje uma obra denominada de espigão costeiro, que
apresenta como objetivo promover o engordamento da praia nos pontos onde ocorre
erosão, e induzir a erosão nos pontos onde ocorre o assoreamento. Isto impõe a
necessidade de monitorar a dinâmica da foz do Anil e Bacanga, além dos processos
erosivos na praia da Ponta da Areia após a implantação desta obra, de modo a verificar
se as taxas de assoreamento estão diminuindo assim como a evolução dos processos
erosivos, permitindo que o volume assoreado estimado para 2017 (31.644.358 m3) seja
prolongado para períodos posteriores, ou até mesmo possa indicar certa estabilidade no
balanço sedimentar da área.

Portanto, com o desenvolvimento urbano, do turismo, dos Portos, e o grande


interesse pela ocupação da zona costeira, sobretudo por pessoas de classe média e alta,
faz-se necessário uma maior interação entre as políticas de uso e ocupação racional do
solo em áreas de ecossistemas frágeis como o estuarino e a zona costeira, e as
instituições de pesquisas de modo a incrementar os instrumentos de gestão costeira
impedindo ou ordenando as intervenções nas proximidades do litoral mantendo estável,
os processos naturais destas áreas.

132
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