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APRESENTAÇÃO:
11 Esse livro não busca coerência.
11 Tensão entre biografia e obra.
15 Sade não é apóstolo da liberdade sexual.
A VIAGEM
26 experiência
31 alegria
32 surpresa, diversão, prazer.
33 mais, ainda. A imaginação é insaciável.
O CASTELO
58 abismo, vertigem, caos.
59 o mal insuportável, a destruição como meta.
63 isolamento.
O TEATRO
102 a desigualdade é lei da natureza. Há uma classe de submissos e uma de senhores.
104-5 Imitar a natureza (cópia, mimeses, representação). A natureza é destrutiva.
104-107 idas e vindas entre o natural e o artificial culminam no teatro.
O BANQUETE
142 mais comida, mais apetite, mais desejo (Campbell).
143 não há fome, não há necessidade, apenas satisfação de gostos.
156-7 recusa da carência, foco na fartura.
O BOUDOIR
177 O Boudoir é a unidade mínima de espaço nas obras de Sade, podendo ser
considerado uma espécie de locus da concentração da luxúria e da libertinagem.
É um local de descontração e informalidade, diferente dos grandes salões com
pompa e opulência. Tem poucos objetos: apenas aqueles necessários para a “impureza”.
178 Já aqui se delineia o dualismo central neste texto: entre vida social e intimidade,
a primeira vista como cheia de cerimônia, a segunda como transparente.
179 Este tema se reflete na arquitetura, que nos dá pistas sobre as mudanças de modo
de vida das classes dominantes ocorridas no séc. XVIII: separa-se a criadagem dos
patrões; separa-se cada pessoa em seu quarto individual; separam-se locais de trabalho,
estudo e socialidade. Temos aí três movimentos: um de separação física das classes
sociais, um de individualização e criação da intimidade e um de fragmentação do
indivíduo em camadas ou papéis sociais.
[Esta mudança no modelo de uma nobreza e uma realeza mais pública para uma mais
privada, que se associa mais com seus pares, com seus amigos íntimos (ver parte sobre
Maria Antonieta, p. 181, comparar com os rituais de banho descritos por Elias) poderia
ser visto como um aburguesamento desta elite, agora mais individualizada? A Criação
do escritório já indicaria uma valorização do trabalho, um aburguesamento?]
Foco na intimidade, e nos valores atrelados a ela: infância, educação, amor materno,
responsabilidades domésticas e sexualidade. Moraes indica que os quatro primeiros
temas foram desenvolvidos por Rousseau, sobre a idéia de lar. Já a sexualidade foi
desenvolvida por Sade, sobre a idéia do boudoir.
Ambas as idéias atacam de certa maneira o homem público, visto como escondido
atrás de máscaras, sem revelar seu verdadeiro eu. Paralelo com Goffman
(“representação do eu”).
Benjamin Constant apresenta uma diferenciação entre uma liberdade “dos antigos”,
ligada à esfera pública, à realização de si na comunidade; e uma liberdade moderna, que
possibilita o “livre exercício das paixões pautado pela independência individual” (181).
[Possível paralelo com Habermas: esfera pública x esfera privada?]
Mas em Sade há uma inversão de valores: mães são assassinadas, incestos são
cometidos [ex do padre em 120 dias]. Aqui prevalecem os segredos que deveriam ser
inconfessáveis. O boudoir, portanto é o inverso do lar.
No lar o homem é justo, caridoso, amoroso, como deve ser, na vida pública, o bom
cidadão, na visão de Rousseau, para quem o lar é a ante-sala da sociedade. Aqui deve
haver transparência. É por isto que para Rousseau, o homem é aberto para o exterior,
para a natureza, para os outros [tema da paisagem].
II O tema da torre como chave importante no romance gótico, do qual a obra de Sade
se aproxima. A torre é vista como uma forma de observação de dentro pra dentro, de
dentro da torre para dentro de si. A interiorização aqui significa fechar-se em si (187).
Mas em Sade aparece pouco a torre, isto porque o movimento essencial não é a
subida, a busca por uma elevação do espírito, mas a descida, de forma que Sade
apresenta a inversão de um dualismo clássico [CITAÇÃO LONGA 187-188].
Mas em Sade, os libertinos são como monstros solitários, para os quais é preciso
“muita filosofia para entender”, ou melhor: uma filosofia que vai além do iluminismo,
que vai além das razões, uma filosofia do corpo e das paixões (193) [“Franceses, mais
um esforço se quereis ser republicanos”].
195 esta é a filosofia do libertino, que ilumina tudo, até o que os Iluministas
preferem deixar na obscuridade. Há uma enunciação dos desejos, das vontades e dos
prazeres, uma mistura entre pensamento e carne, reflexão e paixão. [estrutura de
“filosofia na alcova”]
A iluminação buscada pela filosofia libertina é também uma ampliação total, por isto
o espelho é uma imagem boa: permite a onivisão, a multiplicação e a saturação. Tudo se
torna infinitamente repetido, deixa de ser estranho, incomum. [estrutura de “120 dias”].
Para alguns leitores de Sade, como Deleuze e Hénnoff, esta felicidade é espiritual, no
fim das contas. Mas para Moraes, isto é deixar de lado a proposta corporal de Sade de
uma subversão da “espiritualização do erotismo” (201).
205 Este momento é um momento de ascensão dos livros e declínio das artes
públicas. O Romance aparece como forma de comunicação à distância e forma de troca
de segredos da alma.