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O cartel e o real

Catherine Lacaze-Paule

Na fonte do cartel

Lacan inventa o cartel desde 1964, no momento de fundar a Escola Freudiana


de Paris, e reitera sua escolha em 1980, no momento de fundar a Escola da
Causa Freudiana. Ele confirma, então, haver dois órgãos que constituem a
Escola: os cartéis e o passe. Ele cinde assim a questão da entrada na Escola e
a de ser seu membro. A Escola é aberta e acolhe os trabalhos daquele que o
declara em cartel à Escola. Isso abre uma topologia da Escola a um só tempo
conjunto fechado de seus membros e aberta à produção de saber que a
constitui. Por que o cartel ? Qual é o real em jogo de que se trata para a
psicanálise?

Ele encontra sua fonte, parece, a um só tempo no exemplo dos estudantes


de leras da Sorbonne (e dos estudantes de matemática) e na teoria dos
pequenos grupos de Bion, que ele encontra por ocasião de sua temporada na
Inglaterra, em setembro de 1945. Lacan se inspira nos GTU (Grupo de
Trabalho Universitário) convidando os estudantes a trabalhar sem professor,
sem hierarquia, sem aula magistral, mas produzindo, eles mesmos, o saber,
de maneira igualitária. Lacan retém a forma do pequeno grupo para produzir
o saber. Mas é em alguns princípios retidos por ele quando de sua
experiência na Inglaterra que ele consigna, no texto editado nos Escritos “A
psiquiatria inglesa e a guerra”, 4 pontos essenciais à constituição dos cartéis.

• 4 constações e sua subversão para o cartel, que Lacan parece


aprender por ocasião dessa experiência e dessa reflexão sobre a guerra, e os
grupos para os quais ele propõe sua resposta, sua subversão .

- Por um lado, ele retém a extraordinária docilidade dos homens em


grupo.
- Ele a destaca de modo irônico dizendo: « Não é de uma grande
indocilidade dos indivíduos que virão os perigos do espírito humano» . Em
resposta, Lacan considera que há uma luta a ser empreendida contra a
pulsão de morte, que se desdobra sob o nome de mal-estar na civilização,
notadamente sob a forma da paixão da ignorância.

- Em segundo lugar, ele destaca o pragmatismo dos ingleses, Bion, movidos


não pelo ideal (como isso se presentificou na França sob a forma do ideal
pétainista), mas pelo utilitarismo que ele qualifica de « relação verídica com
o real » . A criação de um pequeno grupo de trabalho em torno de uma
tarefa a realizar, e não de um ideal, sai do isolamento – não da solidão – e
permite a cada um, à sua medida, ali colocar algo de seu, segundo sua
relação singular e não coletiva com o ideal.

- Em terceiro lugar, Lacan nota o declínio da imago paterna e a promoção da


identificação horizontal, distinta da identificação vertical com o ideal.
Todavia, pelo fato de ele ser psicanalista, ele indica haver sempre uma
função de líder que se encarna em um grupo. Mas é operando sobre essa
função, por redução e descarga, que o cartel vai favorecer a identificação
horizontal e circular entre os membros. Assim, ele inventa o Mais-Um, uma
função de líder, mas uma função desbastada do líder. O que faz do cartel não
cinco pessoas, porém quatro mais uma, introduzindo uma topologia nova.

- Por fim, em quarto lugar, para Lacan, não se trata de eliminar


completamente toda identificação, efeitos imaginários próprios ao grupo,
nem o ideal, mas de regular de outro modo, de ir contra seus efeitos por
meio de um manejo surgido da análise. No cartel, a função do mais-um tem
como objetivo velar sobre os efeitos de grupos. Para tanto, o mais-um tem a
função de permitir o um por um, opor-se ao todo, ao um do grupo. Com
efeito, Lacan faz do universal a serviço da vontade de gozo uma vontade
inumana. Pois, como o indica J.-A. Miller em sua “Teoria de Turim”, é no
universal, no para todos, aí incluída a lei do NDP, do pai, que se aloja o
supereu .
A estrutura do cartel responde e inscreve o que centra a psicanálise, a
questão do real como impossível. O transitório, o aleatório, a permutação e o
líder desbastado, ou seja o pouco de marcas de autoridade, o “qualquer um
que é o mais-um”, mas que deve ser alguém, são princípios que põem em
jogo o impossível e a crise. Transitório, um ano, não mais que dois anos,
significa que nenhum ideal do grupo deve ser esperado do cartel.
Forçosamente haverá crise e a duração limitada responde como corte. O
aleatório: o sorteio do cartel vem lembrar que as afinidades não poderiam
ser uma garantia e que o acaso se faz repetição de encontrar os mesmos
efeitos de grupo, ainda que constituído de modo aleatório. O sorteio, assim
como a escolha, instituem na combinação o contingente e o incalculável, o
sorteio e o acaso estando no mesmo nível que a escolha por afinidades. Por
fim, o líder desbastado ali está para velar sobre os efeitos imaginários e
provocar a elaboração. Lembrando também que “não se é pai de
significantes, é-se pai por causa de” . Como ele é também o que inscreve uma
topologia nova do grupo. Assim, a operação analítica está inscrita na própria
estrutura do cartel.

*O impossível e o cartel

Uma compreensão justa, mas rápida, poderia conduzir à ideia de que o


grupo cria efeitos imaginários que serão tratados pelo simbólico e que a
ação, a empreitada do mais-um regulará, provocará essa passagem e esse
tratamento, ou ainda que a estrutura simbólica do cartel, seu manejo, se
oporia ao real, uma vez que “ele é impossível de suportar”. Nesse sentido,
isso é exato, mas não complexo o bastante para dar conta do que Lacan
nomeia operação analítica, cuja lógica é dada por ele a partir dos quatro
discursos.

Nessa primeira vertente, a ênfase é posta sobre o impossível de suportar do


grupo, mas o cartel, sua estrutura implica também um modo de discurso. O
discurso em psicanálise, lembremos, não é o conjunto de falas, o blábláblá,
mas um dispositivo que instaura um laço social. Portanto, isso é uma
lembrança de que não são os sujeitos entre si que fazem laço, mas o
discurso. No coração desses quatro discurso jaz, se escreve uma impotência,
(a linha em baixo) e um impossível (a linha de cima). Ora, esse impossível é
assim designado por Lacan: “ O impossível, é o real” . Freud já havia
mencionado esse impossível. Impossivel governar, educar, impossível
psicanalisar, impossível fazer desejar, curar, que são retomados pelos quatro
discursos. Mas Lacan precisa em quê o discurso analítico transforma e trata o
impossível « é um dispositivo que trata o real » .

Mais precisamente, o discurso analítico é esse dispositivo que transforma o


impossível de suportar, um nome do real, em impossível de dizer, outro
nome .

Se é a partir do impossível de dizer que o mais-um orienta, tal como escrito


no discurso na linha de cima, ele separa a impotência de dizer que ressoa
com a fantasia em jogo do impossível de dizer como real. Nos dois casos, o
do impossível de suportar do grupo e o do impossível de dizer, trata-se de
uma relação com o saber marcada com um furo. Portanto, no cartel, trata-se
de obter um saber marcado com o selo do inconsciente de cada um. Ou seja,
a maneira como cada um se apropria em razão e em lógica do saber, a partir
de seu eu não quero saber nada disso, de seu encontro com um impossível
singular e em função do que ele faz disso. No cartel se verifica que não há
aprendizagem do saber, pois é com seu objeto, objeto causa de desejo, que
se aprende o que nos concerne.

O real e o grupo

Para concluir, o que funda a Escola, os cartéis e o grupo se assenta sobre esse
enunciado de Lacan: « é impossível aos psicanalistas formarem um grupo » .
Eis o que estava em gestação na invenção do cartel e que encontrará sua
lógica em 1975.

« No entanto, o discurso psicanalítico (esse é meu desbravamento) é


justamente aquele que pode fundar um laço social purgado de qualquer
ncessidade de grupo» , prossegue Lacan.
No cartel há um real incluído que se formula por meio de um furo, um
impossível de fazer grupo. Com efeito, o cartel é mais que um grupo, é a
própria impossibilidade de fazer grupo, cuja topologia cria a função do mais-
um. Grupo fechado e aberto para o exterior, opondo-se à tentação do Um,
seja ela a de fazer grupo ou de encontrar no saber analítico um saber
concluído ou fechado. A produção de saber suposta pelo cartel tem como
causa não o grupo, mas o discurso que ele serve, o discurso analítico.

O cartel é o ponto pivô, o “cardo”, a dobradiça em torno da qual a Escola e o


sujeito giram. Para a Escola, trata-se de esperar e acolher os novos produtos
de saber. Para o sujeito, trata-se de entrar e dar um passo. Para ambos, se
elabora e se renova um pedaço de saber surgido do saber analítico.

Mas isso não se fará sem o outro órgão almejado por Lacan para sua Escola,
o passe, ou seja, a possibilidade de encontrar uma saída para esse saber
surgido do saber não sabido.

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