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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 123.633 - SP (1997/0018091-3)

RELATOR : MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR


RECORRENTE : EVA MARIA RUTHOFER - ESPÓLIO
REPR. POR : CORNÉLIA EVELIN PILSHOFER - INVENTARIANTE E OUTRO
ADVOGADO : MAURÍCIO DE CAMPOS CANTO E OUTRO
RECORRIDO : ROBERTA RUTH HONNEN
ADVOGADO : OTTO CARLOS VIEIRA RITTER VON ADAMEK
EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO


LIMITADO. DISSÍDIO NÃO APRESENTADO. INVENTÁRIO.
CASAMENTO CONTRAÍDO NA ÁUSTRIA. REGIME DA SEPARAÇÃO
DE BENS, CONSOANTE A LEI DAQUELE PAÍS, POR FALTA DE PACTO
ANTENUPCIAL EM SENTIDO CONTRÁRIO. VINDA PARA O BRASIL.
AQUISIÇÃO DE PATRIMÔNIO AO LONGO DA VIDA EM COMUM.
FALECIMENTO DO CÔNJUGE VARÃO. DECLARAÇÃO DE BENS,
CONSTANDO APENAS AQUELES EM NOME DO DE CUJUS.
IMPUGNAÇÃO PELA FILHA DO PRIMEIRO CASAMENTO. AQÜESTOS.
COMUNICAÇÃO. RESSALVA QUANTO AOS HAVIDOS PELO
ESFORÇO EXCLUSIVO/DOAÇÃO/HERANÇA DA CÔNJUGE MULHER.
LICC, ART. 7º, § 4º CC, ART. 259. SÚMULA N. 377-STF.
I. Apesar de o casamento haver sido contraído pelo regime da separação de bens
no exterior, os bens adquiridos na constância da vida comum, quase à totalidade
transcorrida no Brasil, devem se comunicar, desde que resultantes do esforço
comum.
II. Exclusão, portanto, do patrimônio existente em nome da viúva, obtido pelo
labor individual, doação ou herança, incorporando-se os demais ao espólio do
cônjuge varão, para partilha e meação, a serem apurados em ação própria.
III. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a
Quarta Turma, por maioria, conhecer em parte do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe parcial
provimento, vencidos os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Fernando Gonçalves. Votaram com
o Sr. Ministro Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro e Luís Felipe Salomão.
Brasília (DF), 17 de março de 2009 (Data do Julgamento)

MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR


Relator

Documento: 576686 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 30/03/2009 Página 1 de 26
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RECURSO ESPECIAL Nº 123.633 - SP (1997/0018091-3)

RELATÓRIO

EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Eva


Maria Ruthofer – Espólio interpõe, pelas letras “a” e “c” do art. 105, III, da Constituição
Federal, recurso especial contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
assim ementado (fl. 396):

"Inventário - Agravante que pretende que a agravada participe do


inventário, trazendo os bens adquiridos em seu nome para dentro do
monte-mor - Admissibilidade - Inteligência do art. 259, CC - Recurso
provido.
Embora o regime não seja o da comunhão de bens, prevalecerão, no
silêncio do contrato, os princípios dela, quanto à comunicação dos
adquiridos na constância do casamento."

Sustenta a recorrente que era casada com o falecido Rudolf Ruthofer, em


segundas núpcias e com separação total de bens; que a recorrida Roberta Ruth Honnen, filha
do primeiro casamento do de cujus obteve, em 2a instância, a reinclusão da recorrente no
inventário, trazendo seus bens particulares para o monte-mor e recebendo sua meação.

Aduz que tal decisão afronta o art. 7o , parágrafo 4o , da LICC e o art. 230
do Código Civil anterior, posto que, em tais circunstâncias, inaplicável o art. 259 da mesma lei
substantiva e daí, incabível a comunhão de aqüestos.

Diz que em 17.07.1951 casou-se pelo regime da separação de bens, vigente


na Áustria, com o extinto Rudolf, lá fixando o casal seu primeiro domicílio. Depois de três anos
emigraram para o Brasil, passando cada qual a adquirir bens em nome próprio, na medida de
seu esforço pessoal, durante os quarenta e dois anos de convivência. A simples presunção de

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que os bens haviam sido adquiridos pelo esforço conjunto não pode servir de base para o
afastamento da LICC, ressaltando que há bens que foram adquiridos inclusive já na Áustria.

Afirma, mais, que o art. 259 do Código Civil se aplica apenas ao caso de
regime convencional da separação, ou seja, quando exista pacto antenupcial, e não quando o
mesmo é legal, assim estabelecido na Áustria, o que não se descaracterizou pela sua simples
mudança de domicílio para o Brasil, salientando que naquele país alienígena a comunhão é que
deve vir prevista em contrato antenupcial.

Lembra a recorrente, ainda, que a maior parte do seu patrimônio foi


constituído em 1968, com divisas vindas do exterior em virtude do falecimento de sua mãe em
1966, circunstância desconsiderada no acórdão, e que está a provocar enriquecimento sem
causa da recorrida, inclusive porque a recorrente sempre labutou.

Invoca jurisprudência paradigmática, fazendo menção ao REsp n. 9.938,


desta 4a Turma.

Contra-razões às fls. 420/460, alegando que, em verdade, os próprios


cônjuges se apresentaram, várias vezes, em atos públicos cartorários, como casados pelo
regime da comunhão, e que a jurisprudência pátria se inclinou a chancelar a comunhão dos
aqüestos, por ser indiscutível a existência da origem comum dos bens adquiridos ao longo da
vida conjunta. Ressalta que houve duplicidade de fundamento no acórdão, restando inatacado
aquele alusivo à comunhão de aqüestos mesmo no direito austríaco. Aponta óbice da falta de
prequestionamento e indicação insuficiente das normas contrariadas, além de a discussão não
estar centrada no art. 7o , parágrafo 4o , do LICC. Também fala da indemonstração do dissídio
jurisprudencial. No mérito, após longa digressão acerca da doutrina e jurisprudência a
respeito, pugna pela confirmação do decisum.

O recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho


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presidencial de fls. 469/471.

Falecida a recorrente Eva Maria Ruthhofer, procedeu-se à habilitação de


seus herdeiros Cornélia Evelin Pishofer e Ronaldo Ruthhofer, inscrevendo-se na autuação,
como parte (fl. 514).

O processo foi sucessivamente distribuído, no STJ, aos eminentes Ministros


Fontes de Alencar, Bueno de Souza e a este relator.

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 123.633 - SP (1997/0018091-3)

VOTO

EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR


(Relator): No recurso especial sob julgamento, aviado pelas letras “a” e “c” do autorizador
constitucional, discute-se a comunicação ou não dos aqüestos adquiridos ao longo do segundo
casamento de Rudolf Ruthofer com Eva Maria Ruthofer, matrimônio contraído na Áustria, de
onde, após três anos, mudou-se o casal para o Brasil, aqui perdurando a união por quase
quatro décadas.

O MM. Juiz de 1o grau decidiu pela exclusão, no inventário de Rudolf


Ruthofer, de Eva Maria Ruthofer e dos bens que estavam em seu nome, enquanto o Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo determinou a sua reinclusão e que fosse tal patrimônio
trazido à colação, para, somado ao que estava em nome do de cujus, restasse inventariado,
preservada a meação, sobre todos, da 2a esposa.

O voto condutor do acórdão objurgado, de relatoria do eminente


Desembargador Flávio Pinheiro, tem os seguintes fundamentos (fls. 396/397):

"I. Trata-se de agravo de instrumento tirado por Roberta


Ruth Honnen contra decisão do Magistrado que, nos autos de inventário
dos bens deixados por falecimento de Rudolf Ruthofer, excluiu do
inventário a agravada Eva Maria Ruthofer, com quem o autor da
herança fora casado em segundas núpcias. Pretende a agravante que a
agravada participe do inventário, trazendo os bens adquiridos em seu
nome para dentro do monte-mor e, por via de conseqüência, recebendo
a sua meação. Caso assim não se entenda, em caráter alternativo
sucessivo, pede que a agravada apresente a declaração de seus bens,
através da qual se verificará que as aquisições de bens comuns foram
feitas apenas em nome da agravada, com o fito de prejudicar a filha do
primeiro casamento. Recurso bem processado, com informações e
resposta da agravada.
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II. Agravada é Eva Maria Ruthofer, conforme colocação da
agravante.
Superada, assim, a preliminar argüida na resposta de fls.
358.
A agravada Eva contraiu núpcias com o autor da herança
na Áustria, em 17.07.51, sob o regime legal da separação de bens.
Durante a longa convivência comum, no Brasil, cuidaram
de, na aquisição de bens, fazê-lo cada um em seu nome próprio.
Argumenta a agravante com a 'comunicação dos aqüestos'
no regime da separação de bens.
De início, anoto, como o fez o Magistrado de primeiro grau,
que disciplina a espécie o art. 7°, § 4°, da lei de introdução ao Código
Civil, que reza: 'O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei
do país em que tiverem os nubentes domicílio e, se este for diverso, à do
primeiro domicílio conjugal'.
A anotação é feita, porém sem o destaque ou a importância
que lhe emprestou o digno Magistrado.
É que, como diz o art. 259, do Código Civil, 'embora o
regime não seja o da comunhão de bens, prevalecerão, no silêncio do
contrato, os princípios dela, quanto à comunicação dos adquiridos na
constância do casamento'.
A propósito ensina MARIA HELENA DINIZ que 'embora
seja o regime matrimonial o da separação de bens, na hipótese de
silêncio na convenção antenupcial, quanto aos aqüestos ou bens
adquiridos na constância do matrimônio, prevalecerão os princípios que
regem a comunhão, no que atina à comunicabilidade daqueles bens'
(Código Civil, art. 259).
Verifica-se, então, que, mesmo admitindo-se o regime de
separação de bens, celebrado na Áustria, aplica-se a regra do art. 259,
Código Civil, também aos estrangeiros residentes e domiciliados no
Brasil, lugar, ainda, da situação dos imóveis adquiridos, como na
espécie.
Pode-se afirmar, com segurança, que inexiste qualquer
incompatibilidade entre a regra da comunicação tácita dos bens
adquiridos na constância do casamento com o sistema legal de regime
de bens do Código Civil Austríaco.
Dessa forma, fácil de entender que, embora se trate de
casamento no regime da separação de bens, presume-se que os bens
adquiridos resultaram do esforço comum e, portanto, sujeitos à
inventário.
Esta Câmara, no julgamento do Agravo de Instrumento n°
215.473-1, Relator Des. TOLEDO CESAR, decidiu, em caso semelhante,
que 'não se poderá negar, à esposa, essa meação, que seria deferida até
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a sua concubina...'.
Pelo exposto, dou provimento ao agravo, para que participe
a agravada do inventário, trazendo os bens adquiridos em seu nome, na
constância do casamento, para dentro do monte-mor e, por via de
conseqüência, recebendo a sua meação."

A recorrida, Roberta Ruth Honnen, diz que a maior parte dos bens vinha
sendo propositalmente adquirida em nome da esposa, embora fruto do esforço comum,
justamente para prejudicá-la na partilha, em proveito da cônjuge varoa e dos filhos do 2o
casamento.

Já a recorrente, agora também espólio, afirma que os bens tiveram origem


individualizada, daí a prevalência obrigatória do regime de separação, que vigorou desde a
Áustria, onde ocorreu o casamento, em 1951.

Quanto ao dissídio jurisprudencial, o mesmo limitou-se a referir um julgado


do STJ, porém sem trazer maiores elementos e ausente, por inteiro, qualquer tentativa de se
fazer um confronto analítico. Sequer houve transcrição de parte do aresto paradigmático.

No tocante à letra “a”, o art. 230 do Código Civil anterior não está
prequestionado, incidindo, na espécie, as Súmulas n. 282 e 356 do C. STF.

Com relação aos demais, rezam os dispositivos suscitados (LICC, art. 7o ,


parágrafo 4o , e 259 do Código Civil anterior), que:

“Art. 7o . A lei do país em que for domiciliada a pessoa


determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome,
a capacidade e os direitos de família.
................................................................................................................
§ 4o . O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei
do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, à
do primeiro domicílio conjugal”.
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“Art. 259. Embora o regime não seja o da comunhão de
bens, prevalecerão, no silêncio do contrato, os princípios dela, quanto à
comunicação dos adquiridos na constância do casamento”.

Dispõe a Súmula n. 377 do Colendo Supremo Tribunal Federal, que:

"No regime de separação legal de bens, comunicam-se os


adquiridos na constância do casamento. "

Roberto Rosas, em sua conhecida obra “Direito Sumular”, observa:

“A doutrina moderna inclina-se no Brasil para a comunhão


dos aqüestos, considerando a comunhão de interesses dos cônjuges na
constituição de um patrimônio formado de bens adquiridos pelo esforço
comum. Não seria justo deixarem-se a um dos cônjuges esses bens
(Washington de Barros Monteiro).
O esforço comum na aquisição dos bens denota a
comunicabilidade (RE 64.236, RTJ 47/339; 78.811, RTJ 74/200; 89.480,
DJU 19.11.1979; Sílvio Rodrigues, Direito Civil, 6ª. ed., v. 6/182).
Mais recentemente, o STF, calcado em lição do Min. Luiz
Gallotti, negou a comunicabilidade dos aqüestos (RE 43.295, RTJ
102/69).
Portanto, o alcance da Súmula 377 refere-se tanto ao regime
da separação imposta pela lei, quanto ao regime convencional (RE
61.149, RTJ 47/614; Ag. 70.303, RTJ 83/86)”.
(ob. cit, 7a edição, pág. 147).

Esta 4a Turma, no julgamento do REsp n. 9.938/SP, firmou, que:

"Direito de Família. Regime da separação legal de bens. Aqüestos.


Esforço comum. Comunicabilidade. Súmula STF, enunciado n. 377.
Correntes. Código Civil, arts. 258/259. Recurso inacolhido.
I - Em se tratando de regime de separação obrigatória (Código Civil,
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art. 258), comunicam-se os bens adquiridos na constância do casamento
pelo esforço comum.
II - O enunciado n. 377 da súmula STF deve restringir-se aos aqüestos
resultantes da conjugação de esforços do casal, em exegese que se
afeiçoa a evolução do pensamento jurídico e repudia o enriquecimento
sem causa.
III - No âmbito do recurso especial não é admissível a apreciação da
matéria fática estabelecida nas instâncias locais."
(Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, unânime, DJU de 03.08.1992)

Colho do voto condutor, do ilustre Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, o


seguinte excerto:

"A bem da verdade, sabido que numerosas são as


restrições à referida súmula, de redação ambígua por não explicitar se
a comunicação de aqüestos depende ou não do esforço comum.
Para sua melhor compreensão, algumas considerações se
fazem necessárias.
Em breve síntese, observa-se que, em relação ao regime
convencional da separação, a lei (Código Civil, art. 259) exige que, por
ocasião do pacto antenupcial, os nubentes, além de declararem a opção
pelo regime da separação, ainda declarem que os aqüestos também não
se comunicarão (cfr. Sílvio Rodrigues, 'Direito de Família', Saraiva, 14ª
ed. 1988, n. 80 ), estando a aflorar entendimento jurisprudencial,
fundado no princípio que veda o enriquecimento sem causa, e por isso
merecedor de aplausos, no sentido da comunicabilidade dos bens
aqüestos quando resultantes da conjugação do esforço dos cônjuges
(op. cit., nº 80-A).
Por outro lado, em se tratando de separação obrigatória
(legal), sem embargo da formulação da súmula (verbete 377), continua
a polêmica, não se harmonizando com ela a melhor doutrina.
Em pelo menos dois precedentes da eg. Terceira Turma,
REsps 1.615-GO e 9.414-SP, decidiu este Tribunal:

'Casamento – Regime de bens – Separação legal Súmula 377


do STF.
Quando a separação de bens resulta apenas de imposição
legal, comunicam-se os aqüestos, não importando que hajam
sido ou não adquiridos com o esforço comum' (DJ de
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12.3.90, rel. Min. Eduardo Ribeiro);
'Civil. Casamento. Regime obrigatório de bens.
Comunicabilidade dos aqüestos.
Aplica-se o art. 259 do Código Civil quando aos bens
adquiridos na constância do casamento, inclusive nos casos
de separação obrigatória' (DJ de 23.9.91, rel. Min. Dias
Trindade).

Diversa, porém, é, majoritariamente, a posição da doutrina,


como se vê em Caio Mário, que, fiel à linha de Clóvis e Pontes de
Miranda, chega a contestar a súmula, por inteiro ('Instituições',
Forense, 7ª edição, 1990, nº 402).
Menos radical, diz Washington de Barros Monteiro do maior
acerto da corrente que admite a comunicação, mas se referindo à
hipótese de bens adquiridos na constância do casamento por 'mútuo
esforço' ('Direito de Família', Saraiva, 27ª ed., 1989, p. 175).
Nessa mesma direção, e com mais ênfase, após discorrer
sobre o tema, escreve Sílvio Rodrigues na nota nº 126 da 14ª edição (fls.
182/183):

'Na primeira edição deste livro muito aplaudi a solução


pretoriana consignada na Súmula e para meu desconsolo
verifiquei que, embora houvesse, de há muito, desertado
daquela opinião, não tive o cuidado de rever, com a devida
profundidade as subseqüentes edições deste volume, de
modo que tal ponto de vista foi defendido até a 13ª edição,
que ora é apresentada ao público.
Com efeito, já de há muito censuro a amplitude da
Súmula nº 377, pois entendo que ela deve ser restrita apenas
aos bens adquiridos na vigência do matrimônio, pelo esforço
comum dos cônjuges. Aliás, nesse sentido manifestei-me com
bastante minúcia em trabalho publicado em 1985 (O direito
na década de 80. Estudos jurídicos em homenagem a Hely
Lopes Meirelles, artigo intitulado 'A Súmula nº 377 do
Supremo Tribunal Federal: necessidade de sua revogação') e
nele procuro demonstrar, de um lado que os acórdãos de
onde se extraiu a Súmula não são veementes, nem
torrenciais ao acolher a tese nela constante; de outro lado
que a finalidade protetiva almejada pela orientação
jurisprudencial e consignada na Súmula, já fora alcançada
pelo usufruto vidual, concedido pelo art. 1.611, § 1º, do
Código Civil, na forma que lhe deu a Lei nº 4.121/ 62'.
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Esta, a meu juízo, a melhor exegese, que se afeiçoa à


evolução do pensamento jurídico, repudia o enriquecimento sem causa
e dá sentido ao enunciado nº 377 da súmula/STF."

Pode-se, assim, concluir que os bens adquiridos na constância da união


conjugal devem ser comunicados, porém estritamente aqueles oriundos do esforço comum,
sem dúvida alguma a solução mais justa, pois harmoniza o regime de bens originariamente
estabelecido, com a realidade superveniente, resultante da vida do casal, que unindo forças
lograram adquirir determinado patrimônio que não existiria se dependesse dos recursos de
apenas um deles. Quanto aos demais bens, aqueles que identificadamente foram amealhados
individualmente, preserva-se a vontade dos cônjuges, de que não se misturem.

Destarte, incabível, pura e simplesmente, determinar-se a comunicação dos


aqüestos em geral, sem que se faça a ressalva com relação aos bens que não foram adquiridos
pelo esforço comum. Registro, a propósito, que é alegado pela recorrente (fls. 366 e 414),
que o imóvel situado na rua Willy Aureli n. 930 “foi adquirido pela Agravada já em 1.968,
com divisas vindas do Exterior por ocasião do falecimento de Elisabeth Dozelmuller,
mãe da viúva-Agravada” (sic). Em tais circunstâncias, e considerando-se que a presente
discussão partiu de um despacho singular que excluiu a segunda esposa do falecido do
inventário, enquanto o acórdão impugnado a reinseriu, nenhum aprofundamento a respeito
desse e de outros fatos houve.

Assim, em face da situação estabelecida nos autos, estou em que somente


devem integrar o Espólio de Rudolf Ruthofer, além dos já trazidos à colação em nome do
inventariado, os bens em nome de Eva Maria Ruthofer que tenham sido efetivamente
adquiridos pelo esforço comum do casal, mantidos fora do espólio os que foram por ela
havidos com recursos próprios, doação ou herança, tudo conforme for apurado nos autos
do inventário, em liquidação por artigos.

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Ante o exposto, conheço em parte e dou parcial provimento ao recurso
especial, nos termos acima.

É como voto.

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VOTO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Sr. Presidente, peço vênia


para discordar dos eminentes Ministros que me antecederam, porque a súmula do
Supremo tende a amainar o rigor da lei ao dizer que não se comunicarão os bens dos
cônjuges quando tiver sido escolhido o regime da separação de bens, permitindo que,
ainda assim, possa haver comunicação desses bens; o objetivo é beneficiar o cônjuge
que eventualmente tenha necessidade de usufruir um pouco do patrimônio que foi
amealhado pelo casal.
Na hipótese, é a filha do primeiro casamento do cônjuge varão, já falecido,
quem quer carrear à comunhão os bens da sua viúva, que tem residência na Áustria e
cujo casamento também foi celebrado naquele país, e está aqui a alegar que muitos
dos seus bens particulares foram obtidos com recursos provenientes da herança
recebida de sua mãe.
Com essas considerações, conheço do recurso especial e dou-lhe
provimento para o fim de impedir que os bens particulares da mulher, ora recorrente,
não se comuniquem com os bens do seu falecido marido.

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VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (PRESIDENTE):


Srs. Ministros, acompanho o voto do Sr. Ministro Cesar Asfor
Rocha, conhecendo do recurso especial e lhe dando provimento.

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VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO:

Sr. Presidente, em princípio, estou de acordo com o voto do Sr. Ministro

relator, aplicando com temperamentos o enunciado da Súmula 377 do Supremo Tribunal

Federal, ou seja, para o patrimônio do falecido Rudolf serão carreados os bens havidos por

ele e por sua segunda mulher mediante o esforço comum. Para a verificação a respeito da

aquisição com esforço comum, haverá de ser realizada, oportunamente, a liqüidação por

artigos, uma vez que há necessidade de prova.

Parece-me que o Sr. Ministro relator encontrou a solução adequada e que

corresponde à diretriz traçada por esta Turma no Recurso Especial n. 9.938/SP, da relatoria

do Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. O único inconveniente é que haverá um

retardamento com a exigência da liqüidação por artigos. Todavia, o Sr. Ministro-Relator diz

que os imóveis, nessa situação, não são em grande quantidade, de forma que, provavelmente,

a liqüidação por artigos se processará de maneira célere, como é usual.

Nessa linha, considero ser necessária a liqüidação por artigos.

Acompanho o voto do Sr. Ministro relator, conhecendo parcialmente do

recurso especial e, nessa parte, dando-lhe parcial provimento.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 1997/0018091-3 REsp 123633 / SP

Números Origem: 232593 65914601

PAUTA: 06/09/2005 JULGADO: 06/09/2005

Relator
Exmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EVA MARIA RUTHOFER - ESPÓLIO
REPR.POR : CORNÉLIA EVELIN PILSHOFER - INVENTARIANTE E OUTRO
ADVOGADO : MAURÍCIO DE CAMPOS CANTO E OUTRO
RECORRIDO : ROBERTA RUTH HONNEN
ADVOGADO : OTTO CARLOS VIEIRA RITTER VON ADAMEK

ASSUNTO: Civil - Sucessão - Inventário

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Verificado empate na votação, tendo os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Relator, e
Barros Monteiro conhecido parcialmente do recurso especial e, nessa parte, dado-lhe parcial
provimento, e os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Fernando Gonçalves dele conhecido,
dando-lhe provimento, os autos deverão ir conclusos ao Sr. Ministro Jorge Scartezzini para que se
prossiga no julgamento.
Brasília, 06 de setembro de 2005

CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK


Secretária

Documento: 576686 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 30/03/2009 Página 1 6 de 26
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RECURSO ESPECIAL Nº 123.633 - SP (1997/0018091-3)

RELATOR : MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR


RECORRENTE : EVA MARIA RUTHOFER - ESPÓLIO
REPR. POR : CORNÉLIA EVELIN PILSHOFER - INVENTARIANTE E OUTRO
ADVOGADO : MAURÍCIO DE CAMPOS CANTO E OUTRO
RECORRIDO : ROBERTA RUTH HONNEN
ADVOGADO : OTTO CARLOS VIEIRA RITTER VON ADAMEK

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO:


1. Roberta Ruth Honnen interpôs agravo de instrumento contra decisão do juiz
titular da Terceira Vara da Família e das Sucessões do Foro Regional de Santo Amaro, São
Paulo, que excluiu a agravada, Eva Maria Ruthofer, dos autos do inventário de seu falecido
pai.
É que tramita, desde outubro de 1993, na Terceira Vara da Família e
Sucessões de Santo Amaro - SP, o inventário de diversos bens deixados por Rudolf
Ruthofer, austríaco, casado em segundas núpcias com Eva Maria Ruthofer (falecida em
13.01.2004), deixando aquele três filhos: a) Roberta Ruth Honnen (filha do primeiro
casamento e residente na Alemanha); b) Cornélia Evelin Ruthofer (inventariante dos dois
espólios) e Ronald Ruthofer (filhos do segundo casamento).
A ora agravante alega que seu genitor, Rudolf Ruthofer, ciente da determinação
da lei brasileira que exige a comunhão dos bens amealhados na constância do casamento,
quando ainda em vida passou a adquiri-los em nome da segunda esposa, de modo a
prejudicar seus direitos sucessórios. Pondera que, não obstante o regime de separação total
de bens estabelecido pelos cônjuges, em matrimônio realizado na Áustria, o patrimônio
amealhado é fruto do esforço comum do casal.
Pretende a incorporação dos bens da ré, viúva de segundas núpcias do
inventariado, ao monte-mor do inventário para que, preservada a meação, proceda-se a justa
repartição do patrimônio do falecido entre a agravante e os dois filhos do segundo
casamento.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo deu provimento ao agravo, em
decisão assim ementada (395-400):
EMENTA: Inventário - Agravante que pretende que a agravada participe do
inventário, trazendo os bens adquiridos em seu nome para dentro do
monte-mor - Admissibilidade - Inteligência dos art. 259, CC - Recurso
provido.
"Embora o regime não seja o da comunhão de bens, prevalecerão, no
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silêncio do contrato, os princípios dela, quanto à comunicação dos
adquiridos na constância do casamento".

Inconformada, a agravada interpôs recurso especial, sob o pálio das alíneas "a"
e "c" do dispositivo constitucional de regência, alegando, em síntese (fls. 405-416):
a) que o acórdão recorrido malferiu o art. 7º, § 4º, da Lei de Introdução ao
Código Civil, na medida em que negou vigência à lei austríaca, aplicável ao
caso, que proíbe a comunicação de bens no regime de separação total;
b) afronta ao art. 230, do Código Civil, relativo à proibição da alteração no
regime de bens após o casamento;
c) a existência de dissídio jurisprudencial quanto à comunicação apenas do
patrimônio comprovadamente adquirido pelo esforço comum.
A parte adversa ofereceu contra-razões às fls 420-460.
O membro do Parquet deixou da apresentar parecer, declarando cuidar-se
apenas de interesse privado, sem qualquer fator atrativo da intervenção ministerial (fl. 466).
Em decisão de fls. 469-471, o especial ultrapassou o juízo prévio de
admissibilidade, ascendendo a esta Corte Superior.
A filha da agravada, Cornélia Evelin Pilshofer, veio aos autos noticiar o
falecimento de sua mãe e requerer sua habilitação no processo, como inventariante do
Espólio, o que foi deferido à fl. 514. Na mesma oportunidade, apresentou documentos,
procurando comprovar que o regime matrimonial estabelecido entre seus pais era o da
separação de bens, nos termos da legislação austríaca aplicável à espécie.
Conduzido à julgamento nesta Quarte Turma, o Relator, Ministro Aldir
Passarinho Júnior, proferiu voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso especial, a
fim de determinar que só os bens adquiridos pelo esforço comum dos cônjuges sejam
trazidos à colação, tudo a ser apurado em liquidação por artigos. Tal posicionamento foi
acompanhado pelo Ministro Barros Monteiro (fls. 520-530).
O Ministro César Asfor Rocha, acompanhado pelo Ministro Fernando
Gonçalves, inaugurou divergência, asseverando que a agravante, filha do primeiro
casamento, não pode pugnar pela colação de bens adquiridos pela esposa do de cujus com
patrimônio próprio (fl. 532).
É o relatório.

2. Primeiramente, quanto à alegada violação ao art. 230 do Código Civil, relativo


à impossibilidade da alteração do regime de bens, observa-se que a tese suscitada pela
recorrente não foi apreciada pela Corte local. Assim, acompanho o Ministro Relator em não
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conhecer do recurso especial nesse ponto, ante a ausência de prequestionamento, conforme
determina a Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal (AgRg no REsp 670.337/SE, Rel.
Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 28/10/2008, DJe
24/11/2008).

3. O dissídio jurisprudencial suscitado pelo recorrente esbarra, igualmente, em


obstáculo à sua admissibilidade, uma vez que a recorrente não empreendeu o necessário
cotejo analítico entre o precedente paradigma e o acórdão ora impugnado. Com efeito, sequer
transcreveu trechos dos julgados, que permitissem a demonstração da similitude fática e
orientação jurídica diversa. Dessa forma, acompanho o relator no não conhecimento do
recurso pela alínea "c", porquanto não cumpridas as exigências do art. 255 do Regimento
Interno desta Corte (REsp 972.849/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
QUARTA TURMA, julgado em 28/10/2008, DJe 10/11/2008).

4. Pretende o recorrente a reforma do acórdão que determinou a comunicação


dos bens adquiridos em nome da agravada na constância do casamento, aplicando regra
contida no artigo 259 do Código Civil de 1916: "Embora o regime não seja o da comunhão de
bens, prevalecerão, no silêncio do contrato, os princípios dela, quanto à comunicação dos
adquiridos na constância do casamento".

Anota o recorrente que, segundo as regras de conexão de direito internacional


privado, a legislação austríaca seria aplicável para regular o regime de bens de seu
matrimônio. Nesse norte, invoca regra contida no § 1.233 do Código Civil Austríaco (fl. 291):

4. Regime de Comunhão de Bens


§ 1233. A união matrimonial por si só não fundamenta uma comunhão de
bens entre cônjuges. Para isso trona-se necessário um contrato especial,
cuja extensão e forma jurídica se orientarão pelo disposto nos §§ 1177 e
1178 da Parte Principal anterior.

Aponta ainda para o disposto no § 1237, que estabelece "a separação de bens
como regime de bens legal, o que significa que, inexistindo acordo específico (§ 1233 ABGB),
cada cônjuge é proprietário do patrimônio trazido para o casamento e será proprietário
exclusivo do patrimônio adquirido ou herdado por quaisquer meios" (fl. 491).

De fato, conquanto a jurisdição brasileira esteja apta a processar e decidir


quanto ao inventário (art. 89, II, do CPC), o artigo 7º, § 4º, da LICC, determina que, no tocante
ao regime de bens, incide a "lei do país em que tiveram os nubentes domicílio".

Restou comprovado nos autos que a agravada contraiu núpcias na Áustria,


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imigrando para o Brasil, para formar novo domicílio conjugal, somente após três anos de
permanência naquele país.

Não obstante o curto período na Europa, o regime de bens de seu matrimônio é


regulado pela legislação austríaca, conforme solução oferecida pela Lei de Introdução ao
Código Civil para conflito externo de leis.

Assim dispõe o art. 7º, § 4º, da LICC:

Art. 7º A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras


sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família.
(...)
§ 4º O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que
tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, à do primeiro domicílio
conjugal.

5. Contudo, ainda que, na hipótese, reconheça-se o regime de bens imposto


pela lei austríaca, há regramentos internos que devem ser compatibilizados, em busca da
solução mais justa para o caso concreto.

São as normas de ordem pública, que, no plano interno, devem prevalecer.


Confira-se lição de Jacob Dolinger:

No seu primeiro nível a ordem pública funciona no plano do direito interno


para garantir o império de determinadas regras jurídicas, impedindo que
sua observância seja derrogada pela vontade das partes. São, dentre
outras, as leis de proteção aos menores, aos incapazes, à família, à
economia nacional e a outros institutos civis comerciais, que constituem, de
certa forma, a publicização do direito privado.
(DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado: parte geral. 9. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2008. p. 406)

Resta saber se a regra contida no artigo 259 do Código Civil de 1916 e aplicada
pela Corte local pode ser compreendida como uma norma cogente e de aplicação imediata.

Acerca da questão, colhe-se da doutrina:

Ao longo do estudo das instituições jurídicas no plano internacional vai-se


detectando a efetivação do princípio da ordem pública na sua obra de
impedir, às vezes total, às vezes parcialmente, a aplicação de leis
estrangeiras que, apesar de indicadas por uma das regras de conexão do
D.I.P., sejam consideradas atentatórias a algum princípio básico nos planos
político, econômico, jurídico ou moral do foro. Neste trabalho de "proteção",
a doutrina desempenha um papel menor, pois a autoridade em matéria de
ordem pública emana do Judiciário de cada país.
(DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado: parte geral. 9. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2008. p. 418)
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É a hipótese dos autos, em que a jurisprudência evoluiu no sentido de permitir a
comunicação do patrimônio amealhado na constância do casamento, conjugando e
preservando a aplicação do direito brasileiro mesmo nos casos em que a legislação, no país
de origem, determina a separação absoluta de bens.

Nesse sentido, transcrevo elucidativo precedente do Supremo Tribunal Federal:

1. ALEMAES CASADOS PELO REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS DE


ACORDO COM A LEI NACIONAL DE AMBOS, QUE SE RADICARAM NO
BRASIL APÓS O CASAMENTO. SE O MARIDO E A MULHER SE
MANTIVERAM SEMPRE UNIDOS E CONJUGARAM ESFORCOS PARA
LEVAR A CABO A FORMAÇÃO DO PATRIMÔNIO COMUM, AINDA QUE A
COOPERAÇÃO DA ESPOSA TENHA SIDO LIMITADA AO TRABALHO
DOMESTICO, TEM ELA INDISCUTIVELMENTE O DIREITO, ATÉ MESMO
NATURAL, DE COMPARTILHAR DAQUELE COMPLEXO DE BENS, COMO
DISPÕE O ART. 259 DO CÓDIGO CIVIL. NÃO IMPORTA QUE O MARIDO E
A MULHER SEJAM ESTRANGEIROS E HAJAM CELEBRADOS O
CASAMENTO PELO REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS, NOS TERMOS DA
LEI NACIONAL DE AMBOS, PORQUE, NO PORMENOR DA COMUNHAO
DOS AQUESTOS, O IMPORTANTE E DECISIVO E O ESFORCO COMUM E
CONSTRUTIVO DESENVOLVIDO PELO CASAL NO DOMICILIO EM QUE
ELE CONSTRUIU OU FORMOU O PATRIMÔNIO PELO TRABALHO
CONSTANTE E CONJUGADO DO MARIDO E DA MULHER. TRATA-SE DE
UMA REALIDADE QUE O DIREITO POSITIVO SE LIMITA A HOMOLOGAR,
TÃO DIFICIL E SUA NEGAÇÃO. 2. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
PROVIDO, NOS TERMOS DO VERBETE 377 DA SÚMULA DO STF.
(RE 78811, Relator(a): Min. ANTONIO NEDER, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 29/04/1975, DJ 06-06-1975 PP-03949 EMENT VOL-00988-01 PP-00234
RTJ VOL-00074-01 PP-00194)
Esse entendimento também é sufragado pela doutrina autorizada:
Por isso os tribunais brasileiros desenvolveram interessante teoria acerca
da comunhão dos aquestos, para os regimes de bens regidos por lei
estrangeira, e para os casos da lei brasileira que previa a obrigatoriedade
da separação de bens em algumas hipóteses, como a dos maiores de 60
anos. Os tribunais brasileiros deram uma interpretação mais elástica a esse
conceito de separação de patrimônio, de forma a privilegiar o esforço
comum, mesmo quando a lei aplicável fosse a estrangeira e dispusesse de
forma diferente. Essas decisões atingiram somente àqueles bens situados
no Brasil, em razão da competência exclusiva da justiça brasileira. O tema
foi consolidado pelo STF, através da Súmula 377, que dispôs serem
comunicáveis os bens adquiridos na constância do casamento, apesar do
regime legal ser o da separação.
(ARAUJO, Nadia de. Direito Internacional Privado: Teoria e Prática
Brasileira. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 457-458).

Essa solução veio a confirmar orientação assente do Supremo Tribunal


Federal, consolidada na Súmula 377, que determina: "No regime de separação legal de bens

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comunicam-se os adquiridos na constância do casamento".

Por fim, vale destacar que tal entendimento está em consonância com a
posição de destaque atribuída à unidade familiar pela Constituição Federal, conforme se
depreende do caput de se artigo 226, in verbis : "A família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado".

6. O entendimento manifestado pelo e. Ministro relator oferece resposta mais


adequada ao caso concreto, ao determinar a comunicação dos aqüestos somente nas
hipóteses em que o patrimônio foi comprovadamente adquirido pelo esforço comum.

Por oportuno, transcrevo precedente desta Quarta Turma:

CIVIL. REGIME DE BENS. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA. AQÜESTOS.


ESFORÇO COMUM. COMUNHÃO. SÚMULA 377/STF. INCIDÊNCIA.
1. No regime da separação legal de bens comunicam-se os adquiridos na
constância do casamento pelo esforço comum dos cônjuges (art. 259
CC/1916).
2. Precedentes.
3. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 442.629/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA
TURMA, julgado em 02/09/2003, DJ 15/09/2003 p. 324, REPDJ 17/11/2003
p. 332)

Colhem-se diversos outros precedentes do STJ na mesma linha: (Resp


9938/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJU, 03.08.92; Resp 138.431/
RJ, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, DJU, 12.03.01; Resp 442.165/ RS, Rel. Ministro RUY
ROSADO, DJU, 28.10.02; Resp 208.640/ RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES
DIREITO, DJU, 28.05.01 ).
Discordo do Ministro Relator, todavia, quanto a forma de comprovação do
esforço comum na formação do patrimônio amealhado pelo falecido.
Não é possível a liquidação por artigos no procedimento especial do inventário,
devendo o magistrado, quando deparar com questão de alta indagação, remeter o processo
para as vias ordinárias, nos termos do 984 do CPC.
Confira-se excerto da doutrina:
O juiz resolverá todas as questões de direito e de fato (em relação a este,
quando documentalmente demonstrado - CPC, art. 984) que venham a
surgir no curso do inventário, determinando a resolução, pelas "vias
ordinárias" (rectius: processo de cognição plenária e exauriente), daquelas
que demandarem alta indagação - isto é, aquelas questões de fato
dependentes de provas de natureza diversa da documental para a sua
resolução.
(MARCATO. Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. 13. ed. São Paulo:
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Superior Tribunal de Justiça
Atlas, 2007. p. 213)

Assim, entendendo o magistrado tratar-se de matéria complexa que não se


encontra devidamente comprovada mediante os documentos juntados ao processo de
inventário, deve determinar que a prova do esforço comum seja realizada pela via ordinária.
7. Assim, dou parcial provimento ao recurso especial, em menor parte do que
fez o eminente Relator, para determinar que, respeitada a meação da cônjuge sobrevivente,
sejam trazidos à colação, no processo de inventário, somente os bens comprovadamente
amealhados pelo esforço comum do casal, a serem apurados, se for o caso, em ação
própria e autônoma.
É como voto.

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 123.633 - SP (1997/0018091-3)

RETIFICAÇÃO DE VOTO

EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Sr.


Presidente, mantendo meu voto já proferido quanto ao cerne da discussão, retifico-o, no
entanto, para aderir à posição do Min. Luís Felipe Salomão com relação à apuração do
esforço comum por ação própria e não nos autos do inventário.

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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 1997/0018091-3 REsp 123633 / SP

Números Origem: 232593 65914601

PAUTA: 18/12/2008 JULGADO: 18/12/2008

Relator
Exmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS FONSECA DA SILVA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EVA MARIA RUTHOFER - ESPÓLIO
REPR. POR : CORNÉLIA EVELIN PILSHOFER - INVENTARIANTE E OUTRO
ADVOGADO : MAURÍCIO DE CAMPOS CANTO E OUTRO
RECORRIDO : ROBERTA RUTH HONNEN
ADVOGADO : OTTO CARLOS VIEIRA RITTER VON ADAMEK

ASSUNTO: Civil - Sucessão - Inventário

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
O julgamento do presente feito foi adiado por indicação do Sr. Ministro Luís Felipe
Salomão.
Brasília, 18 de dezembro de 2008

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI


Secretária

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 1997/0018091-3 REsp 123633 / SP

Números Origem: 232593 65914601

PAUTA: 17/03/2009 JULGADO: 17/03/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ANA MARIA GUERRERO GUIMARÃES
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EVA MARIA RUTHOFER - ESPÓLIO
REPR. POR : CORNÉLIA EVELIN PILSHOFER - INVENTARIANTE E OUTRO
ADVOGADO : MAURÍCIO DE CAMPOS CANTO E OUTRO
RECORRIDO : ROBERTA RUTH HONNEN
ADVOGADO : OTTO CARLOS VIEIRA RITTER VON ADAMEK

ASSUNTO: Civil - Sucessão - Inventário

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto de desempate proferido pelo Sr. Ministro Luís
Felipe Salomão, acompanhando o voto do Sr. Ministro Relator, a Turma, por maioria, conheceu
em parte do recurso especial e, nessa parte, deu-lhe parcial provimento, vencidos os Srs.
Ministros Cesar Asfor Rocha e Fernando Gonçalves, que conheciam do recurso especial e
davam-lhe provimento.
Brasília, 17 de março de 2009

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI


Secretária

Documento: 576686 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 30/03/2009 Página 2 6 de 26

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