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dimensão urbana, com vistas a subsidiar as discussões em torno do Objetivo do

A Geografia das cidades sustentáveis no Brasil Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS 11).

A questão da sustentabilidade carrega em si a perspectiva intergeracional e de


finitude dos recursos, além de uma interpretação multiescalar e
A busca pela sustentabilidade multidimensional do fenômeno urbano. Assim, pensar geograficamente as
requer a articulação entre três “registros cidades sustentáveis deve refletir antes de tudo a noção de que os problemas
ecológicos”: do meio ambiente, das relações sociais e da
Caderno Temático: Cidades Sustentáveis

referentes à sustentabilidade não podem ser vistos de forma pontual ou linear.


subjetividade humana (GUATTARI, 1990).
Ainda considerando esta questão, num quadro da pressão exercida pelo
A transição aumento da densidade populacional, há que se levar em conta o problema da
para uma abordagem territorial e informacional da sustentabilidade vulnerabilidade do espaço urbano ao impacto de desastres. A questão
é extremamente importante para a eficiência ambiental tornou-se pauta obrigatória na agenda de cidades sustentáveis,
na geração e implantação de políticas públicas, pois o
potencial de desenvolvimento de um país depende, principalmente, demandando a produção de informações que subsidiem a formulação de
de sua capacidade cultural de pensar de forma políticas públicas que possam prevenir desastres e mitigar suas consequências
endógena sobre seus futuros desejáveis (SACHS, 2001) sobre populações vulneráveis.

O quadro na página seguinte (Quadro 1) relaciona as metas que compõem o


ODS 11, assim como os indicadores a elas associados. Cabe observar que nem
todos eles estão representados neste Caderno Temático, uma vez que não há,
ainda, estatísticas disponíveis que contemplem a totalidade dos indicadores

D
uas iniciativas da Organização das Nações Unidas (ONU) avançaram
sugeridos pela ONU.
na agenda técnica e político-institucional sobre as cidades, colocando
a necessidade de os países e seus institutos de geografia e estatística A perspectiva geográfica sobre os indicadores de cidade sustentáveis no Brasil
revisarem conceitos e métodos para se pensar e produzir informações sobre o nos remete, inicialmente, à própria análise de algumas dimensões espaciais que
espaço urbano na contemporaneidade. moldaram o processo de urbanização e de diferenciação das cidades no imenso
território brasileiro, aí incluída a questão da configuração e da hierarquia da
A primeira iniciativa foi a Resolução adotada em 25 de setembro de 2015, pela
rede urbana nacional, além daquela relativa à formação das concentrações
Assembleia Geral das Nações Unidas, propondo a Agenda para o
urbanas no país.
Desenvolvimento Sustentável para 2030, com o estabelecimento de 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas. Cada um dos 17 Afinal, nunca é demais lembrar que as cidades e a intervenção sobre elas tem
ODS implica a produção de uma série de indicadores que subsidiarão a ação das uma importância decisiva para a dinâmica espacial e, portanto, para o
diferentes esferas de poder do Estado, assim como o acompanhamento e a desenvolvimento regional e nacional (EGLER, 2010), principalmente quando
participação da sociedade civil, no cumprimento das metas estabelecidas pela considerada na dimensão da sustentabilidade socioambiental.
ONU. A segunda ação foi a realização, em 20 de outubro de 2016, da Terceira
A evolução temporal e espacial dos municípios e de suas sedes são abordadas
Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano
enquanto elementos fundamentais de entendimento do processo conjugado de
Sustentável (Habitat III). No Habitat III, 167 países se comprometeram a adotar
divisão municipal, povoamento e urbanização no Brasil, dada a vinculação entre
a Nova Agenda Urbana (NAU) com o objetivo de orientar a urbanização pelos
a organização política do território nacional e a existência legal das cidades.
próximos vinte anos em escala mundial. A ONU, através da NAU, assume uma
interpretação ampliada do fenômeno urbano ao assinalar que, até 2050, a Com efeito, o Decreto-Lei n. 311, de 02.03.1938, que organizou a estrutura
população urbana do mundo irá praticamente dobrar, o que a mantém como territorial brasileira, determinou que as cidades fossem as sedes dos municípios
tendência transformadora neste início do século XXI. Enquanto o Objetivo 11, atribuindo-lhes, portanto, forte sentido político-administrativo, a despeito de
dentre os 17 elencados para o Desenvolvimento Sustentável, tem como sua dimensão populacional.
enunciado “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis até 2030”, o Habitat III propõe uma nova agenda para Nesse sentido, os atuais 5570 municípios brasileiros indicam a existência de um
orientar a “urbanização sustentável nos próximos 20 anos”. número idêntico de cidades, conforme observado no Mapa relativo à
população total estimada em 2015, que categoriza os municípios segundo
Assim, o tema das cidades sustentáveis tem estimulado em todo o mundo, e no estratos populacionais.
Brasil em especial, a formulação de inúmeras iniciativas públicas e privadas em
forma de programas, agendas e publicações. O Caderno Temático do Atlas Quando se compara os mapas relativos a 1900 (Mapa 1), 1950 (Mapa 2) e 2015
Nacional Digital 2017, intitulado “Cidades Sustentáveis”, constitui uma (Mapa 3) pode-se observar que o crescimento do número de municípios
oportunidade ímpar para se abordar, do ponto de vista geográfico, a discussão ocorreu simultaneamente ao próprio povoamento do território nacional. Assim,
em torno de conceitos, métodos e informações que darão suporte a essa o incremento da população e sua interiorização fez-se acompanhar da criação
temática no século XXI. A necessidade de instrumentalizar a sociedade e o de pequenos municípios.
poder público com informações capazes de incorporar as múltiplas dimensões Os mapas relativos à evolução da população total deixam antever, contudo, o
que compõem a noção da sustentabilidade urbana constitui um enorme desafio quanto os programas e agendas locais voltadas à sustentabilidade urbana no
às instituições voltadas à produção de informações geográficas e estatísticas, Brasil devem incluir questões e problemas aderentes aos pequenos municípios,
como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). dada a numerosa presença desses últimos em todo o país.
Esse Caderno Temático tem, assim, como objetivo, fazer a leitura espacial de
um conjunto de informações produzidas pelo IBGE e por outras instituições
públicas que abordam a complexa questão da sustentabilidade em sua
Quadro 1 Mapa 1

Metas e indicadores do ODS 111 População total - 1900

Meta Indicadores
11.1 até 2030, garantir o acesso de todos a habitação
11.1.1 Proporção da população urbana que vive em
adequada, segura e a preço acessível, e aos serviços
favelas, assentamentos informais ou domicílios
básicos, bem como assegurar o melhoramento das

Caderno Temático: Cidades Sustentáveis


inadequados
favelas
11.2 até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de
transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço
acessível para todos, melhorando a segurança 11.2.1 Proporção da população com acesso
rodoviária por meio da expansão dos transportes adequado ao transporte público por sexo, idade e
públicos, com especial atenção para as necessidades pessoas com deficiência
das pessoas em situação de vulnerabilidade, mulheres,
crianças, pessoas com deficiência e idosos
11.3.1 Razão entre consumo da terra e crescimento
11.3 até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e populacional
sustentável, e a capacidade para o planejamento e a 11.3.2 Proporção de cidades com participação direta
gestão participativa, integrada e sustentável dos da estrutura da sociedade civil no planejamento
assentamentos humanos, em todos os países urbano e na gestão que opera regularmente e
democraticamente
11.4.1 Despesas totais (públicas e privadas) per
capita gastas na preservação, proteção e
conservação de toda a herança cultural e natural,
por tipo de herança (cultural, natural, mista e
11.4 fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o
designação WHC), nível de governo (nacional,
patrimônio cultural e natural do mundo
regional e local/municipal), tipo de despesa
(operacional ou investimento) e tipo de
financiamento privado (doações, organizações
privadas sem fim lucrativo e patrocínio)
11.5 até 2030, reduzir significativamente o número de 11.5.1 Número de mortes, pessoas desaparecidas e
mortes e o número de pessoas afetadas por catástrofes pessoas afetadas por desastres por 100.000
e diminuir substancialmente as perdas econômicas habitantes
diretas causadas por elas em relação ao produto Fonte: IBGE. Evolução da Divisão Territorial do Brasil: 1872-2010, 2011.
interno bruto global, incluindo os desastres 11.5.2* Perda econômica direta em relação ao PIB
relacionados à água, com o foco em proteger os pobres global, incluindo danos a infraestruturas críticas e
e as pessoas em situação de vulnerabilidade interrupção de serviços básicos
11.6.1 Proporção de resíduos sólidos urbanos
coletados regularmente e com destino final
11.6 até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo adequado em relação aos resíduos sólidos totais
per capita das cidades, inclusive prestando especial gerados por cidade
atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos
municipais e outros 11.6.2 Níveis médios anuais de material particulado
fino (ex. PM2,5 e PM10) nas cidades (com
ponderação populacional)
11.7.1* Participação média no uso do espaço
construído ao ar livre das cidades para uso público
11.7 até 2030, proporcionar o acesso universal a de todos, por sexo, idade e pessoas com deficiência
espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e
verdes, em particular para as mulheres e crianças, 11.7.2 Proporção de pessoas vítimas de assédio
pessoas idosas e pessoas com deficiência físico ou sexual, por sexo, idade, status de
deficiência e local de ocorrência, nos últimos doze
meses
11.A apoiar relações econômicas, sociais e ambientais 11.A.1 Proporção da população das cidades que
positivas entre áreas urbanas, peri-urbanas e rurais, implementam planos de desenvolvimento urbano e
reforçando o planejamento nacional e regional de regional integrando projeções populacionais e
desenvolvimento necessidades de recursos, por tamanho de cidade
11.B até 2020, aumentar substancialmente o número 11.B.1 Proporção dos governos locais que adotam e
de cidades e assentamentos humanos adotando e implementam estratégias locais de redução dos
implementando políticas e planos integrados para a riscos a desastres alinhadas com o Quadro Sendai
inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e para redução dos riscos de desastres 2015-2030
adaptação à mudança do clima, a resiliência a
desastres; e desenvolver e implementar, de acordo
com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de 11.B.2* Número de países com estratégias nacionais
Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do e locais para redução do risco a desastres
risco de desastres em todos os níveis
11.C.1* Proporção do apoio financeiro para os
11.C apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive Fonte: UN. Report of the Inter-Agency and Expert Group on Sustainable Development Goal Indicators
países menos desenvolvidos que é alocada para a
por meio de assistência técnica e financeira, para
construção e reforma de construções sustentáveis, (E/CN.3/2016/2/Rev.1). Annex IV - Final list of proposed Sustainable Development Goal indicators. Disponível em:
construções sustentáveis e resilientes, utilizando
resilientes e eficientes em termos de recursos, <https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/11803Official-List-of-Proposed-SDG-Indicators.pdf>.
materiais locais
utilizando materiais locais Acesso em: 12 maio de 2017.

1
Nota: Os indicadores marcados com (*) não foram contemplados nesse Caderno Temático
devido à indisponibilidade de dados.
Além das fragilidades institucionais que marcam a administração dos pequenos
municípios para implementar uma agenda voltada à sua sustentabilidade, a
Mapa 2
imensidão territorial do país ainda traz o desafio de pensar essa agenda em
População total - 1950 condições das grandes diferenças encontradas em termos de acessibilidade das
sedes municipais aos eixos viários e/ou aos principais centros urbanos
regionais.

Com efeito, em grande parte das pequenas sedes municipais do interior do país
e, notadamente, nas Regiões Norte e Nordeste, o acesso às principais vias de
Caderno Temático: Cidades Sustentáveis

circulação e/ou aos centros urbanos de maior hierarquia na rede urbana


regional, longe de constituir uma “agenda” estritamente ligada à esfera
econômica, constitui, muitas vezes, fator fundamental de acesso da população
aos serviços mais especializados, ou, muitas vezes, básicos, de saúde e
educação.

Para Becker (2009, p. 56), em regiões como a Amazônia brasileira as políticas


públicas, além de planejar o fortalecimento das cidades para promover formas
menos predatórias e, portanto, contemporâneas, de uso dos recursos naturais,
devem pensar, também, na liderança que os centros urbanos podem ter na
disseminação de uma política efetiva de promoção do capital humano. Esta
promoção significa, antes de tudo, segundo essa autora, ampliar o acesso da
população aos serviços de saúde e educação com alguma qualidade,
principalmente em um período histórico, como o atual, no qual esses serviços
parecem essenciais para sustentar a população e a produção, numa região de
elevada escassez de serviços básicos.

Outro aspecto importante da evolução da população brasileira no território


está relacionado ao processo de urbanização que não pode ser esquecido
quando se tenta contextualizar a questão das cidades sustentáveis no Brasil.
Fonte: IBGE. Evolução da Divisão Territorial do Brasil: 1872-2010, 2011.
Do ponto de vista geográfico, uma vertente dessa questão diz respeito à
própria taxa de urbanização dos municípios, aqui medida pela proporção da
Mapa 3 população urbana na população total dessas unidades federativas.
População total - 2015 Quando analisadas numa série temporal ao longo do período censitário
transcorrido entre 1940 (Mapa 4) e 2010 (Mapa 5), essa informação revela a
reversão ocorrida nesse período entre um país dominantemente rural para um
outro no qual a população vai se concentrando crescentemente nas cidades.

Com efeito, de acordo com Simões (2016, p. 41), até 1960, a maioria da
população residia na área rural do País, à exceção da Região Sudeste que, nessa
data, já apresentava 57,0% de sua população residente na área urbana. O
fenômeno da urbanização no Brasil está estreitamente associado à questão das
migrações internas que se intensificam a partir do início dos anos 60 e tendo,
inicialmente, como principal área de atração a Região Sudeste, que oferecia as
maiores oportunidades de emprego, em decorrência da concentração das
principais atividades econômicas então existentes no País. Já em 1970, a taxa
de urbanização na Região chega a 73,0%, enquanto nas demais, esse valor
ainda é inferior a 50,0%.

Fonte: IBGE. Estimativa da população 2015.


Mapa 4 O processo de urbanização no Centro-Oeste, por exemplo, esteve fortemente
associado à introdução de uma agricultura com intensa inversão de capital,
Taxa de urbanização - 1940
seguindo eixos viários e apoiando-se no estabelecimento de novas cidades. No
mesmo período, meados da década de 1970, ocorria uma significativa perda de
população rural em partes da Região Sul, tanto pela concentração da
propriedade fundiária quanto pela migração para um modelo econômico
industrial, esta última nas áreas de povoamento mais antigo.

Por outro lado, nas regiões Norte e Nordeste, os níveis de urbanização ainda

Caderno Temático: Cidades Sustentáveis


em 2010 são “relativamente mais baixos (73%)”, quando confrontados com o
das regiões Sudeste (92,9%), Centro-Oeste (88,8%) e Sul (84,9%) (Tabela 2 e
Gráfico 1).

Em síntese, o Brasil passou por profundas alterações demográficas no período


1940-2010 ao deixar de ser um país predominantemente rural, situação que
prevaleceu até meados da década de 60, para uma condição em 2010 em que
84,4% de sua população já reside em áreas urbanas.

As mudanças nas taxas de urbanização, conforme reveladas nos mapas


relativos à taxa de urbanização, remetem à necessidade de se adequar a
agenda e as ações afinadas aos princípios da sustentabilidade urbana, com os
diversos contextos regionais e locais que coexistem em um território de
dimensões continentais como o brasileiro.

Desse modo, o contexto temporal/regional que repercute dinamicamente


sobre a sociedade e o território brasileiros, aí incluído o acelerado processo de
urbanização, deve necessariamente construir o pano de fundo sobre o qual se
pode refletir sobre a complexa questão da sustentabilidade urbana no país.

Ademais, não só ajustes e adaptações são continuamente necessários quando


Fonte: IBGE. Evolução da Divisão Territorial do Brasil: 1872-2010, 2011.
se pensa na aplicação de agendas e ações mundialmente acordadas, como,
também, é fundamental, na perspectiva geográfica, pensar a questão da
sustentabilidade das cidades no Brasil, para além de sua condição de espaços
Mapa 5
adensados. Esses espaços formam, por vezes, grandes concentrações urbanas,
Taxa de urbanização – 2010 fruto do processo de expansão das cidades seja por meio da contiguidade das
manchas urbanizadas, seja pela noção de integração entre dois centros, medida
pelos movimentos pendulares para trabalho e estudo, conforme a pesquisa
Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil, 2016. Segundo essa
pesquisa (2016, p.30), de um total de 26 grandes concentrações urbanas, 12
são de caráter metropolitano: São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Belo
Horizonte/MG, Recife/PE, Porto Alegre/RS, Salvador/BA, Brasília/DF,
Fortaleza/CE, Curitiba/PR, Goiânia/GO, Belém/PA e Manaus (AM). As 14
grandes concentrações restantes tem caráter de capital regional (Mapa 6).

Fonte: IBGE. Evolução da Divisão Territorial do Brasil: 1872-2010, 2011.


Mapa 6 Mapa 7

Distribuição das Grandes Concentrações Urbanas Brasil - 2010 Rede Urbana Brasileira - 2007
Caderno Temático: Cidades Sustentáveis

Fonte: IBGE. Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil, 2016. Fonte: IBGE. Regiões de Influência das Cidades, 2008.

Assim, a leitura geográfica dessa questão passa necessariamente por uma Nesse sentido, a discussão sobre os indicadores de sustentabilidade do ponto
contextualização inicial das cidades brasileiras feita em escala mais abrangente de vista geográfico carrega o necessário entendimento de observar a cidade em
em direção a uma perspectiva urbano-regional, isto é, em sua interação com as termos de seu papel de articulação e de gestão entre regiões no interior do
formas de apropriação e uso do território nacional com suas enormes território nacional e mundial.
diferenças ambientais e socioculturais.
É fundamental, portanto, incluir na discussão acerca da sustentabilidade urbana
Nesse sentido, na atualidade, a ação pública sobre o território nacional e as a diferenciação no que diz respeito à hierarquia das cidades, isto é, ao grau de
cidades brasileiras volta a estar no centro dos debates acadêmicos e influência que os centros de diferentes tamanhos e níveis de funcionalidade
governamentais quanto ao modo mais adequado e possível de se conduzir uma possuem em relação à sua região de influência.
intervenção planejada e ambientalmente comprometida sobre as cidades
Assim, em 2007, o Brasil possuía 12 metrópoles com forte relacionamento
brasileiras, analisadas em sua diversidade urbano-regional.
entre si e extensa área de influência direta, dentre as quais a cidade do Rio de
Essa perspectiva acompanha, enfim, a “virada geográfica” que marca esse Janeiro e de Brasília tinham o status de metrópoles nacionais e São Paulo de
debate no Brasil e no mundo, debate esse que pressupõe o respeito à Grande Metrópole Nacional (IBGE, Regiões de Influência das Cidades, 2008).
diversidade com o combate às desigualdades e vulnerabilidades de toda ordem
Com efeito, uma vez que as cidades são sedes dos múltiplos fluxos e redes que
que caracterizam as cidades brasileiras.
garantem a circulação e a integração regional através de seus serviços, elas
A configuração da rede urbano-regional (Mapa 7) constitui uma etapa constituem os principais agentes funcionais de ordenamento (BECKER, 2000) e
fundamental para o entendimento das diferenças e desigualdades construídas de decisão sobre a transfiguração do espaço geográfico.
ao longo do processo de urbanização do país e que marcam as cidades
Desse modo, pode-se afirmar que a análise da articulação, do poder de gestão e
brasileiras na contemporaneidade.
de governança2 sobre um território mais amplo e, enfim, da dinâmica de
Quando se observa a cidade no contexto de uma agenda de sustentabilidade
torna-se obrigatória a superação do fenômeno urbano enquanto um “ponto no
mapa” em direção a uma abordagem mais ampla que inclua também a região
2Governança definida enquanto o conjunto das várias maneiras pelas quais os diversos atores
sobre a qual ela exerce sua influência. sociais se articulam e cooperam, realizando ações, gerenciando seus problemas comuns e
acomodando seus interesses. Abrange instituições públicas e privadas, regimes formais de
coordenação e autoridade, como os aspectos gerenciais do Estado, mecanismos informais que
atendam a determinadas necessidades e redes sociais informais (MILANI; SOLINÍS, 2002, apud
KRONEMBERGER e COSTA, p. 361).
ocupação do espaço geográfico passa, necessariamente, pelo estudo dos IBGE. Evolução da divisão territorial do Brasil: 1872-2010. Rio de Janeiro: IBGE,
núcleos urbanos reconhecidos através de sua dimensão urbano-regional e, 2011.
portanto, de seu poder de influenciar as cidades menores e áreas contíguas.
IBGE. Regiões de Influência das Cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.
Nesse contexto, nunca é demais lembrar que, na contemporaneidade, o espaço
KRONEMBERGER, D. M. P e COSTA, V.G. Desenvolvimento local sustentável e
dos fluxos da “era da informação”, comandado pelas grandes cidades, parece
governança ambiental. In: IBGE. Brasil: uma visão geográfica e ambiental no
influenciar, cada vez mais, as mudanças ocorridas no espaço local que constitui,
início do século XXI. Rio de Janeiro: IBGE, 2016.
em essência, o lugar das diferentes comunidades territorialmente construídas

Caderno Temático: Cidades Sustentáveis


aonde se localizam os pontos de produção, de extração da matéria-prima, etc., SIMÕES, C. Breve histórico do processo demográfico. In: IBGE. Brasil: uma visão
isto é, aqueles elementos da vida social-material que interagem e transfiguram, geográfica e ambiental no início do século XXI. Rio de Janeiro: IBGE, 2016, p. 39-
diretamente, a paisagem natural. Assim, uma agenda sustentável para as 74.
cidades requer, necessariamente um compromisso com a gestão, a informação
e a articulação territorial/cultural. UN. Report of the Inter-Agency and Expert Group on Sustainable Development
Goal Indicators (E/CN.3/2016/2/Rev.1). Annex IV - Final list of proposed
A espacialização dos indicadores produzidos no IBGE e em outras instituições Sustainable Development Goal indicators. Disponível em:
públicas que envolvem a questão das cidades sustentáveis são abordadas a <https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/11803Official-
seguir através de mapas e pequenas análises que nos levam à reflexão acerca List-of-Proposed-SDG-Indicators.pdf>. Acesso em: 12 maio de 2017.
das agendas que irão pautar a questão das cidades em um país que ainda
apresenta um “passivo urbano” que remonta ao século XIX, como é o caso da ____. Transforming our World: The 2030 Agenda for Sustainable Development.
expansão da rede de saneamento básico , e que tem o desafio de absorver a Disponível em: <https://sustainabledevelopment.un.org/post2015/>. Acesso
agenda contemporânea comprometida com a sustentabilidade e a governança. em: 27 de abril de 2017.

Que cidade queremos ter e que cidade vamos deixar para as gerações futuras? ____The United Nations Conference on Housing and Sustainable Urban
Essas são as questões básicas a serem respondidas e informadas através de Development, 17-20 October, 2016. Disponível em: <https://habitat3.org/>.
indicadores que permitam acompanhar e, principalmente, viabilizar novas Acesso em: 27 de abril de 2017.
escolhas de ação sobre os centros urbanos brasileiros. VECCHIATTI, K. Três fases rumo ao desenvolvimento sustentável: do
É justamente nesse ponto que reside a importância das políticas públicas, uma reducionismo à valorização da cultura. São Paulo em Perspectiva, 18(3), 90-95,
vez que somente uma articulação ético-política entre essas dimensões poderia 2004. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
direcionar uma mudança sociocultural (VECCHIATTI, 2004), reorientando o 88392004000300010&script=sci_abstract>. Acesso em 10 de maio de 2017.
processo de urbanização, através da produção de bens materiais e imateriais
que reconciliem o crescimento econômico com as formas sustentáveis de
apropriação e uso do espaço urbano.

Essa realidade ainda está distante, mas não se pode negar que avanços foram
obtidos no campo da gestão pública e da organização da sociedade civil desde a
tomada de consciência das questões ambientais a partir da segunda metade do
século passado. Construir indicadores geográficos que permitam avaliar e,
principalmente, fazer emergir questões e formular recomendações de curto,
médio e longo prazos ao Estado e à sociedade brasileira é o caminho a ser
trilhado se se quer perseguir uma agenda comprometida com um processo de
“urbanização sustentável” para as cidades brasileiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECK, U. Modernity in the Global Social Order. Cambridge: Polity Press, 1996.

BECKER, B. Articulando o complexo urbano e o complexo verde na Amazônia.


In: Um projeto para a Amazônia no século XXI: desafios e contribuições. Brasília:
CGEE, 2009, p. 39-86.

EGLER, C. A. G. Apontamentos sobre rede urbana e políticas públicas no Brasil.


In: SOARES, R. M. e LOBO, C. Desigualdades, redes e espacialidades emergentes
no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2010, p.91-114.

IBGE. Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil. Rio de Janeiro:


IBGE, 2ª edição, 2016.

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