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Afinal,
do quê estamos falando?
Seja a superação de dificuldades cotidianas, atingimento de metas e objetivos, reinserção da pessoa à
sociedade, ou mesmo sua maior autonomia: muitos são os benefícios do trabalho desenvolvido em
torno de Acompanhamento Terapêutico, enquanto proposta conjunta à terapia.
A ideia central é o compartilhar de realidades, para então a partir delas haver promoções em
perspectiva de vida, pela superação de suas dificuldades, desenvolvimento e melhoria dos resultados.
Sem o conhecimento do dia-a-dia do indivíduo, e de que maneira os obstáculos se colocam à sua frente,
o trabalho de outros profissionais pode se mostrar isolado, parcial, aquém das expectativas no
atingimento dos objetivos.
"Problemas abstratos como infelicidade e falta de objetivo não podem ser modificados com sucesso
por nenhuma forma de tratamento, enquanto permanecem desvinculadas de seus determinantes
experenciais concretos". (Bandura, 1979)
"O acompanhante terapêutico é solicitado para uma intervenção terapêutica de caráter intensivo,
em grande pare dos casos, nos locais nos quais o cliente vive e atua. Tem como principais objetivos
a reinserção social e o desenvolvimento de repertórios comportamentais necessários para uma
interação mais satisfatória com o ambiente físico e social, por meio de uma aplicação em um
ambiente extra-consultório de estratégias terapêuticas propostas pela equipe".
(Núcleo Paradigma)
Por fim, a etimologia da palavra "acompanhar" traz em seu significado o "repartir o pão" - do
latim companio, de cum panis, [cum]; com; [panis]; pão. No reestabelecimento do equilíbrio emocional
e conquista da autonomia, as facilitações se mostram muito mais do que o simples "estar junto".
"A primeira das grandes operações da disciplina é então a constituição de "quadros vivos" que
transformam as multidões confusas, inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas".
(Foucault, 2004)
Uma das características mais fortes do trabalho desenvolvido é, sem dúvida, o testemunho. E
testemunhar significa fazer a ligação entre o eu e o outro. É suavizar a transição entre os paradigmas,
orientar, por vezes adotar um modelo de identificação ou agente ressocializador, guiando por meio das
inflexões da realidade. O trabalho realizado abrange a observação e intervenção nos diferentes
hipertextos vivenciados pelo paciente. Nesta perspectiva, usa o espaço de relações para efetivar
mudanças na visão de realidade do indivíduo, catalisando a organização mental.
“Sendo uma clínica que se faz a céu aberto, aberta aos múltiplos territórios que se intercruzam na
cidade, a experiência suscitada pelo acompanhamento terapêutico desvela a possibilidade de operar
a clínica nesse registro em que a guerra, a conflitualidade, o imprevisto têm lugar. É indiferente se o
espaço da cidade toma aqui a forma de uma rua, uma praça, uma cama ou um quarto, quando se
considera que cada um desses territórios pode revelar-se poderoso à matéria do mundo para além de
suas fronteiras mais ou menos estreitas, e que se habita na perspectiva em aberto, conflitiva, de um
itinerário por vir”.
(Palombini, Belloc e Cabral, 2004).
Compromete o diferencial do AT em acompanhar o indivíduo, e não ser por ele acompanhado. Abre
assim a possibilidade em fazer parte de seu cotidiano, a partir de intervenções disponíveis, um
verdadeiro leque instrumental, diferentes gradações para a tela que se forma a partir da perspectiva do
próprio que se acompanha - in loco.
“Porque é um dispositivo no qual o cotidiano mesmo da vida citadina, no qual a relação entre
acompanhante e acompanhado encontra-se imersa, convoca ao abandono das certezas próprias a
um sistema fechado, pouco permeável à variabilidade dos jogos de força presentes no território da
cidade, aos sentidos inesperados e inconclusos que emergem do uso de seus objetos, ao traçado
desviante de suas ruas”.
(Palombini, Belloc e Cabral, 2005)
De toda forma, a mudança ocorre a partir do rompimento do aceitável, dos parâmetros da normalidade
real, da verdade. Real e irreal fazem parte do grande conglomerado do pensamento humano.
"Não se pretende que essas vozes confusas sejam preferíveis a outras e exprimam a verdade última.
Para que haja um sentido em escutá-las e em procurar o que querem dizer é suficiente que existam
e se oponham ao que se arma contra elas para as fazer calar (...). É por causa dessas vozes que o
tempo dos homens não toma a forma de uma evolução, mas precisamente a de uma história".
(Foucault, 2004)
Quais os "limites" do desenvolvimento do
AT?
Após ler sobre sobre o Acompanhamento Terapêutico e como este trabalho é desenvolvido, é
importante entender quais os seus horizontes, estabelecer sua parametrização. Pensar o
acompanhamento para exercer finalidades terapêuticas significa estabelecer também as distinções do
AT para com as práticas já tradicionais da Psicologia.
Enquanto o cenário desta retrata um espaço fechado em consultórios, clínicas e hospitais psiquiátricos,
o acompanhamento não requer a limitação geográfica, mas o contrário - o mesmo se passa em locais
abertos e "volúveis", como a rua, shoppings, parques, e todos os demais que permitam de alguma
forma operar como espaço de diálogos do próprio paciente.
Mas apesar da prática ser reservada a transtornos mais graves, têm-se demonstrado resultados
importantes no desenvolvimento da sociabilidade, acompanhamento de estudos e superação de
dificuldades comuns em atividades diárias, como refeições, lazer e dirigir, por exemplo.
Contudo, é sempre importante salientar que é a partir da orientação psicoterápica que o serviço de AT
surtirá efeito, o conjunto das ações (psicoterapia e acompanhamento) é que irá possibilitar a
transformação da realidade do paciente.
O setting é, por essência, aberto. Apesar da relação próxima entre o acompanhante e o acompanhado,
não se trata de uma amizade, mas de, como o próprio nome já o define, a terapia continuada (no sentido
de expansão) por meio do compartilhamento das vivências cotidianas, seu enriquecimento.
Outra diferença que se faz importante é a proposta ilimitada quanto à sua atuação, não restringindo a
linha teórica a ser seguida, mas a sua flexibilidade, conforme as situações se interpõem. A indicação do
uso terapêutico do acompanhamento traz alguns direcionamentos mais específicos, abrangendo todo o
processo psicológico, em diversos “estágios”, se assim dá para dizer.
Desde os cuidados mais básicos com a higiene, autocontrole emocional e autogerenciamento do dia-a-
dia, entre outras atividades essenciais, a casos em que houve internação psiquiátrica prolongada, em
razão de alguma característica psicopatológica de sofrimento, e que por risco de vulnerabilidade,
necessita de monitoramento.
Também estão aí inclusas doenças degenerativas e consequentes psicoses, transtornos diversos, e uso
de substâncias psicoativas, dificuldades nas quais a perda de autonomia está presente. Da mesma
forma, o comprometimento na capacidade de relacionamento social em comunidade (devido à
limitações impostas pela classe diagnóstica, no desempenho esperado pela sociedade e cultura), ou a
formação de vínculos familiares a partir da vivência de situações de stress - em que aqueles mais
próximos acabam por perceber um incômodo ou oneração na conexão com o outro - podem vir a
demandar o acompanhamento.