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TEMPORALIDADE
REVISTA DA GAMA E SOUZA – ANO 02 – Nº 03 – jan./jun. 2017
RESUMO: Este artigo é uma proposta de reflexão para a análise do tempo nos domínios da
História. Partindo de O Samba do Crioulo Doido, de Sergio Porto, o Stanilaw Ponte Preta, buscou-
se compreender as diversas temporalidades existentes no estudo e ensino de História, e a noção de
tempo histórico que predomina nos livros didáticos da disciplina. A desconstrução da narrativa
histórica não está presente apenas na canção de Sergio Porto, mas nas abordagens propostas por
estudiosos, como Hayden White, que convida os historiadores a buscar novos padrões para a
construção de suas narrativas históricas.
Palavras- chaves: História; Tempo Histórico; Narrativa Histórica; Livro Didático.
ABSTRACT: This article is a proposed reflection for the analysis of time in the domains of history.
Starting from Samba do Crioulo Doido by Sergio Porto, the Stanilaw Ponte Preta, we sought to
understand the various temporalities that exist in the study and teaching of History and the notion of
historical time that predominates in textbooks of the discipline. The deconstruction of historical
narrative is not present only in the song of Sergio Porto, but in the approaches proposed by scholars
like Hayden White who invites historians to seek new standards for the construction of their
historical narratives.
Keywords: History; Historical Time; Historical Narrative; Textbook.
INTRODUÇÃO
Em nosso dia a dia, quando alguém quer se referir a algo que está fora da ordem, da norma
desejada, comumente utiliza a expressão samba do crioulo doido, para referenciar a desordem
reinante. A origem dessa expressão encontra-se na música de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte
Preta2, Samba do Crioulo Doido. Por meio dela, o autor nos mostra os encontros de personagens da
História do Brasil, que não foram contemporâneos entre si e diferente da narrativa histórica
apresentada pelos historiadores, ela foge a linearidade do tempo e nos possibilita esse encontro
inusitado, com tom de humor, beirando ao absurdo para os conhecedores da História que se
desenhou em nosso país.
A canção é uma crítica do autor à obrigatoriedade imposta às escolas de samba. Com a
ascensão de Getúlio Vargas ao poder em 1930, “o Estado passou a intervir mais nos diversos
setores da vida do país, inclusive no terreno social e cultural, sistematizando-se o financiamento do
Carnaval” (SOIETH, 1998, p. 142). Com essa medida, os grupos que chegaram ao poder com a
Revolução de 1930, buscavam em oposição ao período republicano anterior a República Velha
“retomar a construção da nacionalidade” (SOIETH, 1998, p. 144), interrompida pelo:
1
Mestre em Educação, UNESA. Professor de História da PCRJ. (joaomsn@ig.com.br)
2
Sérgio Marcus Rangel Porto (Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1923 — Rio de Janeiro, 30 de setembro de 1968) foi um
cronista, escritor, radialista e compositor brasileiro. Era mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta.
Disponível em< https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Porto> Acesso em 19 de dez. de 2016.
3
Os livros didáticos de História analisados foram das edições 2011 e 2014 do PNLD.
variadas e predominantes de se conceber o tempo histórico nas várias sociedades e nas várias épocas, ou, em
algumas situações, no interior mesmo de determinados setores de uma sociedade historicamente
determinada. (BARROS, 2005, p.145)
Nessa perspectiva, o Samba do Crioulo Doido, a nosso ver, além de desestruturar uma
narrativa predominantemente marcada pela sucessão dos fatos e da condução da história por “vultos
históricos”, nos mostra a possibilidade de outro discurso, outra maneira de se apresentar e
interpretar o discurso histórico-narrativo, nem sempre presente nos textos didáticos dos livros de
História.
Stanislaw Ponte Preta retira os personagens da História do Brasil do seu tempo histórico. Os
personagens já não “falam” em seu contexto, por isso as narrativas históricas que os perpetuaram, já
não são as mesmas, alteram-se as figuras da linguagem que deram sentido aos seus atos. Não
estamos querendo afirmar, contudo, que, por conta dessa desestruturação desencadeada no Samba
do Crioulo Doido surge uma nova história. Mas se estabelece, segundo White (2001, p. 15), um
novo discurso e pelo gênero discursivo adquirimos o direito de expressar as coisas de outra maneira.
Nessa concepção do discurso, da qual a narrativa histórica está incluída, White (2001)
apresenta-nos as formas como se constroem as explicações dadas aos tópicos que geram litígios,
dado a natureza de opiniões divergentes. O mesmo podemos deduzir, ocorre nas ciências humanas,
como a História, pois segundo o autor esta seria uma forma de demarcar, definir e identificar um
novo território na constituição de um novo discurso (WHITE, 2001, p.13). Por território,
compreende-se o campo de análise estabelecida pelo discurso. “E o discurso efetua esta adequação
por meio de um movimento pré-figurativo mais trópico que lógico”. (WHITE, 2001, p.14)
Nas narrativas históricas, segundo White (2001, p.15), predomina o trópico4, o desvio, a
figura de pensamento que se situa entre o campo da realidade objetiva e as possibilidades expressas
pela linguagem. Pelo tropo segundo White (apud Blomm, 1975, p.91), há transporte de sentido
expresso pela linguagem de um ponto ao outro, num processo que possibilita a construção de outro
entendimento, de outro significado na interpretação das narrativas.
Como na História tida como tradicional, os historiadores sustentam as narrativas como
realidades de um tempo, assim o fazem também os textos didáticos dos livros de História. Na
proposta de análise de White (2001), em sua aproximação com a literatura é possível mostrar que
todo texto que se propõe a representar o real, como os textos em História ou deixaram de fora
alguma coisa da descrição de seu objeto ou lhe atribuíram algum significado que provavelmente não
seria o seu correspondente. Dessa forma, segundo o autor, pela análise literária é possível “mostrar
que qualquer descrição em prosa de qualquer fenômeno contém pelo menos um movimento ou
transição na sequência de enunciações descritivas que viola um cânone de coerência lógica.”
(WHITE, 2001 p. 15).
White (2001) prega ainda é o entendimento do silogismo, “o próprio modelo do silogismo
revela clara evidência do emprego de tropos” (WHITE, 2001, p.15). Assim, o silogismo, segundo
o modelo aristotélico de premissa maior (Todos os homens são mortais) para premissa menor
(Sócrates é um homem), a escolha do elemento que servirá de base para a conclusão da premissa
inicial constitui-se num movimento tropológico, que representa uma mudança na lógica do discurso,
pois vai de elementos universais aos singulares.
Definindo a palavra discurso, de acordo com a sua origem latina discurrere, que segundo
White (2001), sugere movimentos em direções diversas, o mesmo estaria presente na prática
discursiva. É o que provavelmente não identificamos nas narrativas históricas em textos didáticos.
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A palavra trópico, de tropo, deriva de tropikos, tropos, que no grego clássico significa “mudança de direção”, desvio,
e na koiné “modo” ou “maneira”. Ingressa nas línguas indo-européias modernas por meio de tropus,que em latim
clássico significava “metáfora” ou “figura de linguagem no latim tardio, em especial quando aplicada à teoria da
música, “tom” ou “compasso ”. Todos esses sentidos, sedimentados na palavra trope, do inglês antigo, encerram a força
do conceito expresso no inglês moderno pelo termo style, um conceito particularmente apropriado para o exame
daquela forma de composição verbal que, a fim de diferenciá-la, de um lado, da demonstração lógica e, de outro, da
pura ficção, chamamos de discurso. (WHITE, 2001, p.14)
Não há, nesses textos movimentos para frente e para trás, ou deslocamento para cá e para lá, como
sugere o autor, mas um único movimento, do passado para o presente, numa linha reta, cronológica
presente não só na narrativa, mas na organização dos conteúdos das obras didáticas e como que
instituído nos planejamentos anuais de ensino, e por isso, a nosso ver, esses textos seriam
destituídos dos elementos da prática discursiva apresentadas por White (2001 p.16-17): antilógico,
pré-lógico e dialético (grifo nosso).
Esses elementos constituem movimentos assim definidos pelo autor:
Antilógico , seu objetivo seria desconstruir uma conceituação de uma dada área de
experiência que se tenha petrificado numa hipóstase que impede percepção nova ou
nega, no interesse da formalização, o que nossa vontade ou emoções nos dizem que
não deve ser o caso num dado setor da vida. Pré-lógico, seu objetivo é demarcar
uma área da experiência para análise subsequente por um pensamento orientado
pela lógica. (WHITE, 2011, p. 16)
Sobre o movimento dialético presente no discurso, White (2001), sustenta que o discurso
apresenta a natureza dúplice, ele é interpretativo e pré-interpretativo. Ele é sempre interpretativo por
trazer uma dada realidade e pré-interpretativo, por selecionar a linguagem, o discurso a ser
utilizado, uma vez que não se pode abdicar do lógico que torna inteligível o narrado, o texto. É
nesse campo que o discurso se constitui dialético.
Para não entrar no campo do dissenso do termo dialético, White (2001, p, 17) propõe outra
terminologia, para identificar o movimento do discurso tratado como dialético: diatático. Segundo o
autor, “Este conceito tem o mérito de sugerir um tipo algo diferente de relação entre o discurso, o
seu suposto tema e as interpretações divergentes deste último.” (WHITE, 2001, p.17) Nesse
domínio, o discurso busca fugir à lógica, aqui entendida como possibilidade de um discurso não
racional, conclusivo na validação de suas premissas. Nessa construção ele é reflexivo. Segundo
White (2001, p.17) “É por isso que todo o discurso sempre é sobre o próprio discurso e é sobre os
objetos que compõem o seu tema.”.
A construção do discurso histórico assim compreendido por White (2001), de que “a
narrativa não pré-existe, mas uma narrativa pré-existente àquela formulada pelo historiador, não
encontra adesão em boa parte de seus membros, assim também, como a identificação da História
como uma narrativa literária pretendida por White (2001), não tem sido totalmente admitida. A
História em situação didática, não é concebida como uma narrativa, como um gênero literário que
evidencia o trabalho de seu autor. No paradigma tradicional, ela é a representação real do tempo
abordado pelo historiador através de suas fontes de pesquisas e não somente de sua interpretação.
Dessa forma, os textos de História em situação didática representam uma forma de conceber
o passado baseado no que se considera evidente e mesmo que busquem um nível de interpretação
para os fatos narrados, não fogem ao nível básico do entendimento, da linguagem. Esse modo de
conceber a História como representação do real e não como interpretação do real, legitima o
discurso de alguns atores sociais, que tem no passado histórico os referenciais para suas intenções,
segundo as ideologias que desejam sustentar. Com base nesse argumento é que ao nosso ver que os
textos didáticos tem contribuído para a permanência de algumas teses como de exaltação aos
personagens históricos e aos seus feitos e a manutenção de uma narrativa histórica perioditizada,
cronológica e evolutiva conforme exposto anteriormente.
Barros (2005) nos chama atenção para o movimento de renovação já existente na
historiografia de se representar a História que não seja somente pela perioditização linear. Para o
autor, mais do que uma nova forma na representação do tempo histórico, é preciso “abordar a
história também com um ‘novo dizer’”. (BARROS, 2005, p. 149)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise que apresentamos na exposição desse artigo, tendo como foco as
temporalidades presentes no estudo e ensino da História, podemos compreender o uso que se faz
das narrativas históricas em nossa sociedade. Seja para legitimar algumas abordagens ou mesmo
questionar alguns discursos.
O Samba do Crioulo Doido, de Stanislaw Ponte Preta, nos apresenta não uma alternativa
histórica, posto que os fatos já ocorressem, mas uma narrativa que desconstrói uma concepção de
história ainda predominante no entendimento da disciplina, principalmente no espaço escolar. A
música de Stanislaw Ponte Preta nos convida a refletir sobre as simultaneidades possíveis no trato
com o estudo histórico, às vezes negligenciado na história didática, representada pelos manuais
escolares.
O debate que se abre em nossa sociedade nessas primeiras décadas do século XXI acerca da
história ensinada, nos alerta para o uso nefasto que podem fazer aqueles que pretendem se apropriar
da História para legitimar seus discursos e suas narrativas do percurso percorrido por nossa
sociedade. Mais do que desconstruir as narrativas sobre o passado, é se instituir uma narrativa sobre
o tempo presente.
REFERÊNCIAS:
WHITE, Hayden. Trópicos do Discurso: Ensaio sobre a Crítica da Cultura. 2.ed.,São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2001
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