Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
(1) Ver Castells 1996; Bauman 2001 ; Hall 1997; Maffesoli 2001; Tarrius 2000.
2
Face ao desafio de se abarcar o conjunto das relações globais em múltiplos níveis,
Appadurai concebeu uma Teoria da “economia cultural global”, que deve ser vista
como uma ordem complexa, superposta e disjuntiva. O autor oferece um panorama
multi-determinado das relações mundializadas, identificando cinco dimensões de fluxos
culturais globais, que em suas disjunções promovem tanto a homogeneização quanto a
desordem cultural. Relaciona o estudo dos novos cosmopolitismos com a análise dos
fluxos culturais transnacionais no interior dos quais eles se retroalimentam , com ênfase
na dinâmica cultural da desterritorialização. (Appadurai 1996:49)
Entre os críticos da meta-teoria da contemporaneidade de Appadurai, Heyman e
Campbell questionam a excessiva ênfase dada às disjunções e o ofuscamento pelos
fluxos múltiplos e não priorizados, mistificadores das reais relações que levam à
diferenciação e à polarização no quadro de desigualdade mundial. Apontam o
enrijecimento das fronteiras, as novas formas de controle do movimento e os direitos de
de mobilidade desiguais, em um mundo em que emergem novas formas de poder de
Estado, para além das unidades nacionais territorialmente delimitadas. (Heyman &
Campbell 2009: 133)
Ao identificar como questões essenciais da Antropologia a agência e a imaginação
humanas , Ong investiga como sujeitos são moldados por estruturas de poder e reagem a
elas de modos culturalmente específicos. Relacionando “cidadania flexível” e
transnacionalidade, Ong destaca a flexibilidade nas estratégias de cidadania como
produto e condição do capitalismo tardio, em que as relações cambiantes entre os
sujeitos, o Estado e o capital devem ser analisadas através da dinâmica cultural. (Ong
1999: 240) A autora destaca em Appadurai uma teoria da ruptura que toma a Mídia e a
Migração como os principais diacríticos interconectados, apontando seus efeitos
conjuntos no papel da imaginação como um aspecto constitutivo da subjetividade
moderna. (Ong 1999: 9)
C.( 55 anos) irlandês, que chegou ao Brasil em 1984, aos 29 anos, depois de ter
passado por um colapso nervoso por stress no trabalho gerencial em sua cidade natal e
um período difícil em Londres, comenta sobre a decisão de mudar-se para a Bahia o
6
desejo de livrar-se daquele mundo com o qual não se identificava. “Foi uma fase de
questionamento. (...) O Brasil era o contato prolongado com a luz, com a cor, com as
pessoas... Daí foi a mudança, eu comecei a me sentir melhor e decidi ficar.”
A migração como impulso de errância, envolve a disponibilidade para
desterritorializar-se, na busca pelo “outro lugar”, que seja também o “meu lugar” quase
ideal, pois por algo sempre se há de sofrer. Bauman e Maffesoli ressaltam que na
Modernidade a Ordem nas sociedades européias se fez acompanhar da regulação da
conduta, da supressão das pulsões e da fixação dos indivíduos, o que resultaria no
excesso de ordem e na escassez da liberdade que constituem os “mal-estares da
civilização” apontados por Freud. O princípio do prazer reduzido à medida do princípio
de realidade e as normas conformando a realidade. ( Bauman,1998:8)
Consideremos ainda a hipótese de que o mal-estar do excesso de Ordem nas
sociedades reguladas do centro capitalista motive seus indivíduos a buscarem no “sul-
global” um maior grau de liberdade, nas sociedades “em construção”, que escapam aos
padrões de organização alcançados em suas sociedades de origem. Aqui irão se deparar,
entretanto, com outros mal-estares, como a prática da corrupção como mecanismo
integrante das instituições e relações em múltiplos níveis e a exclusão social de ampla
parcela da população, sob um regime neo-liberal e reduzida proteção do Estado.
8
A errância e o transnacionalismo na contemporaneidade se expressam, entre outras
formas, na busca pela experiência da alteridade. A “busca do Outro” e de “outro lugar”
se concretiza na escolha do sujeito ocidental por deixar seu país, sua matriz cultural,
para lançar-se numa exploração existencial, através da experiência com o “diferente”,
uma mudança radical de trajetória. O diverso, constituído como exótico, torna-se um
pólo de oposição ao “centro” de referência – a Europa, enquanto o indivíduo oscila
entre os dois.
Célestin sugere que o exotismo requer a presença de uma identidade instalada, para
a qual há um “resto” identificável como “outro” e que a infra-estrutura tecnológica e
cultural do ocidente fornece a perspectiva a partir da qual a diferença (o exótico) é
percebida. E ainda, que designar o não-ocidental como exótico é partir da tradição
ocidental, mesmo se através de manobras empáticas, altruístas, ingênuas, hedonísticas,
revolucionárias, iconoclastas, solipsistas ou aventureiras, o sujeito ocidental se
identifica ou até mesmo mergulha no exótico. (Célestin 1996: 181) A existência de um
terreno sólido que constitua uma perspectiva para perceber o outro como exótico e
desejar mergulhar nele, nos remete ao papel do desejo na subjetividade contemporânea.
P. (46 anos), ex-ferroviário na França , reside na Bahia desde 1988, foi sócio de
uma Pousada em Porto Seguro por 17 anos, antes de vir para Salvador. Sobre o que o
atraiu para a Bahia , evoca a idéia exótica de Brasil, o clima e a vegetação tropicais e a
mistura de raças. Define o exotismo local como um jeito de viver, de trabalhar, de fazer
amizade, de brincar “diferente”. “Aqui eu posso ganhar menos , mas posso viver
melhor, eu me sinto mais vivo aqui.” Define o dinamismo do país pela sua composição
populacional mais jovem : “Eu me sinto bem, você não envelhece tão rápido aqui, pelo
entorno, aqui tudo é mais solto”.
R. (47 anos) italiano, residente desde 1990, gerente de restaurante na Barra, relata o
sentimento de “ser italiano” resgatado no Brasil, por falta de identificação com a Itália
atual , devido às transformações sofridas nas últimas décadas com a chegada de
15
populações pobres do leste europeu. “A Itália piorou muito nesses últimos anos(...) eu
não me reconheço mais no meu país.”
A respeito das transformações ocorridas nos países europeus nas últimas décadas
do século XX , Garcia Canclini observa que o compromisso histórico entre os
“diferentes” dentro da nação sob o Estado do Bem-estar , que garantia a todos os
cidadãos o acesso aos bens básicos e à segurança social foi abalado, a partir da abertura
das fronteiras para a unificação política e econômica européia e a entrada maciça de
imigrantes europeus do leste, africanos e latinoamericanos , tornando incertos os modos
de imaginar o nacional, o regional e o universal. (G. Canclini 2007:103)
Para os sujeitos nômades em estudo a possibilidade de administrar os próprios
recursos, livres de pesadas imposições tributárias e das políticas sociais de integração
das populações imigrantes nos seus países de origem, quando posta na balança, pesaria
mais que o ônus do convívio com as desigualdades sociais no Brasil, a falta de
segurança pessoal e a ausência de cobertura social.
A referência ao Brasil como “o país do futuro”, onde podem administrar com maior
liberdade suas próprias condições de vida , sugere em seus discursos uma projeção do
desenvolvimento local pela via neo-liberal, com reduzida participação do Estado e uma
ampla margem de barganha para o capital nas arenas político-econômica e sócio-
ambiental, deixando para o futuro a resposta às demandas por desenvolvimento humano
drasticamente contidas. Em seus países de origem no entanto tais demandas são
inadiáveis e incidem de imediato na distribuição de encargos e vantagens sociais.
Referências Bibliográficas
- CÉLESTIN, Roger. 1996. From Canibals to Radicals- figures and limits of Exoticism.
London/Minneapolis: University of Minnesota Press.
- CONSTABLE, Nicole. 2003 - Romance on a Global Stage. Berkeley & Los Angeles:
Uniersity of California Press.
************
20
Publicações:
- MORALES, Anamaria. 1988. “O afoxé Filhos de Gandhi pede paz.” In: João José
Reis (org.), Escravidão e Invenção da Liberdade. São Paulo: Brasiliense. pp. 264-274.
21