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Alimentação
Num frasco de mel
cabe o aroma
de Portugal
Boathouse Experience
Já se dorme a ƍutuar
na ria de Aveiro
Natureza
Os portugueses
que olham para o céu
e coleccionam nuvens
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Alimentação
Cheira a Portugal
mel
nos frascos de
a Começam num tom amarelo páli- dores tratam o mel com a mesma nossas Çores e plantas, quase todas colmeias por montes e serras, à pro- lançamento dos vinhos monovarie-
do e sobem por diferentes gradações regra que impõem ao bacalhau (por espontâneas. cura da explosão aromática de certas tais. Já nem nos recordamos do que
de âmbar. Passam para os pigmentos sinal, injusta). Isto é, para quem é, Sabemos que as abelhas são indis- Çores em determinados períodos do estes vinhos Æzeram pela nossa edu-
ruivos e terminam tão escuros que mel basta. pensáveis à nossa sobrevivência, mas ano. Acompanhar um apicultor cação. É por isso que, com a ajuda de
parecem copos de cervejas Porter. O reconhecimento das nove deno- só nos lembramos delas por causa durante a noite, na transumância das Helena Guedes e João Diogo Casaca,
Cheiram a rosmaninho, alecrim, minações de origem de mel, as exi- das constipações, das rouquidões e suas colmeias, prova que isso da api- responsáveis da Federação Nacional
laranjas maduras, tília, eucalipto, gências no maneio das colmeias e a de uns morangos fora de época. Nes- cultura é, negócio à parte, um vício. dos Apicultores de Portugal, vamos
urze, incenso, jasmim, cravinho, higienização das melarias são marcos sas alturas, os factores críticos na Mas um vício que dá muito trabalho decompor o perÆl dos méis monoÇo-
caril, noz-moscada, malte, madeiras determinantes no aumento da qua- compra são básicos: o preço, a cor e quando se quer apresentar méis que rais portugueses.
exóticas ou café torrado. Na boca, lidade da produção apícola. As con- a Ædelidade doentia à marca A ou B. traduzam com Ædelidade os aromas Os méis de rosmaninho continuam
serão muito doces, doces, salgados, sequências destas mudanças são tais Sim, os supermercados podem apre- transformados do néctar das Çores a ser os mais produzidos e procura-
adstringentes ou amargos. Todos que, por exemplo, se convidássemos sentar várias marcas que isso pouco desejadas. Uma súbita vaga de frio, dos, cuja delicadeza de aromas e
diferentes, todos desaÆantes. Portu- um perfumista para nossa casa e pre- importa. Os do Sul gostam de méis um golpe de calor, a seca prolongada sabores variam em função do terroir
gal tem méis comprados a bom preço tendêssemos que, rapidamente, sen- claros e os do Norte acham que mel ou a chuva fora de época destroem o onde nascem (Alentejo ou Norte).
por embaladores estrangeiros que os tisse os aromas das serras de Portu- para ser mel tem de ser escuro. E trabalho planeado de um ano. São sempre vincadamente doces. Já
usam para melhorar lotes medíocres gal, bastaria colocar-lhe à frente uns assim vamos pela vida fora. O exercício dos apicultores com os os de eucalipto, com notas balsâmi-
e destinados ao mercado global, oito ou dez frascos de méis monoÇo- É pena, porque os apicultores méis monoÇorais imita a estratégia cas e mentoladas no nariz, revelam,
incluindo o nosso. Mas os consumi- rais. Estariam lá os perfumes das esforçam-se para deslocalizar as suas dos viticultores nos anos 1990 com o na boca, sabores refrescantes, com
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A prova
Temos cada
vez menos
defeitos
a Os jurados do Concurso Nacional
de Mel, que decorre todos anos em
Santarém, salientam que, a partir
da análise das 73 amostras presen-
tes na última edição, a redução dos
defeitos do mel é considerável. Uma
boa notícia.
Por ser um produto natural e
facilmente contaminável, o rastreio
dos defeitos é imprescindível. As
notas de fumo, de fermentação ou
de timol (óleo de tomilho usado no
combate aos ácaros) podem surgir
quando o maneio das colmeias é
deÆciente.
A prova, com a supervisão técnica
de Joana Godinho, investigadora do
INIAV, começa com a avaliação do
aspecto do mel. Ao contrário de
outros produtos alimentares, a cor,
a limpidez e o brilho são fundamen-
tais para a deÆnição do perÆl de
cada mel monoÇoral.
Segue-se a avaliação olfactiva, que,
de novo, deve revelar o padrão do
néctar Çoral que lhe deu origem.
Aromas desviantes, por mais interes-
santes que sejam, são penalizados.
A prova de boca tem muito peso,
quer pela detecção imediata dos
sabores, quer pela avaliação das sen-
sações retronasais. Nos aromas ou
nos sabores, os provadores pontuam
melhor os perÆs aromáticos genuí-
nos e, depois, a intensidade e a per-
sistência destes. O trabalho termina
com a análise das sensações tácteis
(consistência e cristalização).
Provar méis implica um domínio
técnico considerável, mas, também,
uma resistência notável à fadiga sen-
sorial. É que, ao contrário do vinho
ou do azeite, os provadores não cos-
pem o mel. Donde, a dada altura, a
doçura na boca é saturante. Comer
maçã entre amostras e trincar grãos
bom equilíbrio entre doce e salgado. forma selvagem. O néctar das suas faz lembrar uma famosa cerveja pre- marmelos ou uma peça de borrego. de café volta e meia são os truques
Os primeiros, com tons dourados Çores que cheiram a léguas dá ori- ta irlandesa. Na boca, os sabores Méis para suavizar um queijo da praxe, mas só com muita paixão
claros, são lineares com o perfume gem a méis especiados, com notas doces são moderados e convivem seco, para perfumar se faz uma prova destas.
do rosmaninho; os segundos, com algo picantes na boca. com algumas notas adstringentes uma mozarela ou para A lista dos vencedores
tonalidade âmbar, dão luta na pro- Nas serras altas do Centro e do Nor- E, por Æm, o mel que mais nos sur- domar caris mais espe- em concursos nacionais
va. te do continente temos os méis de urze preendeu nos últimos tempos, o de vitados. Que não falte é sempre extensa. Des-
Os méis de laranjeira começam por (âmbar escuro), com clientes Æéis. São Çor de medronheiro. Não sabíamos imaginação. Fica o tacamos aqui os méis
libertar um ligeiro perfume de jas- intensos e complexos, quer nos aro- que um mel podia cheirar a grãos de desaÆo aos nossos lei- com medalhas de ouro.
mim, seguido de notas de laranjas mas quer nos sabores, com notas de café torrado, caril, cravinho ou alfar- tores: da próxima vez Casa do Couto, BioÁpis,
bem maduras, com as sensações verniz, madeiras queimadas e, por roba. Em termos de sabor, é o mais que forem ao super- Mel de Montesinho
retronasais que nos fazem recordar vezes, alcatrão. Têm bom equilíbrio amargo dos méis (parece que acaba- mercado, experimen- DOP (duas medalhas
certos sabores cítricos. No país que entre o doce e o salgado, com sensa- mos de beber um café), de tal forma tem qualquer coisa de em diferentes catego-
se orgulha dos seus citrinos, este tipo ções ligeiramente adstringentes. que os apicultores do Algarve não lhe novo. Há muito mel rias), Serramel, Mar-
de mel deveria ser mais consumido. No Nordeste do país encontramos dão grande crédito. Erradamente, para escolher. Treinar o gens do Alqueva, Mel de
Passando para os Açores, temos o o mais escuro dos méis portugueses dizemos nós. gosto, proteger a natu- Santa Maria e A Col-
mel de incenso (Pittosporum undula- – o de Çor de castanheiro. Caminha Donde – e sobremesas de lado – reza e valorizar o traba- meia. O mel do ano foi
tum), a planta invasora que ora serve também pelas notas de madeira (sân- temos méis mais acertados para cara- lho dos apicultores cus- atribuído ao Mel do Bar-
de sebes aos pomares, ora cresce de dalo, cedro), cola ou malte, coisa que melizar umas cenouras, assar uns ta uns poucos euros. roso DOP, da Capolib.
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Alimentação
FOTOS: TERESA PACHECO MIRANDA
Montesinho
Montesino, o mel
corre-lhe nas veias
a Por si só, a estrada já é uma paz. viseira de rede, dois pares de luvas e
Bragança Æcou nas nossas costas e Æta adesiva a vedar os tornozelos.
conduzimos meia hora no Parque Estão 30 graus — talvez mais dentro
Natural de Montesinho, feito de rele- do nosso “casulo”.
vos suaves, de carvalhais e castinçais Algumas das colmeias do casal,
que se entrelaçam com uma cobertu- actualmente donos de 200, sensivel-
ra de matos de giestas, urzes e este- mente quatro toneladas de mel por
vas, lameiros e vegetação ribeirinha ano, estão a alguns passos de distân-
Çorida. Acompanham-nos os cavalos, cia, numa encosta, pousadas nas lajes
a arquitectura popular, as cercas de uma silha, que já foi usada pelos
improvisadas e os pombais construí- antepassados de Alice, a esposa do
dos em pedra e em forma de ferradu- senhor Adelino, que lhes cedeu esta
ra. A paisagem cheira a mel — ou à parcela. “Na altura ainda se usavam
natureza que o mel transporta — mal cortiços e esta construção impedia a
entramos nos trilhos de terra e xisto entrada dos ursos”, conta Sandra.
cada vez mais íngremes, cada vez “No Parque Natural há muitos vestí-
mais rudes para os pneus do jipe, gios de silhas”. E ainda há pouco foi
cada vez mais apertados pela nature- avistado um urso. “Se é um bom sítio
za espontânea que faz parte de para os ursos...”
Mofreita, antiga freguesia do conce- O senhor Adelino ainda cá vem às
lho de Vinhais com 12,50 km² e meia vezes matar saudades das abelhas.
centena de habitantes. “Fica sentado aqui nesta laje a vê-las
É uma “zona com muito pouca mão trabalhar. Não usa fato”, comenta
do homem”. E isso agrada a Sandra João Reis, que já queimou um peda-
Barbosa porque agrada às abelhas, ço de cartão para activar o fumiga-
que fazem parte da sua vida. “Num dor, alimentado a folhas de carvalho.
raio de três quilómetros não podemos Vem cá todos os dias fazer revisões
ter nenhuma indústria extractiva, às colmeias. Pacientemente vai reti-
estradas de grande tráfego e agricul- rando os quadros, um a um, inspec-
tura intensiva. Aqui é fácil termos cionando os alvéolos, os comparti-
essas condições”, explica a apiculto- mentos hexagonais de cada favo.
ra, rodeada de castanheiros, de água Conhece-os de cor. “Cada colmeia
de nascente encaixada nos vales ( João chega a ter entre 50 e 60 mil abelhas.
Reis já encheu as garrafas) e de tufos A percentagem é de uma rainha para
de rosmaninho carregados de pólen, centenas de zangãos e para milhares
de abelhas aplicadas e de um arco-íris de obreiras.” Encontrou um alvéolo de Vila Verde, também era apicultor. Brigantia EcoPark, extrai (em Julho) melada de carvalho. “As abelhas
de borboletas. real, um alvéolo especial alongado “Tinha uma dúzia de colmeias no mel de rosmaninho, produzido nas voam num raio de três quilómetros.
Estamos quase, quase sobre a que parece a casca de um amendoim fundo do quintal, mas não vendia margens do rio Sabor, mais a sul do Mas se quisermos produzir muito
fronteira. Por aqui é normal avistar no qual a rainha é criada e que Æca mel. Dizia ‘uns frascos são para dar, concelho, numa zona mais quente, mel, não as podemos ter a ir tão lon-
veados, grifos, corços e muita terra pendurado verticalmente no favo. outros para oferecer’. E não usava de castanheiro, de urze e este mel de ge. Elas demoram tempo a fazer três
remexida pelos javalis. Ao fundo “Uma rainha pode viver até cinco açúcar. Usava mel para tudo, até no montanha multiÇoral (lá para Setem- quilómetros. Se estão a 500 metros
vê-se o parque eólico que Espanha anos, uma obreira até 50 dias”, café. Lembro-me de ele extrair o mel bro), um mel de meia altitude, de a recolha é maior”, explica Sandra,
erigiu — o projecto português voltou explica João, versado no maneio. e de eu estar com um garfo a mexer cor escura e de paladar forte que vai que não compara a sua função à de
a ser chumbado há coisa de um ano. Aqui é produzido mel biológico do o mel para ser Æltrado”, diz Sandra, buscar rosmaninho, mas principal- uma enóloga. “O enólogo pode
“É uma zona abrigada, um microcli- Parque Natural de Montesinho, esco- com memórias de um “bolo de mel” mente amentilhos — as Çores mascu- interferir no resultado Ænal. Nós
ma”, aponta Sandra, consciente da lhido em Setembro de 2019 como caseiro e do mel com limão no Inver- linas de castanheiro que entre Maio apenas podemos escolher o local
máxima nove-meses-de-Inverno- uma das sete maravilhas doces de no “para as dores de garganta”. e Junho surgem dispostas em cachos onde Æcam as colmeias. Só extraí-
três-de-Inferno, enquanto vamos Portugal. “Uma impressão digital do A marca Montesino, com base (as femininas aparecem aproxima- mos o resultado Ænal, que só pode
vestindo o fato branco completo com território”, aponta Sandra, cujo pai, no Parque de Ciência e Tecnologia damente um mês depois) —, urzes e ser Æltrado, decantado e embalado.
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Quem faz o mel são as abelhas.” mais as abelhas) Æca à volta dos cem
Natural de Guimarães, Sandra euros.
Barbosa tirou o curso de Engenharia Tinha pensado vender a granel a
Biotecnológica em Bragança, fez associações, mas criou uma marca e
mestrado em Química de Produtos começou a comercializar. “Nunca
Naturais e dos Alimentos (pela Uni- quis produzir mel para abastecer
versidade de Aveiro) com uma tese hipermercados”, diz Sandra, lamen-
Alimentação
TERESA PACHECO MIRANDA
Lisboa
O arquitecto q
de abelhas em
Mas é inevitavelmente pouca. O que
é determinante é o tipo de paisagem
que existe em redor. “O mel é sem-
pre a imagem de uma micro-região.”
Por isso, a maioria são multiÇorais
– os monoÇorais só existem em zonas
onde há uma Çor que predomina em
extensões muito grandes, como
acontece em Portugal com o rosma-
ninho ou, em menor escala, com o
medronheiro, por exemplo.
Aqui, onde nos encontramos, sen-
tados a almoçar debaixo de uma tília
e com vista para as oliveiras e a vinha
desta quinta que Harald e Natália
compraram há menos de um ano, o
mel que se consegue é resultado dos
voos das abelhas por Çores variadas
(têm, noutras colmeias, um mel mais
é a abelha rainha”
as abelhas não se alimentam e não
há mel. a A apicultura é um vício transmissí-
Quando chegou a Portugal, depois vel por via familiar. Claro que o desem-
de já ter tido colmeias, primeiro na prego, a mudança de vida ou a paixão
Áustria e depois na República Domi- pela natureza são razões para alguém
nicana, Harald fazia duas colheitas se instalar como apicultor, mas um avô
a Harald levanta a tampa de uma que albergam as larvas foram tapa- “decidido enxamear”, ou seja, divi- por ano – nos últimos dias de Maio e ou pai que conte histórias sobre abe-
das colmeias e, muito cuidadosa- dos pelas obreiras. De repente, con- dir a colmeia, com uma parte dela a início de Junho, o mel da Primavera, lhas é uma ajuda. E foi isso que acon-
mente, retira um dos quadros cheio seguimos ver umas pequenas ante- partir para criar uma nova, tendo, “multiÇoral, mais clarinho, com ros- teceu com Artur Madeira. Arquitecto
de abelhas atarefadas. Só o olhar nas a tentar furar uma dessas tam- no centro, outra rainha. Mas não maninho”, e depois, em Junho, “com paisagista, estudioso de botânica, res-
muito treinado do apicultor de Man- pas. É uma abelha a nascer. podemos ter a certeza. No mundo da o resto da Çoração dos prados, espe- ponsável durante anos pela Divisão de
gualde poderia identiÆcar tão rapi- Podemos observar tudo isto com apicultura, quem manda são as abe- cialmente as amoras silvestres e algu- Espaços Verdes da Câmara Municipal
damente a rainha. “Ali está ela. Con- alguma calma, protegidos pelo fato lhas – “o animal é a colmeia, a inteli- mas árvores como os carvalhos, as de Lisboa e, como tal, conhecedor do
segue vê-la?”. Aponta com um dos de apicultor e o fumo que o nosso gência é colectiva” – e qualquer inter- tílias, os castanheiros”, que resultava Parque Florestal de Monsanto, a ins-
cantos da espátula e percebemos anÆtrião vai lançando em pequenas venção dos homens tem que ser num mel mais intenso e escuro. talação de um apiário na grande man-
que se refere a uma abelha de corpo baforadas, para acalmar os animais. feita com todo o cuidado. Mas, com “os caprichos do tempo” cha verde da cidade só dependeu do
um pouco mais alongado que as As abelhas dançam à nossa volta, o “Uma destas abelhas, sozinha, não e da “alteração da paisagem por cau- necessário curso de apicultor que, em
outras e que se mexe a grande velo- zumbido é enorme, mas, de fato e consegue sobreviver, ela faz parte de sa dos fogos” – “tudo isso eu já vi 2014, tirou por Skype com um espe-
cidade entre elas, como se tivesse luvas, podemos entrar, como intru- um organismo” sobre o qual já sabe- queimado duas vezes”, diz, apontan- cialista alentejano, mas – atenção –
algo de muito urgente a fazer. sos indesejados mas persistentes, na mos muito mas continuamos a des- do em redor – tornou-se cada vez com exame Ænal prático e presencial.
E, de facto, tem. “Veja, ela está a vida de cada colmeia, guiados pelas conhecer outro tanto. Sabemos do mais difícil fazer as duas colheitas. Sim, Artur é um dos 12 apicultores ins-
pôr um ovo”, chama-nos outra vez a indicações de Harald Hafner, que, voo nupcial, dessa fecundação da “Cada vez é mais pobre, a paisagem”, talados em Monsanto.
atenção Harald, um austríaco a viver juntamente com a mulher, Natália, rainha por muitos zangãos, que lamenta. “O meu avô José não era apicultor
em Portugal há 15 anos e que, além produz o mel A Abelha Azul. acontece no ar, conhecemos as dan- E alerta: “Em Portugal temos uma proÆssional, mas, como qualquer
de produzir mel, dá cursos de apicul- Abrimos outra. Notamos imedia- ças que elas fazem para mostrar a média de 30% de perda anual de col- agricultor algarvio da serra, tinha cor-
tura (nomeadamente na Ecoaldeia tamente um alvéolo destacado no direcção do lugar onde poderá ser meias”. Por isso, era importante que tiços. E eu, com sete ou oito anos,
de Janas, em Sintra). Trata-se de um favo, bastante maior do que os instalada uma nova colmeia, vemos se começasse a olhar com atenção lembro-me da festa que era tirar o
pontinho branco, mínimo, que ela outros. “Neste elas estão a preparar como elas retiram do próprio corpo para a relação entre a apicultura e a mel, que lá se dizia virar os cortiços.
deposita num dos alvéolos, enquan- uma nova rainha. Às vezes isso acon- a cera para construir os favos, e agricultura, que se valorizasse mais O dia era tão especial que tudo se pla-
to as obreiras, aparentemente indi- tece quando a rainha começa a Æcar como gerem as reservas de alimen- a polinização, diz, lembrando que a neava ao detalhe. Até a galinha que a
ferentes a essa tarefa, continuam a mais velha e já não põe tantos ovos.” tos, impedindo a entrada dos zan- necessidade de abelhas vai ser par- minha avó Emília preparava num gui-
construir mais alvéolos – uns desti- Harald retira outros quadros para gãos quando eles já não são úteis. ticularmente evidente nos grandes sado feito com tempo era sinalizada
nados a armazenar o mel, outros tentar perceber se é isso que está a Mas o processo de tomada de muitas amendoais que estão a crescer no com antecedência. Falo hoje desse
para os ovos, que irão transformar-se suceder, mas Æca confuso. “Há mui- decisões permanece ainda um mis- Alentejo, alimentados pela água do prato e sou capaz de descrever todos
em larvas. tas larvas, isso signiÆca que ela con- tério. Alqueva. Mas, por alguma razão tão os sabores.”
Distinguem-se bem, com a ajuda tinua a pôr muitos ovos. Uma rainha “O apicultor consegue, se tudo misteriosa como a vida de uma col- O pai de Artur nunca se interessou
das explicações de Harald: os que põe mais ou menos o seu peso em correr bem, gerir o timing da retirada meia, os humanos parecem ainda pela apicultura, mas, agora que está
têm mel, ou o riquíssimo pólen fer- ovos por dia”, explica. do mel das colmeias e observar o não conseguir reconhecer tudo o reformado, tem a seu cargo a vigilân-
mentado, estão abertos e o líquido Porque estarão, então, a preparar tempo das Çorações” e assim ter que devem às abelhas. Alexandra cia de uma colmeia que o Ælho colo-
de cor âmbar reluz no interior; os outra rainha? Talvez porque tenham alguma inÇuência no tipo de mel. Prado Coelho cou nos terrenos algarvios da família
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O mel à mesa
o que cuida Três pasteleiros, três sobremesas
em Monsanto com o mesmo mel
NUNO FERREIRA SANTOS
a O pasteleiro é o técnico de cozinha estrela Michelin cada) e Inês Freitas mel de urze”, salienta. Assim, o sub-
de quem mais se pode esperar o tra- entrará em breve para a sua equipa em solo que suporta a árvore de chocola-
balho criativo com mel. Ou, melhor, Sintra. Ambos criaram uma sobreme- te e a sua copa de algodão doce pulve-
com os méis nacionais. Quando se sa que consiste na colocação de um rizado com chá matcha tem camadas
lançou o desaÆo a Francisco Gomes, granizado do Mel do Barroso – com de creme de limão e lima, gelatina de
António Barbosa e Francisco Siopa pingos de mel a simular alvéolos – por mel e iogurte de mel. À superfície, um
para que criassem uma sobremesa cima de um creme de chocolate bran- crumble de amêndoa.
Artur Madeira com o mel vencedor da 11.ª edição do co e yuzu e uma compota de casca de Já António Barbosa, chef de pastale-
é um dos 12 Concurso Nacional de Mel a única lima. Ao lado, pólen e um sorbet refres- ria na Colonial, criou uma base crocan-
apicultores pergunta foi: “Quando chega o mel”? cante de Çor de laranjeira. te de frutos secos, ligada com chocola-
instalados Os pasteleiros adoram estes exercí- Francisco Gomes, pasteleiro e des- te, yuzu e mel. O bolo é um semifrio
no Parque cios. E quanto mais raro é o ingre- cendente dos fundadores da pastelaria com mel, gelatina, gemas e natas, que
Florestal diente, melhor. Colonial, em Barcelos, criou uma foi depois pulverizado com chocolate
de Monsanto, O mel do ano em 2020 vem da Coo- sobremesa para homenagear a avó branco. O doce termina com uns hexá-
em Lisboa perativa Agrícola de Boticas e é um Dália, que vivia em Santa Cristina da gonos de chocolate e folha de ouro.
excelente exemplar do Mel do Barro- Agrela (Fafe). “Os aromas dos bosques, Como nada disto se faz em casa,
so DOP. Como nas terras de Montale- das Çores selvagens e dos cogumelos o melhor mesmo é passar pelos
gre e Boticas a urze é dominante, são recordações de infância, de manei- locais de trabalho dos pasteleiros.
estamos perante um mel escuro, com- ra que pretendi ligar tudo isto com o Edgardo Pacheco
plexo no nariz e com sensações equi- DANIEL ROCHA
libradas entre o doce e o salgado.
As notas salgadas e algo amadeira-
das do mel de urze são excelentes
para o trabalho de pastelaria, visto
que não torna o resultado Ænal enjoa-
como homenagem ao avô. “Volta e as colmeias e retira quadros do ninho tivo. Contudo, e sem que os chefs
meia o meu pai vai lá conÆrmar se as ou da área de produção de mel. E conhecessem as receitas uns dos
abelhas ainda estão lá. E estiveram quando disserta sobre as funções de outros, foi interessante veriÆcar que
durante algum tempo, mas, com a cada família de obreiras, interpretan- Francisco Siopa e António Barbosa
seca, saíram para enxamear algures. do com desenvoltura os movimentos socorreram-se da ajuda do yuzu, o
Acontece. Daqui a dias, vou meter lá harmoniosos, as danças, os voos e os citrino asiático apreciado pelo equilí-
um enxame novo.” sons de milhares de insectos, um lei- brio perfeito entre o doce e o ácido.
Se um apicultor tem de dominar as go – rezando para que as três abelhas Os dois chefs usaram o yuzu como
questões técnicas, a sorte de princi- que estão na rede da viseira não se estratégia para contrabalançar as sen-
piante não se deita fora. Estava Artur aproximem muito do seu nariz – vê sações doces e quentes do mel.
Madeira a terminar o tal curso online um autêntico granel ruidoso. Como Francisco Siopa é chef de pastelaria
quando, no forro do edifício das ins- é possível compreender o trabalho de dos restaurantes do Penha Longa
talações dos guardas Çorestais do milhares de bichos? Mas, lá está, por Resort (o Midori e o Lab, com uma
Parque de Monsanto, onde trabalha- alguma razão se diz que uma colmeia NELSON GARRIDO
va, apareceu um enxame. “Olhei para é um superorganismo.
aquilo e pensei: não é tarde, nem Artur Madeira não pretende
cedo. Vamos lá ver se tenho jeito. aumentar a área de produção, que,
Com a ajuda dos guardas abri o telha- na melhor cresta, deu 120 quilos de
do e, na madrugada seguinte, meti o mel, vendido de porta a porta com a
enxame na colmeia, mas sempre com marca LX por 3,50€ o frasco de 500gr
a ideia de que se a rainha não entras- (mel com aromas de Çor de laranjeira
se – factor crítico – estava tudo estra- e tília e sabores mentolados do euca-
gado. Entrou. E eu Æquei com a ideia lipto). O que pretende é aperfeiçoar
de que estava no caminho certo.” a técnica – coisa que termina quando
Hoje, tem um apiário que varia um apicultor se reforma – e criar con-
entre as oito e as 15 colónias e, com a dições para que crianças e adultos
mulher, Isabel, passa os Æns-de-sema- conheçam, em segurança, o mundo
na à volta das colmeias. Num destes das abelhas e da Çora que lhes dá ali-
domingos, um grupo de malta do BTT mento. “Compreender a interacção
que circulava pelos trilhos de Mon- das abelhas com o meio envolvente
santo Æcou espantado com o ar tran- torna-nos cidadãos activos na protec-
quilo de quatro indivíduos vestidos ção nos nossos ecossistemas. De res-
de branco dos pés à cabeça, à laia de to, fascina-me o brilho nos olhos das
brigada anticovid-19, entre silvas e crianças com quem falo destas coi-
giestas. Tranquilizaram-se quando sas”. Isto não foi possível comprovar,
descobriram as colmeias escondidas mas que os olhos de Artur Madeira
pela vegetação. brilham quando fala de abelhas, isso
Com a ajuda de Isabel e do fumiga- garantimos. Das abelhas e do guisado
dor (abençoada invenção), Artur abre da avó Emília. Edgardo Pacheco
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Alimentação
O mundo
das abelhas
Entre as diferentes espécies, a abelha que nos interessa
é a Apis mellifera. Produz boas quantidades de mel,
enxameia moderadamente e só é agressiva quando
incomodada. Ao colherem pólen e néctar das flores,
as abelhas polinizam mais de um terço das plantas
do planeta. O seu declínio populacional poderá
dar origem a uma catástrofe alimentar.
Edgardo Pacheco, Francisco Lopes e José Alves
Fontes: Guia Prático da Biologia da Abelha (Luís Moreira e Nuno Farinha) e Federação Nacional dos Apicultores de Portugal
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Vantagens competitivas
A riqueza botânica da apicultura nacional
A qualidade e a diversidade Capacidade de carga Riqueza e diversidade de
de aromas e sabores dos As obreiras que recolhem néctar vegetação espontânea.
méis portugueses resultam podem transportar para a colmeia Terroirs não poluídos
da riqueza da vegetação entre 25 e 40mg por viagem. As
espontânea nos diferentes que pastoreiam pólen, entre 10 e
terroirs do continente 30mg. Ao fim de mais de 800km
e das ilhas. de voo ao longo da sua curta
vida, a abelha morre.
Néctar vs mel o teor de humidade está abaixo de determinados sucos, produzidos utilizado como alimento pelas abelhas.
A produção de um quilo de mel dos 20%. E isso acontece porque pelas abelhas, em resinas que A sua utilização na alimentação humana
implica a recolha de néctar em as obreiras controlam a temperatura recolhem das plantas. É usada para é mais recente do que o mel, mas o seu
cerca de quatro milhões de flores. e a humidade na colmeia. vedar e desinfectar as colmeias. valor alimentar é igualmente elevado.
Como nasce o mel Conseguem-no batendo as asas, Tem propriedades antifúngicas Pão-de-abelha
O néctar que a abelha recolhe vai para criando assim as condições ideais de e antibacterianas. O pólen apícola é transformado no
o seu estômago, onde, por via do evaporação da água. Quando o que Geleia real interior da colmeia em pão-de-abelha
trabalho de enzimas, começa a ser está no alvéolo é finalmente mel, as É uma secreção produzida pelas pela adição de mel e secreções
transformado em mel. Quando a abelha abelhas selam a célula com cera. glândulas hipofaríngeas das jovens salivares das abelhas. Este derivado
chega à colmeia, transfere o preparado Cresta abelhas e serve para alimentar durante polínico é armazenado nos favos, onde
do seu estômago para o estômago de É o processo de extracção do mel do três dias todas as larvas da colmeia, sofre um processo de fermentação.
outra abelha. E é esta que, ao fim de 20 interior das colmeias. Cada apicultor sendo que, no caso da rainha, será É a única fonte de proteína consumida
minutos, vai regurgitar o composto escolhe o momento da cresta em durante todo o ciclo de gestação. pelas abelhas durante a fase
açucarado e colocá-lo nos alvéolos. função do maneio adequado da Considerado um superalimento, é de desenvolvimento larvar.
Quando está pronto o mel colmeia e do perfil de mel que usado pelo homem como antioxidante Hidromel
O composto açucarado colocado nos pretende colocar no mercado. e estimulante. Considerada a primeira bebida
alvéolos não é ainda mel porque tem Própolis Pólen alcoólica do mundo, resulta da
mais de 50% de água. Só é mel quando Composto que resulta da incorporação O pólen é recolhido nas flores e fermentação de mel com água.
PÚBLICO
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a Há imagens que merecem ser vis- quarto, casa de banho, sala com Um mergulho na água esteja protegido de correntes, os
tas em câmara lenta. Em especial
aquelas que são proporcionadas pela
sofá-cama, kitchenette (totalmente
equipada com fogão, microondas,
e a prancha de SUP praticantes – especialmente os ini-
ciantes – são aconselhados a lançar-
i
natureza em estado puro. O pôr do louça, etc.), e um hall exterior com Estamos a bordo – se é que se pode se na aventura com as devidas cau-
Sol em plena ria de Aveiro, a dança mesa e cadeiras. Tudo devidamente dizer assim, uma vez que não senti- telas. Boathouse Gold
das aves que por ali habitam, o ven- decorado com motivos náuticos – mos qualquer movimentação no A par com os banhos e os exercí- Experience
to que agita a água das marinhas de nem podia ser de outra forma, certo? interior – da embarcação Corajoso. cios (ou tentativas) de equilibrismo Ostraveiro – Aquacultura
sal. Estamos na Æla da frente para – e imagens fotográÆcas da envolven- Depois das boas-vindas, com espu- em cima da prancha, os hóspedes e Turismo
assistir a um Ælme dedicado à laguna te das casas-barco. mante da Bairrada e raivas (biscoitos são convidados a visitar as unidades Canal Principal
aveirense e ao seu habitat. E em jeito No topo, os hóspedes têm à sua típicos de Aveiro), o desaÆo passa de produção de ostras e de salicórnia (frente à antiga lota)
de antestreia, uma vez que a casa- espera um terraço equipado com por aproveitarmos tudo aquilo que da Marinha Passagem. O melhor é 3800-155 Aveiro
barco que nos permite usufruir de espreguiçadeiras, especialmente o alojamento tem para oferecer. que o faça acompanhado de algum Tel.: 913 453 876
todas estas imagens só abrirá ao recomendados para os dias e noites Começando, desde logo, pela ida a membro da equipa da Ostraveiro, E-mail: geral@ostraveiro.com
público neste último Æm-de-semana mais amenas. Se o vento estiver mais banhos na própria marinha (a plata- para não correr o risco de fazer ostraveiro.com
de Maio. Estamos numa das duas fresco – coisa normal por estas ban- forma do cais dispõe de uma escada asneiras. “Cuidado! Estão aqui dois Preços: a partir de 120 euros por
boathouses que a Ostraveiro acaba das da costa portuguesa –, tem sem- para acesso à água), onde a profun- ovos de andorinha-do-mar”, alerta- noite (inclui pequeno-almoço,
de instalar na Marinha Passagem e pre a possibilidade de se refugiar no didade oscila entre um a três metros nos Sandra Sousa, enquanto cami- brinde de boas-vindas e visita
que já estão preparadas para come- interior da casa sem perder pitada de profundidade. nhamos em direcção ao tanque dedi- à produção de salicórnia
çar a receber os seus primeiros hós- do “Ælme”. Tanto o quarto como a Cada casa dispõe, também, de cado à produção de salicórnia. Ainda e de ostras).
pedes. sala e kitchenette oferecem vistas de uma prancha de stand up paddle que os ninhos estejam devidamente
Com uma área de 40 metros qua- 180 graus. Basta abrir as cortinas e (SUP), pagaia e colete salva-vidas. assinalados, a proprietária da Ostra-
drados, cada casa dispõe de um apreciar a paisagem. Ainda que aquele tanque de água veiro aconselha sempre os visitantes
Uma casa
na ria
Podia ser só uma casa ƍutuante,
mas não é. A experiência que ela
tem para oferecer não se resume
ao alojamento dentro de quatro
paredes. Desde o pôr do Sol
à presença constante dos
pernilongos, são várias
as vivências que levam o hóspede
a sentir-se na Ɗla da frente de um
Ɗlme dedicado à ria de Aveiro.
Maria José Santana (texto)
e Nelson Garrido (fotos)
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a “prestarem o máximo de atenção espaços – fruto das circunstâncias do e deve considerar a sugestão para Para as estadias mais prolonga-
ao chão”.
No dia em que a Fugas por lá pas-
momento. Ao selo Clean&Safe – cria-
do pelo Turismo de Portugal para
Em respeito fazer as suas refeições no barco ou
na esplanada que está situada em
das, há outras propostas de activi-
dades a considerar, dentro ou fora
sou, tinha acabado de nascer um
pernilongo e Sandra Sousa não con-
assegurar que os estabelecimentos
respeitam as disposições de comba-
pelas espécies frente às embarcações.
Se não lhe apetecer, de todo, cozi-
dos oito hectares de área da Marinha
Passagem – importa não esquecer
seguia esconder a alegria ao ver a
cria de volta da progenitora, já de
te à covid-19 –, a Ostraveiro juntou
um certiÆcado de desinfecção para
animais e nhar, pode encomendar um dos
pratos servidos no restaurante da
que, além da produção de ostras e
salicórnia, o espaço conta com um
patas na água. “Costumo dizer que
estes são os meus netos”, contava,
garantir o máximo de segurança aos
seus hóspedes.
vegetais da ria, Ostraveiro – aberto só ao almoço,
mas com pratos, como a feijoada de
restaurante e uma zona de lazer,
com camas de rede, áreas de espla-
em tom de brincadeira mas sempre
atenta à movimentação das aves que Um brinde ou uma refeição
as casas-barco navalhas, que podem ser aquecidos.
O importante é que aproveite ao
nada, um parque infantil e um bar
de madeira plantado em cima da
têm escolhido aquela marinha como
casa. E é em respeito por elas, e tam-
na esplanada são 100% máximo o que lhe é oferecido a par-
tir deste alojamento Çutuante, ou
água. Entre as experiências mais
procuradas estão os passeios de bar-
bém por todas as outras espécies
animais e vegetais da laguna aveiren-
Estando enquadrados numa paisa-
gem tão especial quanto esta, estes ecológicas seja, tranquilidade. Sem horários
rígidos para o que quer que seja,
co ao longo da ria e as degustações
gastronómicas (actividades propos-
se, que a aposta passou por casas-
barco 100% ecológicas e sustentáveis
alojamentos são um daqueles luga-
res onde vale a pena ir para Æcar. e sustentáveis inclusive para o pequeno-almoço,
cujos ingredientes (pão, croissants,
tas pela própria Ostraveiro, não
incluídas na estadia), mas a verdade
– são alimentadas a energia solar e Ainda que tenha sempre alguém manteiga, Æambre, leite, sumo, é que não falta o que fazer e ver na
vêm equipadas com estação de tra- disponível para o conduzir de barco iogurte e queijos) são deixados de cidade da ria.
tamento de águas residuais. (um minuto de travessia) até ao cais véspera no alojamento e que vêm
Idênticas exigências estão a ser a partir do qual pode aceder, a pé, complementar a oferta de água, chá A Fugas esteve alojada
seguidas com a higiene e limpeza dos ao centro da cidade de Aveiro, pode e café. a convite da Ostraveiro
Natureza
Os portugueses que
coleccionam nuvens
EDUARDO BRITO
à procura de uma raridade ou do sublime que o banal homem “com a língua de fora”. Era
como se aquele aglomerado de água
enevoada”.
Foi para pessoas como os portu-
esconde. Há batalhas nos céus que parecem cachos suspenso gozasse com os incautos
humanos lá em baixo. E uma tem-
gueses Vera Jesus, Gabriela Soares,
Eduardo Brito e Diana Silver (inglesa
de Ɗno cabelo branco quando vistas do chão. pestade caiu sobre Diana – a nuvem
tinha-a avisado. Vera lembra-se de
a viver em Portugal desde 1989), que
o inglês Gavin Pretor-Pinney fundou,
eis a Sociedade de Apreciação de Nuvens. Pedro Rios com as ondas do mar – “tão depressa
se formam como se dissipam”.
Nuvens). É um clube a sério: com
certiÆcado de pertença, quota (cerca
Gabriela, médica, olha para o céu e de 30 euros por ano), amor e militân-
consegue “esquecer as coisas do dia- cia. Diariamente, partilham fotogra-
a-dia”, “tirar um minuto para apre- Æas e vídeos de nuvens belas ou
ciar simplesmente uma coisa boni- raras, conhecimentos, mais ou
ta”. Eduardo escreveu uma peça de menos técnicos, sobre estas manifes-
teatro, Autocarro para Sonhos, na tações da atmosfera. Organizam
qual uma fábrica produzia nuvens, férias em localizações privilegiadas
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Natureza
BILL BRADSHAW
Gavin Pretor-Pinney
“Esquecemo-nos “O céu está
sempre lá,
as nuvens
CONHEÇA AS NOSSAS
COLECÇÕES DE HISTÓRIA
Vinhos
As fanfarronices de Ljubomir
e a crítica no vinho
NUNO FERREIRA SANTOS
Elogio do vinho
Pedro Garcias
a Nunca comi em nenhum
restaurante de Ljubomir Stanisic,
nem o conheço pessoalmente, mas
tenho a ideia de que o saudoso
David Lopes Ramos elogiava muito
a sua comida e a sua busca pelos
produtos locais esquecidos ou em
vias de extinção. Deve ser um
grande chef.
Pelo que vejo da sua intervenção
pública, aprecio-lhe a rebeldia, a
fala curta e grossa, até alguma
impertinência. Um palavrão saído
da sua boca perde carga negativa,
porque parece genuíno e até útil
como muleta argumentativa. Os
falsos mansos são muito mais
daninhos.
Quem fala como ele fala, de
certeza que também não vai levar a
mal que eu o ache um pândego,
um fanfarrão, uma espécie de
Castelo Branco da cozinha mas
muito mais reÆnado. Ljubomir já
não vive dos tachos, mas sim da
sua imagem de provocador, de um restaurante em Cascais, se mal-educada no seu restaurante, Convém ter alguma autoridade gastronomia e dos vinhos. Dois
enfant-terrible. As televisões vingou de um homem da banca apontando-lhe de seguida a porta moral quando se quer ser uma voz sectores modernos na criação mas
gostam de gente assim, com “que nos roubou a todos”. Numa de saída. Expulsar do restaurante o livre. Não sei se Ljubomir, na sua ainda demasiado conservadores,
propensão para os soundbites. referência directa a Ricardo “dono disto tudo” era a atitude relação com os empregados e os em que a propaganda impera
Garantem audiências. O problema Salgado, embora sem citar o seu certa, até pela humilhação pública, fornecedores, tem essa autoridade. sobre o jornalismo. De uma certa
de Ljubomir é que parece ter nome, disse isto: “Não consegui justiÆcada, que lhe inÇigia. Espero que sim. Se não tiver, então maneira, vivem num ambiente
Æcado refém do seu “boneco”. vingar os portugueses pelo Ao contar este episódio, devia corar de vergonha. Espero algo salazarento, no sentido em
Entrou em roda livre e acha-se tão dinheiro que lhes foi roubado, mas Ljubomir foi Æel ao seu boneco. que tenha, porque, mesmo não que só a notícia boa e o elogio
inimputável que já perdeu a noção consegui, no mínimo, fazê-lo cagar Falou como personagem televisivo, concordando com alguns dos seus parecem ser úteis e aceitáveis. São
dos limites. Mais ou menos como uns três ou quatro dias.” Ljubomir esquecendo-se, porém, que é excessos, precisamos de mais sectores pouco habituados à crítica
aconteceu com José Sócrates. explicou que, cada vez que ia à também um chef de cozinha e um gente sem medo de dizer bem alto e à denúncia, frequentemente
No seu currículo de bocas para mesa perguntar se estava tudo representante da classe. Sabermos o que pensa, de não ter medo das confundidas com inveja e
fazer títulos de jornais, há algumas bem, o banqueiro apontava-lhe a que há quem estrague a comida palavras, de não viver preso ao maledicência. No mundo dos
famosas, como aquela de que “já mão tipo “baza daqui”. Cansou-se para se vingar de alguém não deixa politicamente correcto. vinhos, uma crítica mais forte
pinou com metade das mulheres e fê-lo ir à casa de banho três ou de ser assustador. Há limites para a Nisso, Ljubomir lembra um garante muitas vezes um inimigo
de Lisboa”. Uma fanfarronice, quatro dias. Quem, tirando os brincadeira, até mesmo para um pouco Dirk Niepoort, que, num ou, no mínimo, uma queixa formal
claro. No início da actual Salgado e os amigos deles, não pândego como Ljubomir Stanisic. estilo mais polido e focado nos ou um corte na lista de convidados
pandemia, Ljubomir acusou o sentiu um impulso empático com o O mais perturbador neste caso vinhos, também é uma voz livre e para apresentações e provas
Governo de não ter “tomates para chef ao ler isto? Nem toda a gente, foi assistirmos a uma reprodução por vezes incómoda para os seus futuras. É a vida. Será sempre
fechar os restaurantes”. “Tomates” claro, porque, embora a Ægura de massiva desta história nos media pares. Como Ljubomir, nem preferível um povo crítico que um
virou hashtag e campanha da Ricardo Salgado não cause sem que ninguém da classe – que sempre é justo, como acontece povo amorfo. A crítica e a denúncia
classe, mas percebeu-se o alcance simpatia nenhuma à maioria dos eu saiba – tivesse erguido o dedo de com qualquer um de nós. Mas é (não confundir com delação),
da crítica: se o Governo fechasse os portugueses, não é aceitável servir indignação. Isto diz muito sobre a preferível ser crítico em voz alta, mesmo podendo ser, por vezes,
restaurantes assim de repente, sem comida estragada num restaurante forma como no mundo da sem rodeios, do que praticar a injustas, são essenciais em
grande base legal, Æcava como vingança. A ter acontecido, gastronomia e também do vinho se maledicência muda. qualquer democracia. De resto, é a
moralmente obrigado a ressarcir Ljubomir indignou-se, e bem, com convive com a crítica. Prevalece Ljubomir e Dirk, cada um ao seu crítica que valoriza o elogio.
os lesados. Esperto. a falta de respeito e a soberba de uma paz podre, um medo cobarde estilo, não deixam ninguém
Recentemente, Ljubomir contou Ricardo Salgado, mas só tinha que de perdermos um amigo, um indiferente porque rompem essa Jornalista e produtor
na RFM que um dia, quando tinha dizer-lhe que não aceitava gente convite ou um privilégio. paz podre que existe no mundo da de vinho no Douro
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Vinhos
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo
com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas — Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
96 Um tinto 90 94
Vinha de Santa Maria
Reserva Especial 2017
de luxo Pousio Arinto 2019
Casa Agrícola HMR, Marmelar
Icon D’Azamor 2010
Kilburn&Gomes, Vila Viçosa
Magnum, Carlos Lucas Vinhos,
Carregal do Sal
do Dão Graduação: 13,5% vol
Região: Alentejano
Graduação: 14% vol
Região: Alentejano
Região: Dão Preço: 10,25€ Preço: 59,89€ (em onwine.pt)
Castas: Touriga Nacional, (em dourado.com)
Alfrocheiro, Tinta Roriz Não há engano na data da
e Tinto Cão a Por mais que Carlos Lucas decla- Os monocasta da Arinto colheita: a Azamor guarda os
Graduação: 14% vol re a vontade de se aÆrmar como oferecem geralmente um risco – vinhos da sua marca de topo
Preço: 31€ (winemagnum.com) um produtor de grandes vinhos embora menor no seu solar, em durante anos e coloca-os no
brancos, os tintos, no entanto, tei- Bucelas: são muito finos e mercado quando atingem um
mam em contrariá-lo. E este é mes- frescos, mas por vezes falta-lhes nível de evolução capaz de
mo um daqueles vinhos com evi- garra na estrutura e intensidade revelar todo o seu potencial. É
dente marca de autor, mas nem no volume de boca. Não é o caso pena que esta prática esteja tão
por isso o seu criador se deve deste Pousio. Se o nervo ácido e pouco vulgarizada entre nós.
importar muito que seja um gran- mineral que faz a imagem de Porque, apesar de os
de vinho. E tinto! marca da casta está presente, o consumidores terem de pagar os
E de uma vinha cuja plantação conjunto revela uma custos do envelhecimento, têm
ele próprio promoveu, em 2001, complexidade apreciável e uma possibilidade de provar um vinho
maioritariamente com castas tintas, mineralidade muito atraente. com a classe que só o tempo
em terrenos arenosos de base gra- Uma bela proposta da Herdade confere. Rico e complexo nos
nítica. Rodeada por oliveiras e man- do Monte da Ribeira. M.C. aromas, sofisticado e vibrante na
chas de bosque com frondosos boca, longo e requintado no
pinheiros bravos e aromas de caru- final, este vinho está no auge e
Proposta ma, a vista para a imponência da oferece uma experiência de
da semana serra da Estrela compõe o quadro prova magnífica. Melhor ainda à
de absoluta tipicidade dos vinhos mesa. M.C.
do Dão.
Saber-se se é a vinha, o seu ter-
roir, ou a perícia enológica que mais
marcam a identidade deste reserva
especial seria seguramente missão
sem Æm. Além de que absolutamen-
te desnecessária.
89 87
Um clássico Dão mas logo à nas-
cença deÆnido por uma grande Pouca Terra Branco 2019 Rocim Branco 2019
elegância e suavidade. Um lote de Quanta Terra, Alijó Herdade do Rocim, Cuba
vinha, mas com excelente trabalho Castas: 45% Gouveio, 45% Castas: Antão Vaz, Arinto,
de adega e barrica. Rico, frutado e Viosinho, 10% Moscatel Viosinho
complexo, mas com um travo suma- Graduação: 12% vol Graduação: 12,5 vol
rento, Æno, fresco e de rasto vegetal Região: Douro Região: Alentejano
que lhe dá prolongamento e enor- Preço: 7,49€ (em onwine.pt) Preço: 7,20€
me aptidão gastronómica. (em rocim.pt, excluindo portes)
Efeito, talvez, do Tinto Cão – de O branco de entrada de gama
que Carlos Lucas tanto gosta –, que dos clássicos e consagrados Habituámo-nos tanto a exigir
lhe confere uma Ænura, elegância e Quanta Terra está naquela zona tudo a algumas casas que
intensidade que nos transporta até de transição entre os vinhos para quando essas casas nos
para o imaginário dos grandes Pinot consumo corrente e os que oferecem um vinho apenas bem
da Borgonha. Mas é o Dão, a frescu- oferecem já níveis de exigência desenhado e escorreito,
ra granítica, bagas silvestres, frutos superiores. É um branco muito estranhamos. O que serve como
do bosque, aromas de caruma e vivo, com boas notas aromáticas, um elogio para a Herdade do
terra molhada que lhe moldam a onde as notas cítricas e Rocim, sem dúvida uma
harmonia. sugestões florais se temperam referência do actual vinho
Um tinto de luxo. De uma Ænura com a marca inconfundível do português, e como uma injustiça
quase sedosa, tanino Ærme e sabo- Moscatel Galego, mineralidade e para este branco. Se é certo que
roso. Pecado que não se beba desde frescura. É claramente um lhe falta alguma alma, tem tudo o
já, mas com décadas de vida pela branco de Verão, versátil e que se pede a um vinho desta
frente para crescer de boa saúde. A ajustado ao calor, mas revela gama de preços: uma palete de
má notícia é que foram engarrafa- também uma boa vocação para aromas atraente pelas suas
das apenas duas mil garrafas. acompanhar peixe grelhado, sugestões cítricas, harmonia,
Quanto ao preço, o nosso saudo- marisco ou sushi. M.C. fruta boa e frescor.M.C.
so David Lopes Ramos gostava de
dizer que só há duas categorias: os
bons e os caros. Este é dos bons!
José Augusto Moreira
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Motores
Eu vi o futuro da cozinha
portuguesa - e chama-se
Maria José de Sousa
complexos que é verdadeiramente ingredientes, tempo, vagar e ver que certas tradições correm
revolucionária. paciência (são três ingredientes perigo de desaparecer só por
Vivemos num tempo de falsidade, distintos mas só funcionam bem ignorância ou medo.
de ganância e de golpes, de bolos juntos) e, sobretudo, a sabedoria e a Ela ensina também a viver, a viver
para enganar tolos, de pressa e de conÆança bastantes para não não só através da comida e das
preguiça, de ignorância e de querer interferir, para saber ter a festas, das ocasiões e da família, mas
egoísmo, de narcisismo e de
seguidismo, da tirania da
honra de continuar (e assim salvar)
uma tradição.
A Nossa através dos próprios preparativos.
Há muitos convívios aprazíveis e
Miguel Esteves Cardoso
“instagramalhice” sobre o gosto.
Maria José de Sousa é o antídoto.
São apenas treze episódios, cada
um dos quais dedicado a um prato
Cozinha não socialmente fundamentais que se
perdem quando se abreviam e
a Nem toda a gente pode ir
almoçar à Taberna do Adro, o
É a força da simplicidade do que é
bom e é bem feito. As receitas delas
principal e a um doce. Maria José
de Sousa ensina a fazer os pratos -
é um programa simpliÆcam certos pratos que vivem
da antecipação e da reunião de
restaurante da grande cozinheira
Maria José de Sousa em Vila
são as receita s da avó e da mãe. Ela
tem uma virtude raríssima: não
os mais adorados, embora faça
questão de salientar, por exemplo,
de televisão familiares e amigos.
A Nossa Cozinha não é um
Fernando, apetitosamente cantado
em 2009 pelo infalível David Lopes
quer fazer fortuna ou Æcar na
história por fazer “diferente”, só
que nem toda a gente gosta de
borrego (a Ælha e a neta dela não
nem de programa de televisão nem de
cozinha: é um programa de vida. É,
Ramos e, mais recentemente, por
Fernando Melo.
para não fazer igual.
Fazer igual é bom, chama-se
apreciam).
Ensina sem guardar segredo, para
cozinha: de facto, um convite civilizado e
amistoso, gentil e sábio, a
Disse isto à Maria João, para gabar
a magníÆca série de aulas de
tradição - por alguma razão salta de
uma década para a outra. É porque
que nós nos sigamos o exemplo
dela. O maior segredo é que não é
é um programa desligarmos os telemóveis e
atentarmos a quem nos rodeia,
cozinha alentejana dada por Maria
José de Sousa no canal Casa e
gerações sucessivas adoram,
consagram, praticam e transmitem.
difícil fazer estes pratos, desde que
se saiba. A enorme generosidade de de vida àquilo que nos rodeia, à paisagem e
às condições que nos levaram a
Cozinha sob o título justo e rigoroso É esta a verdadeira cozinha Maria José de Sousa - que a leva a cozinhar o que cozinhámos.
A Nossa Cozinha. portuguesa: a sempre deliciosa. ensinar a fazer, tintim por tintim, Obrigado, Maria José de Sousa. A
Mas porque é que nem toda a Qual é o problema? até o prato mais cobiçado da senhora é Portugal em pessoa. A sua
gente pode ir à Taberna do Adro? É O problema é que, para fazer bem Taberna do Adro, a galinha tostada - dívida como portuguesa - e como
assim tão caro? Não, não é. É assim estes pratos, é preciso bons traduz também um certo pânico, ao cozinheira - está mais do que paga.
tão pequeno? Sim, é, mas é questão DR
de marcar. Já tem muitos clientes?
Sim, tem. Mas há-de arranjar-se
lugar para mais dois.
Eis uma verdade à qual não se
consegue dar a volta: os melhores
restaurantes de Portugal são
obrigatoriamente três coisas. São
pequenos, têm sempre a mesma
cozinheira ou o mesmo cozinheiro
na cozinha e, inevitavelmente, como
também não costumam ser caros
por aí além, estão sobrepopulados.
Mas, lá está, planeia-se, poupa-se,
tem-se paciência, marca-se mesa
com um lindo postal escrito à mão,
se tiver de ser.
Não há um raio de um chef que
não esteja sempre a falar da avó ou
da mãe, mas infelizmente é
impossível comer aquilo que estas
avós e mães (alegadamente)
cozinhavam porque são sempre os
sinistros dos netinhos que agora
“reinventam” os pratos que juram
ter aprendido com elas.
Maria José de Sousa é uma
cozinheira a sério com uma
generosidade sem Æm e uma falta
de pretensiosismo, de artifício, de
promoção, de cinismo e de
FUGAS N.º 1036 FICHA TÉCNICA Foto da Capa: Teresa Pacheco Miranda Direcção Manuel Carvalho Edição Sandra Silva Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Joana Lima e José Soares
Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, José Alves e Francisco Lopes Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua Júlio Dinis, nº270, Bloco A, 3º, 2, 4050-318 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas
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