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Cabalá

O que é Cabalá?
Cabalá - aquilo que é recebido. Aquilo que não pode ser conhecido apenas através da ciência ou da busca

intelectual. Um conhecimento interior que tem sido passado de sábio para aluno desde o despertar dos tempos.

Uma disciplina que desperta a consciência sobre a essência das coisas.

Entramos neste mundo e nossos sentidos encontram sua crosta externa. Tocamos a terra com nossos pés, a

água e o vento atingem nossa pele, recuamos perante o calor do fogo. Escutamos os sons e ritmos. Vemos

formas e cores. Logo começamos a medir, a pesar e a descrever com precisão. Como cientistas, registramos o

comportamento dos compostos químicos, das plantas, animais e seres humanos. Nós os gravamos em video-

tape, observamos sob o microscópio, criamos modelos matemáticos, enchemos um supercomputador com

dados a seu respeito. De nossas observações, aprendemos a domar nosso ambiente com invenções e

engenhocas, e então nos damos um tapinha nas costas e dizemos: "Isso mesmo, conseguimos."

Mas nós mesmos, nossa consciência, que está examinando este mundo, residimos em uma camada mais

profunda. Eis por que não podemos deixar de perguntar: "E sobre a coisa em si mesma? Aquilo que está lá

antes que a medíssemos? O que é matéria, energia, tempo, espaço - e como vieram a ser?

Para explicar nosso mundo sem examinar esta profundeza interior é tão superficial quanto explicar o trabalho

de um computador descrevendo as imagens vistas no monitor. Se virmos uma bola movendo-se para cima e

para baixo na tela, diríamos que está ricocheteando contra o fundo da tela? Os dispositivos na sua barra de

rolagem exercem alguma força sobre a página dentro da tela? A barra do menu tem realmente os menus

ocultos atrás dela?

O autor de um software de uso facilitado seguiu regras consistentes para que você possa trabalhar

confortavelmente dentro dele. Se for um jogo de alguma complexidade, ele precisou determinar e seguir um

grande conjunto de regras. Mas uma descrição destas regras não é uma explicação válida de como isso

funciona. Para isso, precisamos ler seu código, examinar o equipamento, e, mais importante - examinar a

descrição de seu conceito original. Precisamos vê-lo da maneira que o autor o vê, como evolui passo a passo

de um conceito em sua mente através do código que ele escreve, até os pontinhos fosforescentes minúsculos

na tela.

O código por trás da realidade, o conceito que instila vida às equações e as torna reais. Homens e mulheres

sacrificaram seu alimento, seu conforto, viajaram grandes distâncias e pagaram com sua própria vida para
chegar a conhecer estas coisas. Não há uma só cultura neste mundo que não tenha seus ensinamentos para

descrevê-las. Nos ensinamentos judaicos, elas são descritas na Cabalá.

Segundo a tradição, as verdades da Cabalá foram conhecidas por Adam (Adão). Aquilo que sua mente

apreendeu, nenhuma outra mente pode conceber. Mesmo assim ele foi capaz de transmitir um vislumbre de

seu conhecimento a algumas das grandes almas que dele descenderam, como Hanoch e Metushelach. Foram

eles os grandes mestres que ensinaram Nôach (Noé), que por sua vez ensinou seus próprios alunos, incluindo

Avraham (Abraão). Avraham estudou na academia do filho de Nôach, Shem, e enviou seu filho Yitschac para lá

estudar, depois dele. Yitschac por sua vez mandou seu filho Yaacov estudar com Shem e com o bisneto de

Shem, Ever.

Adam, Nôach, Avraham - estes foram pais de toda a humanidade. Eis por que você encontrará alusões às

verdades que eles ensinaram seja onde for que tenha chegado a cultura humana.

Mesmo assim, a fonte essencial para a Cabalá não é Adam ou Nôach ou mesmo Avraham. É o evento no

Monte Sinai, onde a essência primordial do cosmos foi desnudada para que uma nação inteira a contemplasse.

Foi uma experiência que deixou uma marca indelével sobre a psique judaica, moldando por completo nossas

idéias e nosso comportamento desde então.

No Sinai, a sabedoria interior tornou-se não mais uma questão de intuição ou revelação particular. Era então

um fato que havia penetrado em nosso mundo e se tornado parte da história e da experiência dos mortais

comuns.

Eis por que a Cabalá não pode ser chamada de filosofia. Uma filosofia é o produto de mentes humanas, algo

com que qualquer outra mente humana pode jogar, espremê-la ou esticá-la segundo os ditames de seu próprio

intelecto e intuição. Mas Cabalá significa: "que é recebida." Recebida não apenas de um professor, mas do

Sinai. Assim que o aluno tenha dominado o caminho deste conhecimento recebido, ele ou ela pode encontrar

maneiras de expandi-lo ainda mais, como uma árvore se ramifica a partir de seu tronco. Mas será sempre um

crescimento orgânico, jamais tocando a vida e a forma essenciais daquele conhecimento. Os ramos, galhos e

folhas irão apenas onde deveriam para aquela árvore em particular - um bordo jamais se tornará um carvalho, e

jamais um aluno revelará um segredo que não estivesse oculto nas palavras de seu mestre.
Cabalá
Pergunta:

O que é Cabalá e para que serve?

Resposta:

Oh, Ca-ba-lá... esta palavra não empolga sua imaginação? Se assim é, você não está sozinho - é exatamente

por isso que a Cabalá tornou-se tão popular... e tão desvirtuada.

Antes de mais nada, deve ser enfatizado que o objetivo da Cabalá é freqüentemente mal entendido, e às vezes

até mesmo deturpado. Um engano popular é que o estudo da Cabalá transformará a pessoa num paranormal

(ou pelo menos num clarividente!) capaz de habilidades extraterrenas. Francamente, isso é tolice, assim como

várias outras falsas noções.

O supremo propósito no estudo da Cabalá é o auto-aperfeiçoamento. Fazer de si próprio uma pessoa melhor -

mais Divina, mais sintonizada com sua essência e raízes. É isso que a Cabalá tem para oferecer àqueles que

realmente desejam recebê-la.

A Torá escrita e suas subseqüentes interpretações é o "corpo" do Judaísmo, ao passo que a Cabalá é a "alma."

Cabalá, que significa "recepção," sugere duas coisas:

1. A Cabalá é uma tradição que foi recebida por um mestre e transmitida a seus discípulos, de geração a

geração, e

2. a fim de entender e apreciar a Cabalá, a pessoa deve tornar-se um "receptor" e esvaziar-se de todas as

noções pré-concebidas.

A alma do Judaísmo não constitui uma entidade separada da Torá. Ao contrário; sempre foi uma parte

intrínseca da Torá como um todo. É a dimensão mística da Torá, que glorifica o exterior.

Os primeiros cabalistas eram conhecidos como "homens de labuta." Seus esforços não eram do tipo físico,

embora trabalhassem a vida toda para refinar-se e elevar sua consciência a ponto de serem capazes de

fisicamente perceber o espiritual dentro do físico.

Com a chegada do Báal Shem Tov esta noção passou a ter um novo significado. O fundador do Chassidismo

tornou o caminho para o aperfeiçoamento pessoal uma possibilidade prática, disponível a todos os judeus, não

apenas para a elite intelectual.


Infelizmente há muitas pessoas que mistificaram a Cabala. Há hoje ofertas de cursos que vendem a falsa idéia

de que através dela podem prever o futuro. Apenas grandes sábios bem versados na Torá tinham acesso à sua

profunda essência. Hoje, mandar o povo estudar Cabalá sem nenhum critério, é como mandar uma pessoa que

nem mesmo ingressou na faculdade, tirar um PhD...

A Cabala é um dos inúmeros braços que compõem o judaísmo e não deve ser dissociado deste. Deve-se ter

imenso cuidado para estudá-la com seriedade, pois há muitos que a utilizam como uma doutrina, magia negra e

outras visões que distorcem completamente o seu sentido.

Além disto, para os judeus há estudos de inúmeras, vastas e profundas Escrituras Sagradas que antecedem o

estudo da Cabalá, como o Talmud.

Após anos de estudos é que um judeu se sente em condições de estudar a Cabalá. Ela é, digamos assim, o

último passo no conhecimento judaico e deve ser ensinada através de grandes e célebres rabinos bem

versados no assunto. Imagine a confusão criada na mente daqueles que procuram a Cabalá como o primeiro

passo e transformam ela em uma simples doutrina ou um instrumento perigoso e distorcido para previsões e

adivinhações?

No entanto, para os curiosos, dispomos em nosso site do item Estudos Profundos, textos que foram compilados

e traduzidos com a permissão de um grande cabalista de Israel.


Aproximando a Cabalá da Terra
Por J. Immanuel Schochet

Os filósofos antigos declararam que o mundo em que vivemos, e as coisas pelas quais passamos, têm duas

dimensões: a aparência externa e a realidade interna. O "mundo de aparência" é, quase sempre, uma ilusão.

As coisas não são necessariamente aquilo que parecem ser. Além disso, não é raro que iludamos a nós

mesmos ao contemplar aquilo que gostaríamos de ver, esteja ou não ali. Assim, cabe a nós fazer um esforço

para penetrar além do verniz externo para descobrir a realidade.

Este fato da vida tem implicações sérias e práticas. As ilusões satisfazem o raciocínio ansioso. Ao final, porém,

o balão estourará, resultando em desilusão. Desapontamento, frustração e insatisfação se seguirão à

descoberta de nosso engano. Muita dor e infelicidade poderia ter sido evitada com uma perspectiva realista.

A Cabalá sublinha a declaração toda abrangente de nossos sábios, expressando este princípio: "Não olhe para

a jarra, mas para o que está dentro dela." A aparência externa pode ser atraente, mas engana ao esconder o

conteúdo. Por sua vez, um exterior não atraente pode ser o disfarce para algo precioso.

A "pegadinha" com a Cabalá é que não é simplesmente um esforço abstrato ou filosófico. Corretamente

aplicada, a Cabalá fornece a orientação e instrução para melhor lidar com as realidades da vida.

Há duzentos anos, um grande sábio e místico publicou um livro notável, sobre o qual pode-se afirmar que

realmente aproximou a Cabalá da terra. Tornou-se um texto básico, e uma das obras mais reimpressas, com

literalmente milhares de edições aparecendo em todo o mundo. O autor, Rabi Schneur Zalman de Liadi (1745-

1812), fundador do Chassidismo Chabad, modestamente intitulou-o Likutei Amarim (Coletânea de Ensaios),

porém é mais conhecido por sua palavra inicial, "Tanya."

O impacto desta obra relativamente pequena não pode ser superestimada. É reconhecida universalmente como

uma contribuição original à teologia existencialista, psicologia religiosa e ética. Seus pensamentos profundos

deram origem a numerosos comentários, estudos e debates.

O Tanya é um texto curto. Seus capítulos compactos, porém, são fascinantes em sua extensa gama de

assuntos, abordando todo aspecto relevante a nossa existência. Apesar disso, seu propósito subjacente é nos

tornar conscientes da dicotomia entre aparência e realidade — a aparência e realidade de nós mesmos (que

constituem nosso verdadeiro ser versus nosso exterior ilusório), a aparência e realidade de nosso próximo e a

aparência e realidade do mundo em que vivemos e com o qual lidamos.


A consciência dessas distinções altera radicalmente a visão de uma pessoa sobre a vida. Afeta mais

profundamente nossa perspectiva sobre o mundo, nosso relacionamento com o próximo e nosso

autoconhecimento. O mundo à nossa volta pode ter a aparência de um complexo de matéria completo e auto-

suficiente, porém nada mais é que uma concha para a Divindade penetrante, eminente e transcendente. Todos

os seres humanos podem diferir em suas formas visíveis, opiniões e capacidades, mas compartilham

igualmente sua essência: almas Divinamente dotadas, enraizadas na mesma fonte. Nós mesmos estamos

basicamente conscientes de nosso corpo físico e seus desejos e ânsias naturais, porém estes são apenas

"jarras," recipientes para nosso verdadeiro "eu."

O reconhecimento e consciência deste "mundo de realidade" destaca a auto-estima (sem arrogância), empresta

significado e propósito a nossas vidas e nos possibilita executar nossas funções individuais, preenchendo-nos

assim com a coragem e motivação para a auto-realização. Isso nos faz reconhecer o valor intrínseco do outro

como não menor que o nosso próprio, pois em essência somos todos o mesmo — extensões um do outro. Isso

gera apreciação e respeito por todo item na Divina criação, incluindo o mundo físico à nossa volta, compelindo-

nos a nos relacionar positivamente com ele, de forma que seu propósito, também, possa ser cumprido.

Tudo junto constitui um universo, refletindo a unidade de D’us, pois "do Um pode vir apenas um." Isso sugere

enorme responsabilidade: a estrutura singular do "universo" implica interação abrangente, onde cada item da

nossa parte afeta tudo o mais. Mesmo assim, isso apresenta também possibilidade e capacidade — que está

em nosso poder aperfeiçoar este mundo para transformá-lo em uma Morada apropriada para a Divindade. Isso

significa que podemos superar todos os obstáculos, assim deveríamos estar repletos de um senso absorvente

de otimismo e verdadeiro júbilo em nossa vida e existência. Nós somos, na verdade, parceiros ativos com o

Próprio D’us na obra da criação. Nós modelamos nosso destino. Está em nossas mãos levar o mundo a sua

realização utópica que sobrevirá com a redenção messiânica.

Temos o poder de efetuar isso a qualquer hora: "Este dia — se você ouvir a voz d'Ele." "Este dia —" se

ouvirmos a mensagem do Tanya para transcender o mundo das aparências e penetrar no mundo da realidade,

no âmago subjacente a tudo em nós mesmos e em tudo que nos diz respeito.
Cabalá e Chassidut
Por Rabino Yitzchak Ginsburgh, traduzido por Maurício Klajnberg

Introdução
No momento em que o povo de Israel estava aos pés do Monte Sinai, os céus se abriram e o espírito de D’us

desceu das alturas em meio a trovões e relâmpagos de fogo.

De acordo com a tradição da Cabalá, o objetivo da Criação foi o de prover D’us com um “local de moradia nos

reinos inferiores”, um objetivo que se completa através do direcionamento da luz Divina para “veículos”

progressivamente mais densos do pensamento, sentimento e ação humanos e, dali, para o resto do mundo

material.

A tentativa da Cabalá de trazer os mistérios da Criação mais próximos da própria experiência humana se

expressou talvez mais radicalmente através do pensamento e da tradição chassídicos. A Chassidut avançou o

foco da tradição mística para além dos limites dos olamot (“mundos”, a realidade de espaço e tempo) até o

mundo mais sublime das neshamot (“almas”). Daí que, enquanto a Cabalá é referida no Zohar como “a alma da

Torá”, a Chassidut tem sido descrita como a “alma da alma da Torá”.

As Raízes da Tradição da Cabalá


As raízes da tradição cabalística podem ser traçadas até a antiga experiência profética de nossos patriarcas –

Avraham, Yitschak e Yaacov. A sabedoria e a visão originadas de sua intimidade com o Divino formaram a

base do legado espiritual passado adiante aos seus filhos, as doze tribos de Israel. A verificação final deste

legado veio no momento em que Israel estava aos pés do Monte Sinai, os céus se abriram e o espírito de D’us

desceu em meio a trovões e relâmpagos de fogo. Ao revelar a Si próprio a toda a comunidade de Israel, D’us,

na verdade, expôs a essência oculta da verdade da Cabalá, a qual, até aquele momento, era privilégio de

alguns poucos. Naquele exato momento, como o versículo nos diz, Moshe subiu a montanha e penetrou em

uma densa escuridão onde D’us, de forma particular, revelou a ele o complexo de sabedoria e leis Divinas que

deveria preencher o vácuo que restou após Seu recuo para a esfera celestial.

A sabedoria que Moshe recebeu no Sinai e passou adiante, mais tarde, para seu povo, era composta de

elementos esotéricos e exotéricos. A tradição exotérica – ou niglá (aquilo que é “revelado”) – se tornou o foco

identificado da vida Judaica, tanto no estudo quanto na prática, ao longo das gerações. É esta tradição com a

qual somos familiarizados através dos trabalhos clássicos da erudição e das leis Judaicas – o principal sendo o

Talmud. Por outro lado, a tradição esotérica — conhecida como nistar (aquilo que é “oculto”) — foi transmitida a

uns poucos de cada geração, adequados para iniciação em suas profundezas misteriosas.
Esta tradição, que é a base da Cabalá, fez seu caminho como um fio oculto ao longo do curso da história

Judaica. Em momentos fortuitos ao longo daquela história, este fio iria periodicamente aparecer para embelezar

a consciência espiritual em evolução de nosso povo. Interpretada por homens de visão e inteligência incomuns,

esta tradição lentamente encontrou seu caminho para a forma escrita em trabalhos que expuseram seus

aspectos teóricos e práticos.

A terminologia tradicional empregada na referência a estes dois aspectos distintos do questionamento

cabalístico é o mesmo da Cabalá iyunit (“Cabalá contemplativa”) e Cabalá maasit (“Cabalá prática”). Apesar de

que veremos que esta distinção pode ser, freqüentemente, bem arbitrária, ela nos ajudará a isolar várias

tendências dentro do desenvolvimento da tradição cabalística.

A Tradição “Contemplativa”
Cabalá iyunit, a categoria à qual pertence a maioria dos textos cabalísticos atualmente em circulação, explica o

processo onde o mundo criado evoluiu a uma existência “autônoma” restrita através da vontade de um Criador

infinito, elaborando também sobre a natureza do “diálogo” entre Criação, à medida que ela procede para o

cumprimento de seu destino, e a fonte Divina da qual ela emerge. Em um nível ainda mais profundo, a Cabalá

iyunit explora a natureza complexa da própria realidade Divina – em particular, o paradoxo do D’us imutável e,

mesmo assim, ativo e reativo em Sua relação com a Criação.

Um aspecto adicional desta tradição contemplativa, muitas vezes erroneamente identificado como “Cabalá

prática”, é a elaboração de várias técnicas meditativas usadas para ponderar o subtexto Divino da realidade.

Estas incluem a contemplação de Nomes Divinos, das permutações das letras hebraicas e das formas nas

quais as sefirot (forças Divinas sobrenaturais) se harmonizam e interagem. Algumas formas antigas de

meditação cabalística realmente produzem uma experiência visionária das “câmaras” celestiais onde a Glória

D’us reside.

Mesmo se procuradas em consideração ao tikun hanefesh (“retificação da alma”) apenas, estas técnicas

meditativas, sem a reflexão teosófica apropriada, podem ainda ser consideradas legitimamente

“contemplativas” pela virtude de sua influência refinadora sobre a consciência.

A Tradição “Prática”
A verdadeira “prática” da Cabalá envolve técnicas direcionadas especificamente para a alteração de estados ou

eventos naturais – técnicas como a recitação ritual dos Nomes Divinos ou a inscrição de tais nomes (ou aqueles

dos anjos) sobre amuletos especialmente preparados. Apesar de comumente denominada uma tradição
“oculta”, a Cabalá maasit se destina a ser utilizada somente pelos mais puros e responsáveis indivíduos e para

nenhum outro objetivo que não o benefício do homem e da Criação.

Desde os antigos tempos do sagrado Ari (meados do século 16), existem indicações destas técnicas sendo mal

usadas por pessoas inadequadas. O sagrado Ari, ele próprio exortava seus discípulos a evitarem as artes

práticas da Cabalá, pois julgava que esta prática não era autorizada, uma vez que o estado de pureza espiritual

necessário para o trabalho no Templo Sagrado continua inatingível. A exortação do Ari, em efeito, adiava a

prática dos rituais de Cabalá até o dia em que o Templo for reconstruído e a pureza necessária para tais

serviços for restaurada.

O serviço no Templo realmente provia a estrutura primária na qual o aspecto prático da Cabalá se desenvolveu.

O rito principal da tradição prática – a enunciação do Nome essencial de D’us – era uma peça central dos ritos

do Templo conduzidos pelo Sumo Sacerdote no Yom Kipur. Como outros aspectos da tradição prática, a

fórmula exata da pronúncia do Nome de quatro letras foi passado adiante, em segredo, de geração a geração

do Sumo Sacerdote. Em certo momento, foi determinado que esta fórmula não deveria ser mais transmitida,

pois os indivíduos designados para o Sumo Sacerdócio se mostraram cada vez mais corruptos e inadequados

para a execução desta sensível e espiritualmente exigente prática. Pela suspensão do pronunciamento

cerimonial do Nome de D’us no Templo, os Rabis criaram um precedente para aqueles — como o Ari — que,

em gerações posteriores, argumentaram contra a prática da Cabalá ritual.

Realmente, o temor de Ari provou estar bem fundamentado já que, nos séculos seguintes, pudemos

testemunhar a emergência de movimentos pseudocabalísticos, motivados pelo oportunismo ou pela

espiritualidade mal orientada, que comprometeram a fé de Israel assim como a reputação dos objetivos

legítimos da Cabalá. O estudo dos fundamentos conceituais da Cabalá dentro do contexto de um compromisso

inabalável às leis normativas da Torá forneceu a melhor proteção contra estas formas corruptas de prática

cabalística.

Como indicado acima, não existe uma demarcação clara separando os elementos contemplativos da Cabalá

daqueles com objetivos de influenciar e alterar a realidade. Assim como a Cabalá iyunit pode influenciar,

através de seu sistema de kavanot (meditações guiadas) — a configuração das forças Divinas que impingem

sobre nossa realidade — assim também é a eficácia de “Cabalá prática” baseada no conhecimento da teoria e

doutrina cabalísticas. Talvez o mais famoso caso de prática cabalística – a confecção de um golem em Praga

no século 16 – envolveu ninguém além do grande e santo estudioso Rabi Yehuda Loew, um proeminente

interpretador da tradição contemplativa.


A Vantagem da Sabedoria Sobre a Profecia
A tradição contemplativa, enquanto opera no âmbito do intelecto rotineiro, provê o meio ideal de se obter o

esclarecimento Divino. É explicado na Cabalá que a capacidade de reflexão interna deriva de um mundo

celestial (o das “almas”) hierarquicamente superior àquele do qual derivam as forças exóticas elicitadas pela

prática da Cabalá (o dos “anjos”). A elevação do pensamento ao ponto onde ele convida a sabedoria e

entendimento Divinos constitui o auge da realização espiritual.

De acordo com a tradição cabalística, o objetivo da Criação é prover D’us com um “local de moradia nos

mundos inferiores”, um objetivo que atinge sua realização pelo direcionamento da luz Divina aos “veículos”

progressivamente mais densos do pensamento, sentimento e ação humanos, e, daí, para o resto do mundo

material, como já citado anteriormente. Trabalhando-se no âmbito da consciência mundana, a tradição

contemplativa nos torna sensíveis às infinitas nuances Divinas dentro da Criação. Por esta razão, a profecia,

que transcende a experiência mundana, não é capaz de prover o verdadeiro esclarecimento.

A vantagem da chochmá (“sabedoria”) sobre a nevuá (“profecia”) como um caminho para o esclarecimento é

evidente nos ensinamentos de nossos Sábios de que “o homem sábio é maior que o profeta”. Através da

profecia, pode-se chegar à aproximação final com o pensamento Divino, mas sem necessariamente impactar o

eu ou a Criação como um todo. É o padrão mais alto de caráter e inteligência o qual é dito preponderar sobre a

profecia, e não o contrário.

Sabedoria, pela virtude de sua conceitualização e abstração, serve para generalizar a experiência do mundo na

terminologia da consciência ordinária, assim fazendo-o comunicável aos outros. A experiência profética, apesar

de extraordinariamente vívida em suas imagens, está dissociada da realidade do “aqui-e-agora” e, assim,

permanece essencialmente impenetrável pelos outros. O único indivíduo para quem sabedoria e profecia se

mesclaram em um único canal de entendimento foi Moshe, que foi capaz de receber profecias enquanto ainda

retinha suas faculdades rotineiras, portanto provendo o modelo mais representativo de daat (“conhecimento”)

purificado. Ele era não só o mais sábio dos homens como também o mais adaptado às coisas Divinas; o único

humano que podia, como o fez, encontrar D’us “na metade do caminho subindo a montanha”.

A tradição cabalística, apesar de baseada na experiência profética de nossos antepassados e sábios, veio

mudando constantemente ao longo do tempo na direção de uma maior e mais sutil articulação conceitual. Isto é

mais do que apenas uma conseqüência do fato do homem ter se distanciado mais e mais da experiência direta

do Divino; é uma parte do plano fortuito que vê o grande benefício para D’us e a Criação na cultivação de uma

consciência espiritual firmemente baseada na realidade mundana. Este plano é evidente em inúmeros

versículos da Torá, tais como os que seguem, contidos no livro de Yeshayahu (11:9 e 52:8): “A terra estará
repleta do conhecimento Divino como as águas cobrem o mar... olho no olho, eles verão o retorno do Senhor a

Tzion...”

A Cabalá, como uma estrutura dentro da qual judeus historicamente desenvolveram seu entendimento original

da realidade, representa um legado tanto de profecia quanto de sabedoria. Isto pode ser avaliado através da

guematria (numerologia judaica) da própria palavra Cabalá (137), que é igual ao valor combinado das palavras

chochmá (“sabedoria” = 73) e nevuá (“profecia” = 64). Através da sabedoria da Cabalá, aprendemos a “ouvir” o

que nossos ancestrais “visualizaram” no Sinai. Uma vez que plenamente compreendamos o significado

conceitual daquela visão, começaremos, novamente, a “ver” D’us, porém com nossos sentidos comuns intactos

e não somente por um momento, mas permanente, mesmo após o evento.

Chassidut: A Fronteira Final da Cabalá


A tentativa da Cabalá de trazer os mistérios da Criação mais próximos à própria experiência humana se

expressou, talvez de forma mais radical, através do pensamento e da tradição chassídicos. Esta abordagem

revolucionária à espiritualidade judaica foi revelada através do grande sábio do século 18, Rabi Israel Baal

Shem Tov. Inicialmente praticando maravilhas, curando doenças humanas através de poderes tanto naturais

quanto sobrenaturais, o Baal Shem Tov lentamente evoluiu à condição de facilitador e professor que teve

sucesso em revelar a capacidade única dentro de todo ser humano de diretamente provocar a misericórdia e

benção Divinas.

Seus ensinamentos enfatizam aqueles componentes da experiência interna humana que se correlacionam com

as forças sobrenaturais discutidas na Cabalá clássica. Daí, ele avançou a contemplação cabalística para além

dos limites da abstração filosófica e para dentro da esfera da dedução psicológica imediata. Foi pela delineação

da interface entre as sefirot e a psique humana que a Chassidut desejou trazer o pensamento e a prática

cabalísticos à sua fronteira final.

O desejo do Baal Shem Tov de prosseguir para além da convenção cabalística e forjar um novo caminho para o

serviço encontra expressão na seguinte história:

Certa vez o Ba’al Shem Tov lançou mão do uso de um Nome Divino para conseguir atravessar um rio

intransponível, e depois se lamentou por ter feito uso desnecessário de um poder Divino sobrenatural. Depois

de passar vários anos expiando por aquele único ato, ele, novamente, se encontrou na borda de um violento

córrego, mas o cruzou usando nada mais que a simples fé. Foi este recurso da fé, acessível a todo Judeu, e

não os poderes de difícil compreensão da Cabalá prática, que o Baal Shem Tov procurou aplicar na vida diária.
Neste processo, ele destilou o espírito essencial da Cabalá, realçando tanto sua relevância quanto impacto. Daí

que, enquanto a Cabalá é referida no Zohar como a “alma da Torá”, a Chassidut foi cunhada como sendo a

“alma da alma da Torá”.

Realmente, a tradição clássica da Cabalá pode ser considerada chitzoni (“superficial”) em relação àquela da

Chassidut, a qual, ao focar na experiência imediata, identifica aspectos da Divindade que o sistema altamente

formal e abstrato da indução cabalística deixa inexplorado.

O determinante de quão profundo uma determinada tradição penetra os mistérios do ser Divino é o grau de

bitul, ou “auto-anulação”, implícita na abordagem daquela tradição. A Chassidut, ao enfatizar a Divindade inata

da alma judaica, inspira um maior grau de bitul que a Cabalá clássica com seu foco sobre a “evolução” do ser

criado. Outra forma de dizer isto, consoante com a própria terminologia do Baal Shem Tov, é que Chassidut

avança o foco da tradição mística para além dos limites dos olamot (“mundos”, a realidade de espaço e tempo)

até o mundo mais sublime das neshamot (“almas”).


Uma introdução básica aos três tipos de
Cabalá
Por DovBer Pinson

A tradução literal da palavra Cabalá é 'aquilo que é recebido". Para receber, devemos ser receptivos. Devemos

nos abrir, criando um receptáculo para absorver aquilo que desejamos entender, até nos tornarmos parte da

Cabalá. Abrir o ser para uma realidade mais elevada, visualizar o espírito dentro da matéria, elevar nossa

consciência até o ponto em que nossa percepção da realidade é completamente mudada, e o Divino dentro de

toda a Criação é revelado.

Falando de forma geral, a Cabalá está dividida em três categorias: a teórica, que se preocupa basicamente com

as dimensões interiores da realidade; a dos mundos espirituais, almas, anjos e coisas semelhantes, e a

meditativa, na qual a meta é treinar a pessoa que está estudando para atingir estados meditativos mais

elevados de consciência e talvez, até um estado de profecia através do emprego dos Nomes Divinos,

permutações de letras e assim por diante. Este último tipo de Cabalá é o mágico, que se preocupa em alterar e

influenciar o curso da natureza.

A grande maioria dos textos mais importantes da Cabalá mágica jamais foi publicada, talvez por um bom

motivo. Além de ser um assunto altamente complexo para dominar, mesmo quando dominado às vezes pode

ser perigoso. R. Joseph Della Reina (1418-1472) foi um dos grandes mestres da Cabalá mágica. Conta a lenda

que ele tentou utilizar seus poderes espirituais para trazer a suprema Redenção, e no processo de fracasso

ficou espiritualmente ferido. Alguns dizem que cometeu suicídio, ao passo que outros afirmam que se

transformou num apóstata. Outros ainda dizem simplesmente que enlouqueceu.

Muitos cabalistas na geração seguinte tomaram suas ações como uma advertência contra a prática da Cabalá

transcendental avançada e mágica. A partir de então, os elementos mágicos da Cabalá têm, para todos os fins

e propósitos, se extinguido, e seu conhecimento completamente esquecido.

Qualquer que seja o motivo, a Cabalá meditativa nunca foi uma disciplina popular. Um dos grandes

proponentes da Cabalá meditativa foi Rabino Abraham Abulafia (1240-1296). A escola mística que ele dirigia

estava basicamente interessada num método para atingir estados meditativos mais elevados. Ele acreditava

que através do seu método de meditação, a pessoa estava apta a atingir um nível de profecia.

Ele propunha usar um mantra escrito, querendo dizer que em vez do costumeiro mantra verbal ou visual, a

pessoa deveria escrever uma palavra repetidamente, muitas vezes, em diversos estilos e configurações.

Deveria tentar alterar a seqüência da palavra e permutar e circundar as letras da palavra em todas as maneiras
possíveis: combinando e separando as letras, compondo associações completamente novas de letras,

agrupando-as e depois juntando-as com outros grupos, e assim por diante. Isso era feito até a pessoa atingir

um estado mais elevado de percepção.

Ora, embora Abulafia fosse um escritor prolífico e autor de mais de quarenta livros durante sua vida, mesmo

assim a maioria de suas obras jamais foi publicada. De fato, mesmo durante sua vida, muitos dos outros

grandes cabalistas se opuseram a ele e aos seus ensinamentos.

Portanto, a Cabalá, na qual a meta era atingir o estado transcendental de consciência, jamais se tornou

importante embora em nível individual, havia diversos cabalistas, especialmente aqueles da Safed do século

dezesseis, que incorporaram seus ensinamentos como uma maneira de atingirem estados mais elevados de

percepção e consciência.

O que nos resta é a dimensão teórica da Cabalá. A vasta maioria da Cabalá que foi e está sendo

continuamente produzida está toda dentro do âmbito teórico. O corpo principal deste tipo de Cabalá é o sagrado

livro Zohar, uma obra de ensinamentos do místico talmúdico do segundo século, Rabi Shimon bar Yochai, que

foram transmitidos de geração em geração até serem publicados no final do Século Treze pelo cabalista R.

Moshe de Leon.

Os três estágios do desenvolvimento da Cabalá teórica


É o aspecto teórico da Cabalá que tem sido desenvolvido através dos tempos em diversos estágios. Para fins

práticos, a tradição deste estilo de Cabalá pode ser dividido em três estágios básicos. O primeiro é a era da

publicação do Zohar, com a mística do livro e a geração seguinte que articulou estes ensinamentos. O segundo

seriam os místicos do Século 16 que viveram na cidade de Safed. Este período específico da história é

mencionado como a grande Renascença Cabalista. O movimento foi guiado pelos profundos e sistemáticos

ensinamentos de R. Yitschac Luria (1534-1572). Ultimamente, o terceiro desenvolvimento da Cabalá foi com o

nascimento de R. Yisrael ben Eliezer (1698-1760), conhecido como Báal Shem Tov, o Mestre do Bom Nome,

fundador do Movimento Chassídico, que de maneira direta ou indireta tem orientado todos os outros

movimentos até os dias de hoje.

Alguém que tenha tido apenas vislumbres da Cabalá teórica – o novato – tende a considerá-la um escrito

repleto de fantasia, ocorrências e imagens estranhas, fantásticas paisagens místicas, aparentemente

irracionais, irreais e sem base na realidade. Ao abrir a obra clássica da Cabalá teórica, o Zohar, a pessoa se

surpreende com a imaginação dos autores, mas talvez o fascínio termine aí. Para o novato ele se parece com
um livro de fantasia, nada além disso. Um famoso mestre cabalista, o Tsadic de Zitshav, disse certa vez sobre a

Cabalá que estes três estágios em seu desenvolvimento podem ser relacionados com uma parábola.

Numa época em que viajar era uma aventura perigosa e árdua e a maioria da pessoas jamais saíra de sua

própria aldeia, um homem viajou a um país distante. Ao voltar, reuniu o povo de seu vilarejo e entusiasmado,

relatou as aventuras de sua viagem. Falou sobre uma ave que tinha visto num país distante, cuja aparência era

fantástica. Por exemplo, o pássaro tinha feições humanas; as pernas eram como as de uma girafa. Os aldeões

zombaram da história, considerando-a pura fantasia.

Inspirado pelas aventuras que ele contou, um aldeão saiu para fazer a mesma viagem, determinado a ver o

mundo por si mesmo. Anos depois retornou à aldeia, um homem do mundo. Assim como o viajante que tanto o

inspirara, ele reuniu as pessoas do lugar e relatou suas aventuras. Também falou sobre aquele pássaro

fantástico, mas sua descrição era um pouquinho diferente. A face da ave, disse ele, não era realmente humana,

embora lembrasse bastante um homem, e as pernas eram longas e finas, definitivamente lembrando uma

girafa; no entanto, não eram realmente pernas de girafa. Ao ouvirem a história deste homem, os aldeões

ficaram divididos. Alguns acreditaram piamente no homem, cuja história era mais convincente que a do primeiro

viajante. Apesar disso havia muitos cépticos, para quem a história ainda soava inventada e irreal.

Um dos habitantes da vila estava determinado a pôr um ponto final no assunto deste pássaro estranho e

empreendeu a longa viagem para vê-lo por si mesmo. Ao voltar, reuniu os moradores locais e triunfante,

declarou: O assunto está resolvido! Abriu uma bolsa grande e dali retirou a estranha e fantástica ave. Desta vez

ninguém duvidou.

Esta parábola se relaciona com os três estágios de desenvolvimento do âmbito teórico da Cabalá. O autor do

Zohar, a obra magna do pensamento cabalista, Rabi Shimon bar Yochai, foi o primeiro a descrever a Divina

presença e nosso relacionamento com o Ein Sof. No Zohar, encontramos histórias tão estranhas e fantásticas,

configurações e imagens tão míticas e místicas, que mal podemos acreditar. No Século 16 em Safed, a cidade

dos místicos, a Cabalá começou a adotar uma forma de análise mais abrangente e detalhada. Os padrões e os

processos de pensamento sistemático começaram a aparecer na literatura cabalista. Por fim, com o nascimento

do Movimento Chassídico, a Cabalá amadureceu.

O Chassidismo é o movimento místico fundado pelo R. Yisrael ben Eliezer, o Báal Shem Tov. Ele trouxe a

imagem do Criador até a realidade. Estes conceitos místicos não eram mais irreais e distanciados, mas se

tornaram uma parte concreta da nossa vida diária, afetando cada faceta da criação. O Céu foi trazido à Terra.
A jornada cabalista completa um círculo
A opinião das pessoas sobre o propósito da Cabalá está repleta de equívocos. Um dos mais populares é que o

estudo da Cabalá pretende transformar a pessoa num vidente, capaz de ter habilidades miraculosas e

sobrenaturais. Isso, no entanto, é equivocado. O supremo propósito no estudo da Cabalá é a perfeição do Ser.

Transformar o Ser num indivíduo melhor, mais expandido, mais transcendente, mais sintonizado com a

essência e as raízes da própria alma, é isso que a Cabalá oferece àqueles que realmente desejam recebê-la.

O critério da jornada autêntica e cabalista é aquele que faz um círculo completo e a pessoa termina voltando ao

mundo do aqui e agora. O Talmud fala dos quatro Sábios que entraram no pomar celestial e tiveram uma

experiência transcendental. Ben Azzai olhou e morreu. Ben Zoma olhou e ficou transtornado. Em outras

palavras, ficou louco. Acher (o outro, nascido Ben Avuyah) olhou e arrancou suas plantas, ou seja, transformou-

se num herege. Rabi Akiva entrou e saiu em paz. O pomar representa os reinos espirituais mais elevados. Rabi

Akiva foi o único sábio, dentre estes quatro, que pôde entrar e sair no pomar místico sem sofrer danos.

Sendo um homem de grande estatura espiritual, um mestre verdadeiro e equilibrado, ele percebeu que o

objetivo não é se identificar com a luz e não retornar, como fez Ben Azzai, ou mentalmente, como Ben Zoma.

Também não era sentir alívio pessoal ou êxtase, mas sim ir e voltar para cá, com a sabedoria adequada para

servir aqui e agora. A jornada deve percorrer um círculo completo no comportamento do dia-a-dia da pessoa.

Agora, porém, o âmago de toda a Cabalá é o objetivo distinto de atrair a Luz Infinita da santidade abstrata para

a realidade do dia-a-dia. E os primeiros cabalistas eram conhecidos como "Homens de labuta" – seus esforços

não eram de natureza física, mas trabalharam durante toda a vida para se aperfeiçoarem e elevar seu nível de

consciência até o ponto de uma percepção espiritual da realidade. Com a chegada do Báal Shem Tov, esta

noção adquiriu um significado novo. Com os ensinamentos do Báal Shem Tov, a trilha tornou-se tão clara a

ponto de este refinamento poder ser alcançado.

Conhecer a Cabalá é viver cabalisticamente


A Cabalá é comparada à proverbial "árvore da vida". É um estudo da vida, e assim como a vida não pode ser

estudada num livro, mas somente através da própria vida, também o estudo da Cabalá somente é eficaz

quando se pratica os seus ensinamentos em nossa vida diária. A Cabalá estudada como uma matéria escolar

num livro é como alguém que estuda 'amor', mas jamais o experimenta por si mesmo.

R. Simchá Bunem de Pshischá, famoso mestre chassídico, disse certa vez sobre um famoso cabalista que ele

não tinha compreensão sobre a Cabalá. Explicou que embora fosse verdade que ele era versado na literatura

cabalista, não tinha um verdadeiro entendimento. Para ilustrar o que queria dizer, ofereceu a seguinte metáfora.
Digamos, por exemplo, que uma pessoa deseja se familiarizar com Paris. Compra um mapa e um guia da

cidade e os estuda diligentemente, até conhecer todos os detalhes e os caminhos da cidade; porém, é

desnecessário dizer que se ele jamais visitar aquela cidade, jamais saberá realmente como é Paris. O coração

e o pulso de qualquer cidade somente podem ser sentidos quando se vai lá. Assim também, concluiu Reb

Bunem, para entender totalmente a Cabalá, a pessoa deve vivê-la, e isso aquele cabalista não tinha feito.

O refinamento do caráter
É preciso apenas um breve vislumbre da obra dos grandes mestres da Cabalá teórica para perceber que a

grande maioria dos textos não tratam de transformação do caráter. Embora seja verdade que a literatura

mística cabalista seja voltada ao ato de relacionar o teórico com a vida diária, a Cabalá em si parece não se

importar tanto com a pessoa. Ao contrário, parece estar interessada em explicar as esferas celestiais, anjos,

almas e 'coisas' deste tipo, não como o indivíduo pode vencer o comportamento negativo.

No entanto, isso não implica que a Cabalá não esteja interessada na pessoa em si. Ao contrário! Na verdade,

há incontáveis declarações em todas as obras da Cabalá sobre a negatividade dos maus traços de caráter,

como raiva, preguiça, depressão, e outros. A condenação mais severa da depressão, fúria e outras emoções

prejudiciais são encontradas nas obras da Cabalá. Porém o método cabalista de refinamento de caráter é uma

abordagem bem diferente daquela que estamos acostumados a encontrar. Não é uma batalha que combate a

negatividade em seu próprio campo, e também não se trata de superar o negativo com o positivo. Sua

abordagem é vir de outro ponto de vantagem e ver as coisas sob outras perspectiva.

O objetivo fundamental do pensamento místico é fazer a pessoa entender que não há nada além do Infinito. Ao

ler as várias configurações, mapas e diagramas que a Cabalá apresenta, a pessoa desperta à conscientização

de que tudo que realmente existe é o Ein Sof. Há uma sensação que deve ser despertada quando penetramos

nas verdades da Cabalá, e esta é a sensação de que o mundo como temos a tendência de percebê-lo,

separado, independente de um criador, é apenas uma ilusão, e na realidade não há nada que não seja a luz

infinita. Tendo esta noção em mente, consciente ou subconscientemente, estamos aptos a conquistar todas as

nossas emoções e traços negativos.

O ego: o falso senso do ser como fonte de todas as emoções negativas


Rabi Eliyahu ben Moshe di Vidas, um cabalista do Século 16, declara que há três traços negativos básicos, que

podem ser considerados "os traços principais'" a partir dos quais ocorre toda dissensão. São eles: arrogância,

teimosia e fúria, dos quais todos alegam originar-se na mesma fonte, ou seja, o ego. O ego é a fonte a partir da
qual brota toda a negatividade. O âmago de toda a corrupção é aquele falso senso de ser/ego, que vive num

estado incessante daquilo que pensa que irá causar a sua sobrevivência.

É o ego que faz surgir todas as emoções negativas. Por exemplo, quando uma pessoa fica furiosa, é a maneira

do ego de demonstrar sua objeção porque não está feliz. O ego, quando sente que está ameaçado, é aquele

que protesta: 'como você pode fazer isso comigo' – o que desperta a raiva. O medo da aniquilação é a

constante condição do ego. A raiva é apenas uma manifestação da preocupação da pessoa com sua presunção

imaginária de sobrevivência. O total envolvimento com o "eu" ilusório é a raiz de todas as emoções negativas.

Ao superar este falso senso de ser, que brota da falsa estimativa de sobrevivência da pessoa, as emoções

negativas são dominadas. Por meio do estudo da Cabalá, chegamos à percepção de que o falso senso de

ser/ego é apenas um disfarce de nossa real dinâmica interior, nossa alma transcendente. A sensação que

temos quando contemplamos a Cabalá é que tudo existe é Ein Sof. Procuramos sentir isso num nível cósmico,

e então entendê-lo em nosso próprio nível. Conseqüentemente, a ilusão de separação/ego e, como resultado, a

preservação dessa miragem começará lentamente a desaparecer, e com ela desaparecerão as emoções

negativas que são a manifestação do ego.

Em vez de ver o ego como um inimigo real que precisa entrar na batalha para ser superado, começamos a

perceber que não há nada além da Luz, e tudo o mais é simplesmente uma ocultação daquela verdade. Esta é

a abordagem cabalista para a auto-perfeição. Não lida com o ataque negativo, de maneira alguma. Ao

contrário, busca a fonte de todos os problemas, o Eu/ego, e por extensão, toda a realidade física, e demonstra

como, de fato, estas realidades aparentemente independentes não passam de uma camuflagem. Ao perceber

isso, nossa negatividade é dominada com mais facilidade.


Origem da Cabalá
Ensinamentos Místicos foram passados das gerações mais antigas, antes até do recebimento da Torá no

Monte Sinai, em 2448 (1313 AEC). À partir desse momento, existe uma tradição clara da transmissão da Torá

Oral que foi dada a Moshê na mesma hora que recebeu a Torá escrita.

Não há razão para acreditar que a tradição mística foi perpetuada de uma maneira diferente do resto da Torá

Oral. Não obstante, do mesmo jeito que diferentes sábios viraram professores renomados em aspectos

específicos da Torá Oral, assim também é com os ensinamentos esotéricos - nem todos os sábios eram bem

versados neste campo. Realmente, o Talmud relata que muitos sábios estudaram as tradições esotéricas e

muitos deles fizeram maravilhas e milagres. Mas nem todos esses sábios foram conhecidos como estudiosos

deste campo.

Em sua época, Rabi Shimon bar Yochai, compilador do Zôhar, e muitos de seus colegas, foram conhecidos

mestres da Cabalá. Em algum momento, esses estudos esotéricos foram escondidos, com medo de que

fossem cair nas mãos erradas.

Tentamos aqui identificar e clarificar a corrente inquebrável da tradição cabalística de fontes autênticas e

tradicionais. A lista abaixo normalmente contém dados biográficos dos mais importantes mestres, como uma

tradução de seções de um ou mais de suas obras. Tentamos clarificar também os pontos únicos e inovadores

encontrados em alguns dos luminares da Cabalá.


Rabi Shlomo Alkabetz
Biografia de Cabalistas – Parte 1

Rabi Shlomo Alkabetz

Rabi Shlomo Alkabetz foi um dos maiores cabalistas que viveram em Szfat na época dos grandes luminares da

Cabalá, Rabi Moshe Cordovero (Ramak) e Rabi Yitschac Luria (o Arizal).

Rabi Shlomo nasceu em Salonica por volta de 5260 (1500). Segundo alguns autores, ele nasceu em 5265 (1505).

Estudou Torá com Rabi Yossef Taitatzak. Em 5289 (1529) desposou a filha de Yitschac Cohen, um rico proprietário

que morava em Salonica. Em vez de dar à sua esposa um presente de casamento mais tradicional, ele entregou a

ela sua obra completamente nova, Manot HaLevi.

Seu sogro e cunhado aparentemente respeitavam muito os eruditos de Torá, pois "seu deleite ao receber o presente

foi muito maior do que se ele tivesse enviado jóias e pedras preciosas de grande valor monetário." Logo depois, Rabi

Shlomo e a esposa decidiram se estabelecer na Terra Santa. A caminho de lá, o jovem rabino e a mulher fizeram

uma parada em Adrianople, na Turquia. Os moradores da cidade, incluindo um grupo de cabalistas, implorou a ele

que os instruísse na vida espiritual e em seus métodos de servir a D’us. Ele concordou e escreveu diversas obras

durante sua estadia nesta cidade – Beit Hashem, Avotot Ahava, Ayelet Ahavim e Brit HaLevi. Esta última obra ele

dedicou aos seus admiradores em Adrianople.

Rabi Shlomo por fim continuou sua viagem, ensinando aonde quer que fosse. Diversos homens que mais tarde se

tornariam grandes cabalistas foram influenciados por Rabi Shlomo. Dentre eles estava Rabi Shmuel Ozida (autor de

Midrash Shmuel sobre Pirkê Avot), Rabi Eliezer Azikri, autor de Sêfer Chareidim, um tratado cabalista sobre a

correspondência dos membros e órgão do corpo às 613 mitsvot da Torá; Rabi Avraham Galante, autor de Yereach

Yakar sobre o Zôhar e outras obras.

Rabi Shlomo chegou a Szfat por volta de 5295 (1535), onde se estabeleceu. Somente na Terra Santa, ele insistia,

alguém podia desvendar os segredos da Torá. Rabi Shlomo atribuía muito da sua profundidade de compreensão ao

seu costume de se prostrar nas tumbas dos tsadikim. Muitos estudantes se reuniam a sua volta, incluindo Rabi

Moshe Cordovero (Ramak), que desposou a irmã de Rabi Shlomo.


Parece, no entanto, que Rabi Shlomo mais tarde se tornou aluno do Ramak, um testemunho da sua humildade. Rabi

Yossef caro foi outro aluno de Rabi Shlomo.

Rabi Shlomo conta a história de que certa vez estava estudando com Rabi Yossef Caro quando o falecido Maguid

(um professor angelical) lhes apareceu. Rabi Caro certa vez pediu a seu professor para explicar o significado

cabalista do versículo "os dois grandes luminares" (Bereshit 1:16), o que ele fez numa longa dissertação. Parece que

ele tinha servido como líder de uma yeshivá em Meron, que fica do outro lado do vale em relação a Szfat. Parece

também que ele atuou como rabino em Szfat.

Rabi Shlomo é mais conhecido pelo seu hino Lecha Dodi, entoado na recepção ao Shabat. Foi composto segundo os

ensinamentos cabalistas sobre a subida da sefirá de malchut (que representa a Shechiná e a alma judaica) no

Shabat, e portanto expressa o anseio da Shechiná e da alma judaica pela Redenção. O hino tornou-se tão popular

que foi incorporado à liturgia do Shabat de toda comunidade.

Rabi Shlomo faleceu em 5340 (1580) e está enterrado em Szfat

Rabi Yitschac Luria


Biografia de Cabalistas – Parte 2

Rabi Yitschac Luria – O Santo Ari


Rabi Yitschac Luria Ashkenazi ben Shlomo

5294-5332 (1534-1572 EC)

Yahrtzeit: 5 de Av

Sepultado no Antigo Cemitério de Tzfat

(5294-5332 / 1534-1572)

Rabi Yitschac Luria é conhecido como o Ari, um acrônimo para Elohi Rabi Yitschac, o Divino Rabi Yitschac.

Nenhum outro mestre ou sábio jamais teve esta letra Alef extra, que significa Elo-hi (Divino), introduzindo seu

nome. É um sinal daquilo que seus contemporâneos pensavam dele. Gerações posteriores, temerosas de que

este apelido pudesse ser mal interpretado, disseram que este Alef era para Ashkenazi, indicando que sua
família tinha origens alemãs. Porém o significado original é o correto, e até hoje, entre os cabalistas, Rabi

Yitschac Luria é chamado apenas de Rabenu HaAri HaKadosh [o Santo Ari], ou Arizal.

Sua família viveu originalmente na Alemanha, de onde emigrou para Jerusalém. Ali nasceu o homem que

desempenharia um papel magnífico não apenas naquele século de revolução espiritual e cultural, mas até os

dias de hoje.

O Brit Milá
O Ari nasceu na Cidade Velha de Yerushaláyim em 5294 (1534), onde agora fica o antigo Museu Yishuv Court.

Diz-se que o próprio Eliyahu HaNavi foi o sandac no seu berit. O Sêfer HaKavanot U’Massê Nissim registra a

seguinte história:

"Houve certa vez um chassid notável em Erets Yisrael, chamado Rabi Shlomo Luria… [o pai do Arizal] Um dia

ele estava sozinho no Bet Knesset, estudando, quando Eliyahu HaNavi apareceu-lhe e disse: "Fui enviado a

você pelo Todo Poderoso para trazer-lhe a notícia de que sua sagrada esposa conceberá um filho, e que você

deve chamá-lo de Yitschac. Ele começará a libertar Israel das kelipot [forças do mal]. Por meio dele numerosas

almas receberão seu ticun. Ele está destinado também a revelar muitos mistérios da Torá e a explicar o Zôhar.

Sua fama se espalhará pelo mundo. Tome cuidado para não circuncidá-lo antes que eu venha para ser o

Sandac [que se senta na Kisey Eliyahu e segura a criança durante a cerimônia]." Terminando de falar, ele

desapareceu.

Rabi Shlomo Luria foi para casa mas não revelou seu segredo a ninguém, nem mesmo à mulher. Quando o Ari

nasceu, a casa ficou repleta de luz, e no oitavo dia eles o levaram ao Bet Knesset para circuncidá-lo. Seu pai

procurou em toda parte para ver se Eliyahu tinha vindo como prometera, mas não o encontrou.

Todos insistiam com ele para que desse prosseguimento, mas ele replicou que ainda não tinham chegado

todos os convidados. Passou-se uma hora, mas Eliyahu ainda não viera. Então ele pensou consigo mesmo,

amargamente: "Meus pecados devem tê-lo impedido de cumprir sua promessa." Mas enquanto chorava,

Eliyahu apareceu e disse: "Não chore, servo de Hashem. Aproxime-se do altar e ofereça seu filho como um

sacrifício puro dedicado inteiramente ao Céu. Sente-se em minha cadeira e eu sentarei sobre você."

Então, invisível a todos os presentes exceto Rabi Shlomo, Eliyahu sentou-se sobre ele, recebeu a criança nos

braços e segurou-a durante toda a circuncisão. Nem o Mohel nem aqueles reunidos viram outra coisa além do

pai que segurava o bebê. Após o berit milá, ele prometeu novamente a Rabi Shlomo que o menino traria grande

luz ao mundo inteiro, e desapareceu.


Do Egito à Israel
Rabi Yitschac Luria perdeu o pai ainda muito cedo, quando ainda era criança. Em 1541, incapaz de sustentar a

família, sua mãe decidiu viajar Cairo, no Egito, a fim de viver com o irmão dela, Mordechai Frances, um

próspero homem de negócios que cuidou de sua educação. Ele frequentou a yeshivá de Rabi David ben Zimri,

Rabino Chefe do Egito, conhecido como o autor de muitos comentários famosos e algumas responsas de

Radbaz. Seu brilhantismo continuou a reluzir em pilpul [dialética] e lógica. Seus mestres foram Rabi David ben

Zimra (Radbaz) e Rabi Betzalel Ashkenazi, autor de Shitá Mekubetzet.

Quando tinha quinze anos, seu conhecimento em Talmud tinha superado todos os sábios no Egito.

O brilhante jovem se tornou um dos discípulos do Radbaz, e seus estudos do Talmud logo o elevaram às

alturas da erudição. A única parte sobrevivente de seu trabalho em Guemara e Halachá é um comentário sobre

Zevachim. Quando Rabi Mordechai Frances viu o grande sucesso de seu jovem sobrinho, deu sua filha a ele

como esposa e assegurou-lhe meios para o sustento.

Porém a natureza profunda e introspectiva de Rabi Yitschac Luria não estava satisfeita somente com o estudo

da Halachá. Ele adquiriu conhecimento sobre a Cabalá e devotou a vida inteira ao seu estudo e disseminação.

Ainda muito jovem começou seus longos períodos de isolamento e solidão à margem do Rio Nilo.

Ele passou sete anos em quase total hitbodedut [auto-reclusão] com Rabi Betzalel Ashkenazi. Foi mais ou

menos nessa época que um inestimável volume do Zohar chegou às suas mãos. Com este Zohar, ele ficou

recluso por mais seis anos. Ele então atingiu níveis ainda mais elevados de kedushá – santidade. Isso ele fez

durante dois anos, numa casa perto do Nilo. Ali ele permaneceu totalmente isolado, não falando com nenhum

ser humano.

Ele voltaria para casa para junto de sua esposa na véspera do Shabat, pouco antes do anoitecer. Ele progrediu

dessa maneira até tornar-se digno de Ruach HaCodesh. Ás vezes, o próprio Eliyahu HaNavi se revelava e

ensinava a ele os mistérios da Torá. Ele também teve o privilégio de sua alma ascender toda noite [aos reinos

celestiais].

Hostes de anjos o saudavam para guardar seu caminho, levando-o às academias celestiais. Estes anjos lhe

perguntavam que academia desejava visitar. Ás vezes ele escolhia a de Rabi Shimon bar Yochai, e outras

vezes visitava as academias de Rabi Akiva ou Rabi Eliezer, o Grande. Numa ocasião ele visitou também as

academias dos antigos Profetas.

Em seus esforços incessantes para penetrar nos recessos mais ocultos da Torá, ele descobriu grande parte do

verdadeiro significado da fé judaica. Conseguiu desenvolver todo um sistema de doutrina cabalista sobre o
mundo, sobre o papel da Torá e seus mandamentos na vida do homem. Repleto do fogo da inspiração e de

entusiasmo, ele empreendeu a tarefa de purificar o mundo do espírito de impureza e substituir o domínio do mal

pelo reconhecimento de D'us. Por volta de 1569, ele emigrou com a família para Jerusalém.

Safed
Em 1570, após ter atingido um nível extremamente elevado de santidade no Egito, Eliyahu lhe disse que tinha

chegado a hora de ascender a Safed, o centro de todo o estudo e prática da Cabalá. Ali, ele encontraria Chayim

Vital, o homem a quem ele estava destinado a transmitir as chaves para a sabedoria antiga (Shiv’chey HaAri;

Toledot HaAri).

Logo um grupo de discípulos se reuniu ao redor dele para ouvir suas interpretações profundas de todos os

acontecimentos e ocorrências no mundo. Cada vez mais homens o procuravam, aceitando a doutrina de uma

vida sagrada e ascética, que o Santo Ari estabelecia como exigência necessária para a participação no círculo

de seus seguidores. Sob sua inspirada orientação, a prece adquiriu um significado mais profundo, pois ele

interpretava cada palavra e expressão.

Os dias de jejum e dias sagrados se tornaram importantes na vida religiosa, e o Shabat tornou-se o pivô da

inspiração e da experiência do sagrado, pois era devotado apenas à atividade espiritual. Cada refeição do

Shabat, repleta de canções de conteúdo sagrado, muitas delas escritas e compostas pelo próprio Ari, era uma

oferenda a D'us, e a Melavê Malcá representava um comovente tributo ao Shabat que partia.

Da mesma maneira, a maioria dos aspectos da vida e fé judaicas receberam nova cor e conteúdo. Os

ensinamentos de Rabi Yitschac Luria foram divulgados em todos os cantos do mundo, onde quer que

existissem judeus. A personalidade de Rabi Yitschac Luria inspirou todos os grandes homens que tinham

penetrado mais profundamente que a maioria dos mortais no mundo da Cabalá.

O santo Ari faleceu aos trinta e oito anos, e foi pranteado por todo o povo judeu. Apesar de sua curta vida, ele

deixou uma impressão indelével na vida judaica e no ensinamento religioso. Ele introduziu muitos costumes

sagrados (Minhaguim) que se tornaram parte integrante de nossos serviços. Suas canções e preces foram

amplamente adotados e parcialmente incorporados no Sidur.

Dentre os expoentes mais inflamados dos ensinamentos do Ari estava seu discípulo e sucessor à liderança dos

cabalistas, Rabi Chaim Vital que registrou as revelações e explicações de seu grande mestre, e seus escritos

estavam entre os livros mais impressos naqueles primeiros tempos da imprensa. Outro discípulo importante foi

Rabi Israel Saruk.


Legado
Comunidades inteiras se orientam pelo "Nussach Arizal", e muitos dos seus ensinamentos são usados para

formar a base do grande Movimento Chassídico. Graças à sua influência e inspiração, o Judaísmo pôde resistir

ao surgimento de muitos credos e ideias que foram promovidos durante os séculos dezesseis e dezessete. o

Ari certamente está entre os líderes mais sagrados e importantes do povo judeu.

Os ensinamentos do Arizal explicados por Rabi Chayim Vital (introdução a Sha’ar


HaHakdamot):
O Ari transbordava de Torá. Ele era completamente versado em Tanach, Mishná, Talmud, Pilpul, Midrash,

Agadá, Maassê Bereshit e Maassê Merkavá. Era especialista na linguagem das árvores, das aves, e na fala

dos anjos. Podia ler os rostos da maneira delineada no Zohar (2:74b). Ele podia discernir tudo que qualquer

indivíduo tinha feito, e podia ver o que faria no futuro. Podia ler o pensamento das pessoas, antes mesmo que o

pensamento lhe entrasse na mente. Ele conhecia os eventos futuros, sabia tudo que estava acontecendo aqui

na terra, e o que era decretado no céu. Ele conhecia os mistérios de Gilgul [reencarnação], quem tinha nascido

previamente, e quem estava aqui pela primeira vez. Ele podia olhar para alguém e dizer-lhe como ele estava

conectado a D’us, e como estava relacionado a Adam. Podia ler coisas assombrosas [sobre as pessoas] à luz

de uma vela ou na chama de uma fogueira.

Com os olhos ele perscrutava e podia ver as almas dos justos, tanto aqueles que tinham morrido recentemente

quanto os que tinham vivido nos tempos antigos. Com estes ele estudou os verdadeiros mistérios. Pelo odor de

uma pessoa ele podia dizer tudo que ela tinha feito, uma habilidade que o Zohar atribui à sagrada Yenuka

[criança] (3:188a).

Era como se todos estes mistérios estivessem concentrados dentro dele, esperando para ser ativados sempre

que ele quisesse. Ele não precisava isolar-se para fazê-los aflorar. Tudo isso vimos com nossos próprios olhos.

Estas não são coisas que ouvimos de outros. Eram coisas maravilhosas que ainda não tinham sido vistas na

terra desde a época de Rabi Shimon bar Yochai.

Nada disso era conseguido por meio de magia, D’us não o permita. Há uma forte proibição contra estas artes.

Em vez disso, tudo vinha automaticamente, como resultado de sua santidade e ascetismo, após muitos anos de

estudo dos textos cabalistas antigos e novos. Ele então intensificou sua piedade, ascetismo, pureza e

santidade, até que atingiu um nível no qual Eliyahu constantemente se revelava a ele, falando-lhe "boca a

boca", ensinando-lhe estes mistérios. Isso é o que acontecia a Raavad, como declara Recanati.

Embora a profecia completa não exista mais, Ruach HaKodesh ainda está aqui, manifestada através de

Eliyahu. É como se Eliyahu HaNavi ensinasse seus alunos, comentando o versículo "Devora era uma profetisa"
(Shofetim 4:4). "Eu chamo céu e terra como testemunhas, que nenhum indivíduo, homem ou mulher, judeu ou

gentio, livre ou escravo, pode ter Ruach HaKodesh concedido sobre ele. Tudo depende de suas ações" (Rabi

Chayim Vital, introdução a Sha’ar HaHakdamot, impresso no início de todas as edições de Etz Chayim).

Rabi Yossef Caro


Biografia de Cabalistas – Parte 3

Rabi Yossef Caro – 5248-5335 (1488-1575)


Rabi Yossef Caro é mais conhecido como autor do Shulchan Aruch, o Código da Lei Judaica. Nasceu em

Toledo, Espanha, durante os anos da Inquisição, e fugiu daquele país aos 4 anos, juntamente com sua família e

milhares de judeus que foram banidos da Espanha em 5252 (1492). Sua família vagou de cidade em cidade, de

país em país, não encontrando um abrigo seguro, até que se estabeleceram em Constantinopla (Kushta) na

Turquia.

Yossef a princípio foi educado por seu pai, Rabi Ephraim, um erudito por direito próprio, que mais tarde foi

designado Rabino Chefe de Nikopol, Bulgária. Mais tarde Rabi Yossef citaria muitos ensinamentos que ouvira

do pai. Após o falecimento do seu pai, ele foi criado na casa do tio, Rabi Yitschac Caro, que o adotou como

filho. Ele logo percebeu que Yossef estava destinado a ser notável, e mesmo numa tenra idade era considerado

um grande sábio e muitos o procuravam em busca de regras haláchicas.

Ele finalmente se mudou de Constantinopla para Adrianople, onde desposou a filha de um erudito chamado

Rabi Chaim ibn Albalag. Ele logo estabeleceu um Bet Midrash em Adrianoplem, e aos 34 anos começou a

escrever seu monumental comentário Beit Yossef sobre todo o Arbaah Turim. Juntamente com sua assiduidade

no estudo de Torá, Rabi caro viveu uma espécie de vida ascética, de numerosos jejuns e autoflagelação. Foi

em Adrianople que ele conheceu o cabalista Rabi Shlomo Molcho, que foi queimado na estaca pela igreja por

suas "crenças hereges". Rabi Caro foi bastante afetado pela personalidade carismática de Rabi Shlomo e

chegou a expressar o desejo de morrer da mesma maneira – al Kidush Hashem (como um sagrado mártir). Foi

ali também que Rabi Yossef conheceu Rabi Shlomo Alkabetz, autor do hino místico Lecha Dodi. É possível que

um deles tenha introduzido Rabi Yossef no estudo da Cabalá. Depois do falecimento, ainda jovem, de sua

primeira esposa, ele casou-se com a filha de Rabi Yitschac Sabba. Por um breve período ele morou em

Nikopol, Bulgária, mas decidiu mudar-se para a Terra Santa, para poder imergir em sua santidade e completar

suas obras escritas.


De passagem por Salonica, ele conheceu o grande cabalista Rabi Yossef Taitazak. Continuou sua viagem para

a Terra Santa via Egito, e terminou por fixar-se em Safed. Ele foi logo designado como membro da corte

rabínica da cidade, no Beit Din do famoso Rabi Yaacov Beirav. Quando este último instituiu novamente a

semicha (ordenação rabínica oficial) que tinha estado suspensa por mais de 11 séculos, Rabi Yossef foi um dos

primeiros que ele ordenou. Aqui, também, Rabi Caro estabeleceu uma yeshivá e ensinou Torá a dezenas de

estudantes ávidos. Dentre os alunos mais famosos de Rabi Caro estavam o famoso darshan (sermonista) Rabi

Moshe Alshich, o cabalista Rabi Moshe Galanti e o renomado cabalista Rabi Moshe Cordovero (o Ramak).

Quando Rabi Yaacov Beirav, o sábio liderante de Safed, faleceu, Rabi Yossef Caro foi considerado seu

sucessor, e ele e Rabi Moshe de Trani (o Mabit) lideraram a Corte Rabínica de Safed. Na verdade, a essa

altura, a Corte Rabínica de Safed tinha se tornado a corte rabínica principal de toda Israel, e também da

Diáspora. Assim, não havia um único assunto de importância nacional ou global que não chegasse à atenção e

resolução do Beit Din de Safed. Suas leis eram aceitas como definitivas e conclusivas, e as decisões e

esclarecimentos haláchicos de Rabi Yossef eram procurados por sábios vindos de todos os cantos da Diáspora.

Ele chegou a ser registrado como líder de toda a geração.

Embora ele raramente tocasse em assuntos e costumes cabalistas em seus escritos legais, Rabi Yossef Caro

mesmo assim se envolveu com o estudo da Cabalea. Juntamente com seu amigo Rabi Shlomo Alkabetz, ele

começou a explicar algumas das passagens mais difíceis do Zohar. Em sua famosa obra cabalista Pardes

Rimonim, R. Moshe Cordovero cita diversos ensinamentos cabalistas inovadores de Rabi Caro, que era seu

mestre nos ensinamentos revelados da Torá. Num dramático testemunho, Rabi Shlomo Alkabetz declarou que

em Salonica, Rabi Yossef tornou-se um daqueles raros indivíduos que mereceram ser instruídos por um maguid

– um pregador itinerante que lhe revelou muitos dos ensinamentos cabalistas. O maguid exortou Rabi Yossef a

santificar-se e purificar-se, e ele revelou a ele eventos que ocorreriam no futuro. Deve-se registrar que em

Shaarei Kedusha, Rabi Chaim Vital explica que a visitação por um maguid é um forma de inspiração Divina

(Ruach HaKodesh). Os ensinamentos do maguid estão registrados em sua obra intitulada Maguid Meisharim,

embora o Chida (Rabi Chaim David Azulay) registre que somente a 50ª parte do manuscrito chegou a ser

publicada (veja Obras).

No entanto, em diversos locais em Maguid Meishatim é declarado que "Eu sou a Mishná que fala em sua boca",

indicando que a própria Torá Oral (da qual a Mishná é parte fundamental) falou com ele. (No entanto, essas

duas explicações não são necessariamente contraditórias – pelo mérito da Mishná que Rabi Caro revisava

constantemente, ele foi digno de ter um maguid). O maguid prometeu-lhe que ele teria o mérito de estabelecer-

se em Israel, e esta promessa foi cumprida. Outra promessa, que ele mereceria morrer como mártir santificando

o Nome de D’us como Rabi Shlomo Molcho tinha merecido, não ocorreu por um motivo não especificado.
Os ensinamentos cabalistas encontrados nas Meisharim Maguid de Rabi Yossef são no estilo da Cabalá de

Rabi Moshe Cordovero, em vez de no estilo de Rabi Yitschac Luria (o Arizal). Apesar disso, Rabi Chaim Vital, o

discípulo chefe do Arizal, louvou a grandeza de alma de Rabi Yossef, dizendo que brotava da alma do grande

Tanna Rabi Yehuda bar Ila’i e tinha afinidade com as almas de Rabi Shlomo ben Aderet (o Rashba), Rabi

Aharon HaLevi (o Raah) e Rabi Vidal de Toulouse, autor da Mishná Maguid, um importante comentário sobre a

Mishnê Torá de Maimônides. Em 5324 (1564 EC), a segunda esposa de Rabi Yossef, que tinha lhe dado seu

filho Shlomo, faleceu.Seguindo o dito dos Sábios, que um homem não deve viver sem uma esposa, ele casou-

se novamente, apesar da idade. Sua terceira mulher era a filha de Rabi Zecharia ben Shlomo Zavasil

Ashkenazi, um dos sábios de Jerusalém. Quando ele estava em sua 9ª década de vida, sua esposa lhe deu

outro filho, Yehuda. Rabi Yossef continuou a preocupar-se com o estudo de Torá e a escrever obras

importantes, cumprindo suas obrigações como líder da Corte Rabínica em Safed, até o fim de sua vida

extremamente produtiva.

Ele passou para o Mundo da Verdade a 13 de Nissan de 5335 (1575 EC), aos 87 anos. Sua perda foi pranteada

por todo o mundo judaico. O autor de Shenei Luchot HaBrit, Rabi Yeshayahu Horowitz, 5320-5390 (1560-1630),

o Shelah HaKadosh, escreve que numa noite de sexta-feira, Rosh Chodesh Cheshvan de 5365 (1605), Rabi

Yossef, trinta anos após o seu falecimento, apareceu num sonho para um certo sábio que morava em Safed.

Ele relatou que viu Rabi Yossef "sentando num trono majestoso na presença de incontáveis rabinos de fama

mundial. Seu rosto reluzia como o brilho do céu…e ele ensinava as meditações aplicáveis à kedushá."

Rabi Yehuda bar Ilai


Biografia de Cabalistas – Parte 4

Rabi Yehuda bar Ilai

Muitos dos grandes Sábios eram sustentados por "mesas" espirituais ricamente guarnecidas com as iguarias mais

refinadas, ao passo que suas mesas físicas estavam quase vazias. Um destes Sábios foi Rabi Yehuda bar Ilai, que

viveu na época do nasi (príncipe) Rabi Shimon ben Gamliel. Ele não dava importância ao fato de comer apenas os

alimentos mais simples, ou que lhe faltasse o que vestir. Seu estudo de Torá era suficiente para nutri-lo, a tal ponto

que ele reluzia de felicidade e saúde.

Certa vez ele estava estudando com seu professor Rabi Tarfon, quando este observou surpreso: "Por que hoje seu

rosto está reluzindo como ouro?" Rabi Yehuda respondeu: "Ontem seus criados serviram teradim (um tipo de carne
não muito caro) para comermos, e estava delicioso e saudável. Embora tivéssemos de comer sem sal, pois não havia

dinheiro para comprá-lo, estava bom. Se tivesse sido possível comprar o sal, os teradim teriam sido ainda mais

saborosos, e nossa aparência seria ainda melhor."

Rabi Yehuda jamais se vestia da maneira nobre que convém a uma pessoa de sua estatura. Na verdade, ele não

possuía qualquer roupa quente. Um dia sua esposa conseguiu comprar um pouco de lã de não tão boa qualidade por

um preço baixo. Ela a fiou e transformou em tecido. Com este material, fez uma túnica solta que podia ser usada

como capa. Ela até a enfeitou com bordados, para dar uma aparência mais refinada, como convinha ao seu ilustre

marido. Como este tipo de veste era usado, naquela época, tanto por homens quanto por mulheres, Rabi Yehuda e a

mulher o compartilhavam. Quando ela precisava ir até o mercado, vestia a capa; quando Rabi Yehuda ia para o salão

de estudos, era sua vez de usar o novo traje. Ele ficava, na verdade, tão contente por possuir este casaco quente

que compôs uma bênção especial a ser recitada antes de vesti-lo: "Bendito seja D’us que me embrulhou nesta capa."

Não era importante que o casaco fosse feito de lã grosseira, ou que outros possuíssem casacos de melhor qualidade

– Rabi Yehuda estava completamente satisfeito com o seu, e jamais prestava atenção aos outros.

Certa vez Rabi Shimon ben Gamliel declarou um dia de jejum público e oração devido a um problema que atingira a

comunidade judaica. Em dias como esse era costume que todos os Sábios se reunissem na residência do Nasi para

rezarem juntos. Desta vez, também, todos compareceram, com exceção de Rabi Yehuda bar Ilai. Acontece que

quando o dia de jejum foi proclamado, a esposa de Rabi Yehuda estava usando o casaco que pertencia aos dois.

Rabi Yehuda, não tendo o que vestir para se agasalhar, foi incapaz de fazer companhia aos colegas. Rabi Shimon

notou sua ausência com surpresa, e pediu aos outros Sábios que descobrissem o motivo para Rabi Yehuda não

comparecer. Eles explicaram ao Nasi que Rabi Yehuda não fora porque não tinha casaco. Quando o Nasi soube

disso, enviou um mensageiro com um belo casaco novo à casa de Rabi Yehuda. Quando o mensageiro chegou, Rabi

Yehuda estava sentado num capacho no chão, estudando Torá. "O Nasi enviou este casaco para o Rabi como

presente" – disse o mensageiro. "Ele solicita que Rabi Yehuda o vista e vá rezar com os outros Sábios."

Rabi Yehuda respondeu: "Não preciso de presente, pois já tenho um casaco, graças a D’us. Minha mulher voltará

logo, e então poderei ir à casa do Nasi. Não preciso de nada: como pode ver, sou bastante rico." E com estas

palavras ele levantou um canto do capacho sobre o qual estava sentado. Ali, reluzindo como fogo, estavam centenas

de dinares de ouro. O mensageiro ficou sem fala ao contemplar tamanha fortuna. Rabi Yehuda disse: "Veja, eu tenho

grandes riquezas se eu quiser, mas não desejo me beneficiar deste mundo mais do que o necessário." À medida que

ele falava, as moedas desapareceram, cumprindo o desejo que tinha expressado.


Rabi Yehuda viveu como sempre, na pobreza. Mas estava satisfeito com aquilo que tinha, e era um exemplo das

palavras dos Sábios:

"Quem é um homem rico? Aquele que está satisfeito com o seu quinhão."

Choni haMaagel
Biografia de Cabalistas – Parte 5

Choni haMaagel

Choni haMaagel foi solicitado a rezar por chuva, Ele desenhou um círculo e declarou: "Mestre do Universo! Veja

como Teus filhos se voltaram para mim! Juro pelo Teu grande Nome que não sairei daqui até que mostres Tua

misericórdia para eles!"

Naquele momento, caíram algumas gotas de chuva.

Choni exclamou: "Rezei por chuva suficiente para encher os poços e as valas!"

Começou a cair uma chuva torrencial do Céu. Choni então clamou: "Também não pedi este tipo de chuva! Rezei por

chuvas de bênçãos e favores."

Imediatamente, começou a cair o tipo certo de chuva. Rabi Shimon ben Shetach disse mais tarde: "Eu teria

excomungado qualquer outra pessoa, exceto você, Choni! O que posso fazer com você, que insultou o Todo

Poderoso para Ele fazer o que você quer, assim como um filho que insulta o pai mas consegue dele aquilo que

deseja?" (Taanit)

No chão no centro da área na frente do túmulo há um círculo que foi traçado em volta de duas pegadas. Isso é para

simbolizar o círculo que Choni desenhou em volta de si quando declarou que não se moveria até que D’us

concedesse misericórdia aos Seus filhos.

Segundo algumas opiniões, os netos de Choni também estão enterrados neste local. No decorrer dos anos tornou-se

costume oferecer preces pela chuva na frente do túmulo.


Benyamin HaTsadic
Biografia de Cabalistas – Parte 6

Benyamin HaTsadic

O túmulo de Benyamin é um dos mais coloridos de Tzfat, e também o mais agradável. Os tapetes orientais vermelho-

canela, écharpes decorativas pendendo nas paredes e um aparelho elétrico para servir uma bebida quente ao

visitante, tudo se combina para dar uma sensação calorosa.

O túmulo parece um tributo apropriado para este Sábio da Mishná, discípulo de Rabi Akiva. Foi sua doação altruísta

de seus próprios fundos pessoais que sustentaram uma pobre mulher e seus sete filhos.

O Tratado talmúdico "Bava Basra" relata esta saga dramática, levando o leitor moderno a quase mil anos atrás, até

os dias em que Benyamin HaTsadic era administrador do fundo de caridade comunitário.

"Parnasi!" – "Ajude no meu sustento!" foi a súplica comovente de uma mulher, quando ela abordou o tsadic.

Infelizmente, eram tempos de escassez. "Juro pelo nome do Templo Sagrado que não sobrou nada no fundo de

caridade" – disse Benyamin tristemente à mulher. [Naqueles dias, eles não juravam em Nome de D’us!].

Porém a mulher insistiu e contou a ele a sua provação, concluindo que se ele não a ajudasse, "uma mulher e seus

sete filhos morreriam de fome!" Tocado pela súplica, Benyamin ofereceu-lhe dinheiro de seus fundos pessoais.

Sua assistência abnegada ocorreu na terra mas, diz o Talmud, foi claramente notada nos céus. Anos depois, quando

Benyamin estava muito doente e perto da morte, um anjo ergueu-se nas cortes celestiais e argumentou em sua

intercessão: "Se uma pessoa salva uma vida, é como se tivesse salvado o mundo inteiro. Muito mais ele, que salvou

esta mulher e sete crianças. Como a vida de um homem assim pode ser tão abreviada?" O decreto foi revogado e 22

anos foram acrescentados à vida de Benyamin.

Uma versão mais curta dessa história está gravada no granito na lateral do túmulo de Benyamin, que se localiza a

poucos minutos do coração de Tzfat, uma quadra a sudeste da fábrica de café que é um marco da cidade, e bem em

frente a escola vocacional da cidade. O túmulo em si é identificável pelos estandartes coloridos esvoaçando com a

brisa sob um pavilhão novo de madeira. Há pouco tempo, um operário dava os últimos retoques nos sete degraus
que levam ao túmulo, que foram reconstruídos e alargados para tornar mais fácil a passagem.

No lado sul do túmulo há um quadro pendurado na parede, mostrando Rabi Shimon Bar Yochai enquanto estava

escondido em sua caverna por 13 anos, fugindo dos soldados romanos e escrevendo sua obra mais famosa que

explica os aspectos místicos da Torá, o Zohar.

Há prateleiras lotadas de livros sagrados, e toda sexta-feira à tarde um minyan reza no local, dando as boas vindas à

Rainha Shabat antes da maioria dos outros minyans de Tzfat.

Sua localização perto de uma estrada facilita o acesso, porém do outro lado da rua fica um espaço repleto de

árvores, o que proporciona um local pacífico para qualquer pessoa parar, rezar ou recitar Tehilim (Salmos).

É ensinado na Cabalá que embora a alma suba a níveis espirituais mais elevados quando se livra das restrições do

corpo, um certo nível ou aspecto da alma permanece no local de repouso do corpo. Diz-se ainda que um tsadic tem o

mérito de ajudar nossas preces pessoais a subirem mais alto. Quanto isso nos ensina sobre nossas ações neste

mundo e seu efeito nos mundos superiores!

E mais ainda, as grandes caixas de metal para tsedacá no túmulo de Benyamin – e sua história pessoal – nos

lembram da importância de fazer caridade.

Leib Baal HaYissurim


Biografia de Cabalistas – Parte 7

Leib Baal HaYissurim

Rabi Leib Baal HaYissurim foi discípulo do primeiro Rebe de Chabad. Ele foi para Eretz HaCodesh em 1798 e morou

em Tiberíades. Quando já estava idoso mudou-se para Szfat, onde faleceu e foi sepultado.

No seu leito de morte ele anunciou que se esforçaria para ajudar qualquer pessoa que fosse rezar pedindo ajuda no

seu local de repouso. Não se sabe por que ele é chamado o "Baal HaYissurim", "aquele que tem muito sofrimento".
Rabi Nachum Ish Gamzu
Biografia de Cabalistas – Parte 8

Rabi Nachum Ish Gamzu


Foi rabino de Rabi Akiva durante 22 anos. É chamado por este nome porque sempre usou a expressão: "E isso

também é para o bem." (em hebraico: ish gamzu = o homem (que diz) que é também…). E seu aluno Rabi

Akiva também dizia: "Tudo que D’us faz é para o bem."

Ele era chamado pelo título ‘Ish Gamzu’ – porque sempre que algo desagradável lhe acontecia, ele costumava

dizer: ‘Gam Zu le’Tová’, "Isto também é para o bem".

Os chachamim decidiram enviar especificamente Nachum Ish Gamzu ao Imperador com um presente – porque

ele estava acostumado com milagres (e eles perceberam os possíveis riscos que uma pessoa enfrentava neste

tipo de viagem a Roma). Ele chegou ao palácio do Imperador com uma caixa de terra, e não com as jóias e

pedras preciosas com as quais tinha iniciado a viagem – porque o dono da estalagem onde ele passara a noite

decidiu investigar o que a caixa continha enquanto ele dormia. Quando descobriu o que havia dentro, esvaziou-

a e substituiu o conteúdo anterior com terra do jardim.

Quando o Imperador viu que a caixa continha apenas terra, mandou aprisionar Nachum Ish Gamzu. Nachum

aceitou este fato com seu costumeiro ‘Gam Zu le’Tová’ – e um milagre aconteceu, na forma de uma visita de

Eliyahu HaNavi, que sugeriu ao Imperador que aquela deveria ser terra especial de Avraham, o pai dos judeus

que, durante a batalha contra os quatro reis, atirou terra neles, que se transformou em espadas (e palha que se

transformou em flechas).

Quando o Imperador tentou fazer aquilo com um inimigo que ele antes tinha considerado invencível, e este

debandou, ele libertou Nachum Ish Gamzu, encheu a caixa com jóias e pedras preciosas e enviou-o para casa

com honrarias.

Quando o dono da estalagem percebeu o que tinha acontecido – demoliu a casa e levou a poeira ao Imperador

como presente (pensando que toda a terra na sua propriedade era ‘terra milagrosa’). Porém, obviamente, nada

aconteceu com a terra, e o Imperador mandou matá-lo por zombar dele. Certa vez, quando ele estava viajando

para a casa do sogro com camelos carregados de alimentos, ele demorou muito a atender um homem pobre
que o abordou pedindo ajuda (talvez ele devesse ter descido do camelo, talvez devesse ter aberto os sacos de

comida, ou pedido a ele que esperasse enquanto descarregava os sacos), e o homem morreu antes que

tivesse a chance de receber ajuda. Ele então decretou que seus olhos, que não tiveram pena dos olhos do

pobre, ficassem cegos; suas mãos, que não tiveram pena das mãos do pobre, seriam cortadas e seus pés, que

não tiveram pena dos pés do pobre, seriam cortados fora. E ele não ficou satisfeito até acrescentar que todo

seu corpo deveria ficar coberto de furúnculos.

As pernas de Nachum Ish Gamzu foram colocadas em baldes de água – porque além de estar preso ao leito,

como suas mãos tinham sido amputadas ele não teria conseguido remover as formigas que caso contrário

teriam rastejado sobre seu corpo. Quando seus discípulos disseram angustiados: ‘Que infortúnio, vê-lo em tal

estado!’ – ele replicou ‘Seria infortúnio para mim, se vocês não me vissem neste estado!’

Quando seus discípulos planejaram retirar sua cama do apartamento precário em primeiro lugar e as vasilhas

depois – ele os instruiu a reverterem a ordem, porque sabia que, enquanto estivesse na casa, ela não

desabaria.

Rabi Moshe Cordovero


Biografia de Cabalistas – Parte 9

Rabi Moshe Cordovero – "O Ramak"

Um dos cabalistas mais notáveis de todos os tempos foi Rabi Moshe Cordovero. Mais conhecido como Ramak – um

acrônimo tirado das primeiras letras de seu título e nome – Rabi Moshe Cordovero. Embora não seja certo que o

próprio Ramak tenha nascido em Szfat, ele passou a maior parte da vida naquela cidade sagrada, o lar da Cabalá.

Nos aspectos revelados da Torá – o Talmud e obras associadas – o Ramak foi um estudante do renomado Rabi

Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch. O mestre elogiava muito o brilhantismo e vasto conhecimento de seu jovem

aluno. Ainda em tenra idade, ele já tinha adquirido reputação de gênio extraordinário. Além de seu conhecimento em

Cabalá, ele era erudito talmúdico e filósofo do mais alto nível, altamente respeitado nestes campos. Foi até mesmo

um dos quatro a receber a semichá, ordenação especial de Rabi Yaacov Beirav em 1538, juntamente com Rabi

Yossef Caro (professor de Lei Judaica de Cordovero), Moshe de Trani e Yossef Sagis, todos muito mais velhos e

mais conhecidos que o jovem prodígio de 18 anos.


Porém o principal interesse de Rabi Moshe era a sistematização da Cabalá, organizando-a numa estrutura filosófica.

Tão respeitado foi ele pelo seu esforço que foi o primeiro cabalista homenageado pela palavra "o" acrescentada

antes de suas iniciais, e até hoje é conhecido como "O RaMaK".

Em 1542, aos vinte anos, o Ramak escutou uma voz celestial insistindo com ele para estudar Cabalá com seu

cunhado, Rabi Shlomo Alkabetz (autor da prece Lechá Dodi, entoada para recepcionar o Shabat na noite de sexta-

feira). Ele foi assim iniciado nos mistérios do Zôhar, os ensinamentos do cabalista fundamental e sábio mishnaico,

Rabi Shimon bar Yochai. O jovem Ramak dominou completamente o texto. Isso não o satisfez, pois seus

ensinamentos muitas vezes são vagos, sem uma estrutura perceptível. Para esclarecê-los em sua própria mente, ele

começou a escrever dois livros. O primeiro foi Ohr Yakar ("A Luz Preciosa"), um volumoso comentário sobre o Zôhar.

O segundo, Pardes Rimonim, ("Pomar de Romãs"), completado em 1548, que assegurou sua reputação imortal. O

Pardes, como é conhecido, foi uma sistematização de todo o pensamento cabalista até aquela época. Especialmente

importante foi que o autor reconciliou muitos eruditos anteriores com os ensinamentos do Zôhar, demonstrando a

unidade essencial e base filosófica auto consistente da Cabalá.

Dois outros livros pelos quais o Ramak é conhecido são Tomer Devora, "A Palmeira de Debora" no qual ele utiliza os

conceitos cabalistas das sefirot (Atributos Divinos) para iluminar um sistema de moral e ética, e Ohr Ne’erá, uma

justificativa e insistência sobre a importância do estudo da Cabalá, e uma introdução aos seus métodos.

Por volta de 1550, o Ramak fundou uma Academia de Cabalá em Szfat, a qual liderou durante 20 anos, até seu

falecimento. Conta-se que o próprio Profeta Eliyahu revelou-se a ele. Dentre seus discípulos estavam muitos dos

luminares de Szfat, incluindo Rabi Eliyahu di Vidas, autor de Reshit Chochmá (Princípio da Sabedoria), e Rabi Chaim

Vital, que mais tarde se tornou anotador oficial e disseminador dos ensinamentos do "Santo Ari", Rabi Isaac Luria.

O grupo de místicos aderiu aos métodos do autor do Zôhar, e engajou-se em vários atos de penitência para trazer a

Redenção. Eles passavam longas horas nos campos meditando e rezando, e visitavam os túmulos de vários eruditos

de Mishná das proximidades. Quando o "Ari" chegou a Szfat, ele juntou-se a este grupo de cabalistas, comportando-

se com extremo recato, esperando ocultar sua grandeza.

Somente o Ramak com sua pura visão percebeu quem ele era.
Antes de seu falecimento em 1570, o Ramak disse:

"Logo deixarei esta terra. Porém, após meu falecimento, alguém virá me substituir. E embora muitas declarações

desta pessoa pareçam contradizer as minhas, não se oponham a ele e não discutam, pois eles brotam da mesma

fonte que os meus ensinamentos, e são absolutamente verdadeiros. Sua alma é uma centelha de Shimon bar

Yochai, e quem se opuser a ele se opõe à Shechiná (a Presença Divina).

"Qual é o seu nome?" perguntaram os discípulos.

"Não posso lhes dizer. A essa altura, ele não deseja que sua identidade seja conhecida. Isso, porém eu posso dizer:

Aquele que vir a nuvem que precederá meu corpo no meu funeral, este será meu sucessor."

Poucas semanas depois, aos 48 anos, a 23 de Tamuz de 5330 (1570), Rabi Moshe Cordovero foi receber sua

recompensa Celestial. Em sua eulogia, o Arizal declarou que Rabi Moshe foi tão puro que sua morte somente podia

ser atribuída ao pecado de Adam.

Abalada pela notícia desta grande perda, toda a comunidade se enlutou. No seu funeral, ao qual compareceram

todos os judeus de Szfat, foram recitados muitos panegíricos. Dentre os que falaram estava o Ari, que descreveu o

Ramak como totalmente livre de pecado.

Enquanto acompanhavam o Ramak em sua última jornada, todos choravam. Quando os carregadores de seu corpo

chegaram ao cemitério, continuaram caminhando um pouco, até chegarem a um determinado lugar. Então, voltando-

se para a multidão, eles disseram: "Nós o enterraremos aqui, ao lado dos maiores sábios de Israel."

No entanto, o Ari os deteve, gritando: "Não o enterrem aqui. A nuvem que o está precedendo continuou o seu

caminho. Certamente a nuvem vai indicar onde o Ramak deseja ser enterrado." Ao ouvir estas palavras, todos

ficaram estupefatos. Agora conheciam a identidade do seu novo líder. Naquele mesmo dia, a fama do Ari começou a

se espalhar, e muitos eruditos notáveis começaram a se agrupar ao redor dele.

O Ari viveu apenas mais dois anos, e foi levado deste mundo por uma peste que atingiu a cidade de Szfat em 1572.

Porém neste curto período, ele revolucionou o estudo da Cabalá. Foi o primeiro a explicar o conceito de tzimtzum

("contração" de D’us de Sua infinita luz para dar "lugar" à Criação) e muitos outros conceitos cabalistas. Como foi

previsto pelo Ramak, embora muitos dos ensinamentos do Ari parecessem contradizer aqueles de seu predecessor,

por fim todos perceberam que os dois realmente eram equivalentes.

Segundo o testemunho do Arizal, o suporte que levou o Ramak ao túmulo foi precedido por uma coluna de fogo.
Rabi Pinchas ben Yair
Biografia de Cabalistas – Parte 10

Rabi Pinchas ben Yair

Rabi Pinchas ben Yair era sogro de Rabi Shimon bar Yochai. A Guemará (Chulin 7) afirma que ele era extremamente

cuidadoso para não partilhar a refeição de alguém. Ele também se recusava a aceitar ajuda de outros. Certa vez ele

estava a caminho para resgatar um prisioneiro capturado (piyom shevuyim) – uma das mitsvot mais importantes –

quando chegou ao Rio Ginnai. Ele pediu ao rio que por favor, se abrisse, para que ele pudesse passar para o outro

lado. Depois que o rio se abriu para ele, ele então pediu para que se abrisse duas vezes mais para que os dois

outros que ele tinha encontrado também pudessem atravessar, e o rio obedeceu à sua ordem. Ao ouvir isso, Rabi

Yossi comentou: "Ele é ainda mais notável que Moshê, para quem o mar se abriu apenas uma vez." Quando seus

alunos certa vez lhe perguntaram se eles também poderiam decretar que a água se abrisse para eles, ele respondeu

que somente funcionaria se eles tivessem certeza de que jamais ofenderiam os sentimentos de outra pessoa, ou

feririam qualquer outra pessoa durante toda a sua vida. (Yerushalmi)

Quando Rabenu Hakadosh soube que Rabi Pinchas estava passando por perto, implorou a ele que fosse seu

convidado para uma refeição. Rabi Pinchas concordou com relutância, e Rabenu ficou muito contente. No entanto,

Rabi Pinchas disse a Rabenu que estava a caminho para cumprir uma importante mitsvá, e que portanto pararia na

volta. Ao retornar, ele notou uma mula selvagem branca em frente da casa do Rabenu e recusou-se a entrar, apesar

das súplicas e promessas de Rabenu, de que se livraria daquilo. Ele sentiu que este tipo de animal não poderia ser

mantido, pois pode causar grandes prejuízos aos outros.

Ele estava convencido de que todo problema que ocorrera era porque não tinha cumprido adequadamente as

mitsvot. Ele certa vez chegou a um local onde o povo reclamava que os ratos estavam causando grandes prejuízos,

comendo todo o cereal. Ele lhes disse que isso era porque eles não tinham dado o maassê correto sobre o grão.

Assim que eles corrigiram o problema e fizeram os maasserot adequados, os ratos pararam de comer o cereal. Em

outra ocasião, quando o povo reclamou que seus poços não estavam fornecendo água suficiente, ele lhes disse que

isso era um castigo por não cumprirem as mitsvot de trumot e maasserot. Assim que começaram a cumprir

corretamente as mitsvot, o suprimento de água chegou ao nível adequado.

Ele foi enterrado ao pé de uma colina em Tzfat. Há um minhag para circundar sua tumba sete vezes.
Rabi Benayahu ben Yehoyada
Biografia de Cabalistas – Parte 11

Rabi Benayahu ben Yehoyada

O túmulo hoje facilmente acessível do grande sábio e guerreiro da era davidiana, Benayahu ben Yehoyada no

subúrbio de Beriya, em Tzfat não foi sempre tão simples de achar. Na verdade, foi preciso ninguém menos que um

luminar, o santo Ari, para "sentir" que um determinado local onde ele passava com seus alunos há 500 anos nas

redondezas de Tzfat era de fato o local de repouso de Ben Yehoyada.

Benayahu foi considerado o guerreiro mais brilhante de sua época. Além disso, era alguém cujo extraordinário

conhecimento de Torá e virtudes o destinaram a se tornar líder do mais elevado corpo de Torá, o Sanhedrin. Ele

também tornou-se conselheiro chefe de David.

Fomos apresentados à heróica grandeza e integridade de Benayahu no Segundo Livro de Shmuel, especialmente no

capítulo 23, versículos 20-23. Eles se iniciam: "Benayahu, filho de yehoyada, filho de um homem valente (ben ish

chayil) grande em ações, de Kabzeel, ele derrotou os dois poderosos homens de Moab…"

Nossos sábios explicam:

"Filho de um homem valente" – A força e a coragem de Benayahu foram herdadas de seu pai. No entanto, a forma

escrita das três palavras é na verdade "Ben ish chai" – "o filho de um homem ainda vivo." Isso indica que Yehoyada,

além de ter sido um guerreiro valente, foi também um homem justo, pois os atos dos realmente justos vivem além de

sua existência física, dessa forma mantendo suas memórias vivas.

"Grande em ações" – grande em realizações militares, grande em seus atos de integridade. "Os dois poderosos

homens de Moab." Nossos rabinos declararam que ele não deixou ninguém como ele, nem no período do Primeiro

Templo nem no do Segundo. Além disso, no Zôhar (1:7a), está declarado: "Benayahu nunca se afastou das paredes

do coração de David. Jamais haverá uma separação entre eles."

"De Moab" – O Templo é aqui mencionado como "de Moab" porque Shelomô, que o construiu, era descendente de

Ruth, a Moabita.
Atualmente, muitos visitantes a Tzfat, bem como os moradores locais, se detêm um certo tempo ao visitar o túmulo

de Ben Yehoyada para se conectar num nível espiritual com a alma do homem por cujo mérito, afirma-se, tanto o

Primeiro quanto o Segundo Templo permaneceram de pé – um dos 36 homens justos encontrados em cada geração

em cujo mérito o próprio mundo existe. Rabi Yossef Chaim, o famoso Sábio e cabalista que foi Rabino chefe de

Bagdá por 50 anos (1859-1909), intitulado por seus livros pelas palavras dos versículos acima citados – "ben Ish

Chai", "Benayahu", "Ben Yehoyada" e "Rav Pe’alim" – porque ele se considerava uma encarnação de Benayahu.

Rabi Shimon bar Yochai


Rabi Shimon bar Yochai, um dos sábios mais importantes na história judaica, viveu há cerca de
1800 anos. Existem muitos ensinamentos em seu nome na Mishná, Guemará e Midrashim,
enquanto que o Zohar, a fonte fundamental da Cabalá, é construído ao redor das revelações de
Rabi Shimon ao seu círculo de amigos íntimos.

Durante as horas que antecederam seu falecimento, em Lag Baômer, ele revelou os segredos
mais "sublimes" da Torá para assegurar que este dia seria sempre uma ocasião de grande júbilo,
intocado pela tristeza por causa do período de Ômer e luto por ele. A importância fundamental do
Zohar no pensamento judaico e a peregrinação anual a Meron, em Lag Baômer, são testemunhos
de seu sucesso.

Elogios a Rabi Shimon bar Yochai

TALMUD
"Toda mulher que dá à luz um filho deve rezar para que ele cresça para ser como Rabi Shimon
bar Yochai. Bar Yochai está acostumado a milagres (acontecendo para ele).

MIDRASH
"Durante toda a sua vida, um arco-íris (que significa que o mundo merece punição) jamais foi
avistado."

ZOHAR
"Com um único laço estou ligado a D’us, unido a Ele, ardente…" Durante uma seca severa,
chegou uma delegação e pediu a ele que rezasse por chuva. Ele começou a leitura no versículo
"Honei ma tov…" ("Como é bom e agradável quando irmãos se sentam juntos…" - Tehilim 133).
Imediatamente, a chuva começou a cair. "Este dia (seu último Lag Baômer) eu revelei sagrados
mistérios nunca antes revelados… Vejo que D’us e todos os justos no céu concordam com isso…
e todos eles estão se rejubilando em meu (tempo de) júbilo."

Com este seu livro (Zohar), o povo judeu será redimido do exílio com misericórdia.

Rabi Yonaton ben Uziel


Rabi Yonaton ben Uziel

Rabi Yonaton ben Uziel

Yonatan ben Uziel viveu há 2.000 anos. Foi o mais notável dos alunos de Rabi Hilel. O Talmud (Sucá 28a) relata que

os pássaros que passavam acima de sua cabeça se queimavam com a luz do seu estudo de Torá!

Rabi Yonaton ben Uziel negligenciou casar-se, dedicando seu tempo neste mundo ao estudo de Torá. Muitas

pessoas acreditam que ele dedica seus esforços no Mundo Vindouro a ajudar almas gêmeas a se encontrarem.

Qualquer que seja o caso, os milhares que rezam no seu túmulo pedindo ajuda para encontrar a alma gêmea o

elegeram para este trabalho!

Conhecido por sua famosa Targum [Tradução] de Os Profetas, diz-se [Talmud, Meguilá 3a] que ele também

planejava escrever uma tradução-comentário sobre Os Escritos, mas foi impedido pelo Céu, para que não revelasse

os segredos da Redenção definitiva.

Rabi Chaim Vital (1620)


Rabi Chaim Vital foi inquestionavelmente o principal discípulo do Sagrado Arizal,

Rabi Isaac Luria, e seu mais destacado intérprete. O próprio Ari escreveu muito

pouco e aquilo que é comumente conhecido como “os escritos do Ari” foram na

verdade transcritos por Rabi Chaim.


O fluxo Divino vivenciado pelo Ari era tão avassalador que ele era incapaz de transmiti-lo por escrito. Como ele

próprio o expressou: “Quando começo a revelar um segredo de Torá a você o fluxo de conhecimento se

transforma numa poderosa torrente e procuro maneiras de abrir um pequeno canal que você seja capaz de

absorver.” Rabi Chaim Volozhin foi testemunha do fato de que quando mencionou o Ari ao Gaon de Vilna o

corpo inteiro do Gaon tremeu (hakdama l’sefer dtzinuata).

Segue-se uma citação do livro Petach Einayim Nedarim 22. “Quando um homem fala e expele hevel

(respiração) de sua boca – este sopro é sua força vital (chiyuso). A prova disso é que depois que a alma deixa o

corpo, nada resta nele, nem respiração nem fala. Portanto vemos que este sopro que sai de sua boca quando

ele fala é um chelek noshmaso (uma parte de sua alma). E portanto temos sido ordenados a não falar coisas

inúteis – o que causa a perda de parte da alma.” (Petach Einayim Nedarim 22, em nome de Rav Chaim Vital

zt’l).

Desmistificando a Cabalá
Mendy Hecht

O que é Cabalá?
Qual é a diferença entre Cabalá e o mercado de capitais?

Um é uma dimensão misteriosa, fora deste mundo, e o outro é uma disciplina simples, dinâmica e muito

abusada.

Cabalá é uma palavra hebraica que significa "recepção". É misticismo judaico, que Moshê recebeu de D’us, os

alunos de Moshê receberam dele, e assim sucessivamente no decorrer dos séculos. A Cabalá é a interpretação

espiritual de toda a Torá, a compreensão do funcionamento interior das coisas, do mundo, de D’us, da alma, da

Torá, e a vasta coleção de sabedoria oral e impressa que abrange e registra aquele conhecimento.

Não há um "Livro da Cabalá", mas há livros judaicos de Cabalá e sobre Cabalá. O mais conhecido é o Zohar,

escrito por Rabi Shimon Bar-Yochai de Israel no século II EC. É uma compilação de entendimentos cabalistas

sobre a Torá. Nos séculos seguintes, dezenas de livros foram escritos pelos alunos de Rabi Shimon, pelos

alunos dos alunos, e assim por diante, até hoje. Um verdadeiro estudante da Cabalá é chamado um mekubal,

que significa "recipiente" – alguém que recebeu os ensinamentos da Cabalá de seu mestre mekubal, voltando

até Rabi Shimon e mais além.


Por que há tantas pessoas estudando Cabalá hoje?
Posso estudar Cabalá também?
Mufasa, ou Frank?

Por que Disney escolheu dar o nome de Mufasa ao pai morto do Rei Leão, e não Frank – porque Mufasa

significa alguma coisa em algum obscuro dialeto africano? Talvez, mas aqui está o verdadeiro motivo: porque é

exótico, misterioso, místico e mágico, assim como o filme em si. Não somente o nome Frank não tem nada a

ver, como convenhamos, Frank é sem graça. Parece um peixe morto. Mas entoe MU-FA-SA lentamente, e sua

imaginação o leva até a África, carregado nas asas do mistério e da aventura. Eis por que "Cabalá" atrai as

pessoas: palavras exóticas, misteriosas e fora do comum sugerem coisas exóticas, misteriosas e fora do

comum. Pense sobre isso – o que atrairia mais o seu interesse: "espiritualidade" ou "Cabalá"? Deixe-me lhe dar

uma pista: não é espiritualidade.

O Fim está Perto!


Um motivo mais sério é simplesmente que o mundo está passando por uma revolução espiritual um tanto sem

sentido. As pessoas nunca tiveram mais conforto na história, mas na verdade desejam dar um fim nisso tudo.

As pessoas desejam uma autêntica experiência espiritual, e então se voltam para Deepak Chopra, feng shui,

meditação, e mais – tudo que pareça ser uma fonte de auto-aperfeiçoamento, profundidade e espiritualidade.

São os anos 60 se repetindo, mas de maneira antisséptica, profissional e via Web. A Cabalá se ajusta bem,

mas somente se você souber onde procurar, evitando…

Óleo de Cobra!
A verdadeira Cabalá tem sido muito confundida – ocasionando entidades como: proliferação de livros sobre o

assunto; cursos e "Centros" alegando ensinar "Cabalá" e; o crescente número de celebridades que estudam

aquilo que erradamente pensam ser o misticismo judaico (geralmente nos mesmos "Centros"). Evite tudo isso.

Como se pode separar o fato da ficção?


Para os principiantes, evite aqueles livros. Uma seleção de livros sobre Cabalá da Editora Barnes e Noble

parece a Cirurgia de Ponte de Safena para Leigos: ficção, escrita por um não-médico sobre não-Medicina.

Cursos e "Centros" são a mesma coisa: como a Cabalá é baseada na Torá, você não pode estudar nem avaliar

a Cabalá sem uma observância básica de Torá, assim como não pode andar pela rua e entrar num "Centro de

Ponte de Safena" se não estudou e praticou Medicina durante vários anos.

O verdadeiro misticismo judaico é inteiramente baseado na Torá, o guia prático do Judaísmo, e o estilo de vida

ali prescrito, e não em "atrair luzes para baixo".


Contrário à opinião pública, a Cabalá não é magia: não envolve rituais estranhos ou eventos sobrenaturais.

Também não tem nada a ver com psicologia pop. E certamente não lhe dará poderes psíquicos. Portanto, se

você deseja se tornar cabalista, pergunte-se: "Por quê?" É porque você gosta daquele lado mágico e místico?

Se for esse o caso, lembre-se que a Cabalá não é sobre efeitos especiais, e simplesmente se apega à

verdadeira Torá. Mas se você ainda deseja estudar Cabalá, faça uma visita eletrônica a inner.org.

É proibido estudar os livros cabalistas do Zôhar?


Não é proibido estudar o Zôhar, mas como é um estudo altamente complicado, e exige muitos pré-requisitos, é

preferível estudá-lo com um professor de confiança.

Conceitos Básicos: Cabalá e Chassidut


Perguntas e Respostas para Iniciantes
Por Rabino Yitzchak Ginsburgh

Quais Devem Ser Meus Objetivos?


O Baal Shem Tov entendeu que todas as almas possuem um senso da

existência de uma realidade mais profunda do que pode ser percebida pelos

cinco sentidos. A alma judia, em especial, está imbuída do desejo e da

necessidade de estar em contato com a dimensão invisível e oculta da realidade.

Com frequência, o universo material que encobre o mundo faz com que judeus

carreguem a ideia errônea de que é impossível atingir e se relacionar com a dimensão oculta da realidade. E,

como resultado, algumas pessoas apenas desistem, entorpecidas pela banalidade da existência física.

Entretanto, nossa era é testemunha para vários pesquisadores de que não são tão facilmente desviados dessa

fundamental necessidade da alma – procurar o significado oculto da vida e da realidade, procurar o próprio

D’us.

O aprendizado verdadeiro e sincero da Cabalá e da Chassidut autênticas levam a pessoa a dois simples

objetivos: primeiro, entender que D’us é tudo e tudo é D’us. Ele está em todo lugar – em cada aspecto de

nossas vidas. Nosso objetivo é descobrir D’us e nos conectarmos com ele em tudo o que fazemos. O segundo

objetivo é que pelo nosso aprendizado possamos difundir, ensinar e despertar outros nesse caminho.
Cada um de nós possui uma missão Divina – espalhar a Luz Divina para os cantos mais escuros do mundo.

Não importa a idade, sexo ou formação, cada pessoa foi trazida para que ela, de sua própria maneira,

transforme o mundo para melhor. Todo o objetivo do indivíduo deve ser o de fazer sua parte para transformar

este mundo em uma moradia Divina – repleta de amor, bondade, saúde, alegria e paz verdadeira.

Podem a Cabalá e a Chassidut Mudar Minha Vida?


A Cabalá é primeiro e, acima de tudo, o estudo do D’us Criador. Quando, com toda a sinceridade do coração,

nos aprofundamos nos mistérios e atributos Divinos, dia após dia, hora após hora, nada poderemos fazer a não

ser refinar nossas personalidades durante esse processo.

Esse processo é cíclico – quanto mais estudamos a Cabalá com a intenção apropriada, melhor entendemos as

manifestações de D’us no mundo e procuramos emular Suas qualidades. Quanto mais refinamos nosso caráter

na emulação de D’us, mais próximos ficamos da Presença Divina na criação e somos mais capazes de

entender a dimensão interior da realidade e experimentar D’us na criação.

Quando nossa alma se funde com a sabedoria mística, todo nosso padrão de vida é transformado – da

consciência de nossas almas, às emoções de nossos corações, a todo aspecto de nosso comportamento.

O estudo da Cabalá depende da devoção e desejo verdadeiros do coração do estudante. Isto é um pré-

requisito – o verdadeiro desejo do coração deve ser o de se aproximar de D’us. Além disso, depende da

revelação de Cima. Ao longo das gerações, mais e mais tem sido revelado. A revelação final – que depende de

quão verdadeiramente desejamos chegar próximo e nos unirmos a D’us – é a revelação profetizada para os

Dias de Mashiach, que acreditamos serem iminentes.

Como a Cabalá e a Chassidut Podem Tornar-se Parte da Minha Vida Diária?


A dimensão oculta da Torá é uma parte integral da Torá e seus mandamentos. De fato, é um aspecto da Torá:

o corpo da Torá sendo a lei e a alma da Torá sendo a Cabalá. Portanto, idealmente, estudantes sérios estudam

tanto a lei da Torá quanto a Cabalá simultaneamente.

Um corpo não pode viver sem uma alma. A alma é enviada de Cima para penetrar o corpo, para aderir, em

união, ao corpo no mistério da vida. Na Cabalá, a união do corpo e da alma é chamada Maasê Merkavá (“Os

Trabalhos da Carruagem”), e é considerado o mistério mais profundo da Torá. Para que possamos ter acesso a

esse segredo mais secreto, deve-se estudar tanto o corpo quanto a alma da Torá.

Existem, claro, períodos da vida quando enfatizamos um mais do que outro. Essas são questões pessoais e

particulares para a qual nenhuma regra deve ser delineada. Em geral, como para tudo, deve haver equilíbrio,
ponderação e união. Devemos nos devotar ao estudo das leis da Torá e à sabedoria e raciocínio por trás

dessas leis. Simultaneamente, para que encontremos D’us, Aquele que faz as leis, devemos nos aprofundar em

Seus ensinamentos. Aprender Torá reestrutura nossos processos de pensamento de acordo com a lógica

Divina inerente à Torá. Os padrões de pensamento e de referência inatos à Torá tornam-se assimilados em

nosso intelecto e refletido em nossa vida.

Em vez de se desenvolver de forma linear, como é comum na cultura ocidental, o estudo da Torá avança de

forma circular. Nós aprendemos e, então, revisamos de novo e de novo, cada vez adicionando uma nova e

mais profunda camada de conhecimento.

Nessa forma de estudo, a Torá Escrita, o Talmud, os códigos da Lei Judaica, e a parte esotérica, são vistos

como um todo abrangente e único. Nenhuma separação pode ser feita entre a dimensão legal do estudo e da

prática da Torá. Os textos da Lei Talmúdica estão unidos intrinsecamente com os ensinamentos místicos. Da

mesma forma, a Cabalá não pode ser estudada sem a devoção ao Talmud e seus comentários e aos códigos

legais.

Assim, o estudante das leis da Torá deverá perceber que uma dimensão oculta e mística existe mesmo nos

aspectos mais diminutos da observância da Torá. Por outro lado, um estudante estimulado pelo poder dos

ensinamentos místicos da Cabalá deve perceber que a expressão plena desses ensinamentos vem da

observância diária das leis da Torá e suas mitsvot.

Como Posso Saber Se a Fonte é Autêntica?


O verdadeiro estudo da Cabalá é o estudo de como ficar próximo a D’us e emular Seus Divinos atributos. No

estudo adequado da Cabalá e Chassidut, deve-se tentar prezar e identificar com a auto-anulação na presença

de D’us. Se uma pessoa ou instituição que pretende ensinar Cabalá lhe diz que você tem poderes espirituais

raros, ou promete a você tais poderes, esse é o primeiro sinal de que essa fonte não é autêntica.

Deve-se avaliar honestamente se o que se está procurando é D’us (a experiência da auto-anulação) ou se o

desejo é meramente por uma experiência que se origina em seu ego. A diferenciação básica entre a Cabala

autêntica e não-autêntica é como ela é representada: como “coisas” ou como auto-anulação na presença de

D’us.

D’us criou nosso mundo com amor. É Seu desejo que nos purifiquemos e retornemos a Ele com amor – sem

julgamentos ásperos, que Ele não o permita. Se uma pessoa ou instituição tenta manipular você com ameaças

de punição severa neste mundo ou no próximo, este é um outro indício de que esta fonte não é autêntica.
A mitsvá (“Mandamento”) de tsedacá, por exemplo, é considerada uma mitsvá abrangente da Torá e é um dos

pilares do judaísmo. Essa mitsvá inclui doar diretamente ao necessitado tanto quanto apoiar organizações que

ajudam outros materialmente e espiritualmente. Fazer doações para uma causa como essa dá, ao doador, o

mérito de participar em todas as boas ações e objetivos da organização. Em vários locais, também se costuma

dar caridade quando se consulta um Tsadik, sábio. Um verdadeiro sábio ou uma autêntica organização não se

relacionarão com uma pessoa de acordo com o volume de sua doação ou pela falta dela. Eles aceitarão cada

pessoa com paciência e carinho, com um verdadeiro desejo de ajudar ao próximo.

A Cabalá autêntica em nossa geração necessariamente começa com os pensamentos e profundo

discernimento da Chassidut. por intermédio do estudo da Chassidut, o desejo inato da alma judia de se tornar

única e próxima a D’us é despertada e revelada. Todas as curas e bênçãos vêm exclusivamente disso e de

nada mais.

Quem Pode Estudar Cabalá e Chassidut?


Idealmente, todas as pessoas devem ser capazes de estudar a Cabalá. Cabalá é a sabedoria interna da criação

que nos foi revelada por D’us para que nos aproximássemos D’Ele. De forma clara, D’us deseja que todos os

seres humanos se aproximem D’Ele tanto quanto possível. Assim, a Cabalá é importante para todos.

Dito isto, é importante esclarecer que cada um de nós deve estudar a Cabalá em seu próprio nível, o qual, ao

contrário da crença comum, pode não ter nada a ver com idade, sexo ou qualquer outra limitação imaginária.

Podem Não-Judeus Estudar Cabalá?


Uma vez que a Cabalá é parte da tradição judaica, é um fato erroneamente comum assumir que ela não tem

relação com os não-judeus. Entretanto, muito da Cabalá é pertinente a todos os seres humanos, uma vez que o

estudo da Cabalá desperta em todos os estudantes o desejo de adorar ao D’us Único, como comandado na

Torá para toda a humanidade.

A Torá antecipa que todo ser humano se torne um servo justo e exclusivo do D’us Único de Israel. Para um

não-judeu, isto significa tornar-se um gentio justo a menos que ele deseje avançar ainda mais e se converter ao

Judaísmo. Muito da Cabalá é pertinente à consciência dos gentios justos. A Cabalá e a Chassidut estimulam as

pessoas ao verdadeiro serviço a D’us, um mandamento relevante a toda humanidade. Para esse serviço, deve-

se ter em mente e experimentar as emoções do amor e temor a D’us, dois dos seis mandamentos constantes

do coração. Para que experimentemos essas emoções, precisamos ter informações e conteúdo meditativo. A

Chassidut nos ensina que não-judeus devem também meditar sobre aquelas verdades e profundezas da
realidade da Providência Divina no mundo que irão despertar seus corações ao serviço do D’us Único de Israel.

Essas seções da Cabalá são pré-requisitos para que os não-judeus se aproximem de D’us.

Os níveis da Luz Divina que são pertinentes ao estudo pelos não-judeus são os níveis explicitamente

essenciais da Divindade. Esse é o influxo da energia Divina que está presente no processo criativo. A Luz

Infinita de D’us é a transcendência absoluta. O propósito final da Chassidut é trazer a transcendência para a

perspectiva da essência. Até a chegada do Mashiach, isto ainda assim será um estado da consciência judaica.

Assim, um não-judeu deve aprender na Cabalá aqueles segredos da criação que o ajudem a apreciar e a se

tornarem conscientes da luz essencial de D’us na criação. Isto o leva mais próximo a D’us e aumenta seu

desejo de servi-Lo.

Claramente, para que os não-judeus estudem a Cabalá – a qual, afinal, é uma expressão intrínseca da fé

judaica – eles devem se identificar com o recebimento dessa sabedoria por meio do canal da Torá e do Povo

Judeu e a comprometerem a si próprios à adoração do D’us Único de Israel e a viverem de acordo com os sete

mandamentos dados por Ele a Noach para todos os povos.

Existe Alguma Limitação de Idade ou Sexo ao Estudo da Cabalá?


Mesmo havendo uma opinião de que não se deve começar o estudo da Cabalá até os 40 anos de idade, os

grandes mestres da Cabalá e da Chassidut não concordam com ela. Alguns dos grandes professores da

Cabalá – incluindo o Ari, o Rabbi Moshe Chaim Luzzatto (também conhecido como o Ramchal) e o Rebbe

Nachman de Breslov – não viveram até os 40 anos! A partir de pouca idade, eles começaram a estudar a

Cabalá. No Zohar, encontramos que um dos sinais da chegada do Mashiach será o estudo e a discussão da

Cabalá pelas crianças.

A Chassidut nos revela o drama da criação do universo por D’us. É como um jogo de esconde-esconde. Nesse

jogo de inspiração Divina, D’us esconde a Si próprio, mas Ele deseja que O procuremos. Ele nos promete que,

se O procurarmos com todo nosso coração e alma, poderemos, finalmente, encontrá-Lo.

Essa procura é o estudo da Cabalá. Ele pode começar no primeiro momento que a pessoa percebe que existe

mais neste mundo do que sua visão pode alcançar e isto pode acontecer em um estágio bem precoce da vida.

A razão pela qual algumas autoridades nos alertaram contra o estudo precoce da Cabalá foi pelos exemplos na

história judaica, alguns recentes, quando fenômenos muito negativos resultaram da má interpretação e do mau

uso da Cabalá. Por exemplo, cerca de 350 anos atrás, um judeu mal orientado, Shabbetai Tzvi, se

autoproclamou o Mashiach, baseando-se em interpretações equivocadas da Cabalá. Até que fosse provado ser
ele uma fraude, foi provocado um grande sofrimento material e espiritual sobre uma importante porção da

comunidade judaica da Europa.

Esta é uma das razões pelas quais o Ba’al Shem Tov revelou uma nova dimensão da Cabalá – a Chassidut. A

Chassidut expressa a Cabalá de uma forma acessível a toda alma, e isto exclui qualquer possibilidade de

interpretação errada. Assim, é altamente recomendável o estudo da Cabalá por intermédio da estrutura da

Chassidut. Quando a Cabalá é estudada dessa forma, o perigo não existe. Se não há perigo, também não

haverá barreira de idade ou outra limitação para o estudo da dimensão interna da Torá.

Certamente, o estudo da dimensão interna da Torá – Cabalá e Chassidut – ajuda a todas as pessoas a

cumprirem os “deveres do coração” – os seis mandamentos permanentes ordenados pela Torá, que incluem a

fé na Onipresença e Providência Divinas acima de tudo, além do amor e temor a D’us.

Esses mandamentos são relevantes aos homens, mulheres e crianças. Certamente, são a chave na educação

das crianças estarem relacionadas aos fundamentos do aperfeiçoamento do estado de consciência da pessoa.

Verdadeiras experiências de fé, amor e temor dependem de um processo meditativo, como explicado por

Maimônides – o grande filósofo Judeu e autor do Mishneh Torá (“Revisão da Torá”). Esta experiência nos

chega com o estudo da dimensão interna da Torá. Mesmo que Maimônides tenha vivido antes da revelação do

Zohar, estava claro para ele que se deve tentar acessar os segredos da criação. Isto é o que fortalece a fé em

D’us e desperta, no coração, as emoções de amor e temor.

Assim, se a Cabalá e a Chassidut forem estudadas em consideração ao cumprimento dos “deveres do

coração”, não haverá diferença entre homens e mulheres, pois esses mandamentos são igualmente pertinentes

a todos.

O estudo dos aspectos mais técnicos da Cabalá podem não produzir imediatamente as emoções de amor e

temor no coração. Entretanto, o mesmo não pode ser dito do estudo dos trabalhos Chassídicos. O Tanya,

( escrito pelo Rabbi Schneur Zalman de Liadi), por exemplo, traz para a terra as fórmulas abstratas e

frequentemente impenetráveis da Cabalá clássica e as traduz para os termos da experiência humana comum.

Certamente, o objetivo explícito dos trabalhos Chassídicos é despertar, no coração, as emoções de amor e

temor.

Obviamente, qualquer assunto deve ser estudado no nível ou grau de compreensão de cada estudante.

Existem infinitos níveis de compreensão. Deve-se iniciar no nível apropriado a ele e continuar a partir desse

ponto.
O Mapa da Sua Alma – A Árvore da Vida
Por Simon Jacobson

Em MLC, Meaningful Life Center

Your Soul Map – The Tree of Life

Segundo a Cabala, o espectro da experiência humana é dividido em sete emoções e qualidades. A sefirá

(também conhecida como a árvore da vida) resume as diferentes partes da sua vida emocional.

Os sete atributos emocionais são:

1 – Chessed – Amor, bondade, benevolência


O amor é o mais poderoso e necessário componente da vida. Amor é a origem e fundação de todas as

interações humanas. É tanto dar como receber. Permite-nos atingir acima e além de nós mesmos. Sentir outra

pessoa e permitir que aquela pessoa nos sinta. É a ferramenta com a qual aprendemos a sentir a realidade

mais elevada – D’us.

2 – Guevurá – Justiça, Disciplina, Restrição, Reverência


Se amor (chessed) é a base da expressão humana, disciplina (guevurá) é o canal através do qual expressamos

amor. Dá direção e foco à nossa vida e ao amor. Como uma lâmpada de laser, sua potência está no foco e

concentração de luz em uma direção, e não fachos de luz fragmentada dispersos em todas as direções

diferentes. Guevurá – disciplina e medida – concentra e dirige nossos esforços, nosso amor, nas direções

apropriadas. Outro aspecto de guevurá é respeito e reverência. Amor saudável exige respeito por aquele a

quem você ama.


3 – Tiferet – Beleza e harmonia; compaixão
Tiferet –compaixão mistura e harmoniza o amor transbordante de chessed com a disciplina da guevurá. Tiferet

possui esse poder ao introduzir uma terceira dimensão – a dimensão da verdade, que não é nem amor nem

disciplina e portanto, pode integrar os dois. A verdade é acessada através da falta de egoísmo; subindo acima

do seu ego e suas predisposições, permitindo que você entenda uma verdade mais elevada. A verdade dá a

você um quadro claro e objetivo das necessidades suas e dos outros. O desequilíbrio de amor e disciplina (e

portanto, qualquer distorção) é resultado de uma perspectiva subjetiva, isto é, limitada. Introduzir a verdade,

suspendendo preconceitos pessoais, permite que você expresse seus sentimentos (incluindo a síntese de

chessed e guevurá) na maneira mais saudável.

Essa qualidade dá a Tiferet seu nome, que significa BELEZA: mescla as diferentes cores de amor e disciplina, e

essa harmonia o torna lindo.

4 – Netzach – Resistência, Fortaleza, Ambição


Resistência e ambição formam uma combinação de determinação e tenacidade. É um equilíbrio de paciência,

persistência e coragem. Resistência é também ser confiável e respeitável, o que estabelece segurança e

comprometimento. Sem resistência, qualquer bom esforço ou intenção não tem chance de ser bem sucedido.

Resistência significa estar vivo, ser dirigido por metas saudáveis e produtivas. É a disposição para lutar por

aquilo em que você acredita, seguir até o fim. Sem esse comprometimento qualquer esforço permanece fraco e

vazio. É uma energia que vem de dentro e não para até atingir suas metas. Isso, obviamente, exige que a

resistência seja bem examinada para assegurar que é usada de maneira saudável e produtiva.

Pergunte a si mesmo: Como estou comprometido com meus valores? Quanto eu lutaria por eles? Sou

facilmente desviado? Que preço estou pronto a pagar pelas minhas crenças? Existe alguma verdade pela qual

eu estaria pronto a dar minha vida?

5 – Hod – Humildade, Esplendor


Se resistência é o engenho da vida, humildade é seu combustível. Assim como guevurá (disciplina) dá foco a

chessed (amor). Hod dá direção à netzach (resistência). Humildade é o parceiro silencioso da resistência. Sua

força está em seu silêncio. Seu esplendor está em seu repouso.

Humildade – e a resultante rendição – não deve ser confundida com fraqueza e falta de auto-estima. Humildade

é modéstia; é reconhecimento (da raiz da palavra hebraica “hoda’á”). É dizer “obrigado” a D'us. É reconhecer

claramente suas qualidades e forças e reconhecer que elas não são suas; foram dadas a você por D'us para

um propósito mais elevado que apenas satisfazer as suas necessidades. Humildade é modéstia; é reconhecer
como você é pequeno, o que permite que você entenda o quanto pode se tornar grande. E isso torna a

humildade formidável.

6 – Yessod – Vínculo, Alicerce


Vínculo é a suprema conexão emocional. Embora as primeiras cinco qualidades (amor, disciplina, compaixão,

tolerância e humildade) sejam interativas, elas ainda manifestam dualidade: o amante e o amado. A ênfase está

nos sentimentos do individuo, não necessariamente na mutualidade. O vínculo, por outro lado, é uma fusão

completa dos dois. Sem vínculo nenhum sentimento pode ser realmente percebido. Vínculo significa conectar;

não somente sentir pelo outro, mas estar apegado a ele. Não apenas um comprometimento, mas devoção total.

Cria um canal entre doador e receptor. O vínculo é eterno. Desenvolve uma união duradoura que vive para

sempre através do fruto perpétuo que gera.

Ele é a fundação da vida. A espinha emocional da psique humana. Toda pessoa precisa se vincular para

florescer e crescer. O vínculo entre mãe e filho; entre marido e mulher; entre irmãos e irmãs; entre amigos

chegados. É a afirmação: dá à pessoa o senso de pertencer; que “eu importo”, “sou significativo e importante”.

Estabelece confiança – em si mesmo e nos outros. Instila confiança. Sem vínculo e acalentação não podemos

entender e sermos nós mesmos.

7 – Malchut – Nobreza; soberania, liderança


Soberania – o último dos sete atributos – é diferente dos seis anteriores. É um estado de ser em vez de uma

atividade. Nobreza é uma expressão passiva de dignidade humana que nada tem de si exceto aquilo que

recebe das outras seis emoções. A verdadeira liderança é a arte do altruísmo; é apenas um reflexo de uma

vontade Mais Elevada. Por outro lado, malchut manifesta e realiza o caráter e majestade do espírito humano. É

a própria fibra daquilo que nos torna humanos.

Quando amor, disciplina, compaixão, tolerância e humildade são canalizados adequadamente na psique

através do vínculo, o resultado é malchut. O elo nos alimenta e permite que nossa soberania aflore e floresça.

Malchut é a receptividade a todas as emoções que são canalizadas através de Yessod.

Assim como você isola seus braços, quadris, ou cárdio com exercícios específicos, melhorar sua alma exige

isolar e flexionar diferentes músculos. O foco do MLC, Meaningful Life Center, é isolar músculos emocionais, e

ajudar você a desenvolver novas ferramentas para levar consigo em seu novo e melhorado “corpo” emocional.
A Cabalá da Cabalá

Alguns céticos perguntam: Onde na Torá – na Torá escrita – é feita referência ao espiritual, ao místico?

Um rabino muito devoto na verdade criticou-me certa vez por usar a palavra “espiritual” em minha palestras e

escritos. “Espiritual”, sugeriu ele, é um conceito alheio ao Judaísmo. Por que você está permitindo que os

ensinamentos de Torá sejam contaminados por ideias New Age, por essa… por esssssa coisa espiritual?!”

gaguejou ele, mal conseguindo pronunciar a palavra ‘espiritual’, como se fosse um anátema.

Outros já sugeriram que professores demais atualmente foram fisgados pelo “psicologicável”, e estão

substituindo pensamentos clássicos de Torá por frases modernas ou pelo menos acrescentando-as ao nosso

vocabulário, em vez de confiar na linguagem que sempre foi usada pelos rabinos e eruditos.

Certa vez um jovem, obviamente um sujeito educado em yeshivá, estava incomodado pelo fato de eu estar

ensinando “Cabalá”, como ele dizia, a pessoas com menos de quarenta anos de idade. “Não há uma clara

proibição de estudar Torá antes dos quarenta anos de idade?” contestou ele.

Respondi perguntando se ele recita Modê Ani com seus filhos pequenos. Uma prece matinal recitada ao

acordar. Nela você agradece a D'us por devolver sua alma após uma noite de sono. “É claro,” disse ele, que

ensino essa prece a meus filhos.” Continuei: “E o que você diz aos seu filho quando ele pergunta o que é

“nishmosi” (minha alma), onde minha alma foi durante o sono, e o que significa que minha alma está agora

sendo devolvida a mim – como você explica isso ao seu filho?’

Eu estava esperando que ele não me dissesse que seus filhos não fazem essas perguntas. Porque as crianças

fazem essas perguntas, e se não perguntarem há um problema. Qualquer pessoa que pense sobre essas

palavras tem de perguntar o que significa alma? Aonde ela vai, e como retorna.

“Você diz ao seu filho,” perguntei, “você terá de esperar até ter quarenta anos antes para eu poder explicar a

você o significado de uma alma (neshama)?…”


“E o que você diz ao seu filho quando ele recita a próxima prece, ‘Meu D'us, a alma que me deste é pura, Tua a

criaste, Tu a formaste, Tu a sopraste em mim, e Tu a preservas dentro de mim.”?

Alguém sugere que não devemos entender o significado de nossas preces até completarmos 40 anos? E “diga-

me, meu amigo, se não entendermos o que rezamos durante 40 anos, conseguiremos, ou estaremos

interessados, em entender o significado quando chegarmos aos 40?!”

Expliquei a ele e à classe que a proibição de estudar Cabalá (mesmo que se aplique atualmente – o que exige

uma discussão por si mesma) certamente não se aplica a explicar o significado de uma alma aos nossos filhos

e a nós mesmos!

O alicerce básico de toda a Torá é que D'us criou o universo (o primeiro versículo em Bereshit) e deu à raça

humana leis pelas quais viver. A Torá é baseada no fato de que temos um relacionamento com D'us e temos de

cultivar esse relacionamento; ‘conhecer D'us, amar a D'us e ficar em reverência perante D'us” – são todas

mitsvot da Torá, obrigações que todo homem, mulher e criança têm de cumprir (não com a idade… de 40, mas)

a partir do bar/bat mitsvá, e a educação para esse relacionamento começa desde a mais tenra idade, a partir do

nascimento e até mesmo antes.

Não, a espiritualidade não é um conceito alheio ao Judaísmo; é a essência de toda a Torá. Estabelecer um

relacionamento entre o mundano e o Divino é construir uma ponte entre céu e terra – o material e o espiritual –

infundindo nossa vida física com a energia Divina. “Ruchnius” é a palavra em hebraico para espiritualidade; a

Torá inteira e as mitsvot foram dadas para trazer paz ao mundo – paz entre matéria e espírito, para atingir o

domínio do espírito sobre a matéria (hagborot há’tzurah al há’chomer, nafsho ikker, v’gufo tofel – veja cap. 32

do Tanya).

Há duas dimensões neste processo, correspondendo às duas dimensões na Torá: O “corpo” da Torá – Talmud,

Halachá (lei) – ensina os trâmites Divinos sobre como levar nossa vida, os “ques” e os “quandos”. A “alma” da

Torá – o esotérico e o místico – nos ensina o espírito interior de todas as mitsvot. Como são necessários um

corpo e uma alma, a fusão dos dois cria uma unidade completa.

Fomos treinados e ensinados a não ensinar cabala por si mesma, mas para ensinar os fundamentos do

Judaísmo, o ABC que sempre foi conhecido pelos eruditos e líderes de Torá: ensinar sobre a alma e sua

conexão com D'us. Ensinar que a Torá não é apenas um corpo de leis, um conglomerado de tradição e história,

um documento de inspiração. A Torá é um rico texto espiritual que aborda os verdadeiros temas da vida. A Torá

é instrução (forma da palavra “horaá”), uma luz que ilumina os caminhos da vida, falando sobre todos os nossos
desafios – nosso sofrimento e júbilo, nossa infância e crescimento, nosso lar e nossa riqueza, vida e morte e

tudo que está no meio, acima ou abaixo.

O Judaísmo não é apenas uma cultura e uma religião; é um projeto abrangente – e sim, um projeto espiritual –

para a vida.

É por isso que a Torá ainda está conosco hoje. Não por ser mais uma constituição de lei, mas porque encerra a

eternidade do Divino, o espiritual e sublime, que trancende as vicissitudes de tempo e espaço. Eterna, porém

sempre profundamente relevante e atemporal.

Na verdade, este é um dos maiores desafios que enfrentamos hoje: como sentir a Torá relevante em nossa

vida. Como aplicar os ensinamentos de Torá numa maneira que ressoe e seja indispensável para nós.

Mas afinal, após tantas discussões sobre as aplicações psico-espirituais do pensamento de Torá, onde há

referência na Torá a estas dimensões místicas e psicológicas?

Um dos locais proeminentes na porção dessa semana Vayerá ´´que ela inicia com as palavras de D'us a

Moshê:

“Eu sou D'us (Y-H-V-H). Eu Me revelei a Avraham, Yitschac e Yaacov, pelo nome de El Sha-dai, mas Meu

nome, Y-H-V-H, não tornei conhecido a eles.”

Qual é a diferenca entre “El Sha-dai” e “Y-H-V-H”? E o nome Y-H-V-H não é mencionado antes quando D'us

aparece aos Patriarcas?

Esses níveis diferentes de revelação Divina são obviamente místicos e espirituais por definição. e somente

podem ser corretamente entendidos naquele contexto.

Até mesmo Rashi, o clássico comentarista de Torá, que explica o versículo segundo pshat (a interpretação

literal), comenta aqui que D'us está dizendo a Moshê: “Eu não revelei Minha verdade quintessencial”,

representada pelo nome Divino Y-H-V-H, aos Patriarcas.

O que temos aqui são claramente diferentes expressões espirituais do Divino. A verdade quintessencial de D'us

expressa em Y-H-V-H em contraste com o nome El Shadai representa uma manifestação mais limitada da

expressão de D'us.

O notável erudito de Torá e cabalista Rabi Menachem Emnuel Ezariah de Pano (1548-1620) e o Shaloh (1565-

1630) explicam que a Torá essencialmente “fala sobre aquilo que está acima [o espiritual] e alude ao que está

baixo [o físico].” Em outras palavras, a Torá é um documento espiritual que “fala em linguagem humana”. Isso
não significa que o versículo não deva ser tomado literalmente (temos o axioma que “ayn mikra yotsei mi’dei

pehsuto”), mas que o radical e fonte do literal está no sublime. Ou como escreve Nachmânides (o Ramban): “A

Torá inteira são nomes de D'us.”

Portanto não deveria ser surpresa que haja muitas referências diretas na Torá ao espiritual, começando com a

primeira descrição do ser humano, “criado à imagem de D'us”.Singular na porção dessa semana da Torá é o

fato de que temos um vislumbre direto dos nomes Divinos, as diferentes manifestações da energia Divina, que

geralmente está oculta em outras partes da Torá (embora toda a Torá sejam ‘nomes de D'us”).

Em resumo:

Hoje mais do que nunca estamos em desesperada necessidade da aplicação psico-espiritual da Torá a fim de

demonstrar sua relevância pessoal. O comprometimento religioso deve ser vivenciado não de cor, mas com

renovada vitalidade a cada dia. Isso somente é possível se permitirmos que nossas almas experimentem a

tradição com uma profunda espiritualidade, e não apenas presas ao ritual mecânico de nossos corpos.

E essa espiritualidade não é apenas o domínio do buscador espiritual. Cada um de nós tem a obrigação de

infundir nossos rituais com vida, paixão e vitalidade.

Que possamos todos fazer jus à interpretação do Maguid de Mezeritch de “v’chai bohem”, “e vocês viverão por

elas [pelas mitsvot] – vocês tornarão as mitsvot vivas…”


Música Cabalista
Por DovBer Pinson

Geralmente afirma-se que há dois estilos distintos de música. Vamos chamá-las, por conveniência, de "música

ocidental", a música que se origina da sociedade ocidental, e "não-ocidental", aquela derivada de outras

culturas, especialmente aquelas do Leste e da África. A música ocidental é geralmente reconhecível como

"música orientada para um objetivo". Isso significa que a música é narrativa em sua estrutura, consistindo de

uma série de "eventos" progressivos, por assim dizer. O ouvinte sente a progressão da música, e isso evoca

uma sensação de movimento dentro dele. Parece que a música tem uma destinação, e leva o ouvinte em sua

jornada.

A música não-ocidental é caracterizada por um prolongamento de uma única nota, ou um grupo seleto de sons

que continua num padrão estabelecido durante toda a melodia. Este tipo de música provoca um estado mais

contemplativo, evocando no ouvinte uma sensação atemporal e de espaço interior.

Apropriadamente, estes humores da música refletem a teosofia essencial dessas duas civilizações. No

Ocidente, a crença predominante é que a criação começou num período de tempo, pois o tempo é linear,

culminando num futuro: criação, revelação e finalmente redenção. Refletindo essa realidade, a música que o

Ocidente produz segue este padrão. Começa, atinge um ponto alto e chega ao clímax. Em contraste, no

Oriente, onde o tempo é visto como cíclico, sem início, meio e fim, sua música também é cíclica e repetitiva.

A Cabalá e os ensinamentos místicos judaicos, em certo nível, fundem estes dois tipos. Sim, a criação começou

em certo ponto no tempo, e o tempo em si foi criado; mesmo assim, a criação é contínua, momento a momento

de novo. Nada está meramente no passado, ou esperado puramente no futuro. Tudo está contido no eterno

presente. Assim, a música que a mística judaica produz, especialmente as canções dos chassidim conhecidas

como nigunim, refletem estes dois espectros musicais. Alguns nigunim são estruturados e progressivos, Estas

melodias são "sofisticadas" para o ouvido ocidental, consistindo de início, um corpo e um clímax. Há outros

nigunim formados pela repetição de sons únicos, individuais, com poucas palavras ou sem quaisquer palavras.
E alguns contém os dois.

Quando Nietzsche sugeriu que "o fogo mágico da música" deve ser encontrado em sua anti-racionalidade, e

aquilo que ele buscava na música era sua "irracionalidade extasiante", a mística judaica procura desvelar

dentro da música a sua transcendência. Talvez não a transcendência dentro da música em si, pois alguns

argumentam que a música nada mais é que "ar sonoro", ou como disse Leibniz, "aritmética inconsciente"; ao

contrário, a reação à música, a transcendência atingida à medida que se reage à música.

Uma melodia sem palavras – como grande parte da canção mística judaica, especialmente chassídica – é a

maneira pela qual dois indivíduos podem se comunicar num nível transcendente da alma. Qualquer falha no

modo de comunicação verbal pode ser reparada criando-se um conduíte que transcende as palavras. Quando

uma pessoa se sente alienada de sua Fonte, ou de seu irmão o ser humano, uma melodia sem palavras que

existe num âmbito que desafia as distinções, separações e desarmonia, é o remédio mais adequado,

provocando uma unidade de almas.

Um Mundo...Perfeito!
Por Eli Hecht

O propósito do homem na Criação


Quando o homem foi criado ele ouviu: "Frutificai e multiplicai, e enchei a terra e subjugai-a; e dominai o peixes

do mar, a ave do céu e todo ser animal que se mova sobre a terra." (Bereshit 1:28). Ele foi instruído a continuar

com a criação.

No estudo da antiga filosofia judaica e da Cabalá aprendemos as seguintes Leis:


Existem quatro mundos ou ordens materiais distintos: mineral, vegetal, animal e humano. Cada qual tem

sentimentos, uma centelha Divina, ou alma. Cada mundo cumprimenta aquele que lhe é superior e o que lhe é

inferior. Cada criação é única e especial, criando um ciclo de vida simbiótico. O relacionamento é mutuamente

enriquecedor. À medida que um entra no outro, atinge o pleno enriquecimento e propósito.

O mineral é a base e alicerce da Terra. É inanimado, se comparado ao mundo vegetal. O mineral nutre a forma

mais elevada de vida, a vegetal. Faz isso ao fornecer a nutrição encontrada no solo. À medida que o vegetal

cresce, transfere a nutrição para uma forma visível, mais elevada. Quando a vida vegetal é consumida pela

próxima ordem, a animal, o vegetal deixa seu estado natural. A mudança que ocorre é o próprio ato de

transcendência. Não deve ser considerado um sacrifício. É a passagem para a centelha ou alma de um mundo

criado para um mundo superior. Dizemos que o vegetal transcendeu suas limitações.

Isso é verdadeiro para os três mundos inferiores distintos e para o gênero humano. Quando cada mundo

alimenta o mundo que lhe é superior, cumpre uma missão Divina. Serve seu propósito e se torna elevado.

Observando os quatro mundos, vemos os mundos inferiores sendo elevados a um nível mais alto.

A vida é o processo dos mundos se tornando integrados aos mundos mais elevados. Na ordem dos quatro

mundos, sabemos que o mineral é o maior em quantidade, mas o menor em qualidade. O gênero humano é o

maior em qualidade, mas o de menor quantidade. Há uma mensagem aqui. Como avaliamos a importância dos

mundos? Pela quantidade ou pela qualidade? Ambas são importantes e necessárias para complementar a

criação. Como isso acontece pode ser explicado pelo conceito a seguir.

O maior presente para o mineral inanimado é colocar em prática seu poder inerente de ser uma fonte para a

vida no próximo nível, o vegetal. Quando o vegetal cresce, recebendo nutrição do mineral inferior, eleva a alma

do inanimado. Em seguida vem o animal, o mundo a seguir. Este se alimenta do mundo vegetal, e também é

elevado, subindo um nível. Cada vida recebe uma oportunidade maior de crescer, sendo elevada, subindo a um

propósito mais alto.

Quando o homem come o animal, algo de maravilhoso acontece. A carne do animal se torna elevada à carne

do humano. O simples animal agora se torna parte do gênero humano. A humanidade agora tem mais energia

que nunca, para desempenhar melhor suas ações.


O que aconteceu foi a simbiose do inanimado para o vegetal e daí para o animal, culminando com a ordem

mais elevada, a espécie humana. Todos os mundos estão agora unidos, possuindo uma imensa energia

coletiva.

Aonde o homem vai com toda essa energia? Ele se esforça para ser bom e semelhante a D’us. Como declara a

Torá, o homem foi criado à imagem de D’us. Como o homem aspira a ser parecido com D’us, ele completa o

ciclo natural da vida. Faz isso elevando os três mundos inferiores e colocando em prática o propósito do homem

neste mundo.

Porém existem ocasiões em que ele não é semelhante a D’us. Por exemplo, se um homem mata um animal por

prazer egoísta, ou seja, sem necessidade ou propósito útil, é culpado de um crime hediondo. Ele destrói o

propósito de D’us para a criação. Não somente ele matou um animal; matou também o vegetal e além desse, o

mineral. Ao tirar a vida de um animal sem motivo, ele frustrou o plano Divino de ter um mundo equilibrado. O

homem não deve desperdiçar; não tem o direito de destruir coisa alguma.

A Cabalá declara que se um homem destrói um animal sem um motivo válido, é considerado inferior ao próprio

animal. O animal age como um animal. Este é seu destino. No entanto, quando o homem destrói, provoca uma

descida. É a antítese do ciclo da vida. Ele destrói seu propósito!

Nos escritos do Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, encontramos a seguinte declaração:

Diz-se a respeito do tempo vindouro: "Uma pedra gritará e um galho da árvore responderá." Profeta Habakuk

2:11. Atualmente, as criações inertes são mudas; embora sejam pisadas, permanecem em silêncio. Porém virá

um tempo em que a revelação do futuro se tornará realidade, e o inerte começará a falar, relatar e exigir: "Se o

homem estava caminhando sem pensar ou falar palavras de Torá ou espiritualidade, por que ele me pisou?" O

Rebe está dizendo que todas as coisas criadas e ordens têm sentimentos e propósito. No decorrer do século os

mestres da Cabalá têm ensinado estes conceitos. Aqueles que praticam a autêntica Cabalá repetem esta

mensagem.

Você poderia perguntar também se o homem tem o direito de fazer experimentos com animais? Não é algo

cruel a se fazer? A resposta é sim e não. Sim, você pode fazer experimentos e não, não é cruel.

Quando o animal dá sua vida – alma – para ajudar a humanidade, está sendo elevado. O animal está
transcendendo sua vida animal e entrando na vida humana. A centelha Divina que criou o animal agora ajuda a

humanidade.

Quando há uma necessidade de fazer experimentos com um animal, isso deve ser feito da maneira menos

indolor possível.

Com isso em mente, podemos ter uma fórmula para lidar com muitas questões de vida ou morte. Por exemplo,

como tratar a questão da clonagem? Podemos aplicar o acima como uma nova maneira de considerar a

clonagem.

Quando as células de um animal são clonadas para produzir um tipo especial de animal, então a clonagem está

sendo feita para elevar o animal a um nível mais alto. Imagine agora que o animal pode se tornar dois animais,

e ambos podem ser elevados a homem. Como seria bom ajudar a humanidade a atingir um nível mais elevado

de produtividade tendo um animal melhor e de mais qualidade! Isso pode até ser considerado parte do plano

Divino, mudar a alma do mineral para vegetal; do vegetal para animal, e o animal se reproduz e se torna uma

raça altamente especializada e suas almas são combinadas. Tudo isso acontecendo para ajudar a raça

humana. Os quatro mundos atingindo seu potencial mais elevado.

Sim, podemos ter o direito de criar e talvez até clonar animais. Isso não é diferente do passado, quando havia

clonagem e polinização cruzada de sementes encontradas no reino vegetal, produzindo uma colheita melhor e

mais sadia. O aumento das curas e espécies melhores são parte do grande plano para o homem ser

semelhante a D’us. Deve-se tornar as coisas cada vez melhores.

O gado pode ser clonado para produzir leite com proteínas humanas que possam tratar doenças genéticas. Os

porcos podem ser usados para transplantes humanos. Os animais podem ser clonados para o estudo de

distúrbios genéticos e curas.

Voltemos agora a uma pergunta atual. O que a religião pensa sobre a clonagem humana? A clonagem altera o

ciclo simbiótico da vida?

Acredito que a clonagem para seres humanos é inaceitável, porque os humanos não podem se elevar acima

de, ou transcender, outros seres humanos. Se e quando tentarmos clonar seres humanos, logo perceberemos

que estamos tentando alterar o homem, o que é errado. Não recebemos a liberdade de fazer esta mudança.
Não podemos mexer com o DNA de seres humanos para clonagem, pois não nos foi confiada esta missão.

Nossa tarefa é elevar os três mundos inferiores à humanidade e, ao fazê-lo, cumprimos nosso propósito Divino.

Clonar seres humanos é destruir o plano Divino para as relações simbióticas naturais dos quatro mundos da

vida. Tornar-se um ser humano mais elevado por meio da clonagem humana não é possível. Não há como

combinar ou elevar a alma a uma forma mais elevada. Isso não ocorre na ordem simbiótica. Os seres humanos

já atingiram seu nível mais elevado!

No entanto, devemos nos lembrar de um fato mais animador, de que não há uma maneira de um ser humano

elevar outros seres humanos a um nível mais alto, exceto usando a bondade e o poder intelectual do homem. A

energia da humanidade é utilizada para elevar aqueles sob ele, mas não aqueles paralelos a ele. Portanto, não

podemos transferir ou clonar a própria alma e a vida da humanidade. No entanto, nos mundos inferiores, nós

podemos. Elevamos uma alma a outra, e o espírito se funde com a vida mais elevada. Nos seres humanos

terminaríamos destruindo o processo de criação.

Temos a responsabilidade de elevar os mundos inferiores a um nível mais alto. Devemos mover as centelhas –

almas – dos inferiores para um ciclo de vida superior, mas não podemos mudar a centelha humana – a alma –

a um nível mais alto por intermédio da clonagem. Não podemos duplicar a obra de D’us. A única vez que a

clonagem foi permitida foi quando D’us tomou a costela de Adam e clonou uma mulher. "Façamos o homem"

não inclui clonar seres humanos.

Foi D’us quem disse: "Façamos o homem". Isso exclui o homem de fazer uma obra que não cabe a ele. "E com

a costela, que o Eterno tinha tirado do homem, Ele fez uma mulher, e a levou para o homem. E o homem disse:

‘Esta é agora carne de minha carne e sangue do meu sangue; ela será chamada Mulher, porque foi tirada do

Homem."

Segundo o ensinamento místico da Cabalá, os únicos motivos para a criação são dar ao homem uma chance

de ser parceiro no mundo de D’us. Como declara a Torá: O Homem é criado à imagem de D’us. Para o homem

ser um bom parceiro, ele precisa de todos os recursos do mundo. Portanto, D’us criou o mundo completo, e

somente então criou o homem, Seu assim-chamado parceiro, dando ao homem a oportunidade de escolher o

que lhe agradar.

A Cabalá explica também que tudo aquilo que o homem precisa, a maior parte D’us provê de graça ou com

pequeno esforço. O homem precisa de água, ar e pão. Infelizmente, o homem poluiu o ar e a água. Isso,
obviamente, não pode continuar, pois derrota o propósito da criação. O homem precisa trabalhar para manter a

criação num equilíbrio saudável. Ao prover a humanidade com tribunais de justiça, prática de respeito por todas

as formas de vida seja inorgânica, animal ou humana, então todos os elementos são preservados, e seu

propósito está sendo cumprido.

Ora, se o homem se sai bem no melhoramento do mundo, D’us fica contente com a criação, e o homem é

considerado um bom parceiro. Infelizmente, o homem nem sempre tem correspondido às expectativas de D’us.

Há ocasiões em que o homem tem sido um mau parceiro, abusando da confiança nele depositada. Quando o

homem não utiliza seus maravilhosos poderes Divinos, é seu fracasso que afeta a criação do mundo inteiro.

D’us confere a conta e vê se está ocorrendo uma parceria justa. D’us parece estar dizendo: Eu criei o mundo

inteiro para você, portanto você encontraria tudo que precisa para uma parceria – ora, o que você fez? Usou

sua parceria na maneira correta?

Tendo isso em mente, é fácil estar no controle de si mesmo. Pouco antes de agir, pergunte-se se está fazendo

as coisas melhores para o mundo, se está usando os poderes concedidos por D’us para ascender. Você tem o

poder de fazer as coisas acontecerem para um bom propósito.

Portanto, a humanidade é constantemente solicitada a reavaliar sua parceria. O homem tem o poder de

governar o mundo. É quem governa sobre a terra, o mar e o ar, e esta é sua tarefa. Deve agir em concordância

com as leis da transcendência e da harmonia.

Reconheça seu potencial e ponha em prática seu propósito Divino.

A Cabalá da Adolescência
Por Shifra Hendrie
Você se lembra como era ser adolescente? A raiva, a confusão, a rebeldia? A necessidade intensa de

expressar-se, mesmo que fosse em maneiras que fossem desagradáveis às pessoas em torno?

Ou talvez você tenha um filho adolescente. Talvez você tenha saudade dos dias em que ele ou ela era uma

criança dócil, obediente, querendo apenas ser exatamente como você.

Felizmente, a adolescência não dura para sempre. E na maioria dos casos, se você tiver valores bons e sólidos

que transmitiu com amor, seu adolescente passará por esta fase de conflito e sairá do outro lado como uma

pessoa que encherá você de orgulho.

Na verdade, ocorre muitas vezes que quanto mais problemas ele causa a você, mais probabilidades ele tem de

impressionar – e até surpreender você – mais tarde.

Isso porque, como o filho se afasta temporariamente de sua orientação, do seu domínio – sua "luz", por assim

dizer – ele começa a questionar, a olhar dentro de si mesmo procurando respostas, a explorar os próprios

sentimentos e a expressar-se de dentro para fora. De uma maneira caótica, tola, até destrutiva às vezes, ele

começa a manifestar seu poder inato de pensar os próprios pensamentos, chegar às próprias conclusões,

escolher as próprias metas e tomar suas próprias decisões.

E ao fazê-lo, ele começa lentamente a experimentar um senso de si mesmo, sem o qual ele permaneceria para

sempre uma criança – alguém menor que dependente de você.

Por mais difícil que seja isso, é um estágio necessário na evolução de um ser humano autêntico. Uma criança

pequena, por mais doce, preciosa e adorável que seja, em grande parte é um reflexo dos pais. Aquilo que você

pensa, ela pensa. Aquilo em que você acredita, ela acredita. Como a lua, ela pode ser adorável, mas é um

refletor. Você declara, e ela acredita. Você decide, e ela aceita. Você dá, e ela toma.

Como seres humanos, criados à imagem do Criador, nosso destino não é, em última análise, sermos luas.

Fomos criados não para simplesmente refletir, mas para brilhar. Estamos destinados a nos tornar sóis, a

oferecermos nosso "algo" único ao todo da Criação. Porém a transição entre refletir e brilhar, entre lua e sol,

não é suave e linear. Não há progressão lógica de um estado de ser para o outro.

Por este motivo, essa transição exige aquilo que é freqüentemente conhecido como transformação – um salto

de um estado de ser para outro, completamente diferente. E quando se trata de transformação, a regra é esta:

para subir, primeiro você deve descer. Se você deseja tornar-se algo novo, deve primeiro deixar de ser aquilo
que era antes.

Às vezes este processo é fácil. Às vezes as trevas da transição entre o velho e o novo são quase

imperceptíveis. E às vezes a escuridão é tão intensa que parece não haver luz alguma. Quando este é o caso,

significa que você deve ir mais profundo, mais longe dentro de si mesmo, para encontrar um nível de luz e

poder que nunca tinha sentido antes.

Mas qualquer que seja o caso, o importante é isso: a escuridão não ocorre por si mesma. Ela não tem uma

realidade intrínseca, permanente. Está ali somente em nome da transformação – a luz diferente, bem maior –

que surgirá como resultado.

Procurando debaixo da luz

Há três anos perdi um irmão mais jovem para uma doença terrível e repentina. Meus estudos espirituais, que

tinham sido extremamente importantes e agradáveis para mim, se tornaram difíceis e dolorosos. Tudo que eu

podia me perguntar era: "Onde está D'us, e como Ele pôde fazer isto?"

Meu professor contou-me uma história que jamais esquecerei. Talvez você a tenha ouvido antes, embora

provavelmente noutro contexto. Eis aqui a história:

Dois homens saíram de uma festa e viram um terceiro homem agachado sob um poste de luz, procurando

alguma coisa.

"O que está procurando?" perguntaram eles.

"Meu relógio," respondeu o homem.

Dispostos a ajudá-lo na busca, eles perguntaram: "Onde exatamente o deixou cair?"

"Ali na frente," disse ele, apontando a distância.

"Então por que está procurando aqui?" um dos homens indagou confuso.

"Porque ali está escuro," respondeu o homem.

A experiência da escuridão

Geralmente procuramos nossas respostas na luz – naquilo que já conhecemos, que podemos entender, onde

nos sentimos à vontade – i.e., naquilo que nos é familiar. Porém as verdadeiras respostas, aquelas que
realmente importam, geralmente não estão ali. Aquelas respostas, as que nos permitem ver ou ser algo que

antes não podíamos ver ou ser, estão "ali" – no local escuro.

Os desafios que levam à transformação não precisam necessariamente serem muito intensos. Podem ser

pequenos e triviais como uma conversa frustrante, sentimentos de mágoa, um desapontamento no trabalho, ou

uma conta inesperada. Estas coisas podem certamente ser usadas como um ímpeto para nosso crescimento e

expansão, para aprender coisas novas e tentar novas maneiras de ser.

Ou a escuridão pode ser, D'us não o permita, enorme e incompreensível.

Mas qualquer que seja o caso, se você procurar as respostas apenas onde há luz – nos locais que conhece,

nos hábitos que o deixam à vontade, nos paradigmas que já tem – é quase certo que jamais chegará muito

mais longe de onde está agora.

Mas se em vez disso você estiver disposto a lidar com o desconforto do desconhecido, para chegar, mesmo em

momentos ocasionais, ao vasto mistério, poderá descobrir ali um potencial inteiramente novo, um novo

entendimento, um novo nível de luz. E esta luz, a luz que vem da escuridão, não brilha de fora para dentro,

brilha nas profundezas do seu coração, sua mente e sua alma – de dentro para fora.

O Processo Triplo

O triplo processo de transformação – da luz para a escuridão, a uma luz muito maior e mais interior – é um dos

pólos espirituais ao redor dos quais o mundo gira.

Na verdade, quando nossos antepassados, Adam e Eva, comeram da Árvore do Conhecimento e foram

exilados do Jardim do Éden, eles estavam seguindo este padrão.

No Jardim do Éden antes do pecado, tudo era belo. Tudo era sagrado. Não havia caos, rebelião nem trevas.

Adam e Eva, juntamente com tudo que havia no Jardim, simplesmente refletiam a intensa luz Divina da Criação.

Porém D'us colocou uma serpente no Jardim – uma serpente que seduziria nossos ancestrais e introduziria as

trevas, o mal e o exílio no paraíso deles. A serpente não apareceu ali por acidente. D'us incluiu

intencionalmente o potencial para a escuridão em Seu plano para a criação. E Ele o incluiu de tal maneira que
seria interiorizado – tornado uma parte de quem nós somos. Isso porque, para que você tenha o potencial de

transformar alguma coisa, ela precisa ser sua.

Quando D'us colocou a serpente no Jardim do Éden, Ele correu um grande risco. Sua opção de fazê-lo garantiu

que nós iríamos cair, que iríamos nos rebelar, e pecar. Ele nos deu um enorme desafio.

Porém ao mesmo tempo, Ele nos deu uma oportunidade ímpar – que não é compartilhada nem pelos anjos

mais elevados. Ele nos deu o poder de transformar todas as trevas do nosso mundo em luz. Ele nos deu o

poder de nos transformarmos de recipientes passivos de Sua luz em verdadeiros parceiros na Criação.

O Paradigma da Transformação:

Tudo Que Desce Deve Subir

A Cabalá chama esse processo de yeridá l'tzorech aliyá – uma "descida com o propósito da subida" que se

seguirá. É o padrão Divino através do qual ocorre toda transformação.

O simples crescimento não exige este processo triplo. É linear, natural, lógico e progressivo. Mas a

transformação, uma mudança essencial de um estado do ser para outro, sempre segue esse caminho, de uma

forma ou outra.

Eis como isso funciona:

No primeiro estágio do processo, há harmonia, um senso de união, luz. Tudo está funcionando perfeitamente.

Porém essa harmonia é superficial e portanto instável. Como o Jardim do Éden antes da queda, desde que as

circunstâncias estejam certas tudo parece bem. Porém o potencial para divisão e destruição está sempre ali;

apenas não foi concretizado ainda. Enquanto a luz brilhar, a escuridão será suprimida. Porém ainda existe em

potencial.

No segundo estágio a unidade se rompe e o potencial para a escuridão é concretizado. Há colapso e caos.

Como o Jardim do Éden depois da queda, como nosso adolescente rebelde que de repente rejeita os valores

dos pais e deseja "encontrar-se", aquilo que certa vez foi harmonioso se transforma em caos. Porém este caos

tem um propósito intrínseco. Está lá em prol do nível mais elevado de unidade que virá como conseqüência.

O estágio final é transformação. Como a fênix renascendo das cinzas, do caos surge uma unidade totalmente
nova e uma reluzente luz nova. E dessa vez ela é permanente.

Isso porque a luz agora não é mais imposta de fora, mas se tornou uma autêntica expressão daquilo que está lá

dentro. Uma vez que isso aconteça, simplesmente não há mais escuridão – não porque foi suprimida, mas

porque se transformou em luz.

Tornando-se parceiro da Criação

Este processo de transformação ocorre em níveis diferentes em todos os aspectos da vida. É também o

paradigma para a Criação como um todo.

Ao final do processo não obedeceremos a D'us apenas porque Ele sabe mais do que nós, porque Ele é

infinitamente maior, mais forte, e sagrado do que nós.

Em vez disso, faremos a vontade de D'us porque ela se tornou a nossa vontade. Em vez de sermos

simplesmente servos de D'us, ou mesmo Seus filhos, seremos Seus parceiros também, partilhando Sua

perspectiva, brilhando lado a lado.

Voltando ao nosso adolescente rebelde, quando ele completa este processo, seus valores, crenças e

compromissos não são mais meramente um reflexo daqueles de seus pais. Agora são seus. Neste estágio não

se trata mais de obediência. Em vez de obedecer aos pais, ele os entende, compartilha sua perspectiva e suas

metas, e melhor ainda, expressa-as em sua própria maneira, pessoal e única.

Adolescência global

Nosso mundo está chegando ao fim de seu longo período de adolescência. Isso porque muitos de nós somos

pesquisadores. É por isso que muitos de nós sonham com um mundo pacífico, harmonioso, bom e Divino, um

mundo de abundância, propósito e significado. Sem ao menos perceber isso, começamos a partilhar a visão do

nosso Criador.

Nosso conflito ainda não terminou por completo. Obviamente, precisamos crescer. Ainda estamos no processo

de nos tornarmos tudo aquilo que somos destinados a ser. Porém estamos chegando mais e mais perto do final

desse processo. E quando encontrarmos – encontrarmos totalmente – nossa própria luz interior, ela será nossa
para sempre. Não haverá mais conflito, porque quem devemos ser e quem genuinamente seremos, se tornarão

um e somente um.

É isso que D'us deseja de nós – e ainda mais importante, para nós. Nosso supremo destino não é

simplesmente submissão, inclinar a cabeça e fazer a coisa certa. Nós certamente faremos o que é correto, mas

de uma maneira que é infinitamente mais poderosa e significativa.

Estamos destinados – sempre estivemos – a abraçar totalmente nossa própria essência, sentir a Divindade não

somente do exterior, mas vinda de dentro. Na verdade, este é o propósito da Criação.

A Era da Transformação

Nessa época da história, estamos testemunhando o colapso de muitas das coisas que já acreditávamos

estabelecidas. Não importa se este colapso se expressa em nossa liderança, nossos valores, nossos filhos,

nossas comunidades, nosso ambiente, nosso senso de segurança, ou nossos sonhos, mas ele pode ser

tremendamente doloroso, assustador e confuso.

Porém esta escuridão, como sempre, está aqui por um motivo: estimular você a transformar, realizar seu

verdadeiro potencial, para tornar-se a pessoa que você realmente nasceu para ser. Esses tempos são

desafiantes. Porém jamais houve, em toda a história, uma oportunidade como essa que hoje se apresenta a

nós.

E essa oportunidade, este potencial para transformação, se expressa não apenas num sentido global, mas nos

próprios detalhes reais e tangíveis de sua vida pessoal.

Da próxima vez em que você se sentir bloqueado, frustrado ou desapontado, confrontado por um obstáculo ou

desafio – seja num relacionamento, trabalho ou qualquer outra área da vida, saiba que você está sendo

apresentado a uma Divina oportunidade para acessar seu poder latente de fazer a escuridão brilhar.

Talvez você tenha medo da escuridão – a vulnerabilidade, incerteza ou desconforto que quase sempre

acompanham a verdadeira mudança. Mas dessa vez, não pare ali. Em vez disso, pergunte-se o que você faria

se os seus medos não fossem um obstáculo.


Talvez você se comunicasse mais autenticamente com alguém que ama. Talvez tentasse entender o ponto de

vista de outra pessoa. Talvez você desse aquele telefonema que está adiando. Talvez você se matriculasse

naquele curso, se candidatasse àquele emprego, começasse aquele programa de exercícios, aprofundasse o

seu relacionamento com D'us, desse a alguém um abraço ou um sorriso, ou fosse o primeiro a pedir desculpas,

mesmo se não fosse o único a estar errado.

Este é o x da questão: a todo momento, você tem uma opção. Como o homem que perdeu o relógio, você pode

confinar sua busca ao espaço sob a luz, permanecendo limitado pelo seu passado, por aquilo que é seguro e

familiar. Ou, você pode aventurar-se até o desconhecido e e buscar, revelar a luz maior e o potencial que estão

ocultos no coração das trevas.

A escolha é sua.

A Cabalá do Casamento, uma Ideia


Maluca
Por Aron Moss

O casamento é um conceito bastante bizarro. Deve ter sido ideia de D'us. Quem mais poderia pensar num

plano estrambótico de juntar dois opostos e colocá-los sob o mesmo teto para compartilhar uma vida? E quem

mais poderia inventar uma instituição tão linda e poderosa como o casamento?

É extravagante – mas funciona. É exatamente sua extravagância que faz do casamento uma experiência

imperdível!

Um dos aspectos mais empolgantes do casamento é a descoberta das profundas diferenças entre homens e

mulheres, e aprender como eles se completam. Estas diferenças não são apenas biológicas. Em todo nível do
nosso ser – intelectual, emocional, psicológico e espiritual – homens e mulheres parecem ter vindo de

diferentes planetas. Não precisamos ser casados para perceber isso. Percebemos isso em nossos pais, irmãos,

em nossos amigos. Mas somente no casamento você começa a avaliar e apreciar essas diferenças. Aquilo de

que você zombava na sua irmã pode achar lindo na sua esposa; e as coisas que fizeram do seu irmão um

garotinho mimado podem transformar seu marido no homem que você ama.

Mas devemos perguntar: o que nos torna diferentes? É apenas o condicionamento social que faz de um homem

um homem e de uma mulher uma mulher, ou nascemos ambos dessa maneira? A masculinidade é um

hormônio, um sentimento, ou a maneira pela qual os homens são educados? As mulheres são treinadas para

serem femininas ou elas sabem fazer isso de maneira inata?

Há muitas teorias sobre o tema dos gêneros. Nas obras do misticismo judaico, ou Cabalá, a questão é tratada

de maneira extensa. A abordagem da Cabalá é tanto singular quanto revolucionária. Afirma que a fonte da

identidade macho/fêmea está além da natureza e da criação. É nossa própria alma, homens e mulheres têm

raízes de alma totalmente diferentes, e é por isso que são diferentes.

Em termos cabalistas, a alma dos homens vem do mundo de Divina transcendência; a alma das mulheres vem

do mundo de Divina imanência. Transcendência é a qualidade Divina de estar além; imanência é a igualmente

Divina qualidade de estar presente. Estes são os aspectos macho e fêmea do Divino, e estão refletidos no

homem e na mulher respectivamente aqui, no âmbito humano.

Embora cada indivíduo seja único e nem todos se encaixem em definições simplificadas, num sentido geral há

uma clara distinção entre posturas espirituais masculinas e femininas. Suas diversas fontes de alma se

traduzem em duas pessoas muito diferentes. Talvez isso possa ser expressado assim: os homens são almas

mais removidas; são programados para fornecer a direção no relacionamento.

As mulheres são almas mais envolvidas; elas têm a capacidade de trazer presença ao casamento. Isso se torna

claro quando contrastamos e analisamos as respectivas naturezas de homens e mulheres.

Existem determinadas situações nas quais este contraste se torna ainda mais óbvio e exagerado. Vejamos

alguns exemplos:

Sobre o casamento, Carine reclama que Mauricio não parece tão empolgado. Quando se trata de escolher o

cardápio, Mauricio diz a Carine que ela pode decidir sozinha – ele realmente não se importa se a salada é

servida com molho francês ou italiano. O esquema de cores fica totalmente a cargo dela, ele concordará com

qualquer coisa que ela goste, mesmo que seja malva (ele nem sabe bem que cor é esta). Carine se apressa
para ver como ficaram os convites, e seu marido nem se incomoda de olhar para eles. Quando ela os mostra ao

marido, ele nem percebe a marca d'água no papel que mostra seus nomes em caligrafia. Qualquer menção

sobre o casamento e ela é dominada pelo entusiasmo, enquanto ele ainda nem comprou um terno.

Mauricio não pode evitar isso. Não é que ele não esteja empolgado – ele está, à sua maneira. Ele está

empolgado por se casar, mas para ele casar nada tem a ver com cardápio ou decoração. É um evento – os

detalhes não o interessam. Mas para Carine, cada detalhe do casamento o torna mais especial e relevante. Em

cada detalhe está o selo da sua personalidade. Ela está envolvida. Ele está removido.

Outro exemplo:

Flavia e Marcelo acabaram de assistir a uma palestra de auto-ajuda. O orador falou durante uma hora e meia

sugerindo estratégias para melhorar a vida deles. Flavia está inspirada, pronta para começar a implementar

grandes mudanças em sua vida. Marcelo ainda está se perguntando quanto o orador recebe por participante.

Quando lhe perguntam o que achou do discurso, ele responde com palavras como "interessante", "bem

apresentado", "divertido" – todas avaliações impessoais e distantes. Flavia pode ou não mudar sua vida, mas

ela certamente pensou a respeito. Para Marcelo, as ideias foram boas, mas seria preciso tempo e grande

esforço para ele entender que aquelas ideias podem se aplicar também a ele. Marcelo está removido. Flavia

está envolvida.

Marcos e Tammy estão lendo juntos esse mesmo artigo. Só de olhar para o rosto de Tammy pode-se ver

exatamente o que ela está sentindo. Está furiosa. Todas essas generalizações e declarações doces sobre

homens e mulheres. Eu não me encaixo nesses estereótipos! Após três parágrafos ela se afasta. "Não consigo

ler essa droga", diz ela. Marcos, não escutando sua explosão nem percebendo sua partida, continua lendo. Seu

rosto quase não mostra reação – ele apenas ergue levemente as sobrancelhas. Termina o artigo, nem sequer

percebendo que este parágrafo foi escrito sobre ele, e segue adiante para olhar os anúncios, Talvez tenha

concordado com o artigo, talvez não. Você teria de perguntar a ele para descobrir. Marcos está removido.

Tammy está envolvida.

Tammy está certa. Não nos encaixamos todos nesses moldes. Na verdade, cada um tem elementos dos dois

gêneros – nosso lado masculino e feminino. Mas de maneira geral, há uma atitude feminina e uma masculina.

Genericamente, o homem é removido e distante. A mulher é envolvida e presente. Não há nada de errado com

qualquer uma das atitudes. Cada qual tem vantagens e desvantagens. Às vezes é bom ser removido. Quando

se trata de ver as coisas em contexto e fazer julgamentos, o distanciamento e a objetividade são essenciais.

Você apenas consegue ver as coisas como elas são quando permanece fora delas; se estiver envolvido não
pode mais ver o quadro como um todo. Esta é a força da alma masculina – a distância que proporciona a

objetividade.

Porém a objetividade também tem seu lado negativo. Você não chegará a lugar nenhum se permanecer à

margem da vida, como um espectador. Estar vivo e real significa se envolver, e para isso é preciso sair do

mundo da teoria e imergir no momento. É aí que entra o elemento feminino. É o seu senso de envolvimento e

presença que dá cor e personalidade à vida. É a mulher que torna a vida real e vibrante, que leva as coisas do

analítico ao experimental, da teoria à prática.

O casamento é a suprema parceria entre os dois mundos de imanência e transcendência. Quando cada

parceiro aprende a partilhar sua perspectiva única enquanto avalia e se conecta com a perspectiva paralela do

outro, marido e mulher se tornam um equilíbrio perfeito de universos complementares. O homem guia a mulher,

a mulher leva o homem. O homem dá a perspectiva, a mulher fornece a experiência. Um sem o outro é um

quadro incompleto. Juntos, eles formam uma unidade que tem o melhor dos dois mundos.

Com essa definição de masculino e feminino podemos entender duas antigas tradições judaicas.

Nos dias antes do casamento, é costume o noivo ser chamado à Torá na sinagoga, e a noiva imergir no micvê.

Na superfície estas duas atividades parecem estar a mundos de distância. Recitar bênçãos sobre um Rolo de

Torá e mergulhar numa piscina ritual dificilmente se assemelham. Por que práticas tão diferentes para homem e

mulher?

Talvez uma resposta seja que estes atos são uma forma de os noivos se conectarem a suas respectivas fontes

espirituais, de enfatizar e nutrir as contribuições únicas que cada parte levará ao futuro casamento. O homem

deve prover direção e estabilidade ao casamento, portanto ele se conecta à suprema fonte de direção e

estabilidade – a Torá. A mulher deve trazer vitalidade e experiência à união, portanto imerge nas águas da vida.

O dele é um ato teórico – uma leitura. O dela é um ato de total envolvimento – uma imersão. Ele se conectou

com a fonte de transcendência; ela, à fonte da imanência.

Não é um feito pequeno unir homem e mulher – dois opostos tão diversos como céu e terra, mente e coração,

teoria e prática. Nós nos preparamos ao mergulhar primeiro em nossas respectivas fontes espirituais – as

sagradas palavras da Torá e as águas sagradas do micvê.

Na chupá, a canópia de luz Divina, funde juntas as nossas almas como se fossem uma. Então, após o

casamento, temos uma vida inteira para aprender como trabalhar juntos e descobrir as maravilhas e belezas

dos dois mundos se tornando um só. Uma ideia bem louca. Bastante boa, também.
A Cabalá do Sevivon
Por Israel Rice

Você conhece as regras do sevivon? Você gira um pião com quatro letras hebraicas. Um Gimel ganha todo o

prêmio, com um Hei você pega a metade, Nun nada ganha e com um Shin você tem de pagar. Além do

significado cabalístico inerente por trás desse método, há a origem yidish prática. Gimel representa Gantz,

significando tudo. Hei é Halb, significa metade. Nun representa Nisht ou nada. E Shin é por Shtell arein, ou

coloque.

Estes são quatro formas básicas de ser, dependendo da pessoa, do seu período na vida, ou do dia em

particular. Todos nós temos nossos dias Gimel. É quando sentimos que tudo está indo bem e vai ficar

sensacional. (Já faz algum tempo, não?) Temos nossos dias Hei, quando as coisas estão indo mais ou menos

bem. Nun e Shin não precisam de explicação.

Porém cada uma dessas letras representa apenas uma face do sevivon – apenas um ângulo ou perspectiva do

todo.

O que as letras dizem? Qual é o “todo” do Sevivon? Nes Gadol Hayá Sham, “um grande milagre aconteceu ali”.

Isso se refere ao grande milagre de Chanucá que ocorreu na Terra Santa. A situação ali parecia difícil e sem

esperança. Eles estavam definitivamente tendo um dia Shin. O comprometimento de algumas pessoas mudou a

situação (como um sevivon) e provocou o milagre e a salvação de D'us.

Os Macabeus não se prenderam ao fato de que estavam sendo oprimidos e perseguidos. Eles se concentraram

no Gimel que estava no outro lado do Shin. E então agiram para criar um veículo para um milagre Divino.
É vital lembrar que qualquer que seja a letra que estamos tirando num determinado ponto da vida, tudo faz

parte de um sevivon. E aquele sevivon está nos dizendo que milagres acontecem. Podemos transformar as

situações sombrias da vida na luz brilhante da Menorá de Chanucá. Isso depende da nossa fé no plano de

D'us, e em nosso compromisso de criar um veículo para o milagre.

O Sevivon na Bíblia
Baseados neste tema encontramos uma fenomenal “coincidência” com essas quatro letras do Sevivon. O

primeiro lugar onde essas letras ocorrem como palavra na Torá é na Parashá de Vayigash (Bereshit 44-47,

sempre em proximidade com Chanucá), onde eles escrevem a palavra Goshna, que significa “para Goshen”.

O Patriarca Yaacov estava enviando seu filho, Yehuda, à cidade egípcia de Goshen, para estabelecer uma

casa de estudos, antes de Yaacov e toda sua família. Nosso patriarca estava consciente de que esta seria uma

assustadora descida ao exílio. Mas ele olhou para todas as letras do sevivon, e percebeu que ocultas no exílio

estão as sementes da redenção. O estudo deve continuar, especialmente no exílio. Enquanto pudermos reter a

informação Divina vital, o exílio não pode nos dominar. E nosso estudo e desempenho se tornam o veículo para

a suprema redenção.

Isto é semelhante à origem do sevivon. Segundo a tradição, durante os tempos de opressão grega o estudo de

Torá era proibido. Quando as crianças estavam estudando, tinham um sevivon por perto para tirá-lo e jogar

caso fossem descobertas. Naquele tempo, os estudantes podem ter pensado que o jogo era uma distração de

seu verdadeiro objetivo na vida. Mas na verdade, D'us oculta Seu semblante para atrair nosso compromisso e

conexão com Ele. Trata-se de revelar o Divino nos locais menos prováveis. É isso que é um milagre.

O sevivon foi a fórmula para atrair a verdade subjacente na alma judaica.

O Sevivon e Mashiach
Se você acrescentar a guematria (o valor numérico hebraico) das letras do sevivon, soma 358 (Nun=50 + Gimel

= 3 + Hei = 5 + Shin = 300, igual a 358). Este é o mesmo valor de Mashiach (Mem=40 + Shin=300 + Yud=10 e

Chet=8 = 358). Quando Mashiach vier, ele ensinará cada indivíduo como ver o propósito Divino em toda faceta

da vida. Até o tempo do exílio e trevas será iluminado.

O tigre, o elefante, e a Cabalá da


transformação
Por Shifra Hendrie

"O valor de um ser humano é determinado basicamente pela medida e pelo senso no qual ele atingiu a

libertação de si mesmo". (Albert Einstein)

Quem é você? Você é mãe, pai, filho, marido, esposa, amigo, médico, advogado, professor, homem de

negócios?

E que tipo de pessoa você é? Boa, ou talvez não tão boa? Inteligente ou estúpida, graciosa ou desajeitada? É

alguém talentoso, atrevido, covarde, destemido, medroso, articulado ou tímido? Gosta de aceitar novos riscos,

ou tem medo de tentar coisas novas? Gosta de botar tudo para fora, ou prefere se fechar como uma ostra?

Quaisquer que sejam suas respostas, certamente você tem um bom número de crenças e opiniões bem

definidas sobre si mesmo. E essas crenças e opiniões, sejam ou não expressas, limitam e definem você tão

seguramente como se fossem feitas de concreto e aço.

O tigre
Há alguns anos um magnífico tigre jovem foi importado da Índia e levado a um zoológico nos Estados Unidos.

Um habitat dispendioso e belo foi construído para ele, completo com quedas-d'água, árvores, rochas, vales e

cavernas. Enquanto o local estava sendo construído, o tigre ficou alojado numa pequena jaula temporária,

medindo uns cinco metros por cinco. Ele passava os dias percorrendo a jaula de um canto a outro. Esta gaiola

foi preparada originalmente para abrigar o animal somente por alguns dias ou semanas, mas as instalações

definitivas demoraram mais que o esperado, e o tigre permaneceu ali confinado durante vários meses. Quando

finalmente o habitat foi completado, a jaula foi levada até lá, aberta e removida. O tigre quase que

imediatamente voltou a dar os passos que dava dentro da jaula, cinco para um lado e cinco de volta. Não

precisava mais da jaula para limitá-lo e confiná-lo; porém esta jaula, que cercara o animal durante algum tempo,

tinha sido transplantada para a mente do tigre.

O elefante
Um mecanismo semelhante é familiar às pessoas que treinam elefantes. Quando o elefante é jovem e pequeno,

é acorrentado a algo grande e pesado; um tronco de árvore ou uma estaca forte. O elefante puxa e faz força,

mas não consegue livrar-se, e termina por desistir, confinando seus movimentos ao comprimento da corda.

Assim que isso acontece, a árvore pode ser substituída por uma pequena estaca. Agora o elefante pode puxá-

la num instante, sem esforço. Mas não o faz. A estaca, a corda, o confinamento se tornaram indelevelmente

associados na mente do elefante.

Isso lhe lembra alguma coisa?


Você já disse a si mesmo: "Não posso, simplesmente não sou desse tipo"? Se você respondeu "não", uma vez

ou outra todos fazem isso. Algumas pessoas não conseguem pular de pára-quedas. Outras não conseguem

manter a casa em ordem. Outras ainda não conseguem parar de comer ou beber demais. Algumas não

conseguem falar sobre seus próprios sentimentos. Algumas não conseguem se pôr a trabalhar, e outras

simplesmente não conseguem parar de trabalhar. E quase sempre pensamos saber, em qualquer determinada

área, se temos ou não aquilo que é necessário.

Assim como nossos amigos do Zoológico, as amarras que nos prendem são quase sempre mais grossas, mais

fortes e mais reais em nossa mente do que no mundo físico. A maneira pela qual reagimos às nossas crenças

sobre nós mesmos, sobre a vida, sobre outras pessoas, e aquilo que podemos e não podemos fazer não é

diferente da reação do tigre aos seus meses na gaiola, ou dos elefantes à sua corda.

Não começamos nossa vida com idéias fixas sobre quem somos e o que podemos ou não fazer, mas

começamos a desenvolvê-las logo, continuando a reforçá-las à medida que crescemos. Se você decide quando

é criança que suas idéias não são importantes, provavelmente no decorrer da vida continuará a agir com esta

crença, evitando partilhar suas idéias com outros, tendo assim pouca influência sobre as pessoas que o

cercam. Este padrão de comportamento, é claro, continuará a assegurar que pouquíssimas pessoas irão

procurar sua opinião ou conselho. reforçando ainda mais sua crença original.

Esta é uma definição de círculo vicioso. No entanto, lembre-se que isso não o torna incomum, Praticamente

todo ser humano, não importa o quanto sua criação foi funcional, tem algumas idéias fixas sobre quem é – e

quem não é.

A transformação
Porém a Cabalá explica esse fenômeno de uma maneira mais profunda.

Desde que fomos apanhados comendo da Árvore do Conhecimento no Jardim do Éden e exilados a um mundo

de sofrimento, morte e luta pela sobrevivência, nós seres humanos fomos imbuídos com sentimentos de medo,

insegurança, vergonha, culpa, timidez, fracasso e uma sensação de estarmos exilados de casa. Boa parte de

nossa vida consiste em tentar negar, superar ou compensar aqueles sentimentos. À primeira vista, isso parece

um problema enorme. Precisamos de muito tempo e esforço para lutar constantemente para superar nossas

falhas e temores. Porém na verdade, este evento importante, com todas suas conseqüências desafiadoras, não

é um problema nem um engano, e tem realmente um propósito Divino.

A Cabalá explica que D'us primeiro olhou na Torá e somente então criou o mundo. Isso significa que antes

mesmo de D'us criar o mundo, Ele previu todo o cenário no Jardim do Éden, incluindo o fruto proibido sendo
comido e o exílio que se seguiria. Por mais paradoxal que isso possa parecer, este cenário é na verdade

fundamental para a Criação em si.

Deixe-me explicar:

Parte da intenção na Criação é que não devemos permanecer como recipientes passivos da grandeza de D'us.

Ao contrário, D'us nos deu o maior de todos os presentes – o potencial de nos tornarmos parceiros na Criação.

Este é um dom que não foi concedido nem aos anjos mais sagrados, mas foi reservado para nós,

especificamente porque somos almas em corpos físicos, encerrados em nosso senso fixo e limitado de quem

somos e do que é possível para nós. Somente porque somos finitos e desconectados da verdade, temos a

capacidade de exercer o libre arbítrio. E apenas aqueles que são dotados de livre arbítrio têm o poder de criar

algo novo, de transformar a escuridão em luz.

A infância é intencionalmente projetada para reativar e dar um toque pessoal aos estados emocionais

limitadores que foram gravados na psique humana durante o exílio do Jardim.

Sua experiência pessoal e predisposições se combinam para criar sua identidade baseada no ego; sua pessoa.

Esta parte de você conta histórias, dá opiniões, faz julgamentos, tem reações, e está programada para reforçar

e defender-se exatamente dessas maneiras. Por um lado, é parte daquilo que define você unicamente como

você, mas de outro lado, uma estrutura altamente restritiva e limitadora, como um pedaço de vidro escuro e

opaco superposto sobre uma janela transparente. É a camada mais externa, da superfície de quem você é, que

oculta todas as camadas mais internas. Como é a mais visível, parece ser a mais real.

Porém há um você mais verdadeiro. E o propósito de todo e cada obstáculo em sua vida e de todas as suas

reações àqueles obstáculos é permitir que o você mais verdadeiro brilhe e apareça. E nessa hora,. quando,

como foi profetizado, a Divina sabedoria da Cabalá se torna acessível à pessoa comum; chegou a hora de

acontecer exatamente aquilo.

Todo atleta olímpico passa milhares e milhares de horas testando e expandindo seus limites, saltando

obstáculos – ou o equivalente – para acessar uma força latente que de outra forma jamais seria expressa e

para quebrar as barreiras daquilo que se presume ser possível, muitas e muitas vezes.

Seja você ou não um atleta olímpico, tem o mesmo poder de romper barreiras em sua própria vida. No jogo da

vida, enfrentamos obstáculos com freqüência. Muitas vezes estes obstáculos parecem altos demais. A cada vez

que você passa por uma barreira que parece alta demais, tem de fazer uma opção. Pode apegar-se à velha

história familiar de quem você é, recuar da barreira e resignar-se a uma vida menor. Ou pode chegar além do
vidro que esconde todo o ilimitado potencial do seu verdadeiro ser. Ali, você já tem liberado o poder de saltar

mais alto e mais longe que antes, e ao fazê-lo expande os próprios limites da pessoa que você presumia ser.

Toda vez que faz isso, você pegou um pedaço da escuridão – seja esta suas histórias limitadoras, o obstáculo

no seu caminho, seu medo, resignação ou dúvida sobre si mesmo – e o usou como um impulso para atrair mais

luz, poder e vitalidade da essência de quem você é. Este é um dos motivos pelos quais você está aqui.

Da próxima vez que você se ouvir dizendo ou pensando algo do tipo: "Não sou desse tipo", ou "Eu não posso",

ou ainda "Eu tenho medo", pense no tigre e no elefante. Saber que você está criando sua própria jaula é o

primeiro passo para se libertar. Então, como num experimento, pergunte-se o que faria se fosse do tipo, se

pudesse fazê-lo, ou se não estivesse com medo. Se você fizer esta pergunta a si mesmo, pode ter uma

surpresa ao ver como as respostas estão claras e disponíveis. Então, como um bônus, embora "simplesmente

não seja você", mesmo que esteja com medo, tente agir baseado nestas respostas e veja o que acontece.

Está na hora de transformar algumas trevas em luz!

A Cabalá do Xadrez
Por Yosef Y. Jacobson

Uma história sobre dois pilotos


Certo dia num movimentado aeroporto, os passageiros de uma aeronave comercial estão sentados, esperando

pela tripulação aparecer para que possam seguir viagem. O piloto e o co-piloto finalmente aparecem na parte

de trás do avião, e começam a andar pelo centro do corredor até a cabine. Os dois parecem ser cegos.

O piloto está usando uma bengala branca, colidindo com os passageiros à direita e à esquerda à medida que

anda aos tropeços pelo corredor, e o co-piloto está usando um cão-guia. Os dois têm os olhos cobertos com

enormes óculos escuros. A princípio os passageiros não reagem, pensando que deve ser uma espécie de

pegadinha. Porém, depois de alguns minutos os motores começam a acelerar e a aeronave começa a se

mover.

Os passageiros se entreolham com algum desconforto, sussurrando entre eles e olhando em desespero para

as comissárias. Então o avião começa a acelerar rapidamente pela pista e as pessoas começam a entrar em

pânico. Alguns passageiros rezam, e à medida que o avião chega cada vez mais perto do final da pista, vão

ficando cada vez mais histéricos. Finalmente, quando a nave tem menos de 6 metros de pista para percorrer, e
está para mergulhar na água, há uma súbita mudança no tom dos gritos, pois todos gritam ao mesmo tempo, e

no último instante o avião levanta voo e sobe no ar.

Dentro da cabine, o co-piloto suspira aliviado e volta-se para o piloto: “Sabe, um dia desses os passageiros não

vão gritar, e aí então vamos cair direto na água e morrer!”

No Pomar:
O Aleijado Guiando o Cego
O Midrash parece intrigado pela declaração na porção Vayicrá: “Quando um alma (nefesh) peca.” Não “quando

uma pessoa peca”, mas sim “quando uma alma peca.” É a alma que peca?

Diz o Midrash:

Rabi Yishmael ensinou: isso é comparável a um rei que tem um pomar de figos selecionados. Ele nomeia dois

vigias: um era aleijado, o outro era cego, confiando a eles seu pomar. Após algum tempo, o aleijado volta-se

para o cego e diz: “Vejo frutas tão deliciosas nesta vinha!” E o cego responde: “Então vamos comer.”

“Mas posso andar?”

“Mas posso ver?”

Então o aleijado sobe nas costas do cego, e juntos ele alcançam e comem os frutos, e então voltam às suas

posições.

Após algum tempo, o rei entra no pomar. Pergunta a eles: “Onde estão minhas lindas frutas?”

O cego diz: “Ó rei, eu posso ver? Como posso tê-las comido?” E o aleijado diz:

“Ó rei, eu posso andar? Como poderia tê-las alcançado?”

O rei era sábio, o que ele fez? Colocou o aleijado sobre as costas do cego e mandou-os caminhar juntos,

dizendo: “Foi assim que vocês comeram meus figos.”

Da mesma maneira, no dia futuro de prestação de contas, D'us vai perguntar à alma: “Por que você pecou

perante Mim?” E a alma vai responder: “Mestre do universo! Não pequei, foi o corpo! Veja! A partir do momento

em que me separei dele, sou como uma ave pura, voando a caminho do céu. Como pequei?” Então D'us dirá

ao corpo: “Por que pecaste perante Mim?” E o corpo vai responder: “Mestre do universo! Não pequei, foi a

alma! Veja! A partir do momento em que a alma me deixou, estou sem vida como uma pedra largada sobre a

terra! Como posso ter pecado perante Ti?”


O que D'us faz? Traz a alma, joga-a no corpo, e castiga os dois, como está escrito: Ele chamará aos céus

acima – esta é a alma – e à terra – este é o corpo – para julgar Seu povo.

Quem Precisa da Metáfora?


O Midrash está explicando que o pecado somente é possível através de uma colaboração plena e funcional

entre corpo e alma. O corpo pode fazer as coisas, mas é sem direção; a alma dá direção mas é distante e

“aleijada” – espiritual e etérea. Juntos, eles podem conseguir as duas metas: podem transgredir juntos, e

podem realizar boas ações juntos.

Porém essas perguntas devem ser feitas: O objetivo das alegorias na Torá é esclarecer um conceito que

poderia ser difícil. Porém o ponto neste Midrash parece ser direto e simples: o corpo por si só é um corpo; a

alma por si mesma “sai para almoçar”. Juntos, eles criam a realidade que chamamos “o ser humano”. Por que a

necessidade da elaborada metáfora do cego e do aleijado para explicar o conceito?

A verdade é, no entanto, que essa metáfora nos explica não apenas que corpo e alma precisam um do outro,

mas também a própria natureza do corpo e da alma e por que eles precisam tão desesperadamente um do

outro.

A Capacidade Para a Revolução


O corpo é representado pelo cego. Cegado pela realidade material, por si mesmo é alheio à existência de D'us.

Apega-se a uma interpretação da existência do tipo “aquilo que você vê é o que você consegue”; é incapaz de

ver além da perspectiva temporal; é incapaz de perceber ou identificar a verdade. E o pior tipo de cegueira é

aquela de quem pensa que pode ver.

Porém a alma pode ver. Está consciente no íntimo das realidades mais elevadas da vida; não é enganada pela

ilusão do materialismo e do consumismo.

Por outro lado, o corpo pode caminhar, enquanto a alma é imóvel. Este é um dos grandes paradoxos da vida.

Como a alma pode ver, é considerada “aleijada” e imóvel. Face à dura verdade não há espaço para erros,

portanto não há espaço para decisões. Se não há tomada de decisões, se não há desafio ou conflito, então não

há crescimento, nenhum movimento real. A alma, por estar tão intensamente consciente da verdade, e por ser

tão perfeita, está “parada” em sua órbita. O crescimento depende do catalisador da falha, da imperfeição.

Somente se você é capaz de cair muito baixo é capaz de subir muito alto.
O corpo, devido à sua cegueira, sabe como caminhar e correr. Nas palavras do Rei Shelomô: “Voltei e vi sob o

sol, que a corrida não pertence ao rápido, nem a guerra ao poderoso; nem o sábio tem pão, nem o

compreensivo tem riquezas.”

Em sua ignorância, o corpo é susceptível a cair e subir, a lutar e perseverar, a aprender com seus erros e

crescer. E ensina à alma os segredos do crescimento. Antes disso, estava no piloto automático, robótico e

consistente como os anjos, e portanto estagnado.

A História de Sam Reshevsky


Samuel Herman (Sammy) Reshevsky (1911-1992) foi um famoso prodígio do xadrez e mais tarde um Grande

Mestre americano do xadrez. Concorreu no Campeonato Mundial de Xadrez dos anos 1930 até os anos de

1960, chegando ao terceiro lugar no Campeonato Mundial em 1948, em segundo em 1953. Venceu oito vezes o

Campeonato Americano de Xadrez.

Aos seis anos de idade, ele jogava com 30 oponentes ao mesmo tempo, movendo-se rapidamente de tabuleiro

a tabuleiro e podia repetir todos os 30 jogos depois, movimento por movimento. Era conhecido como “Shmulik

der vunder kind” – Shmuel, o menino prodígio. Era descendente de Rabi Yonasan Eibshitz, que descendia do

grande cabalista, Rabi Isaac Luria, o Arizal.

Sammy Reshevsky cresceu num lar observante, e no decorrer de sua vida e fama, continuou fiel ao Judaísmo e

Torá, recusando a jogar xadrez no Shabat e nas Festas. Ao completar 70 anos e não estando mais no topo de

seu jogo, ele perguntou ao Rebe, Rabi Menachem Mendel Schnnerson, se poderia se aposentar. O Rebe

aconselhou-o a continuar jogando porque era um “Kidush Hashem” – uma orgulhosa demonstração de um

judeu sendo bem-sucedido sem comprometer seus ideais e seus valores espirituais. Reshevsky concordou e

pouco depois, viajou à Rússia e incomodou o campeão mundial, Vassuly Smyslov.

Cá entre nós, um detalhe interessante: em 1984, o Rebe enviou Sammy Reshevsky à Califórnia para tentar

ajudar seu colega Bobby Fischer a sair de seu famoso isolamento e depressão.

Morando em Crown Heights nos anos de 1940, Sammy rezava na Sinagoga central Lubavitch no 770 da

Eastern Parkway, Brooklyn, NY. Certa vez, numa reunião de Shabat (farbrenguen, em yiddish) em 1948, o

Rebe, em reconhecimento à sua presença. explicou o significado espiritual por trás do jogo de xadrez.

O Jogo de Xadrez
Há um rei. Todas as outras peças se movem ao redor dele e sua missão é proteger e servi-lo. D'us é o Rei,

tudo o mais foi criado por Ele, recebeu a oportunidade de conectar-se com Sua verdade e de servi-Lo.
A rainha representa a manifestação feminina do divino, conhecido como a “shechiná”, intimamente envolvida

com todo aspecto da criação, concedendo vitalidade e substância a toda existência. A rainha é a peça mais

praticamente afetiva, com frequência enviada às linhas de fogo, até mesmo colocada em perigo. Da mesma

forma, D'us arrisca Sua própria dignidade, por assim dizer, investindo-se em toda criatura e existência,

sujeitando-Se às vicissitudes da condição humana. E há ainda os bispos, torres e cavalos. São rápidos, livres,

não limitados pelas casas imediatamente ao lado deles; podem “voar” livremente, sem restrições. Esses

simbolizam os anjos – em suas três categorias místicas que discutimos nos serviços de prece matinais: serafim,

chayos e ofanim, representados pelos bispos, torres e cavalos.

Para que haja livre arbítrio no mundo, há duas equipes, a branca e a preta. Uma representa a Divindade e

santidade; a outra representa tudo que é a antítese da Divindade e da santidade. As equipes se engajam em

batalhas ferozes. E para que o confronto seja significativo, cada equipe contém, pelo menos na superfície,

todas as propriedades contidas na equipe adversária. As duas equipes têm rei, rainha, bispos, torres e cavalos.

Finalmente, há os peões. São bastante limitados em seus movimentos, movendo-se apenas uma casa por vez,

somente numa única direção, e constantemente são “abatidos”. Mas… quando eles lutam pelo “tabuleiro”,

chegando ao seu destino, podem ser promovidos até mesmo ao nível de rainha, algo que o bispo, a torre e o

cavalo não podem atingir.

O Peão representa o ser humano vivendo aqui na terra. Nós seres humanos damos passos muito pequenos, e

somos bastante limitados em todo aspecto da nossa jornada, e do nosso crescimento. Também cometemos

erros constantemente e somos “nocauteados”. Mas quando o homem persevera e supera a angústia e o

desespero das próprias falhas e mortalidade, quando lutamos para subjugar as trevas e revelar a presença do

“rei” dentro de nossos corpos, nossas próprias psiques e o mundo ao redor – o ser humano supera até mesmo

os anjos; o peão é transformado numa rainha! A vida humana se reúne com sua fonte acima, a rainha, a

Shechiná, experimentando a mais profunda intimidade com o próprio Rei.

Os bispos, torres e cavalos, embora espiritualmente fortes e angélicos, são previsíveis, e limitados pelo seu

papel. Não há espaço para verdadeira promoção, nenhum crescimento substantivo, nenhuma progressão

radical. Sim, eles voam em volta, mas somente dentro da própria órbita. Os anjos no alto, bem como a alma

sozinha no alto, antes de entrar no corpo, são poderosos porém confinados pelo próprio status espiritual. São

as limitações da pessoa humana que estimulam seu crescimento mais profundo. Os limites da nossa existência

criam fricção, fazendo-nos lutar contra as provações e desapontamentos da vida.


Abraçando o Casamento Difícil
Portanto corpo e alma podem escolher aceitar sua esquizofrenia natural como uma vítima, com cada qual

culpando o outro pelos seus erros, fugindo à responsabilidade e ao dever. Ou podem escolher abraçar os

desafios e oportunidades que este conflito existencial traz, levando a vista, clareza e visão da alma e atrelando-

o à mobilidade e energia do corpo.

Essa, então, é a mensagem por trás da metáfora do midrash do aleijado e do cego vigiando o pomar do rei.

Quando a alma aleijada lidera o corpo cego, o corpo cego pode elevar a alma aleijada a alturas inimagináveis.

A Cabalá do Sono
Pergunta:

Eu gostaria de saber como o sono é entendido sob o ponto de vista chassídico. O que acontece com a alma e a

consciência durante o sono?

Resposta:

Este é de fato um tópico fascinante! Aqui estão alguns conceitos sobre o sono extraídos das fontes chassídicas:

 Quando se discute o sono, sempre há os dois lados da moeda: o corpo e a alma. Sob a perspectiva do

corpo, o Talmud refere-se ao sono como 1/60 da morte – e por um bom motivo. Nossos olhos estão

fechados. Os poderes consciente se tornam enfraquecidos, e perdemos controle de muitas das

nossas faculdades. Porém, para a alma, é um tempo de rejuvenescimento. Ela está unida com Sua

Fonte acima e a espiritualidade é renovada e recarregada.

 Este “siluk hakochot” (partida das faculdades) somente afeta as dimensões conscientes da nossa

psique. Porém na ausência da consciência, o subconsciente emerge. Assim, segundo a Cabalá, os

poderes essenciais da alma estão de fato fortalecidos e mais aparentes enquanto a pessoa está

dormindo.

 Até entre as nossas faculdades conscientes, muitos de nós ainda estão muito presentes durante o sono,

porém a hierarquia que normalmente as governa está ausente. A mente não controla mais o coração,

e não pensamos mais antes de falar ou agir. Isso porque todos os nossos poderes são elevados à

maneira em que existem – num estado unido, em potencial – dentro da essência da nossa alma. E

neste “estado embriônico”, não há acima ou abaixo, mais cedo ou mais tarde.

 Baseada no acima exposto, a Cabalá freqüentemente se refere ao estado de galut (exílio) como sono.

Durante o exílio, nossos olhos estão fechando e não vêem a Divindade. Nossos sentidos espirituais,

que nos permitem entender a Torá, apreciar um milagre, e amar e temer a D’us, estão grandemente
enfraquecidos. Nossas prioridades estão confusas e temos dificuldade para perceber o verdadeiro

propósito da vida.

No entanto, é especificamente durante o exílio que o poder essencial de um judeu é revelado. Quando os

tempos são difíceis, os impulsos da alma são ativados. Ela acredita apesar de não entender. Continua a servir a

D’us apesar de não sentir qualquer inspiração. E é pelo mérito dessa mesirat nefesh (auto-sacrifício) que

nossos olhos se abrirão e recuperaremos nossas capacidades espirituais com a vinda de Mashiach...

Mineiro de carvão
Se você cavar fundo, pode encontrar coisas boas
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Contador

O carvão, uma das nossas mais importante fontes de energia, somente pode ser extraído cavando-se abaixo da

superfície da terra. Os mineiros que descem a uma mina de carvão devem seguir as diretrizes de um

especialista para saber onde cavar e como encontrar o carvão. No entanto, embora o mineiro possa confiar nas

orientações sobre onde cavar, ninguém pode respirar por ele. Cada mineiro deve estar conectado a uma fonte

de ar acima do local onde está trabalhando. Caso contrário, não conseguirá permanecer vivo.

O estudo da Chassidut, o aspecto interior da Torá, é análogo a essa “descida”. O conhecimento adquirido ao

estudar Chassidut proporciona luz e calor, mas a pessoa deve mergulhar profundamente nele a fim de apreciar

plenamente seu brilho.

E como o mineiro, o estudante do pensamento chassídico deve permanecer conectado à sua fonte espiritual, se

quer que seu serviço Divino tenha vida.

Então, como ocorre com o carvão, ele deve acender o fogo – abordar o material a ser estudado com calor e

entusiasmo – se quiser que forneça luz e calor todos os dias.

Contador
Você não pode passar o dia inteiro examinando as contas
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Mineiro de carvão

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Arquiteto

Um empresário deve fazer balanços periódicos, examinar suas contas e avaliar sua situação financeira. A

contabilidade regular mantém uma empresa caminhando sem problemas, e é um pilar do sucesso nos

negócios.

Porém, a maior parte do seu tempo é gasta na atividade comercial. Apenas para avaliar uma transação

específica, para certificar-se se será lucrativa e para determinar a melhor abordagem. O exame do status geral

de sua empresa é feito com menor frequência, geralmente uma vez ao ano, pois se fosse feito todo dia, não

haveria tempo para conduzir as transações em si.

Devemos seguir os mesmos procedimentos em nosso serviço a D'us, que é nossa “empresa”. Na maior parte

do nosso “ano comercial” nós “lidamos” com as “ações” da Torá e mitsvot. Somente o mês de Elul, que precede

Rosh Hashaná e Yom Kipur, é o tempo para um “balanço financeiro geral”, quando nos concentramos em

introspecção, contagem do estoque e contabilidade espiritual.

Para o restante do ano, devemos parar apenas brevemente para pequenas avaliações. Por exemplo: ao recitar

o Shemá toda noite antes de nos recolher, fazemos um balanço dos créditos e débitos, as realizações e as

falhas daquele dia; antes do Shabat, examinamos as contas da semana que passou; e antes de Rosh Chodesh

(o início do novo mês), fazemos um balanço do mês anterior. Então, no último mês do ano, fazemos uma

análise abrangente.

Algumas pessoas acreditam que para lidar com Torá e mitsvot, devem saber exatamente em que pé estão a

todo momento e examinar constantemente se são candidatos adequados para o serviço espiritual, com uma

detalhada introspecção. Na realidade, essa abordagem é apenas um truque do yetser hará (má inclinação) para

desviar a pessoa da ação correta, envolvendo-a numa autoanálise obsessiva. Em vez disso ela pode seguir seu

curso com confiança, deixando de lado essa atividade até o momento adequado.
Arquiteto
Pode haver ordem no caos?
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Contador

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Advogado

Quando as pessoas encontram dificuldades na vida, muitas são levadas a questionar a existência de um

sistema Divino e de um plano mestre para nosso mundo. Quando uma parte da estrutura do mundo parece fora

de sincronia com a maneira que achamos que deveria ser, logo tiramos conclusões sobre todo o cosmos. No

entanto, os mundos da Física, Química, Astronomia ou outras ciências naturais demonstram de outra forma. Ali,

até o menor átomo é visto como tendo a própria estrutura e função; toda partícula da matéria está sujeita a leis

específcas e faz parte de uma estrutura definida, uma ordem cósmica que é vasta e complexa.

Para destacar essa lição, imagine que você está num prédio imenso com milhares de salas; a mobília em cada

sala está perfeitamente arrumada. No entanto, em uma pequena sala com móveis estranhos, o senso de

organização tão óbvio no restante da estrutura não é aparente de imediato. Como o edifício gigante e seus

milhares de aposentos pode ser visto como uma parte de um sistema ordenado, sem dúvida a sala individual e

sua mobília singular também fazem parte do plano geral. Embora o observador destreinado a princípio não

possa entender o padrão incomum, com alguma reflexão ele virá a entender que aquilo também deve fazer

parte do sistema maior.

Advogado
A pessoa deve tentar procurar os aspectos compensadores em seu próximo
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Arquiteto

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Empresário
A prática da lei nos ensina uma lição muito importante. A busca fundamental de um advogado é a procura de

provas que exonerem seu cliente. Quaiquer que sejam as circunstâncias e por mais difícil que seja o caso, o

advogado emprega todos seus esforços para construir a defesa. De maneira semelhante, cada um de nós

deveria tentar encontrar aquilo que é bom e valioso em nosso próximo judeu.

Se alguém cava em busca de água e não encontra, isso não significa que a água não esteja lá. Deve-se cavar

mais fundo para encontrar a fonte. O mesmo princípio aplica-se a encontrar qualidades boas em outra pessoa.

Embora essas possam não estar aparentes, se procurarmos com sinceridade, certamente encontraremos

atributos positivos no próximo. Se, no final, uma pessoa somente consegue encontrar o negativo nos outros,

isso sugere que a deficiência na verdade está dentro dela mesma. Isso é relacionado com um dos preceitos

principais do Judaísmo, de julgar os outros favoravelmente e sempre encontrar bons motivos para seu

comportamento.

Empresário
Um judeu deve abordar suas obrigações espirituais com o mesmo zelo que o
empresário demonstra ao lidar com seus negócios
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Advogado

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Carpinteiro

Há uma grande diferença entre o dono de uma empresa e seus empregados. O funcionário contratado se

empenha durante as horas requeridas e deixa as preocupações da firma para trás ao final do dia. Até o

empregado mais consciencioso não demonstra o mesmo nível de envolvimento que o dono da empresa.

Em contraste, o homem de negócios está sempre preocupado com as exigências de sua empresa; pode estar

comendo ou numa festa, mas nem por um instante ele se esquece dos seus assuntos comerciais. Embora a

firma possa estar indo bem, ele sempre busca maneiras de melhorar ou expandir seus negócios.

Um judeu deve abordar sua “empresa” espiritual, e especialmente o estudo de Torá, com a mesma dedicação

que o empresário demonstra por sua empresa. Qualquer que seja sua ocupação durante a maior parte do dia, a

Torá deveria ser nossa verdadeira empresa, a tal ponto que não possamos nos afastar dela. Não importa o
quanto nossa sessão de estudos possa durar, devemos ainda refletir sobre ela horas depois de termos voltado

para nossas atividades mais mundanas.

Segundo o Talmud, quando uma pessoa se torna preocupada com a Torá, é como se tivesse redimido a

Shechiná (A Presença Divina) do exílio. Isso certamente vai beneficiá-la em todos os aspectos de sua vida.

Carpinteiro
Um artesão aborda seu trabalho com enorme cuidado
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Empresário

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Tintureiro

Quando um mestre artesão começa a trabalhar consertando um móvel, toma extremo cuidado. O primeiro

passo é demonstrar o item, peça por peça, sem danificar qualquer parte, nem mesmo aquela que está

defeituosa. Ele avalia cada componente, determinando se está num estado excelente, mediano ou mau.

Algumas partes precisam ser substituídas, ao passo que outras podem ser reformadas. Ele deve estabelecer a

ordem na qual vai executar seu trabalho e a maneira exata de lidar com cada componente.

Todos esses estágios são importantes quando um educador deseja causar um impacto correto sobre o aluno.

Ele deve primeiro analisar cuidadosamente as virtudes e falhas do aluno, refletindo sobre elas com grande

deliberação. Deve então abordar cada fator na formação do estudante.

Um professor competente que segue esse processo terá enorme sucesso. Acima de tudo, um educador deve

ser calmo e paciente, dirigindo sua mente e seu coração para os menores detalhes relativos ao aluno e sua

educação.

Tintureiro
Só porque está um pouco sujo, isso não significa que tem de ser jogado fora.
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Carpinteiro
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Engenheiro

Uma roupa, antes de seu usada, está completamente limpa, bem passada e guardada no armário. Após vestida

por algum tempo, fica amassada, e apresenta poeira ou manchas. É claro que ninguém joga a roupa fora. É

levada à lavanderia para ser restaurada à sua condição original.

Para tratar essa roupa, o tintureiro a coloca numa máquina e então acrescenta um líquido e alguns produtos

químicos para remover a sujeira e as manchas. Em seguida, ele passa a roupa pressionando-a com um peso, e

a peça novamente ficará “como nova”. A partir desse processo, adquirimos uma percepção sobre a alma

(neshamá) de um judeu. Quando D'us concede uma neshamá a um judeu, aquela alma é pura, “passada”, e

perfeitamente limpa. Como dizemos em nossas preces matinais: “A Alma que Tu me deste é pura.”

Com o tempo, porém, à medida que a alma se envolve em assuntos mundanos, e se não for usada para

cumprir a vontade de D'us, tende a ficar “amassada”. A sujeira pode se apegar a ela se a pessoa negligenciar

uma mitsvá ou cometer uma ação proibida. Qualquer que seja o caso, a Torá nos ensina que não devemos nos

desesperar pela condição da alma e sua força para sustentar a vida espiritual do indivíduo. Para restaurar a

alma ao seu estado original, devemos colocá-la num ambiente propício, e infundi-la com o calor da Torá e

mitsvot.

O “calor” deve ser também “úmido”, para que a alma se apegue a tudo que é sagrado. Isso pode ser feito por

intermédio da prece sincera, como está escrito: “Derrame seu coração como água,” 1 2:19, e com estudo

concentrado de Torá, como está escrito: “Todos que têm sede procuram a água”2 e : “Não há água exceto a

Torá.”3 82. Para completar o processo de purificação espiritual, outros ingredientes devem ser acrescentados,

como generosas contribuições para caridade, manter-se casher e guardar o Shabat.

Então, se a pessoa coloca sobre si mesma o “peso” da observância de Torá, que a princípio pode parecer um

fardo pesado, isso se provará ser um obstáculo, mas um processo de ampliação que vai “passar a ferro” a

neshamá e devolvê-la à sua condição original de pureza.

Engenheiro
Até o menor detalhe é importante
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Tintureiro

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Empreendedor

Um engenheiro desenha máquinas que consistem de muitas partes, algumas mais importantes que outras.

Embora algumas peças para o leigo pareçam não ter função, o engenheiro entende como cada qual é

necessária para a máquina funcionar. O leigo, como não tem o conhecimento do engenheiro, pode erradamente

supor que a máquina ainda pode funcionar se for retirado ou acrescentado um parafuso.

Essa metáfora pode ser aplicada à existência do mundo e ao cumprimento das mitsvot, as 613 bíblicas e os

sete preceitos rabínicos pelos quais a pessoa pode conectar-se com D'us. Se alguém violar a ordem “Não

acrescente ou subtraia das mitsvot,”1 embora a adição ou a subtração possa lhe parecer insignificante, a mitsvá

que ele não está cumprindo (ou que alterou) diminuirá sua ligação com D'us.

Da mesma maneira que toda parte da máquina tem uma função distinta mas integral, D'us deu a cada pessoa

uma tarefa específica que aperfeiçoa o mundo na sua esfera pessoal de influência. Todas as peças são parte

de Seu plano mestre da Criação.

Empreendedor
Às vezes a atividade é mais recompensante que o resultado.
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Engenheiro

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Vendedor de Seguro de Vida

O objetivo fundamental em qualquer negócio é o lucro que o empresário vai extrair dele. Apesar disso, há

diferenças na natureza das pessoas envolvidas no comércio. Para alguns, o lucro é o único motivo para cuidar

de um negócio, e o trabalho que acarreta é visto como um fardo. Em contraste, outro empresário pode achar o

empreendimento recompensador por si mesmo. Embora ele também espere ter lucros, aprecia o trabalho em si,

mesmo que tenha de empregar considerável tempo e esforço. Para essa pessoa as recompensas monetárias

de maneira alguma se comparam ao prazer do trabalho em si.


Num nível espiritual, a Torá é o trabalho da vida de nossa alma. Um judeu pode ter várias razões para estudar

Torá. Além de adquirir conhecimento sobre como levar sua vida de maneira judaica, ele colherá uma

recompensa adicional porque o estudo da Torá em si mesmo é uma mitsvá. Porém, nada pode se comparar ao

profundo júbilo e prazer derivado do envolvimento com o estudo de Torá, se alguém mergulha nele, de corpo e

alma.

Vendedor de Seguro de Vida


É um bom plano por um longo tempo
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Empreendedor

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Gráfico

O Talmud relata que um grande professor certa vez disse: “Quem é o homem que deseja a vida?” 1 Quando

uma multidão foi atraída, ele acrescentou o versículo seguinte em Salmos, 2 do qual ele tinha citado: “Guarda

tua língua de falar o mal e teus lábios de dizer falsidades.”

Há uma profissão que toma a atitude oposta, concentrando-se no que acontecerá se a pessoa viver por longo

tempo. É o vendedor de seguros de vida. É uma profissão difícil, que envolve a desagradável tarefa de lembrar

às pessoas que elas não têm condição de viver para sempre. A maioria das pessoas prefere planejar para a

vida, e não o contrário. Conta-se a história de um homem que queria escrever um testamento deixando uma

grande soma de dinheiro para uma instituição quando morresse. Ele perguntou ao Rebe Rashab como deveria

proceder, e o Rebe respondeu que ele faria melhor em planejar viver uma longa vida e tirar prazer com a

caridade, fazendo o benefício de dar seu presente de imediato.

O que motiva uma pessoa a se tornar agente de seguros? A necessidade de ganhar a vida, é claro. Caso

contrário, o agente não perturbaria outra pessoa lembrando-a das desagradáveis eventualidades. No entanto, o

agente acredita que tem poderes de persuasão que podem ser usados para fazer vendas.

Obviamente, é do interesse da companhia de seguros que o comprador da apólice viva por muito tempo, pois a

emrpesa somente é obrigada a começar o pagamento depois do falecimento do cliente; se este for abençoado

com longevidade, tanto a companhia quanto o comprador da apólice ficarão felizes. O foco num resultado
oposto é apenas conversa, mas espera-se que não aconteça. O vendedor discute isso somente o necessário

para convencer o comprador a concordar com os pagamentos mensais.

Estes mesmos princípios se aplicam no relacionamento entre corpo e alma. Há duas abordagens. A do mussar

é engajar-se em jejum e penitência para “matar” a alma animalesca do homem com a privação física, jejum e

concentrando-se em sua mortalidade.

A segunda, a abordagem preferível, é semelhante ao vendedor de seguros de vida. Sua menção de que ele

não viverá para sempre é apenas momentânea, e fica apenas na fala. Somente serve ao propósito de extrair os

“pagamentos”, a cooperação do corpo no cumprimento dos mandamentos. Essa segunda abordagem

reconhece a preciosidade do corpo judaico e a importância de manter sua saúde por longos e bons anos, assim

como a companhia de seguros deseja que seus clientes tenham uma longa vida.

Gráfico
Progressos tecnológicos nas publicações e na nossa atitude com a vida
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Vendedor de Seguro de Vida

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Lojista

Nos primeiros dias da impressão, até uma época relativamente recente, os grupos de letras eram acumulados

em placas, e se os grupos estivessem incorretos, a única solução era destruir as placas. Mais tarde, com a

invenção do linotipo, a inovação técnica permitiu que um impressor fizesse sequências de letras e as

transpusesse em novas combinações, sem destruir o trabalho anterior. Hoje alta impressão é feita em offset.

Segundo os escritos da Cabalá, tudo que existe extrai sua vida das 22 letras do alfabeto hebraico. Das várias

combinações dessas letras, “nos dez pronunciamentos pelos quais o mundo foi criado” 1 registrados em

Bereshit, podemos encontrar a fonte de todo aspecto da criação, tanto positivos quanto negativos.

Nas gerações anteriores, com frequência a única resposta para a negatividade era “destruir as placas”. Porém,

em tempos recentes, desde a revelação do Baal Shem Tov, as inovações da Chassidut nos deram uma

maneira de “rearranjar as letras”, convertendo o mal em bem. Como a verdadeira essência de tudo é a
santidade, em nosso serviço a D'us podemos também revelar o bem que existe dentro do negativo, e

transformá-lo em santidade, sendo este o seu supremo propósito.

Lojista
Local, local, local
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Gráfico

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Alfaiate

Existe um paralelo entre ensinar Torá e um empreendimento comercial. Um empresário tenta ampliar seu

negócio estabelecendo-o num local movimentado. Então ele tenta todos os tipos de novas ideias para atrair a

atenção dos passantes. Os fregueses em potencial podem estar preocupados demais para notar a loja, e

passar por ela dia após dia sem parar. No entanto, o dono espera marcar sua presença na mente deles, para

que quando precisarem de algo, se lembrem da loja e parem para comprar.

O mesmo princípio se aplica quando escolhemos um local para o estudo de Torá. Classes e sessões de estudo

deveriam ser feitas num local visível e acessível ao público, Uma pessoa que tem passado repetidamente pela

área sem parar pode de repente ver seu interesse despertado e entrar para ver o que está sendo oferecido.

Todos os esforços devem ser feitos para divulgar as aulas e encorajar outros a participar. E também, ao manter

uma estratégia de marketing bem-sucedida, um bom negociante não vende mercadoria antes da época, mas

espera até o momento certo, quando os lucros serão maiores.

Assim também é com D'us e a bondade que Ele demonstra com a criação. Embora possa parecer que o bem

que Ele concede sobre nós não está chegando, é provável que, dentro de pouco tempo, a Divina benevolência

se mostre muito maior do que a princípio parecia ser.

Alfaiate
O objetivo de uma agulha de costura é prender dois objetos um no outro.
Adaptado por Dovid Shraga Polter

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Lojista
Em referência ao serviço de D'us, isso corresponde a conectar os reinos superior e inferior, um processo que se

consegue com a descida da alma ao corpo físico para construir uma morada para D'us neste mundo.

Como a alma é o veículo que forja essa conexão, é mencionada como “agulha”. Além disso, a descida da alma

ao corpo representa uma fusão das ordens superiores e inferiores, pois é uma manifestação do próprio D'us,

revestido no aspecto mais físico da criação, o corpo.

Especificamente, no uso da agulha há dois componentes. O primeiro é o ponto, que fura a roupa a ser

costurada, ao passo que o segundo é a linha que é passada através do buraco. A combinação desses dois

elementos define o processo de costurar. Em nosso serviço Divino, a ponta da agulha (que penetra na roupa)

alude à capacidade da pessoa de anular o grosseiro materialismo do mundo e prepará-lo para ser um

receptáculo para a Divindade. A linha (o verdadeiro meio de costurar) refere-se à Torá e mitsvot, pelas quais a

implementação da Divindade é concretizada neste mundo.

O Zohar

Pergunta:
O que é o Zohar e o que ele representa?
Resposta:
O Zohar é o livro base da mística judaica compilado pelo grande sábio Rabi Shimon Bar Yochai, aluno de Rabi

Akiva, falecido dia 18 de Iyar e cujo túmulo encontra-se na cidade de Meron, na Galiléia.

Rabi Shimon reuniu todo o conhecimento exotérico existente no judaísmo desde a revelação no Monte Sinai, na

Cabala, mística e tudo que foi transmitido durante os séculos reunindo nesta obra para que não fosse

esquecido ou perdido.

O estudo do Zohar exige muitos estudos como pré requisitos para entender a obra para que sejam

compreendidos seus profundos conceitos. É um livro de conteúdo profundo e conforme ele mesmo descreve,

que por mérito do estudo desta obra sairemos de nosso atual exílio e escuridão em que nos encontramos.

Zohar, não por acaso, significa brilho, alusão à luz que foi trazida ao mundo por meio de suas revelações.

Onde Estão Todos os “Mundos”?


Por Isroel Cotlar

Pergunta:
As obras da Cabalá e Chassidismo falam sobe quatro mundos – Atzilut, Beriá, Yetzirá e Asiyá. Onde estão

esses mundos? Por que nenhum deles foi ainda descoberto?

Resposta:
Se você está imaginando galáxias muitos anos-luz à frente, pense de novo. Estes não são mundos para serem

atingidos através de viagens espaciais ou observados com um telescópio Hubble. Na verdade estão bem aqui.

Deixe-me dar a você uma analogia. Você já teve seus olhos examinados? Lembra-se de ter de olhar através de

duas lentes diferentes, e de ter sido indagado qual é a mais nítida, 1 ou 2? (Se você é como eu, teve de pedir

ao optometrista para voltar cinco vezes, antes de tomar a sua decisão.)

Quando eu tento fazer contato com esses mundos, imagino cada um deles como outras lentes através das

quais podemos enxergar a realidade. Quanto mais elevado o mundo, mais agudas e mais claras as lentes –
para que tudo nesse mundo seja uma expressão harmoniosa da unicidade simples de D'us. Quanto mais baixo

o mundo, mais parece diferente – como se nunca tivesse tido um criador, para começar. As coisas se tornam

fragmentadas, discordantes, até expressamente feias, como se aquela sublime unicidade estivesse perdida.

Vivemos no mundo físico, inferior, de Asiyá – o que significa “realidade” – uma realidade na qual a Divindade

está totalmente oculta. Nossas lentes não nos permitem ver nada além do produto final de todos os processos

que estão perante elas. Vemos uma mesa – não a energia divina que veio antes dela. Nós nos encantamos

com o pôr-do-sol – como se fosse apenas outro fenômeno natural, em vez de uma obra prima de um Grande

Artista. Atribuímos o sucesso financeiro a táticas de negócios inteligentes – não às bênçãos de D'us. Não é

coincidência que a palavra para “mundo” em hebraico, olam, partilhe o mesmo radical de he’elem, que significa

“oculto”. Tudo, exceto a fachada mais externa, está escondida da nossa vista.

O que mantém nossa prescrição tão baixa? Bem, além de estar fora de foco, essas lentes também podem ser

óculos de sol, escuros. Mundos mais baixos têm muita luz fluindo – é como ter óculos claros. Os detalhes e a

beleza se perdem. Tente visitar a galeria de arte usando óculos escuros e com luzes apagadas, e entenderá

essa ideia.

Os óculos escuros diminuem a luz – mas a informação ainda está ali, apenas você precisa olhar muito mais de

perto para enxergar. Mas então há outro fator naquelas lentes. Elas distorcem as pinturas. Tudo fica tão

confuso que parece totalmente sem sentido. Nada faz sentido. Tudo parece não ter propósito, assim como algo

que simplesmente “está ali”. O que é uma boa descrição do nosso mundo: um lugar que (superficialmente)

apenas parece estar aqui sem nenhum motivo ou propósito. Ajuste aquelas lentes, e sua percepção muda

depressa. O mundo se torna uma expressão de algo muito mais elevado. Você consegue perceber almas e

anjos. Vozes celestiais (chamadas um bat kol) são ouvidas. Um enorme amor e temor por D'us é sentido. Viaje

com profundidade suficiente, e o próprio sentimento de “eu” e de desigualdade se dissolve na grande luz. Esta

é a experiência dos profetas e místicos. Ora, isso parece contra-intuitivo, mas o objetivo de criar algo não está

em nenhum mundo mais elevado, e sim aqui no nosso mundo físico Asiyá.

O Criador nos encarregou da tarefa de iluminar o mundo que seria escuro através da luz da Torá e mitsvot.

Estamos aqui para descobrir a santidade dentro do mundano, o sobrenatural dentro do natural, e o espiritual

dentro do físico. Fazendo isso, decodificamos toda a confusão, fazemos surgir uma luz intensa e revelamos

como este mundo é na verdade mais sagrado que qualquer outro além dele.

Este é um trabalho em progresso. Quando tudo estiver feito, teremos o céu na terra. E isso é Mashiach.
Cabala para pop stars?
Uma entrevista com Rabino Adin Even Israel Steinsatz por Fay Kranz Greene

Uma entrevista com Rabino Adin Even Yisrael Steinsatz por Fay Kranz Greene sobre seu livro, "Abra o

Tanya: Descobrindo os ensinamentos místicos e morais de uma obra clássica da Cabala"

P:Por favor, diga-nos que esta não é a Cabalá de Madonna.

Pessoalmente, não sou muito por esta nova tendência da Cabalá, penso que é barata e representa um perigo.

Não que as pessoas estejam aprendendo Cabalá demais, mas estão se concentrando apenas no mistério,

segredo e magia, e não enfocam como as pessoas deveriam mudar ou se tornar mais judias. A Cabalá não é

um truque, é algo sagrado e sério, e precisa muito mais que uma tintura de conhecimento. Imagine fazer um

curso de neurocirurgia em seis meses e colocar uma placa na porta. Não somente é fraudulento, como também

perigoso.

P:Por que a Cabalá se tornou tão "fashion" e o que isso diz sobre a nossa cultura?

É popular atualmente porque a magia é algo notável, é New Age, utiliza uma linguagem diferente e uma fórmula

diferente, que as pessoas não entendem e por isso mesmo acham fascinante. É interessante que os livros mais

vendidos atualmente sejam livros de receitas e sobre magia e espiritualidade. Eles estão conectados: é a idéia

de que você pode confiar em algo espiritual, e não precisa se esforçar muito para mudar a si mesmo.

P:Alguns diriam que ler o Tanya é a mesma coisa.

Não, não é o mesmo, porque o Tanya não torna a vida mais fácil para ninguém. Você não pode pronunciar uma

palavra e ser simplesmente salvo. É um livro muito exigente e algumas pessoas chegaram a me dizer que é um

livro assustador. Suas expectativas mínimas são muito mais altas que qualquer um pode atingir.

P:Então, diga-nos alguma coisa sobre "Opening the Tanya" e por que é diferente dos outros livros que já

escreveu sobre esta obra.

Os outros comentários sobre o Tanya, incluindo meu próprio livro, The Long, Shorter Way, dão um resumo dos

conceitos básicos. Mas este é um livro para estudo, não para leitura. É bastante detalhado e o texto inteiro está

aqui. Creio, no entanto, que é um livro muito legível.

P:Na introdução, você escreve que o Tanya é o Livro de Beinonim, a pessoa intermediária que não peca em

ação, palavra ou pensamento, embora o potencial ali esteja. Se uma pessoa comum realmente aprendeu o

Tanya e estuda mesmo o seu livro, ele ou ela pode realmente atingir aquele nível?
O beinoni difere do tsadic, a pessoa completamente justa, no sentido que o beinoni tem conflito. Ter conflitos,

dúvidas e incertezas não faz de você uma pessoa má. Esta é a idéia principal do Tanya; mesmo que você

tenha problemas, pode chegar lá. Um tsadic, por outro lado, é inato, não feito. Porém para a maioria de nós que

não nascemos tsadikim, o Tanya nos diz que podemos fazer muito bem neste mundo se não desistirmos; se

lutarmos para canalizar adequadamente nossas fraquezas pessoais, nossas emoções, desejos, os conflitos da

vida diária.

Qualquer pessoa pode aspirar ser um beinoni, mas a questão é se todos se tornarão um. Se você comprar um

livro sobre preparo físico, presume-se que se você se exercitar corretamente e comer de acordo terá um corpo

mais apto. Mas você ficará igual à pessoa na capa do livro? Nem sempre! Se você se esforçar, terá uma

chance. Alguns se tornarão Mr. América e outros acharão mais fácil subir escadas.

P:Você cita a declaração que o Alter Rebe, autor do Tanya, podia "colocar um D’us tão grande num livro tão

pequeno." O que aprendemos sobre D’us com o Tanya que não soubéssemos antes?

Aprendemos muitas coisas porque geralmente, quando as pessoas falam sobre D’us, falam de sua percepção

de D’us num nível muito básico.

Pense sobre isso. Quando as pessoas dizem que perderam a fé, é porque, para início de conversa, a fé no

início era muito fraca para suportar quaisquer desafios. Quando sua percepção de D’us não se estende além de

um nível básico, você não pode lidar com eles efetivamente quando cresce. Nós basicamente descobrimos que

pessoas que foram como devotas para os campos de concentração permaneceram devotas e vice-versa. A

segunda parte do Tanya, Shaar Hayichud, trata do entendimento de D’us. Não que você chegará a conhecer

D’us, mas pelo menos terá uma ordem de magnitude. É um termo matemático. Se você está falando sobre algo

caro, que tipo de magnitude é, centenas ou milhões? Uma pessoa que aprende o Tanya chega a uma ordem

diferente em sua percepção de D’us.

P:E indo pelo mesmo caminho, o que encontramos no Tanya que muda ou amplia nossa visão sobre os seres

humanos e como eles se relacionam com D’us em geral?

Você aprende muito sobre os seres humanos porque o Tanya lida com pessoas que são bem formadas,

constantemente mudando, ainda não prontas. O Tanya faz as perguntas difíceis. Quais são as qualidades

básicas no interior das pessoas? Como posso mudar? Como lido com as falhas dos outros? Ironicamente, o

Tanya lida com os conceitos humanos em vez dos rituais, como você entende a si mesmo e aos outros. Em

última análise, você tem uma noção melhor daquilo que D’us espera de você. Não é a imagem do velho com ou
sem barba, sentado no céu e distribuindo balas para os bons meninos e surras para os maus. Você recebe uma

versão adulta.

P:E finalmente, qual é a mensagem que você gostaria que seus escritos e discursos transmitissem? Você tem

um sonho que gostaria de viver?

Onde quer que você esteja, dê um passo para a frente. Esta é a minha mensagem. Meu sonho é que ele será

realizado e as pessoas o farão. Quando alguém dá um passo para a frente, é pessoal – quando um milhão de

pessoas dão um passo à frente, então a terra estremece.

Cursos de Cabalá
Pergunta:

Gostaria de saber de um lugar confiável para me iniciar no estudo da Cabala. Poderiam me auxiliar?

Resposta:

Desconhecemos um curso público, confiável e acessível a todos sobre o tema, já que cursos sobre este

assunto, requerem rígidos critérios. A razão é que para ser iniciado no estudo da cabalá, presume-se que um

judeu tenha antes se aprofundado e se dedicado intensivamente (durante anos) ao estudo e compreensão da

Torá. Este aliás é um pré-requisito imprescindível para que possa compreender a parte mística da Torá.

Infelizmente, a maior parte dos cursos que são oferecidos por aí servem apenas para iludir pessoas ingênuas,

bem intencionadas, mas que se deixam facilmente serem lesadas nos dois sentidos: físico (bolso) e espiritual

(cura fantástica, entre outras promessas).

O número 18
Por Rabino Yitzchak Ginsburgh

Pergunta:

Qual o significado do número 18?

Resposta:

O principal que aprendemos do número 18, que é equivalente ao valor numérico da palavra "Chai", que significa

"Vivo", é o cumprimento da Torá e dos preceitos, como no versículo "V'chai bahem", "e deves viver por eles

(preceitos)."
A Cabalá ensina que 18 corresponde ao poder de vontade na alma. Este é o terceiro e inferior cabeça do keter.

Os preceitos da Torá são a vontade de D'us. Quando a pessoa cumpre um mandamento, dá a D'us, por assim

dizer, "prazer", pois cumpriu a vontade de D'us. Vontade corresponde a Arich, que também é Arichut Yamim,

uma vida longa. Isto, é claro, corresponde ao "Chai", 18. A longa vida mencionada aqui é pelo mérito dos

preceitos que a pessoa cumpre.

Há 32 caminhos da sabedoria e 50 portões do entendimento. Além disso, há 72 "pontes" de bondade. 32 = 2

vezes 4 ao quadrado; 50 = 2 vezes 5 ao quadrado; 72 = 2 vezes 6 ao quadrado. Isto sugere a expressão geral

2 vezes n ao quadrado: 2, 8, 18, 32, 50, 72, 98, 128, 162, 200, 242, 288...

288 corresponde às centelhas caídas que devemos redimir. Os primeiros três números, 2, 8 e 18 correspondem

aos três "cabeças" do keter, que são fé, prazer e vontade. Seguindo-se a eles estão sabedoria, 32, e

entendimento, 50, etc.

A série de números acima combina-se em pares para formar múltiplos de 26, que é o Nome de D'us, Havaya

(Tetragrama); 2 mais 50 = 52; 8 mais 18 = 26; 32 mais 72 = 104.

Os 231 portões de Sefer Yetsirá referem-se às 231combinações de duas letras, usando as 22 letras do alfabeto

hebraico. (Isto refere-se apenas à combinações de letras diferentes.)

231 é também o triângulo de 21, o Nome de D'us. 1 mais 2 mais 3... mais 21 = 231. 21 é o triângulo de 6. 6 é o

triângulo de 3. 3 é o triângulo de 2. Dessa maneira, 231 é um triângulo de um triângulo de um triângulo.

Obviamente, todo o exposto acima tem um profundo significado. Esta é apenas uma breve explanação.

Tetragrama
Pergunta:

Caro Rabino. Tenho 11 anos e curso a 8ª Série no Colégio de minha cidade Guaratinguetá, SP. Meu professor

de história diz que em nossa religião D'us recebe o nome formado por um tetragrama. Perguntei ao meu pai, e

ele disse, que na verdade conhecemos D'us pelo nome de A-do-nai, desconhecendo a afirmação de meu

professor, e sugeriu que perguntasse ao Rabino, o que faço agora. Quero desde já agradecer a resposta, e

pedir permissão para consultá-lo quando precisar.


Resposta:

Achamos super legal você ter procurado e encontrado a gente. Sempre que precisar, tentaremos ajudá-lo na

medida do possível e com alegria.

Você fez uma ótima pergunta, mas nos colocou numa situação perigosa... Quem será que tem razão: o pai ou o

professor? Mmmm...

Os dois!!!

Seu professor deve ter se referido provavelmente ao nome de "Iud", "He-i", "Vav", "He-i", que é a essência do

nome de D’us e que jamais pode ser pronunciado, pela grande Santidade que possui. Nem ao menos

pronunciamos as letras em sequência. Aliás, nem sabemos a pronuncia correta destas letras, pois ela foi

guardada em segredo.

Antigamente, na época do Primeiro Beit Hamicdash, Templo Sagrado em Jerusalém, apenas o Sumo

Sacerdote, a pessoa mais santa do povo judeu, poderia, uma vez ao ano, Yom Kipur, entrar no Santo dos

Santos e pronunciar uma única vez o verdadeiro nome de D’us.

Mas seu pai tem razão, pois cada vez que aparece este nome (o tetragrama) nas leituras sagradas e nas rezas,

pronunciamos o nome de A-do-nai que significa "O Mestre". Este nome não pode ser pronunciado em vão.

Elo-kim, que é o plural, demonstra como D’us Único está manifesto no mundo de diferentes maneiras. A Cabalá

explica como o nome Ado-nai está ligado à bondade ilimitada enquanto Elo-kim é severidade e limitação. Os

nomes de D’us mencionados na obra Mishnê Torá de Maimônides são relacionados pela Cabalá com os

diversos atributos Divinos.

Sêfer Yetsirá
Pergunta:

Li no site que procurar qualquer tipo de magia é errado, mas e aquelas originárias diretamente da Cabalá? Me

refiro aqui a atos como os descritos no Sêfer Yetsirá.

Resposta:

É preciso que fique claro que tudo vem de D’us. Como é possível que certas pessoas usem poderes

"sobrenaturais"? A resposta é que para todas as forças de pureza, há forças de impureza diretamente

proporcionais. O mundo, tanto o espiritual quanto o material, foi criado em perfeita harmonia. Portanto, estas
pessoas utilizam os poderes das forças de impureza, e assim fazem magias, que como você relembrou, são

proibidas.

Existem poderes que provêm das forças de pureza, e o Sêfer Hayetsirá é uma delas. Na nossa história houve

grandes rabinos que utilizaram estas forças. Vamos enfatizar que eles eram "grandes rabinos", pessoas

extremamente elevadas espiritualmente, tanto pelo refinamento de seu caráter quanto por sua vasta sabedoria

e a pureza de suas intenções, num nível inimaginável para nós. Somente eles tinham a capacidade de entender

corretamente a Cabalá, e, principalmente, saber qual é o momento necessário para usar estas forças.

Portanto, há dois problemas quando pessoas simples envolvem-se com estas magias, por mais que originem-

se da Cabalá: 1) Não tem o conhecimento nem o nível necessário para entender o que está escrito

corretamente; 2) Estas forças não devem ser usadas a bel prazer, mas apenas em casos realmente

importantes, e apenas os gigantes espirituais são capazes de julgar quando isto é necessário.

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