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Toda a leitura que poderá ser feita de um objeto depende da sensibilidade e da bagagem cultural
(simbólica, imaginária e criativa) daquele que fará a interpretação. Claro, a prática constante da leitura
visual leva à um melhoramento significativo na clareza de conceitos e precisão. De acordo com
Gomes (2002, p. 103)) existem dois passos básicos que nos podem orientar para uma correta leitura
da forma, um que leva em conta as leis da gestalt e outro, o segundo, suas categorias conceituais. Mas
cabe salientar que, como sempre, o método não é único e com a prática cada designer pode criar suas
próprias formas de desenvolver uma leitura confiável da imagem.
1.1 – Leitura Visual do Objeto pelas Leis da Gestalt
O primeiro passo é criar uma base sólida dentro das leis da gestalt tendo em conta seus
conceitos principais:
● Unidades: Elementos básicos da construção da forma;
● Segregação: Identificar as unidades separadamente;
● Fechamento: Sensação de fechamento visual dos elementos;
● Boa continuação: Freqüência que forma um padrão visual perceptível;
● Semelhança e/ou proximidade: Unificação da forma e agrupamento;
● Pregnância da forma: Harmonia, ordem e equilíbrio, boa composição;
Tendo identificado no objeto a ocorrência de tais leis da gestalt passamos para uma
seqüência de etapas até a obtenção de um maior ou menor grau de pregnância. De acordo com
Gomes (2002, p.104) devemos considerar os seguintes passos:
1. Examinar o objeto e segregalo em suas partes ou unidades principais.
2. Decompor estas unidades principais segregadas em suas outras unidades
compositivas, e assim sucessivamente, até um nível considerado satisfatório.
3. Identificar, analisar e interpretar cada uma das leis da gestalt em cada unidade,
originadas por segregações de natureza variada no objeto, e descrevêlas
caracterizandoas, por exemplo, como segregações físicas por meio de suas massas ou
volumes e também por outros tipos de segregações como um ou mais de um dos
seguintes elementos: pontos, linhas, planos, cores etc. e, ainda, por características de
acabamento como, brilho, texturas, relevos positivos ou negativos, e assim por diante.
4. Concluir a leitura visual, interpretando a organização formal do objeto como um
todo, atribuindo um índice de qualidade para sua pregnância formal como, por
exemplo: baixo, médio ou alto ou, se quiser ser mais preciso, atribuir um índice de
avaliação de 1 a 10.
1.2 – Leitura Visual do Objeto pelas Categorias Conceituais
Aqui serão utilizadas as categorias conceituais fundamentais e aplicadas, tudo a partir dos
dados obtidos no primeiro passo, fazendo uma análise do todo do objeto. Da mesma forma tal
análise depende muito do repertório conceitual e imaginário do observador, mas a prática leva
à perfeição. Devese buscar no mesmo objeto associação com as categorias que mais se
encaixem ao caso e com isso relacionar textualmente a teoria e a prática em forma de análise.
Como afirma Gomes (2002, p. 105) aquele que busca interpretar o objeto “deverá julgar se a
imagem do objeto reflete padrões de harmonia e equilíbrio no seu todo e/ou nas suas partes
constitutivas; se existe coerência, clareza, regularidade, e assim por diante”. Aqui podemos
voltar ao índice de pregnância e aplicar uma classificação ao objeto que pode ser considerada
final e levar em conta a primeira etapa (onde consideramos apenas as leis da gestalt).
2 – Abordagem Semiótica do Projeto
Colocando em prática a teoria semiótica e buscando pavimentar um caminho seguro para sua
aplicação ainda na fase de projeto de um produto (objetivo principal do designer) seguem alguns
conceitos básicos para melhor utilização do potencial de comunicação de um produto. São passos já
testados efetivamente e sugeridos por Niemeyer (2003, p. 60) e podem ser resumidos da seguinte
forma:
● Identificação de valores : Delimitação da “personalidade” do objeto (produto, peça gráfica,
campanha publicitária etc.) aquilo que forma sua essência, seus valores, seu caráter único. O
desenvolvimento de um brainstorm sobre idéias relativas ao objeto é o princípio para uma
idéia clara de identidade, tendo em conta informações obtidas no briefing com o cliente.
● Construindo a identidade: Nosso objetivo enquanto designers é projetar para comunicar. Já
identificados os valores do produto o designer deve estar seguro da forma com que vai
comunicar tais valores. Muitas vezes devese desconfiar do próprio briefing definido pelo
cliente e terse em conta fatores concretos do públicoalvo. Uma ótima idéia é construir um
personagem que sirva de exemplo do público que desejase atingir, tendo em conta fatores
como: sexo, idade, nível cultural, padrão econômico, estrutura familiar, vida afetiva, perfil
profissional, interesses pessoais, estilo de vida, modo de vestir, valores morais, hábitos, metas
e até um desenho. de acordo com Niemeyer (2003, p. 62) “cada tipo de indivíduo guarda
algumas expectativas em relação ao produto. Ao se obter a síntese de três, quatro ou cinco
palavras que particularizem este estado, podese começar a buscar os elementos materiais que
o expressem”, isso levando em conta aspectos fisiológicos, sociais, psicológicos e ideológicos.
● Identidade visual : Entre uma equipe multidisciplinar, incluindo até mesmo clientes,
funcionários, fornecedores e membros da comunidade (dependendo do tipo de projeto) sob
orientação do designer desenvolvese uma listagem de palavras que expressam valores
relacionados ao objeto. Depois disso se escolhe três ou quatro palavras que são escritas em
cartões, então em uma mesa são distribuídos vários “motivos visuais” como: desenhos,
recortes, fotografias etc. Os membros da equipe retiram as imagens que não dizem respeito ao
assunto (as palavras) e, ao mesmo tempo, selecionam aquelas referências que conseguem
chegar o mais próximo de representar todos os conceitos. Chegandose em um consenso das
principais imagens (até dez) selecionase apenas uma e focase toda a atenção sobre ela, o que
deve representar em maior ou menor grau a personalidade do produto. Juntamente com o
briefing e todo o aparato das fases anteriores e se analisa: cores, luminosidade, pregnância da
forma, construção, textura etc. (podemos aplicar a avaliação a partir das leis da gestalt e das
categorias conceituais)
● Associação nas classes sígnicas : Aqui relacionamos cada componente dos enunciados
(conceitos, palavras escolhidas na fase anterior) com o objeto de acordo com as categorias
semióticas: índice, ícone, símbolo). Essa relação pode ser feita em uma tabela para
organização e especificação textual da observação. Com isso podemos fazer um esboço das
relações corretas do objeto, o que acaba por contribuir nos dados coletados no briefing e no
brainstorm.
● Geração de alternativas: Por fim iniciamos o processo de projeto e criação, os primeiros
esboços de acordo com todo o processo desenvolvido. Podese fazer um novo brainstorm
discutindo os resultados obtidos, com isso criamse novas e diferentes propostas que
enriquecem o projeto. Como afirma Niemeyer (2003, p. 62) “as alternativas resultantes são
submetidas a uma avaliação empírica por meio de testes comparativos, para se fazer a seleção.
Com isso pretendese verificar se a solução adotada veicula os conceitos inicialmente
definidos”. É sobre esse controle que recai a responsabilidade de definir a solução final do
projeto.