Вы находитесь на странице: 1из 175

PARTE1.

ADAPTAÇÃO DE AÇUDES PARA A PISCICULTURA


Joáo Oliveira Chacon1

O açude tem como finalidade principal a acumulação de água. O uso das águas acumuladas é, no
entanto, muito diferenciado de açude para açude; assim é que alguns servem basicamente para
abastecer cidades e outros centros populacionais; outros para a geração de energia elétrica,
perenização de cursos d'água, irrigação de cultura à montante e à jusante, fins industriais, etc.

Para os fins aqui descritos, a construção das represas segue praticamente as mesmas técnicas
de engenharia, pois comumente não se conhece açudes construídos para a piscicultura como
finalidade principal, sendo pois o peixe subproduto de um açude. É, no entanto, um subproduto de
considerável valia economica e social, sendo pois muito importante as adaptações das represas
para a piscicultura, tanto sob o ponto de vista da engenharia civil, como sob a ótica da bio-
ecologia das águas represadas.

Assim, no Nordeste brasileiro, ao se barrar um curso d'água, faz-se necessária a construção das
escadas-de- peixe e eclusas, com o objetivo a não interrupção das piracemas das espécies
reofílicas no tempo das enchentes. O desmatamento das bacias hidráulicas tem objetivos comuns
de facilitar a navegação e viabilizar o uso intensivo de aparelhos de pesca. A erradicação de
piranhas e outras espécies predadoras nas bacias hidrográficas e hidráulicas é também um
trabalho indispensável, se há o desejo de se fazer o povoamento da coleção d'água com espécies
economicamente viáveis.

1.1 Importância da Pequena e Média Açudagem Para Criação de Peixes


A piscicultura intensiva, sob o ponto de vista empresarial, é muito mais interessante do que a
extensiva pratcada a nível de pequenos e médios açudes. No entanto, cabe à produção destes
açudes uma fatia muito maior do mercado de peixes em termos de peso e valor de produção .
Sabe-se que a produtividade desses reservatórios é realmente muito baixa, em torno de 150 a
200kg/ha/ano, é possível, entrentanto, a adoção de algumas medidas técnicas no sentido de
otimizar essa produção e torná-la ainda mais significativa no contexto econômico. Assim, pode-se
faze uma seleção mais criteriosa das espécies a serem utilizadas no povoamento, usando para
isso peixes prolíficos e melhores produtores de carne; é possível também controlar o esforço da
pesca, para que ele seja a penas exploratório, e não espoliatório. Na escolha das espécies para o
povoamento, é muito importante o conhecimento da coleção d'água como um nicho ecológico;
assim é necessário a utilização de espécies que explorem os diversos níveis da coluna d'água
(superfície, fundo, etc) porque em cada um desses locais existem componentes diferentes do fito
e zooplâncton que fomrcem também diferemtes tipos de alimento natural. É interessante também
que as espécies sejam mutualistas, e não concorrentes, para que haja um equilíbrio ecológico
satisfatório.

1 - Pesquisador do DNOCS e Chefe do Servço de Economia Pesqueira do Centro de Pesquisas Ictiológicas “Rodopho von lhering”.

Estes e outros conhecimentos devem ser levados aos proprietários de açudes peios técnicos mais
diretamente ligados a eles, no caso os extensionistas agrícolas. Daí a importância deste tipo de
treinamento, proporcionado pela FAO, vindo preencner uma lacura há muito tempo sentida por
nós, técnicos das instituições de pesquisa. A extensão vem a ser, então o nosso elo de ligação
com o produtor, que é, afinal, objetivo maior de todo o esforço da descoberta e da criação da
tecnologia esforço este que esta custa muito caro aos bolsos do contribuinte de impostos.

1.2 Finalidade e Usos Multiplos dos Açudes


A acumulação de água em açudes de pequena, média e grande capacidades constituem-se no
primeiro passo para minorar os efeitos das secas e decorrente fixação do homem à terra, dando
melhores condiçõ de vida.

Muitas são as tinalidades dos açudes: a) abastecimento público (município e adjacências); b)


irrigação de terras de montante e jusante; c) recreação (pesca esportiva, lazer e turismo); d)
agricultura de vazante; e) navegação; f) piscicultura (especificamente); e g)aproveitamento
hidroelétrico.

1.2.1 Abastecimento público (município e adjacências)

A construção das açudes e dos grandes barragens, principalmente dos Rios São Francisco e
Parnaíba, que tiveram e continuam tendo seus cursos d'águas seccionados por essas obras,
destinou-se principalmente a geração de energia elétrica, irrigação, abastecimento d'água. A
piscicaltura, neste contexto, tem tido sempre importância secundária.

Dependendo da capacidade do açude e/ou da barragem, podem abastecer não só a cidade onde
estão situados, como também as adjacentes. Nos médios e grandes açudes, a comporta é aberta
para o fluxo d'água dar movimentação à turbina; a jusante, cai no canal principal, donde dá a
derivação para a irrigação e parte é desviade para uma rede de tubulação, para os tanques de
tratamento d'água da Companhia de Água e Esgoto, a qual se encarregrá de distribuir às caixas,
d'águas, chafarizes, bebedouros públicos e casas residenciais. Nas barragens, por sua vez, já
consta uma derivação para a mesma finalidade.

1.2.2 Irrigação

Tão antiga quanto a própria História é a irrigação das terras. A sua sombra civilizações brilhantes
nasceram e floresceram; mas, com a irrigação desapareceram, devido ao mau uso da água a que
fora conduzidas pela falta de meios e de conhecimentos (Duque, 1965).

Em função de se tratar de um assunto bastante polêmico, vamos nos ater aos aspectos mais
simplistas da irrigação, vista aqui apenas como uma atividade agrícola lucrativa.

Em princípio, por causa dos elevados custos financeiros, tem se procurado instalar projetos de
irrigação em áreas nobres em termos de qualidade de solo, como são as terras aluviais do
Nordeste brasileiro. Outro aspecto a ser levado em conta, também em função dos outros, é a
topografia do local, que é decisiva quando se tem que sistematizar áreas para o uso da irrigação
por gravidade. Por outro lado, como são relativamente poucas as culturas nobres que podem ser
efetivamente implantadas em nosso meio, pelos mais diversos motivos, é necessário que se tenha
o maior critério na escolha das culturas de subsistência, considerando o seu potencial de
produtividade, o que poderá torná-las economicamente viáveis.

De maneira sistemática, é muno simples o modelo usado para a distribuição de água aos lotes
agrícolas; a comporta da barragem é aberta e água flui pelo canal de adução; dele é feita a
distribuição para os canais básicos que conam a bacia de irrgação, säo os canais primários, com
vazões que giram em torno de 150 1.s; em seguida a água passa os canais secundários que são
as vias de chegada às quadras hidréulicas, compostas por quatro lotes agrícolas. Até aqui, toda a
malha de canais é construída concreto e/ou alvenaria. Dos canais secundários, passam então
para os tercários ou parcelares, que distribuem a água para cada parcela do lote agrícola. Esses
canais são construídos com material argilo-silicoso e revestidos com piçarra.

O excedente da irrgação cai na rede de drenos secundários, passando depois pare os principais,
voltando então a correr no leito normal do rio daí em diante.

Naturalmente que exitem algumas variantes, pois em alguns perímetros a irrigação é feita por
aspersão; noutros, há necessidade de bombeamento para a elevação e daí em diante a irrigação
é feita por gravidade. No entanto, este é o esquema predominante nos perímetros geridos pelo
DNOCS.

1.2.3 Recreação (pesca esportiva, lazer e turismo)

As atividades do lazer-acampamentos, esporte aquáticos, pesca esportiva e turismo organizados-


não são favorecidas pela represa e/ou açude, apesar da beleza do cenário nas partes livres de
vegetação, principalmente por causa das árvores parcialmente submersas, e outras como: a) o
receio as espécies predadoras (piranhas e pirambebas: Serrasalmidae) em alguns açudes; b) a
ausência de vias de comunicação ligando o local da recreação; a moradia do recreante ou aos
locais situados nas margens da represa; c) as dificuldades de navegação; e d) a inexistência de
uma infra-estrutura organizada para dar condições ao turismo. Tudo isso explica a pouca
importância dada a esta atividade.

1.2.4 Agricultura de vazante

Um açude constitui algo de grande importância, se bem construído, notadamente quando a região
é seca e carente de água, como acontece com o Nordeste brasileiro, onde toda a água que se
puder acumular acumular ou guardar terá benefícios valiosos na sua utilização. Além de
transformar o clima local, tornando-o mais agradável e menos quente, com a sua contribuição de
água evaporada nop ar, esse manancial contribuirá, predominantemente, para: a) utilização das
terras banhadas pelas águas a montante do açude (flixa molhada), para implantação de vazantes
diversificadas, desde o capim para pecuária, até batatas, milho, feijão, hortaliças em geral, etc; e
b) pequena ou média irrigação para aproveitamento agrícola das terras de jusante do açude (faiza
seca), com utilização d'água, através de técnicas variadas a serem recomendadas para cada
caso, quer por gravidade ou aspersão.

A faixa seca de terra é a situada entre a cota de repleção do reservatório e a linha que limita a
terra desapropriada ou a ser desapropriada.

O lote de vazante é a parcela de terreno inundável, cuja frente é medida em metros lineares, com
extensão em torno de 50 metros pelo limite da água quando esta se encontra na cota da soleira
do sagradouro, tendo por profundidade a distância entre a frente citada e o nível decrescente
d'água no reservatório ou o eixo do leito seco do rio ou córrego.

O lote seco é a área de terreno que se situa acima das vazantes e que pode estender-se até a
cerca de contorno, com o limite de 12 a 30 hectares, podendo ser concedida a uma família.

Na demarcação de lotes secos e de vazantes levar-se-á em conta a topografia e acidentes


geográficos existentes, devendo a cada lote seco corresponder a um lote de vazante, contíguo,
sempre quo possível. A dimensão do lote seco, variando de 12 a 30 hectares, dependerá, antes
de tudo, do tipo de solo e sua vocação, e os limites serão demarcados com piquetes e em cada
um afixada uma tabuleta numerada, registando-se em seguida em livro próprio. Igualmente, no
lote de vazante, a mesma providência deverá ser tomada.

Os lotes mais indicados para a pecuária, ou de baixa produtividade, deverão ser maiores do que
os lotes com bons solos agrícolas; mesmo critério deve vigorar na divisão dos lotes de vazantes,
cuja dimensão (frente) deve situar-se em torno de 50 metros, com variação para mais,
dependendo das condições locais de demanda e da qualidade e quantidade das terras de vazante
disponíveis. Deve-se ter em vistas que o lote seco, com o auxílio da vazante, ofereça condições
para manter uma família de cinco a oito dependentes, com padrão em torno do que permite o
salário mínimo.

1.2.5 Navegação
A navegação nos pequenos e grandes açudes torna-se perigosa, embora seja praticada em
pequena escala pelas primitivas canoas de fundo chato e de caverna, construídas de madeira;
são embarcações comuns em todos os açudes do Nordeste brasileiro. Estas servem como meio
de transporte do pescador o qual se desioca de sua vazante e vel até o local de trabalho - as
pescarias, e é também usada, nos dias de feira para transportar sua pequena produção de alguns
cereais, legumes e/ou mesmos pequenos animais.

A embaicação usualmente empregada nos açudes do Nordeste brasileiro é a canoa a remo, como
já foi citado acima. É feita da madeira denominada “pau branco”, Auxema oncocalyx Taub., e
têm geralmente comprimento que varia de 3,0 e 4,5 metros; os remos são também de madeira e o
tamanho variando de 1,5 a 2,0 metros. O valor de tais embarcações depende de suas dimensães
e do tipo da madeira empregada na sua contrução, dependendo disso a vida útil gira torno de três
a mais anos.

Em outros açudes de maior capacidade como Orós, Banabuiu, Pentecoste, Araras, Lima campos
(CE); Açu, Caicó (RN); Curema, Mãe d'água, Piranhas (PB); e Moxotó (PE), existem barcos
motorizados que chegam a transportar de 20 a 30 pessoas e suas bagagens, principalmente nos
dias de feiras, e durante os outros dias da semana eles fazem a linha diariamente de todo o
contorno da bacia hidráulica do açude, uns indo pela margem direita e outros pela esquerda, isto
devido a grande população que habita em torno do açude. Este fato é constatado e necessário,
em virtude de existir estrada de acesso ao contorno do açude, porém não existe transporte que
faça diariamente a conduço de pessoas, a não ser os donos de fazenda que viajam quando de
suas necessidades. Portanto, a navegação no açude é indispensável.

No entanto, o seu desenvolvimento está comprometido em virtude do perigo de acidentes,


causados por obstáculos e/ou riscos criados pela primitiva floresta e antigas casas de
camponeses, as quais não foram erradicadas durante a construção da bacia hidráulica de alguns
açudes. As principais causas de acidentes são: a) troncos de madeira ao nível da água que, pela
ação de ondas, provocam choques com as embarcações; b) abairoamento com troncos
submersos, inclusive aqueles que sofreram quebra de sua parte emergente; e c) colisão com
barrancos de areia que afloram a superficie da água, na medida em que esta é perdida através da
evaporação e da irrigação.

1.2.6 Piscicultura (especificamente)

A piscicultura, ou seja, a criação de peixe, é um dos ramos da Zootecnia, Fan Li, cm 475 a.C., já
dizia que a piscicultura era uma atividade lucrativ (Azevedo, 1972) in Nomura 1976. Entretanto, a
fecundação artificial de peixes, a criação de larvas e o aproveitamento comercial do adulto só
tiveram início por volta de 1733 (Gomes. 1940) in Nomura, 1976.

Em terras que não são adequadas para a agricultura, devido a alinização, pode-se implantar a
criação de peixes; vivendo estes em ambientes líquido e sendo animais de sangue frio, requerem
um mínimo de energia para manter sua temperatura corporal.

A criação de peixes pode também converter-se em um elemente principal gerador de ingresso em


programas de desenvolvimento rural, complementada pela produção agrícola e animal pode gerar
emprego em setores rurais dos países em desenvolvimento, e melhorar a qualidade de vida dos
rurícolas.

Devem ser diferenciados três tipos principais de piscicultura, que, entretanto, podem ainda
apresentar subdivisões. Os trôs principais tipos são: a) piscicultura extensiva; b) piscicultura
intensiva; e c) piscicultura superintensiva.

1.2.6.1 Piscicultura extensiva


Pode ser praticada nas águas fechadas artificiais que não foram construídas diretaments para
cultivo de peixes, como os açudes e reservatórios. Em outras palavras, foram construídas para
outra finalidade, por exemplo, para armazenar água para irrigação, para bebedouro de animais,
energia elétrica, etc. A piscicultura extensiva pode ser praticad nas lagoas naturais (melhor são as
pequenas e rasas) e outras áreas inundadas e fechadas como nos grandes lagos. Nesta situação
a piscicultura é uma atividade de maior valor sócio-econômico.

Estes tipos de coleções hídricas devem ser povoadas com peixes de cultivo qualitativo e
quantitativamente adequado para utilizar as fontes de alimentos naturais, que, sem os peixes,
seriam perdidos.

O povoamento das coleções de água utilizadas se faz, inicialmente, a partir das espécies ictícas
nativas (autoctones), podendo o homem complementá-lo, posteriormente, introduzindo espécies
selecionadas.

No caso da piscicultura extensiva contamos somente com alimentos naturais produzidos na água.
Nesta modalidade de piscicultura não se alimenta os peixes regularmente e não se fertiliza a água
com fertilizantes orgânicos ou inorgânicos. Os animais que bebem água nestes locais
automaticamente deixam cair seus excrementos, que fertilizam a água, favorecendo a produção
de peixes.

A produção de peixes nesta modalidade depende principalmente de três fatores: a) capacidde de


suporte alimentar da água ou em outras palvras, da produtividade natural da água que depende
da quantidade de nutrientes (fosfatos, nitratos e materiais orgânicos) da água e do solo; b)
escolha de espécies adequadas, taxa de povoamento e sobrevivencia do povoamento efetuado; e
c) bom manejo da piscicultura.

Deva-se ressaltar a importância do povoamento. O ideal seria se a coleção hídrica não tivesse
população natural de peixes, pois, assim, poder-se-ia fazer o povoamento com a taxa de
estocagem desejada. Caso a coleção de água já tenha uma população natural de pequenos
peixes forrageiros (sem valor comercial) pode-se fazer o povoamento com uma espécie de peixe
carnívoro mais valioso, para utilizar esta fonte de alimento. No caso de haver muitos peixes
carnívoros, o número de alevinos povoados deve ser bem alto para compensar aqueles que serão
alimentos dos carnívoros.

1.2.6.2 Piscicultura intensiva

É praticada em viveiros construídos estritamente com o fim de se criar peixes. Piscicultura


intensiva é a piscicultura tradicional praticada há centenas de anos na Europa e mais de mil anos
na China.

Os viveiros são povoados somente com peixes de cultivo. Todo esforço é feito para impedir a
penetração de peixes selvagens indesejáveis (esses peixes selvagens, são carnívoros, competem
com os peixes de cultivo por alimentos naturais e consomem valiosos alimentos artificiais). Os
peixes selvagens carnívoros colocam em risco a povoação dos peixes de cultivo.

Para aumentar a produtividade da água aplica-se fertilizantes orgânicos (adubos orgânicos) e/ou
inorgânicos. Para aumentar diretamente a produção ou o crescimento dos peixes usa-se
“alimentos artificiais” (alimentos artificiais são todos os alimentos que não são produzidos nos
viveiros) que o piscicultor coloca no viveiro. Estes viveiros são construídos e totalmente drenáveis,
uma ou mais vezes anualmente.

1.2.6.3 Piscicultura superintensiva

Esta modalidade de piscicultura foi aplicada quase tão somente para cultivar trutas. Ouando as
gaiolas puderam ser fabricadas de materiais não perecíveis e a fabricação dos alimentos artificiais
comprimidos tornou-se possível, a piscicultura superintensiva foi expandida para cultivos de outras
mais preciosas espécies de peixes, como a enguia, bagre de canal (USA), bagre da Europa,
tilápia nilotica, etc.

No caso da piscicultura superintensiva uma só espécies de peixe é cultivada em alta densiduade


de povoação (em cada metro cúbico de gaiola ou tanques pequenos se coloca 20–100 peixes).

Aqui se necessita o provimento de oxigênio continuadamente e a remoção dos metabólicos dos


peixes, principalmente os amoniacais e os restos de alimentos podres.

No caso da piscicultura superintensiva os peixes são alimentados somente com alimento


comprimidos (pellets) ou semelhante, e balanceados com tipos e teores de proteínas, minerais,
vitaminas e outros ingredientes indispensáveis para o crescimento dos peixes.

Este tipo de alimento é bastante caro, por isso cultiva-se peixes de alto valor de mercado. Nesta
modalidade de piscicultura não se pode contar com os alimentos naturais da água.

São muitas as opções do cultivo superintensivo, que é um novo ramo da piscicultura que já
apresenta um alto grau de desenvolvimento, em várias partes do mundo e poderá ser mais uma
opção disponível ao piscicultor, para o cultivo de espécies brasileiras de alto valor comercial,
como, também, para o cultivo em escala reduzida visando o consumo doméstico.

1.2.7 Aproveitamento hidroelétrico

Abaixo das grandes represas, são construídas as usinas hidroelétricas, que consistem de
turbinas, com um potencial de KWA que varia de acordo com a altura da coluna água e o
potencial do rio que a mesma barrou.

A represa sempre tem uma finalidade de geração hidroelétrica, principalmente para suprir a
instalação industrial e em consequência beneficiará a agricultura, fábricas, hospitais, residencias e
outros aproveitamentos de major valia e importância energética para a região.

Junto aos grandes benefícios que a represa trás para grupos de importância sócio-econômica,
trás também séria ameação para a manutenção das espécies de peixes no rio que a mesma
barrou e também na sua bacia hidráulica, com a construção de indústrias de celulose, produtos
químicos, etc. Chamamos atenção também quanto às alterações físicas e ecológicas da bacia
hidráulica que poderão ocorrer.

1.3 Aproveitamento de Represas Para Criação de Peixes


Entendemos como recursos pesqueiros todas formas vivas que tenham na água seu normal ou
mais frequente meio de vida, juntamente com um definido interesse econômico. Portanto, os
recursos pesqueiros se enquadram na categoria dos recursos naturais renováveis (Paiva, 1986).

A maioria das formas vivas (animais e vegetais) aquáticas não apresentam qualquer valor
econômico, vista por uma ótica imediatista. Entretanto, elas ocupam importantes posicões em
suas respectivas biocenoses, simplesmente porque nada é inútil na natureza, porque tudo é
aproveitado nesta ou naquela forma de vida.

Para se ter um bom aproveitamento na criação de peixes de uma determinada represa, tem-se
que observar alguns itens muito importantes: a) assoreamento da bacia hidráulica; b) redução da
descarga da bacia hidráulica (afluente); c) turbidez elevada da água; d) flutuação rápida e
frequente do nível de água; e) elevado índice de carnívoros; f) processo acelerado de
eutrofização; g) danificação do fundo pela canalização e/ou dragagem; h) alterações dos
parâmetros químicos e físicos da água (O2 dissolvido, CO2 livre, pH, temperatura, etc.).
1.3.1 Assoreamento da bacia hidráulica

A causa do assoreamento da bacia hidráulica éo desmatamento (florestal e vegetação ciliar) às


margens dos rios da bacia hidrográfica da represa. Na época das enchentes, os rios desnudos de
vegetação sofrem erosão, carreando amontoados de areia e/ou terras para o leito do rio principal,
tornando-se muitas vezes, em certos trechos, inavegável, por causa dos bancos de terras. Isto
também prejudica a proliferação da fauna e flora da bacia hidráulica da represa.

Não obstante, havendo um certo controle das enchentes pela conservação das florestas e
vegetação ciliar, construção de açudes em trechos de rios da bacia hidrográfica, evitar-se-á
consequentemente o assoreamento e também as inundações que possivelmente ocorreriam.

1.3.2 Redução da descarga da bacia hidráulica (afluentes)

As primeiras barragens conhecidas datam da mais remota antiguidade. Criadas para reter as
águas correntes e permitir assim recuperar para as culturas e população as regiões estéreis,
permitiram o desenvolvimento da civilização.

O controle da descarga da bacia hidráulica de uma represa, depende da construção de açudes,


barragens e diques em leitos de rios da bacia hidrográfica para controlar o fluxo d'água que se
dirige para o rio principal o qual abastece a bacia hidráulica da represa.

1.3.3 Turbidez elevada da água

A energia da vida aquática provém do sol; por isso, é necessário que a luz penetre na água em
boas condições. Esta penetração depende, entre outros fatores, do estado de turvação da água e
é tanto mais difícil quanto mais poluida se encontrar.

A turbidez das águas é a redução da transparência, devido à presença de substâncias em solução


ou em suspensão. A turbidez pode alterar o ambiente aquático de várias maneiras, tais como,
pela redução da luminosidade, pelo aumento da temperatura (partículas em suspensão absorvem
o calor mais rapidamente que a água) e pela sedimentação.

Se a diminuição da transparência é devida a abundância de plâncton, a água é muito rica e a sua


produtividade tende para o máximo.

No entanto, as matérias orgânicas em suspensão podem igualmente aumentar a turvação e,


neste caso, não só a luz penetra dificilmente na água como, ainda, as partículas em flutuação
podem acumular-se nas guelras ou brânquias causando, por asfixia, a morte dos peixes.

Um instrumento simples e de fácil manuseio, destinado a medir a transparência de uma água, éo


chamado “Disco de Secchi”. Trata-se de um disco metálico, com aproximadamente 30 cm de
diâmetro, pintado com faixas pretas e brancas, para mais facilitar sua visualização, no centro do
qual se fixa uma corda; com o auxilio desta corda vai-se imergindo o disco na água e mede-se a
porção de corda que foi submersa. Esta porção corresponde à profunidade de visibilidade d'água.

1.3.4 Flutuação rápida e frequente do nível da água

Represas são ambientes lênticos decorrentes de construção de barragens, que impedem o fluxo
normal de cursos d'água. Em função da altura das barragens, à semelhança dos casos anteriores,
as represas podem também ser denominadas de lagos artificiais.

Estes ambientes artificiais podem ser construídos com diversas finaliades, tais como estabilização
dos cursos dos rios, produção de eletricidade, irrigação, etc.
É comum, principalmente nas grandes represas, a ocorrência de duas circunstâncias ecológicas
desfavoráveis àvida dos peixes: excesso de matéria orgânica na região inundada e a flutuação
periódica de nível.

O excesso de matéria orgânica é representado principalmente pela vegetação terrestre, antes


existente na região (matas, campos, culturas) as quais, após submersas, morrem e entram em
decomposição, inicialmente aeróbica. Caso ocorra estratificação térmica, após o oxigênio
dissolvido no hipolímnio haver sido totalmente consumido, a decomposição prosseguirá através
de processos anaeróbicos, com consequente formação de gases tóxicos.

Já a flutuação periódica de nível éum fenômeno comum àquelas represas onde o fluxo de água
periodicamente é menor que a vazão. Nestas ocasiões as águas baixam de nível, deixando a
descoberto faixas de terra, dantes submersas. Se esta situação perdurar por longo tempo,
ocorrerá o posterior retorno das águas da represa ao nível primitivo, aquela massa verde será
submersa, morrerá e entrará em decomposição. Se, porém, a flutuação de nível for rápida, fato
comum em pequenas represas, não haverá tempo suficiente para que aquela vegetação se
desenvolva, em contra-partida, nesta nova situação outros fatos indesejáveis podem ocorrer, tais
como a perda da desova de peixes que façam seus ninhos a pouca profundidade.

1.3.5 Elevado índice de carnívoros

A fauna carnívora-durante esta fase, uma fracção da fauna herbívora (microfauna e macrofauna)
é consumida pela fauna carnívora, a qual compreende também os organismos inferiores, assim
como os peixes vorazes.

A fauna herbívora, que escapa à fauna carnívora voraz, é reintroduzida no ciclo depois da sua
morte graça à atividade bacteriana.

No âmbito da fauna carnívora, os organismos mais fracos ou menores formam, no estado vivo ou
morto, uma parte da alimentação dos outros peixes vorazes.

Aqui, de novo, o ciclo biológico recupera, graças a mineralização, matérias nutritivas e energia
proveniente da matéria animal morta.

A produção piscícola, quer seja ao nível da fauna herbívora ou da fauna carnívora, é função da
multiplicação e desenvolvimento dos organismos vivos no decorrer das fases procedentes e é,
então, necessariamente limitada pela importância do povoamento biológico da água.

O povoamento das represas com peixes que não podem nelas se reproduzir, requer a prática de
sucessivos peixamentos, procedimento que só se justifica em caso de opulência. Assim mesmo,
somente quando for possível e economicamente viável a reprodução em cativeiro e a criação de
larvas e alevinos.

Portanto, a introdução de espécies de peixes nas represas nordestinas é recomendável: a)


quando podem suportar as condições resultantes da estática das águas; b) quando podem
colonizar nichos não ocupados por representantes da ictiofauna; e c) quando são
economicamente superiores às espécies nativas de semelhante comportamento biológico. É
necessário não esquecer o povoamento de camarões e peixes forrageiros, para aumentar os
níveis de produção intermediária da água; do mesmo modo é importante controlar as populações
de piranhas e pirambebas (Serrasalmidae) por meio da pesca seletiva.

1.3.6 Danificação do fundo pela canalização e/ou dragagam

A dragagem tem por finalidade limpar o fundo das áreas que foram assoreadas e limpar outras
também, retirando entulhos, detritos, etc, que foram carreados para a bacia hidráulica da represa.
Mas, em consequência, traz grandes prejuizos aos diferentes organismos que vivem, crescem e
se multiplicam na água ou no fundo, pois estão estreitamente ligados entre si e constituem os elos
duma cadeia que se chama o “ciclo alimentar”. Um organismo alimenta-se de outros organismos
menores e serve ele próprio de alimento a outros organismos maiores. o peixe é um dos elos
desta cadeia. Dragando-se um rio, lago ou uma represa, naquele local, está-se destruindo a
produção primária, que éo primeiro elo da cadeia alimentar de uma biomassa existente num
reservatório.

Mas a poluição por esgotos domésticos poderá aumentar a produtividade biológica das águas,
visto contribuírem para uma maior produção planctônica nas mesmas.

Entretanto, se o afluxo de tais poluentes for muito intenso, o ambiente poderá se tomar
incompatível à vida dos peixes, em decorrência de profundas alterações físicas, químicas e
biológicas do “habitat”.

1.3.7 Processo acelerado de eutroficação

Graças a ação do ar, do sol e do calor a água constitui um meio favorável para o desenvolvimento
de vegetais (micro e macro), que servem de alimentos a numerosos animais microscópicos ou
não, quer diretamente, quer consumindo outros animais menores.

As quantidades e os tipos de organismos observados dependem da qualidade da água, em


particular das suas características físico-químicas e das condições do meio ambiente.

Em geral, encontram, por filtragem especial, organismos muito pequenos que flutuam livremente
na água e que constituem o que se chama de plâncton. O plâncton, formado por plantas que se
desenvolvem a partir dos sais minerais contidos na água e a partir da luz do sol, chama-se
fitoplâncton. O plâncton formado de pequenos animais chama-se zooplâncton. Em geral, o
plâncton não pode ser visto a olho nu. Se o plâncton for abundante, dá à água uma cor mais ou
menos verde ou mais ou menos castanha escura, conforme os organismos que o compõem.

No fundo da água desenvolvem-se organismos geralmente maiores do que os do plâncton e


formam o que se chama de bentos. São sobretudo larvas de insetos, vermes, moluscos. Vivem na
superfície do fundo ou na lama deste. Alimentam-se geralmente de matérias orgânicas.

Diversas plantas crescem no fundo, sobretudo perto das margens, onde a profundidade da água
não é demasiada grande. Algumas, como os juncos, têm as raízes no fundo, mas crescem e
florescem acima da superfície. Outras, como o pirrixio, têm folhas e flores que flutuam à
superfície. Finalmente, outras vivem e florescem completamente debaixo da água.

Estas plantas, e também as pedras e os rochedos que estão na água, servem de suporte a
diversos organismos que formam o que chamamos o perifiton e que são em geral algas, larvas de
insetos e moluscos.

O processo acelerado de eutroficação dá-se na época invernosa, quando as cheias dos rios
tributários desaguam na represa. Naquele fluxo d'água esta constituído todo o “ciclo alimentar” de
diferentes organismos aquáticos.

1.3.8 Alterações dos parâmetros químicos e físicos da água (O2 dissolvido,


CO2 livre, p , temperatura, etc)
H

Características químicas-quimicamente as águas distinguem-se pelo seu teor em sais e gases


dissolvidos.
A água das precipitações atmosféricas aproxima-se sensivelmente da água destilada. É em
contato com o solo que dissolve os sais minerais com maior ou menor rapidez, consoante a sua
solubilidade.

Os sais dissolvidos constituem a riqueza mineral da água e pode-se dizer que o valor piscícola
duma água aumenta proporcionalmente em relação a sua diversidade e quantidade. É claro que
existe limitação e salinidade para as águas doces.

O valor piscícola de uma água depende essencialmente da natureza do terreno com que a água
está em contato.

1.3.8.1 Oxigênio dissolvido (O2 dissolvido)

Entre os gases dissolvidos, o oxigênio éo mais importante e absolutamente indispensável à vida


da maioria dos organismos que vivem num tanque (peixes, insetos, algas, plantas superiores etc),
o oxigênio provém da atmosfera ou das plantas verdes submersas; estas não libertam este gás
senão durante o dia.

Assim, depois de uma noite quente, um tanque rico em algas, pode ficar desprovidos de oxigênio
ao ponto de provocar a asfixia dos peixes, sabido que, nestas condições, a água se encontra com
uma elevada percentagem de anidrido carbônico dissolvido, que é normal a fauna piscícola.

1.3.8.2 Gás carbônico (CO2 livre)

Seja no estado livre ou sob a forma de ácido fraco ou de bicarbonato, encontra-se na água em
solução instável e, às vezes, sob a forma de carbonatos que precipitam, aliás muito pouco
solúveis.

A mistura de um ácido fraco-como o gás carbônico-com os seus sais desempenha na vida dos
organismos vivos e, portanto, na dos peixes, um papel muito importante.

Como para o oxigênio, os organismos e principalmente os vegetais têm uma ação primordial
sobre a distribulção do gás carbônico pela assimilação clorifiliana e pela respiração.

Quer dizer, a distribuição do gás carbônico, insuficientemente estudado até hoje, deverá
desempenhar um considerável papel na ecologia dos peixes.

1.3.8.3 O potencial hidrogeniônico (p ) H

Duma água depende da natureza e quantidade das matérias dissolvidas e varia em função de
numerosos fatores químicos e biológicos e está em estreita relação com as reservas alcalinas
disponíveis e com o seu teor em CO2.

A melhor água para a cultura do peixe é a que possui uma reação ligeiramente alcalina, isto é, pH
entre 7 e 8. Estes valores não devem ser inferiores a 4,5 –5,0 nem superiores a 8,0 embora exista
espécies ictiológicas e planctonicas que os preferem.

Características físicas - sob o ponto de vista piscícola temos a considerar, como mais importante,
a temperatura e a transparência.

1.3.8.4 Temperatura

A temperatura exerce uma profunda influência sobre a vida aquática e desempenha papel
preponderante na multiplicação, respiração e nutrição dos peixes.
É necessário conhecer-se a temperatura no período de reprodução, uma vez que as exigências
térmicas diferem segundo as espécies.

A temperatura tem influência preponderante no desenvolvimento dos micro e macroorganismos


aquáticos e no crescimento dos peixes, sabido que cada espécie tem um intervalo térmico de
maior ou menor amplitude.

lgualmente tem influência sobre o teor em oxigênio dissolvido e, por consequência, sobre a
respiração dos peixes, dada a oxigenação da água depender de vários fatores, mais está, no
entanto, em estrita ligação com a temperatura da água, sabido que, quanto mais elevada for esta,
menos oxigênio dissolvido possui.

1.3.8.5 Transparência

A energia da vida aquática provém do sol, pelo que é necessário que a luz penetre na água em
boas condições.

Esta penetração depende, entre outros fatores, do estado de turvação da água e é tanto mais
diffcil quanto mais poluída se encontrar.

Se a diminuição da transparência é devida a abundància de plâncton a água é muito rica e a sua


produtividade tende para o máximo. No entanto, as matérias orgânicas em suspensão, podem
igualmente aumentar a turvação e, neste caso, não só a luz penetra dificilmente na água como,
ainda, as partículas em flutuação podem acumular-se nas guelras ou brânquias originando, por
asfixia, a morte dos peixes.

1.4 Melhoria das Condições Bio-Ecológicas


Segundo a natureza dos terrenos que atravessam, as águas piscícolas são mais ou menos ricas
em substâncias nutritivas, o que condiciona uma produção maior ou menor de peixes.

O melhoramento racional da qualidade da água - como é o caso da piscicultura em tanques - pela


utilização de adubo e estrumes - não é realizável nas águas correntes e sómuito
excepcionalmente nas águas paradas naturais (lagos).

A compreensão dos fenômenos biológicos que se desenvolvem na água, assim como a


interpretação da produtividade piscícola, não são possíveis sem que se conheçam os diferentes
elementos, fases e transformações, que intervém no ciclo da vida aquática e conduzem ao estado
final, o peixe.

Para se fazer uma mehoria nas condições bio-ecológicas de um ecosistema, seria necessário
fazer: a) a proteção de lagos e alagadiços marginals da bacia hidrográfica; b) a preservação ciliar;
c) o desmatamento da bacia hidráulica; d) a erradicação de espécies indesejáveis (piranhas e
pirambebas: Serrasalmidae); e) o controle da vegetação aquática: flutuante, emersa e submersa;
e f) a atenuação do impacto ambiental.

1.4.1 Proteção de lagos e alagadiços marginais da bacia hidrográfica

É muito importante a proteção dessas coleções d'água porque na ocasião das cheias os rios
transbordam, principalmente nas zonas de correnteza mais branda, inundando regiões
circunvizinhas. Terminando aquele perfodo, retornam a seus limites normais, permanecendo em
alguns trechos, anteriormente inundados, coleções de água, denominadas “lagoas marginais” as
quais, geralmente, são pouco profundas e muito ricas em nutrientes, apresentando grande
produtividade biológica.
Tais ambientes são do suma importância para a perpetuação de espécie de peixes fluviais,
porquanto ali seus alevinos terão condições de sobrevivência e desenvolvimento, muito superiores
às existentes nos rios. Entretanto, para que tal ocorra, énecessário que estas lagoas mantenham
um volume adequado de água, até serem atingldas novamente, pelas próximas cheias.

Outros tipos de ambientes lênticos poderiam ser ainda mencionados, tais como águas do tipo
pantanoso, charcos, etc., caracterizados por elevadoteor de substânicas, orgânicas, águas
temporárias, como os poços formados pelas chuvas e outras.

1.4.2 Preservação de vegetação ciliar

São florestas ciliares aquelas que se situam às margens dos rios e riachos nos solos de aluvião
da região seca.

Essas florestas encerram representantes das florestas mega-térmicas e das florestas xerófilas,
condicionado a maior ou menor abundância de umidade, de modo que a maior ocorrência de
árvores de qualquer um desses tipos, revelará de imediato a abundência ou carência de recursos
aquíferos no solo subjacente. a ocorrência de lençol d'água subterrânea poderá ser revelada pela
vegetação que domina e nela poderão ser encontradas as árvores típicas de qualquer uma
dessas duas primeiras formações florestais.

1.4.3 Desmatamento da bacia hidráulica

Apesar de ser muito despendiosa, envolvendo custos muito elevados para a erradicação total da
floresta, é muito útil e necessário para se manter os estoques pesqueiros, o uso de aparelhos de
pesca em condições normais e a navegação condincente.

A decomposição da floresta inundada ocasiona a exaustão do oxigênio dissolvido na água


represada, e a maioria dos problemas limnológicos.

1.4.4 Erradicação de espécies indesejáveis

Os peixes teleósteos de água doce, reconhecidamente predadores e/ou indesejáveis, as piranhas


(Gen. Serrassalmus Lacépede, 1803), pirambebas (S. rhombeus L., 1766) estão entre os
principais e são os mais perigosos. Abundantes no NE brasileiro, especialmente nos estados do
Ceará e Maranhão )Myers, 1949 a:80), encontram-se em rios, açudes, lagoas e poços. Dificultam
o aproveitamento dequaelas áreas diferentes usos, pois predam peixes (inclusive praticando o
canibalismo) e outros animais aquáticos, terrestre e algumas aves (patos, garças, etc). Atacam e
masmo davoram o homem, extraçalham aparelhos de pesca (Braga, 1975).

A erradicação é feita primeiramente na bacia hidrográfica, eliminando todas as espécies de peixes


existentes nos poços, bebodouros, cacimbas, etc…que permanecem no leito dos rios, em virtude
de os mesmos serem intermitentes. Depois faz-se a erradicação na bacia hidráulica; sempre que
se vai barrar um boqueirão para transformá-lo em um lago artificial (açude), acumula-se muita
água no local de trabalho. É então nesta oportunidade que se aproveita para fazer a erradicação
das espécies indesejáveis.

Os meios de combate são: a) timbó em pó (rotenona); b) explosivos (dinamite); c) explosicos +


timbó em pó; d) escamas-peixe.

O controle e a erradicação de pirambebas e piranhas no NE brasileiro se justifica se justifica pela


depredação que fazem estes peixes em aparelhos de pesca e pelos acidentes que provocam em
pessoas e animais domésticos, e não pela responsabilidade que teriam na redução de populações
de peixes. Os ataques a pessoas e a quaisquer outros vertebrados se dão principalmente em
águas de reduzido volume (poços fluviais, lagoas, pequenos açudes), em que os cardumes são
compactos e sofrem carência de alimento ou, ocasionalmente, até de espaço vital, sendo o maior
número de acidentes e os mais graves, provocados principalmente pelas conhecidas “piranhas
verdadeiras” (Braga, 1975).

1.4.5 Controle de vegetação aquática: fluente, emersa e submersa

A vegetação aquática pode facilmente proliferar nas águas troplcais estagnadas e portanto nas
reservas de água onde se pretica a piscicultura. Contudo, ela tem menos importância na
piscicultura intensiva do que na extensiva. Com efeito, a prática dos esvaziamentos periódicos
permite controlar facilmente o crescimento dos vegetals, enquanto na piscicultura extensiva é raro
poder-se fazer o mesmo. Por outro lado, as reservas de água onde se pratica a piscicultura
extensiva são muito maiores que os viveiros, onde é muito mais fácil efetuar o controle de
vegetação.

Os vegetais aquáticos classificam-se em: a) flutuantes-cujas rafzes estão na água e flutuam


livemente á superfície, tiram os nutrientes básicos (fosfatos e nitratos) da água e cobrem a
superficie, impedindo que os raios solares penetrem na coluna d'água. Enfim, as algas não podem
sobreviver e se reproduzirem nos viveiros total ou parcialmente cobertos por estas plantas. A
baronesa ou aguapé, Eichhornia, crassipes, e a alface de água, Pistia spp. São as mais
comuns e mais prejudiciais plantas deste campo. Infelizmente nenhum peixe alimenta-se destas
plantas. O piscicultor não deve permitir que estas plantas prolierem no viveiro. Porém em tanques
de reprodutores de Chichlidae, em uma cobertura de 1/3 da área do tanque, ela tanto serve como
abrigo aos peixes contra os pássaros predadores como sombreamento do mesmo; b) emersa e/ou
emergente-crescem principalmente nos taludes dos viveiros. No caso de viveiros grandes, as
plantas emergentes protegem os diques contra a erosão. Caso estas plantas ocupem grandes
áreas dos viveiros, necessitam ser controladas. A carpa capim, Ctenopharyngodon idella (Cuv.
& Val.), pode comer muitas destas plantas quando as folhas e ramos estão mergulhadas na água;
por exemplo: Phragmites sp., Chara sp. e a Typha sp. e c) submersas e/ou demersas-quando a
água do viveiro é muito clara e transparente as plantas submersas desenvolvem. Estas plantas
são também produtoras de matérias orgânicas que armazenam em suas céulas e por isso
proliferam rapidamente. Na maioria dos casos, esta produção é prejudicial à piscicultura pois
estas plantas retiram rapidamente os materiais nutritivos (fosfatos e nitratos) da água. A carpa
capim e o piau verdadeiro, Leporinus elongatus (Valencienes, 1849), alimentam-se dessas
plantas, porém, seletivamente. Algumas espécies de tilápias também comem os brotos destas
plantas. Somente a carpa capim grande (com mais de 300g) pode exterminar e controlar estas
plantas. Em viveiros onde a transparência é baixa estas plantas não podem se desenvolver em
grandes quantidades, como por exemplo: Miriophillum sp., Potamogeton sp., Elodea sp., e
Cabomba sp..

A vegetação aquática pode ser controlada por três meios diferentes: a) por meio mecânico,
erradicando a mão, é o meio mais simples e sem dúvida o mais econômico. É único aplicável em
piscicultura intensiva; b) por meio químico de produtos de eficácia variável, cuja lista pode ser
encontrada nas publicações especializadas. A maior parte desses produtos não são tóxicos, para
o peixe, com a condição de não se ultrapassarem as doses prescritas, mas é preciso estudar o
respectivo preço de custo; e c) por controle biológico que consiste em serem consumidas as ervas
pelos animais selvagens e/ou pelos peixes.

1.4.6 Atenuação do impacto ambiental

O impacto ambiental provocado pelos projetos de aproveitamento de recursos hídricos é de tão


grande monta que, no mundo inteiro, já se desenvolvem pesquisas, criam-se tecnologias e todo
um grande esforço técnico é levado a efeito, com o objetivo de melhor avaliar as modificações
ambientais causadas pelo barramento de um rio e consequente criação de um lago artificial.
De um modo geral, as avaliações constam de uma grande lista de itens de vantagens e
desvantagens, aos quais se atribui pontos de uma escala. No final, faz-se um balanceamento dos
dois lados para se verificar a conveniência ou não da execução do projeto.

Do ponto de vista do impacto à biologia, são realmente muito significativas as modificações


provocadas pelo barramento do rio. Assim é que passa a existir um lago onde já foi caatinge, a
umidade realativa do ar cresce muito em virtude da intensa evaporação da água represada; o rio à
jusante, passa do regime de intermitência a perenidade; a barragem passa a obstacular
fisicamente a passagem milenar das piracemas; a introdução de novas espécies gera uma crise
de convivência com espécies nativas até que haja uma acomodação e a formação de novos
nichos ecológicos.

O conhecimento detalhado das dificuldades criadas pela construção, gerou a necessidade da


construção das obras ditas de engenharia pesqueira.

1.4.6.1 Construção de obras de engenharia pesqueira

O represamento dos rios dificultam ou impede as normais migrações dos peixes, contribuindo
para a redução ou extermínio das espécies reofílicas, que necessitam da dinâmica fluvial para a
reprodução.

As melhores perspectivas de expansão da produção de pescado de água doce se abrigam na


maior exploração dos lagos e represas, estas de importância crescente. Em consequência, haverá
o fornecimento dos peixes que preferem águas lênticas, não necessitando da dinâmica fluvial para
que se reproduzam.

A fim de eliminar este problema, são construídos junto às barragens obras de engenharia
pesqueira, para garantir aos peixes o acesso às áreas de reprodução, tais como escadas de
peixes, eclusas, etc. E para impedir escama-peixes.

1.4.6.1.1 Estruturas para facilitar o acesso de peixes à represa

As condições de acesso para os peixes migradores de desova total, caracteristicamente


potamodromas e com acentuado gonadotropismo, cuja reprodução está condicionada às
enchentes dos rios e/ou riachos na época das cheias são através de: a) escada de peixe - a
escada de peixe do açude de Mendubim, localizado no município de Açu, RN, compõe-se de 16
tanques superpostos com diferença de nível de 0,40m de um para outro, o que permite, na época
de sangria, um contínuo fluxo d'água, em cascata, sem turbilhonamento. A altura total da escada
é de 6,65m, com os tanques, apresentando 6,0m de largura e comprimento, variando entre 3,15m
e 11,15m, sendo provida de um muro guia de 1,40m, construído em concreto (Gurgel et alii,
1977); e b) eclusas - a eclusa não é uma estrutura que objetiva facilitar a movimentação dos
cardumes; seu objetivo é viabilizar a navegação, servindo para eliminar o problema, do desnível
entre a barragem e o rio à jusante. É muito simples o seu funcionamento: compõe-se de um
grande tanque de duas comportas independentes: uma pelo lado da represa e outra pelo lado do
rio; para fazer a embarcação descer, fecha-se a comporta da barragem e abre-se a do rio,
fazendo evacuar toda a água do tanque, até que a mesma chegue ao nível do rio, permitindo a
saida da embarcação; operação inversa se faz para o barco subir para à represa; fecha-se a
comporta do rio e abre-se o da represa; o nível do tanque subirá, até igualar-se ao nível da
represa.

É pacífico então que os peixes de piracema aproveitam-se dessa movimentação para subir
represa acima. Uma das mais famosas eclusas do mundo está no Canal de Panamá, que
compensa a diferença de nível entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

1.4.6.1.2 Estruturas para impedir o acesso dos peixes à represa


Dentre os escama-peixes alguna estão situados nos sangradouros dos açudes e outros nos
canais de fuga. De ambos os tipos, vários dos escama-peixes têm depressões no terreno
imediatamente a jusante, nas quais fica acumulada água durante e por meses após as sangrias
dos açudes. Constatou-se que, frequentemente, esses represamentos d'água constituem focos de
Serrasalmus, por exemplo, temos o escama-peixe no açude “Cajazeiras” (Orós, Ceará),
destinado a impedir acesso de pirambeba, Serrasalmus rhombeus, e tucunaré, Cichla ocellaris,
no açude público “Orós” (Orós, Ceará); escama-peixe, tipo muro-guia, no canal de fuga do
sangradouro do açude público “Sobral” (Sobral, Ceará); escama-peixe, tipo denteado, no
sangradouro do açude “Riacho dos Cavalos” (Catolé da Rocha, Paraíba); e sangradouro
vertedouro, com função também de escama-peixe no açude “Sohen” (Senhor do Bonfim, Bahia).

1.4.6.2 Introdução de espécies de valor comercial (balanceamento de populações)

As populações de uma reserva é equilibrada se fornecer todos os anos uma colheita satisfatória
de peixes de tamanho comercial pertencendo a uma espécie economicamente válida.

A apreciação do equilíbrio de uma população faz-se por meio de uma percentagem de peixe
comercial na população (define-se o tamanho do peixe comercial segundo as condições locais).
Designaremos essa percentagem por coeficiente M.

Uma população é equilibradada se M se encontra entre os vlores 33 e 90. Há desequilíbrio se M


estiver entre O e 40 (existe uma zona de incerteza entre 33 e 40). Os valores de M superiores a
85 denotam um excesso de peixes predadores.

A forma de equilibrar uma população precisa, naturalmente, partir do povoamento natural da


reserva. Esse povoamento é proveniente do curso d'água onde se construiu uma barragem e
pode fornecer uma população válida. Contudo, principalmente em se tratar de um curso de água
pouco importante, esta população pode limitar-se a espécies de tamanho pequeno, incapazes de
se adaptarem no novo meio constituído da reserva.

Neste caso, é preciso intervir e completar o povoamento natural (em certos casos, pode ser
necessário destruir o povoamento natural antes de introduzir novas espécies): a) quer
introduzindo uma espécie micrófaga ou omnívora; b) quer introduzindo uma espécie fitófaga (se
houver muita vegetação); e c) quer introduzindo uma espécie predadora, se houver excesso de
peixes pequenos, ou se quiser o peixe especialmente para a pesca esportiva.

As vezes é possível aumentar sensivelmente a produção das espécies. Em condições ecológicas


determinadas, as produções quantitativas, qualitativas e econômicas podem alcançar maior ou
menor nível segundo as espécies cultivadas e os métodos de explotação.

PARTE2.
MÉTODOS DE AUMENTO DA PRODUTIVIDADE AQUÁTICA
NATURAL
José Jarbas Studart Gurgel*
Juan Enrique Vinatea**

2.1 O Meio Ambiente e a Produção de Peixes


Dado o pouco conhecimento dos termos técnicos em língua portuguesa, empregados pela ciência
pesqueira para expressar os diversos aspectos com a produçã de peixes e no sentido de melhor
entender os conceitos a respeito, se faz necessário definir alguns termos-chaves, mais
freqüentemente utilizados, como sejam:
Ecologia: é o estudo das interações dos seres vivos entre si e com elementos do meio ambiente
onde se desenvolvem;

Espécie: é o conjunto de indivíduos que possuem caracteres análogos, transmissíveis pela


hereditariedade;

Habitat: situação sob a qual vive normalmente uma comunidade, espécie ou indivíduo, cujos
componentes físicos mais importantes são a área geográfica, a temperatura, o vento, as
correntes, o substrato e outros;

População: é o conjunto de indivíduos de uma ou mais espécies afins, que formam um todo em
um determinado ambiente;

Comunidad ou Biocenose: é o conjunto de diversas populações, que vivem em um determinado


habitat;

Biotopo: é o habitat típico de uma comunidade ou biocenose;

Nicho: é uma função específica do habitat para determinada espécie ou comunidade, relacionada
com suas características tróficas;

Produtividade: é a produção por unidade de tempo (hora, dia, mês ou ano), de área ocupada (m2,
ha ou outra), mão-de-obra (homem/dia), custo (capital investido ou custo operacional), dentre
outras;

Produçã: é a expressão quantitativa do que foi produzido;

Produto: é a expressão quantitativa do que foi produzido;

Biomassa: é o conjunto de todos os seres vivos constituintes de um determinado ambiente


aquático e de valor econômico; e

Obs: * Diretor da Diretoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS e Professor Assistente da UFC.

** Técnico da FAO.

“Standing Crop”: éa sinonímia de biomassa, de uso generalizado, significando o conjunto de


todos os seres vivos, tanto produtores como consumidores.

Em um ecossistema aquático, no caso o reservatório para a produção de peixes, formado pelo


biótopo e a biocenose, estão bem definidos os seus componentes inorgânicos e orgânicos, cujo
conhecimento dos mesmos contribue para melhorar sua produtividade.

Por apresentar alguma homogeneidade sob o ponto de vista topográfico, climático, botánico,
zoológico, geoquímico e hidrológico, as trocas de matéria e de energia entre os seus constituintes,
se fazem com grande intensidade, sendo o ecossistema capaz de, dentro de certos limites, resistir
às modificações do meio-ambiente e às bruscas variações da densidade das populações.

As interrelações entre os constituintes de um ecossistema, podem ser entendidas mediante as


etapas do ciclo biológico, que são:

a. o ecossistema recebe a energia luminosa dos raios solares;


b. pela fotossíntese os vegetais captam essa energia e a utilizam para produzir
matéria orgânica (hidratos de carbonos), a partir da água, do dióxido de carbono (CO2) e
dos sais minerais. Os vegetais, as bactérias e o fitoplâncton, são os produtores da matéria
viva no meio aquático;
c. Os animais aquáticos, sendo incapazes de produzir matéria viva, consomem os
vegetais, recebendo por isso a denominação de organismos consumidores. Estes
podem ser dos seguintes tipos:
• primários, quando se nutrem diretamente do fitoplâncton e dos vegetais
aquáticos. São consumidores primários o zooplâncton e os peixes herbívoros,
como a tilápia do Nilo, a tilápia do Congo, a carpa capim e outros;
• secundários, quando se alimentam dos consumidores primários, como o
zooplâncton e os peixes predadores de herbívoros, como o tucunaré comum, a
traira, o pirarucu, a pescada do Piauí e outros;
• terciários são os que se alimentam de insetos, dos peixes predadores de
espécies íctiícas herbívoras e de consumidores secundários, e assim por diante,
como quaternários, e outros, cuja dependência constitue o que se chama de
cadeia trófica ou pirâmide alimentar.

Os componentes de cada nível trófico podem ser atacados por outros tipos de organismos, tais
como, parasitas, fungos e bactérias, que são responsáveis pela decomposição e mineralização da
matéria orgânica.

A passagem de um nível trófico para outro ocasiona perdas de matéria e de energia, em


consequência da assimilação incompleta e das atividades vitais, como a locomoção, a digestão,
a respiração e outras funções vitais, que acarretam consumo de energia.

Os peixes são mais eficientes em economizar energia do que os vertebrados terrestres, pois na
água conseguem vencer melhor a ação da gravidade, visto a densidade desse líquido, resultando
daí que, no ambiente aquático se alcança com a criação de peixes, muita maior produtividade, do
que com a criação de gado bovino.

Dentro de um mesmo nívelo troófico, alguns organismos podem ser mais eficientes para
transformar energia que outros, se sabendo também que em peixes da mesma espécie, há
indivíduos melhor convertedores que outros. Esta qualidade depende muito da capacidade que
tem um indivíduo em capturar e aproveitar o alimento, como tem sido comprovado em populações
de cultivo intensivo, se dando a este fato a denominação de “fenômeno de Tobi”, sobre o qual
pesquisadores japoneses puderam demonstrar de que não se tratava de qualquer caracter
hereditário, mas, única e exclusivamente, a oportunidade que têm alguns peixes dentro de uma
população, de capturar alimento tanto quanto possa.

Ao passar de um nível trófico para outro a energia disponível se perde em cerca de 90%.
Pesquisadores têm calculado que, se um reservatório produz 10.000 quilos de algas, estas se
converterão em 1.000 quilos de zooplâncton, que por sua vez serão transformados em 100 quilos
de insetos, estes em 10 quilos de peixes insetívoros e, finalmente, toda aquela biomassa de algas
acabará em apenas 1 quilo de peixe predador.

Conclui-se, então, que, se encurtarmos a cadeia trófica do reservatório, estaremos diminuindo a


perda de energia do ecossistema, e, consequentemente, melhorando sua produtividade.

2.1.1 As plantas aquáticas e ciliares

A vegetação aquática que se desenvolve nos açudes e outras coleções d'água, sob o ponto de
vista da produtividade apresenta uma série de inconvenientes, como sejam:

• redução da área inundada em contato direto com o ar, trazendo como


consequência desagradável a diminuição da areação e da penetração da luz, fazendo
bgaizar o oxigênio dissolvido, o pH, aumentar o CO 2 livre e inibir a produção do
fitoplâncton;
• redução de disponibilidade de alimentos para larvas, alevinos, juvenis e adultos de
organismos aquaáticos; diversos;
• redução do espaço físico de movimentação dos peixes e outros animais aquáticos;
• aceleração do processo de decomposição da matéria orgânica e produção de
gases nocivos;
• diminuição do volume d'água devido a transpiração dos vegetais, especialmente
por parte das plantas flutuantes; e
• provocação da morte de larvas e alevinos de peixes, por ação mecânica (asfixia),
devido o emaranhado de plantas aquáticas, principalmente submersas.

Entretanto deve ficar entendido que a presença de uma certa quantidade de plantas aquáticas é
absolutamente necessária para a manutenção do ciclo metabólico normal da água e para a
provisão de alimentos essenciais, indispensáveis à vida dos animais aquáticos, como também
para proteger os reservatórios do assoreamento e da erosão constantes e para a proteção dos
peixes contra os seus inimigos naturais.

As plantas aquáticas das regiões tropicais estão classificadas nos seguintes grupos:

• Plantas flutuantes, cujas folhas cobrem a superfície da água, mas suas raizes não
alcançam o fundo do açude. Como exemplo podemos citar vários gêneros de plantas
deste tipo, como, Pistia, Lemna, Eichhornia, Salvinia e outras;
• Plantas submersas, cujas folhas estão abaixo da superfície da água,
permanecendo inteiramente submersas. É o caso dos gêneros Vallisneria, Potamogeton,
Chara, Hydrotrix e outras;
• Plantas emergentes, cujas raizes estão fixadas no fundo e suas folhas flutuam
sobre a uperfície da água, emergindo dela. Como exemplo podemos citar os gêneros
Typha, Cyperus, Polygonum, Nymphea e outras; e
• Plantas ciliares, constituídas principalmente por representantes de macrofitas, que
crescem às margens dos açudes e dos cursos d'água, principalmente dos gêneros
Anoma, Ingá, Cassia, Licania, Zizyphus, Mimosa, Eugenia, Anacardium e outros.

A maior importância das plantas ciliares consiste na sua utilidade para a conservação dos
barrancos dos rios e riachos e para o dreno pluvial. Servem também de abrigo à fauna silvestre,
oferecendo sombra e alimento aos animais aquáticos, terrestres e aéreos mediante os detritos de
sua folhagem que caem na água, estimulando a formação do fito e zooplâncton e fornecendo
frutos, folhas e raizes forrageiras.

O desmatamento de matas ciliares é um perigo para a estabilidade do leito dos rios e riachos, pois
sem elas as correntes durante a época das chuvas se tornam violentas, podendo abrir nos
barrancos novos rumos, colmatar os baixios das ribeiras, arruinar as lavouras e outras obras
construídas pelo homem.

As matas ciliares devem ser conservadas, mantidas e adensadas numa largura compatível com a
das maiores enchentes e a força das correntes registradas. Deste modo poderão servir de
bosques para os pescadores, oferecendo ao turista abrigo para recreaçães à beira d'água.

As terras ribeirinhas, impróprias à agricultura, ou a pecuária, devem ser florestadas de modo


inteligente e racional, com a implantação de espécies madeireiras valiosas, próprias a essas áreas
o das quais se possa tirar o melhor proveito comercial e econômico.

A formação de uma cortina vegetal às margens dos reservatórios é uma medida de imperiosa
necessidade para a sua conservação, não somente pelo arrastamento contínuo das camadas
superficiais do solo, por protegê-lo contra a erosão, a contaminação de suas águas pelos
defensivos agrícolas e fertilizantes utilizados, os quais são, nas regiões rurais, os principais
responsáveis pela poluição e eutrofização dos reservatários.
A rapidez com que as plantas aquáticas, principalmente as flutuantes, submersas e emergentes
se desenvolvem e se propagam durante todo o ano nas regiões tropicais, apresenta grande
dificuldade para o seu efetivo combate e controle. Os principais métodos utilizados para isso são
os seguintes:

• Extirpação manual: em regiões onde a mão-de-obra é de baixo custo, como no


Nordeste brasileiro, sob o ponto de vista econômico é este o melhor método para o
controle da vegetação aquática, mediante uma bem programada atividade, repetida cada 3
a 4 vezes por ano. As plantas aquáticas retiradas devem ser arrastadas para bem longo do
reservatório e ali deixadas ou aproveitadas em outro mister como para a alimentação de
porcos, de pato, produção de fertilizantes e de biogás;
• Extração mecânica: vários tipos de máquinas têm sido desenvolvidas em alguns
países para este trabalho, como a “under-water weed cutter”, a “weed remover”, a
“weed cutting saw”, e outras, as quais, todavia, além do alto custo operacional, do custo
de aquisição também elevado, exigem manutenção rigorosa e reposição de peças que
necessitam ser importadas;
• Utilização pelo calor: em muitos países o combate à vegetação aquática tem sido
feito com lança-chamas, sem muita eficiência, haja vista que as cinzas das plantas
queimadas concorrem para enriquecer o ambiente aquático com seus sais inorgânicos e
as formas resistentes das mesmas voltam a crescer, muitas vezes até com mais vigor.

Isto pode ser verificado durante o combate sistemático que o Corpo de Engenharia do
Exército dos Estados Unidos da América do Norte fez à Eichhornia crassipes no rio
Mississipi, cujo exuberante desenvolvimento estava prejudicando a navegação por aquela
via fluvial, se constatando que após a queima, na estação seguinte as plantas voltaram a
brotar, crescendo 23cm a mais do que as anteriores.

• Uso de fertilizantes: é um método que apresenta certa eficiência, quando aplicado


em ambientes aquáticos de pequena área, no máximo 1 ou 2 ha. Foi desenvolvido na
Universidade de Auburn, Alabama, e se baseia no princípio de que os fertilizantes
adicionados na água, promovem um rápido crescimento do fitoplâncton, formando o que
se conhece na literatura aquícola por “water bloom”, ou seja, uma floração excessiva de
algas, de alta densidade, que chega a impedir a penetração da luz solar, matando as
plantas submersas.

Esta prática tem sido uma rotina dos aqüicultores chineses, que usam fertilizantes
orgânicos em elevadas taxas, isto é, na base de 500 kg de esterco/ha. A aplicação é feita,
repetidamente, cada mês, até antes da estocagem dos peixes para engorda. Além da
facilidade de eliminação das plantas aquáticas submersas, este método tem uma especial
vantagem para a aqüicultura, que é a de aumentar a disponibilidade de alimentos naturais
para os peixes, ao mesmo tempo.

• Uso da argila em suspensão: como o anterior, se baseia no mesmo princípio de


impedimento da penetração da luz solar, provocando, por conseguinte, a morte das
plantas submersas, face a elevada turbidez da água. A aplicação da argila também só
pode ser feita em pequenas áreas, sendo uma prática recomendável para viveiros de
criação intensiva de peixes. O DNOCS tem usado este método em suas Estações de
Piscicultura para o combate ao Hydrotrix gardneri, com relativo êxito.
• Uso de herbicidas: diversos compostos químicos têm sido usado no controle e
combate a vegetação aquática de viveiros e açudes de criação de peixes, embora muitos
deles sejam caros e apresentem toxidade para os organismos aquáticos. Dentre os vários
tipos usados, os sulfato de cobre (CuSO4) e o arsenito de sódio sao os menos ofensivos à
vida aquática, quando aplicados nas concentrações de 1 ppm e 3 a 4 ppm,
respectivamente.
Alguns produtos comercials, largamente aplicados na agricultura, são também bastante
usados no combate às plantas aquáticas, como o Endotal, o Bi-hedonal, o 2,4-D (Ácido di-
clorofenoxil-acético) e muitos outros.

Com respeito ao Bi-hedonal o DNOCS desenvolveu anos atrás trabalhos experimentais


em açudes, no combate a orelha da onça, Eichhornia crassipes, que podem ser
consultados para comprovação de sua eficiência.

Dentre todos os métodos de controle e combate à vegetação aquática já vistos, sejam


mecânicos, físicos e químicos, nenhum pode ser considerado como ideal, tanto sob o
ponto de vista econômico, como de sua praticabilidade e maior eficiência.

Sem dúvida, o único método que atende, na verdade, a esses aspectos, é o método
biológico, tal como podemos ver adiante.

• Peixes: os peixes herbívoros dão realmente um combate sistemático a vegetação


aquática, reduzindo a densidade e melhorando as condições de cultivo de outros peixes.
Dentre as espécies mais utilizadas neste mistér, se destacam a carpa capim,
Ctenopharyngodon idella, a tilápia do Congo, Tilapia rendalli, a tilápia de Java,
Sarotherodon mossambicus, o peixe-leite, Chanos, a tainha, Mugil cephalus e outros.

No nosso país não dispomos de espécies de peixes eminentemente herbívoras, mas já


foram introduzidas muitas dessas acima citadas, principalmente no Nordeste brasileiro,
como a tilápia do Congo, T. rendalli, que já se encontra aclimatizada. De todas, a carpa
capim, C. idella, é a que apresenta maior eficiência, dada a sua grande voracidade pelas
plantas aquáticas, que chega a consumir por dia, mais de 1 a 2 kg, em se tratando de um
exemplar de 8 a 10 quilos.

O DNOCS já conta com essa espécie no seu Centro de Pesquisas lctiológicas, em


Pentecoste, Ceará, pretendendo propagá-la e disseminá-la nos reservatórios públicos e
particulares da região, com vistas a combate das plantas aquáticas e como uma nova
opção, alimentar para a população, por se tratar de um peixe de ótima palatibilidade.

• Mamíferos: dentre os mamíferos aquáticos, cujo hábito alimentar se volta


exclusivamente para a vegetação, se pode citar o peixe-boi, Trichechus manatus,
originário da bacia amazônica, também de grande eficiência nesse combate, apesar de ser
uma espécie ameaçada de extinção, dada a sua captura predatória que vem sendo feita
ao longo dos anos naquela região.
• Aves: patos e outras aves domésticas também se alimentam de plantas aquáticas,
podendo contribuir satisfatoriamente, para esse mistér.
• Insetos: muitos tipos de insetos que têm seu ciclo de vida na água ou se
desenvolvem nas folhas das plantas aquáticas, proporcionam um controle da vegetação,
dado que, atacando suas partes vitais, causam a morte, como tem sido constatado com os
insetos dos gêneros Neochetina, Orthogalumna, Acigona, Cornops, etc.
• Moluscos: algumas espécies de moluscos que se desenvolvem juntos as plantas
aquáticas, podem proporcionar um controle da vegetação, em face de alterações que
causam no ambiente. Indiretamente, por servirem de alimento aos peixes malacófagos,
como o tambaqui, Colossoma macropomum, o piau verdadeiro, Leporinus elongatus e
outros, também contribuem para isso, pois, ao serem capturados por esses organismos,
são deglutidos juntamente com partes de vegetação.

2.1.2 Condições Físicas e Químicas da Água

Dentre os fatores que influenciam na produtividade do ambiente aquático, sem dúvida os físicos
são de primordial importância, haja vista influenciarem na formação da estrutura ecológica.
Passaremos a estudar alguns deles, que mais diretamente exercem seus efeitos sobre a
produtividade do meio ambiente.

2.1.2.1 Temperatura, cor e transparência

Sob o ponto de vista ecológico a temperatura é um importante fator que exerce influência sobre a
natureza física do ambiente tal como a densidade, a viscosidade e os movimentos, bem como
sobre a natureza biológica, por presidir a distribuição dos organismos aquáticos, a
periodicidade, a alimentação, assimilação, a respiração e a reprodução. A maioria das
espécies aquáticas, principalmente dos peixes, faz exigências bem definidas quanto a
temperatura sendo que em algumas a tolerância é bastante grande, podendo ser encontradas em
água de clima térmico diferente. Com exceção das aves e dos mamiferos que são
homotérmicos, os demais seres aquáticos, como os peixes, répteis e batráquios, são
classificados em relação a temperatura, nos seguintes grupos:

• Pecilotérmicos ou poiquilotérmicos, impropriamente chamados de animais de


sangue frio, e que, quanto a resistência a temperatura, são de dois tipos:
• euritérmicos, que apresentam grande tolerância as mudanças de temperatura, e
• estenotérmicos, que são exigentes quanto ao limite de temperatura, os quais,
nestas condições de limitação, se subdividem:
• estenotérmicos do frio, de distribuição limitada às regiões frias, como o salmão,
Oncorhynchus sp, a truta, Salvelinus fontinalis, a alga Hydrurus e outras; e
• estenotérmicos do calor, encontrados em águas tropicais e equatoriais, como os
peixes do Nordeste brasileiro, curimatã comum, Prochilodus cearensis, traira, Hoplias
malabaricus, pescada do Piauí, Plagioscion squamosissimus, tambaqui, Colossoma
macropomum, as plantas aquáticas orelha de onça, Eichhornia crassipes, mururé,
Pistia stratiores, e outras.

De um modo geral os organismos aquáticos só podem subsistir num intervalo de temperaturas


compreendidas entre O°C e 50°, em média, pois são estas as temperaturas compatíveis com uma
atividade metabólica normal, embora que existem notáveis exceçães.

É possível definir para cada espécie uma temperatura letal inferior ou temperatura de morte pelo
frio. Uma temperatura letal superior ou temperatura de morte pelo calor. Uma temperatura mínima
efetiva, que é a mais baixa suportada por um organismo com vida ativa. Uma temperatura máxima
efetiva, que é a mais alta, compatível com uma vida ativa prolongada. Uma temperatura de torpor
pelo frio e uma temperatura de torpor pelo calor e, uma temperatura ótima preferencial, que é
procurada pelo organismo. Em geral esta última se encontra mais perto da temperatura letal
superior do que da temperatura letal inferior.

A tolerância dos organismos aquáticos para com a temperatura da água não é sempre a mesma
em todas as fases do seu desenvolvimento e zigotos, cistos, esporos, sementes, ovos, etc.,
podem resistir a temperaturas muito superiores ou inferiores aos limites de tolerância de suas
formas vegetativas.

Exemplo disso são muitas espécies de peixes do Nordeste como a traira, Hoplias malabaricus,
guarú, Poecila vivipara, que em condições climática precárias, como a ausência de chuvas,
conseguem sobreviver em reservatórias parcialmente secos, garantindo assim a perpetuação da
espécie.

A elevação da temperatura da água do meio ambiente provoca um aceleramento dos processos


metabólicos e sua intensidade, expressa no consumo de oxigênia pela respiração, cresce em 10%
por cada grau de elevação, o que também tem sido observado durante a realização da
fotossíntese.
Esta propriedade da temperatura foi estudada pelo cientista holandês - Jacobus Van't Hoff, o qual
estabeleceu a lei que passou a figurar com o seu nome, de seguinte enunciado: “Uma elevação
da temperatura em 10°C, acelerada o rítmo da reação dos processos biológicos de 2 a 3
vezes”

Baseado nesta lei, Hathaway, em 1927, mostrou que certos peixes de água doce consomem 3
vezes mais alimentos a 20°C que a 10°C. Segundo o mesmo princípio, uma água tropical com
25°C tem o rítmo dos processos biológicos acelerados em 2 ou 3 vezes, que em água
temperatura de 15°C.

Ainda com base na mesma lei, tem sido também comprovado e demonstrado a influência da
temperatura no desenvolvimento do embrião dos peixes. Para a evolução dos ovos há
necessidade da absorção de certo número de calorias, fixo para cada espécie e dentro da mesma
região ecológica.

O total de calorias necessárias é representado pelas chamadas Unidades Térmicas Acumuladas


(UTA), que resultam da soma das temperaturas tomadas da água onde se encontram os ovos dos
peixes, desde o momento da fertilização até o da eclosão. Para cada espécie se pode determinar
o número de UTA necessárias a incubação, tornando assim fácil de se conhecer a aproximação
da eclosão das larvas. O periodo de incubação dos ovos, é, portanto, uma função da temperatura,
a qual, evidentemente, não deverá exceder aos limites de tolerância.

Esta dependência da temperatura na evolução do ovo tem grande importância na prática da


criação de peixes e da produção de alevinos, principalmente no caso da reprodução da espécie
por métodos artificiais, ou seja, através da aplicação do hormônio hipofisário, conhecida por
método lhering de reprodução induzida de peixes.

À temperatura média de 18,4°C, ovos incubados de peixe-rei, Odonthestes sp, completam o seu
desenvolvimento em 11 dias, enquanto a temperatura de 15,6°C são necessários 16 dias. Isto
mostra, realmente, a importância da temperatura no desenvolvimento do embrião.

Em relação às espécies de peixes do Nordeste brasileiro criadas nas Estações de Pisciculturas do


DNOCS, se verifica a mesma dependência, de conformidade com as nossas condições climáticas.

A água quimicamente pura e isenta de partículas em suspensão reflete uma cor azul. Isto é o
resultado da refração da luz pelas moléculas da água. Partículas em suspensão quando
presentes, absorvem a luz refletida pelas moléculas, sendo extremamente raro encontrar nas
águas naturais essa cor azul, uma vez que todas elas possuem em suspensão organismos vivos e
mortos, bem como material inorgânico. Normalmente, podemos verificar que a cor da água de um
açude varia de um verde-azul a um azul claro, verde amarelado, amarelo escuro e outras
tonalidades. Na poesia universal a cor da água tem sido muito decantada e para não
constituirmos exceção, os “verdes mares bravios de minha terra natal”, exaltados por José de
Alencar, o grande romancista cearense, não poderia deixar de ser aqui referido.

Assim a cor da água natural resulta da refração das moléculas em suspensão e não das
moléculas da água. No caso de um açude repleto de Volvocales, sua água apresenta uma cor
verde, refletida pelas moléculas dessa Cloroficeae, e assim por diante.

Sob o ponto de vista limnológico, se distinguem dois tipos de cores: cor verdadeira, também
chamada de cor específica e cor aparente.

Muitas substâncias inorgânicas são responsáveis pela coloração que a água apresenta, mesmo
depois de filtrada ou centrifugada, tais como, o ferro, na forma de sulfato ferroso ou óxido de ferro
que dá a mesma uma coloração amarelada; manganês e carbono, que tendem para o marrom;
carbonato de cálcio, responsável por uma cor verde, e matérias humíficas, que dão a água
uma tonalidade variável de un azul ao verde ou de um amarelo claro ao marrom escuro. Em
muitos açudes do Nordeste a cor da água é sempre a mesma em todas as suas partes,
entretanto, em alguns há uma variação que depende também da profundidade e do substrato.

As condições óticas da água de um açude são de primordial importância para a sua produtividade
natural, haja vista a realização do processo fotossintético, que se dá na presença da luz, segundo
a seguinte reação química:

6CO2 + 6H2O → C6H12O6 + 6O2

A luz que penetra na água não passa através dela inalterada, pois sofre modificações em funçã
das substâncias dissolvidas e em suspensão. Assim uma parte se dispersa, outra é transformada
em energia térmica e outra é absorvida, que depende do comprimento de onda do raio luminoso.
Raios vermelhos são intensamente absorvidos na camada superficial, seguido do alaranjado,
amarelo, violeta, verde e azul. A luz absorvida e dispersa é calculada pelo coeficiente de
absorção, enquanto aquela transformada é conhecida pelo coeficiente de extinção. O
coeficiente de extinção pode ser calculado pelo índice do limite de visibilidade, através da fórmula:

donde d, é a leitura em metros, do disco de Secchi.

A visibilidade da água dos açudes varia bastante e naqueles fortemente coloridos, não chega a
ultrapassar poucos centímetros. Ela pode servir de índice provisório e comparativo para a sua
produtividade biológica, pois uma grande visibilidade somente poderá ser encontrada em uma
água cuja produção de plâncton seja pequena.

Todavia, pequena visibilidade pode nada dizer a este respeito, uma vez que a matéria em
suspensão também é causa de redução da mesma.

2.1.2.2 Oxigênio dissolvido

O oxigênio é um elemento indispensável a quase totalidade das funções vitais e se encontra na


água dissolvido, em quantidades variáveis, porém em concentração superior aos demais gases.
Faz-se conveniente lembrar que, ao contrário do que pensam muitas pessoas, o oxigênio
dissolvido na água não é o da molécula de água: H2O, pois se assim fosse, teria que ocorrer uma
dissociação eletrolítica.

As principais fontes de oxigênio na água são diretamente da atmosfera, que penetra por ação
mecânica provocada pelos ventos, correntes ou declividades. A agitação da água por movimento
ondulatório e por cascatas, não causam uma supersaturação, como se pode imaginar. Ruttner
verificou num riacho das montanhas austríacas que a água, após descer uma cascata de 3m de
altura, teve o seu teor em O2 alterado de 12,06 ppm para 11,71 ppm. A saturação da água, com o
ar, pela agitação mecânica, tem aplicação no tratamento para fins biológicos, como na criação dos
peixes, todavia, uma supersaturação é causa de uma doença de peixe, conhecida por “bolha
gasosa”. A ação fotossintética das plantas clorofiladas, é outra fonte que contribue de maneira
notável para a oxigenação da água. Sendo a luz indispensável para este processo, o oxigênio é
produzido unicamente nas horas do dia e somente até onde a luz possa penetrar na água. A
camada d'água onde a fotossíntese se realiza, é denominada de zona trofogênica.

De forma inversa, as causas de redução do oxigênio na água são as seguintes: respiração dos
animais e plantas, que é uma atividade contínua, tanto durante o dia como a noite, cuja
intensidade depende da temperatura ambiente. Uma certa quantidade de O2 pode satisfazer as
necessidades respiratórias dos organismos numa água fria, enquanto a mesma quantidade pode
ser insuficiente aos mesmos organismos numa temperatura mais elevada. O valor fisiológico do
oxigênio diminui a medida que a temperatura se eleva. Wilding, estudando o ponto de asfixia de 3
espécies de peixes, observou que os primeiros sinais se manifestaram entre 20,5 a 24,0°C, com
um teor de O2 de 2,01 a 2,25 ppm, enquanto com a mesma concentração de O2, a temperatura de
7 a 12°C, nenhum peixe demonstrou qualquer sintoma de asfixia. A decomposição da matéria
orgânica é outra causa que reduz o oxigênio na água, visto ser este elemento utilizado na
mineralização dos compostos organicos, sempre em quantidades maiores nas águas quentes. A
presença de outros gases, como CO2 e o CH4, que se misturam na água, podem eliminar o O2
nela presente, reduzindo sua concentração, como também a presença do ferro, que é
responsável pela exaustão do O2 dissolvido na água, devido a oxidação dos compostos solúveis
de ferro e a formação de hidróxidos férricos insolúveis.

Com exceção das batérias anaeróbias, todos os organismos vegetais e animais aquáticos
necessitam de O2 Muitos invertebrados podem existir na água com um baixo teor de O2 dissolvido,
algumas vezes até menos de 0,1 ppm. Entretanto, para os peixes, esta quantidade depende dos
seguintes fatores:

• temperatura, pois quando aumenta, o metabolismo do peixe se acelera,


necessitando de mais oxigênio; e
• espécie de peixes, visto que as exigências de O2 depende de cada uma, em
particular. Para os peixes mais antigos, filogeneticamente, as necessidades são menores,
enquanto para os de clima temperado as exigências são muito maiores que paraas
espécies tropicais. De uma maneira geral o oxigênio dissolvido a níveis de 3 ppm, já se
mostra perigoso a vida da grande maioria das espécies.

Quando o oxigênio dissolvido na água desce a esse nível mínimo, certos incidentes podem
ocorrer com os peixes, antes da morte, tais como:

• branquiotropismo, que diz respeito a migração, tanto no sentido vertical como


horizontal, a procura de locais de melhores condições;
• enfermidades, devido a baixa resistência orgânica provocada pela falta de
oxigênio, cujos peixes se tornam vítimas da ação de bactérias, virus e parasitas
patogênicos.
• Coleta das amostras, depende das disponbilidades de equipamento e da situação.
Amostras da superffcie podem ser coletadas até por sifonagem, desde que
convenientemente procedida. Todavia para a obtenção de amostras abaixo da superfície,
há necessidade do uso de aparelhos apropriados, sendo os mais usados as garrafas de
Kemmerer, de W. Schweder ou de Nansen. A amostra d'água deve ser colhida com toda
precaução e evitada a menor agitação do líquido ou contato prolongado com a atmosfera.
A amostra colhida com qualquer desses aparelhos é transferida para um vidro de rolha
esmerilhada, de 250 a 300 ml de capacidade. É conveniente encher o frascoe deixar a
água escorrer durante algum tempo para eliminar algumas bolhas de ar. A determinação
do oxigênio dissolvido deve ser feita imediatamente. Ao mesmo tempo que se procede a
coleta da amostra, se mede a temperatura da água no mesmo local, para cálculo da
saturação do gás.
• Métodos de análises: para determinação do oxigênio dissolvido na água, são
usados os seguintes métodos de análises:
• Métodos volumétrico pela iodometria, consta dos seguintes:
• Método original de Winkler, é o processo clássico de determinação de O2 na
água, tendo sido descoberto em 1888 por L. W. Winkler. Posteriormente, várias
modificaçães foram introduzidas neste método, visando a eliminação de interferências
provocadas por diversas substâncias presentes na água e que prejudicavam a precisão da
análise. O método original pode ser usado ainda hoje em águas claras com baixo teor de
ferro, nitritos e matéria orgânica. Os reagentes usados são: Solução de sulfato manganoso
(480g em 1 litro d'água destilada), solução alcalina-iodada (500g NaOH + 135g Nal em 1
litro de água), ácido sulfúrico concentrado (d = 1,83), solução 0,025 N de tiosulfato de
sódio e solução de amido (5g de amido de batata em 1 litro d'água).

Procedimento da análise:
Adicione à amostra 1 ml da solução de MnSO4 e 1 ml da solução alcalina iodada. Ocorre nesta
ocasião, a formação de hidróxido manganoso (1), o qual, na presença do oxigênio da amostra é
oxidado para óxido de mangânico, como se pode ver na reação (2), que se caracteriza pela
formação de um precipitado de cor marrom:

MnSO4 + 2NaOH → Mn(OH)2 + Na2SO4 (1)


2Mn(OH)2 + 2 → 2MnO(OH)2 (2)

Adicione a seguir 2 ml de H2SO4. Com a adição do ácido, o óxido mangânico é convertido a


sulfato mangânico (3), ocorrendo libertação do iodo, que faz mudar a cor da solução para um
amarelo citrino (4):

Mn(OH)2 + 2H2SO4 → Mn(SO4)2 + 3H2O (3)


Mn(SO4)2 + 2Nal → MnSO4 + Na2SO4 + I2 (4)

Transfira 200 ml da amostra para um frasco de Erlenmeyer e titule rapidamente com sol. 0,025 N
de Na2S2O3, até que a cor amarela seja reduzida a uma pálida coloração. Adicione algumas gotas
de amido e continue a titulação até o desaparecimento completo da cor azul, visto nesta reação
(5):

I2 + 2Na2S2O3 → Na2S4O6 + 2NaI (5)

Cálculo dos resultados: a quantidade do tiosulfato de sódio usado é, numericamente, igual a


quantidade de O2 dissolvido, em ppm. Para expressar o resultado em cm3/l, multiplique o ppm por
0,695 e para converter cm3/l em ppm, multiplique cm3 × 1,43.

Método de Winkler modificado por Ridear-Steward deve ser usado somente em águas com
teor de ferro ferroso.

Método modificado pelo alcali-hipoclorito: próprio para amostras com sulfitos, tiosulfatos e cloro
livre. Não oferece muita garantia.

Método modificado por Theriault, deve ser usado em águas com matéria orgânica de fácil
oxidação.

Método modificado pela floculação com alúmen: próprio para amostras com elevada
concentração de sólidos em suspensão.

Método de Ohle, trata-se do melhor método iodométrico para a determinação de O2 na água, até
agora desenvolvido. Entretanto a técnica é um pouco difícil de ser executada, pelo que não é
muito usado.

Método pela polarografia, consiste na utilização de um instrumento elétrico, cujo funcionamento


se baseia no sistema da análise polarográfica. O aparelho mede o oxigênio dissolvido e a
temperatura da água, ao mesmo tempo. Estas medições são feitas por meio de um acessório, que
é constituído de uma sonda de plástico, dentro da qual se encontram um anódio de prata e um
catódio de ouro, envolvidos por uma membrana de teflon. A sonda está ligada á extremidade de
um cabo transmissor, por onde fluem a corrente elétrica e a térmica. Realmente, a sonda não
mede a quantidade de O2 dissolvido, mas, a pressão que este gás exerce sofre a membrana de
teflon. Se a pressão do oxigênio aumenta, mais oxigênio se difundirá através da membrana
permeável e a corrente elétrica fluirá proporcionalmente ao aumento da pressão. Cuidados
especiais devem ser dispensados ao aparelho durante a operação de medição do O2 e da
temperatura da água.

Método de avaliação do O2 dissolvido pela temperatura: quando não se dispõe de nenhum


equipamento ou dos reagentes para a determinação do O2 dissolvido pelo método clássico de
Winkler ou qualquer outro, este pode ser estimado baseado exclusivamente na temperatura da
água, mediante o emprego da seguinte fórmula:

O2 diss. em ppm = 14 - (0,27 × temperatura).

Método qualitativo pela madeira, nos últimos anos têm sido desenvolvido um processo de
determinação do oxigênio, qualitativamente, mediante o uso de madeira, rica em tanino. Certos
tipos de madeira, quando introduzidos na água com oxigênio, adquirem uma coloração própria,
que indica a presença desse gás ou sua falta. O método é fácil de ser executado, principalmente
por aqüicultores, para corihecimento das condições de viveiros com peixes.

Conhecida a concentração de O2 dissolvido na água e se sabendo das exigências dos organismos


aquáticos, se pode com facilidade calcular o consumo/hora da biomassa presente e as
disponibilidades existentes. Assim, em um viveiro de 1 ha (10.000 m2), estocando 1000 kg de
curimatã comum, Prochilodus cearensis, e se sabendo que para cada kilograma de peso são
consumidos 800 mg de O2/hora, enquanto a água do viveiro está com 6,5 ppm de O2, fica fácil de
estimar as reais condições do ambiente aquático.

2.1.2.3 Dióxido de carbono

A maior importância do CO2 como responsável pela formação biológica do ecossistema, é a


presença do carbono em sua molécula. O C é um dos mais versáteis elementos químicos, em
face de possuir 4 elétrons, que lhe dá a capacidade de formar um fabuloso número de compostos,
alguns de extrema complexidade. As numerosas e variadas atividades do CO2 na água, são
causadas pela elevada solubilidade desse gás, o qual se mostra mais solúvel que o oxigênio.
Embora o ar contenha cerca de 700 vezes mais oxigênio que o CO2, a proporção na água é mais
ou menos igual, ou seja, cerca de 4 cm3/l de CO2 para 6 cm3/l de O2.

Nas águas naturais o CO2 é derivado de várias fontes tais como:

• diretamente do ar, onde se encontra em pequenas quantidades (cerca de


3,5:10.000), mas nas proximidades das cidades e em regiões vulcânicas, esta quantidade
pode ser muito maior;
• águas de lavagem do solo, podem levar consigo quantidades consideráveis de
CO2, oriundo da decomposição da matéria orgânica depositada sobre o solo e que entra
em contato com ela;
• decomposição da matéria orgânica, no fundo dos açudes ou de suas margens,
podendo elevar o teor de CO2 para valores bem superiores ao normal. Mesmo em locais
de pouca profundidade, essa quantidade pode se tornar prejudicial a vida dos organismos
aquáticos. Kleerekoper verificou que em uma água de grande produtividade biológica,
após ter recebido enorme quantidade de CO2 proveniente da decomposição da matéria
orgânica, perdeu quase que totalmente essa produtividade, se tornando pobre em
organismos vivos. Neste exemplo, o teor de CO2 era de 3 a 4 ppm antes da água entrar
em contato com a matéria orgânica, tendo subido após, para 34,8 ppm.
• respiração de animais e plantas, cujo processo contínuo produz e consome CO2
dentro da água, dependendo, obviamente, da magnitude da flora e da faúna aquáticas, do
tamanho relativo dos organismos vivos e da intensidade da respiração;
• dissociação de carbonatos e bicarbonatos, podendo se fazer presentes na água
sob a forma de CO2 fixo, incorporado aos monocarbonatos de metais alcalinos e alcalinos-
terrosos, como o CaCO3 e o MgCO3, que são insolúveis e fracamente se dissociam,
libertando o CO2, e na forma de CO2 semi-fixo, que se encontra incorporado aos
bicarbonatos, como o de Ca(HCO3)2 e de Mg (HCO3)2, os quais apresentam relativa
instabilidade, podendo se dissociarem, dependendo das condições do meio. Quando por
um motivo qualquer, uma quantidade de uma das três substâncias, dióxido de carbono
livre (CO2), monocarbonato (CO3) e bicarbonatos (HCO3) é modificada, quebrando o
equilíbrio entre elas, as 2 restantes ajustam suas quantidades, de acordo com a nova
situação. Por exemplo:

Se o teor de CO2 livre diminui, devido a uma maior intensidade da atividade fotossintética, uma
parte dos bicarbonatos se transforma em carbonatos insolúveis e dióxido de carbono livre, de
conformidade com a reação abaixo:

Ca(HCO3)2 → CaCO3 + CO2 + H2O

Como os monocarbonatos são insolúveis, eles se precipitam no fundo do açude. A reação inversa
se dá quando, pela maior intensidade da respiração ou decomposição da matéria orgânica, a
concentração de CO2 livre aumenta na água, além do equilíbrio existente entre as três formas.
Neste caso, o excesso de CO2 livre se combina com os monocarbonatos insolúveis para formar
bicarbonatos solúveis, ou seja:

CaCO3 + CO2 + H2O → Ca(HCO3)2

A ausência de metais, principalmente o Ca e Mg na água, faz com que o excesso de CO2


permaneça livre. Possuindo um forte poder dissolvente, o CO2 nestas condições, toma o nome de
CO2 agressivo, pois ataca rochas, minérios, redes de encanamento, materiais de construção, etc.
Quando os materiais dissolvidos são tóxico, a água pode colocar em perigo a vida dos organismos
aquáticos. Kleerekoper comenta o caso de mortandades de peixes causadas por sais de zinco
dissolvidos de uma rede de ferro galvanizado, cuja água continha grande quantidade de CO2
agressivo. Nas Estaçães de Piscicultura do DNOCS, de construção antiga, foram mudadas,
recentemente, todas as instalações de ferro galvanizado por PVC, para evitar problemas com a
criação de peixes, onde estavam a ocorrer, frequentemente, insucessos na larvicultura.

Grandes quantidades de CO2 livre causam prejuízos à flora e fauna aquáticas, principalmente se
acompanhada de baixa concentração de oxigênio dissolvido. Pior do que uma concentração
elevada e constante de CO2 livre, é uma concentração oscilante. Isto se explica pela necessidade
que tem os organismos vivos de manterem constantes o pH do sangue dos animais e do suco
celular dos vegetais. Um aumento da tensão do CO2 na água obrigam o organismo a se utilizar de
sua reserva alcalina para manter o equilíbrio normal. Repetidos ajustes, para mais ou para menos,
podem causar a morte de peixes, como foi verificado por Kleerekoper e também por Gurgel
(1960), no açude Velame, em Jaguaribara, Ceará. Sobre o valor limite letal do CO 2 livre na água,
existem vários dados na literatura. Para peixes, concentrações acima de 20 ppm já podem causar
prejuízos, principalmente se ocorre uma oscilação muito grande desse gás, durante as 24 horas
do dia.

Causas de redução de CO2 na água

Considerando que o CO2 livre é um gás extremamente necessário ao meio aquático, o processo
pelo qual é reduzido poderá ser cuidadosamente estudado e conhecidas as principais causas, tais
como:

Processo fotossintético:

O consumo de CO2 livre pela fotossintese depende de diversas circunstâncias, que enumeramos:

• quantidade dos seres clorofilados, tanto plantas superiores como fitopláncton;


• duração do efeito da luz do dia;
• transparência da água; e
• época do ano.

Algumas vezes a fotossíntese pode ocorrer debaixo de camadas de gelo, embora em quantidades
reduzidas, como na presença da luz da lua.
Formação de calcários por certos organismos:

Muitos seres aquáticos necessitam de carbonatos de cálcio e magnésio para a formação de suas
carapaças (exoesqueleto), como alguns tipos de algas, moluscos, crustáceos e insetos. Estes
organismos estão relacionados com a formação de carbonatos insolúveis, cujo processo de
aproveitamento não está ainda bem conhecido. Os carbonatos, eventualmente afundam e,
dependendo das circunstâncias, são colocados fora de circulação.

Agitação da água:

Sob certas condições a agitação da água provoca uma libertação de CO 2 livre e semi-fixo, com
consequente precipitação de CaCO3. A agitação é um efetivo método para eliminar o CO 2 livre na
água. Isto explica a razão das águas da superfície dos açudes conterem menores quantidades de
CO2 livre, do que as partes mais profundas.

Evaporação:

Águas contendo bicarbonatos resultam na perda do CO2 semi-fixo e consequente precipitação de


monocarbonatos, o que é provocado pela evaporação. Esta causa de redução do CO2 livre é
maior em açudes rasos de grande área, onde a evaporação ocorre com mais intensidade.

Alteração da pressão interna do CO2 na água:

O gás depositado no fundo do açude é produzido às custas da decomposição da matéria


orgânica, pode subir até à superfície na forma de bolhas de grande tamanho, quando a pressão
interna do gás excede à pressão externa e se desprende da água.

Coleta de amostra:

Para a determinação do CO2 livre a amostra deve ser coletada da mesma maneira como foi visto
para o O2 dissolvido. Considerando que o CO2 livre escapa facilmente na água, entende-se que é
desejável a execução da análise, imediatamente após a coleta da amostra. Quando isto não for
possível no campo, a amostra deve ser conservada a uma temperatura inferior à que tin ha a
água no momento da coleta e evitar toda a forma de agitação.

Método de análise:

Podem ser usados os seguintes métodos:

• Método volumétrico, segundo os métodos de análises da Universidade de Amburn


(ALA, USA), que consiste na reação do dióxido de carbono livre com o carbonato de sódio,
para formar bicarbonato de sódio, ou seja:

CO2 + H2O + Na2CO3 → 2NaHCO3,

cujo ponto final da reação se dá quando, na presença do indicador, a água muda de cor. A
viragem ocorre quando o pH da amostra atinge 8,3. Sabendo-se disso, a titulação com o
Na2CO3 poderá poderá ser feita sem o indicador, porém com o auxílio de um
potenciômetro. Quando não se dispõe desse equipamento no campo, o uso do indicador o
ferece o mesmo resultado, embora os cuidados devem ser maiores para evitar que seja
ultrapassado o ponto final.

• interferências: A presença de sais de Al, Fe, Cr e Cu interferem na reação tornando


o resultado mais elevado. Por esse motivo o método não é recomendável para amostras
que contenha resíduos de minas. Também altas concentrações de sólidos totais
introduzem erros na determinação, bem como a adição em excesso do indicador. Em
razão do primeiro caso o método não é recomendável para a água do mar.
• reagentes: são usados os seguintes - solução indicadora de fenolftaleina (5g de
fenolftaleina + 500 ml de álcool etílico a 95% + 500 ml destilada, previamente fervida), e
solução 0,0454N de carbonato de sódio (2,407 g de Na2CO3 anidro em 1 litro de água
destilada).
• procedimento: da amostra coletada retire 200 ml sem agitar a água,
preferentemente por sifonagem, e coloque em um frasco de Erlenmeyer; adicione 5 a 10
gotas do indicador e caso a amostra fique rósea éporque não contém CO2 livre, mas se
permanece incolor, a presença do gá é certa; face a presença de CO2 livre, titule a
amostra, imediatamente, com uma solução 0,0454N de Na2CO3 até que a cor rósea
definida persista durante pelo menos 30 segundos; quando o conteúdo de CO2 livre é alto,
pode ocorrer a perda de certa quantidade do gás durante a titulação. Procure evitar esse
erro comum, obtendo uma segunda amostra com todos os cuida dos da primeira e deixe
cair, rapidamente, dentro da amostra, toda a quantidade de Na2CO3 que foi usado na
primeira titulação. Adicione em seguida 5 a 10 gotas da solução de fenolftaleina e se a
amostra permanece incolor, continue a titulação até a viragem devida. Aceita-se este
segundo resultado como o mais exato.
• cálculo do resultado: usa-se a seguinte forma para calcular a quantidade de CO2
livre em ppm. = ml Na2CO3 × 5.
• Método volumétrico, segundo o United States Department of Agriculture é
semelhante ao anterior, com exceção da solução de Na2CO3, que tem a normalidade de
0,0227. Este método tem sido adotado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas, nos trabalhos limnológicos nos açudes do Nordeste.

Método monográfico: consiste na determinação do CO2 livre, mediante cálculo das


concentrações da alcalinidade e sólidos totais, comparados com a temperatura da água e
o valor do pH. Para a execução do método se deve usar o monograma para o CO2 livre.

Outros gases dissolvidos: metano, gás sulfídrico, nitrogênio, amônia, dióxido de enxofre,
hidrogênio e monóxido de carbono.

• Metano: também conhecido por formeno ou gás dos pântanos, tem um fraco odor, densidade
0,55 e se liquefazà - 164 °C. É encontrado às vezes em quantidades apreciáveis nas águas
estagnadas, ricas em matéria orgânica em decomposição. Antigamente esse gás era utilizado na
iluminação pública, por ser bastante inflamável o qual era canalizado e acumulado em pequenos
gasômetros.

- fontes de producão: a decomposição da matéria orgânica é a makor fonte de produção. Causas


favoráveis para o seu aparecimento ocorrem quando o oxigênio está ausente, desde que ele
necessite de condições anaeróbias para ser formado. A época do ano influi bastante na produção
desse gás, sendo que no verão, ele aparece em maior quantidade, podendo variar de apenas
traços atécerca de 40 cc/l. O metano pode-se formar a partir de substâncias como ácidos graxos,
álcoois e hidratos de carbono de elevado peso molecular.

- influência sobre o ecossistema: pouco se conhece sobre os efeitos do metano nos organismos
aquáticos. Alguns pesquisadores têm mostrado ser esse gás atóxico para os seres vivos
aquáticos, enquanto outros afirmam que, em determinadas condições ele é prejudicial à vida.
Sabe-se contudo, que a presença desse gás tem sido a causa da migração de muitos organismos
aquáticos para outras zonas livres de sua influência. Algumas bactérias, como Methanosarcina
methanica, muito comum emáguas frias e outras dos gêneros Methanococcus e
Methanobacterium, que preferem águas mais quentes, podem utilizar o carbono do metano para
formar dióxido de carbono. Este CO2 é provavelmente utilizado na síntese da matéria orgânica da
bactéria.
• Gás sulfídrico: como o metano o gás sulfudrico se forma dem onfições anaeróbias, mas
somente onde existam sulfatos ou outras substâncias sulfurosas na água ou na matéria orgânica
em decomposição. Sua presença na água pode ser evidenciada pelo distinto odor fétido, embora
muitas vezes a análise química mostre resultados negativos. É um gás muito comum nas águas
contaminadas por esgotos domésticos frequentemente pode ser encontrado em lagos e viveiros,
em quantidades tais que o bronze de certos instrumentos limnológicos quando sim- plesmente
mergulhados na água, pode ser fortemente manchado por ele.

- fontes de produção: as principais causas de formação do gás sulfídrico na água são as


seguintes:

- decomposição da matéria orgânica, como jádissemos acima, onde existam sulfatos ou matérias
sulfurosas, o H2S é um dos produtos da decomposição, desde que haja falta completa do oxigênio
onde ele se forma.

- atividade bacteriana, certas bactérias podem formar o H2S por redução dos sulfatos, em
completa ausência de oxigênio. A reação que ocorre é esta:

CaSO4 + 8H → 4H2O + CaS


CaS + H2O + CO2 → CaCO3 + H2S

A penetração de água do mar na água doce pode dar muitas vezes lugar ao desenvolvimento em
massa dessas bactérias, principamente da espécie Microspira desulfuricans, a presença de H2S
na água condiciona o aparecimento de outras bactérias que se utilizam desse gás para o seu
desenvolvimento. O gênero mais representativo desse tipo é Beggiatoa, que oxida o gás
sulfídrico, formando primeiro enxofre e depois ácido sulfúrico. A reação que ocorre é a seguinte:

2H2S + O2 → 2H2O + 2S
2S + 3O2 + 2H2O → 2H2SO4.

Após a formação de ácido sulfúrico, este ataca os carbonatos e bicarbonatos que existem na
água, dando origem ao aparecimento de CO2 e sulfatos.

- letalidade, o H2S émuito tóxico e pequenas quantidades podem causar a morte dos organismos
vivos na água. Segundo U.S. Bureau of Fisheries, o limite máximo permissível éde 0,4 ppm.
Peixes marinhos são mais sensíveis a esse gás que os de água doce. Beerman mostrou que a
letalidade do H2S é devido provocar a acidez na célula dos organismos vivos, desde que esse gás
pode facilmente atravessar a membrana celular. Casos impressionantes de mortalidade de peixes
têm aparecido na literatura limnológica e o mais recente diz respeito às frequentes mortalidades
nas Lagoas Rodrigo de Freitas e de Camorim, na Guanabara, cujas causas, segundo Kleerekoper
e L.P.H. de Oliveira, são devidas ao H2S. Nos açudes do Nordeste não têm sido investigada a
presença desse gás, embora que em alguns deles, como no Araras (Reriutaba, Ce), sua presença
pode ser evidenciada, em certas épocas do ano, pelo forte odor característico da água.

• Nitrogênio: tem uma baixa sensibilidade na água e sendo um gás inerte a quantidade que
ocorre nos lagos e açudes não muda com os processos químicos e biológicos que
frequentemente estão sendo realizados em todas as águas naturais.

- fontes de produção, a principal fonte de produção do nitrogênio na água é aquela proveniente da


atmosfera, embora também possa existir esse gás oriundo da decomposição da matéria orgânica
no fundo do lago. Maiores quantidades ocorrem no inverno, desde que el é mais solúvel na água
fria. Em face de sua condição de gás inerte, as determinações de N livre não são comuns nas
investigações limnológicas.

- influência do N na água, considerando desde muito tempo como sendo o gás menos importante
dentre os que se encontram dissolvidos na água, hoje em dia já se está dando algum valor,
principalmente quando aparece em quantidades elevadas, e que é dito ser a causa de uma
doença de peixe, que afeta o sistema circulatório dos organismos aquáticos, provocando sua
paralisação. Desconhece-se todavia, quais as quantidades letais para se produzir tais efeitos.
Limnologistas têm tentado demonstrar outro aspecto da influência do nitrogênio livre na água, com
respeito ao seu aproveitamento por algum tipo de alga, embora isso ainda não tenha sido
convenientemente comprovado. Futuros trabalhos limnológicos em laboratório poderão
demonstrar a habilidade de utilização do N pelo fitoplâncton, principalmente de algas da família
Nostocacea e então passar o N livre a ser uma determinação de rotina da investigação
limnológica.

• Amónia: a amônia é um gás de grande solubilidade na água e que é encontrado em quase


todos os ambientes aquáticos. Principalmente durante o inverno, nos países temperados e frios,
consideráveis quantidades desse gápodem ocorrer, desde que se trata de um produto biológico
da degradação normal das proteínas. A amônia pode também ser produzida pelos peixes de água
doce, contribuindo destarte para a elevação da concentração desse gás na água. No açude
Amanari, em Maranguape, Ceará, durante o período de estudos limnológicos realizados por
Gurgel, esse gás não foi encontrado uma vez sequer, entretanto, Bastos, no mesmo açude, dez
anos antes, encontrou um pequeno teor expresso em 0,10 ppm.

- fontes de produção, as principais causas da presença da amônia na água são:

Decomposição da matéria orgânica; com já dissemos, a amônia é um produto da decomposição


dos compostos orgânicos nitrogenados e devido a sua grande solubilidade, dificilmente pode ser
eliminado totalmente da água. A quantidade que pode ocorrer na água geralmente varia com a
profundidade.

Atividades bacterianas; certos tipos de bactérias, chamadas desnitrificantes, têm a propriedade de


se desenvolver em condições anaeróbias e reduzir os nitratos em nitritos e, consequentemente
nitritos em amônia.

Ação redutora do H2S ou do H nascente; tanto o gás sulfidrico como o hidrogênio nascente são
poderosos agentes redutores, os quais podem reduzir os nitratos e formar amônia, segundo a
reação:

8H2S + N2O5 → 2NH3 + 8S + 5H2O ou


8H2 + N2O5 → 2NH3 + 5H2O.

- ictiotoxidade da amônia, mesmo pequenas quantidades desse gás são ditas produzir efeitos
fatais, desde que os peixes perdem a capacidade de absorver o oxigênio dissolvido. Brockway,
citado por Bastos, cita o caso em que, em um tanque de criação de peixe, onde a quantidade de
O2 dissolvido era elevada, houve uma mortalidade que se atribuiu fosse devido a amônia, cuja
concentração era de 0,90 ppm. Os efeitos deletérios da amônia sobre os peixes estão
relacionados com o valor do PH e com a temperatura da água, porém, segundo estudos recentes,
somente a molécula não ionizável da amônia (NH3) apresenta toxidade. A fração não ionizável do
gás na água aumenta com a elevação do pH e da tempratura. Os peixes não parecem reconhecer
a presença da amônia na água, em face ser um gás inodoro, os quais morrem sem manifestar
nenhuma reação de deslocamento da zona de contaminação. A ictiotoxidade da amônia e a
resistência de alguns peixes de água doce do Nordeste foram estudadas no DNOCS por Bastos
(1959), tendo sido constatada uma tolerância bem grande entre as espécies testadas. Segundo
diversos trabalhos, quantidades superiores a 2,5 ppm, podem produzir efeitos letais nos
organismos aquáticos. Entretanto, certos peixes como a carpa, o búfalo e outros suportam teores
acima de 3,0 ppm. Quantidades superiores a 1,0 ppm constituem índices de poluição orgânica na
água.

- método de análise, vários métodos padrões são usados, cuja seleção depende da quantidade
que se su põe existir como da qualidade da amostra. O método mais comum de determinação de
amônia é o da nesselerização direta, que foi descoberto por Julius Nessler, químico alemão que
viveu de 1827 a 1905. Apresenta grande simplicidade, rapidez de operação e boa exatidão,
principalmente na ausência de substâncias interferentes.

Coleta de amostra; para resultados dignos de confiança se deve tomar amostras coletadas
recentemente, ou que nela tenha sido adicionada cerca de 2 ml de H2SO4, previamente, por cada
litro, para impedir a realização de processos bioquímicos que poderão dar origem ao
aparecimento do gás na amostra, mesmo após coletada.

Substâncias interferentes; gás sulfídrico, dióxido de enxofre, aminas alifáticas a aromáticas,


proteínas, aldeidos, acetonas e álcoois, podem interferir na coloração característica que apresenta
a amostra, depois da adição do reagente. Também Ca e Mg, causam os mesmos problemas.

Reagentes; para a determinação da amônia pelo método da nesselerização direta se usa o


reagente de Nessler, que pode ser preparado da seguinte maneira: dissolva 50 g de iodeto de
potássio em cerca de 35 ml de água destilada, fria e isenta de amônia. Adicione uma solução
saturada de cloreto mercúrico, até que se forme um leve precipitado. Adicione 400 ml de uma
solução alcalina, contendo 143 g de OHNa. Complete com água destilada, isenta de NH 3, até
fazer um litro. Deixe em repouso durante 24 horas e em seguida decante. Guarde o reagente em
frasco de cor escura, com rolha esmerilhada.

Procedimento da análise; tome 50 ml da amostra acidificada ou coletada recentemente (faça ao


mesmo tempo ums prova em branco: adicione 2ml do reagente de Nessler e deixe em repouso
durante 10 minutos; uma cor amarelo-alaranjado se formará na presença da amônia sendo sua
intensidade proporcional à quantidade do gás na água; para se conhecer a quantidade da amônia
na amostra, leve-a a um colorimetro ou espectrofotômetro.

• Dióxido de enxoíre: pode ocorrer nas águas naturais em pequenas quantidades. Pouco se
conhece sobre a influência desse gás na formação ecológica dos lagos e açudes, principalmente.

• Hidrogênio: o hidrogênio nascente aparece também em pequenas quantidades, resultante da


decomposição anaeróbia no fundo dos lagos e açudes, mas, como o anterior, não se tem
conhecimento dos efeitos deletéricos sobre a vida aquática.

• Monóxido de carbono: como os dois últimos citados, também sua ocorrência na água é em
concentrações baixíssimas. Sob o ponto de vista biológico é de pouca significância seu
aparecimento, embora tenha uma ação tóxica para os organismos aquáticos.

Literatura recomendada

Bastos, J.A.M., 1959, Importância da Amônia como Substância Ictiotóxica, Publ. № 159, Série I-C,
Coletânea de Trabalhos Técnicos, Serv. Piscicultura, DNOCS 115–132, Fort. CE.

Reid, G., 1961, Ecology of Inland Waters and Estuaries, pág. 183–185.

Welch, P.S., 1952, Limnology, 2a ed., pág. 198–199 e 104–105.

2.1.2.4 Sólidos Dissolvidos. Importância para a Produtividade. Lei de Liebig.

Introdução: praticamente, todas as substâncias que se encontram na crosta terrestre podem se


dissolver na água. Por esta razão ela é conhecida como o mais importante silvente da natureza e
a variação das substâncias dissolvidas em seu meio faz com que se constitua em uma
complicadissima mistura de substâncias químicas. A quantidade dessas substâncias varia com as
caraterísticas e topográficas da bacia hidrográfica do açude. Regiões pobres em sais minerais tê,
por conseguinte, águas pobres em minerais. Dentre as substâncias dissolvidas e que mais de
perto interessam à aqüicultura, citamos como principais as seguintes:
Substâncias inorgânicas:

• carbonatos e bicarbonatos: que ocorrem em maior quantidade aos demais


elementos, porém o teor médio varia de 42 a 46 ppm.
• nitratos (NO3): que existem em quase todas as águas, na ordem de 0,5 a 3,0 ppm.
• nitritos (NO2): ocorrem em pequenas quantidades em águas não contaminadas,
geralmente entre 0,1 a 2,0 ppm.
• fósforo: de grande importância para a assimilação fotossintética das algas, com
cerca de 0,02 a 0,80 ppm.
• cálcio: que é imprescindível à vida, principalmente para a formação do esqueleto
dos peixes e ocorre entre 0,2 a 0,4 ppm.
• magnésio: indispensável ao metabolismo dos vegetais e que forma parte na
formação da molécula da clorofila, aparece sempre em menores quantidades que o cálcio.
• ferro: exerce uma ação catalizadora sobre a função fotossintética das plantas
clorofiladas e é encontrado em quantidades de 0,3 a 0,5 ppm.
• cloro: de grande importância para a fisiologia dos organismos vivos, no que diz
respeito ao seu valor osmótico, aparece com teores de 20 a 50 ppm.
• enxofre: toma parte na composição da proteína e pode ser encontrado na água,
com teores de 8 a 15 ppm.
• sódio: necessário ao crescimento e desenvolvimento das plantas aquáticas, cujos
teores variam de 5 a 10 ppm.
• sílica: necessária a formação da carapaça de algas diatomáceas, tendo sido
encontradas águas contendo até 10 ppm.
• manganês: é necessário a muitas algas, principalmente das espécies Chlorella e
Cryptomonas, por ser um ativador do sistema enzimático. É encontrado sempre em
pequenas quantida des, com menos de 0,1 ppm.
• cobre: é um fator ecológico de grande importância e na forma de sulfato, se torna
um poderoso algicida. O teor varia de 0 a 0,03 ppm.
• zinco: é um elemento tóxico, principalmente para o plâncton do gênero Cladocera
e é encontrado com variações de 0,005 a 0,30 ppm.

Outros elementos como Al, gálio, urânio, rádio e tário ocorrem frequentemente em águas naturais,
sendo os três últimos originados de regiões ricas em minérios radioativos.

Substâncias orgânicas: a matéria orgânica presente em solução na água pode ser proveniente
de duas fontes: autoctone, quando é produzida no açude pelos organismos vivos a pela
decomposição das plantas e animais mortos; e aloctone, quando é trazida pelos ventos ou
introduzida na água pelas correntes, cuja natureza do material é de qualidade diversa.

Importância dos sólidos dissolvidos: já vimos atrás o papel que cabe a cada um dos elementos
químicos presentes na água. Numerosas observações têm demonstrado que, com poucas
exceções, a produtividade do solo e da água é limitada pelas quantidades disponíveis desses
elementos. No tocante aos compostos de nitrogênio e fósforo, como um exemplo, podemos dizer
que a produção biológica seria bem major se a quantidade desses sais fosse também grande.
Entretanto, condições diversas podem modificar esta situação, desde a forma em que se
apresenta o elemento, como àspectos geológicos, edáficos, meteorológicos, etc., e a presença ou
ausência de um elemento, poderá se tornar em um fator limitante da produtividade. Isto é,
embora grande parte dos elementos inorgânicos ou orgânicos esteja presente nas quantidades
necessárias, a falta ou pequena quantidade de um deles, limitará qualitativa e quantitativamente a
produção biológica da água. Este fenômeno foi estudado em todos os seus aspectos pelo
cientista alemão Justus von Liebig, considerado como o pai da química agrícola, que estabeleceu
a lei das substâncias mínimas, conhecida por Lei de Liebig, de grande importância para o estudo
da produtividade, não só das terras agrícolas como das águas naturais.

Medição dos sólidos totais: a concentração total das substâncias dissolvidas na água pode ser
medida por simples evaporação de uma quantidade da amostra a uma temperatura de 103°C. O
resíduo seco obtido contém tanto o material inorgânico còmo o orgânico. Mediante uma
calcinação desee resíduo seco a temperatura de 550°C, várias substâncias voláteis,
principalmente de natureza orgânica, são eliminados. O resíduo que fica depois da calcinação,
chamado resíduo fixo, conterá somente sólidos inorgânicos e. a diferença entre o resíduo seco e o
resíduo fixo, é chamada de perda pela calcinação, que corresponde a quantidade de substâncias
existentes na amostra. A quantidade dos sólidos totais pode ser representada em termos de
%o(partes por mil) ou ppm (partes por milhão). A salinidade da água doce é definida como a
concentração total dos componentes iônicos e embora esse termo não seja largamente usado nas
pesquisas limnológicas sendo mais empregado na oceonografia, todavia a salinidade expressa a
totalidade dos sais dissolvidos. Devido a pequena quantidade de ions que geralmente são
encontrados na água, a salinidade é frequentemente expressa em mg/l, embora possa também
ser representada em partes por mil (%o).

Condutibilidade Elétrica da Água ou Condutância Específica.

Introdução: ácidos, bases e sais em solução na água, são condutores de eletricidade, os quais
dissociados em seus íons, são chamados de eletrólitos na solução, a condutibilidade elétrica da
água dependerá, diretamente, da concentração de eletrólitos. De acordo com a solubilidade dos
eletrólitos na água, eles podem ser de dois tipos:

• fracos eletrólitos, que se manifestam por uma baixa solubilidade e consequente


reduzida condutância específica; e
• fortes eletrólitos, que apresentam tanta alta solubilidade como igual condutibilidade
elétrica.

Os eletrólitos estão representados na água dos rios, açudes, etc., quase que exclusivamente,
pelas substâncias inorgânicas, porém, certas substâncias orgânicas podem também contribuir
para a elevação da condutibilidade elétrica da água e, deste modo, nem sempre os valores desta
correspondem totalmente à concentração das substâncias minerais. Águas com alta resistência
elétrica, que é o contrário da condutibilidade elétrica, são pobres em substâncias nutritivas. A
medição da condutibilidade elétrica, da água, além de fornecer dados sobre a concentração total
dos eletrólitos, informa também sobre os processos bioquímicos que se desenvolvem no meio
aquático.

Variações da condutibilidade elétrica: diversas causas são responsávels pelas variações da


condutibilidade elétrica, sendo as principais as seguintes:

• variações diurnas: devido principalmente à realização do processo fotossintético


pelas plantas clorofiladas;
• variações anuais: que podem ocorrer em alguns açudes, dependendo de suas
características químicas, cuja concentração dos eletrólitos pode oscilar com as estações
do ano;
• distribuição vertical: os processos químicos e biológicos mostram um notável
efeito sobre a distribuição dos eletrólitos na água de muitos lagos e açudes, enquanto em
outros, resultam em uma uniforme distribuiçã em todas as camadas da água.

Importância da condutibilidade elétrica da água: o conhecimento do valor da condutibilidade


elétrica da água é de grande importância para vários fins, dentre os quais podemos citar:

• criação de peixes em viveiros: valores acima de 60mho (micromho) são


considerados bons para a piscicultura, todavia, os valores médios entre 120 a 500 mho
são os mais desejáveis. Águas naturais do Estado de São Paulo revelam baixa ionização
e, no Nordeste infelizmente dispomos de poucos dados sobre a condutância específica da
água de nossos açudes. Quando a condutância específica da água excede a 1000 mhos
ocorrem condições prejudiciais aos peixes, plâncton, moluscos e larvas de muitos insetos.
No Texas têm sido encontrado águas com valores acima de 1.000 mhos, porém a fauna
dos peixes é muito limitada, constituída principalmente de peixes de pouco valor comercial,
como barrigudinhos (poecilidade) e pequenos ciprinideos (barbus). Também o
conhecimento da condutância especifica da água é imprescindível para a aplicação de cal
ou calcário nos processos de calagem e que consistem na correção do pH da água com
essas substâncias, bern como nos trabalhos de fertilização artificial com adubo inorgânico.
Os valores da condutância específica devem ser controlados, durante a aplicação desses
dois métodos de melhoria das qualidades biológicas da água destilada à criação de
peixes, desde que as reações químicas que se sucedem podem causar sérios problemas.
• avaliação da pureza da água destilada e desmineralizada: deve ser medida, quando
se deseja uma água destilada completamente pura, para uso na preparação de reagentes
e soluções normas;
• verificação da influência da chuva sobre a concentração total dos sais na água;
• estudo da poluição dos ambientes aquáticos;
• estudo das substâncias nutritivas dissolvidas na água;
• estudo sobre as causas ecológicas do início da piracema e da desova dos peixes,
em correlação com as condições atmosféricas; e
• estudo da produtividade biológica dos lagos e açudes: o conhecimento da
condutibilidade elétrica da água de lagos e açudes permite que seja estimado o seu
potencial pesqueiro através do MEI (Indice morfoedáfico), desenvolvido por Henderson e
Welcomme (1974) em lagos africanos e que hoje tem aplicação universal. O MEI diz
respeito à condutividade, dividida pela profundidade média (Z). Esta é calculada se
dividindo o volume (V) pela área, na profundidade zero (Ao), expressa na seguinte
equação:

Z = V/Ao

Medição da condutibilidade elétrica da água: é feita a medição por intermédio de um aparelho,


ohamado de “medidor de condutância da água”, “ponte de Wheatstone” ou ainda “pointe de
condutibilidade” ou somente “condutivímetro”, o qual funciona com válvulas e com três tipos de
eletrodos, de cores diferentes, um azul, para águas limpas, sem poluição e de baixa
condutibilidade elétrica; um verde, para águas de média poluição natural e um vermalho, para
águas poluidas ou que apresentem elevada salinidade.

A quantidade de eletrólito presente na amostra é calculada pela medida recíproca da resistência


que um prisma de água, de determinada base e altura, oferece à passagem de uma corrente
elétrica.

A condutibilidade elétrica é expressa em micromho, o qual significa o inverso da resistência, que é


representada pela unidade ohm. Também se pode representar a condutibilidade elétrica como
ohm recíproco.

O valor ua condutibilidade elétrica varia muito com a temperatura de modo que esta deve ser
sempre levada em consideração e os valores encontrados deverão ser computados para uma
temperatura única, a fim de serem melhor comparados.

2.1.2.5 Concentraçáo de Íons de Hidrogênio (pH)

Conceito: o que é o pH? em termos gerais e pouco preciso, se diz que o pH expressa se uma
água ou uma substância qualquer, e ácida, neutra ou alcalina. Mais precisamente, é o potencial
do hidrogênio ionte, isto é, o símbolo que expressa o logarítimo negativo da concentração dos
íons positivos de hidrogênio. Por exemplo: se uma água tem o pH = 5, isto quer dizer que ela tem
uma concentração de íons de hidrogênio de 0,00001 de seu peso molecular, ou seja:
Uma água que apresente uma major concentração de íons de hidrogênio (H+) que íons hidroxila
(OH-) se diz é ácida, enquanto que o excesso de hidroxilas em relação ao hidrogênio, se diz ser
alcalina. A igualdade de concentração H+ e OH- significa ser neutra. Esta reação é determinada
pela dissociação eletrolítica das substâncias dissolvidas na água, conforme já vimos
anteriormente. A água pura é ao mesmo tempo um ácido extremamente fraco e urna base
igualmente fraca, a qual se dissociando em seus íons H e OH, a concentração de um é igual a de
outro. Sendo o produto das duas concentrações igual a 10-14, há portanto 10-7 átomos gramos de H+
e 10-7 átomos gramos de OH- por litro da amostra. O valor dessa concentração tanto pode ser
considerado em relação ao potencial do hidrogênio como do potencial da hidroxila, representados
simbolicamente por pH e pOH. Entretanto, como é suficiente indicar a concentração de um dos
dois íons para se conhecer a reação, apenas o pH continou em uso, sendo universalmente
adotado como uma medida padrão. Assim, os valores do pH abaixo de 7 indicam um meio ácido,
enquanto os superiores a 7, expressam um meio alcalino, cuja escala de valores varia de 0 a 14.

Importância do pH: pouco se sabe sobre a ação fisiológica da concentração dos íons de
hidrogênio e muito menos sobre sua significação ecológica. Entretanto, está comprovada a
preferência de certos organismos aquáticos para um determinado valor de pH. Sabe-se que a
alga Ulva enteroides cessa sua atividade fotossintética, quando o pH está acima de 9,0. Certos
movimentos migratórios de peixes têm sido também atribuídos a valores diferentes de pH das
águas por eles habitadas. O controle do pH da água de um viveiro de criação de peixes é de vital
importância para se conseguir uma boa produção. Em paises onde existem problemas com a
acidez da água ou elevada alcalinidade, este controle deve ser feito cuidadosamente, para se
garantir o desenvolvimento dos peixes e a sua reprodução. Os valores entre ò,5 e 9,0 são
considerados como os melhores para a piscicultura em tanques e viveiros. Segundo
Schaeperclaus, o cal é o melhor elemento para se manter o valor do pH de uma água próximo à
neutralidade, quando esta apresenta características ácidas. O mesmo autor faz algumas
observações importantes sobre os valores de pH para tanques e viveiros de criação de peixes,
tais como: acima de 9,0, alcalino forte, perigoso para os organismos aquáticos; entre 8,5 e 7,0,
moderadamente alcalino e neutro, sendo bom para os peixes, entre 6,5 e 5,5, moderadamente
ácido, poderá ocasionar prejuizos à criação; entre 5,0 e 4,5, fortemente ácido, muito perigoso para
os peixes, os quais não se reproduzem; abaixo de 4,0, totalmente acido, completamente
imprestável para a criação de peixes. Nesta faixa nenhuma correção é possível com a adição de
cal. A ação tóxica do pH nos peixes é caracterizada pela precipitação de muco sobre as branquias
causando a morte por sufocação ou por precipitação de proteínas dentro das células epitelias.
Desconhece-se se a temperatura ou a dureza da água concorram para o aumento da toxidade do
pH.

Variação do pH na água: é essencialmente valioso para qualquer aqüicultor o conhecimento


sobre a variação do pH nas águas naturais, desde que serve como testemunho das mudanças
químicas do biótopo. Esta variação pode ir de um mínimo de 3,0 ou mais abaixo, até um máximo
de 10,0. Entretanto, na maioria dos lagos e açudes, a faixa de variação se situa entre 6,5 a 8,5.
No açude Amanari, em Maranguape, Ceará, durante um período de observação de 16 meses, os
valores mínimos e máximos encontrados foram de 7,1 e 8,5, respectivamente. As águas dos
açudes do Nordeste apresentam, geralmente, uma reação moderadamente alcalina, o que
significa dizer serem de boas características produtiva. Entretanto, na região Amazônica, Sioli
encontrou águas bastantes ácidas, algumas com pH abaixo de 4,5. Ao norte da Suiça, no lago
Blamisus, o pH da água varia de 2,8 a 3,1. O mais baixo valor de pH que se conhec em uma água
natural é no Japão no lago Katanuma, com 1,2, enquanto o mais elevado é no lago Nakuru, no
Quenia, com 12,0.

Determinação do pH: são usados dois métodos para a medição do pH, quais sejam:

• método colorimétrico, que consiste no uso de várias substâncias, conhecidas como


indicadoras e que apresentam uma cor característica dentro de uma determinada faixa do
pH, cuja amostra é comparada com os padrões devidos, depois de tratada com o indicador
respectivo. Entre os métodos colorimétricos mais em uso nos trabalhos limnológicos,
podemos citar os seguintes:
• papel indicador
• padrões W. A. Taylor
• aparelho de Helige

Os indicadores usados e as respectivas faixas de variação do pH e mudanças de cor, são


as seguintes:
azul de timol-1,8 a 2,4-de vermelho para amarelo alaranjado
azul de bromofenol-3,0 a 4,6-de amarelo para azul
vermelho de metila-4,8 a 6,0-de vermelho para amarelo
verde de bromocresol-4,0 a 5,6-de amarelo para azul
vermelho de clorofenol-5,2 a 5,6-de amarelo para vermelho
azul de bromotimol-6,0 a 7,6-de amarelo para azul
vermelho de fenol-6,8 a 8,4-de amarelo para vermelho
vermelho de cresol-7,0 a 8,2-de amrelo para púrpura
fenolftaleina-8,0 a 9,0-de incolor pàra róseo
azul de timol-8,0 a 9,6-de amarelo para vermelho
timolftaleina-9,0 a 10,5-de incolor para azul.

• método eletrométrico, o pH é medido com um instrumento elétrico, conhecido por


potenciômetro ou pHmetro, cujo valor é obtido diretamente.

Alcalinidade da Água. Reserva Alcalina

Alcalinidade: a alcalinidade normal das águas dos rios, açudes ou dos fluidos interno do corpo é
mantida pelos sais dissolvidos e outras substâncias, as quais são denominadas, conjuntamente,
como reserva alcalina. Estudos realizados em seres humanos têm mostrado que a reserva
alcalina do sangue previne o organismo contraa acidose a qual causa prejuízo ao metabolismo
dos seres vivos. Deste modo, é possível que também os peixes, que resistem a uma grande
variação do pH, possam se utilizar de suas reservas alcalinas para ajustá-las às necessidades de
seus organismos. Além desse aspecto, as águas alcalinas apresentam major produtividade
biológica, quando dentro de certos limites, e, portanto, oferecem melhores condições ao
desenvolvimento dos seres aquáticos, principalmente na criação de peixes em viveiros.

Substâncias responsáveis pela alcalinidade: a presença de bicarbonatos, carbonatos e


hidróxidos, tem sido considerado como a principal causa da alcalinidade da água. Com menos
frequência, também sais de borato, silicato e fosfato podem ser responsáveis pela reaçã alcalina
que apresenta certas águas de rios e açudes. Deste modo, a alcalinidade da água depende muito
da geologia da região e também das correções da água utilizada na criação de peixes em viveiros,
na qual se aplicam articialmente, métodos de adubação orgânica e inorgânica ou de calagem,
visando principalmente, o aumento da produtividade.

Determinação da alcalinidade: para melhores resultados a amostra deve ser coletada em


frascos de polietileno ou de vidro pirex neutro. A determinação deve ser feita, preferentemente,
dentro das primeiras 24 horas depois de coletada a amostra.

- Reagentes: são usados os seguintes:

• solução de ácido sulfúrico 0,020N


• solução indicadora de fenolftaleina (prepare como já vimos, anteriormente, para a
determinação do dióxido de carbono livre).
• solução indicadora de metilorange (dissolva 0,5g de metilorange em 1 litro de água
destilada; conserve a solução em vidro escuro de tampa esmerilhada).

- Procedimento: a determinação da alcalinidade da água, consta de duas etapas distintas,


conforme as reações verificadas na presença de dois indicadores acima, como podemos ver a
seguir:
• alcalinidade à fenolftaleina (F):
tome 100 ml da amostra e coloque em um frasco de Erlenmeyer, adicione 5 a 10 gotas da solução
indicadora de fenolftaleina; caso a amostra fique rósea é porque contém carbonatos e/ou
hidróxidos; permanecendo incolor, a amostra é ácida e contém dióxido de carbono livre; titule a
amostra (com a cor rósea), com uma solução de ácido sulfúrico 0,20N, até o desaparecimento
completo da cor; a alcalinidade a fenolftaleina expressa em partes por milhão de CaCO 3 é igual ao
número de ml da solução de ácido sulfúrico usada, multiplicada por dez (10).

• alcalinidade á metiiorange ou total (T):


tome 100 ml da amostra e coloque em um frasco de Erlenmeyer; adicione 2 a 5 gotas do indicador
de metilorange; caso a amostra adquira uma cor amarela/laranja é porque deve conter hidróxidos,
carbonatos ou bicarbonatos, mostrando ser alcalina; caso contrário, isto é, adquira uma coloração
amarela-tijolo, é porque é ácida, cujo pH da amostra deve estar em volta de 4,0; no primeiro caso,
titule a amostra com uma solução 0,0020 N de ácido sulfúrico, até o ponto de viragem do
indicador, que se caracteriza por uma cor amarelo-tijolo; a alcalinidade à metilorange ou, como é
também chamada, alcalinidade total, é igual a quantidade de ml da solução de ácido sulfúrico que
foi usada durante a titulação, multiplicada por dez (10) e expressa em partes por milhão de
CaCO3.

- Cálculo dos resultados: com base em ambas as determinações, podemos calcular as


quantidades de hidróxidos, carbonatos e bicarbonatos, expressas em CaCO3, e responsáveis pela
alcalinidade da água, mediante a seguinte tabela:

Resultado da titulação com H2SO4 Alcalinidade em p.p.m. de CaCO3


(ml do ácido) OH- CO3= HCO3-
Quando F é igual a zero 0 0 T×10
Quando F é menor que 1/2 de T 0 2F×10 (T-2F)×10
Quando F é igual a metade de T 0 2F×10 0
Quando F é maior que 1/2 de T (2F-T)×10 2(T-F)×10 0
Quando F é igual a T T×10 0 0

Dureza total. Tipos de dureza. Classificação das águas quanto a dureza. Importância. Dureza das
águas do Nordeste Brasileiro. Métodos de análise.

Introdução: a presença na água de íons de cálcio e magnésio em maior quantidade, na forma de


carbonatos e bicarbonatos, além de íons de ferro, sulfato, alumínio, manganês, estrôncio, zinco e
hidrogênio, em pequenas quantidades, dá a água uma propriedade química característicá,
conhecida na literatura limnológica por “dureza”. Originalmente, o conceito de dureza de uma
água é medida de capacidade desta água, rica desses íons, para precipitar uma solução de
sabão.

Tipos de dureza: a dureza de uma água pode ser de diferentes tipos, tais como:

• temporária: que pode ser removida pela ebulição da água. Ela é devida aos
bicarbonatos de cálcio e de magnésio, que com este procedimento se transformam em
carbonatos de cálcio ou de magnésio e se precipitam, segundo a reação abaixo:

Ca(HCO3)2 → CaCO3 + H2O + CO2

• permanente: édevida a solubilidade dos carbonatos de cálcio ou magnésio, bem


como de ácidos inorgânicos e ao sulfato de cálcio. A dureza permanente mais a dureza
temporária, constitui o que se chama de “dureza total”.
• dureza de carbonatos: é aquela devido a presença de carbonatos e bicarbonatos na
água.
• dureza sem carbonatos: é devido a presença de sulfatos, cloretos, nitratos e outros
íons de compostos não carbonatados. A fervura não retira da água todos os carbonatos,
por conseguinte, dureza temporária não é a mesma que “dureza sem carbonatos”.

Classificação das águas: quanto a dureza das águas naturais, quer de lagos, açudes, rios,
poços ou outros mananciais destinados ao abastecimento público ou doméstico, são classificadas
em:

• águas moles, cuja a dureza émenor que 40 ppm de CaCO3


• águas semi-duras, quando se situa entre 40 a 300 ppm de CaCO3
• águas duras, quando acima de 300 ppm de CaCO3

Importância ecológica da dureza: sob o ponto de vista ecológico, as águas consideradas duras
não são boas para a criação de peixes em tanques e viveiros, chegando a retardar o crescimento
ou até a causar a morte. Admite-se para a criação intensiva como boa, uma água com teor de até
200 ppm de dureza em CaCO3. Entretanto, nos lagos e açudes, águas com teor acima disso,
podem geralmente suportar uma grande população de peixes, embora nem sempre haja
variedade de espécies. Eddy (1938), no seu trabalho - A Classification of Minnesota Lakes for
Fish Propagation, publicado na revista - Progressive Fish-Culturist, 41, 9 – 13, encontrou entre
tipos de lagos de águas com diferentes durezas, que em cada um deles havia predominância de
determinadas espécies de peixes. Verificou que em lagos de água dura, de grande profundidade,
a produtividade foi de 90 a 160 kg/ha/ano, enquanto em lagos rasos, alcançou mais de 400
kg/ha/ano. Poucos dados dispomos sobre os efeitos da dureza na biota dos açudes nordestinos,
embora em muitos ela nos parece bastante elevada. Águas destinadas ao abastecimento público
ou doméstico não devem ser duras, pois, apesar de não causarem prejuízos à saúde, são
detestáveis porque diminuem a capacidade de formar espuma, nos trabalhos de lavanderia,
manufatura de tecidos beneficiamento de lã, etc.

Dureza das águas naturais brasileiras: Sioli, nos seus trabalhos na Amazônia, encontrou teores
pequeníssimos de dureza, como 7 ppm em CaCO 3. Em vários açudes do Nordeste, a variação é
muito grande porém, de uma maneira geral, as águas nordestinas podem ser classificadas como
semi-duras.

Alguns dados podem ser vistos, tais como:

Açude Botija, em Palmácia, CE 90 ppm CaCO3


Açude Calderão, em Piripiri, PI 67 ppm CaCO3
Açude Poço da Cruz, lbimirim, PE 382 ppm CaCO3
Açude Caucaia, Caucaia, CE 323 ppm CaCO3
Açude Amanari, Maranguape, CE 170 ppm CaCO3
dureza permanente 128 ppm CaCO3
dureza temporária 42 ppm CaCO3
Açude Jacurici, Itiuba, BA 270 ppm CaCO3
Açude Acarape do Meio, Redenção, CE 73 ppm CaCO3
Açude Riacho da Onça, Maranguape, CE 426 ppm CaCO3
dureza permanente 256 ppm CaCO3
dureza temporária 170 ppm CaCO3

Métodos de análise da dureza total: podem ser usados os seguintes métodos:

• método de Boutron-Boudet, com o líquido hidrotimétrico;


• método de Hach, com padrões próprios;
• método do EDTA, com o indicador corante negro cromo T.

Determinação do Magnésio da água: por diferença, o magnésio pode ser calculado na amostra,
após as determinações do cálcio (método EDTA, já visto) e da dureza total da água, como seja:
- dureza total em CaCO3 menos o fator 0,84253 = Magnésio em MgCO3

Medida da dureza: é essencialmente expressa em ppm de CaCO3, e grau francês e grão de


CaCO3 por galão d'água, assim:

1 grau francês = 10 ppm de CaCO3


1 grão de CaCO3 por galão = 17,1 ppm = 142 libras por milhão de galões d'água.
1 grau francês é igual a 1g de CaCO3 em 100 litros d'água.

2.2 Manejo da Qualidade da Água


A produtividade natural de um ambiente aquático depende da natureza da água e do solo, os
quais, se não forem bem tratados, podem ser impróprios à criação de peixes. Algumas técnicas e
procedimentos têm sido desenvolvidos, visando melhorar a qualidde das águas dos açudes, da
mesma forma como tem sido feito para a agricultura. No Nordeste brasileiro as águas interiores
são ligeiramente alcalinas, propícias portanto para a criação de organismos aquáticos. Esta
condição decorre da qualidade do solo, já que a água apresenta idênticas características, visto se
tratar de um diluente universal. Mesmo assim, são encontrados, nesta região, bolsões quase que
totalmente impróprios, que dãc a água nele inundado, característica de forte acidez. Na região sul
isto ocorre com mais frequência, se fazendo necessário a correção do solo e da água. Outro
aspecto de melhoria da produtividade, diz respeito ao uso de fertilizantes, prática esta que
constitue uma rotina da atividade aqüícola, não podendo ser desprezada para o cultivo de peixes,
tanto sob forma intensiva, com extensivamente.

2.2.1 Fertilização

Por fertilização ou adubação se entende a adição de adubos na água, com a finalidade de provê-
la dos nutrientes necessários à produção básica dos tanques, viveiros e açudes. Dependendo da
espécie de peixe ou de organismo aquático criado, a fertilização pode substituir mais de 50% da
ração necessária ou até mesmo, por completo, como é o caso da criação da tilápia do Nilo,
Oreochromis niloticus.

Quanto ao tipo de adubo a ser utilizado, a fertilização pode ser:

- Química ou inorgânica: quando são utilizados adubos químicos empregados normalmente na


agricultura e contendo, de ordinário, nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), nas proporções de 4/8/2.
Várias fórmulas têm sido sugerida por pesquisadores, visando com isto melhorar a produtividade
da água. Atualmente, se aconselha a aplicar unicamente o fósforo, sob a forma de superfosfato.
De acordo com Huet, a aplicação do P chega a aumentar a produtividade da água, de 50 a 100%.
Normalmente são utilizados de 20 a 30 Kg de P2O5 triplo, por hectare. Também pode ser aplicado
o P2O5 simples, mas este contém apenas 16% de P2O5, enquanto o triplo, possue 46%. Por uma
regra de três simples, se pode calcular a quantidade de um ou de outro necessários para a
adubação. Como o P existe em quantidades mínimas na água, em relação aos outros elementos,
a adubação fosfatada dá sempre ótimos resultados. Umas das maiores vantagens do adubo
químico é a fácil aplicação. Pode ser usado qualquer recipiente com pequenos buracos, como um
balde de plástico, uma cuia, etc, adaptados a uma armação flutuante de isopoi, a uma câmara de
ar, a um pedaço de madeira, como mulungu, ou qualquer outro material semelhante. Este método
é usado para dissolver o adubo químico aos poucos e distribui-lo em toda a área do viveiro ou
açude. O recipiente contendo o adubo químico deve ficar fiutuando, preso por um cordão
amarrado na margem, ficando ao sabor do vento. Pode-se também distribuir o adubo por meio de
uma plataforma de madeira, submersa em cerca de 30 com da superfície. Este sistema oferece a
vantagem de possibilitar uma distribuição mais uniforme em relação a área atingida pelo sistema
de balde ou cuia, visto que, para um viveiro de 1 ha são necessários de 5 a 6 baldes, enquanto
para outro de igual tamanho, uma plataforma é suficiente para distribuir todo o adubo na sua área.

- Orgânica: quando se utiliza de material orgânico de diferentes tipos, como sejam:


• adubo verde, constituído de plantas terrestres ou aquáticas, que ao se decomporem liberam os
nutrientes minerais retidos em seus tecidos, que são, posteriormente, reintegrados co ciclo
biológico do viveiro. É um tipo de adubação muito utilizado na Europa, sendo formado de vegetais
não lenhosos, como gramíneas, leguminosas, cereais e outros.

• esterco de animais, que é bastante utilizado nos países asiáticos, sendo os melhores, os
estrumes de porco e de aves. Também podem se aproveitados os dejetos de outros animais,
como os bois, carneiros, cavalos, coelhos, etc. A aplicação é feita na seguinte quantidade por
viveiro de 1 ha:

• • 2 ton, antes de colocar os peixes;

• • 2 ton, na semana seguinte, antes de colocar os peixes e,

• • 1 ton, semanalmente, depois de colocar os peixes. Caso haja desenvolvimento exagerado de


algas, a adubação deve ser suspensa, imediatamente. Para ver como a adubação está surtindo
efeito, faça sempre o teste da mão, caso não disponha de algum equipamento, como o disco de
Secchi, para a determinação da visibilidade. A medida que a visibilidade diminue, significa dizer
que está aumentando o fitoplâncton, podendo chegar a um ponto crítico, com sérios prejuízos
para a criação. Quando a água voltar a situação normal, volte a adubá-la, tal como já vinha sendo
feito.

Para controlar a distribuição igual do adubo, coloque o estrume no viveiro, dentro de um pequeno
cercado de madeira, protegendo-o da chuva e do sol, com palha de coqueiro, para que não fique
fraco. Infelizmente, o poder fertilizante do adubo orgânico é amplamente variável e não se sabe,
exatamente, a quantidade necessária para um viveiro.

Uma das desvantagens do adubo orgânico, apesar de ser barato, é que ao se decompor,
consome grande quantidade de oxigênio dissolvido da água e libera CO2 livre de forma
abundante, que pode colocar em perigo a vida dos peixes. Também estimula o desenvolvimento
de algas filamentosas, que afetam o aspecto da água, causando problemas com a operação dos
viveiros.

O adubo orgânico pode ser aplicado diluído em água ou a seco. Diluído, deve ser usado em sifão,
a fim de faze-lo chegar atée o fundo do açude. O adubo seco é mais fácil de transportar e de se
calcular a quantidade necessária.

O Centro de Pesquisas lctiológicas Rodolpho von lhering do DNOCS, em Pentecoste, CE, tem
realizado em seus viveiros vários experimentos de cultivo de peixes com adubação orgânica,
cujos resultados foram bastantes satisfatórios, como pode ser comprovado nos trabalhos
publicados no Boletim Técnico do DNOCS.

• água de esgoto, é outro tipo de material orgânico que pode ser aproveitado na adubação de
viveiros, conforme comunicação que foi apresentada pelos Drs. G. Schroeder e B. Hepher, da
Estação de Piscicultura de Dor, em lsrael, na Conferência Técnica da FAO sobre aqüicultura,
realizada em 1976, na cidade de Kyoto, Japão.

Aproveitando as águas de esgoto de um “kibboutz” de 500 pessoas, introduzidas em um viveiro


de 3 ha, foram produzidos ao final de 8 meses, 8.600 kg/ha de peixe, enquanto em um outro
viveiro vizinho, sem este tipo de adubação, fora produzidos no mesmo período, apenas 4.700
kg/ha. Os peixes criados na água de esgoto foram mantidos durante algumas semanas em água
limpa, para eliminação de odores desagradáveis e de germes patogênicos, como medida de
precaução, antes de serem comercializados para consumo humano.

• corume, é o produto resultante da fermentação da urina de animais criados na pecuária e


recolhida pelo aqüicultor, com a finalidade de adubação de viveiros de cultivo de peixes. Este
material possue uma elevada quantidade de nutrientes em solução, sendo rico em nitrogênio e
potássio, mas pobre em fósforo. O DNOCS realizou experimentos de cultivos de peixes com urina
de bezerreiros, com resultados satisfatórios. Uma das vantagens desse adubo é que pode ser
facilmente transportado em carros-pipas ou em barris e ser distribuído, por aspersão, diretamente
no viveiro. Na fazenda Uirapuru, em Fortaleza, CE, bem próxima ao estádio Castelão, por muito
tempo foi utilizado esse adubo na fertilização de viveiros de criação de peixes.

2.2.2 Calagem

Por calagem se entende a aplicação de cal extinta (cal virgem) no viveiro, com a finalidade de
correção do pH do solo ou da água.

A aplicação de cal (CaO) pode ser feita de acordo com a seguinte tabela, por hectare de viveiro,
valor de pH e natureza do solo, segundo Godoy:

Quantidade de cal (CaO) em t/ha


pH do fundo fundo argiloso fundo pouco argiloso fundo arenoso
5,5 a 5,9 3,0 1,8 1,0
6,0 a 6,4 2,0 1,0 0,5
6,5 a 6,9 1,0 0,6 0,2
7,0 a 7,5 0,5 0,3 0,1

A permanência do pH entre 6,5 a 8,0 é condição essencial para o desenvolvimento da cadeia


alimentar e, consequentemente, melhoria da produtividade natural do ambiente aquático. Além
disso, a calagem provoca a suspensão, estimula o ciclo de nutrientes e fornece o cálcio
necessário para a estrutura dos organismos aquáticos, principalmente para a formação do
esqueleto dos peixes. Além de aumentar as reservas alcalinas da água, a calagem tem também
uma ação na desinfecção dos viveiros e na eliminação de peixes e larvas de insetos nocivos ao
cultivo. A cal viva é de aplicação perigosa e deve ser utilizada com muito cuidado. Os operários
devem proteger as partes do corpo, evitando contatos diretos com a pele e os olhos, e tendo o
cuidado de não espalhar a cal contra o vento. Quando a calagem é feita diretamente no viveiro
seco, ou seja, no solo, não se deve enchê-lo com água, pelo menos até 10 dias depois de feita a
calagem.

Diante dos aspectos aqui representados sobre os métodos de aumento da produtividade natural
dos ambientes aquáticos, se torna fácil evidenciar que isto depende, primordialmente, da
interdependência existente entre a ÁGUA, a FERTILIZAÇÃO e os PEIXES.

PARTE3.
CULTIVO DE ALIMENTO VIVO PARA LARVAS E ALEVINOS DE
PEIXES QUE SERÃO ES TABULADOS EM TANOUES,
REPRESAS E RESERVATÓRIOS DE ÁGUA.
J.E. VINATEA*

3.1 Introdução
Qualquer programa de repovoamento que se deseje implantar para aumentar a produção de
lagos, represas e/ou reservatórios estará sujeito ao conhecimento prévio dos nutrientes presentes,
a qualidade e quantidade dos mesmos, os que mais tarde, graças ao fenômeno fotossintético do
fitoplâncton, o que por sua vez, alimentará o zooplâncton, neuston, perifiton, psammos e outras
formas mais desenvolvidas e complexas da cadeia trófica como, o benthos e necton. Esta
intrigada cadeia trófica estará utilizando distintos substratos do corpo de água distribuídos desde o
lodo e a areia que é banhado pela maré da zona litoral, por sua parte céntrica superficial a zona
limnética ou epilímnion, a sublitoral, e a parte profunda, o hipolímnion. Muitas formas de vida
aquática estarão utilizando a parte superficial da película da água, como o neuston, seja
deslizando-se sobre ela, aproveitando a tensão superficial, e outras vivendo debaixo dessa
película, como sucede com as comunidades que integram o epineuston e o hiponeuston, tal é o
caso de certos insetos patinadores, larvas de insetos terrestres (culicideos) e outros.

A produtividade de um lago, represa e reservatório e sua capacidade trofogênica das distintas


cadeias existentes na pirâmide Eltoniana entre organismos autótrofos e heterótrofos, sejam
construtores, transformadores, recuperadores, etc de energia, serão de domínio de biólogos, os
quais estaraão, em todo caso, em condições de prestar sua assistência aos aqüicultores para
poder saber com segurança a capacidade produtiva, a biomassa existente e/ou a capacidade de
carga que possa ter em relação com a possível empresa de peixamento e estabulação com
peixes, moluscos e crustáceos (Cole, A, 1983).

3.2 Importância do alimento vivo nas fases larvárias e alevinagem de peixes e


crustáceos

O êxito e/ou fracasso de uma empresa e aqüicultura mede-se pela taxa de natalioade e
sobrevivência de larvas e alevinos, contados desde a reabsorção do saco vitelino da maioria dos
casos, a aparição da abertura bucal com os esforços iniciais para a captura de alimento.

A taxa de sobrevivência será mais elevada quando a disponibilidade de alimento, em quantidade


e qualidade seja também adequada e oportuna. Recordar sempre que o alimento vivo geralmente
é bem recebido por pequenos peixes e camarões, comidos e devorados com prazer, é raro que os
rotíferos, copédodos, infusórios, microal gas, cladoceros e amostracos sejam deixados de lado
pelos vorazes predadores como são os filhotes de peixes e camarões objecto de nossa atenção.
lgualmente, haverá que ter presente, que o alimento vivo não suja, apodrece nem contamina a
água, não cria cheiros desagradáveis nem altera a qualidade da águe como costuma acontecer
com o alimento inerte, balanceado, úmidó ou seco, que se costuma ministrar, na ausência do
alimento vivo.

* Técnico da FAO.

O alimento vivo muito apetecido por larvas de crustáceos, moluscos e peixes pode estar
representado por uma ampla gama de organismos de tamanhos microscópios até aqueles vistos a
simples vista. Alguns exemplos podem ser indicados: Microalgas dos gêneros: Skeletonema;
Chaetoceros; Scenedesmus; Microcystis; Dunaliella; Tetraselmis; Chlorella; etc. Rotíferos
dos gêneros: Brachionus; asplanchna; synchaela; Kellicottia; Keratella. Cladoceros: Daphnia;
Diaphonosoma; Bosmina; Ceriodaphnia; Chydorus; Simocephalus; leptodora. Copédodos,
familias Diaptomidae, que normalmente abundam em águas doces. Alguns calanóides que se
encontram em águas continentais provêm de familias marinhas; Centropagidae, é um grupo
marinho, embora alguns gêneros possam ser encontrados em águas doces da América do Norte,
como: Limnocalanus; Calamoecia; Tropocyclops; Diacyclops. Anfípodos: Hyalella;
Crangonx; Gammarus; Pontoporcia.

Ultimamente, vem se utilizando em grandes quantidades na produção maciça de larvas de


camarões peneideos e Palemonidae (Penaeus; Macrobrachium, o chamado “camarão de
salmora”, do gênero Artemia). Entre os insetos, existem ao redor de 25.000 a 30.000, espécies
aquácies aquécies aquáticas ou que apresentam estágios larvais aquáticos (Cole G.A., 1983),
muito poucos deles são marinhos (Cheng, 1976; Vinatea, J.E., 1982 e Sorgeloos et al, 1987).

3.3 Acondicionamento de tanques de terra, cimento, fibra de vidro e


outros aparentes para o cultivo de alimento vivo.
Toda estação de aqüicultura, empresa pública e/ou privada, que pretenda produzir sua própria
semente (alevinos e pós-larvas) de peixes e crustáceos deverá contar com instalações
apropriadas que facilitem a produção em quantidade suficiente de microalgas, rotfferos, dafnias,
plantas aquáticas superiores, enfim, aquele alimento que seja mais requerido por peixes e
camarões em sua etapa inicial de desenvolvimento, que, comumente, é a critica nas granjas.

Pode-se produzir alimento vivo em uma variedade de recipientes, de tamanhos e natureza


distintas, dependentes do tipo de cultivo e a quantidade de indivíduos que se tenha que alimentar.
Existem tanques de cimento, fibra de vidro, lona, borracha, bolsas de polietileno, represas de terra
desde 10 a 10.000 m2, isto é, instalações que estarão em proporção com a escala de cultivos
semi-intensivos e de repovoamento, como sucede com as represas, lagos e reservatórios.

Os métodos de cultivo de alimento vivo também variarão de acordo com as espécies de algas,
rofítfferos, cladoceros, etc e, naturalmente, dependerá muito dos hábitos alimentares das espécies
de peixes e/ou camarões.

Por regra geral deve-se ter presente que a maioria de peixes e crustáceos têm preferência em sua
idade inicial pelo fitoplâncton, logo em algumas etapas larvárias mostrarão tendência a consumir o
zooplâncton, logo fitoplâncton, para converter-se por último a partir de alevinos a sementes (5 a
8cm) em fitófagos permanentes, exemplo, Tilapia rendalli; Cetenopharyngodon idella. “carpa
forrageira”, outras, em troca, preferem desde o começo o zooplâncton, e terminam sendo
carnívoras estritas, truta e outros salmonídeos.

Será bom, no melhor dos casos, conhecer o hábito aimenticio e o espectro trófico dos comensais,
que pode mudar segundo a idade, e estação e o próprio comportamento de determinado animal.l
O êxito do aquüicultor, concretamente do nutricionista, será conhecer o requerimento de
aminoácidos, sais minerais carbohidratos, gorduras, vitaminas e demais oligoelementos dos
animais em cultivo, para poder formular, dosificar e preparar o alimento mais apropriado possível
para suprir as necesidades bioenergéticas do peixe, camarão etc.

As microalgas, como: Tetraselmis; lsocrysis; Dunaliella Chaetoceros; Skeletonema, etc, são


cultivadas primeiro em tubos de ensaio, beaker, balões, matrases depois repicadas ou inoculadas
em recipientes maiores, de até 1 a 5m3 de capacidade (recipientes de fibra de vidro, retangulares,
circulares, cônicos, outros). Sâo alimentadas com nutrientes, fosfatos e nitratos principalmente.
São submetidos a distinta intensidade de iluminação, oxigenação e a uma temperatura controlada.
Toma-se muito cuidado de manter a pureza da cepa e o cultivo. Quase sempre é praticado o
cultivo em laboratório, locais protegidos, convenientementes isolados, isto é, em lugares onde os
parâmetros físico-quimicos sejam controlados. Esse tipo de instalações, se vê em viveiros e/ou
criadouros de camarões, ostras, "almejas" e linguado, etc.

3.4 Cultivo de alimento vivo

3.4.1 Cultivo de cladoceros

Os cladoceros são também cultivados em laboratórios e em viveiros de terra, cimento e fibra de


vidro. Podem empregar-se para o aumento de produção desses organismos, uma combinação de
fertilizantes a base de Nitratos, Fosfatos e Amónia, assim como esterco de animais domésticos,
cavalo,res, porco e galinha.

Os recipientes de cimento são submetidos a uma lavagem intensa, secados de 1 a 3 dias, caiados
pelo menos com 250 – 500 gr/m2 de cal viva (CaO). Logo se enche de água gradualmente até
alcançar 50 a 80cm de profundidade, se deixa dois a três dias assim. Em seguida se agrega o
fertilizante aparente, se for fosfato triplo a razão de 10 a 25 gr/m 2; esterco de cavalo de 1 a 3
kg/m2; esterco de galinha de 0,5 a 1,5 kg/m2; esterco bovino 2 a 4 kg/m2.
Nos viveiros de terra, o tratamento estará diretamente em relação com a natureza do solo, pH,
temperatura, a água que alimentará o viveiro, etc; se o terreno for humífero, de acidez
manifestada, convirá lavar o piso e as paredes, deixando correr a água várias vezes.
Seguidamente deixar-se-á secar por 5 a 8 dias, para livrar de larvas de insetos, ovos de peixes e
outros predadores. Polvilhar cal viva em uma proporção de 500 a 800 kg/ha e/ou cal apagada,
calcário, etc, de 1.000 a 1.500 kg/ha. Deixar secar o piso e as paredes por dois dias.
Posteriormente encher com água até 30 cm. Deixar assim por três dias. Subir o volume de água
até 50 cm, manter 3 dias. Completar a 80 cm de profundidade e manter por 2 dias. A cor da água
terá muoado desde o transparente, ao leitoso amarelado. Conviria remover a água com a cal
sedimentada para homogeneizar melhor a mistura. Agrega-se esterco de cavalo, este deve ser
seco, esfarelado, entre 2 a 7 kg/m2 quando se deseja cultivar cladoceros: dafnias, moinas, etc. Se
não se dispõe daquele fertilizante poderá preparar-se com esterco bovino, esterco de galinha e de
porco. Este último deve ser esfarelado em água, preferível liberar do sedimento ou material
grosso, para não adicionar muita matéria orgânica nem aumentar o BCD em prejuizo do oxigênio
disperso e não afetar outros parametros físico-quimicos, da água. Recomenda-se empregar o
fertilizante disponível, barato, e com muito sentido comum, praticar alguns ensaios para saber
com segurança, a dose de tal o qual a ser empregado. Cada aqüicultor será capaz de utilizar o
método aplicado por outros autores com as modificações que se adaptam ao caso específico.
Recomenda-se, aplicar a vontade, os métodos de cultivo de dafnias e cladoceros descritos por
Vinatea, J.E. (1982) e/ou outros que mais convenham ao interesse particular de cada aqüicultor.

Foram feitos ensaios de cultivo de dafnias e moinas em tanques de cimento de 16 m2 com 80 cm


de profundidade, com uma capa de terra de cultivo, peneirada e misturada com distintos
fertilizantes orgânicos, estercos, plantas aquáticas e terrestres secas, triturados, o outros meios de
cultivo, variáveis segundo o tratamento. Foi executado em 1981 - 82 por grupos de estudantes do
Centro Regional Latino-americano de Aquicultura, CERLA, em Pirassununga, São Paulo. Os
resultados foram convincentes, permitiu ser aplicado em escala major no próprio CERLA para
atender seus programas de larvicultura, Guevara, J.at.al. (1982); Cestarolli, M. at al (1982).

Exemplos de 5 tratamentos para cultivo de Daphnia e Moina executados pelos participantes do


curso sobre reprodução de Colossoma, na Estação de Piscicultura de Ahuashiyacu, Tarapoto,
San Martin - Peru, em novembro- 1987 (Selva alta da Amazônia Peruana).

Represa de terra 300 m2; cal viva 1 kg/m2; polvilheiro de cal e secado 2 dias; cheio de água até 15 cm
de altura, permaneceu assim 1 dia; se aumentou o nível de água até 50 cm; fertilizou-se com esterco
de cavalo, secoesfarelado, 0,5 - 1,0 kg/m2; se manteve durante 4 dias com essa profundidade e esse
tratamento. Semeou-se aproximadamente 1.000 dafnias. Dois dias depois realizou-se a primeira
T1: amostragem; no dia seguinte fez-se outra amostragem, os argumentos foram muitos evidentes. Nó dia
segunite agregou-se fertilizante, 1/2 da quantidade inicial. Os dois dias posteriores efetuou-se a
determinação da biomassa atual. Os resultados iniciais e parciais foram alentadores. Lamentavelmente
coincidiu com o início da chuvas, pelo que os resultados seriam alterados. Recomendou-se continuar
com a experiência em ambientes protegidos e ao ar livre quando o clima o permitisse.
Represa de terra do mesmo tamanho, 0,5 a 1,0 kg de cal/m2. A variante foi o esterco de vaca na
T2:
mesma quantidade. Seguiu o esquema de trabalho do experimento anterior.
T3: As variantes, 2 kg cal/m2; esterco de galinha 1 – 2 kg/m2.
T4: Variantes, 0,8 kg cal/m2, mistura de essterco de cavalo com carneiro.
T5: Variantes, 1,2 kg/m2 de cal; mistura de esterco de vaca e cavalo.

Os participantes mostraram muito interesse comprometendo-se realizar os cultivos em sua própria


realidade (Departamentos de Loreto, Ucayali, San Martin, La Libertad e Lima) os três primeiros da
amazônia e os dois últimos na costa peruana.

O importante de tudo, é que o aqüicultor esteja em condições de conseguir concentrações de 3 –


12 mil dafnias/litro já que deve recordar que a capacidade de consumo dos alevinos aumenta em
proporção direta do tamanho do peixe e do alimento disponível. Assim, por exemplo, se indica que
um alevino de carpa comum de 6 mm de comprimento é capaz de comer até 50 dafnias por dia; o
de 1 cm - 330 dafnias por dia; 2 cm ± 2.000 dafnias/das. Há viveiros no Japão onde estabulam
alevinos de carpa de 5 mm com a razão de 3.000.000 individuos/1.000 m2, os quais são
aimentados durante 15 a 30 dias alcançando os alevinos de 1,0 a 1,5 cm de tamanho e pesos
entre 0,3 a 0,8 gramas Vinaeta, J.E. (1982).

Quando se alimenta os alevinos de peixe com dafnias será necessário observar com muito
cuidado o comportamento da população do animal de forragem, para fertilizar de vez em quando
com o fim de manter a população de dafnias em quantidade e qualidade desejadas. Sabe-se que
uma pulga de água adulta deposita 25 a 30 ovos/filhotes/dia. lgualmente, haverá que praticar
amostragens semanais dos pequenos peixes em cultivo para determinar a relação peso/tamanho.
Cuidar daqueles peixes que creasceram muito mais que os outros, que felizmente são os menos
numerosos, mas que podem originar sérias perdas dos pequenos (nanismo) por canibalismo.
(Matsui, 1948; Shimazu, 1973; Vinatea, J.E., 1982). Os pequenos peixes que tiveram maior
tamanho deverão ser separados com emprego de malhas seletivas. Também se recomenda
depurar a população com emprego de novos viveiros.

3.4.2 Cultivo de rotfferos

Alguns aqüicultores têm esforçado em cultivar um organismo em condição de suprir os


requeirmentos alimentícios de larvas e pós-larvas de crustáceos, larvas e larvas e alevinos de
peixes de água doce e marinha, e, ao mesmo tempo, poder substituir os mauplios, provenientes
de cistos de Artemia, os quais são importados dos EUA, Brasil, Argentina, etc a preços muito
elevados.

Fazem aproximadamente 25 anos que os rotfferos são cultivados maciçamente para atender
principalmente programas de produção de larvas e alevinos de peixes marinhos como Pagros
major, “pargo vermelho” e Acanthopagrus schlegeli desde 12,1 a 16,0 mm de tamanho
mantidos durante 3 meses. Cultivos de rotfferos Brachionus plicatilis foram eficazmente
melhorados, por exemplo, em tanques de fibra de vidro de 2,5 m3, produziram 1,2 × 1012. Existem
dois tipos de B. plicatilis grandes e pequenos (tipo-S e tipo-L) variam no tamanho da lorica, os
primeiros alcançam 150 micrones, e os outros chegam a 250, toleram baixas temperaturas de
água. Estes rotfferos dos tipos S e L pertencem a variedades genéticas distintas.
Taxanomicamente, são classificados como sub-espécies: B. plicatilis rotundiformis (tipo S) eB.
plicatilis typicus (tipo L). Os métodos atuais para o cultivo maciço se caracterizam pela
capacidade do tanque (volume da água) e os métodos de colheita, assim: (i) produção em
tanques grandes (10 – 100t) com colheita parical ou total; (ii) producção em tanques pequenos
(0,5 - 1,0t) com colheita total; (iii) produção em tanques de lona (5,0 -7,0t) com colheita total ou
parcial, estes recipientes estão suspensos por bolsas situadas em baias calmas; (iv) produção em
pequena escala comercial utilizando como alimento bacé rias fotossintéticas. As dietas
empregadas para o cultivo maciço dos vários métodos indicados são a base de Chlorella,
levedura de pão. Chlorella e levedura de pão combinada, W-levedura e Chlorella-W-levedura
combinada.

Estudou-se o valor nutricional dos rotíferos alimentados com os distintos ingredientes. Aqueles
rotíferos que foram cultivados com Chlorella marinho, em geral, tem um alto valor dietético devido
a seu nível elevado de ácidos altamente insaturados (HUFA) derivados da Chlorella,
especialmente o ácido eicosapenóico (20:5W3). Porém, é difícil obter uma quantidade estável de
Chlorella no momento desjado quando se realiza cultivos maciços de rotfferos. Por essa razáo,
consegue-se produzir levedura especial (W-levedura) o que se usa frequentemente com
resultados ótimos. Entretanto, a Chlorella novamente está sendo reavalida como dieta de
rotíferos em vista do alto preço alcançado pela (W-levedura) ademais pelo problema inerente á
qualidade da água. Os rotíferos cultivados com a levedura de pão carecem de HUFA pelo que
usualmente sao enriquencidos com água de Chlorella ou com um óleo espeical antes de ser
oferecidos como alimento de larvas de peixes. O tratamento para o enriquecimento é
completamente efetivo ainda em quantidades pequenas de água de Chlorella. Demora de 12 a
24 horas para enriquecer o cultivo (exemplo 5 × 10 8 rotíferos em tanque de lt com 2 – 3 × 10 7
células/ml de água de Chlorella
Ultimamente, introduziu-se como alimento de rotfferos uma diminuta alga Tetraselmis Tetrathole
o que vem sendo empregado em combinação de Chlorella. Aceita bem os mesmos fertilizantes
usados para multiplicar a Chlorella. É ,arcada,emte tolerante á temperatura elevada da água
quando a Chlorella em troca tende a diminuir sua densidade. Deduzindo-so, então, que T.
Tetrathele poderia resultar um efetivo substituto da diete de Chlorella na estação de verão
(Fukusho, K., 1983).

Foi sugerido aos participantes do curso de Pentecoste, a metodologia de G. Ascon, 1987, que
utilizava para o cultivo maciço de rotíferos na Estação Pesqueira de Ahuashiyacu, Tarapoto, San
Martin, Peru.

O ensaio foi feito em 5 tanques de cimento de 15 m2 (5×3×0,4 m), no periodo de 2 a 22 de


abril/87.

Os tanques foram lavados e deixados a secar durante 3 dias; em seguida foram caiados á razão
de 450 g/tanque, depois de 24 horas, os tanques foram cheios com água até 0,25 m de altura.
Imediatamente procedeu-se á fertilização, utilizando-se esterco de galinha (gall.), pasto seco (ps),
pasto verde recém-cortado (pv) e super-fosfato tríplice (st).

Aplicou-se o esboço completamente ao acaso com 3 tratamentos e 2 repetições, como se indica


em seguida:

T1: 1 kg (gall.)/m2 + 30g (st)/m2…sem réplica

T2: 1 kg (ps.)/m2 + 30g (st)/m2 + 0,5 kg (gall.)/m2…sem réplicas.

T3: 1 kg (pv)/m2 + 30g (st)/m2 + 0.5 kg (gall.)/m2…réplicas.

Distribuição ao Acaso


A66 A67 A68 A69 A70
Viveiro
kg fertilizante gall. pv.gall. ps gall. pv gall. ps gall.
Viveiro 15 15 7 15 7 15 7 15 7
g(st.)/Viveiro 450 450 450 450 450
Tratamento T1 T3 T2 T3 T2

A fertilização foi iniciada com 15 kg de esterco de galinha, 15 kg de pasto verde, mais 450 g de
super-fosfato tríplice para cada uma das repreasas. Ao oitavo dia de iniciada a experiência
aumentou-se o nível de água a 0,4 m de altura. Simultaneamente acrescentou-se 7 kg de esterco
de galinha a cada um dos viveiros fertilizados com os tratamentos T2 e T3.

Para determinar as análises qualitativas e quantitativas de zooplâncton, foram feitas amostragens


diárias ás 08:00 horas filtrando 50 litros de água de cada um dos viveiros em uma rede de
plâncton com abertura de malha de 60 micras. Após serem concentradas as amostras a 60 ml,
realizou-se a análise qualitativa utilizando um microscópio binocular NIKON × 10× - 40× e chaves
para identificação de rotíferos de Walter Kaste(1972) e Oliver Raul (1965).

A análise quantitativa foi feita aplicando o método volumétrico descrito por Tresseira, A. et al
(1981), no Ma-] nual de Métodos Oceanográficos U.N.T.; o que consiste em centrifugar o
zooplâncton no tubo de centrifuganção; para o cálculo aplicou-se fórmula seguinte:
Durante todo o processo de ensaio, tomou-se registros de TO e pH de (0 – 14). Igualmente
determinou-se a cor aparente da água.

De acordo com o autor, quando se discute seus resultados teve uma produção maciça de rotfferos
do gênero Brachionus. O tratamento T1 foi o mais eficaz frente aos tratamentos T3 e T2 com
uma produção de rotíferos Brachionus. de 56 × 10-3 ml/l. Os registros de TO e pH no período
experimental flutuaram de 26,8 a 29,7oC e pH de 6,5 a 7,5 respectivamente.

3.4.3 Cultivo de artemias

Até agora os nauplios de Artemia, isto é, do camaráo de salmoura continuam constituindo o


melhor alimento, e que é mais utilizado a nível mundial, para atender os requerimentos de viveiros
de peixes marinhos e de água doce, camarões peneideos e palemonidae, Macrobrachium
rosembergii, fundamentamente.

A vantagem que se tem ao utilizar os cistos de Artemia é de dispor á vontade e no momento que
se precise, do alimento quase ideal, para as larvas de peixes e camaróes, graças ao fato de poder
incubar os cistos em água salina 25%, durante 24 hs, á temperatura de 24 a 28 °C. Os nauplios
liberados de 0,4 mm de mobilidade ativa e de coloração rosácea seráo tentação e bocado muito
apreciados por pequenos peixes e pquenos camarões. Sabese que nos mercados do mundo se
comercializam mais de 100 MT de cistos de artemias a reços que oscilam entre 60 a 100
dólares/quilo.

A produção de cistos e seu emprego passou por uma etapa interessante de evolução a partir da
década de 60, no que as fontes de abastecimento eram muito poucas como as de São Francisco
e Lago Salgado nos EUA principalmente. Nessa época pensava-se que os recursos existentes
nesse país eram ilimitados, entretanto, com a expansáo das atividades da aqüicultura nos anos
70, dispararam os preços dos cistos de maneira exponencial. Na conferémcoa Técnica de
Aqüicultura da FAO em Kyoto, 1976, a equipe de técnicos e especialistas da Universidade de
Ghent, Bélgica, afirmavam que a escassés de cistos era um fenômeno artificial, portanto, um
problema temporário. Durante os anos seguintes muitos produtores de distintos paises assim
como as ajudas provenientes de organizações internacionais criaram oportunidade de provar que
a equipe de Ghent tinha razão ao demonstrar a possibilidade de produzir cistos localmente em
vários países do terceiro mundo que permitissem assim baratear aquele recurso tão apreciado
pelos aqüicultores. Atualmente, há produção e exploração de Artemia em paises dos 5
continentes, Sorgeloos, P.(1987). Há demonstraçãoes de produção integrada de produção de sal
com Artemia (cistos e biomassa) Vinatea, J.E. (1983); Lavena, P.Ph. Leger e P. Sorgeloos
(1986).

O camarão de samoura Artemia apresenta características que oferecem um grande potencial


para a produção maciça, os mesmos sáo indicados em seguida:

i. Em condicões ótimas a artemia cresce desde larva até adulto em menos de duas
semanas incrementando seu tamanho por um fator de 30 e sua biomassa por um fator de
500.
ii. Os requerimentos bióticos como os abióticos náo mudam ao longo do
desenvolvimento do animal.
iii. A Artemia pode ser cultivada em uma ampla categoria de salinidades de água, isto
águe, isto é, desde 10 ppt atéo nivel de daturação. Sobre os 100 ppt não há predadores
nem competidores de alimento, resultando em um monocultivo so b condições naturais.
iv. Váries centenas de variedades de Artemia são encontradas em salinas e lagoas
costeiras assim como0 em lagos salgados continentias (licos em cloro, sulfatos e sais de
carbonatos) existentes nos cinco continentes.
v. Este crustáceo pode reproduzir-se de duas maneiras: viviparamente (liberação de
nauplios vivos) e producção de cistos (os embriões se desenvolvem até a fase de gástrula,
em tal estágio, se encapsulam dentro de uma casca interrompendo seu metabolismo).
vi. Artemia tem uma alta taxa de fecundidade (mais de 100 – 300 cistos e/ou
nauplios), cada quatro dias e grande longevidade (pode superar os seis meses).
vii. Como estes pequenos animais são filtradores de hábito alimentar não seletivo,
pode considerar-se uma ampla gama de insumos alimenticios e fertilizantes aparentes
para serem utilizados nos cultivos de Artemia. Os adubos orgânicos (esterco de galinha)
subprodutos agrícolas (farelo de arroz, soro, levedura de pão, etc).
viii. A artemia adulta tem um alto valor nutritivo; exemplo, seu exo-esqueleto é muito
delgado (menos de 1 micron), 60% do seu peso é constituído de proteínas ricas em
aminoácidos; ademais, a artemia coném concentrações significativas de vitaminas,
hormônios, carotenóides, etc. Sorgeloos, P. (1987).

Em lugares de clima seco, pouco chuvosos e com abundantes salinas pode cultivar-se
praticamente todo o ano. Pode-se praticar inoculações de Artemia nas salinas, naturais onde
estao isentas desse crustáceo e/ou em salinas em exploração, melhorando a produção de sal em
quantidade e qualidade, um exemplo concreto se menciona o sucedido nas salinas de São Bento,
Acaraú, Ceará, Brasil, explorado por Artemisa Aqüicultura S.A. desde 1980. Vinatea, J.E.(1983).

Requisitos básicos considerados para o cultivo de artemia em escala comerical por Vinatea, L.A.
(1987):

i. Reconhecimento e seleção do terreno (inclui condições ambientais, taxa


pluviométrica, qualidade da água)
• fundo misto areia-argila;
• salinidade 100 %o (livre de predadores);
• temperatura 20°C;
• alimento: microalgas, Dunaliella, Chaetoceros, etc;
• turbidez: 40 cm;
• vento predominante.
ii. Fertilização: (depois de 5 dias há bloom de fitoplâncton)
• orgânica: 200 – 500 kg/ha/esterco de galinha
500 – 1.000 kg/ha/esterco de gado bovino
• inorgânica: 50 – 100 kg/ha/fosfato de amônio
40 – 80 kg/ha/uréia

A frequência de fertilização deve ser de 1 a 2 semanas/cada fertilização.

iii. Inocolução 1 a 10 nauplios/litro, exemplo para um cultivo de 3 hectares serão


necessários 120 gramas de cistos.
1g de cistos = 250.000 nauplios
iv. Explosão demográfica Aos 12 ou 15 dias alcançam a maturidade sexual e há
reprodução ovovivipara (nauplios) como ovípara (cistos).
v. Manejo
• Renovação semanal de água 20%;
• Menter a salinidade a 120 %o = 11 graus Beaumé (11° Be) para produzir
tanto cistos como biomassa;
• Depurar a população 3 vezes/semana. Exemplo, em 1 ha =
3kg/intermendiário;
• Fertilização;
• Observação periódica do status populacional;
• Limpeza de coletores de cistos.
vi. Produção: No artemial de Cristo Redentor (Artemisa Aqüicultura S.A.) em Aearaú,
Ceará, Brasil.
• cistos: de 0,5 a 1,0 kg de cistos processados/ha/dia. (15 – 30 kg/ha/mês);
• biomassa: de 5 a 15 kg/semana. (20 – 60 kg/ha/mês)
vii. Processamento
• cistos: seco até menos de 10% de unidade, ao sol com corrente de ar
quente;
• biomassa: congelamento rápido em capa fina.

A empresa indicada, começou o cultivo experimental de Artemia em forma tímida até com certa
relutância em princípios do ano 1987, mas pelos resultados positivos e com grande acolhida do
mercado interno (venda de biomassa, entre 500 a 600 cruzados/kg = 6–8 dólares e 60 a 80
US$/kg) e pedidos para suprir o mercado de exportação de 3 a 100 hectares em 1988. Será
oportuno recoroar que Artemisa Aaüicultura tem producção de sal, camaróes peneideos e
Artemia.

Desse modo, no capítulo que nos foi permitido abordar em forma suscinta se faz ver a grande
importância que tem o alimento vivo nas instalações de larvicultura de camaróes e piscifaturas.
Quanto melhor alimentados estejam as pós-larvas e alevinos de camarões e peixes major seráa a
taxa de sobrevivência destes nas represas, açudes e reservatórios.

PARTE4:
POVOAMENTO E REPOVOAMENTO DE RESERVATÓRIOS
José Jarbas Studart Gurgel *
Francisco Hilton Nepomuceno
**
4.1 Considerações Gerais
Na terminologia aquícola se entende por peixamento a operação que tem por fim o povoamento, o
repovoamento e a estocagem de coleções d'água, com larvas, pós-larvas, alevinos, juvenis e
adultos de peixes, crustáceos, moluscos, mamíferos, etc. É um neologismo que, embora não
registrado nos dicionários, tem largo emprego na linguagem técnica referente à piscicuitura. Esta
palavra foi empregada pela primeira vez durante os trabalhos de erradicação da malária no
Nordeste brasileiro, por funcionários da “Fundação Rockfeller”, quando colocavam em cacimbas,
poços, tanques e potes, usados para armazenar água, pequenos peixes insetívoros. Deriva do
verbo “peixar”, que exprime a ação de colocação dos peixes no meio aquático. O peixamento em
si, consta de uma série de atividades que vai desde a coleta do organismo até sua introdução na
água. Para cada etapa são necessários cuidados especiais, dos quais depende o sucesso da
operação, não podendo, por isso, ser executado por pessoas destituídas de conhecimentos
básicos de piscicultura e de limnologia.

4.2 Aspectos históricos


O primeiro peixamento efetuado pela Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, atual
Diretoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS, ocorreu no dia 14 de agosto de 1933, no açude
“Campos da Sementeira”, no município de Arcoverde (ex-Rio Branco), em Pernambuco.
Entretanto, a forma original tem sido bastante alterada ao longo dos anos, graças aos avanços
tecnológicos em todas as suas etapas de execução. Coube ao Dr. Rodolpho von lhering e sua
equipe, iniciar esta atividade no Nordeste brasileiro e desde aquela data até nossos dias o
DNOCS já distribuiu mais de 48 milhões de alevinos de 31 diferentes espécies de peixes de água
doce.

4.3 Aspectos técnicos


No tocante a piscicultura, se entende por alevino o filhote de peixe, na fase de vida imediatamente
posterior à pós-larval e anterior à juvenil, que na maioria das espécies tropicais de água doce,
corresponde à idade entre 10 a 100 dias de vida livre. Para o cultivo extensivo e intensivo o
DNOCS considera o alevino apto para peixamento com a idade de 45 dias de vida livre, contados
após a eclosão, visto já se encontrar em condições de se defender dos seus inimigos naturais. A
produção atual de alevinos pelo DNOCS é de 6 milhões de exemplares/ano, mas háem estudo um
projeto de elevação do potencial em cerca de 5 vezes, mediante construção de novas unidades
produtoras e da ampliação das atuais em operação. Dentre as espécies de valor comercial que o
DNOCS vem produzindo, quatro são nativas da região, oito são aclimadas e oriundas de outras
bacias hidrogáficas do país, não pertencentes ao semi-árido nordestino e quatro são exóticas
transplantadas de outros países e já aclimadas no Nordeste. Com vista a atender aos interessadis
o DNOCS regulamentou o fornecimento de alevinos pelas suas Estações de Piscicultura,
mediante adoção de Normas Técnicas e de determinações específicas baixadas pelo Diretor
Geral.

* Pesquisador, Diretor da Diretoria de Pesca e Piscicultura - DNOCS.

** Engo Agrônomo, Chefe da Divisão de Administraçaão de Açudes - DNOCS.

4.3.1 Pedido de Peixamento (PP) e Comprovante de Peixamento (CP)

Como primeiro passo para habilitação ao recebimento de alevinos o interessado deve preencher
um formulário chamado “Pedido de Peixamento”, com o qual presta informações sobre o ambiente
aquático a ser beneficiado, não só no tocante a sua localização geográfica, como aos aspectos
hidrográficos, hidrológicos e bioecológicos. No verso deste formulário há um “Termo de
Compromisso”, mediante o qual o interessado assume responsabilidades com vistas ao
peixamento e a criação dos peixes. Com base nas informações prestadas no PP o setor
competente do DNOCS faz a indicação quantitativa e qualitativa das espécies consideradas
convenientes. A entrega dos alevinos ao interessado é feita mediante preenchimento de um
formulário chamado “Comprovante de Peixamento”, que é assinado pelo funcionário responsável
pela entrega. Também no verso do mesmo são apresentadas as instruções concernentes à
proteção que deve ser dispensada aos alevinos, cuidados com a criação, despesca no tempo
devido, etc. A quantidade de alevinos para cada peixamento depende do sistema de cultivo. No
caso da piscicultura extensiva, a média é de 50 a 250 exemplares/ha e na intensiva, de 5.000 a
20.000/ha.

4.3.2 Coleta de alevinos

Trata-se da primeira etapa do peixamento, quando os alevinos com idade de 45 dias de vida livre
são retirados do viveiro e colocados nos tanques de alevinagem ou de peixamento. A captura é
feita mediante esvaziamento completo do viveiro e quando os peixes se concentram todos em um
único local do viveiro, chamado “caixa de coleta”. Passa-se em seguida a rede de arrasto, tendo-
se o cuidado de evitar traumatismos causados por pisoteamentos ou de asfixiá-los na vegetação
aquática submersa. Recomenda-se para tal, deixar aberta aentrada d'água com um fluxo menor
que o de saída, durante essa operação. Os alevinos são retirados da rede de arrasto com auxílio
de puçás, sendo imediatamente selecionados para o peixamento.

4.3.2.1 Seleção dos exemplares

É a fase da coleta que diz respeito à separação dos alevinos, de acordo com a espécie, o
tamanho e as condições de vitalidade. Caso tenham sido bem alimentados e dependendo da
espécie, com 45 dias de vida livre devem estar com um comprimento total médio de 50 mm. A
seleção quanto a tamanho pode ser feita manualmente, por pessoa habilitada, ou por meio de um
aparelho bastante simples, chamado “filtro de separação”, que facilita o trabalho e reduz o tempo
gasto com esta operação. Este aparelho pode ser confeccionado em alumínio ou de outro material
não tóxico e é facilmente encontrado em casas especializadas em equipamentos para a
aqüicultura. A distância entre as varetas do filtro impede que os alevinos maiores passem, sendo
retirados para o peixamento. O uso deste aparelho, dada suas características, pode causar
“stress” aos peixes e aumentar a taxa de mortalidade.

4.3.2.2 Transferência

Feita a seleção os alevinos são transferidos rapidamente para o tanque de peixamento, tendo-se
o cuidado de verificar se a temperatura da água é igual a do viveiro de onde fora retirados. Caso
haja diferença é conveniente que se ajuste, previamente, para evitar o choque térmico. Como a
água de abastecimento procede quase sempre da mesma fonte, este problema não se verifica,
frequentemente, todavia, é recomendável tomar precauções, mediante esse procedimento. Os
alevinos devem permanecer em repouso no tanque de peixamento, por um período mínimo de 24
horas e no máximo de 96 horas e durante esse tempo não podem receber alimento de qualquer
tipo, nem devem ser perturbados com barulhos, movimentação exagerada da água, luminosidade
excessiva, ou qualquer fator provocador de “stress”. Antes de receber os alevinos, o tanque deve
ser devidamente limpo e desinfectado com água de sal (cloreto de sódio), para eliminação de
parasitas, porventura aderidos às suas paredes internas.

4.3.3 Acondicionamento para viagem

Os alevinos destinados ao peixamento devem ser convenientemente acondicionados, de modo a


mantê-los em boas condições de vitalidade durante a viagem, quer seja de curto como de longo
percurso. O DNOCS tem uma grande experiência em acondicionamento de alevinos e já enviou
exemplares de espécies variadas para diversos países com total êxito. Recentemente, remeteu
para a Universidade de Hamburgo, na Alemanha, 150 alevinos de tambaqui e 150 de pirapitinga,
com sobreviência de 100%, após uma viagem aérea de mais de 40 horas. Vários tipos de
acondicionamento são usados, tais como:

4.3.3.1 Vasilhame de ferro galvanizado

De larga utilização em peixamentos a pequena distância. Tem a forma de um paralelepípedo, com


a parte superior prolongada em tronco de pirâmide, seguida de cilindro provida de tampa
reentrante perfurada. O volume útil de água é de 20 litros, podendo adicionar 30 a 50 alevinos.
Este tipo de acondicionamento apresenta as seguintes desvantagens: a) é pesado, causando
dificuldade para o transporte manual; b) é confeccionado com material de fácil corrosão e que
pode sofrer danos durante a viagem; c) é impróprio para viagens demoradas, dada a possibilidade
de liberação de zinco na água, com perigo para a vida dos peixes; d) é de custo de confecção
bastante elevado; e) necessita de proteção externa para evitar mudanças bruscas de temperatura,
quando exposto diretamente a ação dos raios solares, já que não dispõe de revestimento
isotérmico; f) acondiciona pequena quantidade de alevinos, exigindo para cada peixamento
grande número de vasilhames, sendo necessário um veículo de major tonelagem para o
transporte, principalmente no caso de peixamentos destinados a viveiros de engorda; g) torna
dificultoso o trabalho braçal nas operações de carregamento e descarregamento e h) paralisa a
aeração da água nas paradas obrigatórias do veículo, quer para abastecimento como para
reparação de defeitos mecânicos ou reposição de acessórios. A vantagem do uso desse
acondicionamento é que garante uma taxa de sobrevivência alta, em viagens de curto percurso,
com duração máxima de 3 a 4 horas.

4.3.3.2 Caixa de fibra de vidro

É um tipo de acondicionamento que está tendo uso generalizado nas Estações de Piscicultura do
DNOCS. É confeccionada de fibra de vidro, com dimensões médias de 2,50m × 1,10m × 0,40m,
podendo transportar de cada vez até 5.000 alevinos. Na tampa superior pode ser adaptado
aerador elétrico, que funciona ligado à bateria do veículo, garantindo assim a oxigenação na água,
principalmente durante as paradas do veículo, para abastecimento, reposição de peças, etc. As
desvantagens que apresenta são as seguintes: a) custo de confecção muito elevado; b)
dificuldade em ser transportada por veículo de pequena tonelagem; c) problemas de
traumatismos, devido a elevada densidade de alevinos transportados de cada vez; d) aeração
diffcil, necessitando de meios mecânicos ou elétricos para a oxigenação da água, pricipalmente
em viagens de longa duração. A grande vantagem do seu uso está na elevada quantidade de
alevinos que pode ser transportada de uma só vez, com considerável redução do custo
operacional do peixamento.

4.3.3.3 Saco de polietileno (cloreto de vinilo)

É um tipo de acondicionamento de baixo custo, utilizado para longas viagens, principalmente por
via aérea. O saco de polietileno ou de plástico, como é mais conhecido, deve ter uma espessura
de 0,30mm, comprimento de 0,90m e largura de 0,60m. Nessas dimensões suporta 7 a 8 litros de
água pura, filtrada e acondiciona de 80 a 120 alevinos, nos tamanhos de 30 a 50mm. Podem
também ser utilizados sacos maiores, dependendo do tipo de transporte. Para viagens de duração
superior a 6 horas, é aconselhável que o saco esteja provido de uma atmosfera de oxigênio puro.
Para isto, se expulsa todo o ar de dentro do saco, depois de colocados os peixes e se introduz um
tubo de plástico ligado a uma garrafa de oxigênio, cuja extremidade é mergulhada até o fundo do
saco. Abre-se a garrafa e o oxigênio se acumula na parte superior do saco à pressão atmosférica
normal. O saco fica assim cheio com 3/4 de oxigênio e cerca de 1/4 de água e peixe. Fecha-se em
seguida a boca do saco com ligas de borracha, tendo o cuidado de se verificar se ficou
hermeticamente fechado. Para maior segurança se recomenda que o saco seja colocado dentro
de uma caixa isotérmica, de cortiça, papelão ou de poliestireno expandido (isopor). Este tipo de
acondicionamento apresenta as seguintes inconveniências: a) mão-de-obra trabalhosa; b) custo
operacional elevado; c) facilidade de ruptura dos sacos. A maior vantagem está na possibilidade
de se transportar a longas distâncias, com duração de viagens de até 8 dias. Em viagens de
menor duração, de 8 a 10 horas, pode ser dispensada a caixa isotérmica, devendo os sacos
serem revestidos externamente com jornais velhos, papel de embrulho e apoiados em pó de
serragem.

4.3.3.4 Tanque de lona

Este tipo de acondicionamento tem sido também usado pelo DNOCS, mediante o qual transportou
de Fortaleza a São Paulo alevinos para a CESP, sem qualquer problema. O tanque de lona é
instalado na carroceria de um caminhão, por meio de um encerado marca “Locomotiva” ou similar,
cujas ourelas são dobradas nas grades e fixadas com cordas de nailon. O tanque é cheio com
água até uma altura de 0,30m. Piscinas infantis de plástico também servem a este mesmo
propósito.

4.3.3.5 Outros tipos não convencionais

Para o acondicionamento de alevinos também podem ser usados com êxito potes de barro,
principalmente quando o transporte é feito em lombo de burro, caixas de amianto, tambores de
200 litros etc. Não se deve utilizar, em hipótese alguma, latões de leite, sacos de adubo (vazios)
ou lonas de proteção de material químico (fertilizantes), encontrados no meio rural.

4.3.4 Oxigenação da Água Durante a Viagem

Dependendo do tipo de acondicionamento dos alevinos que foi utilizado, há necessidade de se


proceder uma constante aeração da água durante a viagem do peixamento. Para isto se pode
recorrer a diversos meios, como sejam: natural, mediante agitação mecânica da água, que pode
ser facilitada pelo próprio movimento do veículo ou pela ação do vento, como é o caso da
adaptação nas caixas de fibra de vidro de um tubo vertical na tampa superior, chamado aerofólio.
Pela eletricidade do veículo também se pode provocar a aeração da água, mediante o uso de
aeradores ligados diretamente à bateria do carro. Este é um tipo muito comum usado nas
Estações de Piscicultura dos EUA. Também no veículo se pode adaptar um compressor de ar,
que constantemente, durante a viagem, poderá fornecer suficiente oxigênio aos peixes
transportados. Um outro recurso muito praticado em países diversos, é o uso de oxigênio puro,
fornecido por uma garrafa adaptada ao veículo, durante a viagem de peixamento.

4.3.5 Redução do Metabolismo dos Peixes

Durante a viagem de peixamento, para maior êxito da operação, se pode diminuir a taxa de
consumo de oxigênio dissolvido (TCOD), mediante a redução do metabolismo dos alevinos
transportados, com o uso de substâncias anestésicas, tais como, o álcool amílico, o MS-22, a
quinaldina, o cloral hidratado e outros. A água oxigenada de 20 vol. também pode ser usada
para reduzir o consumo de oxigênio, embora não tenha qualquer efeito anestésico sobre os
peixes.

4.3.6 Tipos de Transporte

São vários os meios de transporte que podem ser usados para as viagens de peixamento, tais
como: ferroviário o qual, sob o ponto de vista histórico, foi este tipo o primeiro a ser utilizado no
primeiro peixamento realizado no Nordeste, no ano de 1917, por iniciativa do Eng№ José
Rodrigues Ferreira, que após concluir a construção do açude público Parazinho, no município de
Granja, Ceará, fez transportar de Crateús, Ceará, até aquela cidade, peixes capturados no Rio
Poti, para peixamento do aludido reservatório. O transporte rodoviário é o mais comum, porém o
marítimo já foi também muito usado, principalmente nos primórdios da piscicultura no Nordeste,
quando para cá foram trazidas as espécies da bacia amazônica para aclimatização nesta Região.
Para longas distâncias, todavia, o transporte aéreo é o mais eficiente e está sendo largamente
empregado. Também ao DNOCS cabe o pioneirismo por este tipo de transporte, pois foi em
setembro de 1935 que o Dr. Rodolpho von lhering, chefe da então Comissão Técnica de
Piscicultura do Nordeste, trouxe da Argentina, em avião, exemplares de peixe-rei, Odonthestes
bonariensis, para aclimatização nos açudes do Nordeste, sem ter, todavia, logrado o êxito
esperado, apesar dos alevinos terem chegado em boas condições de vitalidade. Recentemente, a
Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), desenvolveu um projeto de avião, especialmente
para peixamentos - o IPANEMA, tendo realizado a primeira experiência no Rio de Janeiro, com
absoluto sucesso, cujos alevinos foram lançados diretamente do avião em uma lagoa daquele
Estado. Em algumas regiões do nosso país são ainda usados animais de carga para transporte de
alevinos, principalmente em estradas de difícil acesso para automotores e onde outros meios não
alcançam o local do açude. Muitas vezes, em propriedades rurais do Nordeste, o transporte com
animais de carga se alia ao rodoviário para completar a operação de peixamento, principalmente
na época das chuvas. Quando o transporte utilizado for o rodoviário, é muito importante que a
viagem seja iniciada às primeiras horas do dia ou no período noturno, a fim de evitar elevação da
temperatura da água nas horas de insolação, principalmente quando os acondicionamentos não
dispõem de isolantes térmicos, o que pode causar a morte de peixes.

4.3.7 Soltura dos alevinos na coleção d'água

Ao chegar ao local da coleção d'água que irão povoar, os alevinos não devem ser imediatamente
soltos. Algumas medidas preliminares devem ser tomadas, como sejam:

4.3.7.1 Seleção do local

É importante encontrar um local adequado, a fim de que os peixes não venham servir de
alimentos aos predadores, antes de se refazerem da viagem e de se adaptarem no novo
ambiente. A soltura deve ser efetuada, preferentemente, perto da entrada d'água, em área sem
vegetação aquática excessiva e, se possível, sombreada, que não seja muito rasa e nem muito
próxima à margem, pois é nesses locais que ficam os predadores (aves, répteis, peixes, etc.) à
espreita de suas presas. Nunca os alevinos devem ser soltos nas proximidades do vertedouro,
principalmente se o açude ou coleção d'água estiver sangrando.
4.3.7.2 Aclimatização à temperatura ambiente

Para evitar choque térmico, quyando da introdução do alevino na água, é importante que a
temperatura seja medida e comparada com a da água do acondicionador. No caso de não se
dispor de um termômetro, o vasilhame, saco plástico ou outro recipiente menor dave ser imergido
na água do açude, e somente 5 a 10 minutos, tempo suficiente para o equilíbrio da temperatura, é
que se deve deixar os peixes, espontaneamente, sairem dele. No caso de tanques de lona, caixa
de fibra de vidro ou outro acondicionamento que não pode ser colocado dentro d'água, jamais os
peixes devem ser retirados e lançados diretamente no açude. Antes, devem ser colocados em
baldes de plástico e adotado o mesmo porocedimento para os tipos menores de
acondiconamento.

4.3.7.3 Turbidez da água

A introdução de acondicionadores na água do açude tem que ser feita com muito cuidado, para
evitar um aumento da turbidez da água, principalmente no local da soltura. A movimentação
exagerada da água pode também ocasionar o desprendimento de gases tóxicos, como o metano
(CH4), o gás sulfídrico (H2S) e outros, do fundo do açude. É muito comum ocorrer a colmatagem
das brânquias, devido o material argiloso em suspensão, causado pela movimentação da água e
que também provoca a morte dos peixes, os quais, por se encontrarem “stressados” da viagem,
não conseguem se afastar da zona crítica com a devida rapidez.

4.3.7.4 Condições de vitalidade

É normal que após a introdução no açude os peixes permaneçam por algum tempo imóveis no
local de soltura. Aos poucos vão se reabilitando e readquirindo sua vitalidade, passando a nadar
livremente e procurando as áreas que lhes sejam favoráveis. Nunca se deve provocar os peixes,
forçando-os a nadar ou reativando-os por meio de lançamento de pedras, galhos de árvores ou de
outros objetos. No caso de se constatar, por ocasião da soltura, a existência de algum alevino
doente, deve ser retirado imediatamente da água e, se possível, preservado em formol ou álcool,
para exame em laboratório.

4.3.7.5 Outros cuidados

Uma das causas de insucesso de peixamentos efetuados em açudes é o uso de produtos


fitossanitários na agricultura de vazante ou em áreas próximas ao açude, o que pode provocar a
morte dos alevinos depois de introduzidos. Recomenda-se que não se faça uso desses
defensivos, pelo menos 3 dias antes do peixamento do açude e até 2 semanas depois de
colocados os alevinos na água, pois somente a partir desse período, é que estarão em condições
de se afastarem das zonas de perigo. Também deve ser evitada a lavagem de roupas no local de
soltura por igual período e a introdução na água de qualquer forma de poluente, doméstico, rural
ou industrial.

4.4 Normas Técnicas para Operação de Peixamento

4.4.1 Objetivo e Campo de Aplicação

4.4.1.1 Objetivo

Estas normas têm por objetivo específico estabelecer diretrizes para a execução das operações
de peixamento pelos setores competentes do DNOCS, visando obter sucesso por ocasião dos
transportes de peixe e/ou outros animais aquáticos para coleções d'água.

4.4.1.2 Campo de aplicação


Estas normas têm como área de aplicação todas as Estações de Piscicultura operadas pelo
DNOCS ou outros setores do mesmo Departamento responsáveis pela distribuição de organismos
aquáticos, tais como ovos, larvas, pós-larvas, alevinos, reprodutores, etc.

4.4.2 Documentos Complementares

4.4.2.1 Normas Técnicas

Complementam este documento todas as normas técnicas da Associação Brasileira de Normas


TécnicasABNT, citadas ou não, que sejam aplicáveis ao assunto em pauta.

4.4.2.2 Instruções Internas do Departamento Nacional de Obras Contras as Secas -


DNOCS

• Instrução sobre tamanho mínimo padrão do material vivo para distribuição;


• Instrução sobre espécies de peixe e outros animais aquéticos a introduzir nas
coleções d'água;
• Instruçães sobre a quantidade de material vivo, por espécie, a introduzir, em função
de área inundada; e
• Instruçães sobre a venda do material vivo.

4.4.3 Terminologia

4.4.3.1 Estação de Piscicultura

Unidade periférica do Sistema de Pesca e Piscicultura, responsável pelo fomento da piscicultura


extensiva e intensiva e execução de projetos de pesquisas e experimentação elaborados pelo
Centro de Pesquisas lctiológicas “Rodolpho von lhering”.

4.4.3.2 Peixamento

Operação de transporte de peixes ou outro material vivo destinado ao povoamento ou estocagem


de coleção d'água.

4.4.3.3 Peixar

Diz-se do ato de introduzir peixe ou outro material vivo em uma coleção d'água, com o objetivo de
povoamento ou estocagem.

4.4.3.4 Povoamento

Ação ou efeito da introdução de espécies ictiológicas e/ou de outro material vivo em uma coleção
d'água, com o objetivo de formar uma população.

4.4.3.5 Estocagem

Introdução de alevinos ou de outro material vivo em coleções d'água, visando obter uma produção
sem expectativa de reprodução.

4.4.3.6 Ovo

Corpo formado pela fecundação do óvulo pelo espermatozóide em seu estágio de


desenvolvimento para formação de um novo ser.
4.4.3.7 Larva

Primeiro estágio de desenvolvimento de peixes, crustáceos e outros animais aquáticos, formada


pela eclosão do ovo.

4.4.3.8 Pós-larva

Segundo estágio de desenvolvimento dos peixes, correspondente ao enchimento da bexiga


natatória com ar e consequente abertura da boca; sendo que nos crustáceos corresponde a fase
em que apresentam todas as características de um adulto.

4.4.3.9 Alevino

Pequeno peixe na fase que sucede ao estágio de pós-larva, apresentando morfologia semelhante
a do adulto.

4.4.3.10 Reprodutor

Macho das diversas espécies destinados à reprodução.

4.4.3.11 Reprodutriz

Fêmea das diversas espécies destinadas à reprodução.

4.4.3.12 Captura

Ato de coletar todo o material vivo destinado aos peixamentos, podendo ser feita em tanques ou
viveiros, sendo os organismos estocados no tanque de peixamento.

4.4.3.13 Seleção

Operação feita durante a captura, visando uniformizar o tamanho dos organismos e eliminar os
deformados e com baixa vitalidade.

4.4.3.14 Pedido de peixamento (PP)

Formulário impresso de conformidade com modelo padronizado, no qual o piscicuitor ou


responsável pela coleção d'água respondendo a quesitos, se habilita ao recebimento de peixe ou
outro material vivo, mediante a assinatura de “Termo de Compromisso” (no verso) e pagamento
da importância devida.

4.4.3.15 Tanque de peixamento ou de alevinagem

Tanque para o qual são transportados e mantidos, por curto período, alevinos ou outro material
vivo, destinados a peixamento.

4.4.3.16 Carregamento

Ato de capturar o peixe ou outro material vivo, no tanque de peixamento ouem outro reservatório,
e acondicioná-lo em lata, saco plástico, caixa de transporte ou diretamente no carro tanque para
viagem, depondo-o depois no veículo de transporte.

4.4.3.17 Carro tanque


Veículo automotor, próprio para o transporte de alevinos ou de outro material vivo, em grande
quantidade, equipado com recipiente de oxigênio e/ou compressor de ar e outros implementos.

4.4.3.18 Peixador

Pessoa habilitada, responsável pelo transporte e entrega dos peixes ou outro material vivo em
coleções d'água.

4.4.3.19 Isopor

Material isotérmico de baixo peso específico, utilizado na confecção de caixas ou no revestimento


interno das de madeira, empregadas no transporte de sacos de peixamento, com o fim de manter
constante a temperatura da água.

4.4.3.20 Lata de peixamento

Vasilhame próprio, de ferro galvanizado, com capacidade de 20 litros, em forma de


paralelepípedo, de cantos arredondados, tendo a parte superior prolongada em tronco de
pirâmide, seguida de cilindro provido de tampa reentrante perfurada.

4.4.3.21 Saco de peixamento

Receptáculo de plástico, transparente, om forma de saco, de dimensões variadas, resistentes e


impermeável, em condições de transportar peixe ou outro material vivo hermeticamente fechado,
provido de suprimento adicional de oxigênio, geralmente utilizado em viagens terrestres de longa
duração e/ou aérea.

4.4.3.22 Caixa de transporte

Recipiente de fibra de vidro ou de madeira revestida de isopor, destinado ao transporte de peixes


ou outro material vivo, dotado de sistema de aeração ou oxigenação e adaptado a carroceria do
veículo transportador.

4.4.3.23 Puçá

Utensílio provido de cabo, constituído de um aro metálico em tomo do qual se fixa um tecido de
malha, de conformação côncava.

4.4.3.24 Espécie arraçoada

Diz-se das espécies criadas em cativeiro, que necessitam ser alimentadas de acordo com a dieta
das mesmas.

4.4.3.25 Peixe forrageiro

Peixe de pequeno porte que serve, geralmente, de alimento a outras espécies.

4.4.3.26 Espécie para povoamento

Diz-se das espécies introduzidas nas coleções de água, onde irão se reproduzir e formar uma
população.

4.4.3.27 Transporte do material vivo


Fase da operação de peixamento oue compreende o período de viagem da Estação de
Piscicultura ao local da coleção d'água.

4.4.3.28 Introdução do material vivo

Fase do peixamento que consiste em colocar o peixe ou outro material vivo na coleção d'água.

4.4.3.29 Comprovante de Peixamento (CP)

Formulário impresso de conformidade com modelo padronizado, contendo a declaração do


fazendeiro ou responsável pela coleção d'água referente ao recebimento do peixe ou outro
material vivo, e no qual o peixador presta informações sobre o peixamento efetuado.

4.4.4 Diretizes Para a Operação de Peixamento

4.4.4.1 Critérios para atendimento

O critério adotado pelos Setores Competentes do DNOCS para atendimento dos pedidos de
peixamento, será de acordo com a seguinte ordem de prioridade:

a. material vivo que se destina ao povoamento ou repovoamento de açudes públicos


do DNOCS;
b. material vivo que tenha sido adquirido por quem de direito, mediante pagamento
prévio;
c. alevinos que se destinam a estocagem de viveiros de piscicultura intensiva do
DNOCS;
d. material vivo que se destina a execução de trabalhos de pesquisa por outros
órgãos; e
e. material vivo que se destina ao povoamento ou repovoamento de açudes e
estocagem em viveiros de outros órgãos, federais, estaduais e municipais, desde que não
contrarie as instruções do DNOCS.

4.4.4.2 Equipamento e material


4.4.4.2.1 Preparativos para o transporte

Deverão ser adotadas providências concernentes aos preparativos para a viagem, sendo
conduzidos para as proximidades do tanque de peixamento os seguintes materials:

• redes para captura de alevino ou de outro material vivo;


• puçás;
• latas ou sacos de peixamento; e
• tubo de oxigênio com manômetro e mangueira, caso o recipiente de
acondicionamento do material vivo seja saco plástico.

As latas deverão ser examinadas e eliminadas aquelas que apresentam furos ou outros defeitos,
principalmente as que não oisponham de tampas bem ajustadas, sendo em seguida lavadas.

Quanto aos sacos de peixamento, o exame para a seleção dos mesmos deverá ser feito também
na véspera da viagem, mediante enchimento com água.

4.4.4.2.2 Tipos de transporte

De0pendendo das condições de peixamento e urgència no seu atendimento, o transporte poderá


ser feito por via terrestre ou aérea.
No primeiro caso, os seguintes meios poderão ser utilizados:

• camioneta;
• caminl ão de pequena tonelagem; e
• carro tanque.

No transporte em caminhão ou camioneta, o material vivo será acondicionado em latas, sacos de


peixamento com suprimento adicional de oxigênio e dentro de caixas de isopor ou de outro
material isotérmico ou caixa de transporte.

No transporte por via aérea, será utilizado, de preferência, os sistemas de acondicionamento em


sacos, na forma já mencionada.

4.4.4.2.3 Revisão do veículo de transporte

Deverá ser dispensada toda assistência ao veículo que for designado para a viagem de
peixamento, a fim de serem evitados os imprevistos ocasionais, sendo, inclusive, abastecido
previamente de combustível necessário ao percurso até o local do peixamento.

4.4.4.2.4 Material a ser conduzido

Para o transporte, dependendo do tipo a ser utilizado além de blocos dos formulários “Pedido de
Peixamento” e “Comprovante de Peixamento”, o peixador deverá conduzir os seguintes utensílios:

• puçãs;
• rede para captura de alevinos ou de outro material vivo;
• baldes;e
• lanterna à pilha.

4.4.4.3 Alevinos ou Outro Material Vivo para Peixamento

4.4.4.3.1 Providências preliminares, seleção e manejo

Na véspera do carregamento, é aconselhável que os alevinos ou outro material vivo sejam


reunidos em tanques de peixamento por espécie, devendo a seleção dos mesmos ser procedida
de acordo com as instruções contidas nestas normas.

Em caso de incidência de doenças provocadas por parasitas, bactérias, vírus, etc, deverá ser
providenciado prévio tratamento no tanque de peixamento, com os meios de controle indicados
para a moléstia respectiva, até o completo restabelecimento dos mesmos.

Para evitar qualquer tipo de traumatismo, a captura e manuseio deverão ser feitos por pessoal
habilitado do Setor Competente, com equipamento próprio e devidos cuidados.

Torna-se indispensável uma maior vigilância para ser evitada a invasão do tanque de peixamento
por espécies estranhas e/ou daninhas, principalmente quando estas ocorrem na Estação de
Piscicultura ou em suas adjacências.

Nenhum alimento deverá deverá ser fornecido aos exemplares das espécies já selecionadas para
o peixamento, nas 24 horas que antecedem ao carregamento.

4.4.4.4 Carregamento do Material Vivo Para Peixamento

4.4.4.4.1 Quantidade de indivíduos por coleção d'água


A quantidade dos alevinos ou outro material vivo que deverá ser conduzida para introdução na
coleção d'água será de acordo com as instruçães específicas emanadas da Diretoria de Pesca e
Piscicultura e na forma de “Pedido de Peixamento”.

No caso de ser utilizada lata, saco ou caixas de peixamento, a quantidade de alevinos ou outro
material vivo por unidade dependerá do seu tamanho, resistência de espécie e da distância a
percorrer.

Os mesmos fatores devem ser observados no acondicionamento de larvas e pós-larvas em sacos


de peixamento. Para este tipo de transporte, deverá ser evitada quantidade maciça de larvas e
pós-larvas por saco, a fim de não prejudicar as trocas metabólicas dos gases dissolvidos na água,
como o CO2 produzido e o O2 consumido, que poderão provocar efeitos prejudiciais aos seres
transportados.

Também no transporte de ovos embrionados, fazem-se necessários os mesmos cuidados.

4.4.4.4.2 Medidas de proteção ao material vivo durante o transporte

Quando os peixes ou outro material vivo forem transportados em latas, por via terrestre, certas
medidas de proteção devem ser adotadas para se anular ou reduzir as perdas.

Um dos primeiros cuidados diz respeito à maneira de dispor as latas na carroceria do veículo, de
modo a ficarem bem ajustadas para evitar a perda da água pelo deslocamento da tampa, em
consequência dos solavancos ou vazamentos ocasionados por furos resultantes do atrito com
objetos perfurantes.

Quando ocorrer quaisquer destes imprevistos, os alevinos ou outro material vivo deverão ser
distribuídos com as latas que não apresentam defeitos. O mesmo procedimento deverá ser feito
com os sacos plásticos, caso os mesmos se furem durante o percurso.

Em caso do veículo apresentar defeitos que o impeça de atingr o local de destino, os peixes ou
outro material vivo deverão ser introduzidos na coleção d'água mais próxima, de preferência em
açude, independentemente de Pedido de Peixamento. Tratando-se de coleção d'á localizada em
uma propriedade rural, o peixador preencherá o formulário de “Pedido de Peixamento”, e outro de
“Comprovante de Peixamento”, na forma das Normas em apreço. No caso da introdução dos
organismos ter sido efetuada em coleção d'água à margem da rodovia, o peìxador
deverácientificar a autoridade local mais próxima (prefeito, delegado, vereador, etc.), preenchendo
igualmente os PP e CP.

Nas paradas para abastecimento e ligeiros reparos no veículo deverá ser aproveitada a
oportunidade para se verificar o volume d'água das latas e caixas de peixamento, repondo as
perdas, caso necessário e o estado de vitalidade dos organismos. Nesta oportunidade, caso
possível, o veículo deverá ser movimentado para permitir a aeração da água e provocar o
aumento da velocidade de solubilidade do oxigênio. Exemplares mortos deverão ser retirados e
contados.

4.4.4.5 Procedimentos Para a Introdução dos Alevinos ou Outro Material Vivo na


Coleção D'água

O veículo deverá estacionar o mais próximo possível da coleção d'água, devendo a introdução
dos alevinos ou outro material vivo ser da seguinte maneira:

• depositar as latas ou sacos na coleção d'água deixando-os parcialmente


submersos, para estabelecer o equilíbrio térmico, entre a água do recipiente e a do meio
ambienta;
• inclinar ligeiramente as latas ou sacos permitindo que a água dos mesmos se
misture com a da coleção d'água, possibilitando a saída livre dos peixes ou outro material
vivo;
• Caso o transporte do material vivo seja feito em caixas de peixamento, verificar se
não há diferença marcante de temperatura entre a água das caixas e do reservatório a ser
peixado. Caso exista diferença, colocar-se-á, com auxílio de baldes, água do reservatório
nas caixas até que ocorra o equilíbrio térmico. Só então, far-se-á a transferência dos
organismos das caixas para o reservatório com auxílio de puçás.
• Afugentar, com auxílio da rede ou batido na água, nas imediaçães do local
escolhido, os possíveis predadores; e
• verficar as condições de vitalidade dos peixes ou outro material vivo introduzido,
assegurando-se de bom resultado dessa operação.

4.4.4.6 Preenchimento do Comprovante de Peixamento (CP)

Informações necessárias ao preenchimento:

O formulário “Comprovante de Peixamento” diz respeito a um relatório sucinto, no qual o peixador


informará sobre todas as ocorrências verificadas durante a operação.

O preenchimento deverá ser feito com toda a lisura, pois depende das informações nele contidas
as futuras conclusões sobre o melhoramento das condições bioeconômicas do ambiente.

O “CP” representa, também, um recibo, através do qual o fazendeiro ou responsável pela


propriedade declara ter recebido os peixes ou outro material vivo, bem como um informativo com
instruções sobre o prazo de início da pesca, tipo de aparelho que deve usar, alimentação artificial
dos peixes, e outros dados de interesse de ambas as partes.

PARTE5:
DINÂMICA DE POPULAÇÕES
Pedro de Alcântara Filho *

5.1 Considerações Iniciais


A análise da dinâmica de populações é um estudo básico em vários campos das ciências
biológicas, como em Ecologia, Genética de Populações, Parasitologia, Epidemiologia etc., e em
projetos de erradicação, preservação e exploração de populações naturais.

É claro, que a maioria das quantidades envolvidas na investigação pesqueira não pode ser
observada ou medida para toda a população, já que é praticamente impossível medir todos os
peixes desembarcados, e ainda menos toda a população biológica existente. Sendo assim, uma
amostra da população deve ser considerada para as estimativas que se pretende examinar. Essa
amostra significa a quantidade, em número de indivíduos, que se deve amostrar mensalmente,
para a obtenção de estimativas paramétricas que apresentem pequenos vícios e grande precisão.

Em piscicultura, o tamanho da amostra pode ser obtido de diferentes maneiras, dependendo do


tipo de atividade (intensiva ou extensiva) que se pretende desenvolver:

Piscicultura extensiva ou pesca


Piscicultura intensiva

onde:

nt = tamanho da amostra da população

tα = é o valor de t, obtido na tabela t de Student, correspondente á maior variância amostral, para


α=0,05 (Fisher & Yates, 1971)

s = é o desvio padrão médio

d = é o valor do erro desejado da estimativa Nt = tamanho da população

* Professor Adjunto do Curso de Engenharia de Pesca da UFC/CCA.

Informações pormenorizadas sobre essas metodologias podem ser obtidas no trabalho de


Alcântara-Filho & Aragão, 1985.

De acordo com Pope (1956), a exatidão da média aritmética de uma amostra casual simples é
dada pela variância da média aritmética (s2x), que é inversamente proporcional ao tamanho da
amostra(nt). Este fato foi também observado pelos autores citados, para a tilápia do Nilo (figura 1).
Figura 1 - Vcriâncias das médias aritméticas dos comprimentos totais S2x, em função das
tamanhos das amostras (nt) da tilápia do Nilo, Oreochromis Oreochromis nilaticus (Linnaeus),
relativas dos experimentos I e II.

Fonte: Alcantara - Filho & Aragã, 1985.

5.2 Amostragem em Pesca e Piscicultura


Todo sistema de amostragem é usado para obter estimativas de certas propriedades da
população em estudo e o sistema será julgado pela precisão das estimativas obtidas. Sendo
assim, um bom sistema deve apresentar a distribuição de frequência com pequena variância e a
estimativa média quase a mesma que o valor real.

A diferença entre a estimativa média e o valor real é chamado de vício. (Esse termo também é
usado para o processo pelo qual aparece a diferença).

5.2.1 Amostragem ao acaso (populações homogêneas)


Uma amostra da população é ao acaso, quando todos os indivíduos da população tem igual
oportunidade de aparecer na amostra. É importante lembrar que isto se aplica a todos os
membros da população, tanto excepcionais como típicos.

5.2.2 Amostragem estratificada (populações estratificadas)

Quando amostrando uma população estratificada, a precisão alcançada pode ser aumentada e
portanto o risco de vício reduzido, dividindo-se a população em estratos cada um relativamente
homogêneo, procedendo-se a amostragem de cada estrato separadamente.

Neste caso, cada estrato é amostrado independentemente, obtendo-se as estimativas para cada
um individualmente. Estas podem ser combinadas para dar a estimativa de toda população. A
variância desta estimativa será também obtida, combinando-se as variâncias das estimativas nos
distintos estratos. Como as variâncias nos estratos devem ser pequenas, já que os estratos são
relativamente homogêneos, portanto a variância nos estratos é possivelmente muito menor do
que a variância na população como todo. Assim, a varância da estimativa final combinada para
toda a população será também pequena.

5.2.3 Sub-amostragem ou amostragem de dois estágios

Quando a população a ser amostrada é muito grande, os problemas práticos em se tomar uma
simples amostra ao acaso são grandes e o tempo gasto para coletar, mesmo uma pequena
amostra da população pode ser muito grande. Neste caso, a população pode ser dividida em sub-
populações, das quais serão tiradas amostras secundárias ou subamostras.

Por exemplo, para se estimar a captura total ao longo das margens de uma grande represa, pode-
se considerar o desembarque de um barco típico como unidade básica. Tomar-se desembarques
ao acaso ao longo de toda a margem significaria um grande número de viagens, aos vários locais
de desembarques e em vários dias.

O procedimento deveria ser selecionar, por número ao acaso, certos locais de desembarque em
certos dias e nestes locais selecionados, amostrar certos barcos que estejam desembarcando.

A subamostragem pode ser empregada, no caso acima, para a verificação da maturidade sexual
(estágios de maturação sexual), amostrando-se uma cesta de peixe ou mesmo uma subamostra
da cesta ou caixa de peixe, desembarcada por um certo barco, no local do desembarque.

Assim, é necessário que na elaboração do Plano de Amostragem sejam considerados os


seguintes aspectos:

a. Processo de seleção-Regras e operações mediante as quais alguns membros da


população são incluídos na amostra;
b. Processo de estimação - métodos de cálculo das estimativas amostrais.

Como não é nosso objetivo incluir aqui um curso completo de teoria de amostragem julgamos
oportuno apresentar o quadro a seguir, com a finalidade de familiarizar os estudantes com os
principais métodos de seleção da amostra, as quais, devidamente combinadas entre si,
constituem as diferentes técnicas de amostragem.

QUADRO I
ALTERNATIVAS EM CADA MODALIDADE
Modalidades
Probabilidades iguais Probabilidades desiguais
básicas
Probabilidade de Estas probabilidades de inclusão Usualmente compensadas por pesos inversos
dos elementos podem ser iguais em todas as etapas elas podem ser motivadas por irregularidades na
ou podem ser obtidas por listagem e nos métodos de seleção ou pelo uso
compensação de probabilidades da alocação não proporcional destinada a
desiguais em vários estágios. aumentar a eficiência.
Unidades de Amostragem de elementos Amostragem de conglomerados
amostragem Neste caso, a unidade de amostragem As unidades de amostragem são conglomerados
contém um único elemento. de elementos.
Variantes principais:
(a) amostragem de conglomerados simples
(b) subamostragem
(c) conglomerados de igual tamanho
(d) conglomerados de tamanhos diferentes.
Uso de Seleção não estratificada Seleção estratificada
estratificação As unidades de amostragem são Seleções separadas realizadas em partições
escolhidas de toda a população. (estratos) da população.
Seleção Seleção aleatória Seleção sistemática
sistemática Geralmente utilizando-se uma tabela de A seleção é feita de acordo com um intervalo
versus aleatória números aleatórios, a seleção de seletivo aplicado à listagem, após escolha
unidades de amostragem é feita de aleatória de uma uniade inicial.
todo o estrato ou de toda a população.
Número de fases Uma só fase Duas fases(dupla amostragem)
A amostra final é escolhida A amostra final éescolhida a partir da amostra
diretamente. obtida na primeira fase, que traz informações para
estratificação.
Fonte: Nick & Kellner, 1971.

5.3 Introdução à Análise de populações Biológicas - População e


Estrutura Populacional, com Enfase para peixes.
A análise populacional procura verificar, em uma população biológica previamente caracterizada,
delimitada geograficamente, e com o ciclo de vida conhecido, o seguinte:

1. Como os indivíduos dessa população, num certo instante se distribuem na região


em que vivem (Estrutura espacial ou distribuiç ão espacial);
2. qual a quantidade de indivíduos dessa população ou em classes da população em
um certo instante (Estrutura quantitativa);
3. como varia em função do tempo a estrutura espacial (Dinâmica espacial) e a
quantitativa (Dinâmica quantitativa);
4. a existência de interações (tróficas, competitivas, parasíticas e simbióticas) entre
população populacional).

5.3.1 Conceitos

Chama-se população biológica, o conjunto dos indivíduos da mesma espécie que vive em um
território cujos limites são geralmente os da biocenose da qual essa espécie faz parte e classe da
população, um sub-conjunto de indivíduos dessa população, com determinada característica
comum, diferente do resto da população.

A biocenose ou comunidade é um agrupamento de seres vivos reunidos pela atração não


recíproca exercida sobre eles pelos diferentes fatores ambientais. Esse agrupamento se
caracteriza por determinada composição em espécies, pela existência de fenômenos de
interdependência e ocupa um espaço chamado biótopo.

A análise populacional tem por objetivo principal, a obtenção de informações importantes para a
preservação ou extermínio de populações biológicas naturais. A população é natural, quando a
quantidade de indivíduos que nasce independe da vontade do homem. É o caso da maioria das
populações de peixes de nossos rios e lagos. O gado, peixes que não desovam naturalmente e as
plantações são exemplos típicos de populações biológicas não naturais.

O primeiro problema a ser resolvido, antes de iniciarmos a análise da dinâmica de uma população,
é o da delimitação geográfica da região ocupada pela mesma. Esse procedimento é
essencialmente empírico, consistindo de coleta de amostras biológicas em diferentes locais e da
análise dos fatores físicos e químicos do ambiente.

5.3.1.1 Análise da estrutura espacial (Distribuição espacial).

Os indivíduos que constituem uma população podem apresentar diversos tipos de distribuição
espacial, que traduzem suas reações em face de diversas influências, tais como a procura de
alimento, de condições físicas favoráveis ou ainda reações de competição.

Esta análise pode ser feita usando o método da sub-região. Este método consiste em determinar
o número de indivíduos, existentes em sub-regiões (subáreas ou sub-volumes) dispostas ao
acaso na região em que a população vive.

Para animais fixos ou em estudos de botânica, subáreas, geralmente quardradas ou retangulares,


são demarcadas na região em estudo. Com relação ao necton e o plâncton, são utilizadas redes
que capturam indivíduos existentes em sub-volumes de água. Por outro lado, nas pesquisas de
Bentos, os coletores pegam os indivíduos que se encontram em subáreas ou sub-volumes do
substrato ou do sedimento do fundo dos lagos ou rios. Nos estudos da fauna terrestre, podem ser
utilizadas armadilhas que capturam os indivíduos que se encontram em subáreas, sob a atração
de iscas.

Assim, dizemos que um indivíduo está disponível a um certo aparelho de pesca, quando pode ser
capturado por esse aparelho e, só não o será, se houver evitação (alguns indivíduos evitam ser
capturados) ou escape (alguns indivíduos uma vez capturados, escapam através das malhas da
rede).

5.3.1.1.1 tipos de distribuição espacial

a) Quanto a quantidade de indivíduos

Os indivíduos

a. ao acaso, quando a posição podem apresentar distribuição do outro;


b. agregada, quando a tendência dos indivíduos for de agruparem; e,
c. uniforme, quando houver uma repulsão entre esses indivíduos.

No caso de uma distribuição uniforme, a variância é nula, porque o número de indivíduos em cada
levantamento (sub-região) é constante e igual á média (Dt). Quando a distribuição é ao acaso, a
densidade média (Dt) e a variância (s2) são iguais. Por outro lado a distribuição espacial agregada
apresenta variância superior à densidade média quanto maior for a tendência dos indivíduos à
agregação (figura 2).
CONTAGIOSA OU
UNIFORME/S2=O AO ACASO S2=M
AGREGADA S2>M

Figura 2 - Esquema dos tipos de distribuição possível para o 3 diversos indivíduos de uma
população. M= média, S2 = variãncia.

Fonte: Dajoz, 1973.

A distribuição uniforme é rara na natureza, sendo muitas vezes devida à intensa competição entre
os indivíduos. Os peixe-espinhos que escolhem um território e apresentam um caráter muito
individualista, parecem ter uma distribuição espacial uniforme. Um dos melhores exemplos de
distribuição uniforme éo Lamelibrâquio Tellina tenus, que vive na areia das praias do Canal da
Mancha. A distribuição ao acaso só se encontra nos meios homogêneos e nas espécies que não
têm nenhuma tendência à agregação.

A distribuição agregada é a mais comum. Ela é devida a variações frequentemente pequenas,


mas importantes para os animais, nas características do ambiente ou então é devida ao
comportamento desses animais. Os grupos podem ser distribuídos ao acaso ou em agregado.

É importante ressaltar que as modificações na densidade das populações podem causar


modificações no tipo de distribuição espacial.

Denominamos índice de agregação (la) a um parâmetro que mede o grau de agregação (ou
uniformidade) de uma distribuição espacial e pode ser definido e estimado da seguinte maneira:
onde:

la = índice de agregação
Dit = número de indivíduos por sub-região
s2 = variância de Dit
Dt = média aritmética de Dit
i = 1,2….n.

Quando

la = 1 a distribuição será ao acaso


la > 1 a distribuição será agregada
la < 1 a distribuição será uniforme

Teste de hipótese

Ho : la = 1
H1 : la ≠ 1 (la > 1; la < 1).

Estatística utilizada (X2 Qui-quadrado)

Considere:

Grau de liberdade = n - 1
n = número de levantamentos ou sub-regiöes
α = 0,05

Para

X2b < X2 < X2c (la = 1)

X2 < X2b (la < 1)


X2 > X2c (la > 1)

Obs: (X2b e X2c na tabela I)

b) Quanto à qualidade dos indivíduos

Quando os indivíduos de diferentes classes (etárias, de comprimento, sexo, etc.) de uma


população não estiverem homogeneamente distribuídos entre si, dizemos que a distribuição
espacial é estratificada.

TABELA I
Distribuição de probabilidade X2 (α = 0,05)
g.1. X2b X2c g.1. X2b X2c
1 0,0089 3,84 16 7,96 28,30
2 0,10 5,99 17 8,67 27,59
3 0,35 7,82 18 9,39 28,87
4 0,71 9,49 19 10,12 30,14
5 1,14 11,07 20 10,85 31,41
6 1,64 12,59 21 11,59 32,67
7 2,17 14,07 22 12,34 33,92
8 2,73 15,51 23 13,09 35,17
9 3,32 16,92 24 13,85 36,42
10 3,94 18,31 25 14,61 37,65
11 4,58 19,67 26 15,38 38,88
12 5,23 21,02 27 16,15 40,11
13 5,89 22,36 28 16,93 41,34
14 6,57 23,68 29 17,71 42,56
15 7,26 25,00 30 18,49 43,77
Fonte: Santos, 1978.

Exemplo: Suponhamos que 10 sub-regiões tenham sido demarcadas ao acaso na região onde
vive certa população, resultando.

Dit f
Dit - Dt (Dit - Dt)2 f(Dit - Dt)2
(inds/m2) (n)
0 4 -1 1 4
1 3 0 0 0
2 2 1 1 2
3 1 2 4 4
Total 10 - - 10
como

X2b < X2 < X2c

3,32 < 10 < 16,92

Então

aceita-se Ho : la = 1 e a distribuição espacial é ao acaso.

5.3.1.2 Análise da estrutura quantitativa

Denominamos estrutura quantitativa de uma população, num dado instante, aos números (ou
valores proporcionais) de indivíduos das diferentes classes da população. Seja t a estimativa do
tamanho da população no instante t; nt o tamanho da amostra da população e P*i (t) a frequência
relativa da classe i nessa amostra. portanto

it = P*it t

onde:

it = estimativa do tamanho da classe i, no instante t

Se em vez de t tivermos Ñt, isto é, um valor proporcional ao tamanho da população, teremos:

Ñit = P*it Ñt

Estrutura quantitativa é, portanto o conjunto de valores de it ou Ñit para todas as classes da


população. Se a classe for idade teremos então a estrutura etária da população.

Conhecendo t ou Ñt para térmos a estrutura etária falta conhecer P*it, e para isso é necessário
reconhecer, na amostra, os indivíduos das diferentes classes etárias da população, que poderá
ser feito através dos métodos do anel etário, distribuição de frequência de comprimento e método
da curva de crescimento.

5.3.1.2.1 Tamanho da população (Nt)

O tamanho da população no instante t(Nt) pode ser determinado, por contagem, em piscicultura
intensiva ou estimado como é o caso da pesca ou piscicultura extensiva.

5.3.1.2.1.1 Estimação
O tamanho da população pode ser estimado através do potencial reprodutivo, da expectativa de
morte e pelos métodos da densidade média e da marcação, sendo estes últimos apresentados a
seguir:

a) Método da densidade média (Dt)

Por definição:

onde:

Dt = densidade média da população, no instante t


t = estimativa do tamanho da população, no instante t
A = área da região ocupada pela população
V = volume da regiã ocupada pela população

Para estimarmos Dt, delimitamos por um processo qualquer, sub-regiões dispostas ao acaso na
região que vive a população, e estimamos o número de indivíduos em cada sub-região (Dit). Essa
delimitação pode ser feita de diferentes maneiras, dependendo da população analisada, como já
foi visto anteriormente. Nos estudos de Necton (peixes entre outros grupos), são utilizadas redes
ou armadilhas (manzuá) para capturar indivíduos existentes em sub-volumes de água.

O número de indivíduos capturados por um aparelho de pesca, muitas vezes é menor que o
número realmente existente na sub-região, devido a evitação e/ou ao escape. Como o escape é
maior para os indivíduos menores, e o contrário é válido para a evitação, dizemos que há captura,
uma seletividade.

Com os valores de Dit, podemos estimar a densidade média (Dt) da população.

Conneoendo Dt e A ou V teremos

t = Dt A ou t = Dt V

a.1) Densidade média (subáreas)

Este método consiste em determinar o número de indivíduos existentes (Dit), em n subáreas com
disposições ao acaso, na região onde a população vive.

Então

onde:
Dt = densidade média da população no instante t

Conhecendo A teremos:

t = Dt A

Exemplo

Suponhamos que em 10 subáreas tenham sido demarcadas, ao acaso, na região onde uma
determinada população vive, numa área total (A) de 10 km2, resultando:

Dit(inds/m2) f(n) fDit Dit-Dt (Dit-Dt)2 f(Dit-Dt)2


0 4 0 -1 1 4
1 3 3 0 0 0
2 2 4 1 1 2
3 1 3 2 4 4
Total 10 10 - - 10

Então

A = 10 km2 = 1.000.000 m2 = 106 m2

t = Dt A = 1,0 × 106 indivíduos

a.2) Densidade média (sub-volumes)

A estimativa da densidade populacional, através do método dos sub-volumes depende do tipo de


aparelho de pesca e dentro do tipo, da maneira em que ele é empregado, na captura.

a.2.1) Para uma rede de arrasto de boca circular

Sendo:

Nc(Δt) = número de indivíduos capturados durante o intervalo de tempo (Δt), em que a rede foi
arrastada

v = volume de água filtrada pela rede durante o intervalo de tempo Δt, em que a rede foi
arrastada
Como v = a d

onde:

a = área da boca da rede (Π r2)


d = distância percorrida durante o intervalo de tempo Δ t em que a rede foi arrastada, sendo

d = W.Δt

onde:

W = velocidade de arrasto da rede


Δt = intervalo de tempo em que a rede foi arrastada

teremos:

onde:

Dt = densidade média da população no instante t


n = número de levantamentos

Conhecendo V teremos

t = Dt V

Numa região igual a 1010m3 foram feitas 2 coletas usando-se uma rede de plâncton para coleta de
larvasde certo peixe. Os dados obtidos acham-se na tabela abaixo.

Diâmetro da boca da Veloc. de Tempo de Ind. Volume


Densidade
Coletas rede arrasto arrasto capturados filtrado
(?)
(cm) (m/s) (min) [Nc(Δ t)] (?)
1 50 5,0 15 1000
2 50 5,0 20 520
Obs: Velocidade de arrasto constante

Calcule:

a. volume d'água filtrado em cada amostra


b. densidade média da população
c. tamanho da população.

vi = Πr2W Δt
v1 = 3,1416 × 0,252 × 5,0 × 900 = 883,6 m3

v2 = 3,1416 × 0,252 × 5,0 × 1200 = 1178,1 m3

t = Dt V = 0,78 × 1010 indivíduos

a.2.2) Para uma armadilha com isca (manzuá)

Suponhamos agora uma armadilha com uma isca. Essa isca irá atrair os indivíduos que se
encontram em torno da armadilha, os quais irão se locomover em direção à isca, com velocidade
média W. Se essa armadilha permanecer na região durante o intervalo de tempo Δt, chegarão até
ela, os indivíduos que se encontram até a distância d(igual ao raio de ação da isca).

Então

d = WΔ t

d - é portanto o raio de ação da metade de uma esfera em torno da armadhilha, com volume igual

a . Os indivíduos dentro deste subvolume serão capturados.

Então

Como
Então

t = Dt V

onde

Dt = densidade média da população


t = estimativa do tamanho da população
V = volume total da região em que vive a população

b) Método da marcação

Podemos, também, estimar o tamanho da população ( t), através do método da marcação, com
um censo único ou através de censo múltiplo.

b.1) Censo único (Método de Petersen ou Índice de Lincoln)

Suponhamos uma população com um certo tamanho (número) desconhecido de indivíduos (Nt).
Em certas situaçães podemos marcar com um processo qualquer, Xt desses indivíduos. Se os
indivíduos marcados e não marcados estiverem distribuídos homogeneamente na região,
coletando uma amostra com nt indivíduos, poderemos encontrar entre eles, xt marcados. Como a
frequência relativa de indivíduos marcados na amostra é uma estimativa dessa frequência na
população, podemos escrever:

Exemplo:

Suponhamos que tivéssemos marcado 1000 indivíduos de uma população e que numa amostra

posterior com 100 indivíduos tivéssemos encontrado 20 marcados. Portanto t= =


5000 indivíduos.

b.2 Censo múltiplo (Método de Scnnabel)

Este método consiste em:

1. inicialmente coletamos uma amostra da população, marcamos todos os indivíduos


e devolvemos para o ambiente;
2. coletamos outra amostra da população, determinamos o número de indivíduos com
marca, marcamos os não marcados e devolvemos todos para o ambiente;
3. repetimos a estapa 2, tantas vezes quanto necessário.
Sejam:

Xi = número total de indivíduos que foram marcados até a coleta i,


ni = número total de indivíduos na coleta i, e
xi = número total indivíduos recapturados com marca, na coleta i
= estimativa do tamanho da população

Então

Essas coletas devem ser feitas num intervalo de tempo relativamente curto, no qual a mortalidade
e a natalidade sejam despreziveis.

Este método é vantajoso com relação ao censo único porque permite aumentar o número de
indivíduos marcados, e portanto a precisão da estimativa, sem perda de informações. Quanto
mais vezes repetirmos a etapa 2, major será a precisão da estimativa.

Exemplo:

Suponhamos os seguintes resultados em um experimento de marcação pelo método do censo


múltiplo (tabela II)

TABELA II
Coletas ni xi Xi Xini
1 80 0 0 0
2 70 10 80 5,600
3 90 20 140 12,600
4 80 40 210 16,800
∑ - 70 - 35,000

Então

5.3.1.2.2 Estimativas de valores proporcionais a densidade da população (Dit)

Muitas vezes não conseguimos estimar a densidade da população mas sim um valor proporcional
à densidade.

5.3.1.2.2.1 Para rede de arrasto com boca circular

∏, r2, W = K (constante de proporcionalidade)


Então

(O número de indivíduos capturados por intervalo de tempo de arrasto é


proporcional à densidade da população).

5.3.1.2.2.2 Para uma armadilha com isca

∏, W3 = K (Constante de proporcionalidade)

Então

(O número de indivídeuos capturados por 2/3 do intervalo de tempo de pesca ao cubo


Dit=
é proporcional à densidade da população).

Portanto

Como estamos estimando Di(t) através de Nc(Δt), sendo t o instante inicial de Δt, o valor de Δ t
deve ser relativamente pequeno. Se Δt for grande, Nc(Δt) dependerá da mortalidade e da
natalidade, além da própria densidade populacional.

5.3.1.2.3 Estimativa de valores proporcionais ao tamanho da população (Ñt)

Muitas vezes não conseguimos também estimar o tamanho da população, mas sim um valor
proporcional.

Ñt = K Nt ou Ñt α Nt

onde:

Ñt = valor proporcional (α) a Nt


K = constante de proporcionalidade
Nt = tamanho da população

Sendo

Para A ou V constantes temos


Dt α Nt

Como

Então

5.3.1.2.4 Tamanhos de classes da população (Nit)

Suponhamos uma amostra de uma população, contendo nt indivíduos.

Seia

nit = o número de indivíduos da amostra, pertencente a class i

Então

onde

c = número total de classes

Se Nt for conhecido teremos

Então

onde:

Nit = número total de indivíduos da população, pertencente à classe i


Esse mesmo raciocínio é válido para densidade e para valores proporcionais.

5.3.1.3 Análise da dinâmica quantitativa da população

Denominamos dinâmica quantitativa de uma população à variação em função do tempo, de sua


estrutura quantitativa, isto é, variação do tamanho da população (Nt) e de classes da população
(Nit).

Sejam

Nt = tamanho da população no instante t


N(t + Δt) = tamanho da população no instante t + Δt
Δt = intervalo de tempo

Então podemos escrever

N(t + Δt) = Nt + R(Δ t) - H(Δt)

onde

R(Δt) = número de indivíduos que nascem em Δt


H(Δt) = número de indivíduos que morrem em Δt

Sendo a expressão matemática denominada de equação da dinâmica quantitativa da população.

Para uma classe (coorte) isoladamente, teremos

Nit = tamanho da coorte i no instante t


Ni(t + Δt) = tamanho da coorte i no instante t + Δt
Δt = intervalo de tempo

Portanto

Ni(t + Δt) = Nit - Hi(Δt)

onde:

Hi(Δ t) = número de indivíduos da coorte i que morrem em Δ t

Então a expressão matemática é denominada de equação da dinâmica quantitativa para uma


coorte da população.

Obs: Coorte = sub-conjunto de indivíduos da população que nascem em uma mesma época.

5.4 As Características da Ictiofauna - Composição e Densidade das


Espécies ícticies. Movimentos Populacionais
Uma vez estabelecida a lista das espécies ou população que constituem as diversas ictiofaunas é
preciso determinar um certo número de características das diversas espécies ou do conjunto da
ictiofauna.

5.4.1 A abundância (abundância relativa ou densidade)


Corresponde ao número de indivíduos por unidade de superfície ou de volume. Sotre variações no
tempo (flutuações estacionais, anuais ou acidentais) e no espaço (de uma ictiofauna para outra).
Em geral são adotadas cinco classes de abundância:

0 = ausente
1 = raro e disperso
2 = não raro
3 = abundante
4 = muito abundante

5.4.2 A frequência

É a porcentagem de indivíduos de uma espécie ou população com relação ao total de indivíduos.


Pode ser calculada para uma amostra ou para um conjunto de amostras de uma ictiofauna, o que
permite estabelecer um histograma de frequência. Esses histogramas podem ser de três tipos:

a. A distribuição das frequências é muito dissimétrica

As espécies são numerosas e uma ou algumas delas formam a maior parte da ictiofauna.

b. Todas as espécies são mais ou menos igualmente representadas e as frequências


muito vizinhas uma das outras. A ictiofauna é igualmente rica em espécies.
c. As espécies são pouco numerosas e suas frequências muito diferentes. A ictiofauna
é pobre em número e quantidade.

5.4.3 A constância

A constância (C) é a relação expressa em forma de porcentagem

na qual pi é o número de coletas contendo a espécie i e P é o número total de coletas efetuadas.


Em função do valor de C distinguem-se as seguintes categorias:

a. espécies constantes, presentes em mais de 50% das coletas;


b. espécies acessórias, presentes em 25 a 50% das coletas;
c. espécies acidentais, presentes em menos de 25% das coletas.

5.4.4 A dominância

É uma noção impossível de ser avaliada quantitativamente. Exprime a influência exercida por uma
espécie em uma comunida de ou biocenose. Uma espécie pode ser pouco abundante e contudo
exercer uma ação mais importante sobre a comunidade que uma espécie mais abundante porém
menor ou menos ativa. Frequentemente exprime-se a dominância dentro de um determinado
grupo sistemático, digamos, para a ictiofauna e não para a fauna como um todo.

5.4.5 A fidelidade

É outra característica impossível de avaliar quantitativamente. A fidelidade exprime a intensidade


com a qual uma espécie está ligada a uma comunidade. Distinguem-se:

a. espécies características - exclusivas de uma associação ou então, casos mais


frequentes, que nela são mais abundantes que nas outras;
b. espécies preferentes - que existem em várias biocenoses vizinhas mas preferem
contudo uma dentre elas;
c. espécies estrangeiras - extraviadas acidentamente em uma associação à qual não
pertencem;
d. espécies indiferentes - que podem existir indiferentemente em várias biocenoses.

Em geral numa biocenose há menos espécies características do que espécies preferentes ou


estrangeiras. Em compensação o número de indivíduos é mais elevado nas espécies
características, que consequentemente são mais abundantes, do que nas espécies preferentes ou
estrangeiras.

5.4.6 Diversidade

A diversidade é a relação entre o número de espécies e a abundância relativa das mesmas.

A noção de diversidade é antiga, porque os naturalistas haviam reconhecido e distinguido


comunidades pobres em espécies, como as de dunas ou charcos efêmeros, onde só existem
poucas espécies dominantes e comunidades ricas em espécies; nas quais apenas se pode falar
de dominantes ou espécies que se destacam em relação a outras. O arrecife de coral e o bosque
tropical são exemplos destas comunidades muito diversificadas.

Na figura 3 são apresentados dados de diferentes espécies, ordenados por ordem de abundância
e expressos em escala logarítmica. Esta figura mostra diretamente a diversidade da fauna em
questão.
FIGURA 3 - Diversidade em capturas de populações de peixes, classificada por espécies e pesos
decrescentes, representados em escala logarítmica. As espécies mais raras não foram citados
(Dados de Johresbericht Dentsche Fischerei, 1956–57

FONTE: Margalef, 1974

5.4.6.1 Índice de diversidade

O Índice de diversidade permite comparar a riqueza de duas biocenoses ou ictiofaunas,


principalmente quando os números de indivíduos recolhidos em cada uma delas são muito
diferentes. Este índice revela que quando as condições do meio são favoráveis encontram-se
numerosas espécies, sendo cada uma delas representadas por um pequeno número de
indivíduos. O índice de diversidade é neste caso elevado. Por outro lado, quando as condições do
meio são desfavoráveis só se encontra um pequeno número de espécies, mas cada uma delas é
em geral representada por numerosos exemplares. Neste caso o índice é pequeno.

Entre os índices existentes, o número de espécies presentes nos primeiros 1.000 ou 10.000
exemplares recolhidos ao acaso pode ser um índice de diversidade muito útil. Na figura 4 é
mostrada a diversidade de algumas comunidades com relação a quantidade total de matéria
orgânica dissolvida na água. A diversidade mais alta se encontra em águas mais puras.

Figura 4 - Diversidade de algumas comunidodes, em relação com a quantidade total de matéria


orgãnica dissolvida na água. A maior diversidade se encontra em águas mais limpas. (Segundo H.
T. Odum)

Fonte: Margalef, 1974

5.4.7 A estrutura
Toda biocenose possui uma estrutura particular, que corresponde a disposição dos indivíduos das
diversas espécies uns com relação aos outros, quer no plano vertical quer no plano horizontal.

A distribuição no plano vertical corresponde à estratificação mais ou menos marcada conforme a


biocenose. A estratificação é muitas vezes consequência da competição interespecífica, na
procura de luz ou de alimento (plâncton).

5.4.8 A periodicidade

Durante uma estação do ano ou mesmo às vezes no curso de um dia, nos animais que podem
apresentar consideráveis deslocamentos diuturnos, as biocenoses manifestam importantes
modificações. Nos oceanos e em grandes lagos as espécies podem apresentar migrações
verticais bem conhecidas em alguns peixes e crustáceos marinhos. A hora exerce influência na
determinação da atividade em certas espécies, algumas das quais são diurnas e outras noturnas.
A periodicidade estacional pode modificar o estado fisiológico dos animais (migração) ou a
composição específica das biocenoses, porque certas espécies têm um período de aparecimento
mais ou menos limitado, notadamente entre os vegetais.

5.4.8.1 Movimentos populacionais

O conhecimento dos movimentos populacionais é de grande importância teórica (do ponto de vista
ecológico) e prático. Ele é um dos elementos que mostra como os organismos que formam uma
biocenose influem entre si e como o homem pode utilizar estas relações em seu benefício.

O conhecimento desses aspectos em recursos pesqueiros é muito importante, na aplicação de


técnicas adequadas de captura.

Além dos movimentos diurnos, a maioria das espécies apresenta migrações estacionais.

A seguir, apresentamos os principais tipos de movimentos populacionais:

a. migração é o deslocamento de uma população de uma região para outra;


b. dispersão é o deslocamento dos indivíduos, aumentando a área ou volume da
região, ocupado pela população;
c. contração é o inverso da dispersão;
d. vagueação é o deslocamento desordenado dos indivíduos da população dentro da
região ocupada pela mesma.

Na figura 5 apresentamos um exemplo de curva de migração.


FIGURA 5 - EXEMPLO DE CURVA DE MIGRAÇÃO

FONTE SANTOS, 1978

5.5 As Reações Heterotípicas (Relação Presa X Predador)


Teoricamente a coabitação de duas espécies pode ter sobre cada uma delas uma influência nula,
favorável ou desfavorável. Os diversos tipos de combinações são os seguintes:

a. o neutralismo: as duas espécies são independentes, não tendo qualquer influência


uma sobre a outra;
b. a competição: cada espécie atua desfavoravelmente sobre a outra. A competição
dá-se na procura do alimento, dos abrigos, dos lugares para a desova, etc. Diz-se que as
duas espécies são competidoras;
c. o mutualismo: cada espécie só pode sobreviver, crescer e reproduzir-se na
presença da outra. As duas espécies vivem em simbiose;
d. a cooperação: as duas espécies formam uma associação, mas esta não é
indispensável, podendo cada qual viver isoladamente, mas a associação traz vantagens
para ambas. As vezes usa-se o termo protocooperação de preferência a cooperação, que
implica uma escolha voluntária, um raciocínio. A nidificação coletiva, de várias espécies de
aves, como as andorinhas-do-mar é um exemplo de colaboração que permite aos animais
defenderem-se mais eficazmente contra os predadores;
e. o comensalimsmo: a associação compreende nesse caso uma espécie comensal,
que tira um benefício e uma espécie hospedeira, que não leva nenhuma vantagem. Os
organismos comensais exercem uns sobre os outros coações de tolerància recíproca. A
foresis, isto é, o transporte do organismo menor pelo maior, é uma forma de
comensalismo;
f. o amensalismo: neste tipo de coação uma espécie, chamada amensal, é inibida
em seu crescimento ou em sua reprodução, enquanto a outra, chamada inibidora, não
sofre essa inibição;
g. o parasitismo: uma espécie parasita, geralmente a menor, inibe o crescimento ou
a reprodução de seu hospedeiro e depende diretamente dele para se alimentar. O parasita
pode acarretar ou não a morte do hospedeiro.
h. a predação a espécie predadora ataca a que é sua presa para alimentar-se desta.
O Quadro II resume esses diversos casos de coações.

QUADRO II
TIPOS DE COAÇÕES ENTRE ESPÉCIES DIFERENTES
Espécies reunidas Espécies separadas
Tipos de coações Espécie Espécie Espécie Espécie
A B A B
Neutralismo 0 0 0 0
Competição - - 0 0
Mutualismo + + - -
Cooperação + + 0 0
Comensalismo (A cmensal de B) + 0 - 0
Amensalismo (A amensal de B) - 0 0 0
Parasitismo (A parasita, B hospedeiro) + - - 0
Predação (A predador, B presa) + - - 0

0 : as espécies não são afetadas em sue desenvolvimento.


+ : o desenvolvimento da espécie torna-se possével ou é melhorado.
- : o desenvolvimento da espécie é reduzido ou torna-se impossível.

Fonte: Dajoz, 1973.

Não devemos ter ilusões sobre o valor desta classificação. Há nela uma simplificação dos fatos a
tal ponto que numerosos tipos de coações não podem ser incluídas. Além disso, as coaçães entre
duas espécies podem mudar de natureza com o tempo. Usamos simplesmente esta classificação
para descrever os principais casos de coação entre as espécies.

5.5.1 Relação presa/predador

Alguns ecologistas pensaram poder explicar as flutuações das populações por meio de modelos
maternáticos, estabelecidos admitindo-se, inicialmente, um certo número de postulados relativo às
características biológicas dos animais.

O problema da competição interespecífica foi abordado por Volterra, que mostrou, por meio de
considerações teóricas, que quando duas espécies disputam o mesmo alimento, uma deve
desaparecer enquanto a outra subsiste. Se considerarmos k1 e K2 os coeficientes de crescimento
(supostos constantes) de duas espécies e se C1 e C2 forem os coeficientes correspondentes as
respectivas necessidades de alimento, a espécie que deverá desaparecer é aquela para a qual a
relação K/C fopr menor. Em outras palavras, quando os coeficientes de crescimento são iguais (K1
= K2) a espécie que desaparece é a mais afetada pela falta de alimento.

Com relação a predação, supondo constante todas as condições do meio e admitindo que só
estão em questão a voracidade do predador e o potencial de reprodução das duas espécies,
Volterra apresenta as seguintes leis:

a. Lei do ciclo periódico: as flutuação das duas espécies são periódicas. A duração do
período só depende dos coeficientes de crescimento K1 e K2 das duas espécies e das
condiçães iniciais.
b. Lei da conservação das médias: As médias dos números dos indivíduos das duas
espécies são independentes das condições iniciais e constantes durante todo o tempo em
que os coeficientes K1 e K2, o coeficiente de proteção C1 da presa e o coeficiente de
ataque C2 do predador permanecerem constantes.
c. Lei da perturbação das médias: Se destruirmos as duas espécies uniformemente e
proporcionalmente aos números de seus indivíduos a média do número dos indivíduos da
espécie presa cresee e a dos indivíduos da espécie predadora diminui.

As interações predador-presa dependem muitas vezes da densidade das populações. O papel da


predação como fator limitante é evidente. Quando as presas se tornam abundantes a fecondidade
dos predadores aumenta, dando em resultado flutuaçães de populações, observadas tanto no
laboratório quanto na natureza. Se a influência da presa sobre o predador é evidente, a do
predador sobre a presa nem sempre é visível. Com efeito, o predador captura mais
frequentemente os indivíduos doentes e melhora assim a qualidade média dos sobreviventes.
Além disso, a ação sobre a presa só se faz sentir quando as duas espécies têm aproximadamente
o mesmo potencial biótico. No caso contrário a pequena taxa de reprodução do predador não lhe
permite limitar eficazmente a população de uma presa. Estudos realizados sobre o efeito da
predação mostraram que o número de presas mortas aumenta geralmente com 3 densidade, pelo
menos até certo nível. Depois, os predadores parecem “saturados” e sua ação torna-se
praticamente independente da densidade da presa.

5.6 Sobrepesca, Subpesca e Rendimento Sustentável


A exploração pesqueira constitue um fator de predação exógeno à biocenose sendo, portanto, de
se esperar que a abundância das populações atingidas sofram um decréscimo, estabilizando-se
em seguida um nível de equilíbrio inferior àquele apresentado antes do início da atividade
exploratória ou pesca.

Toda população tem seu tamanho variável dentro de certo limite, para permitir que os tamanhos
das outras populaçães da comunidade também variem, mantendo-se na faixa de equilíbrio
biológico estável.

Quando o esforço de pesca é mantido dentro de limites considerados razoáveis para o tamanho
da população, é benéfico para manter a população com um tamanho condizente com seu
equilíbrio biológico e o das outras populações que participam da biocenose. Por outro lado, o
aumento exagerado do esforço pode levar a sobrepesca pois uma alta taxa de exploração retira
os indivíduos ainda jovens diminuindo consideravelmente a sobrevivência para os grupos
seguintes. Quando esta situação se prolonga por muito tempo, o némero de indivíduos que
deveriam sobreviver para se tornar adultos se reduz cada vez mais. Como a população precisa de
indivíduos adultos para se reproduzir e suprir o estoque nos anos seguintes, haverá cada vez
menos indivíduos reprodutores e, também, cada vez menos indivíduos jovens para atingir a idade
adulta. Torna-se assim um círculo vicioso que só será quebrado por uma redução do esforço de
pesca, portanto da taxa de exploração.

5.6.1 Produção máxima sustentável

O estudo da dinâmica populacional se baseia na avaliação das mudanças sofridas pela população
sob o impacto da pesca. Como essas mudanças têm caráter quantitativo (variações no
recrutamento, fecundidade, crescimento, mortalidade, etc), é necessário obter-se uma estimativa
da abundância de população, isto é, o número ou eso total dos seus indivíduos num certo período
de tempo. Diversas medidas podem ser utilizadas:

a. Produção instantânea-o volume de biomassa que a população apresenta num dado


instante, terá pouco valor para a dinâmica populacional pois não leva em conta as
variações estacionais e não dá nenhuma idéia do potencial capturável.
b. Biomassa virgem - peso total da população, ainda não submetida à pesca.
c. Produção máxima sustentável-volume de captura que se poder retirar da população
sem afetar seu equilíbrio e que pode ser mantido indefinidamente. Esta é a quantidade que
interessa para o estudo da dinâmica populacional, pois estão relacionadas com a
biomassa virgem e com o esforço de pesca. No capítulo 8 abordaremos com detalhe esse
assunto.

5.7 Mortalidade Natural, Por Pesca e Total


A mortalidade é responsável pela redução na abundância do estoque, de modo que o decréscimo
de uma classe etária, a partir do instante em que seus indivíduos nascem é causado, inicialmente
por fatores naturais (predação, condiçães ambientais adversas, poluição) e, posteriormente,
quando os indivíduos se tornam vulneráveis à pesca, por uma combinação de fatores naturais e
esforço de pesca.

Durante as primeiras fases do ciclo vital (ovo, larva, jovem), a mortalidade natural émuito alta, mas
decresce à medida que os indivíduos vão-se tornando vulneráveis aos aparelhos-de-pesca,
ocorrendo então uma substituição da mortalidade natural pela mortalidade por pesca. Isto decorre
do fato que estas são eventos exclusivos,-um peixe, ou morre naturalmente ou morre por captura,
sendo que esta probabilidade aumenta bastante na fase adulta.

A mortalidade mede, efetivamente, a redução do número de indivíduos num certo intervalo de


tempo e sua variação é medida em termos de taxas. Matematicamente, se por um período de
tempo, Δ t a variável × varia em x, então a taxa média da variação (taxa absoluta) é Δ*/Δ t. Uma
taxa relativa é obtida dividindo-se a taxa absoluta pelo valor inicial da variável, ou seja

5.7.1 Taxa de mortalidade

Seja Ni(T) o número de indivíduos da coorte i, no instante T. Depois de um intervalo de tempo. T,


teren oa Ni(T + ΔT).

Seja: Hi(Δt) = Ni(T) - Ni(T + ΔT)

onde: Hi(Δt) = número de indivíduos da coorte i, mortos em Δ T.

Si(ΔT) = Ni(T + ΔT)

onde: Si(ΔT) = número de indivíduos da coorte i, sepreviventes em Δ T.

Denominamos taxa de mortalidade, Hi* (Δ T), na coorte i, à razão:

e taxa de sobrevivência, Si* (ΔT), na coorte i, à razão:

Se em vez de valores reais tivermos valores proporcionais:

Ñi(T) = pNi(T)
Ñi(T + ΔT) = pNi(T + ΔT)
teremos:

e não alteramos os valores das taxas.

Os valores de Ni(T) e Ni(T + ΔT) ou Ñi(T) e Ñ(T + ΔT) foram obtidos através da estrutura etária da
população (tabela III). Por exemplo nas Tabelas IV e V apresentamos as taxas de sobrevivência e
de mortalidade, obtidas com os dados da Tabela III. A taxa média para a população é a média
ponderada das taxas das várias coortes.

TABELA III
ESTRUTURA ETÁRIA (MACHOS MAIS FÊMEAS). N(T) = TAMANHO CONHECIDO DA
POPULAÇÃO
Meses de 1970
Coortes
1 3 5 7 9 11
I 136 82 42
II 454 409 218 82 80 44
III 252 578 548 494 445
N(T) 590 743 838 630 574 489
Fonte: Santos, 1978.
TABELA IV
TAXAS DE SOBREVIVÊNCIA OBTIDAS A PARTIR DA TABELA III
Bimestres de 1970
Coortes
1 2 3 4 5
I 0,603 0,512
II 0,901 0,533 0,376 0,975 0,550
III 0,948 0,902 0,901
Média 0,832 0,530 0,752 0,911 0,852
Fonte: Santos, 1978.
TABELA V
TAXAS DE MORTALIDADE OBTIDAS A PARTIR DA TABELA III
Bimestres de 1970
Coortes
1 2 3 4 5
I 0,397 0,488
II 0,099 0,467 0,624 0,025 0,450
III 0,052 0,098 0,099
Média 0,168 0,470 0,248 0,089 0,149
Fonte: Santos, 1978.

5.7.1.1 Estimação por marcação

Podemos estimar Si*(Δ T), e portanto Hi*(ΔT), também, através de marcação.

Sejam
x(T) = número de indivíduos marcados, recapturados por unidade de área (volume) ou tempo de
captura, no instante T, e

x(T + ΔT) = idem, no instante T + ΔT.

Supondo esses valores proporcionais aos reais (número de indivíduos marcados) existentes na
população, podemos escrever:

ou para várias amostras

onde: S* (ΔT) = taxa de sobrevivência em Δt, dos indivíduos marcados, que poderá ser a mesma
para os não marcados.

5.7.2 Coeficiente de mortalidade

Vimos que Hi(ΔT) = Ni(T) - Ni(T + Δ T)

Para Δ t = 1 unidade de tempo (tempo discreto) temos:

Ni(T + 1) - Ni(T) = Hi*Ni(T)

equação da diferença finita, cuja solução é

Ni(T) = Ri e-ZiT

onde: Ri = Ni(O) e

Zi = coeficiente de mortalidade da coorte i.

Sendo

temos:

Zi = -InSi* = -In(1 - Hi*)

para tempo contínuo temos

Zi ΔT = -In[S*i(ΔT)]
S*i(nΔT) = e-Zin ΔT = (e-Zi ΔT)n = S*i (ΔT)n

Na tabela VI apresentamos valores de Zi(ΔT), obtidos através da tabela IV (ΔT = 1 bimestre).

TABELA VI
COEFICIENTES DE MORTALIDADE OBTIDOS A PARTIR DA TABELA IV
Bimestres de 1970
Coortes
1 2 3 4 5
I 0,506 0,669
II 0,104 0,629 0,978 0,025 0,598
III 0,053 0,103 0,104
Média 0,184 0,635 0,285 0,093 0,160
Fonte: Santos, 1978.

5.7.3 Cuiva dc mortaiidade

Denominamos curva de mortalidade à relação:

H(Δ T) = H[N(T)]

Por exemplo, na tabela VII apresentamos a “estrutura etária” de uma população. A partir dessa
tabela obtivemos a tabela VIII, e com os valores de Ñ(T) da tabela VII e (Δ T) da tabela VIII,
temos a curva de mortalidade representada na figura 6.

TABELA VII
ESTRUTURA ETÁRIA DE UMA POPULAÇÃO Ñ(T)=VALOR PROPORCIONAL
AO TAMANHO DA POPULAÇÃO
1961 1962 1963 1964 1965
Coortes
jan jul jan jul jan jul jan jul jan jul
I 11 9 7 6 4 3
II 22 20 18 15 12 9 5 3
III 28 26 23 19 15 11 7 4 2
IV 52 44 37 30 22 14 11 5 4
V 78 56 46 32 21 14 12
VI 90 63 54 35 29
VII 79 56 51
Ñ(T) 61 107 92 155 117 181 121 172 112 96
Fonte: Santos, 1978.
TABELA VIII
VALORES PROPORCIONAIS AOS NÚMEROS DE INDIVÍDUOS MORTOS POR
SEMESTRE, OBTIDOS A PARTIR DA TABELA VII (Δ T)=TOTAL.
1961 1962 1963 1964 1965
Coortes
1 o
2o
1
o
2 o
1o
2 o
1
o
2 o
1o
I 2 2 1 2 1 3
II 2 2 3 3 3 4 2 3
III 2 3 4 4 4 4 3 2 2
IV 8 7 7 8 8 3 6 1
V 22 10 14 11 7 2
VI 27 9 19 6
VII 23 5

(Δ T) 6 15 15 38 26 60 28 60 16
Fonte: Santos, 1978.

Se a taxa de mortalidade for constante, qualquer que seja o tamanho da população, a curva de
mortalidade terá o aspecto apresentado na figura 7a. Se amentar com o tamanho, o aspecto será
o da figura 7b.

Figura 6 - Curva de mortalidade (traço livra) obtida da tabela VIII.

Fonte: Santos, 1978.

Se em vez de usarmos valores de H(ΔT), usarmos S(ΔT) terems a curva de sobrevivência (Figura
7).

5.7.4 Fator de mortalidade

Denominamos fator de mortalidade a uma determinada causa de morte (exploração pelo homem,
poluição etc.). A itensidade desse fator (número de horas de pesca, concentração de substâncias
tóxicas etc.) em ΔT, será representada por f(Δ T).

Seja H(Δ T) = C(Δ T) + G(Δ T)

onde: C(Δ T) = número de indivíduos que morreu devido ao fator, e


G(Δ T) = número de indivíduos que morreu devido a outras causas.

Por definição:

= expectativa de morte devida ao fator, e

= expectativa de morte devida a outras causas.


Figura 7 - Tipos de curvos de mortalidode e sobrevivencia

Fonte: Santos, 1978.

Fazendo:

Representaremos por:

C*p(ΔT) = probabilidade de morte devida ao fator, e

G*p(ΔT) = probabilidade de morte devida a outras causas.

Enquanto que as probabilidades variam no intervalo zero a um, as expectativas, variam no


intervalo de zero a um valor menor do que um, pois C(ΔT) ≠ O e G(ΔT) ≠ O.

Se em um intervalo de tempo Δt tivermos C(ΔT) = O teremos H(ΔT) = G(ΔT) e H*(ΔT) = Gp*(ΔT).


De acordo com 5.7.2.

Ni(T + 1)-Ni(T)=Gp*iNi(T)
equação de diferença finita cuja solução é

Ni(T) = Rie-MiT

onde: Mi = coeficiente de mortalidade devida a outras causas, da coorte i.

Sendo

Si*(ΔT) = 1-G*pi(ΔT) = e-MiΔ T

temos:

Mi ΔT = -In [1-Gp*i(ΔT)]

Da mesma maneira, para C(ΔT) = O e G(ΔT) ≠ O temos: Ni(T) = Rie-FiT

onde: F = coeficiente de mortalidade devida ao fator, da coorte i

e FiΔT = -In [1-C*pi (ΔT)]

As seguintes igualdades, que não demonstraremos aqui, são válidas:

A ausência do índice i da coorte significa que o valor é médio para a população.

Das igualdades acima resulta:

sendo

H*(ΔT) = Ce*(ΔT) + Ge*(ΔT)

temos

Z = F + M
e -In [1-H*(ΔT)] = -In[1-Cp*(ΔT)] -In [1 - Gp*(ΔT)]

portanto

H* ( Δ T) = Cp* (ΔT) + Gp* (ΔT) - Cp*(ΔT) Gp* (ΔT)

Para estimarmos esses parâmetros é necessário que tenhamos periodicamente valores de Z,


f(ΔT) ou C(ΔT). por exemplo na figura 8 apresentamos estimativas anuais de Z, em uma
população sob a açã de um determinado fator de mortalidade, contra a intensidade desse fator
nesses anos. Por extrapolação para f(ΔT) = O e portanto F = O estimamos M médio.

Neste caso M = 0,21


e para f(ΔT) = 8

Z = 0,40
F = 0,19
H*(ΔT) = 0,33
Ce*(ΔT) = 0,16
Ge*(ΔT) = 0,17
Cp*(ΔT) = 0,17
Gp*(ΔT) = 0,19

Se em vez de f(ΔT) tivermos C(ΔT), como:

lançando em gráfico Z contra ZC(ΔT) temos uma relação linear, com Z = M para ZC(ΔT) = 0
(Figura 9).

Figura 8 - Exemplo de relação entre Z e f (ΔT)


Figura 9 - Exemplo de relação entre Z(Δt) C(Δt)

OBS: Z = Z(Δt)

Se a relação entre Z e f(ΔT) for linear, como mostra a figura 8, Z = M + qf(ΔT), e sendo Z = M + F,
temos F = qf(ΔT).

temos

e como

temos

Também, podemos estimar N(T) com a definição


conhecendo C(ΔT) e Ce*(ΔT).

5.8 Esforço de Pesca, captura por Unidade de Esforço e Rendimento de


Pesca
No estudo da dinâmica de população, o objetivo principal é determinar a captura máxima
sustentável e o esforço correspondente, denominado de esforço ótimo. lsto significa que é
necessário obter uma medida da abundancia da população ou pelo menos do estoque explorado,
para que se possa medir os efeitos da pesca sobre a população. Como se sabe, é impossível
conhecer a abundância absoluta das populações marinhas ou de águas doces, de modo que
temos que procurar uma medida relativa da abundância.

Para as populações exploradas comercialmente, uma medida grosseira da abundância pode ser a
captura, em número ou peso dos indivíduos, já que se pode supor capturas maiores nas
populações mais abundantes. No entanto, quando se compara diferentes períodos anuais, a
captura dependerá da quantidade do esforço de pesca empregado (tempo efetivo de atuação de
um aparelho de pesca). Comparando-se dois anos, por exemplo: se no segundo ano o tempo
efetivo de pesca for duas vezes mais do que no primeiro ano, se espera que a captura seja, no
mínimo, superior ou até o dobro da anterior. lsto, no entanto, não significa que a abundôncia do
estoque duplicou, mas simplesmente que se pode retirar mais da mesma população (subpesca),
devido ao aumento do esforço de pesca (tempo efetivo de atuação de um aparelho de pesca). Vê-
se que a variação na quantidade de esforço empregada afeta a validade da captura como
estimativa da abundância. Portanto, a maneira é evitar esta distorção, causada pela variação no
esforço de pesca é expressar a captura como fração do próprio esforço, ou seja, utilizar a captura
por unidade de esforço (CPUE), como índice de abundância.

O esforço de pesca e a CPUE fornecem índices relacionados com dois importantes parâmetros-a
mortalidade por pesca e a abundância (ou densidade) do estoque explorado. Embora a CPUE
seja obtida a partir de valores independentes da captura e esforço de pesca, estes dados não
cobrem toda a frota, de modo que aquela se baseia em apenas parte do total de pescarias
realizadas num ano, sendo o esforço de pesca total estimado a partir da captura total anual.

5.8.1 Curva de rendimento ou de produção

O conhecimento da curva de rendimento de uma população é de interesse na investigação, uma


vez que fornece subsídios necessários à administração da pesca. Esta curva é a relação entre a
quantidade total capturada, em peso ou número de inidivíduos, e o esforço de pesca total
empregado, por área de pesca e tempo determinados.

A expressão matemática da curva de rendimento pode ser representada por uma parábola:

C = (a-b E)E

onde

C = captura total anual em peso ou número de indivíduos


E = esforço de pesca total aplicado na captura
a e b = constantes a estimar

A validade dessa expressão pode ser feita através da relação entre C/E e E (figura 10), testando-
se inclusive, o coeficiente de correlação linear de Pearson (r).

Para análise gráfica, podemos verificar a distribuição de dados de C contra E, apresentados na


tabela IX e em seguida plotar a parábola ajustada (figura 11).
TABELA IX
DADOS DE CAPTURA, ESFORÇO E CAPTURA POR UNIDADE DE ESFORÇO DA
CURIMATÃ COMUM DO AÇUDE “CALDEIRÃO”
Captura total (C) Esforço (E) Captura por Unidade de Esforço
Anos
kg № de galões (kg/galão)
1962 8.604 120 71,70
1963 10.532 165 63,83
1964 9.063 140 64,73
1965 13.321 250 53,28
1966 10.542 274 38,47
1967 12.523 236 53,06
1968 8.772 232 31,81
1969 5.506 200 27,53
1970 8.425 628 13,49
1971 4.482 478 9,37
1972 3.403 321 10,60
1973 7.159 365 19,61
1974 9.350 402 23,25
1975 14.685 387 37,94
Fonte: Pinheiro & Silva, 1978.

Figura 10 - Relação entre a captura por unidade de esforço (C/E) e o esforço de pesca (E)

Fonte: Pinheiro & Silva, 1978.


Figura 11 - Curva de rendimento da curimatã comum do açude “Caldeirão”.

Fonte: Pinhelro & Silva, 1978.

5.8.1.1 Produção máxima sustentável

Analisando a figura 11, podemos notar que aumentando o esforço de pesca a captura aumenta
até o valor máximo, denominado produção máxima sustentável. Essa produção é estimada a
partir da equação da parábola da curva de rendimento, considerando o esforço de pesca
correspondente, ao esforço ótimo.

CMS = (a - b Eot) Eot

5.8.1.2 Esforço ótimo

Definimos como esforço ótimo aquele que dá a produção máxima sustentável e é obtido pela
fórmula

Na realidade esse valor é melhor definido através da curva de rendimento econômico, já que o
aumento no custo do esforço de pesca não corresponde a igual aumento na receita produzida
(captura), havendo portanto, uma produção máxima econômica que ocorre antes da população
alcançar a sua produção maáxima sustentável.

PARTE6.
ARTES DE PESCA E TECNOLOGIA DA CAPTURA
José Oriani Farias *

A pesca é um desporto tão antigo como a caça, tão velho quanto a humanidade; é, ainda, sem
dúvida, a mais antiga das indústrias humanas. É quase certo que os povoados primitivos foram
constituídos à margem das águas salgadas ou doces e viveram principalmente dos produtos da
pesca.

Ao que parece o homem fóssil, ao fim do período quaternário, praticava a pesca de água doce, do
mesmo modo que a marinha. Nas grutas, tais como as de Baoussé-Roussé, perto de Menton,
encontram-se restos de peixes: um osso de Thynnus, um maxilar de Labrax lupus, esqueletos
de Scioena aquila.

6.1 Características das artes de pesca


A arte de pesca desenvolveu-se no período paleolítico, com a invenção do anzol, que a princípio
era reto, com duas pontas cortado em osso, numa concha de moluscos ou fabricados com
espinhos. Esse instrumento não tardou a se aperfeiçoar; no período neolítico, encontramos o
verdadeiro anzol recurvado, que era preso a lianas ou a espécies de cordas feitas com as tripas
de animais. E, na idade do bronze, toda a série de anzóis de todos os tamanhos que conhecemos
hoje, eram usados.

Todas as variedades de redes utilizadas ainda em nossos dias estavam em uso então: redes de
superfície, redes flutuantes, redes de arrastão amarradas em barcos, redes fixas de fundo, redes
de espera, tarrafas, caniço, linha solta ou de vara, espinhel armadilhas como covo, puçá, etc. Com
o progresso da navegação, verifica-se o desenvolvimento da pesca.

6.2 Confecção das artes de pesca


A época do apogeu do período neolítico, o homem fiava e tercia o linho. Fabricava corda e
confeccionava redes; também a arte e a indústria de pesca tomaram um impulso considerável. As
redes dessa época eram em alguns pontos semelhantes às nossas: como flutuadores, fragmentos
de casca de pinheiro; como chumbo, pedrinhas: as malhas eram quadradas, grandes para a
captura de certos peixes, menores quando se tratava de espécies pequenas.

* Médico Veterinário, Chefe do Centro de Pesquisas Ictiológicas “Rodolpho von Ihering”, do DNOCS - Caixa Postal 423 - 60.035 -
Fortaleza, Ceará, Brasil.

Os utensílios de pesca são confeccionados com fibras naturais e/ou material artificial. As fibras
têm que se apresentarem com as seguintes características: a) resistência ao manuseio da pesca;
b) durabilidade; c) suportar constantes imersões na água; e d)suportar constantes exposições ao
sol.

Os fios de origem natural utilizados na pesca pertencem ao grupo dos seguintes vegetais: sisal,
manilha, canhono e algodão.

Os fios artificiais ou sintéticos surgiram pela primeira vez em 1889 com o nome de seda artificial.
Em 1938 os americanos descobriram o “nylon 66”.

As armadilhas de pesca que não são confeccionadas com estes tipos de fibras ou fios, são com
aramas, talo de carnaúba e taliscas de madeira especial.

6.3 Emprego das artes de pesca


Praticamente as pescarias comerciais e/ou artificiais se realizam em cursos médio, baixo e ainda
também se efetuam operações de pesca em algumas áreas do curso superior do rio. Nas
represas e nos açudes de grandes e médias capacidades são practicadas em áreas piscosas.

Várias são as artes de pesca utilizadas pelos pescadores, principalmente ra região nordestina
onde a condição econômica tem limitada o avanço tecnológico.

Os utensílios de pesca são escolhidos conforme as condições particulares de cada coleção


d'água e também conforme os meios dos pescadores.

6.3.1 As redes de arrasto e de espera

As redes de espera, de emalhar, galão ou engancho são feitas de uma panagem retangular cujo
comprimento pode variar de 20 e 30 metros ou até mesmo 100 metros e cuja altura é de 1 a 3
metros. A panagem é estendida entre duas linhas ou cordões: uma linha superior munida de
flutuadores e uma inferior, com um lastro ou chumbada. Graças aos flutuadores e ao lastro, a
panagem mantém-se verticalmente na água. Os peixes ficam emalhados pelo opérculo e sem
possibilidade de escapar. Não obstante, muitos peixes são capturados por ficar emalhados pela
parte central do corpo e outros porque o fio da rede se envolve com osso maxilar ou com os
dentes.

As redes em que os peixes ficam emalhados têm tamanho de malhas que variam segundo a
classe de peixe que se quer capturar. As que são mais comumente utilizadas tem entre 3 e 6 cm
de nó a nó. Estas são fabricadas de fio fino, geralmente de polietileno. Quanto mais fino for o fio,
mais peixe apanha a rede, mas, em contrapartida, ela estraga-se mais rapidamente. O
relacionamento entre os flutuadores e as chumbadas podem permitir três posições da rede:
próximo a superfície, à meia-água e no fundo. Estas redes são geralmente lançadas à noite e
recolhidas de manhã, porque apanham muito mais peixe de noite do que de dia.

As redes de arrasto, contrariamente às redes de malha, que são lançadas num local fixo, as redes
de arrasto são redes que se puxam.

São constituídas por uma panagem cujo comprimento pode atingir 200 a 300 metros e cuja
largura, compreendida entre 1 e 8 ou 10 metros, é geralmente maior na parte central do que nas
extremidades. Para pescar nas reservas de águas superficiais, podem utilizar-se redes de arrasto
de um comprimento compreendido entre 50 e 150 metros, com uma largura de 2 a 6 metros. O
bordo superior da panagem é constituído por uma linha munida de uma chumbada ou lastro. Nas
extremidades da panagem, as linhas estão ligadas a cordas de tração. Geralmente é conveniente
usar malhas de 3 a 6 cm de nó a nó, que devem ser menores na parte central.

Para ser lançada, a rede é posta num barco e dobrada da mesma maneira que uma rede de
malha. O barco parte do ponto A, onde fica o pescador, que segura a extremidade de um dos
cabos de tração. O barco descreve um arco de círculo imergindo pouco a pouco a rede na água.

Volta à margem no ponto D com a extremidade de um outro cabo de tração. Os pescadores


puxam os cabos em A e D caminhando ao encontro uns dos outros ao longo da margem.

Quando as extremidades da rede chegam à margem, um dos pescadores puxa a linha inferior
enquanto os outros seguram a linha superior, prestando atenção para não puxarem mais
depressa de um lado que do outro. Quando a rede chegar quase à margem, os peixes têm
tendência a saltar para escaparem, deve então levantar-se a linha superior acima da água.

6.3.2 As tarrafas
É um aparelho simples e prático para captura de peixes. Sua forma é cônica, sendo
confeccionada com linha de “nylon” 0,20 mm ou seja, linha 20. A malhagem é variável, sendo a
mais usada a de 50 mm, tal como na rede de espera, é medida entre dois nós. Para permitir uma
perfeita utilização, na extremidade do fechamento do cone é colocado um cordel de grande
comprimento, o qual ficará preso à mão do pescador. A extremidade oposta é livre e bem circular
e dotada de saco. Neste local é colocada a chumbada o que permitirá a descida rápida do
aparelho e em forma de círculo, para aprisionar os peixes.

Nos açudes do Nordeste o limite médio encontrado das tarrafas são de 2,0 a 2,7 metros, e malhas
de 50 mm. As tarrafas, são tão conhecidas em toda parte, são naturalmente utilizáveis em todas
coleções d'água.

6.3.3 As linhas e anzóis

Apesar de que estes tipos de artes são de grande utilidade em suas distintas formas na pesca
moderna, sua origem é muito antiga, como já foi dito acima, tem sido provavelmente usadas por
todos os povos primitivos.

Vários são os aparelhos em que se usam anzóis iscados. Constam, essencialmente, de um ou de


vários anzóis unidos a diversos dispositivos e que atraem os peixes por meio de iscas colocadas
nos anzóis. A linha de mão é um instrumento desta classe e está constituída por um fio ao qual se
une um ou vários anzóis iscados. Neste caso se usam linhas secundárias a partir da linha
principal, colocando-se, nas extremidades daquelas os anzóis iscados; na extremidade da linha
principal se faz necessário. Geralmente se emprega este tipo de arte para captura de espécies de
fundo, que vivem sobre as rochas ou em bancos de corais, nos quais é difícil a utilização de
espinhéis de anzóis que fiquem em contato com o fundo.

É comum em nossos açudes os pescadores usarem a linha solta, e outra modalidade também que
é o caniço, o qual consta de uma simples estrutura (vara) de bambú e/ou outro material que em
uma de sua extremidade tem uma linha, com uma pequena chumbada e em seguida o anzol. Esta
arte é usada tanto em embarcações como nas margens, a pé.

6.3.4 Espinhel de anzóis

É uma aparelho de pesca muito simples, muito usado nos açudes do Nordeste brasileiro, podem
ser considerados como uma modificação do tipo anterior, no qual a linha principal se mantém
horizontalmente. Na pesca com este tipo de arte há necessidade do uso de âncoras ou pedras
que se colocam flutuadores em conexão com a linha principal. Via de regra, o flutuador está
provido de uma ou mais bandeirola ou mesmo lanternas, isto em alguns casos, para facilitar a
localização. A distância entre uma linha secundária e outra, deve ser suficiente grande para evitar
o entralaçamento de anzóis uns com os outros. O comprimento da linha principal é em
consequência do número de anzóis, pode ser até de quilômetros e de centenas de anzóis e neste
caso há necessidade de se usar um maior número de flutuadores e âncoras. Existe uma grande
variedade de tipos de espinhéis de anzóis dentre os que operam acerca da superfície, à meia
água e no fundo.

Existem os espinhéis mais simples que são constituídos da linha principal de “nylon” no 120 e seu
comprimento varia em torno de 100 a 200 metros, a qual fica presa nas duas extremidades. Desta
linha, partem as secundárias de menor diâmetro e de comprimento entre 70 a 90 cm e na
extremidade são encastoadas com arames e um pedaço de borracha de câmara de ar para evitar
que o peixe fisgado corte a linha. A distância de uma linha secundária e a outra é de
aproximadamente entre 1,6 a 2,0 metros. O anzol a ser colocado varia de número e de acordo
com o tipo de peixe a ser capturado, assim como a isca.

A pescaria com o aludido aparelho é iniciado no começo da noite e retirado na manhã do dia
seguinte, igualmente como se faz com a rede de emalhar.
6.3.5 Covos

O objetivo final destes tipos de arte de pesca consiste em colocar o peixe em situação tal que não
seja possível escapar ou cujas saídas não seja facilmente praticável. Entre estes tipos de artes se
encontram os covos, os currais-de-pesca, as “almadobras” e as barreiras e/ou tapagens.

Os covos são pequenas armadilhas de grande variedade: retangular, semi-cilíndricas; pode ser
construído de madeira, arame, fio de “nylon” e/ou de algodão e taliscas de madeira, facilmente
transportável, nas quais os animais entram através de uma abertura. Podem estar providos ou
não de iscas. Geralmente são utilizados para capturas de lagostas, camarões, caranguejos, sirís e
peixes de fundo. Aparelhos deste tipo são os empregados na pesca de lagosta no Nordeste
brasileiro.

6.3.6 Choque

É um tipo de aparelho de pesca, considerado como armadilha. A sua estrutura é de característica


cilíndricacônica, cujas as extremidades são abertas e de diâmetros bem diferentes. Na sua
confecção utiliza-se taliscas de madeira com comprimento de 50 cm de altura; elas são amarradas
em terreno com duas argolas de madeira sendo uma com 40 cm de diâmetro e a outra com 20
cm; amarração pode ser feita com linha de “nylon” ou outro material resistente.

Este aparelho é usado em águas rasa dos lagos e açudes os pescadores vão margeando e
introduzindo na água o aparelho até encontrar-se com o solo, a fim de apreender peixes ali
existentes. No Nordeste é usado muito para a pesca da traíra, Hoplias malabaricus.

A despesca é realizada pelo pescador, introduzindo seu braço na parte superior do aparelho e
procura capturar o peixe com a mão dentro do mesmo.

6.3.7 Bóia ou poita

Este tipo de aparelho de pesca é usado por pescadores em toda a região nordestina, e também
usado em águas mais ou menos rasas em açudes, lagos e lagoas.

A bóia ou poita é composta de uma linha de “nylon” de número variando entre 30 a 50, o
comprimento pode ser de 1 a 2 metros de conformidade com a profundidade da água e do
sistema do pescador.

O número do anzol pode variar dependendo da espécie de peixe preferido pelo pescador,
atualmente, para traíra, H. malabaricus, os mais usados são, 7,8 e 9, aliás esta arte de pesca é
mais usada para esta espécie.

O flutuador é a cabeça do talo da carnaubeira, Copernia cerifera. O pescador fabrica de 50 a 100


bóias e sua colocação é feita de canoa distribuindo em áreas de sua preferência e já conhecidas.
A colocação é feita pelo fim da tarde e a despesca pela manhã do dia seguinte, de preferência ao
amanhecer. A captura é muito difícil porque quando o peixe está fisgado ele se desloca para o
outro local então a bóia acompanha-o e muitas vezes o pescador vai encontrá-la em locais mais
distantes, entre vegetação aquática ou mesmo entre garranchos.

6.3.8 Arpão e espingarda-arpão

É um procedimento de pesca com o qual os peixes são atravessados por pontas aguçadas.

Pode-se empregar somente quando os peixes que se quer capturar sejam perfeitamente visíveis.
O arpão, a lança, etc., são artes de pesca muito antigas e que se utilizam especialmente quando
os peixes de grande tamanho se concentram em uma pequena zona. Estão constituídas por uma
cabeça de metal com uma ou várias puas geralmente barbadas e um cabo que varia de 1 a 2
metros de comprimeto e um diâmetro de 1 1/2". A cabeça deve estar unida ao cabo por uma
pequena corda, cuja extremidade deve ser mantida em mãos do pescador e serve para puxar o
pescado capturado.

Para ser usado este tipo de aparelho de pesca é necessário uma canoa e dois pescadors, um
remando lentamente no local destinado a pescaria e o outro em pé, na proa do canoa, com o
arpão olhando constantemente para ver a hora em que o peixe vem a superfície, neste momento
ele lança o arpão. É muito empregada esta modalidade de pesca em todos os açudes do
Nordeste brasileiro, principalmente na captura do pirarucu, Arapaima gigas. A espingarda-arpão
obedece a mesma técnica do arpão, apenas é utilizado uma espingarda de calibre 36 mm, na qual
se põe uma lança de ferro dentro do cano e abaixo da cabeça da lança é colocado uma bóia e
mais abaixo uma corda e sua extremidade fica ligada a canoa do pescador. Esta arte de pesca foi
idealizada por um guarda de pesca, Sr. Manoel Bezerra da Silva, do açude Público “Boqueirão de
Piranhas” no Estado da Paraíba.

6.3.9 Descarga elétrica

Este método de pesca tem sido utilizado durante algum tempo, principamente para fins de
investigação, porém, não se tem empregado com fins comerciais. No entanto, na atualidade, já
existem artes como os arrastos, aos quais são atrelados aparelhos que utilizam para esta
finalidade.

6.3.10 A pesca de batido: técnica, vantagens e efeitos prejudiciais

A pesca de batido tem uma finalidade de capturar mais peixe através dos ruídos ou sons, os quais
afugentam os peixes em direção as redes de emalhar.

A técnica usada é com vara grande em que na canoa, depois de lançar a rede na água, um
pescador rema a canoa e o outro na proa faz o batido da vara na água, com bastante força pode
ser usado também dois pequenos paus (porretes) que batem na parte superior do bordo da
canoa; também com duas pedras o pescador emerge suas mãos com as pedras e faz o som
embaixo da água o qual vai diretamente através das ondas sonoras para o ouvido do peixe
(otolitos) pelo sistema nervoso e finalmente amarram várias latas em uma corda, na popa da
canoa e saem fazendo barulho. Esta técnica faz com que os peixes afugentados corram para as
malhas das redes fazendo grandes colheitas de pescado durante um dia de pescaria. Tendo
assim vantagens e lucros nesta modalidde de pescaria.

No entanto, o batido traz grandes prejuízos aos pescadores profissionais, devido aos peixes terem
se acostumado com estes sons e não mais procuram as redes e sim esconder-se entre as
vegetações aquáticas, flutuantes emersas e rochedos para não serem capturados.

6.4 Embarcações pesqueiras: tipos e usos


A embarcação usualmente empregada nos açudes do Nordeste brasileiro é canoa a remo. É feita
de madeira denominada “pau branco”, Auxema oncocalyx Taub., e tem geralmente comprimento
que varia de 3,0 a 4,5 metros; os remos são também de madeira e o tamanho variando de 1,5 a
2,0 metros. O valor de tal embarcação depende de sua dimensão e do tipo de madeira
empregada na sua construção, dependendo disso a vida útil gira em torno de três ou mais anos.

As canoas são de dois tipos, fundo chato e de caverna, são embarcações comuns nos açudes em
toda a região nordestina, servem como meio de transporte do pescador no seu local de trabalho
às pescarias, é também usada, nos dias de feira para transportar sua pequena produção de
pescado ou de alguns cereais, legumes e/ou mesmo pequenos animais.

PARTE7.
PROCESSAMENTO E CONSERVAÇÃO DO PESCADO
José Raimundo Bastos*

7.1 Salga e Secagem do Pescado

7.1.1 Introdução

A salga é um dos mais tradicionais métodos de preservação de alimentos. A sua aplicação em


peixes remonta às civilzações do Antigo Egito e da Mesopotâmia, há 4 mil anos A.C. Atualmente
este processo tem ampla aplicação, tendo no Canadá, lslândia e Noruega os mais importants
produtores de pescado salgado, Beatty (1957).

Genericamente falando, salga é uma combinaçães que visam a preservaçães do peixe pelo sal
comum, tendo início na sua lavagem e evisceração finalizando com a embalagem do produto
salgado. Pode também ser considerada com um processo físico-químico no qual verifica-se a
penetração do sal e a saída de umidade do músculo, produzindo uma perda de peso. A
penetração do sal e à saída de água denomina-se processo osmótico, o qual termina quando não
mais se verifica a ocorrência de ambos, dizendo-se que neste caso estabeleceu-se o equilíbrio
osmótico do processo de salga, o que significa na prática, o seu fim. O período durante o qual o
peixe permanece em contato com o sal em forma cristálina ou em solução salina é o tempo de
salga ou tempo de cura pelo sal, Zaitsev (1969).

7.1.2 Matéria prima para a salga

A matéria prima para a salga deve apresentar uma qualidade elevada, condição para um produto
adequado para o consumo, Zaitsev (1969). Considerando este aspecto, alguns autores
recomendam cuidados especiais com o produto capturado. Burgess (1971) descreve as etapas do
processo de manipulação do pescado à bordo e em terra, afirma ainda que um correto uso do
pescado no barco tem por finalidade conservar o seu estado de fresor inicial, não se produzindo
alterações consideráveis na qualidade do produto capturado até o memento do processamento.

Para a verificação da matéria prima no tocante à sua qualidade, submete-se a mesma à testes
sensoriais químicos e bacteriológicos. Tendo em vista a rapidez da execução, bem como a sua
confiabilidade, os testes sensoriais são bastante empredgados para a avaliação da qualidade do
pescado após sua chegada a indústria, de acordo com os procedimentos recomendados por
Shewan (1953).

* Professor Adjunto do Curso de Engenharia de Pesca, Centro de Clênis Agrárias da UFC- Campus do Pici-60.000-Fortaleza, Ceará,
Brasil.

Toda a matéria prima aprovada nos testes acima é então encaminhada ao salão de
processamento onde os peixes são escamados (peixes com escama) ou removida a pele (peixes
com pele), eviscerados, espalmados (com ou sem cabeça). As operaçães acima são precedidas
por lavangem da matéria prima com água clorada a 5 ppm.

7.1.3 Princípios básicos da salga

A salga é um método de preservação baseado na penetração do sal no interior dos tecidos, o que
é governado por fatores físicos e químicos, tais como a difusão e a osmose, e uma série de
complicados processos bioquímicos associados com mudanças em vários constituintes dos
peixes, principalmente as proteínas, Sanchez (1965). Tais processos são observados quando o
nível de sal no músculo atinge 8 a 10%, verificando-se a partir desta concentração uma redução
da solubiidade das protcinas e da capacidade de retenção de água nos tecidos, Lassen (1965).
Segundo Sanchez (1965), o sal não é um preservativo no sentido estrito da palavra, mas sim tem
uma ação preservativa, extraindo água ao mesmo tempo em que penetra nos tcidos do músculo
do pescado, convertendo, convertendo estes líquidos em uma solução concentrada de cloreto de
sódio, quando há penetrado suficiente sal, as proteínas coaguláveis se estabilizam e os tecidos do
peixe se contraem pela perda da água. A pentração do sal e a saída da água é um típico exemplo
de osmose, na qual a pele e membranas celulares atuam como superfícies semipermeáveis. O
sentido do fluxo é sempre da soluçáo fraca para a forte, até que se estabeleça o equilíbrio entre
ambas, o que indica o fim do processo de salga.

Durante a salga ocorre desnaturação das proteínas do pescado, verificando-se o desdobramento


destas em peptídeos e aminoácidos este fato também é observado para as gorduras do pescado.

7.1.4 Métodos de salga

A salga é praticada por métodos artesanais e industriais, mediante a aplicação dos processos
conhecidoscomo a salga seca, salga úmida ou em salmoura e salga mista, Zaitsev (1969). Além
dos processos acima, outros são descritos com a denominação de salga rápida, Anderson (1972),
Del Valle(1973) Mendelson (1974), o processo gaspê canadense e o “klépfish” - norueguês,
Burgess (1971). Outros autores defendem o processo de salga e secagem natural e/ou artificial do
pescado, Noguchi (1972), Bastos (1977).

A escolha do processo de salga é optativa por parte dos produtores de peixe salgado, entretanto,
alguns fatores de natureza econômica e/ou de conservação para determinados produtos são
limitantes, havendo portanto a necessidade de adoção de processos mais adequados para o
aproveitamento racional de determinados produdos.

Em qualquer processo utilizado, a salga termina quando se estabelece o equilíbrio osmótico do


processo, observando que tal equilíbrio poderá ocorrer num período que vai de dois a vinte dias.
Para reduzir esse período, alguns autores idealizaram o processo de salga rápida, no qual a salga
tem um tempo de duração de aproximadamente oito horas, Del Valle(1973).

7.1.5 Salga seca

Pelo processo de salga seca, o peixe é salgado na proporção de 30% de cloresto de sódio em
relação ao peso da matéria prima eviscerada, espalmada em forma de filés ou mantas. Por esse
processo, o cloreto de sódio cristalizado é colocado sobre o peixe, onde se dissolve formando
uma solução concentrada. Por osmose, a umidade do peixe exuda, e uma parte do sal penetra no
seu músculo, Sanchez (1965). Este processo tem as seguintes vantagens:

a. Um forte efeito desidratante;


b. A velocidade de penetracão do sal é muito rápida, o que protega o peixe da
deterioração desde o início do processo.;
c. Este processo pode ser praticado em barcas comuns.

Desvantagens do processo acima:

a. A penetração do sal não é homogênea e a forte desidratação produz uma grande


desnaturação produz uma grande desnaturação, verificando-se como consequência uma
aparência desagradável e um baixo rendimento do produto elaborado. O produto também
está sujeito a oxidação da gordura, Noguchi (1972).
7.1.6 Salga úmida ou mista

O método de salga úmida é basicamente igual ao anterior, com a differença que a matéria prima é
colocada em tanques, onde se acumula uma salmoura obtida a partir da umidade do músculo do
peixe, devido a penetração do sal.

A salmoura é formada pela dissolução do sal as custas da água que exuda do músculo do peixe.

7.1.7 Salga em salmoura

A matéria priva é colocade em tanques onde se encontra uma salmoura saturada, previamente
preparda, em quantidade suficiente para submergir a matéria prima. Durante este processo a
água do músculo do peixe flui no sentido da salmoura, diliundo-a. Tendo em vista este problema
devemos medir a concentração de sal na salmoura e adicioná-lo a fim de manter a referida
salmura sempre saturada, Sanchez (1965).

Para isso devemos efetuar o seguinte cálculo:

A porcentagem da concentração de uma solução é expressa pela fórmula:

onde:

S = Concentração de sal
W = Concentração de água, Zaitsev (1969).

A solubilidade do cloreto de sódio à 20°C é de 36g em 100g de água; aplicando a fórmula acima,
teremos a quantidade de sal necessána para uma solução saturada de cloreto de sódio:

Portanto, sabemos que 26g de sal à temperatura de 20°C correspondem à quantidade


teoricamente necessária para saturar 74g de água (26 partes de sal/74 partes de água).

Obs: Para efeito de segurança usa-se 30% de sal/74 de água, Sanchez (1965).

7.1.8 Vantagens do processo de salga em salmoura úmida ou mista

a. A oxidação das gorduras pelo oxigènio do ar durante o processo de salga é evitada;


b. A concentração do sal na salmoura poderá ser ajustada;e
c. A desidratação do produto é moderada, Noguchi (1972).

7.1.9 Salga rápida

Este processo é praticado segundo técnica descrita por Del Valle (1973), na qual a matéria prima
é moída simultaneamente com o sal, a seguir homogeineiza-se o sal com a carne moída. A
matéria prima é então prensada, obtendo-se um produto comprimido em forma de bolo, que é
submetido a seguir à uma secagem natural.

O bolo salgado e seco é utilizado como fritura doméstica.


7.1.10 Salga tipo Gaspê

Este produto é produzido na península de Gaspê, provincia de Quebec, e em outras partes do


Canadá da seguinte maneira: Os peixes são eviscerados, descabeçados e slgados em tonéis de
aproximadamente 90 cm de diâmetro, na proporção de 7 a9%. No período de clima mais quente
deve-se adicionar mais sal. O peixe e o sal são dispostos em camadas alternadas até encherem o
tonel. Após 24 horas de salga já terá formado suficiente salmoura, e neste caso devemos pôr
pesos (madeira) para conservar o pescado sempre submerso. Transcorridas 48 a 72 horas,
retiramos o peixe do tonel, lavamos na própria salmoura, empilhamos para que escorra o excesso
de umidade e, finalmente, submetemos o produto salgado á uma secagem natural ou artificial.

7.1.11 Salga “klipfish”

Este processo é praticado na Noruega e lslándia; é uma variedade de uma forte salga seca, onde
coloca um excesso de sal de tal maneira que duas camadas de peixe sobrepostas não possam se
tocar. Esta salga é mantida apenas durante 3 ou 5 dias, Burgess (1971).

7.1.12 Fatores que podem influenciar o processo de salga

A salga poderá ser influenciada por uma série de fatores, relacionados ao próprio sal, à matéria
prima destinada à salga e até à fators climáticos. Entre estes fatores relacionados ao sal, temos a
pureza, a concentração granulométrica e de microflora do sal; os fators relacionados à matèria
prima: o índice de frescor conteúdo de gordura, espessura do músculo; entre os fatores
relacionados ao clima temos temperatura ambiente e umidade relativa.

Fatores relacionados ao sal:

a) Pureza do sal

Para se produzir um peixe salgado de boa qualidade, é necessário que seja utilizado também um
sal de boa qualidade na salga do produto. Segundo o Instituto Nacional do Sal, um sal de boa
qualidade é aquele que contém 98% de cloreto de sódio. Com relação ainda à qualidade do sal,
alguns autores recomendam que o mesmo tenha 99% de cloreto de sódio e impurezas devido aos
sais de cálcio e magnésio, nunca superiores a 0,4 e 0,05%, respectivamente, Sanchez (1973),
Vieira (1967).

Estas impurezas causam brancura, rigidez e ligeiro sabor amargo no pescado salgado, Sanchez
(1965). Este autor afirma ainda que os compostos de ferro e cobre em proporçães superiores a
30ppm e 0,2 a 0,4ppm, respectivamente, causam manchas de cores marrom e amarelo no
pescado salgado.

7.1.13 Concentração do sal

A concentração do sal é fator limitante d sua penetração nos tecidos musculares do peixe. Assim,
quanto mais elevada for a concentração do sal, maior será sua penetração nos tecidos, aré que
seja estabelecido o equilíbrio osmótico do processo de salga.

7.1.14 Granulometria do sal

Com relação a granulómetria, o sal tem maior ou menor eficiência na penetração e conservação
do pescado. O sal fino, constituído por pequenos cristais, tem uma penetração rápida no início do
processo, diminuindo o seu poder penetrante face à concentração que ocasiona a coagulação das
proteínas da superfície do músculo, contribuindo para uma conservação deficiente do produto.
O sal grosso atua lentamente, e não se verifica a coagulação das proteínas; entretanto, a sua
lenta ação ao longo do processo de cura conduz à alterações indesejáveis, principalmente se a
salga for processada em dias quentes. Para uma salga mais adequada e, para eliminar os
problemas acima, recomenda-se a utilização de partes iguais de al fino e al grosso, Freixo (1961).

7.1.15 Microflora do sal

O sal é portador de uma flora contaminante, halófila ou haloresistente considerável, salientando-


se entre estes microorganismos as sarcinas, halófilas cromogênicas causadores da coloração
vermelha indesjável em produtos proteícos salgados. Nem todos os germes halófilos são
prejudiciais aos produtos salgados, verificando-se entre eles a ocorrência de algumas espécies
que contribuem para a maturação desses produtos, Schneider (1960 a 1963). Entre as espécies
de interesse da indústria da salga, podemos citar algumas pertencentes aos gêneros
Halobacterium e Micrococus. As primeiras são halófilas obrigatórias, crescendo em meios com
16 a 32% de cloreto de sódio, enquanto as Micrococáceas crescem em meios contendo 5 a 15%
deste sal, Breed (1957).

7.1.16 Fatores relacionados à matéria prima

a. índice de frescor

Para a obtenção de um peixe salgado de boa qualidade, devemos processar apenas


peixes em condições sanitárias adequadas. Peixes salgados em estado de “rigor mortis”
perdem menos peso do que salgados em estado de “autolisis”, Zaitsev (1969).

Além deste aspecto, devemos eviscerar a cavidade abdominal com a finalidade de


introuzir as ações bacterianas e enzimática, Noguchi (1972).

b. conteúdo de gordura

O índice de penetração do sal nos tecidos do peixe é inversamente proporcional ao


conteudo de gordura do músculo. Além de retardar o processo de saíga, a gordura ainda
produz a rancidez que confere sabor desagradável ao peixe. O bacalhau, quando salgado
e seco, possui um teor de gordura da 25% esta quantidade de gordura é totalmente
rancificada, o que confere ao bacalhau sabor peculiar e próprio de gordura rançosa, Beatty
(1958).

c. espessura do músculo

Quanto maior for a espessura do músculo, mais longo será o tempo de salga. Isto porque,
por maior que seja a velocidade de penetração do sal, este terá de percorrer um longo
percurso até chegar ao centro do filé.

7.1.17 Fatores relacionados ao clima

a. temperatura ambiente

A temperatura do ambiente onde se processa a salga é de grande importância, pois


sabemos da sua influência acelerando a salga; quanto mais elevada for a temperatura,
mais rapidamente se dará o processo.

b. umidade relativa

No inverno o processo de salga se desenvolve com maior velocidade do que no verão,


devido a eievada umidade relativa do meio ambiente; favorece assim a rápida formação de
salmoura e, consequentemente, uma rápida penetração do sal no músculo do peixe,
Sanchez (1973)

c. ação preservativa do sal

Quando o sal comum entra em contato com o músculo do peixe em suficiente quantidade,
paralisa a autólise e a decomposição. Sua ação preservativa repousa na capacidade que
tem o cloreto de sódio de produzir uma elevada pressão osmótica nas células becterianas,
dando como consequência o sue rompimento ou plasmolise. Atualmente sabe-se que o sal
comum não apenas causa a plasmolise como também bloqueia o núcleo das proteínas,
desnaturando as enzimas. Sua ação preservativa se manifeta mediante alterações
provocadas na estrutura das proteínas e enzimas, tornando estas substâncias inativas. O
cloreto de sódio possui ação bacteriostática e bactericida, ou seja, paralisa o crescimento
e causa a morete das bactérias, Zaitsev 91969).

7.1.18. Estabilização das proteínas em função do conteúdo de sal nos tecidos


do pescado.

De acordo com o método de salga empregado, o sal começa a difundir-se dentro de 72 a 74% de
água retirada pelas proteínas do pescado. À medida que o sal penetra nos tecidos, começa
tembém a inibição das bactérias e a coagulação das proteínas, quando o nível de sal atinge 10%
no músculo. Tão logo isto ocorre, parte da água retirada sai fora do músculo pela ação osmótica,
tendo então início a formação de salmoura.

O sal continua gredativamente penetrando no músculo, paralelo ao processo de formação da


salmoura. Após 3 ou 4 dias, o conteúdo de sal poderá atingir 13 a 15% no centro do músculo,
Sanchez (1965); este autor considera ainda que com esta porcentagem o pescado está salgado,
isto é, as proteínas estão estabilizadas.

Quando o conteúdo de cloreto de sódio no músculo atinge níveis de 14 a 16%, a água do peixe
deverá ter sido reduzida em torno de 52%.

7.1.19 Empilhamento do pescado salgado

Quando a salga chega ao fim, retira-se o peixe e lava-se em uma salmoura fraca, para que se
elimine alguma matéria estranha aderida ao excesso de sal. A seguir o peixe é empilhado em
estrados de madeira com o lado da carne para baixo; a altura do estrado é de aproximadamente
15 cm, enquanto que a pilha dos peixes deverá atingir em torno de um metro de altura.

O objetivo desta operação é diminuir o excesso de umidade (salmoura), e ainda conferir ao


produto uma superficie suave, favorecendo posteriormente a operação de secagem.

7.1.20 Secagem do pescado salgado

a) introdução

A salga é um método de preservação peixe uma operação preliminar para os processos de


defumação e secagem.

A ação isolada do sal não constitui uma prevenção definitiva contra a deterioração do pescado,
sendo necessária uma complementação através da refrigeração, defumação ou secagem dos
produtos salgados, Botelho (1968). A secagem pode ser efetuada por métodos naturais e/ou
artificiais. No primeiro caso a secagem se realiza expondo-se o pescado ao sol e ao vento,
enquanto a secagem artificial é procedida em secadores onde as condições termodinâmicas são
preestabelecidas.
7.1.21 Secagem natural do pescado salgado

A secagem ao ar livre só é efetiva quando a umidade relativa é baixa, quando há calor solar e
movimento do ar, Beraquet (1974). O produto elaborado por este processo tem uma umidade
média final da ordem de 50%, o que determina um tempo de conservaçãó limitado, Botelho
(1971–1972).

Além desta desvantagem, esse método ainda apresenta os seguintes inconvenientes:

a. Depende de condições climáticas, o que impossibilita uma previsão da produção;


b. Os processos de oxidação ocorrem com maior intensidade em virtude da exposição
dos produtos ao ar, verificando-se ainda reações de peroxidação, catalizadas pela
radiação ultravioleta; e
c. Em climas tropicals poderá haver uma dissecação drástica do produto.

A principal vantagem do processo de secagem natural consiste na utilização da energia solar


gratuita, Beatty (1958).

7.1.22 Secagem artificial do pescado

A secagem controlada do pescado foi iniciada em 1940, pela Torry Research Station (Inglaterra),
mediante c uso de equipamento dotado de condições termodinâmicas de secagem controladas.
Para alcançar tal objetivo, foram experimentados vários modelos de secadores, citando-se entre
eles os de camisa de vapor, de vapor, de rolos e secadores providos de ar quente, constituindo
este último o modelo mais adequado para a secagem de produtos marinhos, Burgess (1971).
Atualmente vários modelos de secadores são usados em diferentes países. No Japão, a indústria
pesqueira utiliza estufas, ferros e secadores rotativos para a secagem de peixes e farinha de
pescado, respectivamente, Tanikawa (1965).

A secagem artificial reduz o conteúdo de umidade do produto até níveis adequados para a sua
conservação, Jarvis (1950). De acordo com o nível de concentração água, os produtos marinhos
salgados e secos classificamse em dois tipos:

a. Produtos em que a secagem alcança níveis impriós para o crescimento microbiano,


podendo seren conservados à temperatura ambiente por longo tempo; e
b. Produtos em que a perda de umidade não atingiu os níveis finais da secagem,
ficando apenas parcialmente secos; neste caso, esses produtos devem ser conservados à
baixas temperaturas para que seja evitada a sua deterioração.

Um produto efetivamente seco é aquele em que o conteúdo de umiade residual é inferior a 25%,
enquanto um produto parcialmente desidratado é o que tem a sua umidade residual em torno de
50% sendo considerado, por fim, um produto ótimo aquele; em que sua umidade está na faixa
compreendida entre 35 e 40%, Sanchez (1965). No processo de secagem é necessário que se
conheça a temperatura em questão, a umidade relativa e a velocidade do ar dento do secador ou
ambiente condicionado, Jason (1965).

Para as variáveis acima, também chamadas de condições termodinâmicas de secagem, alguns


autores recomendam para a temperatura de secagem porcentagens entre 30 e 40°C, 45 a 55% de
umidade relativa e 1 a 3 m/s para a velocidade do ar dentro do acondicionador, Beatty (1957),
Jason (1965) e Legendre (1953).

7.1.23 Princípios básicos da secagem

Denominamos velocidade de secagem à quantidade de água removida por unidade de tempo,


sendo que esta quantidade expressa em hg/h.
A operação consiste em dois fenômenos físicos distintos:

a. A evaporação da água de superfície; e


b. Passagen da água do cento do produto que se deseja secar até a sua superfície.

Considerando que a velocidade e distribuição do ar sejam uniformes, distinguiremos duas


diferentes etapas de secagem, a saber:

a. Período de velocidade constante; e


b. Período de velocidade decrescente.

Durante o període de velocidade constante, a superffcie do pescado se encontra úmida e a


secagem depende apenas das condições do ar que circunda a matéria prima, quais seja, sua
velocidade, temperatura e conteúdo de umidade. Possuindo o ar estados adequados de secagem,
a evaporação da água da superfície procede como se a matéria prima não estivesse presente,
tendo o pescado que assumir uma temperatura correspondente à temperatura do bulbo úmido do
ar circundante. O período de velocidade constante é muito curto, enquanto o de velocidade
decrescente é bastante prolongado, Sanchez (1965), Burgess (1971).

O conteúdo umidade que divide as duas estapas se denomina umidade crítica de secagem. No
período de velocidade constante, verifica-se que o peixe seca gradativamente; à medida que
prosseque o processo de secagem a umidade de superffcie vai sendo removida e reduzida, até
que a superffcie do pescado torne-se seca. A partir dai, a água evaporada provém de partes do
peixe localizadas abaixo da superfície, o que torna o processo de secagem mais lento; tem então
iníodo de velocidade decrescente.

Considerando que a superfície está seca, a água a ser evaporada terá que se deslocar dos
pontos do interior do músculo, distantes da superfície, seguindo portanto um caminho longo,
fazendo com que o processo ocorra lentamente.

O período de velocidade descrescente tem prosseguimento até que se estabeleça o equilíbrio


entre a pressã de vapor do material úmido e a pressão do vapor do ar circundante, que depende
principalmente do conteúdo de umidade do ar. Neste ponto éimpossível a remoção da água do
pescado.

Durante os períodos de velocidade constante e descrescente, a magnitude da velocidade de


secagem depende do coeficiente de transmissão de calor, que pode ser calculado considerando-
se a área média do pescado exposta à secagem e diferença de temperatura entre o bulbo seco o
bulbo úmido. Estas variáveis externas são influenciadas pelas temperatura, umidade relativa do
ar, velocidade do ar e a disposição do material para a secagem, Sanchez (1965) e Burgess
(1971).

A evaporação da água produz uma redução na temperatura; este fenômeno é denominado de


resfriamento evaporativo. A temperatura do pescado, que está baixando, alcança após algum
tempo um valor estacionário; esta temperatura estacionária, sempre inferior à temperatura do ar e
acusada na escala do termômetro de bulbo seco, é medida pelo termômetro de bulbo úmido. A
diferença entre as temperaturas de bulbo seco (ar) e bulbo úmido (evaporação) é chamada de
depressão do bulbo úmido.

A magnitude de depressão do bulbo úmido está diretamente relacionada com a diferença entre a
pressão de vapor da água do ar e a pressão do água do ar saturado, a mesma temperatura. A
velocidade de evaporação da água da superffcie do músculo do pescado depende diretamente
desta e, portanto, está ligada a pressão do bulbo úmido, Burgess (1971).

7.1.24 Condições termodinâmicas de secagem


a. Secagem natural

A secagem natural do pescado é procedida mediante exposição da matéria prima a


radiação solar e ao vento. Este método é antigo e depende de condições climáticas para a
sua realização. Em dias de forte calor e sol brilhante não se deve expor o pescado à
radiação solar e sim à sombra. Deve-se também proteger o pescado contra umidade de
qualquer origem. A operação de secagem se realize durante o dia, enquanto à noite o
pescado é empilhado. Na secagem natural ou ao ar livre é impossével controlar as
condições termodinâmicas de secagem (temperatura, umidade relativa e velocidade do
ar), porém em certas épocas do ano tais condições sã bastante apropriadas para a
secagem natural, Sanchez (1965).

b. Secagem artificial

A secagem artificial do pescado é efetuada em secadores artificiais projetados para operar


em condições termodinâmicas que permitam um processo artificial de secagem adequado.
No referido secador, a temperatura, a velocidade do ar e a umidade relativa podem ser
ajustadas para operarem em feixas de valores perfeitamente controladas, levando-se em
consideração a matéria prima, Furuya (1958). De acordo com alguns autores, a
temperatura de secagem dentro do secador deverá estar na faixa de 30 a 40°C, a
velocidade do ar entre 2 e 3 m/s e a umidade relativa deverá ser de 45 a 55%, Jason
(1965) e Wirth (1975).

7.1.25 Fatores que influenciam a secagem

O tempo de secagem é influenciado por alguns fatores como a umidade do produto, tamanho e
forma do peixe, teor de gordura, superfície do músulo ou filé, espaçamento entre as amostras no
ambiente, efeito da pelfcula e condições termodinâmicas de secagem.

a. umidade do produto

Nos produtos frescos, a concentração de umidade no músculo é da ordem de 79 a 85%.


Nos produtos salgados destinados à secagem, o seu conteúdo de umidade está em torno
de 55%, tendo a matéria prima fresca perdido uma quantidade substancial de umidade em
função do seu tratamento com sal.

O conteúdo de umidade do músculo do peixe após a salga tem grande importância no


processo de secagem, considerando-se que, se o processo de salga não for tecnicamente
adequado, o conteúdo de água residual do músculo será elevado e, portanto, influenciará
o tempo de secagem.

b. tamanho e forma do peixe

O músculo do peixe de grande espessura tem um tempo de secagem mais longo do que
os peixes de músculo delgado. Isto deve-se ao fato de que, durante a secagem de um
músculo de grande espessura a água a ser evaporada terá de-percorrer um longo caminho
desde o centro até a superfície do músculo. Nos filés delgados, este caminho é muito
menor, difundindo-se água desde o centro até a superfície, onde é evaporada em curto
espaço de tempo.

c. teor de gordura

A gordura do peixe retarda a difusão da água. Portanto a uma dada temperatura, a


secagem do pescado gordo é mais extensa do que a de um pescado magro da mesma
espessura, Burgess (1971).
d. superficie do músculo ou filé

A superficie do músculo ou dos filés do pescado das suas dimensóes e portanto, do seu
peso.

O tamanho do músculo ou do filé tem influência na secagem, o que poderá ser


evidenciado na tabela abaixo:

Relação entre a velocidade relativa de secagem e o peso do músculo do filé do peixe

Peso do filé Velocidade relativa de secagem


(kg) (%)
0,5 1
1,0 4/5
2,0 2/3

lsto é:

Um filé de 0,5 kg é seco a uma velocidade de 1% de perda por hora. Um filé de 2,0 kg a
velocidade de 2 a 3% de perda por hora. Para se obter uma perda de peso semelhante, é
necessário secar a matéria prima com peso mais ou menos igual.

e. espaçamento da matéria prima no secador

Este fator é muito importane; para uma secagem uniforme, devemos dispor os peixes no
secador de forma que não fiquem uns sobre os outros.

f. efeito de película

O efeito de película influencia o processo de secagem porque verifica-se um


endurecinmento superficial da carne, que isola o músculo, ainda úmido, da corrente
externa do ar. Tal endurecimento se dá em virtude da desnaturação das proteínas do
músulo, motivada por processo inadequado de salga e secagem, Furuya (1958).

g. condições termodinâmicas de secagem

De acordo com alguns dados de secagem obtidos no Canadá, a velocidade ótima de


secagem é de 200 a 300 ft/minuto. Velocidades inferiores à esta em nada contribuem para
melhorar a secagem. A temperatura de secagem situa-se, segundo o mesmo autor, entre
16 e 27°C, preferencialmente 24° centígrados; Furuya (1958), trabalhando com corvina
salgada, observou que à 40°C este peixe, não apresentou aspecto de cozinhamento,
apesar da eievada temperatura. Tal fato, entretanto, foi assinalado quando a temperatura
de secagem da referida corvina elevou-se para 42°C. A umidade relativa do ar dentro do
secador foi da ordem de 45 a 55%, acima ou abaixo destas faixas de valores a secagem
torna-se vagarosa; e acima de 76% de umidade relativa o produto salgado submetido à
secagem absorve a umidade do ambiente, Jason (1965).

7.1.26 Secadores artificiais

A secagem artificial do pescado salgado teve início em 1940, na Torry Research Station
(Inglaterra), mediante o uso de secadores dotados de condições termodinâmicas reguláveis. Tais
secadores foram projetados para a secagem do pescado em regiões onde as condições climáticas
fossem inadequadas para tal processo, Burgess (1971). No Instituto Del Mar do Peru foi projetado
um secador para a secagem artificial do pescado dotado das seguintes características: uma
câmara de madeira para o aquecimento do ar do meio ambiente e outra para a secagem do
pescado. É provido ainda de comportas para regular o fluxo de ar na entrada e,
consequentemente, também a temperatura e umidade relativa mediante o emprego de bulbo seco
e bulbo úmido. O secador dispõe também de um ventilador que impulsiona o ar do meio ambiente
à câmara de aquecimento. Na parte final do secador existe um exaustor para remover o ar
saturado de seu interior, descarregando-o no meio ambiente. No Brasil, a Indústria Brasileira de
Peixes S.A.-Rio Grande, projetou um secador para peixes salgados, Furuya (1958). Além dos
modelos acima, outros secadores são descritos na literatura, destacando-se entre eles os
secadores microondas, de rolo, atomizadores, rotativos e a energia solar, Burgess (1971) e
Tanikawa (1965).

7.1.27 Controle da umidade final no produto

O pescado salgado contém uma certa proporção de proteínas, gordura, sal e água. Durante a
secagem somente se reduz a quantidade de água, o que permite calcular matematicamente a
perda de peso do produto no processo.

Na prática, podemos controlar a secagem até uma determinada porcentagem de umidade no


produto, que deve variar 35 a 40% aplicando-se a seguinte fórmula:

X = Perda de peso
Y = Conteúdo inicial de umidade do produto salgado
Z = Conteúdo final de umidade no produto salgado e seco (umidade estabelecida).

Um outro método simples para o cálculo da porcentagem das perdas de peso do pescado durante
a secagem baseia-se no emprego do monograma de Fulgere, Bratty (1957).

EX: Calcular a perda de peso ocorrida em 100 kg de peixe salgado, com um conteúdo de umidade
inicial de 51,3% (após a salga), até uma umidade final de 38% (após a secagem).

Sol. 53,3% corresponde ao eixo Y;


38,5% corresponde ao eixo Z

Seguimos a linha horizontal correspondente a 51,3% até a sua intersecção com o eixo X,
obtendo-se desta forma o ponto zero. Traçamos outra linha desde 52,3% até 38,5%, no eixo Z;
conta-se então o número de divisões verificadas entre o ponto zero e a intersecção Y/Z no eixo X.
Para o nosso caso, № de divisões no eixo X é de 20,8; portanto, a perda de peso terá de ser
verificada num produto com 51,3% de umidade incial submetido à secagem até 38,5% de
umidade inicial, isto, é, final será de 20,8%.

O ponto zero varia com o conteúdo de umidade incial, se conhecemos a umidade inicial e a
porcentagem de perda de peso, podemos calcular de modo semelhante o conteúdo de umidade
final, Sanchez (1973).

7.1.28 Decomposição do pescado salgado e seco

A qualidade do pescado salgado é comprometida quando incidem sobre ele as seguintes formas
de decomposição:

a. Muscosidade (Slimming)
A muscosidade écaractrizada por uma viscosidade de cor amarelada, de um ligeiro sabor
acre e aparéncia áspera. Isto ocorre geralmente durante o empilhamento/prensamento do
pescado salgado e no início da secagem. Os fatores responsáveis por este tipo de
deterioração são: salga inadequada, período de empihamento demorado, pescado salgado
em condiçães de frescor impróprias, condições atmosféricas não propícias, circulação de
ar deficiente.

b. Bactérias vermelhas

Um dos perigos para os produtos salgados e secos é o “vermalhã” do pescado, que se


inicia superficialmente mas logo produz alterções nas proteínas. Este problema é causado
por um grupo de bactérias: a Sarcina littoralis e a Pseudomona salinaria; ambas são
proteoliticas, sendo a última responsável pelo odor desagradável do pescado
contaminado. O sulfeto de hidrogênio e o indol são os produtos resultantes da
decomposição.

As bactérias vermelhas se desenvolvem em soluções contendo 5 a 17% de sal e em


temperaturas situadas na faixa de 15 a 55°C, sendo por esta razão conhecidas como
temófilas.

c. Fungos

O pescado salgado também está sujeiro ao ataque de diversas espécies de fungos, sendo
o principal Sporendonema epizoum, que se caracteriza pela produção de manchas de
con marrom-alaranjado. Estes morfos diferenciam-se dos comuns por se desenvolverem
em meios com 5 a 15% de salinidade; a presença deste fungo indica que o produto foi
armazenado em lugares úmidos e de temperaturas elevadas, Sanchez (1965), Noguchi
(1972) e Bedford (1932).

7.1.29 Estocagem do peixe salgado

Apesar de se constituir em um produto bastante estável, a qualidade do peixe salgado depende


do estado de frescor da matéria prima, do método de salga e da pureza do sal.

Em casos de estocagem prolongada a sua qualidade depende da eficiéncia do processo.

A preservação do pescado salgado estáem dependência não apenas da quantidade do sal, mas
também da umidade do músculo. Durante a estocagem poderão ocorrer a putrefação e a
rancidez. Como foi visto anteriormente, a putrefaçã causada por microorganismos contaminantes,
enquanto a rancidez é ocasionada pela oxidação da gordura, tornando o produto com a
aparência, sabor e odor desagradáveis. Para a prevenção da rancidez deve-se adicionar anti-
oxidantes ao produto salgado. Entre estes anti-oxidantes temos o BHA (Butirato hidroxi anizol) e o
BHT (Butirato hidroxi tolueno). Além destas substâncias devemos usar embalagem anti-vapor e
estocar em baixa temperatura; desta forma recomenda-se não conservar o pescado salgado em
lugares úmidos, aonde haja bastante calore fiquem expostos á ação direta do sol.

7.2 Defumação do Pescado

7.2.1 Introdução

Foi provavelmente o homem pré-histórico quem descobriu que a carne poderia conservar-se
durante longos períodos, processando-a através da salga e da defumação. Durante a ldade Média
surgiram uma série de alimentos tradicionais, sendo um do mais importantes o arenque vermelho,
que se preparava defumando-o durante algumas semanas e previamente submetido à uma salga
forte. O intenso aroma de produto salgado e do alcatrão, bem como a textura dura, característica
do arenque vermelho e produtos similares tradicionais não teriam hoje em dia muita
aceitabilidade.

Atualmente o pescado é defumado com o objetivo de dar-lhe um sabor agradável, mais que para
conserválo, sabendo-se entretanto que a ação conservadora da defumação é devida aos efeitos
combinados da secagem e dos principios ativos da substâncias químicas bactericidadas
presentes no fumo da madeira em combustão.

7.2.2 Tipos de defumação

A defumação é processada mediante a utilização de dois processos:

a. Defumação à frio, empregada na majoria dos produtos curados britânicos;


éprocessada em temperaturas inferiores a 30°C.
b. Defumação à quente, na qual os produtos ficam cozidos ao mesmo tempo em que
são defumados; neste processo a temperatura da fumaça chega a atingir 121°, enquanto
no centro do filé fica em torno de 60°C. Na maioria dos produtos defumados na Europa
continental, Utiliza-se o processo à quente. No Japão, o principal produto defumado
érepresentado pelas lulas; neste caso a temperatura de defumação é escalonada, isto é:
Na primeira etapa, cujo tempo de duração é da ordem de uma a duas horas, a temperatura
está entre 20e 25°c, no período intermediário do processo, esta temperatura chega aos
níves de 50 a 60°, enquanto no final da operação está entre 60 e 70°, durante duas à três
horas. O tempo de defumação total para a lula é de sete à nove horas.

No processo à frio e no processo à quente são utilizados defumadores tradicionais de chaminé e


mecânicos. No processo de defumação de produtos marinhos japoneses são utilizados
defumadores elétricos bastante eficientes.

7.2.3 Defumadores

a. Defumadores tradicionais - São representados por uma chaminé na qual se


pendura o pescado sobre uma fogueira de serragem de madeira nã resinosa, desprovida
de odor, e que arde produzindo fumaça, não ocorrendo, porém, a presença da chama.
Estes defumadores oferecem uma série de inconvenientes, estando entre eles os
seguintes:
• Dificuldade para controlar a quantidade de calor e fumaça produzidos na
combustão da serragem;
• Poderá ocorrer a queima da serragem, produzindo elevadas chamas e muito
calor, que podem ocasionar a cocção do produto;
• O fluxo de fumaça muda de direção ocasionalmente;
• Não é possível a dissecação uniforme do pescado, tendo em vista que a
fumaça entra sempre saturada de vapor;
• Nas noites quentes e úmidas é impossível operar em defumador tradicional,
em virtude de se tornar minima a capacidade de secagem do ar;
• Além destes, ainda podem ocorrer outros inconvenientes, como muita mão-
de-obra, tarefa desagradável, etc.

7.2.4 Defumadores macânicos

Com o objetivo de melhorar o processo de defumação foi projetado o defumador mecânico.


Infelizmente alguns desses defumadores oferecem desvantagens, tal qual os tradicionais. Na
Inglaterra, foi projetado pela Torry um defumador mecânico que tem sido adotado
satisfatoriamente, tal defumador foi desenhado em 1939, de tal forma que a fumaça é produzida
em fogueiras acesas em queimadores especiais, localizados fora do defumador.
As fogueiras são preparadas com serragem de madeira dura; a fumaça é conduzida ao forno por
condutos, sendo misturada com ar; a temperatura é mantida por aquecedores elétricos ou a vapor
que são controlados por termostatos; a umidade do ar quente pode ser também controlada,
regulando-se a entrada da quantidade de ar ambiente que adentra ao defumador.

A fumaça quente é impulsionada por ventilador à uma velocidade uniforme sobre os carrinhos
contendo o pescado, e dispostos no corpo de um defumador. Uma quantidade determinada de
fumaça passa seguidamente à chaminé, porém grande parte dessa fumaça é recirculada, e em
seu retorno se mistura ao ar fresco. Na metade do processo faz-se um remanejamento dos carros
para outros lugares, a fim de que haja uma defumaçã uniforme.

Existem defumadores mecanicos para diversas capacidades:

a. Para 600 a 1000 kg de peixe/4 horas - defumadores grandes;


b. Para 500 kg/4 horas - defumadores médios;
c. Para 60 kg/4 horas - defumadores pequenos.

7.2.5 Defumadores elétricos

O defumador elétrico foi construído por Toriyama. Neste defumador, a fumaça gerada por um
queimador de serragem de madeira é submetida à uma corrente elétrica. Tendo este tratamento,
afumaça adere mais facilmente a superficie do produto do que se não fosse eletricamente
carregada.

No defumador elétrico, uma parelha de ganchos de ferro que podem ser eletrizados são dispostos
sobre a serragem em combustão, os peixes são pendurados nos ganchos de ferro na parte
superior da câmara de defumação; cada dois peixes são usados como eletrodos. Os ganchosde
ferro onde se encontram pendurados os peixes são submetdos à uma corrente direta ou indireta
com elevado potencial elétrico (10 a 20 mil volts). No piso do defumador a serragem de madeira é
queimada; a fumaça sobe sendo positiva ou negativamente carregada. Se estiver com eletricidade
positiva flui em direção ao peixe que funciona então como eletlodo negativo; inversamente, se
estiver carregada negativamente o peixe funciona como eletrodo positivo. Quanso a corrente
direta é usada, o potencial elétrico é elevado por meio de um indutor de corrente elétrica. No caso
de ser utilizada corrente indireta, sua elevação será procedida pelo uso de um transformador neon
para processamento contínuo, um arame transportador sem fim deverá ser utilizado.

Na defumação elétrica a água do músculo do peixe mão é removida rapidamente, tal como ocorre
no processo de defumação comum.

7.2.6 Defumação líquida

Como um dos mais rápidos métodos de defumação ,a defumação líquida é usado na carne de
peixes e baleias, um dos principais componentes do líquido é o vinagre obtido da destilação à
seco da madeira; Para seu uso na defumação líqida, o vinagre deve ser sepoardo do alcartã da
madeira por meio de deposição em um tanque onde este sedimenta. Uma vez refinado, é diluída
a sua terça parte com água, sendo adicionada à parte diluída uma quantidade de sal adequada.

Em um depósito que contém o vinagre diluído, o pescado é submerso por várioas horas. É
importante con hecer a concentração do vinagre, a temperatura da solução e o tempo de imersão
do peixe. Depois de removidos do tanque, os peixes sño secos à sombra.

Recentemente, no Japão, um líquido de defumação sintético tem diso usado na preparçõ de


salsicha e presunto de peixe.

7.2.7 Aciência da defumação


A fumaça da madeira contém tanto vapores como gotículas, isto é,acha-se formado de milhões de
gotículas de breu ou alcatrão. Os vapores entretanto sõ invisíveis, embora possam possuir odor.

Os vapores desprendidos das paredes de um defumador aberto são os responsáveis pelo odor de
fumaça.

Tanto nas gotículas como nos vapores se encontram presentes as mesmas substàncias químicas,
sendo que as proporção, relativas entre estas são diferentes em ambos os casos. As substâncias
que evaporam com major facilidade estão presentes principalmente nos vapores; as outras
substâncias, que precisam ser aquecidas para se evaporarem, encontram-se fundamentalmente
nas gotículas.

Mediante um processo denominado precipitação eietrostática, é possível eliminar as gotículas


sem afetar os vapores. Durante a defumaçã, o pescado capta principalmente os vapores; as
gotível eliminar as gotículas não sõo essenciais na defumaçã do pescado.

As substâncias presentes nos vapores se dissolvem no líquido existente na superfície do pescado.


Quanto mais úmido estiver o músculo do pescado e mais rápido for o fluxo de fumaça sobre a
superfície, mais depressa serão absorvidas as substâncias químicas dos vapores, as
quaisconferem seu aroma característico e seu efeito conservador as produto defumado.

A composição química precisa da fumaća depende de muitos fatores. No fogueiro de serragem, é


produzida uma ampla gama de processos que ocorrem paralelamente. A combustã completa da
serragem dá origem ao dióxido de carbono e água, mediante um conjunto de complicadas
reações entre a madeira e o oxigênio do ar.

Recentemente, cientistas da Torry identificaram algumas substâncias químicas presentes na


fumaça da madeira, especialmente aquelas pertencentes ao grupo de fenóis, e que são
responsáncias pela diminuićão da atividade bacteriana. Não existe nada comprovado sobre os
efeitos dessas substâncias em relaçã ao aroma, cor e conservação. O aroma caractrístico do
pescado defumado é devido principalmente à fumaça e ao sal, enquanto a textura depende em
grande parte da secagem.

As substâncias químicas presentes na fumaça são as principais reponsáveis pela conservação.

7.2.8 Processos de defumação

Até bem pouco tempo, os processos de defumaç ão de peixes eram apenas orientados pela
prática. Ultimamente, porém, encara-se igualmente o aspecto cientifico e técnico do problema,
procurando-se através da pesquisa determinar os efeitos da fumaça, do sal e do repouso sobre o
pescado, durante e após o processo.

A defumação tem por princípio a exposição dopeixe submetido à uma salga leve, a ação do calor
e da fumaça produzidos pela combustão de uma mistura de lenha, sarrafos e serragem de
madeira isenta de resina e odor.

Do ponto de vista científico, a defumação de peixes se processa em três fases distintas,


indispensáveis para a boa qualidade do produto elaborado:

a. Salmouragem ou salga
b. Repouso
c. Defumação

A salmouragem ou salga é uma fase muito importante, tendo em vista que a matéria prima, sendo
submetida a ação do sal em soluçõos salinas de elevadas concentraçes, tem retardado o seu
processo de autólise, e, consequentemente, o de putrefação.
Nesta fase Verifica-se ainda a desidratação do músculo, adquirindo este major resisténcia, e
evidenciando-se também o seu sabor. Na salmouragem ou salga a matéria prima é submersa na
salmoura, se desejamos um produto defumado colorido, misturando-se a salmoura corantes
permitidos em alimentos. O tempo de permanência do produto na salmoura depende da
concentração desta, do tamanho e teor de gordura do pescado e da agitação do pescado na
salmoura. Para todos os tipos de defumação de peixes emprega-se usualmente salmoura com 70
a 80% de saturação. Caso seja utilizada uma salmoura de 100% de saturação, a superfície do
pescado elaborado poderá ficar impreganadade de um pó fino de cristais de sal, que se
depositará sobre os opérculos e a pele. Em uma salmoura de 50%, o pescado intumesce
ligeiramente, ganhando 2 a 3% em peso. Esta àgua adicional terá de ser evaporada durante a
defumação. Em uma salmoura a 90–100%, produz-se uma perca de peso de 2 a 3%.

O procedimento normal de salga em salmoura não dá origem à um produto de conteúdo salino


uniforme, embora o peixe possua tamanho uniforme, se agitarmos a salmoura durante a salmoura
durante a salga, obteremos melhores resutados.

À medida em que vai sendo usada, a salmoura vai se diluindo. Esta diluição é devida a água que
sai do músculo do peixe para a salmoura, enquanto, ao mesmo tempo, o peixe absorve sal. Neste
caso, para manter constante a concentração de salmoura adicona-se cristais de cloreto de sódio,
que com frequência sedimenta, formando uma camada de sal no fundo do tanque. A
sedimentação pode ser evitada agitando-se a salmoura.

O instrumento mais conveniente para medir a concentração éo salinômetro. Na tabela abaixo,


indicamos quantas gramas de sal devemos adicionar à 1,0 litro de água para cada 10% de
saturado:

Preparação de Salmoura

Graus Gramas de sal necessários p/


salinométricos adicionar
(%de saturação) á1 litro de águaà 20°C
10 28
20 56
30 87
40 120
50 154
60 190
70 229
80 270
90 315
100 363

Repouso - Nesta fase, o pescado submetido à salmouragem é pendurado no próprio defumador,


para que escorra o excesso de umidade. A proteína é dissolvida pela ação da salmoura, formando
uma solução consistente. Durante este período a proteína dissolvida seca sobre a superfície do
músculo, produzindo a chamada película lustrosa, que constitui um dos critérios comerciais da
qualidade. A Melhor película lustrosa équando o peixe é imerso em salmoura a 70–80% os
melhores produtos são obtidos em período de aproximadamente 18 horas.

7.2.9 Embalagem

Depois de removido do defumador, deixamos que a produto esfrie para que possamos efetuar a
sua embalagem. Durante o período de resfriamento o pescado continua perdendo peso. Se
embalarmos o produto ainda quente, ele adquirirá um aspecto úmido e fofo o que favorece ao
crescimento de morfos sobre o pescado defumado.

Os esporos germinados são encontrados na serragem da madeira e transportados ao produto


pela corrente de ar, durante a defumação.

PARTE8:
OUTROS SISTEMAS DE CULTIVO EM PISCICULTURA
José William Bezerra e Silva*

8.1 Piscicultura intensiva e semi-intensiva

8.1.1 Conceito e condições básicas para sua realização

8.1.1.1 Conceito

A piscicultura é o ramo da aqüicultura que se preocupa com a criação de peixes, atividade que
remonta a mais de 3.000 anos e teve origem na China.

Ela tem sido classificada em extensiva, semi-intensiva, intensiva e superintensiva.

É extensiva quando utiliza apenas os alimentos naturais, que se desenvolvem nas águas, para os
peixes criados. Como exemplo, cita-se as explorações feitas em açudes, lagoas, represas, lagos e
outros mananciais, nos quais normalmente o homem não tem controle sobre os fluxos de entrada
e de saída da água, ou se o tem, este controle não se faz visando a piscicultura. Hoje há uma
tendência em se considerar este tipo de exploração como atividade de pesca, ou seja, exploração
pesqueira propriamente dita. Muito embora, o homem possa exercer as seguintes intervençõoes,
visando melhorar a exploração pesqueira nos reservatórios: (a) desmatá-los total ou parcialmente,
possibilitando as atividades de pesca e melhoria nas condições da água; (b) erradicar espécies
daninhas, tais como as piranhas Serrasalmus nattereri e S. piraya, e pirambeda, S. rhombeus,
que atacam o homem e os animais domésticos, destroem os aparelhos de pesca e predam os
peixes de interesse econômico; (c) introdução de espécies selecionadas; (d) controle da
intensidade da pesca, a fim de manter as capturas equilibradas; (e) melhoria nas artes pesqueiras
e (f) controle de poluição.

Nos pequenos açudes podem ser eliminadas as espécies carnívoras, através do tinguijamento ou
a secagem do reservatório, principalmente se o mesmo apresenta comporta (galeria),
implantando-se uma exploração do tipo semi-intensiva, mediante a fertilização do meio ambiente
ou a consorciação com bovinos, suínos e marrecos.

Na semi-intensiva o alimento natural desempenha papel preponderante na produtividade


piscícola, contudo, em virtude de uma major densidade de estocagem (major concentração dos
peixes) há necessidade de se fertilizar as águas e/ou fornecer alimentos suplementares aos
peixes, tais como grãos (milho, sorgo etc.), farelos (trigo, arroz, milho, sorgo, soja etc.), tortas
(algodão, babaçu, mamona etc.) e farinhas (carne, sangue, peixe etc.). Estes produtos podem ser
fornecidos isoladamente ou em misturas. Esta piscicultura é realizada em tanques, viveiros,
bebedouros de outros animais domésticos e demais reservatórios, nos quais o homem tem total
controle sobre a entrada e saída da água. Ela pode ser consorciada com outros animais (bovinos,
suínos, marrecos etc.) ou com vegetais (rizipiscicultura, p. ex.). As principais intervenções do
homem na piscicultura semi-intensiva são: (a) construção das instalações (tanques, viveiros etc.);
(b) preparação das instalações (limpeza, calagem, adubação e abastecimento de água); (c)
estocagem dos peixes; (d) controle de predadores e parasitas; (e) alimentação dos peixes; (f)
acompanhamento do crescimento dos peixes, mediante amostragens mensais, as quais servem
para reajuste na quantidade diária do alimento a ser fornecido a estes animais; (g) despesca e (h)
manutenção dos viveiros (recuperação de pisos, taludes e dos sistemas de abastecimento e de
esvaziamento).

* Engo Agrônomo do DNOCS e Professor Assistente da UFC - Caixa Postal 423 - 60.035 - Fortaleza, Ceará.

A piscicultura intensiva caracteriza-se pelo uso de rações balanceadas na alimentação dos peixes,
em virtude das densidades de estocagem bastante altas, o que torna os alimentos naturais por
demais insuficientes, embora estejam presentes e possam mesmo ser incrementados através de
fertilizantes. Ela é realizada em tanques e viveiros e as formas de intervenções do homem são as
mesmas referidas para a piscicultura semi-intensiva.

Na piscicultura superintensiva as densidades de estocagem são elevadas, devendo os peixes


receberem rações bem balanceadas e com altos teores protéicos e energéticos. É realizada em
gaiolas, tanques e viveiros. Estes dois últimos comumente apresentam renovação constante de
água e/ou recebem aeração artificial. As intervenções do homem são idênticas às descritas para a
piscicultura semi-intensiva, com exceção da adubação da água.

No presente curso nos restringiremos a piscicultura semi-intensiva e intensiva, doravante


chamadas simplesmente de piscicultura.

8.1.1.2 Condições básicas para a piscicultura semi-intensiva e intensiva

As condições básicas para a realização da piscicultura são:

a. tanques e viveiros devidamente preparados;


b. emprego de técnicas apropriadas para os cultivos;
c. um meio econômico favorável, inclusive com infra-estrutura de estradas, energia
elétrica, fábrica de gelo etc., e existência de mercado consumidor;e
d. disponibilidade de insumos, compreendendo: fertilizantes, alimentos (subprodutos
agrícolas, rações balanceadas etc.) material para calagem, alevinos etc.

Se o cultivo for implantado nas proximidades de uma Estação de Piscicultura, possibilitará que o
piscicultor adquira aí seus alevinos, diminuindo assim, os investimentos na produção dos
mesmos.

A integração da piscicultura com as demais atividades agropecuárias é importante, pois


possibilita: (a) cultivos consorciados (peixes/suínos, peixes/bovinos, peixes/galinhas ou frangos,
peixes/marrecos, peixes/arroz ou rizipiscicultura etc.); (b) cultivo alternado de peixes com culturas
vegetais (arroz, soja, feijões, milho, sorgo etc.); e (c) uso de subprodutos (cuim de arroz, xerém de
milho ou de sorgo, farinhas de sangue, carne, osso etc.; farelos de trigo e de soja, tortas de
algodão, babaçu, mamona etc; além de outros); gräos (milho, sorgo etc.); tubérculos de mandioca;
vegetais (cunhã, pirrichiu, marianinha etc.) e frutos diversos na allmentação dos peixes,
dependendo da(s) espécie(s) cultivada(s).

Além do mais, a água fértil oriunda do esvaziamento dos viveiros, pode ser utilizada na irrigação
de hortas. pomares e culturas diversas.

8.1.2 Tanques e viveiros de piscicultura

Viveiro de piscicultura é um reservatório escavado em terreno natural, dotado de sistemas de


abastecimento e de drenagem de água de tal modo que o permita encher ou secar no menor
espaço de tempo possível. Ele pode ser parcial ou totalmente elevado acima do terreno natural,
mediante o erguimento de diques ou barragens.
O tanque tem estrutura semelhante ao viveiro, sendo, contudo, revestido com alvenaria de pedra
ou tijolo ou em concreto.

Existem grandes diversidades de tanques e viveiros de piscicultura, conforme suas finalidades


(manutenção de reprodutores, preparo de reprodutores, acasalamento, criação de pós-larvas e de
alevinos, engorda etc.). No entanto, estruturalmente os viveiros se dividem em dois tipos:

a. Viveiro de barragem - Construído no fundo de um vale por onde corre um pequeno


curso de água (córrego ou olho d'água), mediante o erguimento de uma pequena
barragem ou dique. No Nordeste do Brasil estes viveiros necessitam, quase sempre,
receber suprimentos de água, oriunda de um açude, rio etc., no período seco. Isto porque
sua alimentação de água é feita por uma ou várias nascentes, um lençol freático ou um
curso de água, cujo caudal recebe em sua totalidade, sem possibilidade de controle
(BARD et alii, 1974);e
b. Viveiro de derivação - escavado ou elevado no terreno natural, sendo abastecido
por derivação da água a partir de uma nascente, de um curso de água principal, de um
canal de irrigação etc; de uma represa ou açude (mediante o uso de sifão, galeria etc.),
sendo a água conduzida através de canais abertos ou tubulados ou, finalmente, por
bombeamento a partir de um curso de água ou de um reservatório. Deste modo, a entrada
e saída de água do mesmo são controladas.

O tanque é uma estrutura menor que o viveiro, sendo sempre de derivação.

8.1.2.1 Escolha do local para construção de tanques e viveiros de piscicultura

Na escolha do local para a construção de tanques e viveiros de piscicultura deve-se levar em


conta dois aspectos: a água para abastecê-los e existência de terreno adequado.

8.1.2.1.1 A água para abastecimento de tanques e viveiros de piscicultura.

A água para abastecimento de tanques e viveiros de piscicultura deve ser examinada sob os
aspectos qualiquantitativos.

a) Qualidade da água

No exame da qualidade da água deve-se levar em conta suas características físicas e químicas.
Entre as primeiras, as mais importantes são:

Temperatura: Tem grande influência sobre a reprodução, sobrevivência e crescimento dos


peixes, bem como sobre a produtividade natural das águas, ou seja, a produção dos alimentos
naturais para os peixes. Ela deve se manter dentro dos limites compatíveis com a vida normal
da(s) espécie(s) criada(s). Lembra-se que dentro desses limites quanto mais alta a temperatura
maior a produtividade natural e, consequentemente, maior a produção de peixe. No entanto,
temperaturas baixas ou muito elevadas influenciam negativamente na alimentação dos peixes.
Estes limites máximos e mínimos, bem como suas variações, são atenuados nas partes mais
profundas dos viveiros.

As temperaturas das águas nos tanques e viveiros de piscicultura devem ser medidas na
superfície e no fundo, usando-se termômetro de imersão com escala de 0 a 50°C. A água de
fundo é retirada com um frasco com tampa, o qual é destampado quando atinge a profundidade
desejada. Então, o mesmo é levado rapidamente para a superfície e a temperatura da água em
seu interior medida.

Transparência e a cor: A luz é um dos fatores mais importantes para a produtividade dos
tanques e viveiros de piscicultura, pois os seres produtores da matéria orgânica na água
(fitoplâncton, bactérias fotossintéticas e macrófitas aquáticas) utilizam a energia luminosa na
fotossíntese.

Deste modo, quanto mais transparente é a água maior será a penetração da luz e,
consequentemente, mais espessa será a coluna onde se processará a produção orgânica.

As águas turvas, isto é, que contêm argilas ou outros materiais em suspensão, não são favoráveis
ao cultivo de peixes, principalmente, larvas, pós-larvas e alevinos, pois a argila adere as suas
guelras, impedindo as trocas gasosas, podendo até matá-los. Portanto, deve-se evitar abastecer
tanques e viveiros com águas de cores vermelha, amarela ou cinzenta, bem como, impedir que
pessoas e animais penetrem nos viveiros, pois causam turbidez da água.

As águas negras ou escuras das florestas ou aquelas alaranjadas de ambientes ricos de matéria
orgânica em decomposição não são boas para o abastecimento de tanques e viveiros, vez que
são geralmente ácidas (pH < 7,0) e trazem gases tóxicos (sulfídrico, metano, amônia etc.), além
de não permitirem boa penetração de luz e possuirem baixos teores de oxigênio dissolvido,
necessário para respiração dos peixes.

As melhores águas para abastecer tanques e viveiros de piscicultura são as claras, ligeiramente
azuladas ou esverdeadas. Quando estas instalações são bem adubadas, suas águas apresentam
cor verde escura sinal de boa produtividade orgânica, pois reflete a grande incidência de algas
clorofíceas nas mesmas.

A transparência da água pode ser medida com o disco de SECCHI, que é um disco metálico, com
mais ou menos 0,25 m de diâmetro, contendo quatro faixas brancas e pretas, alternadamente,
sendo o mesmo mergulhado na água, com o auxílio de cabinho de náilon de 3/16", até que não
seja mais visto. Mede-se então, no cabinho, a profundidade em que se extinguiu a luz na coluna
d'água. A transparência da água dos viveiros deve ser menor do que 0,30 m.

As características químicas das águas para abastecimento de tanques e viveiros de piscicultura


são importantes: Poucas águas não podem ser utilizadas para tal, mas a produção dos alimentos
naturais para os peixes está ligada a sua qualidade. Torna-se necessária a presença do
nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio, enxofre e ferro, assim como dos chamados oligoelementos
(boro, manganês, cobre e zinco). É em contato com o solo que a água se enriquece pela
dissolução dos sais que pele se encontram. Deste modo, quanto mais rico o solo em minerais
mais rica será a água.

Lembra-se, contudo, que parte desses sais pode provir da decomposição orgânica dos animais e
vegetais mortos no viveiro ou, ainda, serem cólocados através dos adubos.

Pode-se apreciar a qualidade de uma água medindo-se o seu pH. Este deve ser neutro ou
ligeiramente alcalino. Valores inferiores a 5 e superiores a 9 são indícios de água não
recomendável para a piscicultura.

Outros indicadores da qualidade da água para a criação de peixes são dados pelas suas dureza e
alcalinidade. Águas com dureza acima de 15 mg/l em seu equivalente em CaCO 3 e com
alcalinidade superior a 40 mg/l também em seu equivalente em CaCO3 são boas para aquele fim.

Torna-se necessário, ainda, a presença de gases dissolvidos na água, principalmente o oxigênio,


imprescindível à respiração dos peixes, e o gás carbônico, essencial à fotossíntese.

No entanto, gases oriundos da decomposição da matéria orgânica (sulfídrico, amônia, metano


etc.) são tóxicos e fatores de depleção na taxa do oxigênio dissolvido. Nesta situação, as águas
exalam mau cheiro. Deve-se, pois, evitar o acúmulo de matéria orgânica nos viveiros.
De uma maneira geral, as águas poluídas por esgotos industriais e/ou domésticos e por
defensivos agrícolas não se prestam para a piscicultura.

Na análise química de uma água destinada a piscicultura, tornam-se necessárias as seguintes


determinações, com respectivas indicações dos níveis desejados:

Especificação da análise Níveis desejados


pH 5a9
Alcalinidade 40 a 200 mg/l em seu equivalente em CaCO3
Dureza Acima de 15 mg/l em seu equivalente em CaCO3
O2dissolvido Acima de 4 mg/l
CO2livre Abaixo de 20 mg/l
Amônia Abaixo de 0,5 mg/l
Gás sulfídrico Abaixo de 1,0 mg/l
Metano Abaixo de 0,5 mg/l
Ferro Abaixo de 1,0 mg/l
Alumínio Abaixo de 0,5 mg/l
Presença de nitratos, fosfatos, carbonatos e sulfatos.

b) Quantidade de água

A piscicultura necessita de água para encher tanques e viveiros e compensar as perdas por
evaporação e infiltração. Esta praticamente não ocorre nos tanques, por serem revestidos em
alvenaria.

A água necessária para encher um viveiro depende da capacidade de acumulação deste, que, por
sua vez, é calculada com base em sua área e profundidade média. Quando ele possui área de 1
ha e profundidade média de 1 m são necessários 10.000 m3 de água para enchê-lo. Isto, contudo,
deve ocorrer em curto espaço de tempo, sendo recomendável que não seja superior a 72 horas.
Neste limite, a vazão necessária de água para abastecimento será de 38,6l/s (10.000.000 l
divididos par 259.200 s).

Após cheio o viveiro, nele só deve colocar água para compensar as perdas por evaporação e
percolação. Salvo se houver depleção na taxa de oxigênio dissolvido na água. Caso isto ocorra,
far-se-á renovação dela.

As perdas por evaporação dependem dos fatores climáticos, normalmente temperatura, insolação,
umidade do ar, ventos etc. Nas regiões tropicais podem chegar a 25 mm/dia. Isto origina uma
demanda diária de água da ordem de 250 m3/ha, ou seja, uma vazão de 2,9 l/s de água por ha
(250.000 l divididos por 86.400 s).

É difícil calcular com exatidão as perdas de água por infiltração, pois as mesmas dependem da
idade dos viveriros (os novos perdem mais água), das técnicas de construção deles (os
impermeabilizados com terra argilosa compactada têm as perdas sensivelmente diminuidas), da
natureza dos solos (os argilosos possuem baixa percolação) e a posição de seus pisos com
relação ao lençol freático (quanto menor o espaço que os separa menor a infiltração). Com boa
margem de segurança pode-se considerar uma perda média de 1 mm/dia de lâmina de água por
infiltração. Isto requer reposição de 10 m3/ha/dia, ou seja, uma vazão de 0,1 l/s de água por ha
(10.000 l divididos por 86.400 s).

Desse modo, nas regiões tropicais mais críticas, com lâmina de evaporação da ordem de 25
mm/dia, serão necessários 104.900 m3/ha/ano de água para encher uma vez o viveiro (10.000 m3)
e compensar as perdas por evaporação (91.250 m3) e por percolação (3.650 m3).
No litoral nordestino, com lâmina de evaporação média em torno de 7 mm/dia, necessitar-se-ia de
70 m3/dia/ha de água, ou seja, 25.550 m3/ano/ha. Aqui, o volume requerido para abastecer uma
vez um viveiro de 1 ha e compensar as perdas por evaporação e infiltração será de 39.200
m3/ano.

Além do volume mínimo necessário, há que se obter informações sobre o volume máximo de
água que passa em um determinado terreno onde se vai construir viveiros de piscicultura. Isto por
dois motivos, primeiro para se calcular o sangradouro ou vertedouro dos viveiros de barragem e
segundo para se evitar inundação da área dos viveiros de derivação.

O volume máximo de água que passa num dado trecho de um vale, no fundo do qual corre um
curso d'água, pode ser calculado através de: (a) conhecimento da área da bacia hidrográfica do
curso de água, acima do local de medição, e da altura máxima de precipitação pluvial, obtida
através de séries históricas de dados, coletados pelas estações meteorológicas: volume (m3) =
área (m2) × altura da major precipitação (m); (b) informações colhidas junto às populações
ribeirinhas, que podem indicar as marcas das cheias seculares; (c) verificação das marcas
deixadas pelas grandes enchentes em pilares de pontes, pedras, árvores etc.; (d) limnômetro,
aparelho que mede a velocidade da água de um rio, riacho etc.; e (e) secções imersas de forma
regular.

8.1.2.1.2 Terreno para construção de tanques e viveiros de piscicultura

Na escolha do terreno para construção de tanques e viveiros de piscicultura, levamos em


consideração suas características químicas, isto é, sua composição química, e físicas,
compreendendo sua natureza e forma.

a) Características químicas do terreno

Conforme referimos antes, é do solo que a água retira os minerais necessários a produtividade
primária, isto é, a alimentação do fitoplâncton, das macrófitas aquáticas e das bactérias
fotossintéticas. Portanto, a riqueza das águas dos viveiros depende dos minerais presentes nos
solos onde eles estão assentados.

As águas que escorrem em campos e savanas são melhores do que as de floresta. No entanto,
as primeiras podem ter bastante argila em suspensão, ou seja, serem turvas.

Na análise dos solos torna-se necessário conhecer: pH; dureza; alcalinidade e teores de
nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, sódio, magnésio, enxofre, ferro e alumínio. Estes dois últimos
quando em doses elevadas inviabilizam o uso de um solo para a construção de viveiros de
piscicultura.

b) Características físicas do terreno

Textura; profundidade e estrutura do solo

Um dos fatores importantes a considerar é a textura dos solos. Os argilosos são os mais
indicados, em virtude do elevado grau de impermeabilidade e de serem ricos em minerais, quase
sempre. Os arenosos não se prestam para viveiros, pois são pobres e não retêm água; neles
podem ser construídos tanques. Solos sílico-argilosos, isto é, formados por areias contendo cerca
de 25% de argila, podem ser utilizados, contudo necessitam receber camada(s) compactada(s) de
piçarra (terra argilosa), a fim de reterem água. Os pedregosos também não podem ser utilizados
para construção de viveiros.

Outro fator a considerar é a profundidade do solo, pois as vezes torna-se necessário escavar os
viveiros em terreno natural, alcançando-se profundidades de 2,00 m ou pouco mais.
A estrutura do solo também deve ser considerada, podendo acontecer que, além de ser raso, ele
apresente, próximo a superfície, rochas com fraturas. Isto provoca enormes perdas de água por
percolação, mesmo sendo os viveiros elevados sobre o terreno.

Para se estudar textura, profundidade e estrutura de um solo, escava-se uma trincheira (buraco)
no mesmo ou usa-se um trado pedológico, instrumento que funciona como saca-rolha, retirando
as diversas camadas do solo.

Forma, relevo ou topografia

A topografia do terreno é um dos principais fatores a considerar na escolha do local para


construção de tanques ou viveiros de piscicultura. Ela indica:(1°) se é possível construir tanques e
viveiros; (2°) tipo de viveiro (barragem ou derivação); (3°) superfície dos viveiros; (4°) forma dos
viveiros; (5°) profundidade dos viveiros e(6°) número de viveiros a construir. Isto porque nos
viveiros de derivação há que se levar água a uma altura tal que eles possam ser abastecidos e
esvaziados por gravidade, qualquer que seja o nível da água no dreno natural. Nos de barragem
não se deve construir diques muito compridos nem muito altos.

Na prática observa-se os declives ao longo do curso de água, corre no fundo de um vale, e o perfil
tansversal deste.

Terrenos com forte declive ao longo do curso de água e forte declive transversal do vale não se
prestam para construção de viveiros. Os de derivação ficam impossibilitados de serem
construídos e os de barragem necessitariam de diques muito altos, para formar pequenas bacias
de acumulação. Quando, porém, o declive transversal do vale é fraco, torna o terreno ideal para
construção de viveiros de derivação, pois eles são facilmente abastecidos e esvaziados por
gravidade. Nestas condições os de barragem não podem ser construídos, pois necessitariam de
diques muito cumpridos, ficando os viveiros geralmente rasos.

Quando o terreno apresenta fraco declive ao longo do curso de água e forte declive transversal do
vale, desde que não muito pronunciado, poderão ser construídos viveiros de barragem, ficando
impossibilitados os de derivação. Contudo, quando o declive transversal do vale também é fraco,
não se pode construir viveiros de barragem e tão somente os de derivação. No entanto, estes
ficam, quase sempre, caros, pois podem necessitar de longos canais de abastecimento, em
virtude da captação de água ser feita na parte mais alta do curso d'água. Quase sempre os canais
caminham sobre atorros. A não ser que se faça bombeamento d'água, o que envolve gastos com
bombas e energia elétrica ou combustíveis.

Para melhor se projetar tanques e viveiros, há que se fazer o levantamento plani-altimétrico do


terreno, em curvas de níveis de 0,50 em 0,50 m ou de 1,00 em 1,00 m, desenhando a respectiva
planta nas escalas de 1:500 ou de 1:1.000. Nela devem constar cercas, edificações, estradas,
linhas de transmissão de energia e, principalmente, as fontes fornecedoras de água para tanques
e viveiros (rios, riachos, açudes, represas, poços etc.), com cotas dos coroamentos das
barragens, soleiras de sangradouros, espelho d'água, fundo dos reservatórios, mananciais etc.
Isto para que se possa planejar os sistemas de captação de água e de esvaziamento dos tanques
e viveiros.

De posse desse levantamento, projeta-se os viveiros, definindo-se o tipo deles (derivação ou


barragem), conforme a topografia do terreno; o número, forma, dimensões, profundidade e cotas
de chegada de água e do ponto de esvaziamento dos mesmos. Tanto quanto possível, deve-se
evitar bombeamentos de água.

8.1.2.2 Partes constituintes dos tanques e viveiros e suas construções

8.1.2.2.1 Características gerais de um tanque ou viveiro


Forma

Um tanque de piscicultura pode ter formato circular, como os de preparação para desova, que
apresentam movimentos circulatórios da água, fazendo com que os peixes se movimentem contra
a correnteza, imitando o que ocorre na natureza. Eles hoje são raros e tendem a ficar em desuso.
Comumente, os tanques são quadrados (os pequenos e médios) ou retangulares (os maiores).

Um viveiro para a criação de peixes pode ter forma quadrática, normalmente quando sua área é
inferior a 2.500 m2, ou retangular, no caso em que sua área é maior do que 2.500 m2. Isto porque
viveiro muito largo exige redes maiores para a despesca e, consequentemene, maior número de
pessoas para arrastá-la durante esta operação.

Lembra-se que se deve escolher a forma de maneira a reduzir ao mínimo o perímetro do viveiro e,
consequentemente, os volumes e custos das escavações. O quadro a seguir mostra que os
perímetros dos viveiros aumentam a medida que crescem as diferenças entre largura e
comprimento deles:

Para um viveiro de 1 ha (10.000 m2)

Dimensões (m) Perímetro dos Viveiros


Forma
Largura Comprimento (m)
Circular Diâmetro = 112,85 354,45 (circunferência)
Quadrada 100 100 400,00
Retangular 80 125 410,00
Retangular 60 167 454,00
Retangular 40 250 580,00
Retangular 20 500 1.040,00

Adaptado de bard et alii (1974).

O que se afirmou antes só é válido para os viveiros de derivação, pois os de barragem


apresentom formas impostas pela topografia do terreno da bacia de captação.

Dimensões

A área de um tanque ou viveiro é a superfície do espelho de água. A do primeiro dificilmente


ultrapassa a 100,00 m2, quando usado para alevinagem ou engorda; o de larva tem-na em torno
de 3,00 m2.

As áreas dos viveiros variam segundo suas finalidades: 200 a 5.000 m2 para os de alevinagem e
os de reprodutores; de 0,04 a 40 ha ou mais para os de engorda. Muito embora o mais comum é
estes últimos possuirem áreas entre 0,5 a 4,0 ha, pois quando muito grandes acarretam o
seguinte: (a) dificuldade na comercialização, em virtude da produção de elevada tonelagem de
pescado de uma só vez acarretando grande oferta de produto altamente perecível; (b) em caso de
depleção na taxa de oxigênio ou qualquer outro problema na água dos viveiros, fica
impossibilitada sua rápida renovação dado o grande volume; e (c) construção cara dos viveiros.

Lembra-se que quando a forma do tanque ou viveiro permanece constante, quadruplica-se sua
superfície quando se duplica seu perímetro. Por exemplo, um tanque quadrado de 100 m2 tem
perímetro de 40 m. Duplicando-se este, isto é, elevando-se para 80 m, a área do tanque passa a
ser de 400 m2 (20 × 20 m).

Do exposto antes, vê-se que, na prática, não é aconselhável construir-se tanques e viveiros
demasiados pequenos ou grandes.
Quase sempre os viveiros de barragem apresentam maiores áreas do que os de derivação.

Profundidade

A profundidade de um tanque ou viveiro de piscicultura refere-se a sua lâmina de água. No


primeiro a máxima dificilmente ultrapassa a 1,10 m e a mínima é superior a 0,60. A média fica
entre 0,80 a 1,00 m.

Quanto ao viveiro, profundidades acima de 3,00 m são inaceitáveis, pois dificilmente a luz penetra
além deste valor nas águas dos viveiros, o que acarreta diminuição ou cessação da produção
orgânica. Além disto, quanto mais profundos os viveiros, mais se tornam caros. Deste modo,
recomenda-se profundidades máximas variando de 1,20 a 1,80 m, dependendo da superfície, de
finalidade do viveiro e da topografia do terreno. Quanto a profundidade minima, sugere-se, para
nossa região, valores entre 0,80 a 1,10 m. Viveiros muito rasos facilitam a invasão de vegetais
neles, tais como gramíneas e ciperáceas. Normalmente, as profundidades médias dos viveiros
variam de 1,00 a 1,40 m. Os de barragem tendem a ser mais profundos do que os de derivação.

Cotas do cano de abastecimento, do nível da água no viveiro e do cano de esvaziamento.

Para o viveiro de barragem estas cotas são determinadas pela topografia do terreno.

Conforme dito antes, o viveiro de derivação deve ser cheio e esvaziado no menor espaço de
tempo, e, se possível, por gravidade. Para isto, é necessário: (1o) que a cota do espelho máximo
de água no viveiro esteja 0,30 m, no mínimo, abaixo da cota do fundo do canal ou do ponto onde
sai o cano de abastecimento e(2o) que a cota do cano de esvaziamento, posicionado no ponto
mais profundo do viveiro, esteja acima da cota do nível máximo da água no dreno que pode ser
um riacho, rio, canal escavado etc., para que o mesmo se esgote por gravidade. O ideal é que a
diferença entre estas duas cotas seja de, no mínimo, 1,00 m, a fim de permitir o uso de caixas de
despesca.

Caso a profundidade máxima do viveiro seja de 1,60 m e ele apresente uma altura de 1,00 m
entre a saída do cano de esgotamento e o fundo do dreno, tem-se que a diferença de nível entre
este último ponto e o fundo do canal será de 2,90 m, considerando-se que a altura do espelho de
água do viveiro e o fundo do canal de abastecimento é de 0,30 m, necessária para que os peixes
não galguem este cano e saiam do viveiro através do canal.

8.1.2.2.2 Viveiro de barragem

Conforme referido antes, é formado pelo erguimento de pequena barragem ou dique no fundo de
um vale, interceptando pequeno curso de água. Suas partes constituintes com as respectivas
técnicas de construção vão a seguir descritas. A sequência apresentada deve ser obedecida.

8.1.2.2.2.1 Levantamento plani-altimétrico

Feito nos moldes anteriormente referidos, devendo abranger os locais pré-escolhidos para as
futuras barragens e bacia hidráulica.

8.1.2.2.2.2 Projeto do(s) viveiro(s)

Deve abranger estudos da barragem (localização, fundação, altura, inclinação dos taludes,
larguras da saia e do coroamento e volume do maciço); do sistema de esvaziamento e de
renovação de água do sangradouro (quando necessário); do piso (regularização e declividade); da
profundidade da água; da área da bacia hidráulica e do volume de acumulação. Devem ser
levados em conta, ainda, estradas de acesso, vedação da área, eletrificação e edificações, no
caso de grandes instalações.
No estudo da fundação coloca-se piquetes (pequenos pedaços de madeira com uma extremidade
em ponta) no caminhamento do que poderá ser o futuro eixo da barragem, os quais são
espaçados, normalmente, de 10 em 10 m. Para que o piquete fique bem visível, finca-se junto ao
mesmo uma estaca (pedaço de madeira com cerca de 0,40 m de comprimento e com uma
extremidade em ponta). Cava-se, no local de cada piquete, um buraco até que se encontre a
rocha ou outro material impermeável (terra argilosa ou piçarra). Estabelece-se escalas vertical e
horizontal e marca-se em papel milimetrado o caminhamento supracitado e as profundidades
encontradas em cada furo. Deste modo, estabelece-se, no papel, duas linhas: a superior,
correspondente ao nível atual do terreno, e a inferior, correspondente as profundidades de
escavação da fundação da barragem. Assim, calcula-se os volumes de terra a cavar e para
enchimento da fundação.

8.1.2.2.2.3 Desmatamento e destocamento da área

Deve abranger os locais da barragem e do sangradouro e a bacia hidráulica, todas as raízes,


troncos e galhos serão removidos. As operações de desmatamento e de destocamento podem ser
manuais ou mecânicas.

8.1.2.2.2.4 Barragem ou dique

A barragem compõe-se de:

a. Fundação - a barragem não se sustenta sobre a lama, terra vegetal, areia (que
permite a infiltração de água) e outros materiais permeáveis. Daí surge a fundação,
formada pela escavação e retirada desses materiais, compreendendo toda extensão da
barragem e na largura de sua saia, até que se encontre material impermeável. Quando o
terreno tem certo grau de firmeza, a fundação pode se restringir a uma vala central ou no
pé da saia, parte de montante. A largura dela pode corresponder a 1/3 da da saia.

A fundação deve ser cheia com terra argilosa (piçarra), compactada em camadas de até
0,15 em 0,15 m, se a compactação for manual, e de até0,30 em 0,30 m, se mecânica.

b. Saia - A barragem tem forma trapezoidal e a saia corresponde a base maior


(inferior) do trapézio, cuja largura depende da altura, da largura do coroamento e da
inclinação dos taludes. Quanto maior os dois primeiros e mais inclinados os taludes mais
large será a saia e, consequentemente, mais caro o viveiro. A saia fica assente sobre a
fundação, desta cheia.
c. Altura - Normalmente a barragem do viveiro é baixa. Quando ele apresenta 1,80 m
de lámina máxima de água, aquela tem 2,50 m de altura, ficando uma revenche de 0,70 m
(diferença entre o espelho máximo de água e o coroamento). Rarissimamente o dique
alcanća 4,00 m de altura.
d. Inclinação dos taludes - Depende do material usado na construção da barragem e
do grau de compactação da mesma. Normalmente o de montante é menos inclinado (2:1 a
3:1), os de jusantes apresentam inclinações variando de 1,5:1 a 2:1.

Largura e coroamento - se se pretende a passagem de veículos deve ser de 5,00 m, no mínimo,


caso contrário, poderá ser de 1,00 a 3,00 m

Após a marcação, limpeza do terreno e a escavação e enchimento da fundação, inicia-se o


erguimento da barragem propriamente dita. Utiliza-se terra argilos (piçarra) se possível de primeira
qualidade, isto é, que apre- sente bom grau de compactação. Isto pode ser verificado num
laboratório de solo. O local onde se retira a piçarra é chamado de jazida ou empréimo, sendo
aquela escavada, transportada para a barragem em construção, umedecide, espathada e
compactada. Antes de se colocar a primeira camada, o solo que a vai receber deve ser aguado, a
fim de permitir boa aderência entre os materiais. Deste modo, a medida em que se coloca
camadas sucessivas de piçarra compactada, nos moldes descritos para o enchimento da
fundação, elas vão se estreitando, no sentido do coroamento do dique, dando, assim, a inclinação
dos taludes. As larguras das camadas sucessivas podem ser marcadas com estacas ou
acompanhadas por um topógrafo.

Concluído o erguimento da barragem, faz-se o seu taludamento ou regularização dos taludes, de


modo que eles fiquem com as inclinações desejadas. Neste momento, to da terra solta que
repousa sobre eles é retirada.

Lembra-se que quando a barragem atingir a cota do fundo do viveiro, no ponto de esvaziamento,
coloca-se o cano de esgotamento, que pode ser manilhas de concreto ou de barro, cimento-
amianto, plástico (PVC) rigido ou de ferro. Os melhores são as manilhas, as quais devem ser bem
unidades com argamassa de cimento e areia, e os canos de cimento-amianto. Os tubos plásticos
podem sofrer danos com o peso da barragem e os de ferro são caros, além de ficarem sujeitos a
oxidação. Seja qual for o material utilizado, o cano precisa repousar sobre base de concreto
simples, com 5 a 10 cm de espessura, e ser bem fixado com bases ou anéis de alvenaria ou de
concreto, a fim de que não se desloguem e causem infiltrações de água através da barragem.
Esta éatravessada, em sua saia, pela tubulação de esgotamento do viveiro, que deverá ter
declividade de 1% no sentido de jusante. Para calcular seu diâmetro utiliza-se a fórmula

na qual:

Q = vazão (m3s),
r = raio da tubulação,
g = aceleração da gravidade (9,81 m/s2), e
h = altura (m) da lâmina de água na boca do tubo.

Conhecendo-se a vazão requerida (Q) e a altura da água (h), calcula-se r, cujo dobro é o diâmetro
buscado. Q é calculado dividindo-se o volume de água do viveiro em m3 pelo tempo em que se
pretende secá-lo, em segundo.

Como sugestão pode-se usar os seguintes diâmetros: 0,10 m para viveiros até 400 m2; 0,15 m
para viveiros entre 400 a 1.000 m2; 0,20 m para viveiros entre 1.000 a 2.500 m2; 0,25 m para
viveiros entre 2.500 a 5.00 m2; 0,30 para viveiros entre 5.000 e 10.000 m2 e 0,40 m para viveiros
com áreas acima de 10.000 m2.

8.1.2.2.2.5 Sistema de esvaziamento e de renovação da água

Os principais sistemas de esvaziamento utilizados são:

a. Cano vedado com rolha ou dotado de registro - Utilizado nos pequenos viveiors,
consistindo em se vedar, na parte de montante, o cano de esgotamento com rolha de
madeira ou de borracha. Quando se quer renovar a água do viveiro ou seu total
esvaziamento, retira-se a rolha e coloca-se tela na boca do cano, para que os peixes não
saiam. Nesta operação, o piscicultor tem que mergulhar, daí a precariedade deste sistema,
pois a cada chuva ou enchurrada no riacho pode ficar comprometida a segurança do
viveiro, se ele não tiver sangradouro. lsto torna este sistema de esvaziamento mais usado
nos pequenos viveiros de derivação. Melhores resultados são obtidos colocando-se um
registro na parte de jusante do cano de esgotamento e tela em sua extremidade de
montante. Caso se necessite renovar, secar o viveiro ou dar escoamento ao excesso de
água que chega no mesmo, abre-se o registro.
b. Cano/cotovelo - Este sistema consiste em se enroscar na extremidade de montante
ou de jusante do cano de esgotamento um cotovelo de mesmo diâmetro e material, e na
sua extremidade livre um cano móvel, também do mesmo material e diâmetro, cuja altura
é igual a profundidade máxima projetada para a água do viveiro. Quando o cano móvel
está na vertical, em relação ao piso do viveiro, este pode permanecer em seu nível
máximo de repleção; a medida que se inclina o cano, graças ao cotovelo, o viveiro vai
esvaziando até que quando aquele fica na horizontal, este último seca completamente. Na
extremidade livre do cano móvel coloca-se tela, a fim de evitar a saída dos peixes. Quando
ele fica à jusante da barragem, a tela fica na extremidade oposta do cano de
esvaziamento. Este sistema é utilizado nos pequenos e médios viveiros de barragem
(volume até 5.000 m3 de água).
c. Monge - O monge é uma estrutura em forma de U, com abertura voltada para o
interior do viveiro, construída na extremidade de montante do cano de esgotamento. Ele
pode ser construído em concreto armado, alvenaria de tijolo ou de pedra ou em madeira.
Em qualquer caso, deve ficar assente sobre base de concreto simples, com 7 a 10 cm de
espessura, se o solo não for bastante sólido.

O monge apresenta o dorso, de onde sai o cano de esgotamento, parte voltada para fora
do viveiro, e duas asas laterais, cada uma da qual apresenta duas filas de ranhuras com
0,04 m de largura e 0,04 m de profundidade, espaçadas de 0,10 a 0,15 m uma da outra.
Nelas põem-se tábuas, com 0,15 m de largura e comprimento tal que se ajuste entre duas
ranhuras frontais, e entre as duas filas coloca-se serragem de madeira ou argila para
vedação. Sobre a última tábua, que fica 0,15 a 0,20 m abaixo do cimo do monge, coloca-
se a grade telada, para renovação da água e saída do excedente da mesma. A altura do
monge é igual a do coroamento do dique e o comprimento das asas e largura do dorso
dependem do volume de água do viveiro. BARD et al. (1974), recomendam o seguinte:

Monge para pequenos


- Altura 1,50 m
viveiros
Largura 0,57 m
Comprimento das asas 0,44 m
Espessura 0,12 m
Monge para viveiros médios - Altura 2,00 m
Largura 0,70 m
Comprimento das asas 0,54 m
Espessura 0,15 m

Quanto a espessura das paredes do monge, depende do material de que é confeccionado.


Os de tijolo têm-na com 0,15 m (parede simples) ou 0,30 m (parede dupla), dependendo
da altura dele; nos de concreto as paredes têm 0,07 a 0,10 m de espessura; os de pedra
0,15 a 0,30 m de espessura e os de madeira 0,025 m.

Nos grandes viveiros de barragem o monge por si só, as vezes, não dá escoamento ao
excedente de água que nele chega, havendo necessidade de um sangradouro.

Existe variações nos tipos de monges utilizados, no entanto, o que aqui descrevemos é o
modelo mais utilizado.

d. Comporta com ou sem galeria-Dispositivo pouco usado hoje, em virtude dos altos
custos e de estarem sujeitos a oxidação. A comporta pode ser instalada entre duas
paredes de alvenaria, geralmente de tijolo, posicionadas na parte mais profunda do viveiro,
juntas da barragem e tendo por trás o cano de esgotamento, ou na parede anterior de uma
galeria. As paredes contêm ranhuras onde se encaixa uma grade telada destinada a
impedir a saída dos peixes.

A galeria é uma pequena edificação vertical, construída em alvenaria de tijolo, rejuntada


com argamassa de cimento/areia, sobre terreno sólido ou base de concreto simples. De
sua parte dorsal sai o cano de esgotamento e na anterior posiciona-se a comporta ou
adulfa e a janela com grade telada em ranhuras, as quais permitem a saída da água de
renovação ou excedente e a permanência dos peixes no viveiro. A altura da galeria é a
mesma do coroamento da barragem, ficando ela coberta com placa de concreto, dotado
de janela com tampa removível, para inspeção. As vezes a placa de concreto comunica-se
com a crista da barragem através da passarela de madeira ou concreto.

A galeria somente é utilizada nos grandes viveiros de barragem, pois é uma estrutura muito cara.

8.1.2.2.2.6 Piso do viveiro

Deve ser regularizado, sem depressões ou morros, e todo com declive fraco em direção ao cano
de esgotamento. A regularização pode ser feita manualmente ou mecanicamente (auxílio de patrol
ou trator). É preciso, pois, que o viveiro seque completamente.

8.1.2.2.2.7 Sangradouro

O sangradouro ou vertedouro visa dar vazão ao excedente de água que chega ao viveiro de
barragem. Nor malmente ele é construído em uma das ombreiras do dique. Constitui-se numa
escavação do terreno até a cota desejada para o máximo espelho de água no viveiro. Suas
ombreiras são cortadas em taludes inclinados ou verticais, sendo neste caso protegidas por muros
de alvenaria de pedra ou de tijolo contra a erosão. Sua soleira também pode ser protegida com
revestimento de concreto ou alvenaria, caso contrário, deve ter pouca inclinação de montante
para jusante.

O sangradouro deve ser suficiente largo para que a lâmina máxima da água que nele passe seja
menor possível, dificultando ou impedindo, assim, a saída dos peixes. Com este objetivo, pode-se,
também, nele colocar telas de arame, náilon ou outro material. Contudo, nestas se concentram
ramos, folhas e detritos diversos que podem lhes causar vedação e subida da água na barragem,
comprometendo sua segurança. Para amenizar este problema, a tela pode formar um vértice para
o interior do viveiro, de modo que os detritos se concentrem em seus cantos, podendo serem
removidos daí facilmente.

Como medida de segurança, pode-se dar ao sangradouro a largura do riacho barrado, com
alguma folga. Contudo, melhor é dar-lhe uma vazão tal que escoe todo o excedente de água, a
qual é calculada com base no volume deste líquido que passa, num dado momento, no local da
barragem.

8.1.2.2.3 Viveiro de derivação

Conforme dito antes, é formado por escavações do terreno natural ou elevação parcial ou total de
diques sobre aquele, sendo dotado de sistemas de abastecimento e de esvaziamento, de maneira
que seja abastecido e esgotado no menor espaço de tempo possível.

A sequência e técnicas de construção de um viveiro de derivação, bem como suas partes


constituintes, são vistas a seguir.

8.1.2.2.3.1 Levantamento plani-altimétrico da área

Feito nos moldes anteriormente descritos, devendo o mesmo ficar circunscrito numa poligonal no
interior da qual fique toda a área destinada ao projeto do(s) viveiro(s) e das edificações, se
houverem.

8.1.2.2.3.2 Elaboração do projeto

Nele devem constar as seguintes plantas: levantamento plani-altimétrico da área; baixa (situação)
dos viveiros e de outras instalações, contendo contorno da área, estradas de circulação interna,
edificações, arborização etc; de detalhes dos viveiros e outras instalações, com cortes; dos
sistemas de abastecimento e de drenagem; além de outras que se fizerem necessárias.

Para elaboração do projeto dos viveiros ueve-se levar em conta as indicações de forma,
superfície, profundidade etc., sugeridas antes.

8.1.2.2.3.3 Desmatamento e destocamento da área

Deve ser realizado nos moldes descritos para os viveiros de barragem. Na área dos viveiros as
raízes das grandes árvores, devem ser arrancadas até a profundidade de pelo menos 1,00 m,a
fim de se evitar futuras infiltrações de água através delas.

8.1.2.2.3.4 Marcação dos viveiros

De posse das plantas baixa e dos viveiros, uma turma de topografia, munida de teodolito, balisas,
estacas, piquetes e trena, procede a marcação dos viveiros e de outras instalações.

Caso não se disponha de topógrafos com aqueles instrumentos, pode-se fazer a marcação
utilizando esquadro, linha náilon, balisas, piquetes, estacas e trena. Com o esquadro e a linha
mede-se ângulos retos. Com a trena as distâncias. As balisas são usadas nos alinhamentos,
sendo necessárias três para as visadas. Piquetes e estacas utilizam-se para marcar os bordos
dos viveiros e outros alinhamentos, como canais, drenos etc.

8.1.2.2.3.5 Escavação do viveiro

Pode ser manual, utilizando-se picaretas, chibancas, pás, enxadas, alavancas, carrinhos de mão
etc., ou mecânica, com o uso de trator de esteira, pá-mecânica, caçambas, “motor-scraper” etc.

No que se refere a escavação, lembra-se que os viveiros podem ser totalmente escavados ou
parcial ou totalmente elevados no terreno. No caso dos parcialmente elevados, parte da terra
escavada pode ser usada na construção dos diques.

Após marcado o viveiro, escava-se uma vala central, cuja largura e comprimento são iguais às do
piso dele e as profundidades iguais as determinadas para o viveiro. Toda a terra escavada é
retirada.

Pronta a vala, faz-se, então, o taludamento ou regularização dos taludes, operação realizada,
quase sempre, manualmente, usando-se picaretas, pás, enxadas e carrinhos de mão, consistindo
em se dar a inclinação desejada aos mesmos. Nos internos de 2:1 a 3:1 e nos externos, se
houverem, 1,5:1 a 2:1.

Quando se torna necessária a impermeabilização do viveiro com piçarra, escava-se a mais pisos
e taludes, numa profundidade correspondente a altura da camada compactada de piçarra que
aqueles vão receber.

8.1.2.2.3.6 Impermeabilização do viveiro

Quando o terreno escolhido para a construção do viveiro apresenta certo grau de permeabilidade,
há que se fazer a impermeabilização do piso e taludes do mesmo, usando-se, para isto, piçarra
compactada, manual ou mecanicamente, como descrito na construção das barragens.
Dependendo do solo ser mais ou menos permeável, a camada de piçarra compactada varia de
0,15 a 0,30 m.

8.1.2.2.3.7 Construção dos diques ou barragens


A constituição e a construção dos diques dos viveiros de derivação são idênticas às descritas para
os viveiros de barragem. Contudo, a fundação se restringe a retirada da terra vegetal, lama e
areia solta, não necessitando de escavações até o material totalmente impermeável. Conforme
dito antes, parte da terra de escavação do viveiro pode ser usada no erguimento dos diques,
contribuindo para diminuir os custos daquele, pois, quando isto não ocorrer, há que se trazer terra
de fora, aumentando os gastos de transporte. Se o material local não for muito bom (contiver
muita areia, por exemplo), pode-se revestir os diques com piçarra, como referido no item anterior.

Pode acontecer que os diques separem viveiros contíguos. Neste caso a inclinação de seus
taludes deve ser de 2:1 a 3:1, dependendo da qualidade do material usado e do seu grau de
compactação. Os taludes externos podem ter inclinação de 1,5 a 2:1.

A largura do coroamento do dique varia de 1,00 a 5,00 m conforme se deseje ou não a passagem
de veículos. As vezes, quando se projeta uma bateria de viveiros contíguos, a cada 3 a 5 deles,
dependendo de suas larguras, deixa-se o coroamento com largura maior (4,00 a 5,00 m), para
passagem de viaturas, ficando os demais com 1,00 a 2,00 m. Isto é necessário para transporte e
adubos, alimentos e dos próprios peixes. Também sobre os diques poderão passar canais e/ou
drenos.

8.1.2.2.3.8 Piso do viveiro

Deve ser bem regularizado, livre de depressões ou elevações, e todo com declividade entre 0,5 a
1,0%, para médios e grandes viveíros, e entre 1 a 2%, para os pquenos, em direção ao sistema
de esvaziamento (cano de esgotamento), onde se reúnem os peixes durante a secagem
daqueles. Por isto, é preciso que os viveiros sequem total e lentamente.

Nos locais onde foram arrancadas grandes árvores, o piso deve ser reconstruído com piçarra
compactada.

8.1.2.2.3.9 Caixa de coleta

Viveiros de reprodutores e alevinagem podem ter caixa de coleta. Esta se constitui num
rebaixamento de 0,30 a 0,40m do piso do viveiro, em sua parte anterior (mais profunda), de tal
modo que dela parta o cano de esgotamento daquele, para cuja extremidade todo o piso da caixa
deve a presentar declividade de 2%.

A caixa é construída em alvenaria simples de tijolo, revestida com argamassa de cimento e areia.
Sua largura é em torno de 2,00 m e seu comprimento pode alcançar ou não toda largura do
viveiro.

O sistema de esgotamento (cano, cano/cotovelo, monge etc.), posiciona-se dentro ou no bordo da


caixa de coleta. Nesta os peixes (alevinos ou reprodutores) são capturados na água limpa e sem
turbidez.

8.1.2.2.3.10 Sistema de abastecimento

Visa levar água da fonte (rio, riacho, açude, lago, nascente, canal, poço etc.) até o viveiro.
Compõe-se de três partes:

Tomada de água da fonte para o canal- Varia segundo a fonte fornecedora de água. No caso de
nascente ou riacho pode-se usar:

a. Cano de ferro, plástico (PVC) ou cimento-amianto, vedado com rolha, ligando o


curso de água ao canal. As vezes aquele precisa ter seu nível elevado. Usa-se, para isto,
pequenos anteparos feitos com estacas de madeira colocadas transversalmente ao riacho,
amarradas com arame, cordas ou cabos de náilon, ou pequena barragem de concreto ou
alvenaria de pedra. Lembra-se que o cano de ferro é caro e está sujeito a oxidação.
b. Comporta imersa - Consiste em duas paredes frontais de alvenaria de tijolo ou
pedra, revestidas com argamassa de cimento/areia, providas de ranhuras onde se encaixa
uma comporta de madeira que controla a saída da água. Por isto, é que as paredes são
erguidas na margem do curso de água.

Quando a fonte de água é um rio ou poço, emprega-se, normalmente, o bombeamento, usando-


se motorbomba ou eletrobomba, cuja vazão deve ser a requerida pelo(s) viveiro(s).

Na tomada de água de um canal utiliza-se, além dos dispositivos referidos para os riachos,
comporta, constituída de prancha de metal e varão, ou registro. Este é bastante caro.

No caso de açude pode-se empregar:

a. Cano vedado com rolha ou dotado de registro para controle da saída da água. Pode
ser de ferro (caro e sujeito a oxidação), cimento-amianto, plástico (PVC) rígido (que não
suporta grandes pesos) ou manilhas de barro ou de concreto armado e atravessa a
barragem do açude de montante à jusante.
b. Cano com galeria - Constitui-se no mesmo sistema descrito para esvaziamento do
viveiro de barragem.
c. Sifão - Constituído por canos plásticos (PVC) rígido, cimento-amianto ou ferro em
forma de três ramais, um horizontal que atravessa a barragem do açude, a uma
profundidade máxima de 2,00 m do coroamento, e dois descendentes, um no talude de
montante, até uma profundidade de 6,00 m na água, e um de jusante, que desemboca no
canal. O sifão apresenta, ainda a válvula, na extremidade do cano de montante, a escorva,
na parte superior do cano horizontal, e o registro, próximo a extremidade do cano de
jusante.

A escorva é uma abertura, fechada com tampão, destinada a encher o sifão com água; a
válvula é usada para mentê-lo cheio de água, quando não estiver operando, e o registro
para controle de vazão da água.

O diâmetro dos canos depende da vazão desejada.

d. Bombeamento.

Canal de abastecimento - Visa conduzir a água da fonte até o(s) viveiro(s), chegando a mesma a
uma altura tal que aquele(s) seque(m) por gravidade, seja qual for o nível da água no dreno
natural (riacho, rio etc.).

O canal seguirá sempre uma curva de nível e caso seja necessária queda acentuada do mesmo,
ela deve se processar em trecho revestido com alvenaria de tijolo ou pedra ou em concreto,
devendo o mesmo constar no projeto dos viveiros.

A marcação do canal deve ser feita por topógrafo e auxiliares. No seu caminhamento são
necessárias sondagens, a fim de se verificar a ocorrência de rochas.

O canal pode ser:

a. De terra - É o mais barato, sendo, contudo, de pequena vida útil e de manutenção


cara, pois está sujeito a constantes desmoronamentos, assoreamentos e rompimentos.
Além do mais, podem causar turbidez na água que chega aos viveiros, em virtude da
erosão dos taludes e piso do canal. Por isto, a declividade de seu piso deve ser de 0 a
0,5% o (0,5 cm em 10 m) e a velocidade máxima da ável de 0,15 m/s.
O canal de terra tem formato trapezoidal, a presentando piso, taludes internos e externos e
passeio (parte superior). Após marcação no terreno, inicia-se sua construção cavando-se,
manual ou mecanicamente, uma vala cuja largura é igual a do piso e cuja profundidade é a
mesma do canal. Após isto, faz-se o taludamento, nos moldes descritos para a construção
do viveiro. Os taludes internos têm inclinações variando de 2:1 a 3:1, conforme a qualidade
do material local, ou se os taludes são revestidos. As vezes o canal precisa atravessar
áreas baixas (depressões), o que tem de ser feito sobre aterro. Neste caso, é conveniente
usar piçarra compactada, ficando os taludes externos com inclinação de 1,5:1. No local de
saída do canal, dependendo do sistema de tomada de água, pode ter pequena caixa de
alvenaria de tijolo, revestida com argamassa de cimento/areia, destinada a amortecer a
velocidade da água. Suas dimensões podem ser de 1,00×1,00×0,80 m.

Para dimensionar o canal usa-se a fórmula de MANNING

Q = 1/n A.R2/3. i1/2

em que: Q = vazão em m3s; n=coeficiente de rugosidade (0,025 nos canais de terra); A =


área molhada (largura) do piso × altura máxima da água) em m2; R = raio hidráulico (R =
A/P, em que A = área molhada, em m2, e P = perímetro molhado, em m); e i = declividade
do piso em m/m. O perímetro molhado é igual a 2 × altura máxima da água + largura do
piso. Cohecendo-se Q (vazão desejada), n e i, estipula-se a largura do piso e a lâmina de
água do canal, obtendo-se, assim, A e R.

b. De alvenaria - que pode ser de tijolo ou de pedra; em ambos os casos revestida


com argamassa de cimento/areia. Normalmente, as paredes são simples (0,15 m de
epsessura). Em virtude de ser revestido o canal de alvenaria tem piso com declividade de
até 1%o (1 cm em 10 m) e água com velocidade de até 1 m/s. Ele pode ter forma
trapezoidal (taludes com inclinações de 1:1), contudo, normalmente apresenta forma
retangular (paredes verticais).

Na construção do canal de alvenaria escava-se uma vala no terreno, após sua marcação,
cuja largura é igual a que se deseja para o canal mais duas vezes a espessura da
alvenaria do piso. Isto quando as paredes são verticais. No caso em que elas são
inclinadas, após a escavação da vala faz-se o taludamento e, em seguida, o revestimento
com a alvenaria.

Para o cálculo deste canal, emprega-se também a fórmula de MANNING, sendo que n
varia de 0,017 a 0,02, conforme as paredes apresentem menor ou maior rugosidade. Ele é
mais caro do que o de terra, contudo, tem vida útil muito maior e exige menores gastos
com manutenção.

c. De concreto armado - É o canal mais caro, porém o de maior duração e que


apresenta menores gastos com manutenção. Sua forma é retangular (paredes verticais),
piso com inclinação de até 1%o e velocidade da água máxima de 1 m/s.

O canal pode ser formado por peças de concreto pré-moldados ou ser concretado no local,
após escavação de uma vala cuja largura é a do piso + 2 vezes a espessura do concreto,
que varia de 0,05 a 0,10 m, e cuja profundidade é a do canal + espessura do concreto no
piso. Neste último caso, após colocação das formas de madeira, contendo a armação de
ferro, na vala enche-se a mesma com o concreto (cimento, brita e areia), traço 1:3:7,
vibrando-o intensamente, para melhor distribuição do concreto em seu interior. Há
necessidade de se colocar juntas de dilatação, em intervalos regulares. As mais usadas
são as de borracha. Retiradas as formas de madeira, o canal está pronto.

A fórmula de MANNING é também empregada para cálculo deste canal, sendo n = 0,013.
d. Tubulado ou fechado - Formado por tubulações de plástico (PVC) rígido, cimento-
amianto ou por manilhas de barro ou de concreto. Sua declividade dificilmente ultrapassa a
1%o e eles são normalmente enterrados, ao contrário dos demais que correm sobre o
terreno.

O cálculo do canal tubulado é feito usando-se a fórmula de Hafén-Willians, que é a seguinte:

em que: I = declividade do canal em m/m; Q = vazão em m3/s; D = diâmetro da tubulação em m e


K = constante, variando com a rugosidade do material do tubo (no concreto K = 0,00129).

Qualquer que seja o canal ele pode apresentar:

a. queda de nível - quando se deseja passar de uma curva de nível superior para uma
inferior. O trecho em queda deve ser revestido em alvenaria, para que não haja erosão.
b. caixas de decantação e de distribuição da água - São caixas de alvenaria de tijolo,
com profundidades e dimensões variáveis destinadas a decantação de materiais sólidos
que vêm na água do canal e/ou permitir a saída da água para os tanques e viveiros. Elas
apresentam paredes simples e seus lajões ficam abaixo do piso do canal. Delas partem,
portanto, as tubulações para abastecimento de tanques e viveiros. Na saída destas,
podem ser colocadas telas para impedir passagens de peixes. Normalmente isto é feito
numa pequena reentrância da caixa.
c. sifão invertido - Quando o canal atravessa estrada não pode caminhar na superfície
do terreno e sim deve ser enterrado, usando-se, para isto, duas caixas de alvenaria de
tijolo e tubulações, ou seja, o sifão invertido, que funciona como sistema de vasos
comunicates.
d. filtro - Pequena construção em alvenaria simples de tijolo, revestida com argamassa
de cimento/areia, dotada de dois ou três compartimentos, contendo seixos rolados ou brita
números 1 ou 2, nos quais passa a água para abastecimento de tanques e viveiros,
ficando retidos peixes alienígenos, nas diversas fases de desenvolvimento. As vezes o
filtroé formado por um simples alargamento do canal, tipo caixa, contendo em seu interior
compartimentos com 0,30 a 0,50 m de largura cheios com seixos rolados ou brita 1 ou 2.

Tomada de água do canal para o viveiro - Formada por tubulação de plástico (PVC) rígido,
cimentoamianto ou manilha de barro. Esta última pouco usada. O tubo parte diretamente de uma
reentrância do canal ou, mais comumente, de uma caixa de distribuição, devendo regularizar a
entrada de água no viveiro e impedir a circulação dos peixes antre este e o canal. Por isto, sua
extremidade livre deve ficar 0,30 m acima do nível máximo da água no viveiro.

O cano é colocado a nível, ficando perpendicular ao canal, sendo sua vazão regulada com rolha
ou comporta de madeira (esta correndo em duas ranhuras) ou com registro (geralmente caro). As
vezes na saída dele na caixa ou da reentrância do canal existe duas filas de ranhuras, uma para a
comporta e outra para a grade de madeira telada, destinada a reter peixes alienígenos. Com este
objetivo pode-se colocar, também, na extremidade livre do cano de abastecimento tela
milimetrada de náilon ou arame ou, ainda, uma caixa de proteção (armação de madeira e fundo
de tela milimetrada), que se encaixa no cano. Tanto a tela quanto a caixa devem ser limpas pelos
menos umas duas vezes por dia. Nesta operação fecha-se a entrada da água no viveiro.

8.1.2.2.3.11 Sistema de esvaziamento ou drenagem e de renovação de água

Utiliza-se os mesmos descritos para o viveiro de barragem, com exceção da galeria. Os mais
usados são cano/cotovelo e o monge. Este sistema fica no interior ou na borda da caixa de coleta,
quando o viveiro a possui, e na extremidade de montante do cano de esgotamento, o qual se
posiciona na parte mais profunda do viveiro. A extremidade de jusante desse cano termina no
dreno, que pode ser natural (baixada, riacho, rio, lagoa, açude etc.) ou artificial (escavado no
terreno ou tubulado). É bom que ela termine 1,00 m acima do nível máximo da água no dreno a
fim de permitir o uso de uma caixa de despesca. Esta se constitui numa armação de madeira ou
de alvenaria simples de tijolo, conforme seja móvel ou fixa, contendo tela de naílon ou arame no
fundo e/ou nos lados, por onde sai a água, ficando os peixes em seu interior, de onde são
facilmente retirados com puçà.

O dreno artificial pode ser aberto ou fechado (tubulado). No primeiro caso ele pode ser
simplesmente escavado no terreno natural, com taludes 2:1 a 2,5:1, ou revestidos em alvenaria de
tijolo ou pedra ou, ainda, com lajotas de concreto. Há necessidade de juntas de dilatação, quase
sempre. A declividade do piso deve ter, no máximo, 1%. Nos de terra menor. A inclinação dos
taludes do dreno revestido deve ser de 1:1. Todos apresentam, pois, forma trapezoidal.

O dreno fechado é formado por tubos de plástico PVC, cimento-amianto ou manilhas de barro ou
de concreto armado. Seus diâmetros dependem da vazão da água a escoar e, por conseguinte,
do volume de água do(s) viveiro(s). A declividade dos tubos ou manilhas deve ser, no máximo,
1%. Este dreno pode apresentar caixa de decantação ou de passagem e sifão invertido, nos
moldes descritos para os canais.

8.1.3 Escolha das espécies para os cultivos

As espécies de peixes para os cultivos intensivos e semi-intensivos, devem apresentar as


seguintes características:

a. Sejam adaptadas ao clima da região - para o Nordeste temos, como opção,


tambaqui, Colossoma macropomum pirapitinga, C. brachypomum; carpa comum,
Cyprinus carpio; macho da tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus; híbrido de tilápias
(Oreochromis hornorum × O. niloticus) e curimatã pacú, Prochilodus marcggrawii.
Esta última para policultivos, somente. Dependendo de maiores estudos, poderemos
contar com as carpas chinesas: capim, Ctenopharyngodon idella; prateada,
Hypophthalmichtys molitrix; e cabeça grande, Aristichthys nobilis;
b. Apresentem crescimento rápido - É necessário que atinja peso comercial antes de 1
ano de cultivo. Isto acontece com todas as espécies citadas no item a;
c. Reproduzam-se naturalmente em cativeiro, de preferência, ou sejam passíveis de
se obter a propagação artificial (hipofisação). - No primeiro caso, estão as tilápias e a
carpa comum. As demais só se propagam em cativeiro através da hipofisação;
d. Aceitem alimentos artificiais com bom índice de conversão alimentar. Com exceção
da curimatã pacu, as demais espécies citadas no item a atendem a esta necessidade;
e. Suportem elevadas densidades de estocagem. - Sob este aspecto as tilápias são
imbatíveis, vindo em seguida tambaqui, pirapitinga e carpa comum. A curimatã pacu tem
seu crescimento bastante afetado pela elevação na densidade de estocagem;
f. Sejam resistentes ao manuseio e as enfermidades. - Sob este aspecto, as tilápias
são também imbatíveis, vindo em seguida tambaqui, pirapitinga, curimatã pacu e carpa
comum; e
g. Sejam de boa aceitação comercial - Isto acontece com todas as espécies citadas
no item a. Não temos informações ainda sobre o valor econômico das carpas chinesas no
Nordeste brasileiro.

8.1.4 Mono e policultivo de peixes

A piscicultura no Nordeste brasileiro vem utilizando mono e, principalmente, policultivos. No


primeiro caso são criados o híbrido de tilápias, o tambaqui, a pirapitinga a carpa comum
(variedades escamosa e espelho) e machos da tilápia do Nilo.
Para as tilápias usam-se, além do alimento natural, subprodutos agrícolas e da agroindústria
(xerém de milho e sorgo; cuim de arroz; tortas de algodão, babaçu, mamona, amendoim etc.;
farelos de trigo, soja etc.) como alimentos artificiais e a consorciação com suínos, bovinos,
galináceos e marrecos. Alguns piscicultores têm utilizado ração balanceada, tipo engorda para
galináceos, com teores protéicos oscilando de 19 a 22%. As densidades de estocagem variam de
10 a 20 mil peixes/ha, com peso médio inicial entre 20 a 40 g. As taxas de sobrevivência variam
de 90 a 100% e as produtividades são boas (tabela 1).

As tilápias se constituem em excelentes peixes para cultivos nesta região, mercê de suas
rusticidades, maturação sexual precoce (4 a 6 meses), desovarem em ambientes muito restritos
(aquários, por exemplo), alimentarem-se nos primeiros elos da cadeia trófica (consomem
macrófitas aquáticas, algas, zooplâncton etc.), aceitarem uma variada gama de alimentos
artificiais (principalmente subprodutos agroindustriais) e terem ótima aceitação comercial.
Algumas espécies têm crescimento rápido, como a do Nilo. No entanto, as tilápias apresentam
problemas de superpopulação em viveiros, devido as suas precocidade, prolificidade e
rusticidade. Daí ser necessário criar somente machos, que crescem cerca de duas vezes mais do
que as fêmeas de mesma idade e criadas nas mesmas condições. Elas são de origem africana.

Tambaqui e pirapitinga são nativos da bacia amazônica com regime alimentar onívoro (consomem
zooplâncton, frutos, sementes, insetos, moluscos, ramos tenros de macrófitas aquáticas etc.) e
não se reproduzem em cativeiro, exigindo, para isto, a propagação artificial. A primeira maturação
gonadal é atingida após três anos de idade. Apresentam crescimento rápido, podendo atingir 1,5
kg em um ano de criação e aceitam uma grande variedade de alimentos artificiais (grãos, tortas,
farelos, rações balanceadas etc.), podendo serem alimentados com frutos (juá, melão, melancia,
maxixe etc.).

TABELA 1

PRODUTIVIDADES OBTIDAS EM MONOCULTIVOS DE MACHOS DE TILÁPIA DO NILO,


OREOCHROMIS NILOTICUS L., E DE HÍBRIDOS DE TILÁPIA (O. HORNORUM TREW. × O.
NILOTICUS L.), NO NORDESTE BRASILEIRO.

PRODUTIVIDADE
ESPÉCIE PEIXE/HA ALIMENTO FORNECIDO ADUBO USADO
(KG/HA/ANO)
Tilápia do
10.000 Ração de Galinha (3%) - 7.238
Nilo
Tilápia do
7.000 Torta de Babaçu (5%) - 3.856
Nilo
Tilápia do
10.000 Farelo de Arroz (3%) - 5.878
Nilo
Híbrido 10.000 Torta de Mamona (3%) - 5.290
Híbrido 10.000 Torta de Babaçu (3%) - 4.002
Híbrido 10.000 Torta de Algodão (3%) - 3.771
Torta de Algodão + Torta de Babaçu
Híbrido 21.000 - 9.983
(3%)*
Híbrido 31.000 Idem, Idem (3%)** - 11.816
Esterco de Galinha
Híbrido 8.000 2.760
(1kg/4m2/mês)
Híbrido 10.000 Farelo de Arroz (3%) - 6.496
Esterco de bovino
Híbrido 10.434 Farelo de Arroz (3%) 7.964
(1Kg/2m2/mês)
Híbrido 11.428 - Esterco de bovino*** 11.166
Fonte: DNOCS
OBS.:
* e
** 50% Torta de Algodão + 50% Torta de Babaçu
*** Oriundo de um bezerreiro com 120 animais em estabulação permanente.

As percentagens colocadas entre parênteses referem-se as taxas diárias de alimentação, em


relação ao peso vivo.

Nos monocultivos de tambaqui adotam-se densidades de estocagem que variam de 5 a 10 mil


peixes/ha, partindo do peso médio inicial variando, geralmente, de 20 a 40 g. Como alimentos,
usam-se grãos (milho e sorgo), farelos, tortas e rações balanceadas, tais como as comercialmente
vendidas para galináceos. Contudo, como nos demais cultivos, é básico que os viveiros
permaneçam bem férteis, mediante o uso de adubos orgânicos. Daí estas espécies virem sendo
criadas em corsorciação com suínos e marrecos. A tabela 2 mostra alguns resultados de
monocultivos do tambaqui e da pirapitinga em nossa região.

A carpa comum é de origem asiática, daí foi levada para as diversas regiões do mundo, de tal
modo que hoje se constitui no único peixe domesticado e o mais cosmopolita dos cultivados.
Vivem em temperaturas que variam de 0 a 40°C. É rústico; dos mais prolíficos; atinge a primeira
maturação gonadal entre 1 a 2 anos (em nossas condições climáticas); se reproduzem em
cativeiro, desde que o ambiente tenha vegetação submersa ou sobrenadante para fixação dos
ovos; tem regime alimentar onívoro (consome plâncton, organismos bentônicos, folhas e ramos
tenros de macrófitas aquáticas, sementes, insetos etc.) e aceitam variada gama de alimentos
artificiais (os mesmos citados para o tambaqui e pirapitinga).

Nos monocultivos de carpa comum têm sido empregada a mesma metodologia descrita para o
tambaqui e pirapitinga, sendo utilizada, ainda, a ração comercial CARPYL para alimentar este
peixe. A tabela 2 dá alguns resultados dos monocultivos da carpa comum, salientando que são
criadas apenas as variedades escamosas e espelho, oriundas da Hungria e de Israel.

TABELA 2
PRODUTIVIDADES OBTIDAS EM NOMOCULTIVOS DE TAMBAQUI, COLOSSOMA
MACROPOMUM CUVIER, DA PIRAPITINGA, COLOSSOMA BRACHYPOMUM CUVIER, E DA
CARPA ESPELHO, CYPRINUS CARPIO L. VR. SPECULARIS, NO NORDESTE BRASILEIRO.
PRODUTIVIDADE
ESPÉCIE PEIXES/HA ALIMENTO FORNECIDO
KG/HA/ANO
Tambaqui 5.000 Milho (3%) 4.470
Tambaqui 5.000 Torta de Babaçu (3%) 4.276
Tambaqui 5.000 Ração p/Galináceos (3%) 6.636
Tambaqui 10.000 Ração p/Galináceos (3%) 9.240
Pirapitinga 5.000 Ração p/Galináceos (3%) 4.200
Pirapitinga 10.000 Ração p/Galináceos (3%) 8.260
Carpa espelho 5.000 Ração p/Galináceos (3%) 4.407
Carpa espelho 7.500 Ração p/Galináceos (3%) 4.910
Carpa espelho 10.000 Ração p/Galináceos (3%) 4.440
Carpa espelho 5.000 Raçao Carpyl (3%) 4.891

Fonte: DNOCS

OBS: As percentagens referem-se as taxas diárias de arraçoamento, em relação ao peso vivo.

O policultivo é uma das técnicas mais antiga e salutar da piscicultura, pois na água se
desenvolvem variados ti-pos de alimentos naturais (fito e zooplâncton, bentos, insetos,
ologoquetas, moluscos, algas filamentosas, macrófitas etc.) e, se se praticar o monocultivo,
apenas um ou dois desses alimentos serão aproveitados, dependendo do regime alimentar do
peixe criado. No entanto, se se cria duas ou mais espécies, com exigências tróficas diversas,
quase todo o alimento natural será consumido e a produção piscícola sensivelmente elevada.

Em nossa região têm sido usadas nos policultivos, além das espécies indicadas para
monocultivos, as carpas capim, prateada e cabeça grande e a curimatã pacu.

As associações de espécies mais adotadas são as seguintes, com suas respectivas densidades
de estocagem:

• Tambaqui (2.500 a 5.000/ha) + híbrido de tilápias ou machos da tilápia do Nilo


(5.000/ha) + carpa espelho (2.500/ha);
• Pirapitinga (2.500/ha) + híbrido de tilápias ou machos da tilápia do Nilo (5.000/ha) +
carpa espelho (2.500/ha);
• Híbrido de tilápias ou machos da tilápia do Nilo (10.000/ha) + carpa espelho
(2.500/ha);
• Híbrido de tilápias ou machos da tilápia do Nilo (5.000/ha) + tambaqui ou pirapitinga
(5.000/ha);
• Tambaqui ou pirapitinga (5.000/ha) + carpa espelho (2.500 a 5.000/ha);
• Carpa comum (2.000 a 2.500/ha) + tambaqui (2.000 a 2.500/ha) + carpa prateada
(2.000 a 2.500/ha) + carpa cabeça grande ou carpa capim (500/ha) + curimatá pacu
(200/ha).
• Carpa prateada (4.000 a 5.000/ha) + carpa cabeça grande (500/ha) + carpa comum
(1.000/ha) + tambaqui (1.000/ha) + carpa capim (500/ha); e
• Carpa capim (2.000/ha) + carpa prateada (3.000 a 4.000/ha) + carpa cabeça grande
(1.000/ha) + tambaqui (2.000/ha).

Lembramos que a carpa prateada é fitoplânctófaga, a cabeça grande consome zooplâncton e a


capim é vegetariana. Todas necessitam da propagação artificial, não se reproduzem em cativeiro,
e apresentam crescimento rápido.

Nos policultivos se tem utilizado consorciações com suínos e marrecos, fertilizações dos viveiros
com esterco de bovinos e galináceos (1 kg/4m2/mês) e arraçoamento dos peixes com vegetais,
subprodutos agroindustriais, grãos (milho e sorgo) e rações balanceadas (principalmente o tipo
engorda para frangos do corte). Os peixes são estocados com 20 a 40 g de peso médio, na
maioria dos casos, e suas produtividades são vistas na tabela 3.

8.1.5 Fornecimentos de alimentos artificiais

Conforme referido no item 1.4, diversos subprodutos agroindustriais, grãos e rações balanceadas
são fornecidos aos peixes em cultivo semi-intensivos e intensivos. Eles são ofertados na base de
3 a 5% da biomassa daqueles no viveiro. Alevinos e peixes muito jovens, em crescimento ativo,
recebem 4 a 5% e os maiores em engorda 3%. As vezes inicia-se com uma taxa maior de
arraçoamento, sendo a mesma diminuida a medida em que os peixes crescem.

TABELA 3
RESULTADOS DE CULTIVOS CONSORCIADOS PEIXES/SUÍNOS REALIZADOS NO
NORDESTE BRASILEIRO
DENSIDADE DE TEMPO DE PESO MÉDIO
PRODUTIVIDADE
ESPÉCIE(S) ESTOCAGEM SUÍNOS/HA* CULTIVO FINAL (G)
(KG/HA/ANO)
(PEIXES/HA) (DIAS) DOS PEIXES
Híbrido de Tilápia* * 10.000 60 193 304 5.577
Tilápia do Nilo 8.000 70 189 205 2.878
Híbrido de Tilápias 10.000 120 118 447 13.827
Tambaqui + 2.500 360
Híbrido de Tilápias 5.000 90 89 360 14.530
Carpa Espelho 2.500 337
Fonte: DNOCS
OBS:
* Suínos/ha viveiro de pisciultura
* * Oreochromis Hornorum Trew. x O. Niloticus L

Para se calcular a taxa de alimentação para um dado mês, retira-se, com rede de arrasto, alguns
peixes e deles se obtém o peso médio, o qual multiplicado pelo número de indivíduos no viveiro
fornece a biomassa. Desta se tira a quantidade diária do alimento, de acordo com a taxa adotada.

A ração diária deve ser dividida em duas ou mais refeições, podendo o alimento ser lançado
diretamente na água do viveiro ou colocada em comedouros, preferentemente pela manhã bem
cedo e a tardinha. Caso a água do viveiro se apresente muito verde e com baixo teor de oxigênio
dissolvido, o que pode ser verificado na prática pela vinda à superfície e pela não captação do
alimento pelos mesmos, deve-se suspender a alimentação e proceder uma renovação da água do
viveiro. O mesmo procedimento deve ser adotado quando houver excesso de matéria orgânica
naquele em consequência das adubações.

8.1.6 Despesca dos tanques e viveiros

Pode ser feita parcelada ou totalmente. No primeiro caso, realizam-se várias pescarias, utilizando-
se redes de arrasto (as mais usadas) ou de espera, tarrafas ou anzóis e quando restarem poucos
peixes no viveiro este é esvaziado e todos os indivíduos capturados. Na despesca total o viveiro é
esvaziado e todos os peixes capturados para a comercialização.

No esvaziamento do viveiro deve-se ter cuidado com o sistema de drenagem para que por ele os
peixes não escapem.

No uso da rede de arrasto o número de operários para arrastá-la no viveiro depende da largura
deste, daí não ser recomendável que eles sejam muito largos.

Como os peixes são destinados a imediata comercialização não tem problema que eles sejam
capturados na lama. No entanto, logo que isto aconteça eles devem ser lavados em água limpa e
colocados no recipiente de transporte.

8.1.7 Conservação das instalações piscícolas

Há necessidade de se manter as diversas partes dos tanques e viveiros em boas condições de


operacionalização, para isto deve-se ter cuidado com os taludes, o piso e com os sistemas de
abastecimento e de drenagem.

Sempre que o viveiro for esvaziado, deve-se examinar os taludes dos diques e caso eles
apresentem desmoronamentos serão reconstituídos com piçarra compactada. Quanto ao piso do
viveiro, convém evitar que animais de grande porte nele penetre ou que o homem nele muito
ande. Em ambos os casos ficarão buracos que terão de ser posteriormente recuperados.
Conforme afirmou-se antes, o piso do viveiro deve ser livre de depressões ou morros para que ele
seque completamente e os peixes sejam capturados na parte mais baixa do viveiro. Caso hajam
depressões e elevações no piso, há necessidade de que o mesmo seja retificado com auxílio de
enxadas e picaretas.

Conforme referido antes, quando o viveiro é muito raso pode haver invasão de gramíneas,
ciperáceas e de outros vegetais ciliares em seu piso. Caso isto aconteça as plantas devem ser
removidas logo que o viveiro seja esvaziado. Nesta oportunidade, inspeciona-se os sistemas de
abastecimento e drenagem, principalmente se não há furos nas telas, devendo as mesmas serem
trocadas se isto acontecer.
No que diz respeito aos tanques, é preciso verificar, quando de seus esvaziamentos, a existência
de possíveis rachaduras na alvenaria, as quais devem ser imediatamente obstruídas, bem como
as condições dos sistemas de abastecimento e de esvaziamento.

8.2 Consorciação de Peixes Com Outros Animais Domésticos

8.2.1 Considerações gerais

Vários têm sido os métodos de se aumentar a produtividade primária de um ambiente aquático,


possibilitando meios de alimentação para os peixes em cultivo. O uso de excrementos de animais
vem sendo adotado em todo o mundo, notadamente os de bovinos, suínos, galináceos e
marrecos. As vantagens desta fertilização são, além do fornecimento de minerais para a
produtividade primária, promover a colmatagem do piso e taludes do viveiro, originar o grande
número de bactérias que servem de alimento diretamente para o zooplâncton, diminuir o pH da
água quando ela é muito alcalina, facilitar a absorção do fósforo pelos seres autotróficos e
fornecer CO2 para a fotossíntese. Além disto, os estercos de suínos e de galináceos são
consumidos diretamente por alguns peixes tais como as tilápias.

8.2.2 Bovinopiscicultura

Algumas criações de peixes, notadamente tilápias, têm sido realizadas em nossa região em
consórcio com a bovinocultura. Para isto os estábulos são construídos em planos superiores aos
viveiros, sendo os dejetos dos bovinos carreados para o interior daqueles, numa proporção nunca
superior a 5t/ha/mês, distribuídos em parcelas diárias. A tabela 4 mostra os resultados de dois
destes cultivos.

8.2.3 Suinopiscicultura

Uma das consorciações mais adotadas em nossa região é a de peixes com suínos, mediante a
construção de pocilgas sobre o viveiro (sistema de palatifas) ou em suas margens. Neste caso, os
dejetos dos porcos são lavados diariamente para o interior do viveiro, juntamente com restos de
comida caída dos cochos. No sistema de palafitas estes produtos caem diretamente na água do
viveiro.

Na suinopiscicultura tem sido criados 60 a 120 porcos por hectare de viveiro de piscicultura, tendo
os animais peso médio em torno de 20 kg e recém desmamados. O manejo que lhes são dados é
o usual adotado na suinocultura da região, no que se refere a castração, uso de vacinas e
vermífugos e alimentação.

As densidades de estocagem dos peixes variam de 8 a 12,5 mil indivíduos/ha, com peso médio de
20 a 40g, sendo os mesmos utilizados em mono e policultivos. As espécies mais criadas são as
tilápias, tambaqui e carpa comum. A tabela 3 mostra algumas produtividades obtidas na
suinopiscicultura da região, salientando-se que a duração dos cultivos varia de 4 a 6 meses.

TABELA 4
RESULTADOS DA CRIAÇÃO DE HÍBRIDO DE TILÁPIAS (OREOCHROMIS HORNORUM TREW
x O. NILOTICUS L.) NA FAZENDA COLUMINJUBA (MPARANGUAPE, CEARÁ) E NO
PERÍMETRO IRRIGADO DE MORADA NOVA (MORADA NOVA, CEARÁ).
PERÍMETRO IRRIGADO
ESPECIFICAÇÃO UMIDADE FAZENDA COLUMINJUBA *
MORADA NOVA**
Área do viveiro m2 5.500 2.300
Densidade de Estocagem Peixe/ha 11.428 10.434
Peso médio de estocagem Grama 48 15
Período de criação Dias 130 180
Peso médio final Grama 400 383
Ganho de peso Grama/Dia 2,6 2,0
índice de conversão alimentar - - 3:1
Produtividade kg/ha/ano 11.166 7.964
Sobrevivência % 87 99,5
Fonte: DNOCS
OBS.:
* Os peixes não receberam ração. Contudo, foi colocado no viveiro esterco oriundo da lavagem de um curral com 120 bezerros na
idade de 1 a 6 meses.
Os peixes receberam farelo de arroz, com 14% de proteína bruta, fornecido na base de 3% do peso vivo, diariamente. O viveiro foi
fertilizado com 154 kg de esterco de bovinos, semanalmente.

8.2.4 Consorciação com galináceos e marrecos

A consorciação peixes com galináceos (frangos de corte e galinhas poedeiras) é uma das
melhores, dada a excelente qualidade de seus estercos, principalmente para tilápias, pois lhes
servem como alimento direto. As gaiolas das poedeiras ou os galinheiros podem ficar
posicionados sobre os viveiros, para cujas águas cai diretamente o esterco. As condições
ambientais ficam mais amenas para os galináceos, em virtude de água logo abaixo. Normalmente
são criadas 200 a 250 galinhas ou frangos por hectare de viveiro de piscicultura.

Realiza-se, também, a consorciação galináceos, suínos e peixes. Segundo WOYNAROVICH


(1985) “A pocilga é construía sobre o viveiro e cerca de 1,6 m de altura acima desta, são
colocadòs os galinheiros. Desta forma, todos os desperdícios da produção de ovos e porcos são
utilizados pelos peixes”.

A consorciação peixe e pato vem sendo bastante adotada nesta região, pelas vantagens que
apresenta, pois a ave retira do viveiro importantes e valiosos alimentos (vermes, moluscos,
insetos, sementes, ervas aquáticas etc.) e fornece o esterco para uma continuada fertilização do
viveiro, mantendo-o com boa produtividade de alimentos naturais para os peixes. Lembra-se que
cada marreco origina, em média, 2 kg de esterco por mês, o suficiente para produzir 0,4 kg de
peixe (BÓDIS E ROSA, 1987).

Em criações isoladas os marrecos necessitam de rações com 18 a 20% de proteínas, mas quando
criados em viveiros de piscicultura esta exigência cai para 14 a 15%, pois o restante eles retiram
da água. Além do mais seus músculos adquirem, com a natação, mais consistência, menos
gordura e melhor sabor (BÓDIS E ROSA, op. cit.). Salienta-se que o movimento das aves no
viveiro provocam ondulações na água do mesmo e, consequentemente, melhor oxigenação.

A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), está disseminando


nesta Região uma linhagem húngara do marreco de Pequim, o qual alcança 2,4 a 2,6 kg em 50 a
55 dias de criação consorciada com peixes. Estes atingem 0,8 a 1,0 kg em 10 a 12 meses de
cultivo. Segundo BÓDIS E ROSA (op. cit.), as produtividades são de 6,8 t/ha/ano de marreco
abatido e 5,1 t/ha/ano de peixes, o que perfaz um total de 11,9 t de carne/ha/ano.

Na técnica de cultivo os marrecos são levados para os viveiros com 14 a 15 dias de vida, quando
são bastante resistentes. Eles podem ser mantidos em plataformas construídas sobre as águas
daqueles, sistemas de palafitas, nas quais são colocados comedouros e ninhos de postura,
devendo as mesmas possuirem rampas de madeira ou de tela, a fim de que as aves transitem
delas para a água do viveiro e vice-versa. As plataformas podem ser cobertas com telhas comum
ou folhas de palmeiras.

Outro sistema de cultivo é o de se construir galpões nas margens do viveiro, onde ficarão
comeduros e ninhos. Para 10.000 m2 de viveiros são necessários 200 m2 de área coberta,
considerando-se a criação de 500 marrecos. Em idêntica situação de cultivo necessitar-se-á de
150 m2 de plataformas.
Há necessidade de se construir, em volta do viveiro, um cercado de tela de arame ou náilon, com
cerca de 0,40 a 0,50m de altura, para que os patos não passem de um viveiro para outro. É bom
que o cercado seja móvel, a fim de que possa ser utilizado em diversos viveiros.

Na consorciação utiliza-se 400 a 500 marrecos por hectare de viveiro de piscicultura, sendo os
mesmos alimentados com ração para engorda de frangos, com índice de conversão alimentar
médio de 3,13:1. São necessários 2 cm de comedouro para cada pato. Este pode ter sua ração
preparada pelo próprio piscicultor, sendo necessário que a mesma contenha 14 a 15% de
proteína e ser ministrada em mistura com gramíneas ou outras plantas de alto valor nutritivo,
cortadas em pedaços.

8.3 Rizipiscicultura

8.3.1 Definição e características gerais

A rizipiscicultura consiste na criação consorciada ou alternada de peixe e arroz, se constituindo


numa das formas mais racional de utilizar um meio aquático já existente, aproveitando-o para
outros fins. É viável somente em cultivo de arroz irrigado.

Em virtude da pequena lâmina de água nos arrozais e da fertilidade da vasa onde está plantado o
arroz, notadamente quando se usam planos de adubação, há, normalmente, formação de
abundante massa de fito e zooplâncton, que não é aproveitada por essa cultura podendo, no
entanto, ser utilizada pelos peixes. Estes, entretanto, terão que se ajustar às condições adversas
da água dos arrozais, no que se refere à pequena lâmina, temperaturas elevadas e, em algumas
ocasiões, baixas taxas de oxigênio dissolvido. Também pode acontecer casos de elevada turbidez
da água.

8.3.2 Preparação das parcelas para a rizipiscicultura

Na rizipiscicultura há necessidade da adaptação dos locais de plantio do arroz para a criação de


peixe, principalmente no que diz respeito aos sistemas de abastecimento e de esvaziamento de
água, consubstanciadas na elevação dos diques das parcelas, uso de telas e construção de
refúgios. O cultivo de variedades de portes médios e altos e de ciclos médios e longos torna-se
necessário.

Denomina-se de viveiro-maracha as parcelas ou marinhas onde se pratica a rizicultura adaptadas


para rizipiscicultura, compreendendo: (a) levantamento dos diques a uma altura de até 0,50 m, a
fim de possibilitar uma lâmina de água máxima de 0,40 m; (b) dar maior solidez aos diques para
que não ocorram maiores infiltrações de água nem desmoronamentos; (c) construção de refúgios
para os peixes, que consiste numa área mais profunda da maracha, em torno de 0,80 m, e
abrangendo cerca de 10% de sua superffcie, para onde poderão se dirigir os peixes nas horas
mais quentes do dia, quando a lâmina de água estiver pequena, ou mesmo quando do
esgotamento da água para a colheita do arroz; e (d) colocação de comportas e telas para evitar a
passagem de peixes de um viveiro-maracha para outros ou deles para o exterior do sistema. Na
extremidade do cano de abastecimento coloca-se tela e na saída água do viveiro-maracha pode-
se construir um pequeno monge ou posicionar-se uma grade telada em ranhuras.

O refúgio pode ser construído na extremidade anterior, mais profunda, do viveiro-maracha, em


volta do mesmo ou em seu ponto central. O primeiro posicionamento parece ser o ideal. Neste
caso o monge fica em seu interior.

8.3.3 Espécies de peixes indicadas para a rizipiscicultura

Em nossa região foram criadas a carpa comum, o híbrido de tilápias e machos da tilápia do Nilo,
todas com bom sucesso;as curimatãs pacu e comum, Prochilodus cearaensis, com resultados
apenas regulares. Não se dispõe de dados dobre o tambaqui e a pirapitinga. Rizipiscicultores do
Baixo São Francisco têm criado, ainda, o mandi amarelo, Pimelodus clarias, e o piau verdadeiro,
Leporinus elongatus.

Excelentes resultados foram obtidos no DNOCS com o policultivo da carpa comum e o híbrido de
tilápias. Nele pode ser incluída ainda a curimatã pacu.

8.3.4 Técnicas de plantio do arroz, estocagem dos peixes e manejo dos


cultivos.

O arroz pode ser plantado diretamente no viveiro-maracha ou ser encanteirado para posterior
transplante. No primeiro caso obedece-se os espaçamentos entre fileiras e entre covas
recomendados para a variedade cultivada. O solo deverá, no momento do plantio, se encontrar
devidamente preparado (aradado, se necessário, gradeado e planeado), a fim de se constituir
numa boa cama para as sementes, estas devem ser selecionadas. A adubação pode ser feita no
momento do plantio ou antes do mesmo. Na maioria dos casos, além do adubo fosfatado e
potássico, aplica-se metade do nitrogenado, sendo o restante deste aplicado 30 a 40 dias após a
semeadura. Estas adubações facilitarão proliferação de organismos aquáticos que servirão de
alimentos para os peixes. Após o plantio o solo é umedecido e assim deve ser mantido até que o
arroz germine. A medida que a plantinha cresce colocase água no viveiro-maracha, de forma que
decorridos 20 dias do nascimento do arroz a lâmina já está em torno de 0,10 m, podendo-se soltar
os peixes no refúgio da parcela.

Quando o arroz é plantado em sementeira com 15 dias as mudinhas podem ser transplantadas
para o viveiromaracha, devidamente preparado (aradado, gradeado, planeado, adubado e bem
úmido), obedecendo-se os espaçamentos requeridos pela variedade. Decorridos 15 dias do
transplante as plantinhas estão pegadas e firmes no solo, elevando-se, então, a lâmina de água
da parcela e soltando-se os peixes no refúgio. Antes da estocagem devem ser observadas as
condições das telas nos sistemas de abastecimento e de esvaziamento.

A densidade de estocagem mais utilizada é de 2.500 peixes/ha (carpa comum, híbrido de tilápias
ou machos da tilápia do Nilo). Quando em policultivo emprega-se 1.250 carpas comum e 1.250
híbridos ou machos da tilápia/ha. Recomenda-se, também, 1.000 carpas, 1.000 híbridos ou
machos da tilápia do Nilo e 500 curimatãs pacu/ha. O peso médio inicial dos peixes deve variar de
20 a 50g.

Caso seja necessário o esvaziamento da parcela para a segunda adubação nitrogenada ou


tratamento com defensivos agrícolas (combate das pragas do arroz), aquele deve ser feito
lentamente, para que os peixes se dirijam ao refúgio. Quando isto acontece, faz-se o tratamento
desejado. Se for realizada aplicação de pesticidas deve ser feito com muito cuidado e somente
sobre a plataforma do arroz, não atingindo os refúgios onde se encontram os peixes. Decorridos
48 horas, caso tenha sido aplicado adubo, ou 72 horas, se tiver sido o pesticida, eleva-se,
lentamente, à água da parcela, até atingir o nível desejado para o tamanho do arroz.

8.3.5 Colheita do arroz e dos peixes

A colheita do arroz é feita três meses e meio a cinco meses e meio após o plantio, dependendo da
variedade cultivada. Neste momento pode acontecer duas coisas com os peixes: encontram-se ou
não em tamanho comercial. No primeiro caso, esvazia-se, lentamente, o viveiro-maracha para que
eles se dirijam ao refúgio, onde são capturados com rede de arrasto ou mediante esvaziamento
do refúgio. Só, então, colhe-se o arroz, cortando-o 0, 10 a 0, 15 m acima do solo. No caso dos
peixes não se encontrarem em tamanho e peso comerciais, esvazia-se a parcela, como dito
acima, permanecendo os peixes no refúgio até que o arroz seja colhido. Logo que isto aconteça,
eleva-se a água da parcela ficando aí os animais até que atinjam peso do mercado. Neste caso é
possível o aproveitamento da soca do arroz (segunda colheita), quando dá-se então a despesca.
8.3.6 Cultivo alternado peixe a arroz

É uma técnica de cultivo muito adotada e consiste na utilização das parcelas do arroz irrigado,
logo após a colheita deste, para a criação de peixes. Neste caso obtém-se alternadamente,
culturas de arroz e peixe. Logo após a colheita da gramínea o solo é gradeado, para incorporação
dos restolhos da cultura, e inundado para a piscicultura. Neste caso a parcela não necessita do
refúgio tão somente o fortalecimento de seus diques e as adaptações dos sistemas de
abastecimento e de esvaziamento.

No cultivo alternado o resto dos adubos aplicados na lavoura, juntamente com a matéria orgânica
deixada pelo arroz, servirão de fertilizante para a água, aumentando a produção de peixe. Este,
por sua vez, deixará seus excrementos no solo, que fica adubado para a próxima cultura da
gramínea.

8.3.7 Vantagens e desvantagens da rizipliscicultura

As principais vantagens são as seguintes:

a. Obtenção de um alimento básico (arroz) e de um alimento de um alto valor proteíco


(peixe) numa mesma área, sem muito acréscimo nas despesas;
b. Os peìxes aproveitam os alimentos naturais que se desenvolvem na água do arroz
e que não seriam utilizados por este;
c. Os peixes se alimentando de insetos, molusco etc. contribuem para diminuir ou
eliminar as pragas do arroz, bem como quebrar o ciclo biológico de alguns parasitas do
homem que vivem na água do arroz, co mo o agente etiológico da esquistossomose, que
tem nos moluscos seu hospedeiro intermediário;
d. Os excrementos dos peixes adubam o solo onde cresce o arroz;
e. Algumas espécies de peixe usadas na rizipiscicultura consomem pequenas
plantinhas invasoras do arrozal, não provocando, contudo, nenhum dano a este, quando
bem pegado (crescido);
f. Alguns peixes, como a carpa comum, têm hábito de fuçar o solo, melhorando suas
condições para o crescimento do arroz;
g. No talo do arroz desenvolve-se o perifiton, que serve de alímento aos peixes.

As desvantagens são as seguintes:

a. Necessita-se criar peixes rústicos, em virtude das condições do cultivo (pequena


lâmina de água, temperaturas altas turbidez e baixos teores de oxigênio dissolvido na
água etc.;
b. Necessidade de se criar peixes de crescimento rápido;
c. Necessidade de se cultivar variedades de arroz de portes médio ou alto e de ciclos
médio ou longo;
d. Necessidade de se adaptar as parcelas para a rizipiscicultura, o que provoca
diminuição na área plantada com o arroz, em virtude dos refúgios; e
e. Perigo do rompimento dos diques das parcelas, se não forem bem construídos, o
que põe em risco a vida dos peixes.

8.3.8 Produção e produtividade da rizipiscicultura

Em virtude das vantagens acima referidas, a produção do arroz consorciado com peixes tem
alcançado 6,8 t/ha, para a variedade SUVALE l, sem se usar nenhum fertilizante, a não ser o
originado pelos excrementos dos peixes. Nesta produção está incluída a primeira colheita (6,1
t/ha) e a soca (0,7 t/ha). Em quatro cultivos realizados no DNOCS, com aquela variedade, a média
de produção, incluindo a soca, foi de 6 t/ha. A gramínea foi plantada em sementeira e
transplantada para o viveiro-maracha.
Quanto ao peixe (policultivo da carpa espelho com o híbrido de tilápias) as produtividades
variaram de 640 a 966 kg/6 meses, equivalentes a 1.280 e 1.932 kg/ha/ano. Nos 6 meses de
cultivo as carpas alcançaram peso médio de 790,7 g e os híbridos 412,0 g.

PARTE9:
ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DA PESCA EM AÇUDES
Expedito Araújo de Vasconcelos*

9.1 Introdução e histórico


A partir de 1931, a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (atual DNOCS) pelo Decreto no
19.726, de 0.02.1931, acrescentou às suas atribuições de então, mais uma - manter “postos de
piscicultura, à margem dos çudes e rios, para a introdução e melhoramento das espécies boas e
destruição das daninhas”. Em decorrência do ecreto citado foi criada, em 12.11.1932, no âmbito
da IFOCS, a Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, osteriormente Comissão de
Piscicultura (CP). O autor dessa criação foi o Dr. José Américo de Almeida, à epoca tular do
Ministério da Viação e Obras Públicas, que escolheu para chefiar a CTPN, o renomado homem de
Ciênia, Dr. Rodolpho von Ihering. À referida Comissão competia as atribuições resumidas nos
seguintes itens:

a. promover o povoamento das águas internas do Nordeste com peixes de boa


qualidade, prolíficos e precoes e defender essa fauna contra os seus inimigos naturais;
b. metodizar as pescarias e determinar as épocas de sua realização; e
c. divulgar os processos de conservação do pescado.

As atribuições deste setor especializado foram ampliadas quando o Ministério da Agricultura, por
sua unidae competente, a então Divisão de Caça e Pesca (hoje, Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca), através do ecreto-lei no 1.998, de 02.02.1940, delegou competência à
IFOCS para “desenvolver a aqüicultura nas águas reesadas da zona seca”. Mencionado diploma
foi complementado com a aprovação pelo Conselho Nacional de esca, em janeiro de 1941, das
“Instruções para a pesca nas águas represadas do Nordeste”. A Comissão iniciou, desde então,
estatísticas de desembarques de pescado em açudes públicos. O Serviço de Piscicultura (SP) -
em 45 com a transformação da IFOCS em DNOCS, a CP passou a denominar-se SP - continuou
e ampliou esse tralho, com a implantação, no açude Forquilha (Estado do Ceará), em março de
1947, do primeiro Posto de Fiscalição da Pesca (PFP). Atualmente estão sob tal regime 101
açudes públicos nordestinos, cuja produção de pescado ngiu em 1986, 18.308t e, no período
1948/86, 356.540t. Globalmente, para todos os açudes do DNOCS (288, até 86) essa produção
pode ser estimada em 50.000 toneladas/ano, números redondos.

* Engo, Chefe da Divisão de Desenvolvimento da Pesca - DNOCS

9.2 Administração da Pesca


É o ato de executar e/ou fazer cumprir tarefas relacionadas com:

• matrícula de pescadores;
• registro de aparelhos de pesca;
• fornecimento de autorizações de navegação e de pesca;
• recolhimento de rendas provenientes da atividade de pesca; e
• coleta de dados estatísticos da pesca.

9.2.1 Administrador da Pesca


É o servidor responsável pela administração da pesca em açude ou coleção d'água, em área de
atuação do DNOCS.

9.2.2 Guaritas de pesca

São construções de alvenaria, taipa ou madeira, de dimensões variáveis (tamahos grande, médio
e pequeno), localizadas na bacia hidráulica do açude, que servem de abrigo para o material e o
servidor responsável pela administração da pesca e/ou agente de fiscalização da pesca, em
determinada área. A guarita de tamanho grande também é chamada de Guarita Central de Pesca,
tem sua construção feita de alvenaria e localiza-se próximo da barragem principal do açude onde
está intalado o escritório da administração.

9.2.3 Objetivos da pesca

A pesca é definida como todo ato tendente a capturar ou extrair elementos animais ou vegetais
que tenham na água seu normal ou mais freqüente meio de vida. Seus objetivos são:

• Comercial: Tem por finalidade realizar atos de comércio na forma da legislação em


vigor.
• Amadorista: Praticada sem objetivo comercial, de terra firma ou de bordo de
embarcação arrolada na classe de recreio.
• Científica: Exercida, exclusivamente, com fins de pesquisa, por instituições ou
pessoas devidamente habilitadas.

9.2.4 Tipos de aparelhos de pesca:

Denomina-se aparelho de pesca ao petrecho destinado ao exercício da pesca. Nos açudes os


patrechos empregados pelos pescadores, na pesca comercial, são classificados nas seguintes
categorias:

• Móveis: Rede de espera, espinhéis, covos e linhas.


• Flutuantes: Boias ou poitas.
• Especiais: Tarrafa e choque.

Na pesca amadorista ou desportista utilizam-se, exclusivamente, aparelhos móveis e especiais.

9.2.5 Matrícula de pescador:

Compõe-se dos assentamentos pessoais do pescador assim como informações sobre o tipo de
aparelho de pesca e embarcação que ele utiliza, no açude, para o exercício da pesca, anotadas
em caderneta própria.

Exigem-se para ser pescador os seguintes pré-requisitos:

• Profissional: ser brasileiro, nato ou naturalizado, e, se estrangeiro, estar


devidamente autorizado pelo órgão competente; ser major de 18 anos; matricular-se no
Escritório da Administração; registrar o aparelho de pesca que pretende utilizar; e cumprir
as obrigações do pescador.
• Amadorista: ser brasileiro, nato ou naturalizado, e, se estrangeiro, estar
devidamente autorizado pelo órgão competente; matricular-se no Escritório da
Administração, registrar os aparelhos de pesca e embarcação, se for o caso, permitidos
para essa atividade; e obedecer as instruções pertinentes.

9.2.6 Registro de aparelhos de pesca:


Formalidade que consiste na apresentação do petrecho, pelo pescador, ao administrador da
pesca e/ou agente de fiscalização da pesca a fim de ser examinado, quanto às suas
características e dimensões, tendo em vista o cumprimento das exigências do “Código de Pesca”
e cobrança de taxa respectiva.

9.2.7 Fornecimento de autorizações de navegação e de pesca:

• Autorização de navegação: Documento que habilita o pescador a utilizar


determinada embarcação, mediante pagamento de taxa, constante de tabela aprovada
pelo Diretor Geral do DNOCS.
• Autorização de pesca: Documento que habilita o pescador a utilizar determinado
aparelho de pesca, mediante pagamento de taxa, constante de tabela aprovada pelo
Diretor Geral do DNOCS, no caso da pesca comercial, visto que para a pesca amadorista
a tabela é aprovada pelo Superintendente da SUDEPE.

9.2.8 Coleta de dados estatísticos da pesca:

Controle da produção de pescado capturado no açude, através de pesagem total ou avaliação por
amostragem.

• Pesagem total: Feita mediante o comparecimento do pescador à guarita de pesca


com o pescado capturado, devidamente separado por espécie/aparelho, a fim de ser
contado e pesado.
• Avaliação por amostragem: Obtida mediante sorteio entre pescadores/aparelhos e
em éreas definidas, promovendo-se uma amostragem de 25% a 15% para um universo de
até 199 e acima de 200 pescadores em atividade no açude, respectivamente, segundo
instruções pertinentes.

9.2.9 Período de pesca:

Número de dias em que é permitida essa atividade em determinada coleção d'água. Nos açudes
do DNOCS a pesca é praticada durante 6 dias na semana.

9.2.10 Posto de operação:

Unidade periférica incumbida da execução de programas de fomento à pesca e piscicultura, na


sua área de atuação, bem como a operação, manutenção e administração das instalações, obras-
infra-estruturas de propriedades do DNOCS.

9.3 Fiscalização da Pesca

É o ato de executar e/ou fazer cumprir o “Código de Pesca”, instruções e normas complementares
emanadas da SUDEPE.

9.3.1 Agente de fiscalização da pesca:

Auxiliar do Administrador da Pesca, responsável pela execução de tarefas específicas a ele


atribuída, em conformidade com instruções pertinentes.

9.3.2 Interdição da pesca:

Paralisação da atividade da pesca com todos ou determinados aparelhos, durante certo período.
Nos reservatórios do DNOCS, essa medida só é adotada nas coleções d'água de capacidade
inferior a 100.000.000 m3.
9.3.3 Liberação da pesca:

É o levantamento de uma interdição da pesca mantida até então. Nos açudes do DNOCS, essa
providência é tomada após transcorridos, no mínimo, 45 dias do início da interdição da pesca, e
mediante a constatação, através de pescarias experimentais de que, pelo menos, 75% dos peixes
de piracema hajam desovado.

9.3.4 Infração a Código de Pesca, instruções e normas complementares


emanadas da SUPEDE:

É toda ação ou omissão que venha infringir princípios ou dispositivo do Código de Pesca. A
apuração da infração é feita mediante processo administrativo, que terá por base o auto de
infração.

9.3.5 Apreensão administrativa de bens da pesca:

É a ação de tirar de alguém os petrechos e o produto da pesca e tudo que possa vir a constituir
material de infração aos preceitos da legislação da pesca em vigor.

Deverá constar do auto de infração a descrição das coisas apreendidas, que serão recolhidas nas
dependências da repartição. O produto da pesca será posto em leilão público e a quantia obtida,
recolhida como renda do pescado.

Se o infrator cumprir, antes do julgamento final do processo, as obrigações derivadas do auto de


infração, os bens apreendidos lhe serão restituídos, mediante Termo lavrado, no processo, que
deste modo ficará encerrado.

Os equipamentos de uso proibido serão inutilizados, sendo lavrado Termo circunstanciado de


ocorrência.

9.3.6 Auto de infração:

É a peça inicialmente lavrada pela autoridade competente, para comprovação material da


infração, devendo ser nele indicada a transgressão, praticada contra o preceito legal. É
indispensável a constituição de processo administrativo.

O Auto de infração deverá ser lavrado com clareza, sem entrelinhas, rasuras ou emendas; nele
será relatada, minuciosamente, a infração, citando se o dispositivo legal infringido, cominando-se
a pena aplicável, mencionando-se o local, dia e hora da lavratura, o nome do infrator, sua
identidade, as testemunhas, se houver, fazendo-se um histórico minucioso estritamente baseado
na legislação pertinente ao assunto. É lavrado em três vias, sendo todas assinadas pelo autuado,
autuante e, se possível, por duas testemunhas.

Após a lavratura do Auto de Infração, em três vias, o autuante fará entrega da 1a via ao infrator
que deverá passar o recibo na 2a via. Se o autuado negar-se a assinar as tês vias ou a receber a o
via e apor o “CIENTE” na 2a via o autuante certificará, no processo, a recusa do autuado; valendo,
sua certidão, como prova do conhecimento da lavratura do Auto.

Respondem, solidariamente, pela infràção:

a. o autor material;
b. o mandante; e
c. quem, de qualquer modo, concorra para a prática do ilícito.
9.3.7 Termo de Inutilização de equipamento de pesca:

É o ato inscrito no processo que descreve cumprimento da ordem de inutilização de equipamento


de pesca.

O Termo de Inutilização deverá ser lavrado em conformidade com as disposições do parágrafo 1o


do Artigo 1o da Portaria No 345, de 01.08.1975, do Sr. Superintendente da SUDEPE.

PARTE10:
NOÇÕES SOBRE MANUTENÇÃO DE REGISTRO E DE ANÁLISE
ECONÔMICOS PARA A AQÜICULTURA.
N. Merola*

A aqüicultura continua sendo um setor em rápida expansão, orientado para um crescente número
de mercados. Ao se estabilizar a oferta de proteínas de pescado, devido ter sido atingida a
produção máxima sustentável pela pesca extrativa na maioria dos países, esta forma de cultivo
adquire sempre maior importância como único método disponível para satisfazer a crescente
demanda de produtos aquáticos.

A produção mundial da aqüicultura, no ano de 1987, foi de 10,2 milhões de toneladas, enquanto a
produção estimada para o ano 2.000 é de 22,2 milhões de toneladas. O setor está crescendo a
uma taxa anual de 5,5% e a produção relativa de pescado deveria aumentar sua participação na
cota total. Estes dados são também representativos para o Nordeste brasileiro, dado que
estimativas realizadas pelo BNB indicam um déficit de produção superior a 300.000 toneladas,
com projeção para o ano 2.000 de 900.000 toneladas. Considerando a difusão e relevância que a
proteína de pescado assume na dieta da família nordestina e o aspecto do déficit previsto, se
pode entender o significado econômico e social que a produção obtida, através de qualquer forma
de piscicultura, representa para o povo nordestino.

Neste trabalho consideramos e apresentamos uma série de estudos metodológicos ligados às


avaliações e análises econômicas de uma atividade piscícola, tratando de prover com
instrumentos adequados para o extensionista completar e melhorar a qualidade e a eficiência de
sua intervenção no processo produtivo.

10.1 Manutenção de Registros


Uma grande quantidade de informação é exigida para o planejamento da atividade produtiva de
uma granja ou de uma piscicultura, assim como para efetuar análises da produção de diferentes
produtos. A maioria das informações necessárias não é disponível nos registros financeiro,
portanto, se pretende obter dados adicionais físicos e de custo, para realização do trabalho, quer
a nível de planejamento e/ou de avaliação.

Sempre existindo o problema de inclusão de detalhes no processo de manutenção de registros, a


quantidade e profundidade dos dados necessários deverá ser avaliada comparando os custos
adicionais ligados ao tempo (trabalho) necessário. Entretanto, é sumamente importante manter
pelo menos os registros básicos, particularmente em uma atividade como a de piscicultura, que
não é consolidada e se ressente da falta de parâmetros técnicos e econômicos aplicados aos
diferentes casos considerados. É fundamental possuir esta gama de informações se se deseja
aplicar princípios econômicos necessários para a boa condução de uma atividade agropecuária
e/ou para avaliar e considerar que melhorias se deve introduzir e que mudanças efetuar no
projeto.

* Especialista em aqüicultura do Projeto FAO-GCP/RLA/075/ITA


C.p.07.1058, Brasília, DF, Brasil
10.1.1 Registros de Dados Biológicos

O acompanhamento da produção pode e deve se efetuar através de fichas que reunam a


informação biológica necessária para avaliar os aspectos técnicos da produção. Na Tabela 1
mostra-se uma forma de registro utilizável para recolher diariamente os dados relativos a
alimentação e fertilização, seja orgânica ou inorgânica. Ao final de cada mês somam-se os totais e
se registra na tabela o resumo anual de cada tanque ou viveiro de piscicultura.

Na Tabela 2 apresenta-se outro tipo de registro diário que permite manter um controle dos
principais parâmetros associados à produção, como a temperatura, a biomasa, a mortalidade e a
alimentação, além de se dispor de um espaço para observações que pode ser utilizado para
outros tipos de dados. Como na ficha anterior, os dados devem ser somados no final do mês e
registrados na ficha anual.

Uma ficha/quadro anual é apresentada na Tabela 3. Esta ficha contém toda a informação relativa
ac ambiente de cultivo, passando desde a estocagem até a colheita, via amostragens e outras
etapas da produção. Os dados podem ser registrados por espécie ou reunindo tudo concernente
ao viveiro, inclusive os dados processados e dos indicadores biológicos (produção, produtividade,
conversão, etc.) mais comumente utilizados para avaliar a eficiência do cultivo.

10.1.2 Registro de Dados Econômicos

Como foi visto no item anterior, existem registros para uso diário e outros para uso anual (ou
sazonal). Os diários devem ser mantidos para os insumos (entradas) e para os produtos (saídas).

10.1.2.1 Registro de insumos e produtos (diários)

Existem dois tipos de insumos: os fixos e os variáveis. Os fixos não mudam com a variação da
produção, enquanto os variáveis estão diretamente ligados ao nível de intensidade aplicado e a
produção resultante.

Cada custo deve ser descrito com todos os detalhes possíveis, especificando origem, uso, tipo e
quantidade. Na Tabela 4 apresenta-se um modelo para custos fixos e na Tabela 5 um para
entradas variáveis. O item se refere ao insumo (p.ex.: alimento, alevinos, etc.) e o tipo à descrição
do mesmo (torta de arroz, milho, “pellet”, etc).

Todas as atividades de piscicultura requerem mão-de-obra, que também deve ser registrada a fim
de se avaliar seu custo e sua eficiência. Na Tabela 6 mostra-se um modelo em que se define o
tipo de atividade na qual se emprega a mão-de-obra (p.ex.: fertilização, alimentação, etc.), a
qualidade (adulto, jovem, homem, mulher, etc.), a quantidade expressa em homem/dia ou
homem/hora e o custo unitário (por dia ou por hora) e total.

Os menores custos de comercialização podem ter importância sobre o custo total e talvez se
queira comparar diferentes opções de venda. Neste caso é bom manter um registro separado
destes custos e detalhar tudo que se refere a este rótulo. A Tabela 7 mostra um modelo que
permite diferenciar custos e receitas de acordo com a atividade (vendas na granja, etc.)

O registro de produtos (saídas) se apresenta na Tabela 8, que prevê a anotação de tudo que foi
produzido no viveiro, seja para consumo interno como para venda. No primeiro caso estima-se
qual seria o valor perdido por não tê-lo wendido no mercado (custo/receita de oportunidade),
assim como a produção que foi utilizada em troca, total ou parcial, de pagamentos (salários).

10.1.2.2 Registro de inventário, produção e uso de máquinas (anuais ou sazonais)


Os dados coletados diariamente são resumidos em tabelas anuais, as quais são utilizadas depois
para calcular a rentabilidade e a eficiência do seu uso. A Tabela 9 mostra um modelo para um
viveiro ou um produto, donde se calcula, ao final, uma série de informações necessárias para a
análise econômica desejada e indicadores para estimativas, projeções e planejamento em geral.

Tabela 1
REGISTRO DE CONTROLE DE ALIMENTAÇÃO, ADUBO ORGÂNICO E ADUBO INORGÂNICO
Mês Mês
Adubo Adubo Inorgânico Adubo Adubo Inorgânico
Dias Alimentação Dias Alimentação
Orgânico Uréia Fosfato Orgânico Uréia Fosfato
1 1
2 2
3 3
4 4
5 5
6 6
7 7
8 8
9 9
10 10
11 11
12 12
13 13
14 14
15 15
16 16
17 17
18 18
19 19
20 20
21 21
22 22
23 23
24 24
25 25
26 26
27 27
28 28
29 29
30 30
31 31
Total Total
Alimento: Kg
Adubo Orgânico: Kg
Adubo Inorgânico: Kg
Uréia: Kg
Fosfato: Kg
RESPONSÁVEL
OBSERVAÇÕES:

Tabela 2

REGISTRO DE CONTROLE DE ALIMENTAÇÃO E BIOMASSA

Tanque: Período
(Gaiola) Mês

Peso Unit. Peso Total Alimentação


Dias Temp.(°C) No de Peixes Observações
(Kg) (Kg) Tipo (1) % (2) Kg/dia
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
TOTAL NO MÊS
1) Tipo: pó; “pellet” (tamanho); úmido; seco, etc.
2) % : 5-4-3 etc.
Tabela 3
FICHA RÉSUMO ANUAL DO AMBIENTE DÉ CULTIVO
Tanqueno Superfície e Volume Período
Estocagem
№ de Peixes Peso (Kg) Fonte e Data
Período Espécie Data da Estocagem Observações
Total Por ha Total P/Peixe Data de Eclosão

Colheita
№ de Peixes Perda/ha Aumento Líquido Alim.
Dias
Permanece Total
Esp. Data de Converção
Cresc. Total Por ha % № de Peixes Total ha Dia Peixe no Tanque Por
ha

Tabela 4
REGISTRO DE ENTRADAS FIXAS
DATA ITEM CUSTO MENSAL CUSTO ANUAL OBSERVAÇÕES
Entradas:

• Terreno
• Salário de Gerente
• Imposto sobre imóveis
• Juros
• Energia Elétrica
• Telefone
• Seguro
• Manutenção

Tabela 5
REGISTRO DIÁRIO DE ENTRADAS VARIÁVEIS
Data Tanque ENTRADAS
№ área Item Tipo Quantidade Custo Unitário Custo Total

Entradas:

• Larvas
• Alevinos
• Reprodutores
• Ração
• Fertilizantes
• Cal Virgem
• Drogas
• Conserto de Equipamentos
• Oxigênio
• Sacos Plástico
• Combustível
• Gelo
• Energia Elétrica
• Impostos

Tabela 6
REGISTRO DIÁRIO DE ENTRADAS DE MÃO-DE-OBRA
Tanque Atividade Tipo de Mão- Total Hom/dia Taxa de Custo Total de
Data Observações
№ Área Econômica de-Obra ou Hom/h Sal. e Tipo Mão-de-obra

Atividades:

• Preparação de Tanques
• Peixamento
• Alimentção
• Manutenção
• Captura
• Limpeza
• Manejo de Tanques
• Transporte

Tabela 7

REGISTRO DAS ATIVIDADES DE COMERCIALIZAÇÃO

Mês Ano Comprador/Mercado

Data Atividade Custos Variáveis Vendas


Transporte Gelo Caixas Salários Outros Total Kg Preço Unit. Receita

TOTAL

Tabela 8
REGISTRO DE SAÍDAS
Quant.
Ouantidade Quantidade Pagamentos
Tanque Consumida
Quant Vendida Doada em Objetos
Espécie na Fazenda Valor da
Data Capturada
Capturada Preç. Valor Valor Produção
(Kg) Quant. Valor Quant. Quant. Quant. Valor
№ Área Unit
(kg) ($) (kg) (kg) (kg) ($)
($/kg) ($) ($)

Tabela 9

REGISTRO RESUMO PARA PRODUTOS OU AMBIENTE DE CULTIVO

Ano Produto Obsercações

Tanque no Superfície
Alevinos Fertilizante Alimento Mão-de-obra Maquinária
Data Outros
Tipo Quant. Tipo Quant. Tipo Quant. Tipo Quant. Tipo Custo Hora

Total

Produção Total Valor total da Produção Lucro por Tanque


Colheita por ha Custos Totais Lucro por ha

A Tabela 10 apresenta um quadro resumo para o uso de máquinas agrícolas, com todos os
indicadores e custos necessários para sua avaliação.

As Tabelas 11 e 12 apresentam modelos para a estimativa do inventário e sua variação inicial e


final no período considerado.

10.2 Conceitos de Custos


Neste capítulo são analisados os principais tipos de custos utilizados em economia e sua
aplicação no processo decisório.

10.2.1 Custo de oportunidade

O custo de oportunidade é um conceito muito importante, que frequentemente não é considerado


quando se tomam decisões. Este conceito reconhece que cada insumo tem um potencial uso
alternativo mesmo quando este uso não existe. Uma vez que o insumo se compromete para uma
atividade, perde-se a possibilidade de usá-lo em outra alternativa e assim se perde a possível
receita derivada daquela alternativa. Portanto, o custo de oportunidade é definido como a receita
que se teria recebido se o insumo tivesse sido empregado na melhor alternativa possível.

O custo real de um insumo pode não ser o seu preço de aquisição, senão o seu valor alternativo.
Este conceito se pode aplicar muito bem para tomar decisões relativas a como e onde aplicar os
recursos limitados (fazendo-se uma comparação entre vários produtos) ou para selecionar a
atividade mais rentável. Neste caso, quando a terra, a mão-de-obra e a administração ou o uso do
capital têm um custo de oportunidade mais alto, então vale a pena reconsiderar o uso desses
recursos/insumos.

Em alguns casos é difícil determinar o custo de insumos como o terreno ou as edificações; isto
pode-se definir estimando seu valor em moeda e usando como custo de oportunidade a taxa de
juros que se poderia obter no mercado financeiro (geralmente a poupança).
Nos cálculos de custos de produção e nas análises econômicas, muitos custos não são diretos,
mas bem de oportunidade. isto é particularmente comum quando se refere à mão-de-obra familiar,
administração, uso do capital, etc.

10.2.2 Custos

Vários outros conceitos se aplicam em economia. Os mais utilizados são:

a. Custos Fixos Totais (CFT)


b. Custos Fixos Médios (CFM)
c. Custos Variáveis Totais (CVT)
d. Custos Variáveis Médios (CVM)
e. Custos Totais (CT)
f. Custos Totais Médios (CTM)
g. Custos Marginais (CMg)

Todos estes custos estão relacionados com a produção. O Custo Marginal é o custo adicional
derivado da produção de uma unidade adicional do produto. Na prática representa a diferença
entre os custos quando se passa de uma quantidade de produto para outra superior.

Estes conceitos se aplicam em deciões para curto ou longo prazos. Define-se como curto prazo o
período de tempo em que um ou mais de um dos insumos de produção é fixo em quantidade e
não pode ser mudado. A longo prazo, a terra por exemplo pode ser vendida, arrendada, etc.,
permitindo assim mudança na estrutura produtiva considerada.

Tabela 10

REGISTRO DA MAQUINÁRIA

Item № de identificação

Ano Data da Compra

Combustível Óleo e Lubrificante Reparo e Manutenção


Mês/Data Horas de Uso Descrição
Litros Custo Quantidade Custo Custo (inclus.mão-de-obra)

TOTAL
Depreciação Impostos Total Custos Fixos Custo Fixo Médio por hora

Juros Seguro Total Custos Variáveis Custo Variável Médio por hora

Custos Totais Custo Total Médio por hora

Tabela 11
INVENTÁRIO DOS BENS
Aquisição ou Construção Estimativa de Vida Útil Proporção Utilizada no Cultivo
Descrição
Data Custo (anos) (%)
TANQUES
Diques
Monges
Canaletas de Água
Escavação de Tanques
Poço
Outros (especificar)
EDIFÍCOS
Casa de vigilante
Depósito
Oficinas
Outros (especificar)
TRANSPORTES
Barco
Caminhão
Outros (especificar)
REDES
Fixas
de Arrasto
Tarrafas
Outros (especificar)
EQUIPAMENTOS
Bomba de Água
Compressor
Gerador Elétrico
Máquina para Alimentar
Refrigerador (freezer)
Misturador de Alimento
Máquina de Moer
Outros (especificar)

Tabela 12
INVENTÁRIO INICIAL E FINAL
Tanque №
Data Espécie Tipo de Produto (a) Número ou Kg (b) Preço Unitário ($) Valor($)
Inventário
Inicial
Inventário
Final
Mudança ao
Inventário (c)

a) Como larvas, alevinos, engorda, tamanho, de mercado, etc.


b) Número ou quilo de cada tipo de produto no tanque.
c) Diferença entre o valor inicial e final do inventário.

10.2.2.1 Custos Fixos

São os custos associados à propriedade de um insumo ou recurso fixo. Geralmente eles não
variam, mesmo se não utiliza o insumo e a produção venha a ser alterada a curto prazo. Portanto
eles existem independentemente do muito ou pouco uso que se dê ao recurso.

O Custo Fixo Total (CFT) é a soma dos vários custos fixos. Os principais componentes desta
categoria são:

• depreciação
• seguro
• reparos
• impostos (de propriedade, não de receita)
• taxa de juros

Para calcular o valor médio anual do CFT deve-se calcular o valor médio anual da depreciação e
dos juros. A depreciação é o valor que um bem perde anualmente devido à sua utilização (na
prática é o dinheiro que se guarda para a sua reposição) e se calcula como:

onde o custo é o preço de compra, a vida útil é o número de anos que se espera usar o bem e o
valor residual é o valor esperado ao terminar a vida útil (preço de revenda).

Os juros são incluídos porque o capital investido tem um custo de oportunidade. Sem dúvida, o
valor de um bem depreciável diminui a cada ano, pelo que se calcula os juros segundo a fórmula:

onde a taxa de juros é o custo de oportunidade do capital.

Por exemplo, se o custo de um trator é $ 20.000 com um valor residual de $ 5.000 depois de 5
anos de vida útil, o custo fixo, assumindo os outros valores anuais será:

Depreciação 3.000
Juros (12%) 1.500
Impostos 25
Seguro 50
4.575

Os custos fixos podem ser expressos como uma média por unidade de produto e, portanto, o
Custo Fixo Médio (CFM) é igual:
onde a produção é medida em unidade física. Portanto, uma maneira de reduzir o custo fixo
médio é é aumentar a produção.

Os custos fixos podem ser gastos efetuados em dinheiro ou simplesmente ser custos de
oportunidade. Isto é importante quando se analisa os resultados de uma produção em termos
econômicos, porque em termos reais o que é disponível em dinheiro poderia ser muito superior.

A depreciação é sempre um gasto fictício (não em dinheiro) e os juros podem ou não ser em
dinheiro (depende, caso se retire um empréstimo ou se é custo de oportunidade), assim como é o
seguro.

10.2.2.2 Custos Variáveis

Os custos variáveis são aqueles sobre os quais existe alguma forma de controle e que aumentam
ou diminuem de acordo com a produção. Itens como alevinos, fertilizantes, rações, etc. são custos
variáveis clássicos.

O Custo Variável Total (CVT) é igual a soma de todos os custos variáveis e o Custo Variável
Médio (CVM) se calcula como no caso do custo fixo, expressando o valor por unidade de produto.

Os Custos Variáveis existem a curto prazo e a longo prazo sendo aplicados à produção.

10.2.2.3 Custo Total e Marginal

Custo Total é a soma dos Custos Fixos e Variáveis (CT = CFT + CVT). A curto prazo aumenta
com o aumento do custo variável, sendo o custo fixo constante.

O valor médio do custo total é igual a CFM + CVM ou

O Custo Marginal (CMg) é definido como a variação do custo total (aumento ou diminuição)
dividida pela variação da produção, resultante da adição de uma unidade de produto.

10.2.3 Aplicação dos conceitos de custos

Na Tabela 13 se apresenta um exemplo da aplicação dos conceitos de custos em um problema de


maximização do lucro em relação à taxa de produção. Suponhamos que no caso sejam peixes,
mas poderia ser qualquer outro animal ou produto.

Os Custos Totais Fixos correspondem a $3.000 e cobre o custo de oportunidade anual do terreno,
a depreciação da infraestrutura, seguros e manutenção. Custos Variáveis no valor de $295
correspondem a cada unidade, incluindo ração, fertilização, alevinos, remédios, etc. Devido a
tamanho do ambiente de cultivo, além de uma certa taxa de produção, o aumento no peso médio
por unidade diminui (limitações na qualidade da água, alimento natural, doenças, etc).
Os dados apresentados são bastante comuns com Custos Fixos Totais que permaneceram
constantes e Custos Variáveis Totais que aumenta junto ao Custo Total. O Custo Fixo Médio
declina rapidamente para depois reduzir sua queda. Outros custos médios declinam até certo
ponto para depois voltarem a crescer.

O ponto de lucro máximo é igual a RMg = CMg (segundo um princípio econômico). Neste axemplo
o valor não é exatamente igual, mas corresponde aproximadamente ao nível de 60 peixes. No
nível seguinte o Custo Marginal é maior que a Receita Marginal, o que significa que o custo de
produção de uma unidade adicional é mais alto do que a receita adicional. Sem dúvida o valor
depende do preço de venda. Se este for maior do que $53.64, então o nível máximo de lucro
corresponde a 70 peixes, assim como se fosse menor que $50, o ponto seria outro mais abaixo na
taxa de estocagem.

Tabela 13
EXEMPLO DOS CONCEITOS DE CUSTO EM UM AMBIENTE DE TAMANHO FIXO (ISTO É 1
HA)
Número Produção CFT CVT CT CFM CVM CTM
PFMg1 CMg Rmg2
de Peixes (kg) ($) ($) ($) ($) ($) ($)
0 0 7.2 3.000 0 3.000 - - - 40.97 50.00
10 72 7.6 3.000 2.950 5.950 41.67 40.97 82.64 38.82 50.00
20 148 7.7 3.000 5.900 8.900 20.27 39.86 60.13 38.31 50.00
30 225 7.0 3.000 8.850 11.850 13.33 39.33 52.66 42.14 50.00
40 295 6.5 3000 11.800 14.800 10.17 40.00 50.17 45.38 50.00
50 360 6.0 3.000 14.750 17.750 8.33 40.97 49.30 49.17 50.00
60 420 5.5 3.000 17.700 20.700 7.14 42.14 49.28 53.64 50.00
70 475 5.0 3.000 20.650 23.650 6.32 43.47 49.79 59.00 50.00
80 525 4.5 3.000 23.600 26.600 5.71 44.95 50.66 65.56 50.00
90 570 4.0 3.000 26.550 29.550 5.26 46.58 51.84 73.75 50.00
100 610 3.000 29.500 32.500 4.92 48.36 53.28

1) Produto Físico Marginal (PFMg)= diferença unitária entre um nível de produção e o seguinte.
Ex.: 0 a 72 = 72 Kg : 10 peixes = 7,2 Kg de incremento por cada unidade

2) Receita Marginal (RMg) = diferença unitária na receita entre um nível de producção e o seguinte.

Portanto, a um preço de $ 50 e com 60 peixes se obterá um lucro de $ 300 (Receita Total =


50×420-Custo Total). Se o preço for $ 45.38 o ponto de lucro máximo será de 50 peixes, que
corresponde a um Custo Total Médio superior que o preço de venda e portanto a um prejufzo.

Caso se trabalhe com prejufzo, parando-se de produzir permanecem os custos fixos


representados por um valor de $ 3.000. Este prejufzo existe a curto prazo, mas pode ser
eliminado a longo prazo vendendo a terra e assim eliminando os custos fixos. O problema de curto
prazo levanta uma pergunta de como minimizar os prejufzos, ou seja, podemos perder menos de
$ 3.000 se produzirmos algum pescado? A resposta é não se o prejufzo for superior a $ 3.000;
sem dúvida, sabemos que os custos variáveis estão sob controle e que podem ser reduzidos de
acordo com a produção. Portanto não se poderia produzir se o preço de venda não fosse pelo
menos igual ou superior ao mínimo CVM. Isso geraria suficiente receita para cobrir os custos
variáveis totais, o que resultaria em cobertura parcial dos custos fixos, portanto minimizando o
prejufzo. Se o preço for menor que CVM, a receita não cobriria o CVT e portanto o prejufzo seria
superior a $ 3.000; para minimizar o prejufzo é melhor não produzir. Na Tabela 13 o menor CVM é
$ 39.33 e o CTM $ 49.28. O prejufzo se minimiza não produzindo se o preço é menor que $ 39.33
é produzindo algo com preços compreendidos entre $ 39.33 e $ 49.28. Nesta situação a
minimização máxima se obtém seguindo a regra RMg = CMg.
Portanto:

1. Preço esperado maior que CTM- Um lucro se obterá maximizando com a regra
RMg = CMg
2. Preço esperado menor que CTM, mas maior que o menor CVM - um prejufzo
que pode minimizar-se produzindo até o ponto onde RMg = CMg
3. Preço esperado menor que o mínimo CVM - prejufzo que se minimiza não
produzindo e será igual a CFT.

10.3 Análise Econômica


Os princípios econômicos e os orçamentos são importantes instrumentos que auxiliam no
processo de planejamento ou de avaliação da atividade. Eles podem ser muito úteis para
comparar alternativas, provar ou comprovar a rentabilidade de uma troca proposta ou da produção
recém colhida. Existem vários tipos de orçamentos e análises utilizáveis, algumas para avaliar a
situação atual ou pequenas trocas e outros mais adequados para analisar inversões.

10.3.1 Análise custo-benefício ou orçamento de atividade

Este tipo de análise pode ser aplicado a cada atividade ou para o total da produção. Necessita de
dados detalhados de insumos e produção e se aplica sobre dados reais ou estimados de acordo
com o tipo de informação requerida: uma avaliação de uma projeção/comparação de atividades
(isto é produtos), ou sistemas e técnicas de produção. Cada orçamento se desenvolve na base de
uma unidade, como 1 ha ou outra que permita a comparação do benefício (lucro) ou de outros
indicadores selecionados.

Estes orçamentos estão geralmente organizados e apresentados em três seções: receitas, custos
variáveis e custos fixos. Um típico exemplo se apresenta na Tabela 14.

O primeiro passo na construção de um orçamento é o de estimar ou calcular a produção total e o


preço de venda. Estes valores influenciam muitíssimo no resultado final, portanto e sobretudo no
caso de projeções, há que se ter muito cuidado em como e de onde se obtém esses dados. Os
registros da granja são sempre uma excelente fonte de informação tanto para avallar, como para
analisar possíveis trocas ou alternativas e constituem com o passar dos anos um material muito
valioso para gerir a atividade produtiva.

Os custos variáveis são facilmente calculáveis, conhecendo-se os gastos anotados nos registros
ou estimando os parâmetros técnicos do cultivo em tela. Também se deve incluir um custo de
oportunidade do capital empregado no período compreendido entre a compra dos insumos e a
colheita.

Os custos fixos são os associados com depreciação, lucro sobre capital investido, seguro, imposto
de propriedade e uma taxa para o terreno. Este último valor é um custo de oportunidade e
representa um retorno por haver empregado esse recurso na atividade. Pode-se calcular de três
maneiras: a) como custo de oportunidade baseado no valor atual do terreno; b) o valor do aluguel
corresponde a uma parte da produção; e c) um típico valor médio de arrendamento. Este último
método é o preferido por muitas razões.

10.3.1.1 Interpretação dos resultados

O exemplo anterior nos diz que a atividade foi rentável, tendo remunerado todos os ftores
inclusive os de oportunidade. Mesmo se o lucro fosse “O” (zero), esta atividade poderia ser
considerada boa, porque estaria cobrindo todo o empenhado na atividade a seu estimado custo
de oportunidade.
Analisando o orçamento, vê-se que não contém um valor atribuído à gerência, portanto o lucro
pode ser considerado como o retorno à gerência.

O orçamento pode-se empregar para calcular a análise do ponto de equilíbrio e outros dados úteis
para avaliar, decidir e/ou comparar. O ponto de equilíbrio de produção ou seja a produção
necessária para cobrir todos os custos se calcula como:

no nosso exemplo é igual a $ 2.933,14 : 1,00, ou seja 2.933Kg/ha. Em caso de estimativas esse
valor pode ser calculado para vários preços.

Tabela 14
ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO PARA CULTIVO DE TAMBAQUI EM UM TANQUE DE 1 HA
EM 8 MESES
Item Valor por ha
RECEITA
3,537,30 Kg (a $ 1.00/Kg) 3.527,30
CUSTOS VARIÁVEIS
Alevinos (12.000 a 0.02 cada) $ 240,00
Ração (6.474 Kg a 0.24/Kg) 1.553,76
Cal (400 Kg a 0.09/Kg) 36,00
Fertilizante (125 Kg a 0.13–0.19) 19,25
Adubo (3.750 Kg a 0.012–0.037) 58,40
Mão-de-Obra (200 homem/hora a 0,45) 89,00
Manutenção 58,90
Juros s/Custos variáveis (3% para 8 meses) 61,66
Custo variável total 2.116,97
Diferença entre receita e o custo variável 1.410,33
CUSTOS FIXOS
Depreciação 146,90
Terreno ($ 44 ha/ano) e juros (12%) 669,27
Custos fixos totais 816,17
Custos Totais 2.933,14
Lucro 594,16

O ponto de equilíbrio de preço nos informa sobre o preço necessário para cobrir os custos e é
igual a

no nosso exemplo seria $ 2.933,14 : 3.527,30 Kg ou seja $ 0,83/Kg. O estudo de várias


combinações desses valores pode auxiliar efetivamente na tomada de decisões.

O custo de produção é outro valor útil e se calcula dividindo o custo total por hectare pela
produção. Em nosso caso seria $ 2.933,14 : 3.527,30 Kg, ou seja $ 0,83/Kg. Este valor, igual ao
ponto de equilibrio, permite tomar decisões a respeito da produção e fazer comparações de
diferentes métodos de cultivo ou de outras mudanças que se queira fazer. Este conceito é muito
útil também para estabelecer preços e estratégias de comercialização, ou preços máximos a
serem pagos pelo aluguel do terreno ou dos insumos de produção.

Cada orçamento pode também ser interpretado em termos de gastos em dinheiro contra gastos
não em dinheiro ou gastos totais contra gastos em dinheiro. Se o proprietário não tem dívida
sobre o terreno e não deve pelos animais que cria então os custos fixos são custos de
oportunidade e não são em dinheiro. Assim, a mãoe- obra familiar não se constitui em custo real;
afora estas condições, o ganho real do criador é extremamente superior ao puro cáculo
econômico e pode-se comparar favoravelmente com outras atividades agrícolas.

10.3.2 Análise parcial do orçamento

Quando há uma troca menor no sistema de produção que ressalta em uma troca parcial na
estrutura de custo-retorno, o método do orçamento parcial pode ser usado para recalcular a
viabilidade econômica sem ter que recorrer ao meticuloso procedimento da análise de custo-
retorno.

Esta análise pode ser utilizada tanto para analisar mudanças a longo prazo quanto para pequenas
alterações a curto prazo. Corresponde a três tipos de mudanças, generalizadas da seguinte
maneira.

a. Substituição do produto: Isto inclui a substituição parcial ou total de um produto


por outro.
b. Substituição de insumos ou troca do nível de intensidade: Inclui a substituição
de insumos (p.ex.: adubo orgânico por inorgânico) ou aumentos/diminuições do nível de
intensidade (p.ex.: fertilização por alimentação artificial).
c. Tamanho da operação: Considera mudanças no tamanho da piscicultura ou só na
produção ou produto.

Quatro passos básicos são vistos nesta análise.

Benefícios

1. Estimar o aumento de receita devido á mudança. Não levar e conta aquelas


receitas que não mudem como resultado da operação.
2. Estimar a redução nos custos se se procede com a operação.

Custos

3. Estimar o custo que se adicionará devido a mudança. Novamente não considerar o


custo que não se modifique.
4. Estimar a receita perdida devido a mudança.

Uma vez que esses cálculos foram completados, a soma dos custos deve ser diminuída da soma
dos beneffcios. Um resultado positivo significa que a mudança seria lucrativa. Um resultado
negativo significa que a troca nao é economicamente viável.

Exempro:

Acrescentar um tanque de alevinagem a umitanque de produção custa aproximadamente $ 2.000


com uma vida útil de 10 anos. O dinheiro que se precisa para a construção se consegue de uma
conta de poupança, a qual paga um juro de 5%. Acrescentar o tanque de alevinagem reduzirá a
taxa de mortalidade ao semear e portanto aumentará a produção de aproximadamente 500 kg a
um preço na granja de $ 3/Kg. O aumento na produção adicionará também um custo de ração de
$500/ano. Estimar a viabilidade econômica dessas mudanças.

Beneffcios

1. Receita adicional = $ 500 × 3 = $ 1.500


2. Redução nos custos = nenhum

Custos

3. Custos adicionais = $ 2.000 : 10 = $ 200/ano


4. Ração = $ 500 = 500/ano
5. Receita perdida = $ 2.000 × 5% = 100

Beneffcio menos custos

$ 1.500 - ($ 200 + $ 100 + 500) = 700

Neste caso, é conveniente acrescentar um tanque de alevinagem.

10.3.3 Análise da Inversão

A análise de inversão é o processo utilizado para avaliar a rentabilidade de uma inversão ou para
comparar alternativas de inversões. Para realizar esta análise se necessita de 4 informações
básicas: 1) o retorno liquido da inversão, 2) o custo, 3) o valor final ou remanescente da inversão,
e 4) a taxa de juros ou de desconto a utilizar-se.

O retorno liquido se estima para cada ano na vida útil da inversão; a receita menos despesas (em
dinheiro) resulta no retorno liquido. A depreciação e os juros não se incluem, o primeiro porque é
um gasto não em dinheiro e o segundo porque os métodos empregados são estimativos dos
retomos antes de qualquer pagamento de juros.

O custo da inversão é o custo total e não o custo do pagamento se este é financiado. O valor final
será igual ao valor remanescente de um item depreciável; para os não depreciáveis (p.ex.: terra)
se estima o valor de marcado ao tempo de terminar a inversão.

A taxa de desconto é a mais diffcil de ser escolhida, ela representa o custo de oportunidade do
capital ou o mínimo que o mesmo deve receber para que a inversão seja viável (p.ex.: no mínimo
o que se recebe numa conta de poupança). Essa taxa pode ser ajustada para fatores como a
inflação e taxa de risco.

Deve haver algum valor remanescente que será acrescentado à receita do último ano. Na Tabela
15 se apresenta um exemplo comparativo de duas inversões, utilizado para calcular os possíveis
métodos de análise.

Tabela 15
RECEITA LÍQUIDA EM DINHEIRO PARA 2 INVERSÕES DE $
10.000 CADA
Ano Inversão A Inversão B
1 3.000 1.000
2 3.000 2.000
3 3.000 3.000
4 3.000 4.000
5 3.000 6.000
TOTAL 15.000 16.000
Retorno médio 3.000 3.200
Depreciação anual 2.000 2.000
Receita Líquida 1.000 1.200

10.3.3.1 Período de recuperação do capital

Este período corresponde ao número de anos que a inversão necessita para restabelecer o custo
original através da receita liquida gerada. lsto é calcuiado como:

donde P é o período em anos, l a inversão e E a receita liquida anual esperada. No caso A é igual
a 31/3 anos. Caso o retorno liquido não seja constante anualmente, deve-se proceder e somar cada
ano até alcançar o valor da inversão, assim no caso B o capital se recupera em 4 anos.

Este método pode ser utilizado para classificar inversões de acordo com sua velocidade de
recuperação, ou para estabelecer qual inversão correspondente ao limite de recuperação
estabelecido pelo investidor. É íacil de aplicar-se, mas não considera aspectos fundamentais
como o fluxo de caixa ao final do período e não mede acuradamente a rentabilidade.

10.3.3.2 Taxa de retorno

A simples taxa de retorno expressa o retorno líquido médio anual como percentagem da inversão.
A receita líquida se encontra diminuindo a depreciação média anual da receita média líquida em
dinheiro. Isto se calcula como:

Nos exemplos atrás descritos será:

Este método é melhor do período de recuperação do capital porque considera os lucros de uma
inversão sobre toda a vida. Sem dúvida este método não considera o tempo nos quais se fazem
pagamentos e se recebe a receita, o que pode levar a considerações erradas. Esta consideração
mostrará que as duas inversões são bastante distinta entre elas.

10.3.3.3 Valor Atual Líquido (VAL)

Este método permite considerar o problema tempo. Sabemos que o dinheiro futuro não vale tanto
quanto o dinheiro atual. Geralmente o custo do capital incorre no começo (ano 0) enquanto as
receitas se obtêm nos anos seguintes (de 2 a n). Portanto, para medir a viabilidade econômica de
um projeto é necessário considerar esta diferença no valor do dinheiro gasto e recebido, fazendo
com que tudo tenha o mesmo valor de forma que se possa fazer uma comparação entre o que
entra e o que sai nos diferentes anos de vida do projeto. Isto se consegue através da atualização
ou desconto do dinheiro para retroagir ao valor inicial da época na qual se efetuou a inversão.
O Valor Atual Líquido de uma inversão é a soma dos valores atuais para cada ano considerado
como receita líquida em dinheiro (fluxo líquido de caixa) menos o custo inicial.

Cada fluxo líquido de caixa anual se desconta pelo respectivo fator de desconto para obter o valor
atual. Os fatores são mostrados no Anexo 1.

Se o resultado final é positivo a inversão é viável, se negativo é inviável se igual a zero é


indiferente. Isso significa que a inversão proporciona um retorno superior à taxa de desconto
utilizada, ou seja, superior ao custo de oportunidade do capital (se foi empregado este valor) ou
superior à taxa estabelecida pelo investidor (em tal caso usa-se esta taxa arbitrária).

Na Tabela 16, pode-se verificar que o investidor pode pagar $ 11.979 pela inversão A e $ 12.048
pela B e ainda receber um retorno de 8% sobre o capital investido. A taxa de desconto usada é a
que influencia o resultado, portanto é fundamental selecionar a adequada para cada situação.

Tabela 16
CÁLCULO DO VALOR ATUAL LÍQUIDO PARA 2 INVERSÕES DE $ 10.000
Taxa de desconto 8%, sem valor terminal)
Inversão A Inversão B
Fluxo Líquido de Fator de Valor Fluxo Líquido de Fator de
Ano × = × = Valor Atual
Caixa desconto Atual Caixa desconto
1 3.000 0,926 2.778 1.000 0,926 926
2 3.000 0,857 2.571 2.000 0,857 1.714
3 3.000 0,794 2.382 3.000 0,794 2.382
4 3.000 0,735 2.205 4.000 0,735 2.940
5 3.000 0,681 2.043 6.000 0,681 4.086
TOTAL 11.979 TOTAL 12.048
- CUSTO 10.000 -CUSTO 10.000
Valor Atual Líquido 1.979 Valor Atual Líquido 2.048

10.3.3.4 Taxa Interna de Retorno (T.I.R.)

Este método fornece informações adicionais ao do Valor Atual Líquido. No nosso exemplo ambas
as inversões eram positivas, mas qual é sua taxa de retorno?

A taxa real de retorno de uma inversão é considerando o procedimento adequado de cálculo, a


taxa interna de retorno, que define o valor o “retorno” do investimento, ou seja, o que paga em
termos percentuais o dinheiro investido na atividade em objeto. lsso permite realizar comparações,
tomar decisães com relação a investir ou não investir e avaliar a possibilidade de tomar o dinheiro
emprestado se a taxa de retorno for superior à taxa aplicada no mercado de capitais.

A taxa interna de retorno é a taxa de desconto que iguala a zero o valor atual líquido. Na falta de
uma calculadora financeira se estima através de um processo de provas e erros. Sabemos do
exemplo anterior que VAL é bastante alto, portanto a taxa de desconto deverá ser superior à
utilizada (8%). Aplicamos a de 14% como primeira estimativa. O cálculo (Tabela 17) nos dá um
valor positivo de $ 296, então aplicamos a seguinte de 16% que nos dá um valor atual líquido
negativo de $ 178. Portanto a taxa real será um valor entre os dois. No caso A é de 15,2% e no
caso B de 13,8%.

A taxa interna de retorno permite avaliar se a inversão analisada é rentável, o que se obtém
comparando o rendimento do capital na inversão com o que obteria em outro investimento (custo
de oportunidade; geralmente o mercado financeiro). Também permite estabelecer se o
investimento alcança o desejado nível de retorno, o qual pode ser modificado assumindo valores
arbitrários que cubram a inflação e o risco incluído na atividade. Por exemplo, se a taxa do
mercado financeiro é 6% anual (poupança) e a inflação prevista 4%: e a taxa de prêmio pelo risco
assumido em desenvolver uma atividade nova ou sujeita a mudanças não controláveis (preço de
venda, preço de insumos, etc. comum no mercado agrícola), estimada ou estabelecida em 5%, a
taxa mínima de desconto aceitável pela inversão será igual a 6 + 4 + 5 = 15%, ou seja, uma taxa
interna de retorno de no mínimo 15%, para que o investimento seja interessante e aceitável).

A taxa interna de retorno ademais pode ser utilizada para proceder uma comparação entre
investimentos de diferentes custos iniciais e vida produtiva. A principal limitação consiste em que o
cálculo é trabalhoso e que a taxa interna de retorno (TIR) assume que a receita líquida anual seja
reinvestida para ganhar um retorno igual ao que produz a TIR (o que nem sempre é possível,
causando às vezes sobre estimativa da TIR total da inversão).

Tabela 17
ESTIMATIVA DA TAXA INTERNA DE RETORNO PARA O INVESTIMENTO
A
Receita 14% 16%
Anos
Líquida Fator Valor Atual Fator Valor Atual
1 3.000 0,877 2.631 0,862 2586
2 3.000 0,769 2.307 0,743 2.229
3 3.000 0,675 2.025 0,641 1.923
4 3.000 0,592 1.776 0,552 1.656
5 3.000 0,519 1.557 0,476 1.428
TOTAL 10.296 9.822
-CUSTO 10.000 10.000
Valor Atual Líquido 296 -178

ANEXO 1
VALOR ATUAL DE $ 1, RECEBIDO AO FINAL DE UM DE TERMINADO PERÍODO
Taxa de Juros
Anos 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18%
1 0.9434 0.9259 0.9091 0.8929 0.8772 0.8621 0.8475
2 0.8900 0.8573 0.8264 0.7972 0.7695 0.7432 0.7182
3 0.8396 0.7938 0.7513 0.7118 0.6750 0.6407 0.6086
4 0.7921 0.7350 0.6830 0.6355 0.5921 0.5523 0.5158
5 0.7473 0.6806 0.6209 0.5674 0.5194 0.4761 0.4371
6 0.7050 0.6302 0.5645 0.5066 0.4556 0.4104 0.3704
7 0.6651 0.5835 0.5132 0.4523 0.3996 0.3538 0.3139
8 0.6274 0.5403 0.4665 0.4039 0.3506 0.3050 0.2660
9 0.5919 0.5002 0.4241 0.3606 0.3075 0.2630 0.2255
10 0.5584 0.4632 0.3855 0.3220 0.2697 0.2267 0.1911
11 0.5268 0.4289 0.3505 0.2875 0.2366 0.1954 0.1619
12 0.4970 0.3971 0.3186 0.2567 0.2076 0.1685 0.1372
13 0.4688 0.3677 0.2897 0.2292 0.1821 0.1452 0.1163
14 0.4423 0.3405 0.2633 0.2046 0.1597 0.1252 0.0985
15 0.4173 0.3152 0.2394 0.1827 0.1401 0.1079 0.0835
16 0.3936 0.2919 0.2176 0.1631 0.1229 0.0930 0.0708
17 0.3714 0.2703 0.1978 0.1456 0.1078 0.0802 0.0600
18 0.3503 0.2502 0.1799 0.1300 0.0946 0.0691 0.0508
19 0.3305 0.2317 0.1635 0.1161 0.0829 0.0596 0.0431
20 0.3118 0.2145 0.1486 0.1037 0.0728 0.0514 0.0365
21 0.2942 0.1987 0.1351 0.0926 0.0638 0.0443 0.0309
22 0.2775 0.1839 0.1228 0.0826 0.0560 0.0382 0.0262
23 0.2618 0.1708 0.1117 0.0738 0.0491 0.0329 0.0222
24 0.2470 0.1577 0.1015 0.0659 0.0431 0.0284 0.0188
25 0.2330 0.1460 0.0923 0.0588 0.0378 0.0245 0.0160
26 0.2198 0.1352 0.0839 0.0525 0.0331 0.0211 0.0135
27 0.2074 0.1252 0.0763 0.0469 0.0291 0.0182 0.0115
28 0.1956 0.1159 0.0693 0.0419 0.0255 0.0157 0.0097
29 0.1846 0.1073 0.0630 0.0374 0.0224 0.0135 0.0082
30 0.1741 0.0994 0.0573 0.0334 0.0196 0.0116 0.0070
31 0.1643 0.0920 0.0521 0.0298 0.0172 0.0100 0.0059
32 0.1550 0.0852 0.0474 0.0266 0.0151 0.0087 0.0050
33 0.1462 0.0789 0.0431 0.0238 0.0132 0.0075 0.0042
34 0.1379 0.0730 0.0391 0.0212 0.0116 0.0064 0.0036
35 0.1301 0.0676 0.0356 0.0189 0.0102 0.0055 0.0030
36 0.1227 0.0626 0.0323 0.0169 0.0089 0.0048 0.0026
37 0.1158 0.0580 0.0294 0.0151 0.0078 0.0041 0.0022
38 0.1092 0.0537 0.0267 0.0135 0.0069 0.0036 0.0019
39 0.1031 0.0497 0.0243 0.0120 0.0060 0.0031 0.0016
40 0.0972 0.0460 0.0221 0.0107 0.0053 0.0026 0.0013

ANEXO 2
Amostragem Alimentação Adubos e Fertilizantes
Crescimento
Peso Diário Biomassa Quant. de Alim.
№ Médio Tipo
Data Esp. Total Conserção Adubo P N Data
Dias por Por Por Por Por Alim. Por Por
Peixe peixe ha Total Tanque ha Dia
por
ha
Tanque
10.4 Leituras Adicionais

Вам также может понравиться