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RESUMO: Todos nós, ao longo da vida, sofremos inúmeras perdas; elas são parte da
nossa vida e do processo de desenvolvimento humano. O presente trabalho possui o
objetivo de realizar um apanhado histórico acerca dos rompimentos de vínculos afetivos
e dos processos de luto. Para tanto, conta com uma revisão bibliográfica em livros e
artigos que se constituem como referencial teórico indispensável na área do estudo da
tanatologia e do luto. Como resultado, constata-se que o processo de luto é singular,
visto que cada ser humano possui condições e recursos diferentes para enfrentar e
elaborar seu período de dor. Embora a literatura apresente, didaticamente, etapas a
serem cumpridas no processo de elaboração e sinais acerca de como segue o luto,
destaca-se que o enlutado vivencie o luto à sua maneira, com seu próprio tempo e suas
particularidades.
PALAVRAS-CHAVE: Luto; tanatologia; perdas; separação.
ABSTRACT: All of us, throughout our lives, have suffered countless losses; they are
part of our life and the process of human development. This study has the objective of
making a historical review about the disruptions of affective bonds and grief processes.
To this, it has a bibliographic review in books and articles that constitute an
indispensable theoretical referential in the study area thanatology and grief. As a result,
it appears that the grieving process is unique, because every human being has different
conditions and resources to face and prepare your period pain. Although literature has
didactically stages to be completed in the process and signals on how to follow the
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Possui graduação em Psicologia pela UNINGÁ - Centro Universitário Ingá (2016). Especializando em
Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial pelo Centro Universitário de Maringá -
UNICESUMAR (2017-2018). É membro da Comissão de Direitos Humanos do CRP-PR/08 (Maringá-
PR). Foi membro do Instituto Psicologia em Foco - Oficina do Saber e Jornal Psicologia em Foco,
Maringá - PR (2015-2016). E-mail de contato: josegrigoleto@outlook.com
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Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina
Social da UERJ. Possui graduação em Direito - UNIVEL (2006) e graduação em Psicologia pela
Universidade Católica do Paraná PUC-PR (1999). Especialista em "Psicanálise com crianças" pela UTP-
PR e "Educação, políticas sociais e atendimentos a famílias" pelo ISEPE. Possui formação em
Tanatologia (ISEPE). Atuo como psicóloga do Hospital do Câncer UOPECCAN (2001/2011). Certificada
em Psicologia da Saúde pela ALAPSA e Especialista em Psicologia Hospitalar (CFP).
Email de contato: giovana_k@yahoo.com.br
Revista Pontes, Paranavaí, 2018, v. 2, p. 20-28 – ISSN 1808-6462
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grief, it is emphasized that the bereaved experience the grief in their own way, with
their own time and own particularities.
KEYWORDS: Grief; thanatology; losses; separation.
1. INTRODUÇÃO
Todos nós, ao longo da vida, sofremos inúmeras perdas; elas são parte da nossa
vida e do processo de desenvolvimento humano. Para Kubler-Ross e Kessler (2004)
sofremos grandes e pequenas perdas, que podem ir desde a morte de um ente querido
até à perda de um número de telefone. As perdas podem ser permanentes ou
temporárias, pequenas ou grandes, reparáveis ou irreparáveis.
Neste estudo, pretendemos entrelaçar as possibilidades teóricas para falar da
morte, já que a perda de alguém que amamos “é certamente uma das experiências mais
dolorosas que existem” (KUBLER-ROSS; KESSLER, 2004, p.77).
Para organizarmos o pensamento acerca da morte olhamos para a história e,
assim, localizamos como sua concepção passou por várias transformações ao longo do
tempo. Isto porque cada cultura e cada época lidavam e compreendiam o processo de
morrer e a morte de maneira singular, com suas próprias particularidades.
A morte é um fenômeno que faz parte da história do homem. Desde o momento
em que nascemos começamos o processo de morrer. Porém, mesmo que vida e morte
estejam intimidades ligadas e que façam parte da nossa história, ainda a tememos e
buscamos negá-la (FRANCO, 2005).
A literatura resgata que houve um tempo, mais precisamente na idade média, em
que as pessoas sentiam, literalmente, quando a morte chegava, quer fosse através de
sonhos ou de algum sinal que acreditavam terem recebido. A morte, então, era tida
como algo natural e as pessoas enfrentavam sua chegada de maneira mais simples e
prática. Se havia algo inacabado, era logo concluído (ARIÈS, 2013).
Sendo assim, havia um tempo para o término do que ainda estava inconcluso.
Ainda de acordo com Ariès (2013), conforme cada crença os representantes religiosos
ou espirituais eram encarregados por acompanhar o processo de morrer; quando o
momento pedia, então, o pároco era chamado para sua benção final – o ritual poderia se
repetir por várias vezes – e a pessoa morria. Por outro lado, era considerado como
vergonhoso e feio a morte repentina, fosse por um acidente ou uma doença, o que por
vezes era tido como um castigo divino. Também, a morte clandestina, como era
chamada, era aquela que não havia testemunhas ou cerimônias, fosse a de um viajante
que morria na estrada ou de uma pessoa que morria afogada. Logo, também era tida
como desonrosa e evitavam-se menções e ritos a esses mortos de forma súbita.
Todavia, hoje no mundo contemporâneo a morte é considerada um assunto
negligenciado em nossa sociedade. Não se morre mais como antes, em casa, rodeado da
família e de pessoas queridas: a morte foi transferida para o hospital, rodeada por
aparelhos e fios por todos os lados. Assim, falar sobre a morte passou a ser uma atitude
interdita, proibida (KÜBLER-ROSS, 2008). Com isso, fica claro que “a morte constitui
ainda um acontecimento medonho, pavoroso, um medo universal” (KÜBLER-ROSS,
2008, p. 9). As pessoas possuem pavor da morte e o simples fato de falar sobre ela
causa angústia. Ainda, algumas culturas acreditam que quanto mais se fala sobre a
morte, mais cedo ela chegará; logo, torna-se tabu e qualquer menção a ela desperta
medo e ansiedade (KOVÁCS, 1992).
Interessante destacar que o homem não mudou em sua essência “o que mudou
foi nosso modo de conviver e lidar com a morte, com o morrer e com os pacientes
moribundos” (KÜBLER-ROSS, 2008, p. 9). Neste sentido Esslinger (2004) discute o
conflito que a interdição da morte provoca nas relações institucionais entre médico-
paciente-família quando a morte passa a ser entendida como algo a ser ferozmente
combatido, e a tomada de decisões sobre aspectos da vida, morte e tratamentos torna-se
alvo de disputa e conflitos. Diante do quadro de embate entre os envolvidos, a morte é
expropriada do mundo dos vivos e do próprio paciente, perdendo-se a dignidade
humana.
Porém, mesmo que se evitem menções à morte, inevitavelmente ela chega e traz
consigo o luto para aqueles que vivenciaram a perda de um ente querido. Parkes (1998)
aponta que o luto pode ser caracterizado como uma resposta normal que todos nós
iremos nos deparar em algum momento de nossa vida, seja pela morte em si ou por
tantas outras situações de perdas que irão gerar algum desconforto e/ou estresse – afinal,
o rompimento de um vínculo significativo exige adaptação por parte de quem fica. Para
Bromberg (2000) toda perda exige uma readaptação no padrão de vida, um ajustamento
social e afetivo; a perda da pessoa amada não é apenas uma perda, mas uma ameaça.
2. METODOLOGIA
O presente trabalho se caracteriza como uma pesquisa de cunho bibliográfico,
visto que esta se pauta, segundo Gil (2012), em artigos científicos e em livros
publicados sobre assuntos que envolvam a temática do luto, rompimento de vínculos
afetivos e morte e morrer. Para tanto, utilizou-se do Google Books, Google Acadêmico
e SciELO - Scientific Electronic Library Online - como bases de dados para busca da
bibliografia. Assim, autores como Ariès (2013), Franco (2010), Parkes (1998, 2009) e
Worden (2013) formam os principais autores referenciados neste trabalho.
3. RESULTADO
A perda de alguém querido é um dos momentos de maior sofrimento da vida de
um sujeito; a dor e angústia desencadeiam sofrimentos que se estendem para as relações
psicológicas, físicas e sociais do enlutado. Para Parkes (1998) o luto é um processo e
não um estado. Não é um conjunto de sintomas que tem início após uma perda e depois
se desvanece. Envolve uma sucessão de quadros clínicos que se mesclam e se
substituem.
A pessoa enlutada deve ser acolhida em sua dor, e é preciso que as pessoas
estejam atentas para o fato de que não há manifestação certa ou errada para a expressão
do luto, pois cada pessoa viverá o processo conforme suas possibilidades e seus
recursos. No entanto, quando o processo de enlutamento se complica é preciso estar
atento para que o sofrimento possa ser cuidado em suas inúmeras dimensões, tanto
físicas, emocionais, sociais, quanto espirituais, de maneira profissional ou especializada.
No chamado luto normal uma ampla gama de comportamentos podem ser
contemplados e Worden (2013) os colocou em quatro categorias gerais: sentimentos,
sensações físicas, cognições e comportamentos. Na categoria sentimentos incluiu
tristeza, raiva, culpa e autocensura, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque,
saudades, libertação, alívio, torpor. As sensações físicas incluem vazio no estômago,
aperto no peito/garganta, hipersensibilidade a ruídos, senso de despersonalização, falta
de ar, fraqueza muscular, falta de energia, secura na boca. Na categoria cognições, o
autor localiza a descrença, confusão, preocupação, sensação de presença, alucinações.
Quanto os comportamentos propriamente ditos, estão os distúrbios do sono, do apetite,
isolamento social, sonhos com o morto, a evitação de lembranças, o procurar e chamar
pelo falecido, suspiro, hiperatividade e agitação, choro, visitas a locais ou carregar
objetos que lembrem a pessoa morta, valorização de objetos que pertenciam ao morto,
comportamentos similares à depressão. Shear (2015) concorda que no luto agudo
surgem sintomas como ansiedade, depressão e raiva, podendo acarretar mudanças no
sistema imunológico, surgindo distúrbios do sono, alterações na pressão sanguínea e
também aumento do nível de cortisol.
Importante salientar que Worden (2013) apresenta as categorias a fim de
facilitar a compreensão acerca das reações normais e esperadas diante de uma perda
significativa, valendo lembrar que tais comportamentos não são definitivos, estanques
ou lineares e dependerão de variáveis acerca do tipo de perda, do enlutado e da pessoa
perdida.
Todavia, mesmo sendo uma resposta normal, há casos em que o luto não segue
um curso “normal”. Esses casos podem ser caracterizados pelo que conhecemos, hoje,
como luto complicado, terminologia que já passou por várias transformações ao longo
do tempo, sendo mencionado na literatura com diversas nomenclaturas, como: não-
saudável, disfuncional, patológico, não-resolvido, crônico, prolongado, retardado ou
exagerado; processo inadequado de luto, transtorno de luto prolongado. O luto
complicado se refere a alguma “dificuldade que repousa no processo de luto. Existe
alguma coisa que está impedindo o processo de luto e não permitindo seguir em frente
na busca da boa adaptação à perda” (WORDEN, 2013, p.97), podendo ser descrito em
quatro categorias: 1. Reações crônicas de luto; 2. Reações retardadas de luto; 3. Reações
exageradas de luto; 4. Reações mascaradas de luto.
Sendo assim, falar de luto complicado demanda atenção, estudo e sutileza do
profissional, visto que é difícil enquadrar o processo de luto em algo “normal” ou “não
normal” sem levar em conta as particularidades do enlutado e, também, da sociedade e
cultura em que ele está inserido. O que geralmente se faz é observar e trabalhar com os
fatores que complicam o luto, na medida em que coloca em risco a saúde mental do
sujeito (PARKES, LAUNGANI e YOUNG, 1997 apud FRANCO, 2010). “É somente
quando ele (o luto) se prolonga muito e causa danos às funções da vida normal que pode
ser considerado patológico” (PARKES, 2009, p.42). Assim, é importante ter
consciência de que “todos os lutos são traumáticos, mas alguns são mais traumáticos
que outros” (PARKES, 2009, p. 159).
Shear (2015) destaca que alguns momentos podem acarretar uma maior
dificuldade para o sujeito lidar com a perda, como o aniversário da morte, encontros de
4. DISCUSSÃO
O processo de luto inclui tarefas como aceitar a realidade da perda; processar a
dor do luto; ajustar-se a um mundo sem a pessoa morta e encontrar conexão duradoura
com a pessoa morta em meio ao início de uma nova vida (WORDEN, 2013). Esse é um
processo doloroso que exige compreensão e tempo, ocorre de maneira oscilatória entre
momentos de intensa dor que incluem os estressores próprios advindos da perda (foco
5. CONCLUSÃO
Perder alguém ou algo importante faz parte da vida de todo ser humano;
confrontar-se com a ausência e ter certeza de que a situação será permanente provoca
intensa dor e pesar e esta é uma reação absolutamente esperada. Dizemos perder alguém
ou algo porque nunca sabemos exatamente o que foi perdido (PARKES, 1998). O luto
envolve um doloroso processo de adaptação à nova vida – agora sem a pessoa estimada
ou a situação e contexto de antes; com a perda/separação/rompimento a vida muda e o
enlutado precisa reorganizar-se para poder seguir adiante.
Muitos autores tem nos apresentado diferentes maneiras de compreender,
didaticamente, o processo de morte e morrer e de luto. No entanto, cabe lembrar que
este é um processo singular, em que cada ser humano possui condições diferentes para
enfrentar e elaborar sua dor. Os profissionais necessitam dispor das teorias para
visualizar se o luto vai sendo vivido de forma saudável ou se está se complicando em
algum aspecto.
Por isso, fatores relativos à pessoa enlutada e ao contexto da perda devem ser
evidenciados. Temos que avaliar, por exemplo, como a idade da pessoa falecida/ausente
e a idade da pessoa enlutada se intercruzam no ciclo vital e o que cada um estaria
construindo ou concluindo em suas etapas vitais que foram impactadas pela perda.
Ainda, o tipo de vínculo que foi rompido e o significado da pessoa que se foi na vida
que quem fica também é um fator que merece atenção.
Podemos dizer também que o tipo de morte, seja ela acidental, abrupta, violenta,
ou por doença, dão sentido às crenças do enlutando, promovendo senso de justiça ou
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