Вы находитесь на странице: 1из 201

Turismo e Lazer

Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz

2012
Copyright © UNIASSELVI 2012

Elaboração:
Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

338.4791
L575t Lenz, Talita Cristina Zechner
Turismo e lazer /Talita Cristina Zechner Lenz. Indaial :
Uniasselvi, 2012.
191 p. : il.

ISBN 978-85-7830-536-9

1. Turismo e lazer.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico(a)!

No âmbito do gestão do turismo, o debate sobre o tema lazer toma


força nos últimos tempos. Muito se discute sobre a importância do lazer para
assegurar uma vida de qualidade e nesse sentido, o turismo é visto como uma
grande oportunidade para sanar as necessidades de lazer.

Tendo em vista que as relações que se estabelecem entre turismo e


lazer não são tão simples e diretas, faz-se necessário refletir e analisar com
atenção a questão do lazer, considerando suas características e os elementos
chaves que fazem parte do conceito de lazer. Para tanto, nessa disciplina você
irá estudar quais as relações que existem entre lazer e turismo e se aproximar
de algumas modalidades de negócios de lazer.

Além disso, vamos debater as interfaces entre o setor público e privado


no lazer, entender o que é recreação e observar os diferentes consumidores
que interferem no mercado de turismo e lazer. Vamos ainda discutir de que
modo o lazer se apropria dos espaços públicos e como o debate do lazer vem
adentrando no ambiente empresarial.

Outros elementos irão fazer parte dessa rica disciplina, que pretende
contribuir alargando as perspectivas que permeiam a questão do turismo,
oferecendo subsídios para conduzir com eficiência e eficácia a gestão de
empresas e projetos de lazer e turismo.

Boa leitura e sucesso em seus estudos!

Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz

III
UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades
em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o


material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER ............................................................. 1

TÓPICO 1 – O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO .................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 UMA SOCIEDADE PAUTADA NO TRABALHO ......................................................................... 3
3 AS MUDANÇAS NO TEMPO DE PRODUÇÃO E A EMERGÊNCIA DO TEMPO
LIVRE ...................................................................................................................................................... 4
4 ALGUNS PRECONCEITOS EXISTENTES SOBRE LAZER E LÚDICO ................................... 8
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 11
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 12

TÓPICO 2 – DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER .................................................................. 13


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 13
2 O QUE É LAZER? .................................................................................................................................. 13
3 TIPOS DE LAZER ................................................................................................................................. 17
4 LAZER E CULTURA DO CONSUMO .............................................................................................. 19
5 O BINÔMIO TURISMO E LAZER .................................................................................................... 24
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 27
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 28

TÓPICO 3 – A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ............ 29


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 29
2 QUAL A IMPORTÂNCIA DO LAZER PARA AS SOCIEDADES? ............................................ 29
3 LAZER E QUALIDADE DE VIDA .................................................................................................... 30
4 O LAZER ENQUANTO MODALIDADE DE NEGÓCIO ............................................................ 34
5 EMPREENDIMENTOS DE LAZER .................................................................................................. 35
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 45
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 46

TÓPICO 4 – O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL ............................................................................ 47


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 47
2 AS ABORDAGENS TEÓRICAS DO LAZER .................................................................................. 47
3 UM DIALÓGO ENTRE LAZER E RACIONALIDADE ................................................................ 48
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 50
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 56
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57

UNIDADE 2 – TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO ............ 59

TÓPICO 1 – OS CONSUMIDORES DE LAZER ............................................................................... 61


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61
2 O PÚBLICO INFANTIL/ ADOLESCENTE E O LAZER ............................................................... 61
3 O LAZER E OS ADULTOS ................................................................................................................. 63
4 A TERCEIRA IDADE E O LAZER (adultos da segunda fase) ..................................................... 65

VII
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 67
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68

TÓPICO 2 – RECREAÇÃO E LAZER .................................................................................................. 69


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 69
2 ENTENDENDO O CONCEITO DE RECREAÇÃO ....................................................................... 69
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 75
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76

TÓPICO 3 – ESPORTE E LAZER .......................................................................................................... 77


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77
2 DISTINGUINDO ESPORTE E RECREAÇÃO ................................................................................ 77
3 BREVE HISTÓRICO SOBRE O ESPORTE ..................................................................................... 78
4 ESPORTE, TURISMO E LAZER ........................................................................................................ 82
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 85
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 86

TÓPICO 4 – O PLANEJAMENTO E AS POLÍTICAS DE LAZER E TURISMO ......................... 87


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87
2 A POSSIBILIDADE DAS POLÍTICAS DE LAZER E TURISMO ............................................... 87
2.1 OPERACIONALIZAÇÃO DE POLÍTICAS DE TURISMO E LAZER ..................................... 90
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 92
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 93

TÓPICO 5 – LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS ................................................ 95


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 95
2 O ESPAÇO DO LAZER ........................................................................................................................ 95
3 INTERSETORIALIDADE NO LAZER ............................................................................................. 100
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 102
RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 112
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 113

TÓPICO 6 – O PROFISSIONAL DE LAZER E SUA FORMAÇÃO ............................................... 115


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 115
RESUMO DO TÓPICO 6 ....................................................................................................................... 118
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 119

UNIDADE 3 – TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS ................................................. 121

TÓPICO 1 – MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO ...................................................... 123


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123
2 AS PRINCIPAIS MOTIVAÇOES PARA O TURISMO E LAZER ............................................... 123
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 133
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 134

TÓPICO 2 – O LAZER E A EMPRESA ................................................................................................ 135


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 135
2 O TRABALHO E O LAZER NAS EMPRESAS ............................................................................... 135
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 145
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 146

TÓPICO 3 – LAZER E TECNOLOGIA ................................................................................................ 147


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 147

VIII
2 COMO O LAZER SE RELACIONA COM A TECNOLOGIA ...................................................... 147
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 156
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 157

TÓPICO 4 – O LAZER E O JOGO ........................................................................................................ 159


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 159
2 OS JOGOS E OS CASSINOS ............................................................................................................. 159
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 163
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 164

TÓPICO 5 – FESTAS, LAZER E CULTURA ....................................................................................... 165


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 165
2 FESTAS E TURISMO ........................................................................................................................... 165
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 169
RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 180
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 181

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 183

IX
X
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO AO ESTUDO
DO LAZER

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• entender em que contexto histórico e social surgem as discussões sobre o


lazer;

• conhecer e aprofundar o conceito de lazer;

• analisar a importância do lazer na sociedade contemporânea e;

• pontuar as relações existentes entre lazer e sociedade, perpassando pelas


principais correntes teóricas que tratam do assunto.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos, no decorrer dos estudos, você
encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conteúdos adquiridos.

TÓPICO 1 – O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

TÓPICO 2 – DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

TÓPICO 3 – A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE


CONTEMPORÂNEA

TÓPICO 4 – O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

Assista ao vídeo
desta unidade.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

1 INTRODUÇÃO
Para muitas pessoas a palavra lazer parece trazer consigo um significado
de supérfluo, “perfumaria” (diriam alguns), ou ainda, um antônimo de prioridade.
Outros, já admitem sua importância para assegurar uma vida de qualidade e
mais equilibrada. A discussão em torno do tempo é carregada de sentidos que se
encontra atrelada a diferentes momentos históricos, isto é, dizem respeito a uma
construção cultural. Nesse tópico, vamos analisar, de forma introdutória, como o
tema lazer foi discutido ao longo da história.

2 UMA SOCIEDADE PAUTADA NO TRABALHO


Em nosso modelo de sociedade atual, o trabalho é considerado por muitas
pessoas a principal razão de existência. As crianças são desde cedo estimuladas
a pensar sobre o seu futuro profissional. Algumas escolas, ainda na etapa do
ensino fundamental, inserem disciplinas e conteúdos relacionados ao tema do
empreendedorismo e línguas estrangeiras aclamando a necessidade de se preparar
bons candidatos para ingressar no mercado de trabalho. Durante o ensino médio,
é comum a realização de ‘aulões’ e simulados destinados a preparar muito bem os
alunos para o vestibular, para que o ingresso no ensino superior seja possível.

Por detrás de todas estas estratégias, é inerente a preocupação em fazer


com que crianças, adolescentes e jovens tenham êxito em sua carreira profissional.
Que encontrem um posto de trabalho que ofereça boa remuneração e, ainda, a
expectativa é que o ofício lhe traga realização pessoal e prestígio. Na fase adulta, a
profissão é algo que costuma ser tão importante, que o indivíduo, ao ser questionado
“Quem é você?”, tende a responder, “Me chamo Maria, sou arquiteta” ou ainda,
“Sou Promotor de Justiça, meu nome é Marcos Roberto”. Quer dizer, muito
além de constituir uma forma de vender a força de trabalho ou de explorá-la, o
trabalho da pessoa traz consigo um sentido de identidade, que para alguns, pode
ser uma forma de status, reconhecimento e aceitação, isto é, extrapola o simples
entendimento de ser uma maneira de se ganhar dinheiro.

Neste cenário, a preocupação e as reflexões em torno do tema trabalho são


comuns e fazem parte do nosso aparato cultural.

3
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Na contramão desse processo, somos pouco estimulados a meditar e


ponderar a questão do lazer em nossas vidas. Não é intenção, de modo nenhum,
negar a relevância de se planejar e de se organizar para ter um bom emprego, nem
tampouco, deslegitimar o papel que cumpre o trabalho na sociedade capitalista
que vivemos.

Na atualidade, o que parece bastante necessário é amadurecer e clarear


as ideias que permeiam o tema do lazer. É um assunto que sempre parece menos
importante, que costuma ser relegado a segundo plano na vida cotidiana, na visão
de alguns, um ‘capricho’ para quem pode. Este modo de enxergar o lazer está
carregado de preconceitos e distorções e escondem o sentido legítimo do conceito,
conforme iremos estudar ao longo do tópico.

3 AS MUDANÇAS NO TEMPO DE PRODUÇÃO E A EMERGÊNCIA


DO TEMPO LIVRE
O modo como as sociedades organizam seu tempo de trabalho e lazer não foi
sempre igual. A modificação da forma de trabalho artesanal e predominantemente
rural, típica da Idade Média, para o trabalho industrial, de modo geral urbano,
gerou alterações significativas. Camargo (1999) explica que no decorrer da Idade
Média, trabalhava-se em média de 700 a 1.000 horas por ano e demandando
grande esforço físico. O trabalho era duro, mas adaptado ao clima e às estações,
com momentos de descanso e festa ditados pela família e, sobretudo, pela religião,
tendo um calendário composto por diversos dias santos. Passada a Revolução
Industrial, os trabalhadores partem do campo para as fábricas e passam a ser
submetidos a árduas jornadas de 3.500 a 4.000 horas anuais, em um ambiente bem
diferente do contexto social do qual faziam parte.

Nas sociedades pré-industriais, o lazer não existia e o trabalho inscreveu-


se nos ciclos naturais das estações e dos dias, ou seja, era intenso durante a boa
estação e esmorecia durante a estação má. Além disso, o ritmo do trabalho era
natural, sendo interrompido por cantos, pausas, jogos e cerimônias, de modo que
o corte entre o trabalho e o repouso não era nítido. (DUMAZEDIER, 1999).

Nas cidades industrializadas do Brasil, no início do século XX, não havia


tempo para se divertir, nem mesmo no domingo, que também passou a ser dia de
trabalho. Neste período, a vida era ditada pelo trabalho. Após lutas e reivindicações
da classe operária, a jornada de trabalho passou para os atuais patamares de 1.800
e 2.000 horas anuais, isto é, 40 ou 44 horas semanais. Por conseguinte, passaram a
ter em média 30 a 35 horas na semana para o lazer. (CAMARGO, 1999).

A maneira como o trabalho era encarado pelas pessoas também difere


ao longo do tempo. Até o século XIX, a preocupação das sociedades centrava-se
em organizar estruturas socioculturais e econômico-políticas destinadas a atingir

4
TÓPICO 1 | O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

um nível de produção que ultrapassasse o consumo, até então, maior que o dos
bens e serviços indispensáveis às famílias. Isto é, no início do período industrial,
a luta pelo consumo e equipamentos eletrodomésticos e eletrônicos era grande,
pois antes o contato com tais aparatos domésticos era raro, e, portanto, a referida
etapa inicial, é marcada por um intenso consumo. Certamente que havia restrições
de ordem financeira o que dificultava o acesso a alguns itens, mas o desejo em
almejar tais produtos era grande. No Brasil, por exemplo, onde as condições de
financiamento mais dificultosas do que atualmente, havia os chamados ‘consórcios’
para aquisição de vários equipamentos, desde veículos até televisores.

Nessa corrida, pouco se falava sobre a usufruição do lazer e sobre a


natural necessidade de repouso da sociedade em geral, pois durante essa fase, as
pessoas sentiam seu valor pessoal reduzido a sua capacidade de produção. Em
contrapartida, significativo era o papel da religião e da igreja, que incorporava um
discurso quase dogmático segundo o qual homens nasceram para trabalhar e seu
trabalho era considerado um modo de purificação dos pecados, ou seja, a ideia de
trabalho se encontrava imbuída de sofrimento. (ANDRADE, 2001).

Ainda sobre o papel desempenhado pela igreja na construção histórica do


conceito de lazer, convém apontar que nem mesmo dentro do cristianismo havia
um consenso construído. Camargo (1999) explica que no bojo do catolicismo,
havia duas vertentes centrais que tratavam a questão do lazer dos fiéis, de modo
que a primeira condenava o não fazer nada e o divertimento em geral, em que as
atividades lúdicas eram consideradas ociosas e geradoras de desvios, originando
ditos populares como “A ociosidade é mãe de todos os vícios” e “Para cabeça
vazia, o diabo arruma serviço”. Uma segunda abordagem ditava que o trabalho
era uma obrigação a que o homem estava condenado. No protestantismo, grande
relevância foi atribuída ao trabalho e ao acúmulo de riquezas. A riqueza, fruto
do trabalho, era vista como bênção divina, e a falta de dinheiro, a pobreza, como
ausência de sintonia com Deus, um estado de doença espiritual. Esta abordagem
apresenta-se de forma nítida e detalhada na obra do sociólogo Max Weber,
intitulada “Ética protestante e o espírito capitalista”. De todo modo, nota-se que o
lazer não foi valorizado e tratado adequadamente por nenhuma das vertentes
religiosas referidas, pois ao invés de ser tratado como um direito fundamental
manteve-se atrelado aos ideais de divindade, pecado, culpa, enfim, bem longe do
seu sentido genuíno.

Ainda nesta linha de considerações, vale lembrar que antes do século


XIX aqueles que detinham o poder e que controlavam escravos, dependentes,
empregados e devedores de favores e de bens, não costumam trabalhar.
Autoridades, grandes senhores e credores importantes usualmente viviam longe
das obrigações de trabalho, folgando na alegria. No bojo de tais parâmetros
comportamentais, o lazer e o repouso eram privilégios apenas das pessoas
livres. (ANDRADE, 2001).

5
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

FIGURA 1 – TINTUREIROS NA IDADE MÉDIA

FONTE: Cidade Medieval Blog spot. Disponível em: <http://


cidademedieval.blogspot.com/2009/04/o-paternalismo-nas-relacoes-de-
trabalho.html>. Acesso em: 8 dez. 2011.

A situação vivenciada na primeira etapa da industrialização, marcada


por condições massacrantes de trabalho, não perdura por muito tempo, pois
gradualmente os operários se organizaram e passaram a reivindicar o direito ao
repouso e a condições mais dignas de trabalho. Como fruto de protestos, ocorreu
o reconhecimento público da necessidade social de tempo livre e a busca de
condições adequadas ao livre exercício do lazer e do repouso para os empregados,
seus familiares e dependentes. (ANDRADE, 2001).

No Brasil, a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho representa um marco


fundamental na conquista dos direitos dos trabalhadores. Trata-se da principal
norma legislativa do direito do trabalho, tendo sido criada através do Decreto-Lei
nº 5.452, em 1º de maio de 1943. De modo geral, a referida consolidação institui
as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho (BRASIL,
2011). A CLT foi e continua sendo uma ferramenta indispensável para assegurar os
direitos dos trabalhadores, incluindo o repouso e férias remuneradas.

Conforme explica Viana (2011), a consolidação das leis trabalhistas esteve


diretamente atrelada à visão de governo populista e dependente da aclamação
popular e o surgimento da CLT coincide com a criação do Ministério do Trabalho.
Assim, a consolidação das leis trabalhistas foi recebida como uma melhoria nas
relações sociais do país e constitui-se de um passo importante para a evolução
econômica nacional. Ademais, ainda de acordo com Viana (2011), até o fim do

6
TÓPICO 1 | O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

século XX, a CLT sofreu alterações em tópicos como a remuneração das férias,
merecendo destaque a equiparação gradual do trabalhador rural ao urbano.

Conforme pode ser visto, a consolidação das leis trabalhistas foi um passo
de suma importância para o trabalhador brasileiro, tendo sido criado inclusive a
expressão “celetista” para se referir aos empregados enquadrados no referida lei.
Tendo em vista que as leis trabalhistas são relativamente antigas em nosso país, já
nos acostumamos e consideramos ‘normal’ o direito às férias remuneradas.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada a 10 de


dezembro de 1948, assegura a todas as pessoas o direito ao repouso e ao
lazer, contudo, o direito a férias pagas não existe em muitos países do mundo.
(REVISTA FÓRUM, 2011).

Especificamente, 34 nações possuem o direito a férias remuneradas


regulamentadas, a saber: Alemanha, Armênia, Bélgica, Bósnia-Herzegovina,
Brasil, Burkina Faso, Camarões, Chade, Croácia, Eslovênia, Espanha, Finlândia,
Guiné, Hungria, Iêmen, Iraque, Irlanda, Itália, Letônia, Luxemburgo, Macedônia,
Madagáscar, Malta, Moldávia, Noruega, Portugal, Quênia, República Tcheca,
Ruanda, Sérvia, Suécia, Suíça, Ucrânia e Uruguai. (REVISTA FÓRUM, 2011).

Nos Estados Unidos, por exemplo, as férias pagas não são obrigatórias, de tal
forma que somente 67% dos servidores públicos e 80% dos trabalhadores do setor
privado têm direito a férias pagas de duração variável. No Japão, outra potência
econômica, os trabalhadores têm direito a 10 dias de férias não remuneradas. Na
China, por sua vez, funcionários possuem atualmente o direito de gozar de até
três semanas anuais de férias, mas este direito não se aplica em todos os setores.
(REVISTA FÓRUM, 2011).

Conforme foi possível observar, a concessão do direito a férias ainda é um


desafio para alguns países. Neste sentido, é pertinente fazer uma breve reflexão
sobre um paradoxo que parece se instalar em nossa sociedade atual. Se por um
lado, o direito ao descanso e ao lazer é produto de um processo de reivindicação,
nos dias de hoje, com o advento das novas tecnologias da informação, muitos
possuem incutidos em suas mentes, a ideia de que é preciso estar constantemente
checando e-mail, conferindo os últimos twets ou acompanhando o sobe e desce da
bolsa de valores. E nesse sentido, o que não faltam são opções para se manterem
conectados: celulares, tablets, smartphones, netbooks, enfim, a lista não para. Fato
comum é que encontramos pessoas a nossa volta (ou quem sabe, você mesmo),
tomando providências de trabalho fora do seu horário de trabalho, muitas vezes,
à noite, aos finais de semana e durante as férias. De modo algum, me parece que
o problema está nos novos aparatos da era informacional, talvez antes, na falta de
preparo de lidar com eles, não no sentido técnico, mas sob uma ótica mais madura
da gestão do tempo pessoal e de trabalho. Ao longo desse caderno, vamos tentar
entender melhor porque se configura essa nova realidade social.

7
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

4 ALGUNS PRECONCEITOS EXISTENTES SOBRE LAZER E


LÚDICO
Nas rodas de conversa e na mídia, é comum nos depararmos com uma
série de impressões, opiniões e conceitos equivocados e distorcidos sobre lazer. Na
sequência, apresenta-se uma síntese dos principais preconceitos inerentes ao tema,
baseado em Camargo (1999, p. 16-20).

Primeiro preconceito: diversão é preocupação dos ricos

Esse talvez seja o preconceito mais disseminado sobre diversão e apresenta-


se como uma desculpa constante. Muitas vezes reflete apenas a dificuldade em se
divertir experimentada pela pessoa que o enuncia. Queixar-se da falta de dinheiro
é um álibi que sempre funciona. Segundo Camargo (1999), esse preconceito está
associado a certo pudor ao se falar de diversão em um país com tantos problemas
sociais (fome, saúde, habitação etc.), algo como “falar de banquete na casa de quem
passa fome”. Contudo, há nessa noção uma distorção, como se de fato, ser pobre
significasse, além de falta de recursos, uma falta de desejo humano em se divertir.
É evidente que perante a um cenário de limitação de recursos, algumas opções
de lazer mais sofisticadas, tais como realizar viagens internacionais, jogar golfe
ou frequentar cassinos, não serão possíveis. Entretanto, existem várias formas
de se divertir gastando pouco ou nenhum dinheiro, dando uma caminhada,
frequentando praças, visitando amigos, ouvindo música etc.

FIGURA 2 – A CAMINHADA COMO OPÇÃO DE LAZER

FONTE: Revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/saude/caminhada-


rapida-pode-garantir-alguns-anos-a-mais-de-vida>. Acesso em: 8 dez. 2011.

8
TÓPICO 1 | O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

Segundo preconceito: o trabalho é mais importante que o lúdico

Não há dúvidas que ainda hoje, as pessoas consideram o trabalho mais


importante que o lúdico, por mais que se fale em novos tempos. É sabido, porém,
que ao invés da máxima “viver para trabalhar”, na atualidade vigora o “trabalhar
para viver”, aceitando os múltiplos interesses que uma vida plena pode oferecer,
no trabalho e fora dele. Por exemplo, enquanto antigamente, a imagem do
político ideal era uma pessoa séria e sisuda, hoje, eles procuram temperar sua
imagem austera com outras mais lúdicas, do esportista ou do artista entre outras.
Neste limiar, diversas igrejas que mantinham suas celebrações e liturgias sérias
inicialmente, passaram incorporar gestos e canções animadas para se tornarem
mais atrativas. (CAMARGO, 1999). Ou seja, não faltam exemplos a nossa volta
para demonstrar que é possível ser descontraído, alegre, sem deixar de ser
responsável e comprometido.

Terceiro preconceito: a diversão atrapalha o trabalho, o dever

Diversos setores da sociedade e muitas pessoas ainda continuam a partilhar


da crença de que o divertimento – o fácil – é o responsável pelo pouco empenho
das pessoas no dever – o difícil. É claro que é preciso ter um equilíbrio entre o
tempo dedicado ao lazer e aos compromissos, pois, exceto raríssimas exceções, não
é possível construir uma vida exitosa e próspera, distanciado de todos os tipos de
compromissos. Mas não é evitando o lúdico que pessoas vão se ocupar melhor de
suas obrigações. (CAMARGO, 1999). No passado, talvez essa preocupação fizesse
sentido, pois não poderia haver pausas e distrações que prejudicassem a produção.
Hoje em dia, a maioria das ocupações exige posturas e atitudes responsáveis e
criativas, isto é, demandam profissionais que tenham a capacidade de “arejar suas
próprias ideias”. O lúdico, portanto, não é um obstáculo ao sério.

Quarto preconceito: trabalhar é difícil, divertir-se é fácil

A verdade dessa afirmativa certamente reside no fato de que o trabalho


(seja ele braçal, intelectual, de cunho artístico etc.) exige disciplina, esforço,
concentração, repetição, monotonia. O lazer, por sua vez, pode demandar esforço
e disciplina, mas apenas na intensidade desejada pelo indivíduo que o pratica,
e nesse sentido, divertir-se é mais fácil que trabalhar. Contudo, essa reflexão
não se esgota tão facilmente, pois o que explicaria a expressão de tédio em uma
criança perante uma montanha de brinquedos novos? Ou turistas que se deslocam
para remotos lugares e não conseguem relaxar e aproveitar os passeios? Como
explicar homens e mulheres num iate, entediados? (CAMARGO, 1999). Essas
situações indicam o desfrute do lazer, não é tão simples como parece. Algumas
pessoas possuem dificuldades para relaxar e se soltar, e estão sempre preocupadas
e querendo controlar a situação. Esse tipo de atitude é maléfico e um grande
empecilho para o desfrute do lazer. O que acontece, é que às vezes a própria pessoa
não tem consciência de suas dificuldades para se divertir, possivelmente porque
não foi educada e preparada para o desfrute.

9
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Diante desse cenário, crescem as ocupações profissionais relacionadas à


missão de entreter as pessoas, tais como recreadores e animadores culturais que
buscam proporcionar meios e condições para as pessoas se soltarem e aproveitarem
melhor os equipamentos de lazer.

TUROS
ESTUDOS FU

O tema recreação será estudado de forma mais aprofundada mais adiante nesta
disciplina.

10
RESUMO DO TÓPICO 1
Olá acadêmico(a)! Vamos checar os pontos centrais desse tópico de
abertura.

• Em nosso modelo de sociedade atual, o trabalho é considerado por muitas


pessoas a principal razão de existência.

• Até o século XIX, pouco de falava sobre a usufruição do lazer e sobre a natural
necessidade de repouso, pois durante essa fase, as pessoas sentiam seu valor
pessoal reduzido a sua capacidade de produção.

• Como fruto de protestos, ocorreu o reconhecimento público da necessidade


social de tempo livre e a busca de condições adequadas ao livre exercício do
lazer e do repouso para os empregados, seus familiares e dependentes.

• No Brasil, a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho representa um marco


fundamental na conquista dos direitos dos trabalhadores.

• Algumas nações desenvolvidas ainda não possuem regulamentado o direito a


férias remuneradas.

• Existem quatro grandes preconceitos com relação ao lazer e ao lúdico: diversão


é preocupação dos ricos; o trabalho é mais importante que o lúdico; a diversão
atrapalha o trabalho, o dever e, por fim, trabalhar é difícil, divertir-se é fácil.

11
AUTOATIVIDADE

Vamos reforçar alguns pontos importantes respondendo às questões a


seguir:

1 Qual a principal diferença entre o lazer antes e após a Revolução Industrial?

2 Qual a importância da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) para os


trabalhadores brasileiros?

3 Cite cinco países que respeitam a Convenção 132, elaborada pela Organização
Internacional do Trabalho que regulamenta o direito a férias remuneradas.

4 Algumas pessoas acreditam que a diversão atrapalha o trabalho, porém esse


ponto de vista vem sendo alvo de críticas na atualidade. Explique quais os
argumentos apresentados pela crítica.

5 Sobre a questão do lazer, existe um preconceito que consiste em afirmar


que esta atividade é uma preocupação exclusiva dos ricos. Esta afirmativa é
correta?

Assista ao vídeo de Assista ao vídeo de


resolução da questão 1 resolução da questão 5

12
UNIDADE 1
TÓPICO 2

DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

1 INTRODUÇÃO
Conforme foi possível notar na seção anterior, o termo lazer carece de
uma apreciação mais cuidadosa e precisa, para que possa ser tratado de maneira
adequada, seja no setor privado, no setor público, ou ainda no âmbito de nossas
vidas pessoais. Na sequência, você vai aprender como os estudiosos tratam o
assunto. Isto lhe permitirá solidificar a compreensão do tema. Em seguida, os
assuntos lazer e turismo serão aproximados para você entender as interfaces que
se estabelecem entre os dois fenômenos.

2 O QUE É LAZER?
O termo lazer surgiu na antiga civilização greco-romana e deriva do
latim licere, que significa ‘ser permitido’. Nesse período, o ideal de lazer estava
atrelado à plena expressão de si mesmo nos planos físico, artístico e intelectual.
(CAMARGO, 1999).

Diversão, brincadeira e ludicidade sempre estiveram atreladas à cultura das


sociedades, contudo o fenômeno do lazer, tal como o concebemos na atualidade, é
um fenômeno que emergiu mais recentemente. Por isso, não é apropriado dizer que
a história do lazer seria tão antiga como a história das civilizações. Na perspectiva
de Dumazedier (1999, p. 26), “o tempo fora do trabalho é, evidentemente, tão antigo
quanto o próprio trabalho, porém o lazer possui traços específicos, característicos
da civilização nascida da Revolução Industrial”.

Mascarenhas (2003) também concorda que o lazer é um fenômeno moderno,


resultante das tensões entre trabalho e capital, que se materializa como um tempo
e espaço de vivências lúdicas, culturais e de relações sociais. Por isso, o conceito de
lazer está intimamente relacionado à questão do trabalho (sob forma de empresas
e indústrias, com horários e rotinas próprias), pois é a partir desse novo contexto
social que se começa pensar nas ocupações desempenhadas sem função produtiva.
Dumazedier (1999, p. 28) faz uma distinção importante entre o tempo de ausência
de trabalho e o de lazer: “o lazer não é a ociosidade, não suprime o trabalho; o
pressupõe. Corresponde a uma liberação periódica do trabalho no fim do dia, da
semana, do ano ou da vida de trabalho”.

13
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Outra característica relevante, é que com a Revolução Industrial o domínio


da igreja em todas as esferas da vida social é diminuído, pois as atividades de
trabalho passam a obedecer a outro código de poder, expresso pela figura do patrão
e das relações contratuais de trabalho. Além, o domínio da natureza, também
se altera nesse novo quadro. Afinal, os limites para os turnos de trabalho e as
condições para a realização das atividades passa a não depender em sua totalidade
das condições da natureza, pois o parque fabril dispõe de uma infraestrutura
suficiente para não ficar à mercê das mudanças climáticas, por exemplo.

O lazer diz respeito às atividades que permitem ao indivíduo entregar-se


de livre vontade, seja para repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se, ou ainda
aprender sobre determinado assunto sem que se estabeleça um compromisso, após
desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER,
1973). Taschner (2000) realça a presença de uma dimensão subjetiva na concepção
de lazer de Dumazedier. Pois é o indivíduo que, em última instância, decide o que
ele vive e o que ele não vive como lazer.

Se admitirmos a dimensão da subjetividade intrínseca ao conceito de lazer,


é possível compreender que não existe uma regra clara e rígida para determinar se
uma atividade faz parte do lazer do indivíduo, pois além da ação em si, depende
da condição em que ela é praticada. Cozinhar, por exemplo, pode ser uma prática
de lazer, quando quem se dedica à atividade o faz por apreço, para relaxar, buscar
informações de maneira despretensiosa sobre gastronomia e se entreter. A mãe
de família, contudo, que prepara o almoço para crianças diariamente, na pressa
de conciliar o horário da escola dos filhos com seu horário de trabalho, não está
desfrutando de um momento de lazer.

O mesmo raciocínio é válido para refletir se a prática religiosa se enquadra


como um momento de lazer ou não na rotina do indivíduo. A este respeito,
Andrade (2001) mostra que são os interesses imediatos, os gostos pessoais e as
finalidades funcionais que determinam se as preces e as meditações costumeiras se
constituem ou não, em trabalho sério, lazer devoto ou repouso descompromissado
com qualquer outro tipo de produtividade ou de revigoramento voltado ao
desenvolvimento da vida humana e cristã.

Outro conceito válido para discussão encontra-se em Rolin (1989) que


aborda a questão do lazer a partir de uma abordagem psicossocial, definindo-o
como um tempo livre, empregado pelo indivíduo na sua realização pessoal
como um fim em si mesmo, que permite recompor-se do cansaço, repousando;
do aborrecimento, divertindo-se; da especialização funcional, desenvolvendo
capacidades de seu corpo e espírito, diferente daquelas realizadas diariamente.

Sintetizando a compreensão do tema, Andrade (2001) diz que lazer é


um conjunto de atividades e circunstâncias isento de pressões e tensões. Faz-se
necessário ainda, distinguir os conceitos de lazer e hobby, que são tratados, algumas
vezes, de forma imprecisa. De acordo com o dicionário de Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (2009), hobby refere-se a um passatempo favorito; derivativo que

14
TÓPICO 2 | DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

serve para preencher o tempo em que se repousa de um trabalho habitual. Quer


dizer, o hobby pode ser uma forma de lazer, mas é preciso lembrar que a definição
de lazer situa-se em um arcabouço mais amplo, que inclui outras modalidades de
atividades.

É oportuno comentar ainda o conceito de lazer trabalhado por Marcelino


(1990) que o define como a cultura vivenciada no tempo disponível, tendo como
traço definidor o caráter desinteressado dessa vivência, ou seja, a recompensada
reside na satisfação provocada pela situação.

Para Edginton (2011), existem três abordagens clássicas para se definir


o lazer, que foram utilizadas ao longo do processo histórico. A primeira é que
ele representa o tempo livre, no qual não se tem que trabalhar para garantir a
subsistência. A segunda é que ele é a série de atividades em que um indivíduo
está envolvido. Futebol pode ser uma atividade de lazer para uma criança, mas
é um trabalho para jogadores profissionais, recordando que o elemento chave é a
circunstância em que a atividade se desenvolve. A terceira e mais recente definição
considera-o como um estado da mente – isso significa que ele pode ocorrer a
qualquer momento, em qualquer lugar. Além disso, temos que ter em mente que o
lazer é definido culturalmente. Não é apropriado que um americano defina o que
é lazer no Brasil, mesmo em um mundo tão globalizado.

Visando clarificar a compreensão do tema lazer, permitindo uma distinção


adequada entre trabalho, obrigações, repouso e diversão, Dumazedier (1999)
elenca quatro aspectos fundamentais do lazer, a saber:

a) Caráter liberatório: o lazer resulta de uma livre escolha e seria falso dizer
que lazer é sinônimo de liberdade, ausentando qualquer possibilidade de
obrigação que pudesse estar relacionado ao lazer. O lazer é a liberação de
certo gênero de obrigações, mas depende, como toda atividade, das relações
sociais e das obrigações interpessoais. Isto é, o lazer está sujeito às obrigações
decorrentes da formação de um grupo. Por exemplo, um grupo de amigos que
se reúne semanalmente para jogar pôquer, pode ter regras e obrigações, como
chegar no horário combinado, não faltar mais que duas vezes ao mês, ter de
avisar quando não puder comparecer etc. O aspecto liberatório do lazer está
relacionado à ausência de obrigações institucionais, imposta pelas instituições
profissionais, familiais, socioespirituais e sociopolíticas. Reciprocamente,
quando a atividade de lazer se torna uma obrigação, tal como sair para passear
com a família de forma imposta, ou quando o jogo de tênis semanal migra
para a categoria profissional, sob o ponto de vista sociológico, mesmo que
o conteúdo técnico da atividade não se altere, a atividade passa a ser uma
obrigação e deixa de ser lazer.

b) Caráter desinteressado: O lazer não está fundamentalmente submetido a fim


lucrativo algum tal como o trabalho profissional e tampouco, a fim utilitário
algum, como as obrigações domésticas (limpar a casa) e ainda, não possui
finalidade ideológica, como os deveres políticos, por exemplo. Ou seja, o lazer

15
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

não se coloca a serviço de nenhum fim material ou social, mesmo que tais
aspectos perpassem indiretamente pela atividade escolhida, como por exemplo,
entrar para o time de vôlei da empresa. Em primeiro lugar, pesa o desejo de se
divertir e praticar o esporte, melhorar o contato com os colegas de labuta, não
assume a razão de ser da atividade.

c) Caráter hedonístico: o lazer é marcado pela busca de um estado de satisfação,


tomado como um fim em si e essa busca é de natureza hedonística, trata-se da
procura do prazer, da felicidade ou da alegria. Certamente, não se pode reduzir
a felicidade ao lazer, pois ela pode acompanhar o exercício das obrigações sociais
de base. Em suma, a busca de um estado de satisfação é a condição primeira do
lazer, quando o indivíduo pode afirmar: ‘isso me interessa’.

d) Caráter pessoal: cada pessoa busca a sua maneira atender a suas próprias
necessidades de lazer. Ele oferece ao sujeito a possibilidade de libertar-se das
fadigas físicas ou nervosas que contrariam os ritmos biológicos das pessoas,
sendo uma fonte de recuperação. E ainda, permite a pessoa libertar-se do tédio
cotidiano que brota da realização de tarefas repetitivas, abrindo caminho de
uma livre superação de si mesmo e de uma liberação do potencial criador.

Conforme vimos, a necessidade de repouso e lazer é regulamentada pela


CLT no Brasil que estabelece a quantidade de dias e horas destinadas a essa
necessidade. Contudo, é fácil imaginar que não existe uma tabela e padrões pré-
determinados para assegurar que a pessoa esteja de fato descansada e relaxada.
A complexidade do ser humano torna os indivíduos diferentes entre si e,
portanto, é difícil estipular, por exemplo, a cota de duas horas diárias de lazer
para assegurar o bem-estar físico e mental do sujeito. Quer dizer, as pessoas
possuem necessidades distintas e, por conseguinte, buscam maneiras diferentes
de relaxar e se entreter. Nesta linha de considerações, Andrade (2001) pontua que
a ocupação apropriada do tempo para aliviar as tensões diárias que envolvem
as pessoas, embora se trate de uma necessidade objetiva em si mesma, assume
aspectos subjetivos em suas qualidades, pois as estruturas e circunstâncias nas
quais vive cada pessoa são diferentes.

Um exemplo claro do assunto, é que muitas pessoas associam o lazer ao


sossego, quietude, calmaria e um pouco de preguiça, isto é, relaxar e se manter sem
muitos planos. Para outros, o lazer está estreitamento relacionado ao movimento,
aos esportes, a viagens, passeios etc. Reflexão interessante sobre este aspecto do
lazer encontra-se no estudo de Featherstone (2000) que analisa porque algumas
pessoas buscam elementos de aventura e risco em seus momentos de lazer. O
autor comenta que quanto mais o mundo se torna racionalizado e os lugares,
antes inóspitos se transformam em jardins cultivados, mais riscos as pessoas
desejam correr. Por exemplo, se é permitido aos membros das classes mais baixas
embarcarem em trens panorâmicos até o topo das montanhas locais, então os que
buscam distinção precisam participar de passatempos mais excitantes e perigosos
para se sobressair.

16
TÓPICO 2 | DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

3 TIPOS DE LAZER
Do mesmo modo como ocorre com o turismo, é possível classificar o
lazer em categorias para facilitar o entendimento das diferentes alternativas
existentes. O tipo de categoria irá variar de acordo com o critério e a finalidade
que se propõem. Inicialmente, apresenta-se uma divisão pautada no conteúdo da
atividade realizada com base em Dumazedier (1999), acompanhe:

a) Físico: envolve as atividades nas quais se enfatiza o movimento ou o exercício


físico. Incluem-se as diversas modalidades esportivas, os passeios e a pesca.

b) Manual: diz respeito à capacidade de manipulação, seja na transformação de


objetos e materiais, ou na lida com a natureza, como a elaboração de artesanato,
habilidade com a jardinagem ou o cuidado com animais.

c) Intelectual: almeja o contato com o real, as informações objetivas e explicações


racionais, destacando-se o conhecimento vivido, experimentado, como exemplo,
cita-se a participação em cursos ou na leitura.

d) Artístico: envolve o conteúdo estético associado a imagens, sentimentos e


emoções. A dança, as artes plásticas, o teatro e o cinema são algumas dessas
manifestações.

e) Social: refere-se ao relacionamento, o convívio com outras pessoas. Pode-se


mencionar o encontro em bailes, bares e cafés como exemplos dessa categoria.

Como faz notar Andrade (2001), outra forma interessante de analisar o


fenômeno é a partir da variável tempo. Nesta perspectiva, inicialmente, pode-se
mencionar o lazer espontâneo, que é aquele que ocorre sem uma ação prevista
anteriormente. É uma consequência de uma ação que revele espontaneidade e
propicia uma surpresa. Normalmente, ocorre em conjunto com atos corriqueiros,
pelo surgimento de circunstâncias inesperadas e por questões subjetivas. Por conta
da espontaneidade, os diversos efeitos psicossomáticos da surpresa asseguram alta
qualificação e maior durabilidade do efeito do lazer. Um exemplo dessa categoria
seria um encontro ao acaso com um amigo antigo na hora do almoço seguida de
uma boa conversa.

No outro extremo, existe o lazer programado, que embora bastante


conhecido e praticado, sob o ponto de vista de recomposição de energias físicas e
psíquicas, não é tão eficiente. (ANDRADE, 2001). Uma expressão bem clara deste
tipo de lazer são as viagens turísticas. Outro exemplo que incita a reflexão são os
sítios, fazendas, casas de campos e praia, chamados de segunda residência, que
obrigam os proprietários e seus familiares a frequentarem assiduamente o lugar e
com o passar dos anos, por diversos fatores como o tempo de posse, a passagem
das crianças para a fase da adolescência e alterações diversas na família, causam
mais saturação do que lazer e repouso. Ou seja, não existe uma receita mágica
que garanta níveis superiores de repouso. (ANDRADE, 2001). Por isso, cabe ao

17
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

indivíduo se autoconhecer e buscar compreender um pouco do gosto de seus


familiares e amigos para que de fato, o lazer programado nas férias ou nos finais
de semana possa realmente revigorar os envolvidos.

Existe ainda o chamado lazer esporádico, que abarca as atividades que se


realizam conforme a disponibilidade de tempo, sem as características que exigem
duração e periodicidade determinada. A inexistência de obrigação de um período
específico para o lazer poupa os indivíduos do ônus do planejamento e lhes propiciam
boas possibilidades de descontrair-se. (ANDRADE, 2001).

Por fim, o autor elabora o conceito de lazer habitual, que se perfaz das
sensações percebidas no intervalo das atividades cotidianas, à consciência do dever
cumprido e simples expectativa de diversão. Trata-se de um estado psicológico
ausente de preocupações. Como exemplo, seria a sensação de chegar a casa ao final
do dia e repousar no sofá, sem preocupações, apenas relaxando e tendo em mente
a sensação de que o dever daquele dia foi cumprido.

Ainda quanto aos tipos de lazer, é possível dividir as práticas de lazer que
acontecem dentro e fora de casa. É inegável que por uma série de fatores como
financeiros, culturais, de transporte e até mesmo de acomodação, as pessoas
passam uma parte importante do tempo livre e do tempo de lazer em casa. De
maneira alguma, pode-se afirmar que o lazer dentro de casa é menos importante
que o lazer que implica saídas.

Ficar em casa ouvindo boa música, organizando uma coleção de moedas,


cuidando de uma horta, pintando um quadro, bordando, enfim, realizando
qualquer atividade que se tenha apreço, pode se constituir em uma excelente
alternativa de lazer. O problema reside em dedicar o tempo de lazer em ações
automatizadas e apáticas, que não contribuem para o bem-estar e desenvolvimento
pessoal. Passar o final de semana inteiro assistindo a qualquer coisa na televisão,
sem nenhum critério, recebendo tudo de forma passiva e apática, apenas para ‘
matar o tempo’, certamente está longe de ser uma boa alternativa de lazer. Um
ponto importante, é que a pessoa tenha consciência da atividade que pretende
realizar para desfrutar e se divertir com ela.

Na atualidade cresce o número de opções para o chamado lazer doméstico,


em decorrência de um conjunto de fatores, como por exemplo, a ampliação dos
equipamentos destinados ao lazer, como os televisores de tela plana, TV a cabo,
videogames, computadores pessoais, DVDs, Blu Ray’s, hidromassagens, saunas
domésticas, CDs Players entre muitos outros. Existe uma tendência de alguns
segmentos em transformar casas e apartamentos em locais aconchegantes,
confortáveis, íntimos e acolhedores para desfrutar os períodos de lazer. (TRIGO,
2002). Outro exemplo são os variados itens disponíveis para a área de gastronomia,
que em conjunto com alguns dotes culinários, transformam qualquer cozinha em
um ponto de confraternização com os amigos e familiares.

18
TÓPICO 2 | DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

Dentre as modalidade de lazer que ocorrem fora das residências, além do


turismo, pode-se mencionar as atividades físicas, as ‘baladas’, as idas aos cinemas,
passeios no shopping, participação em shows e espetáculos, participação em grupos
formais e associações (terceira idade, grupos de jovens, clubes esportivos etc.), ir
ao clube, entre outras.

4 LAZER E CULTURA DO CONSUMO


Conforme foi visto, o lazer é um produto da sociedade moderna que teve
como marco da construção do seu sentido atual, a industrialização capitalista, que
alterou, significativamente, o estilo de vida nos centros urbanos, principalmente,
pela ênfase na apropriação do consumo. Em decorrência disso, atualmente o
segmento de lazer constitui-se em um mercado em ascensão. (ZINGONI, 2002).

Com a ascensão do lazer, ocorre um largo crescimento do setor de


serviços, destinados a atender as demandas do mesmo, como por exemplo, os
empreendimentos turísticos. Todo esse processo de busca por formas de satisfazer
as necessidades e desejos de distração e autorrealização alavanca a consolidação
da chamada cultura do consumo.

Antes de adentrar na discussão sobre a cultura do consumo, parece


oportuno apresentar o conceito de cultura em si, embora não exista unanimidade
no círculo das ciências sociais sobre o assunto. Por ora, nos serve a importante
contribuição do antropólogo Roberto Da Matta (1981) que explica que a cultura,
analogicamente, pode ser entendida como um mapa, um receituário, um código
por meio do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e
modificam o mundo e a si mesmas. Refere-se a um conjunto de regras que nos diz
como o mundo pode e deve ser classificado.

A cultura do consumo, por sua vez, envolve o conjunto de imagens,


símbolos, valores e atitudes que se desenvolveram com a Modernidade, que
se tornaram associados ao consumo (real ou imaginário) de mercadorias e que
passaram a orientar pensamentos, sentimentos e comportamentos de segmentos
crescentes da população. (TASCHNER, 2000).

A relação entre cultura e consumo encontra-se imbricada na ideia de


que uma vida boa é aquela baseada no consumo, tanto de mercadorias como de
entretenimento, sugerindo que a felicidade e o bem-estar das pessoas estejam
subordinados ao consumo. É bastante evidente que o lazer, assim como as demais
esferas da vida, passa a ser vinculado ao mercado e ao consumo, e não somente
às atividades de lazer tornam-se mercadorias, como o próprio tempo destinado ao
lazer torna-se tempo para consumir mercadorias. (PADILHA, 2002).

E na atualidade, os indivíduos são influenciados pelas constantes mudanças,


típicas da sociedade pós-moderna, e passam a ter uma maior mobilidade na
caracterização de sua identidade, propiciando então, a produção de simulacros

19
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

da cultura e vivências imediatas, que resultam em produtos que são usados como
respaldo na constituição das mesmas – desde sua personalidade (interior) até sua
imagem (exterior) - e, rapidamente são substituídos, pois deixam de corresponder
às necessidades dos consumidores. (FÉLIX, 2003).

Nas palavras de Zingoni (2002), é suficientemente evidente que o


capitalismo encontrou uma forma de se fazer presente também no lazer das
pessoas, fazendo com que elas se transformem em potenciais consumidores de
mercadorias lúdico-culturais.

A cultura do consumo é um elemento nuclear na constituição da identidade


de uma pessoa. Segundo Featherstone apud Félix (2003), o corpo, as roupas, o
discurso, os entretenimentos de lazer, as preferências gastronômicas, a opção de
férias entre várias outras formas de consumo, são vistos como indicadores da
individualidade, dos gostos.

Mais do que um ato de consumo em si, trazem consigo um símbolo, uma


representação icônica daquilo que se é ou se pretende ser. Tais escolhas de consumo,
incluídas aí a vasta gama de segmento de lazer, representa uma “segunda voz”, pois
como sabemos o indivíduo não se apresenta apenas oralmente, mas também pelos
seus gestos e significados implícitos em seus hábitos de consumo. Por exemplo,
direta ou indiretamente, de modo consciente ou não, muitas vezes optamos por ir
a determinado restaurante, pois é um lugar “bacana, de gente bonita e descolada”,
pois gostaríamos de ser reconhecidos assim.

É notável que os padrões de consumo são peculiares a cada classe social.


Para Padilha (2002), o tempo livre possui dimensões que variam de acordo com o
nível de renda (capital financeiro) e o nível de cultura (capital cultural), permitindo
uma distinção social além da própria satisfação de necessidades.

Em se tratando da relação lazer e consumo, é possível ainda citar o conceito


de indústria cultural, que conforme Rocha (1995) engloba as produções simbólicas
da atualidade e que são veiculas pelos meios de comunicação de massa. Padilha
(2002) explica ainda que a cultura decorrente da indústria cultural é padronizada,
pautada em gosto médio de um público que não questiona aquilo que consome. Os
meios de comunicação procuram naturalizar as regras do jogo social, transmitindo
em seus conteúdos códigos comuns para toda sua audiência.

Especialmente no Brasil, este cenário é preocupante e apresenta cada vez


mais indícios de sua decadência. Programas de humor com personagens usando
trajes mínimos, com piadas e jargões exageradamente carregados de conotação
sexual, parecem cada vez mais ultrapassar a linha do bom senso e do bom gosto,
construindo um tipo de humor apelativo. Com relação aos comportamentos
sociais desejáveis, é nítida em muitos folhetins a inserção de determinados temas
que parecem estar na moda. Sempre polêmicos, a proposta é selecionar algum
assunto, como por exemplo, homossexualismo, prostituição, ou algo que o valha,

20
TÓPICO 2 | DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

e explorá-lo nas novelas para que depois de tanto ouvir falar do tema, tudo se
torne “normal”, “natural”. Não se pode negar que esse tipo de estratégia pode ter
como impacto positivo, a desconstrução de alguns preconceitos e incita debates
sobre o tema. O problema reside no fato, de que a proposta dos programas reside
em apresentar uma resposta pronta, um ponto de vista que deve ser incorporado
de forma alienada, sem que o indivíduo chegue por si só as suas impressões e
opiniões sobre determinado tema.

Ainda tratando da questão da indústria cultural, convém lembrar que a


publicidade é o ponto de sustentação do universo simbólico da comunicação de
massa, na medida em que é ela que financia e paga a conta daquilo que se recebe
quase gratuitamente. (PADILHA, 2002).

Sob a égide capitalista, é impossível desassociar o lazer ao consumo,


fenômeno que cresce paulatinamente nos últimos anos. Santos (2000) discorre sobre
o panorama da sociedade pós-industrial e comenta que os progressos tecnológicos
e científicos prometeram alívio no trabalho, mediante mais produção por pessoa
e por unidade de tempo, contribuindo também para o aumento do tempo livre,
visando a uma realização mais completa da existência pessoal através do acesso a
mais informação, comunicação e política.

Mas o próprio autor reconhece que tal promessa não passou de um sonho,
distanciado da realidade. Não há dúvidas que de fato ocorreu a revolução dos
transportes, a conquista da velocidade e a diminuição virtual da distância (embora
o custo de tais comodidades ainda mantenha afastada muitas pessoas). A ascensão
de diversas mídias e utilização indiscriminada de propagandas que por vezes
expressam conteúdo diverso do real contribuiu para a criação de estereótipos e
manipulação de massas, sendo que a imagem estereotipada ameaça a tomar o
lugar tão importante do gosto pela fantasia e pela descoberta. Tendo em vista
a perspectiva geográfica do trabalho de Santos (2000), ele acrescenta ainda que
o fenômeno da massificação das atividades de lazer sofre influência da própria
emergência das massas, resignificadas com a explosão urbana e metropolitana.
Quer dizer, a própria configuração de cidades com imensas zonas urbanas estimula
a homogeneização dos gostos e das opções de lazer.

Para Zingoni (2002), as metrópoles brasileiras demonstram em suas


diferentes formas de organização, uma hierarquização social embasada nos fatores
de localização e acessibilidade aos bens e serviços de lazer, que definirão os valores
de uso e de troca dos espaços de lazer nas cidades e neste limiar, regiões, bairros,
ruas e praças vão se hierarquizando pautadas em cargas valorativas de sentido.
Atributos arquitetônicos e estéticos dos equipamentos de lazer, outdoors, áreas
verdes no entorno e qualidade dos serviços prestados formam um conjunto de
signos que balizam o imaginário urbano.

Se pararmos para pensar sobre qual seria a principal característica da


sociedade atual, certamente, o consumismo seria uma delas. Há um grande

21
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

apelo para consumir e se antes, o consumo estava mais atrelado às necessidades


elementares, hoje, sabe-se que as explicações não são tão simples. E como seria de
imaginar, a prática do lazer também se altera nesse cenário. Um exemplo icônico
da busca de lazer e entretenimento massificado, típico dos centros urbanos, são os
passeios pelos Shopping Centers.

Observem na matéria apresentada na sequência, algumas explicações


apresentadas para o crescimento desta modalidade de empreendimento.

TEMPLOS DE CONSUMO E LAZER

Cinthia Scheffer

Na era do hiperconsumo, busca por segurança e conforto faz dos centros


comerciais as novas praças das cidades grandes.

Mais de 350 milhões de pessoas circulam por mês nas centenas de


shopping centers brasileiros. No mundo todo, pode se supor que, a cada 30 dias,
o equivalente a toda a população chinesa – algo em torno do 1,35 bilhão – vá a
algum desses “templos do consumo”. Mas, por quê? O que têm esses espaços
para atrair e seduzir tanta gente ao redor do planeta? Concluir que essas pessoas
vão até lá porque precisam comprar algo é tão óbvio quanto simplista. A
sociedade que criou o “fenômeno shopping center” tem prazer em consumir. Vê
nesses empreendimentos uma combinação de conforto, praticidade e segurança
que se perdeu no centro das grandes cidades.

“Não há chuva nem vento. As pessoas não cospem nem jogam tocos de
cigarro no chão. Não há moscas. Não há cachorros. A vida sob o teto de um
shopping é tranquila, segura e acolhedora”, diz o consultor Paco Underhill,
autor do livro A Magia dos Shoppings (Best Books) e considerado um dos maiores
especialistas do mundo em comportamento do consumidor.

Os primeiros centros comerciais foram criados nos Estados Unidos no


fim da década de 1950, período pós-guerra no qual as famílias de classe média
começavam a povoar os subúrbios das cidades norte-americanas. No berço da
sociedade de consumo, esses espaços reproduziam, mais perto das novas casas
e com ampla opção de estacionamento, a região central das cidades. Na década
de 70, eles já eram milhares e representavam metade do varejo norte-americano.

Com algumas adaptações, os malls – como são chamados na terra natal –


chegaram ao Brasil em 1966, quando foi inaugurado o Shopping Iguatemi, em
São Paulo. Hoje, a associação que representa os empreendimentos, a Abrasce,
tem 379 associados e a previsão de 20 novos ao longo deste ano. No Paraná,
são 28 – 13 só na capital.

22
TÓPICO 2 | DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

Praças

Uma das principais diferenças do modelo tupiniquim é a localização –


aqui, os shoppings se instalaram principalmente em regiões mais centrais. Mas,
nos dois casos, é comum a noção de que os shoppings passaram, em grande
medida, a substituir as praças das cidades como espaços públicos – embora
sejam privados.

“Praças cobertas” que, muito mais no Brasil do que em qualquer outra


parte do mundo, se consolidaram, sobretudo, pela oferta de segurança – natural,
em uma sociedade que sofre com o aumento da criminalidade.

A proteção, nesses casos, vai além de evitar furtos ou assaltos. Nessa


cidade recriada entre paredes, fica de fora o que não agrada nos grandes centros
– não se vê pobreza, gente sem teto e passando fome, por exemplo. “Mais do
que um ‘guardião’, no shopping center você tem a segurança no sentido de
andar sem ser incomodado ou abordado. E essa é uma característica dos nossos
tempos: as pessoas não querem contato, não querem ser incomodadas”, diz a
professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) Olga Firkowski, estudiosa do assunto.

Parte desse isolamento, diz Olga, é resultado de uma “barreira” natural.


“As pessoas mais pobres têm receio de entrar nesses empreendimentos. Eles
são intimidadores para elas porque, em geral, são bonitos, suntuosos e com
guardas de terno em todos os cantos.” É o que Underhill chama de “mecanismo
de autorregulagem capaz de manter a ordem na shoppinlândia”.

No lado oposto, para os olhos de quem frequenta, entrar nesse ambiente


isolado pode trazer a satisfação do “fazer parte” de um lugar destinado a
“poucos”. “Embora ninguém fale isso claramente quando questionado, do
ponto de vista da psicanálise, as pessoas vão até o shopping para se sentirem
selecionadas”, analisa a professora Valquíria Padilha, doutora em Ciências
Sociais e autora do livro Shopping Center: a Catedral das Mercadorias (Boitempo
Editorial). “Mas os shoppings são um fenômeno mundial. E o porquê disso não é
uma resposta simples de se dar. É um conjunto de fatores. É preciso pensar, por
exemplo, que eles são parte do universo da sociedade de consumo.”

Para a professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo Andréia


Schmidt, ir ao shopping é fazer parte de algo que a nossa cultura, ao longo dos
últimos anos, valoriza como prazer. “Consumir não está mais relacionado com
atender uma necessidade básica. É de fato entretenimento. Está cada vez mais
ligado à busca de prazer”, diz. “E o shopping é planejado totalmente para essa
busca. Ele não é só um ambiente protegido, com lugar para estacionar. É um
espaço para ver e ser visto.”

23
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Naturalmente, os centros comerciais não criaram o hiperconsumo. Mas,


de certa forma, são o símbolo de uma sociedade que tem prazer em comprar. Na
tese defendida pelo sociólogo francês Gilles Lipovetsky, autor de A Felicidade
Paradoxal (Companhia das Letras), na era do “hiperconsumismo”, ligar o
entretenimento ao consumo é algo que marca o cotidiano de toda a pirâmide
social e que mudou o relacionamento do indivíduo consigo e com os outros.

Lipovetsky defende o consumo como forma de terapia contra as


frustrações cotidianas. Algo que o pesquisador e professor da Faculdade de
Comunicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Ricardo
Ferreira Freitas, chama de “consumoterapia” – um jogo de palavras que brinca
com a ideia de que, consumindo, é possível ser mais feliz. “Todas as pessoas,
mesmo com pequeno poder aquisitivo, caem nessa armadilha: comprar para
compensar frustrações. Se isso puder ser feito em um lugar seguro (como o
shopping center), melhor ainda.”
FONTE: Jornal Gazeta do Povo. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/
conteudo.phtml?id=900017>. Acesso em: 8 dez. 2011.

A partir do exposto, relacionado à questão do consumo do lazer enquanto


modalidade de negócio é possível lançar dois olhares sobre esse mercado em
expansão. O primeiro concerne em admitir as inúmeras possibilidades de atuação
profissional que se vislumbram para os profissionais desse segmento, conforme
iremos estudar ao longo desse caderno. O segundo, diz respeito a aceitar, com
uma postura crítica, que o excesso de atividades e programas ofertados pode ser
sufocante e pouco prazeroso para o indivíduo e sua família. Se durante o final de
semana, ao invés de se atentar para o que se tem vontade e interesse de fazer, seja
ir ao cinema, passear no parque ou ficar ouvindo música, se cair na armadilha
de grandes maratonas de programas e agendas, tentando encaixar a balada, com
a apresentação teatral e o desfile no shopping, em meio a uma correria parecida
com a dos escritórios, então, não existirá um ambiente propício para o desfrute do
repouso e de um revigoramento físico e mental.

5 O BINÔMIO TURISMO E LAZER


A esta altura, você já deve ter compreendido adequadamente a concepção
de lazer. Vamos agora entender de que modo o fenômeno do lazer se relaciona
com a atividade turística.

Para tanto, vamos retomar algumas definições elementares sobre o turismo


apresentadas na disciplina Teoria Geral do Turismo. Vimos que o turismo, de acordo
com a Organização Mundial do Turismo (GEE, 2003), é o fenômeno que abrange as
atividades de pessoas que viajam para lugares afastados de seu ambiente usual, ou
que neles permaneçam por menos de um ano consecutivo, a lazer, a negócios ou

24
TÓPICO 2 | DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

por outros motivos. Para Montaner (2001) turismo é um fenômeno vinculado ao


tempo livre e a cultura do lazer. Trata-se de um fenômeno embasado em uma série
de disciplinas relacionadas com as ciências sociais e humanas.

Levando em conta o conceito de turismo, fica fácil entender de que forma


ele se relaciona com o lazer. O turismo pode ser uma alternativa na busca do lazer
pelas pessoas, uma forma de realizá-lo.

Convém destacar que tanto o turismo como o lazer, apresentam aspectos


subjetivos relacionados a sua motivação. Para melhorar o entendimento,
retomamos a noção básica de tipologias de turismo, como por exemplo, a prática
do turismo cultural, turismo ecológico entre outros. Entre todas essas modalidades,
é a motivação da viagem que determina o tipo de turismo em questão. Nunca é
demais reforçar que as pessoas possuem os mais variados gostos e interesses o que
pode permitir a emergência de novas modalidades de turismo, como é o caso do
turismo espacial.

Desta forma, fica nítido que o turismo não se reduz ao lazer, já que parte
significativa dos deslocamentos turísticos obedece a expectativas que vêm das
esferas de saúde, profissionais, familiares, entre outras, logo, as viagens ocorrem
por distintas motivações, ainda que estejam ligadas a valores e expectativas
nascidas do lazer. (CAMARGO, 2001).

No lazer, também são os elementos subjetivos que vão determinar se


uma dada ação ou atividade pode ser considerada parte integrante do lazer do
indivíduo. Acordar às 5 horas da manhã para ir pescar, pode ser muito estimulante
e divertido para quem tem apreço pela atividade, ou um verdadeiro martírio para
aqueles que não gostam de despertar tão cedo e participar de uma atividade junto
à natureza. As práticas de lazer, sendo estas turísticas ou não, algumas vezes só
fazem sentido para aqueles que realmente adoram um determinado passatempo,
enquanto outras atividades, como ir ao cinema, por exemplo, acabam atendendo a
um número maior de pessoas.

Outro ponto importante é que no turismo o aspecto do entretenimento e


dos atrativos constitui um aspecto fundamental para o turista, pois ao chegar à
destinação, o que se espera (na maioria das vezes) são opções de lazer e diversão,
evidenciando novamente a possibilidade de entrelaçamento dos dois fenômenos.

Trigo (2002) destaca que apesar de o lazer ser notável em nosso país,
ainda existem consideráveis lacunas na elaboração da problemática envolvendo o
setor. Pormenorizando as debilidades existentes, verifica-se que o setor de lazer é
relativamente recente no Brasil, de tal forma que as pessoas não têm consciência do
que o setor supracitado pode representar em termos econômicos ou profissionais.
Além disso, pesa o fato de não existirem programas e controles abrangentes de
qualidade em lazer e ainda, a constatação de que alguns setores privados não

25
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

conhecem profundamente o lazer e o turismo e por este motivo, não investem de


maneira adequada em equipamentos, projetos e qualificação profissional. O autor
acrescenta que vários setores da sociedade civil ainda não se sensibilizaram que o
lazer é tão indispensável como a saúde e habitação, por exemplo.

A partir da década de 1990, ficam gradualmente mais evidentes as


preocupações e iniciativas destinadas à organização de uma “indústria de lazer e
entretenimento”, replicando a tendência de outros países. Notadamente observou-
se o crescimento das preocupações com o turismo, a consolidação do esporte como
um importante produto de negócios, além do fortalecimento do mercado cultural
e do crescimento dos parques temáticos. (ALVES JUNIOR; MELO, 2003).

26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu que:

• O termo lazer surgiu na antiga civilização greco-romana e deriva do latim licere,


que significa ‘ser permitido’.

• O lazer é um fenômeno moderno, resultante das tensões entre trabalho e capital,


que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, culturais e de
relações sociais.

• O lazer diz respeito às atividades que permitem ao indivíduo entregar-se de


livre vontade, seja para repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se, ou ainda
aprender sobre determinado assunto sem que se estabeleça um compromisso,
após desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

• O lazer é um produto da sociedade moderna que teve como marco da construção


do seu sentido atual, a industrialização capitalista.

• Cultura refere-se a um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e
deve ser classificado.

• A cultura do consumo envolve o conjunto de imagens, símbolos, valores e


atitudes que se desenvolveram com a Modernidade, que se tornaram associados
ao consumo de mercadorias e que passaram a orientar pensamentos, sentimentos
e comportamentos.

• O turismo pode ser uma alternativa na busca do lazer pelas pessoas, uma forma de
realizá-lo.

• No turismo, o aspecto do entretenimento e dos atrativos constitui um aspecto


fundamental para o turista.

• Tanto o turismo como o lazer estão relacionados pela subjetividade da motivação.

27
AUTOATIVIDADE

Olá acadêmico! Responda às questões a seguir, revendo pontos


relevantes tratados nesse tópico.

1 Lazer e tempo fora do trabalho podem ser considerados sinônimos?

2 Explique com suas palavras o que é lazer.

3 Qual a diferença entre hobby e lazer?

4 A partir de uma perspectiva antropológica, o que é cultura?

5 O que significa a expressão ‘ cultura de consumo’ ?

Assista ao vídeo de
resolução da questão 1

28
UNIDADE 1
TÓPICO 3

A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

1 INTRODUÇÃO
Qual a importância do lazer na atualidade? Seria sua contribuição para
o bem-estar das pessoas? Um modo de recarregar as baterias para o trabalho e
estudo? Ou seria importante por sua capacidade de movimentar o mercado
enquanto modalidade de negócio? Nesse tópico, vamos nos aproximar dos temas
citados a fim de compreender qual a contribuição deste importante fenômeno em
nossa sociedade.

2 QUAL A IMPORTÂNCIA DO LAZER PARA AS SOCIEDADES?


A finalidade do lazer é conseguir a desaceleração das atenções pessoais,
sejam estas de natureza profissional ou não, distanciando-se das atividades
rotineiras. Como consequência, ocorre um relaxamento psicológico e físico que
contribui para o bem-estar social. (ANDRADE, 2001).

Os indivíduos buscam nas atividades de lazer alternativas para relaxar, se


divertir e recarregar as sua energias. Conforme estamos aprendendo, cada pessoa
possui singularidades e em decorrência disso, o modo como cada uma encontra
no lazer a possiblidade de saciar suas necessidades físicas e psíquicas, também
muda. Para Camargo (1999), de modo geral, as pessoas buscam quatro grandes
motivações no lazer: a aventura, a competição, a vertigem e a fantasia. Vejamos na
sequência cada uma delas com mais detalhes de acordo com Carvalho (1999):

a) Aventura: está relacionada às descobertas, à busca por novidades que podem


ser alcançadas pelo lazer. Uma demonstração clara dessa sensação está na
experiência de viajar, conhecer novas cidades, pratos diferentes, culturas
diferentes – ou seja, desfrutar de várias pequenas aventuras. A experiência
lúdica da aventura tem por base a curiosidade.

b) Competição: de início, convém esclarecer que competição não significa


necessariamente disputa com outro, pode ser uma questão de superação pessoal,
quer dizer, um confronto consigo mesmo. Tal situação, no âmbito do lazer, pode
ser exemplificada pelo pescador que pretende fisgar um peixe maior que o da
temporada passada, e para algumas pessoas, esse pode ser o grande barato

29
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

do lazer. Sem contar inúmeras outras atividades que oferecem um nível de


competição, como as corridas de carte, torneio de golfe entre outros. Atividades
relacionadas à competição demandam autocontrole e disciplina.

FIGURA 3 – LAZER E COMPETIÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_vmZqY5IlSI0/TT-XSUKX1CI/


AAAAAAAABKA /rj6fDqq6lo8/s1600/bahia-turismo-golfe-2.jpg>. Acesso em: 28
dez. 2011.

c) Vertigem: existem várias formas de vertigem que podem ser vivenciadas pelo
lazer, seja a de uma montanha-russa, em assistir a um filme 3D no cinema,
alguma atividade radical como o rafting entre tantas outras. Esse tipo de
sensação permite explorar a capacidade de se deixar levar, de perder o controle
e de correr riscos com segurança, calculados.

d) Fantasia: a quarta categoria de motivação para o lúdico e para o lazer, refere-se


ao desejo de ser diferente, de ser outro, de estar em lugares diversos. Novamente,
há uma estreita relação entre lazer e turismo, pois a viagem permite entrar na
fantasia e algumas pessoas pretendem parecer mais descoladas, mais ricas,
mais jovens, mais divertidas – diferentes dos traços do cotidiano. Existem ainda
inúmeras possibilidades para explorar a fantasia no bojo do lazer, como através
das artes (literatura, música, artes plásticas, teatro, cinema etc.).

3 LAZER E QUALIDADE DE VIDA


Para iniciar o debate entre lazer e qualidade de vida, precisamos
analisar o que é qualidade de vida de fato. Esta é uma das expressões bastante
utilizada no nosso dia a dia. Por exemplo, quando se pretende avaliar o nível de
desenvolvimento humano de uma cidade ou país, fala-se em qualidade de vida.

30
TÓPICO 3 | A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Em se tratando do ambiente de trabalho e o modo pelo qual a carreira de cada um


deve ser estruturada, muitos primam novamente pela tal qualidade. Ou ainda,
existem aqueles que procuram a academia sem a pretensão de ver os músculos
super definidos ou o corpo “marombado”, “sarado”, dizem então para o instrutor
que desejam apenas se sentir bem, ter qualidade de vida. A expressão também é
usual entre os médicos, quando estes almejam conhecer melhor os hábitos de vida
do paciente, para afinal, desvendar se existe ou não a tão aclamada qualidade.

Embora muito utilizado, em sua utilização coloquial, o conceito parece um


pouco impreciso, não apresenta um recorte bem definido. A qualidade de vida está
relacionada a um indicador para verificar as condições de vida humana, e dada à
complexidade do ser humano, trata-se de um conceito que perpassa por aspectos,
físicos, mentais e psicológicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(WHOQOL, 1995, p. 1.405), “qualidade de vida é a percepção do indivíduo sobre a
sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele
vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

Corroborando com o conceito da Organização Mundial de Saúde,


(Bonalume, 2002, p. 193) comenta:

Quando falamos em qualidade de vida, duas perguntas devem nos fazer


refletir para tentar compreender a complexidade do tema: o que é e para
quem e, se pensamos qualidade de vida como forma de prolongar a
vida, precisamos considerar, também, os aspectos de por quê e para
quê, uma vez que não basta conseguir viver mais: é preciso viver bem.
Longevidade com qualidade de vida depende do acesso à informação, à
instrução, ao lazer, à saúde, à moradia, enfim, a todos os direitos sociais.

Fica evidente que o conceito de qualidade de vida depende do contexto


social e cultural em que se encontra. Preocupado em elaborar um indicador
para avaliar padrões de qualidade de vida, a Organização Mundial da Saúde
utiliza um questionário no qual os pontos considerados relevantes são checados
junto aos entrevistados.

Entre os pontos indagados no questionário são levados em conta aspectos


relacionados ao bem-estar físico (ausência de dores e desconfortos físicos), à
disposição, ao cansaço, à qualidade do sono, ao modo como a vida é desfrutada
e à capacidade de concentração. Além disso, as perguntas realizadas investigam
o modo de enxergar a vida e o futuro, a confiança própria, a autoestima, o nível
de estresse, a depressão, a utilização constante de medicamentos, a segurança, o
conforto do lar e as dificuldades financeiras. Para avaliar a qualidade de vida, é
checado se a pessoa tem amigos, se aceita sua aparência física, se possui tempo
e condições para o lazer, se é capaz de relaxar, se possui alguma crença pessoal,
se tem acesso a novas informações entre outras variáveis. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2011).

31
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Embora o conceito de qualidade de vida apresente alguns elementos de


subjetividade, após detalhar alguns aspectos, você pode compreender que tipo de
variáveis e aspectos da vida são levados em conta para mensurar a qualidade de
vida de uma pessoa.

Pensando nas relações decorrentes entre lazer e qualidade de vida,


Etges (2002) explica que na medida em que a qualidade de vida de determina
população melhora, aumenta a demanda por opções de lazer que passa a ser
visto não apenas como uma oportunidade de descanso e divertimento e passa a
ser incorporada como parte da cultura.

Fato reconhecido, é que a qualidade de vida e o lazer como uma


possibilidade de concretização dessa condição vivenciada não estão acessíveis
para todas as pessoas. Durante algum tempo, se defendia que a ascensão da
tecnologia permitiria uma redução da jornada de trabalho. Sem perder de vista
o papel importantíssimo que a tecnologia cumpre seja mediante maquinários
sofisticados nas indústrias ou o crescente número de softwares cada vez mais
eficientes (apenas para citar dois exemplos) não é possível encarar a realidade
mediante uma simplificação generalista. Para Zingoni (2002), se inicialmente
era possível presumir que a tecnologia permitiria economizar o tempo para o
lazer, melhorando o bem-estar comum, na prática, muitas vezes o tempo livre
do trabalhador está voltado para a procura de mais emprego, mais trabalho e
mais dinheiro. Ou seja, nesse caso, a tecnologia disponibiliza tempo para mais
trabalho e não para mais lazer.

É importante ressaltar que a tecnologia pode se apresentar como uma


alternativa a determinadas pessoas conseguirem usar o seu tempo livre para o
lazer. É o caso de empresários que atualmente podem se afastar de suas empresas,
mas continuar gerenciando a mesma (de longe, online) e aproveitar em intervalos
de tempo livre para praticar o lazer.

Embora se reconheça a importância do lazer para assegurar a qualidade


de vida do indivíduo, é equivocado pensar que aqueles não costumam realizar
atividades para o seu recreio, não o fazem porque não querem. A prática do lazer
requer esforços e supõe responsabilidades de opções nem sempre simples, porque
mesmo o repouso e os relaxamentos podem tornar-se frustrantes para as pessoas.
Fato decorrente de uma genérica falta de conhecimento pessoal a respeito das
próprias necessidades e capacidades de repousar e divertir-se. Isto é, o lazer não é
simples ato automático, porque mexe com a consciência individual e os sentimentos
para que cumpram sua razão de ser, supõe objetividade e subjetividade, no
planejamento e no dinamismo. (ANDRADE, 2001).

A qualidade de vida também estabelece interface com a questão


do trabalho. Estudos na área da neurociência comprovam a necessidade de
repouso e lazer para que se tenha condições adequadas de executar as tarefas
do trabalho. Observe no trecho da entrevista a seguir, as ponderações da
neorocientista Suzana Herculano-Houzel:

32
TÓPICO 3 | A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Seu cérebro no trabalho

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel explica como o cérebro


funciona diante de situações do dia a dia. Controlar as emoções pode melhorar
sua motivação e seu desempenho.

Elisa Tozzi e Murilo Ohl

Complexo e repleto de ligações, o cérebro reage de maneiras diferentes a


cada situação enfrentada no dia a dia do trabalho. A cobrança por um resultado
rápido desencadeia uma poderosa onda de estresse. E aquele projeto complicado
faz com que a ansiedade mande constantes mensagens de alerta. Na entrevista
a seguir, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, de 37 anos, diretora do
Laboratório de Neuroanatomia Comparada da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e autora de cinco livros, entre os quais Pílulas de Neurociência para uma
Vida Melhor (Editora Sextante), explica como essas emoções podem ser benéficas
ou perigosíssimas para o desempenho e para a motivação profissional.

O que ocorre com o corpo, do ponto de vista da neurociência, quando um


profissional passa por situações estressantes no trabalho?

O estresse nada mais é do que uma força que provoca transformações


mentais e físicas no corpo. O coração dispara, a pressão arterial aumenta e o
cérebro reage para que possa enfrentar novos problemas. A princípio, o estresse
é bom, porque faz com que os níveis de atenção cresçam. Isso só acontece quando
o profissional sente que tem controle sobre a situação e que é capaz de encontrar
soluções para o problema. O estresse se torna perigoso no momento em que a
pessoa acha que não consegue dar conta do trabalho e entra num estado de
paralisia. A situação fica drástica quando alguém precisa fazer grandes esforços
para tentar driblar um desafio e não chega a lugar nenhum.

O que fazer para ter mais qualidade de vida?

Três fatores são importantes: lazer, sono e exercício. O primeiro passo é


parar de pensar nos problemas assim que o expediente terminar. Um profissional
não consegue relaxar se for para casa e ficar remoendo as obrigações do dia
seguinte. Desligar-se é vital. O lazer ajuda nessa tarefa, pois faz com que o
cérebro se ocupe com atividades prazerosas e se sinta satisfeito e recompensado.

Como o sono e a atividade física ajudam?

O sono faz com que o cérebro registre as atividades desenvolvidas durante o


dia e crie estratégias para resolver novos problemas. Uma boa noite de sono ajuda
a regenerar os neurônios do hipocampo, parte do cérebro que cuida da memória
recente. Essas novas células ampliam a capacidade de aprendizagem e auxiliam

33
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

na administração do estresse. Os exercícios também mantêm o hipotálamo em


bom funcionamento. Mas tem que ser alguma atividade física que dê prazer.
Caso contrário, o cérebro vai encontrar mais um motivo para se estressar.

Uma das queixas mais comuns entre os profissionais é a dificuldade de


planejar tarefas. É possível treinar o cérebro para ter uma organização mental?

Sim. Nós temos uma agenda interna no hipocampo que funciona como uma
lista de tarefas, armazenando as informações mais novas do dia. Para funcionar
bem, o cérebro precisa priorizar essas atividades e diminuir a complexidade dos
problemas. Esse é o segredo do bom planejamento mental. A satisfação aparece
quando nós resolvemos aquilo que nos deixa angustiados. Por isso é importante
dividir os grandes problemas em pequenos desafios, que podem ser resolvidos
com mais facilidade, e traçar uma estratégia simples para solucioná-los.
FONTE: Revista Você S/A. Disponível em: <http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/
materia/seu-cerebro-trabalho-612822.shtml#>. Acesso em: 18 dez. 2011.

4 O LAZER ENQUANTO MODALIDADE DE NEGÓCIO


De acordo com o que estudamos no tópico anterior, aprendemos que a
questão do lazer e do consumo estão intimamente relacionadas e que, portanto,
o lazer se reveste de significação econômica. Nesse sentido, tal como ocorre no
turismo, passa a existir um mercado para o lazer, no qual de um lado ofertantes
oferecem seus serviços a um dado preço em um dado local e de outro, os
interessados, que demandam por lazer podem consumir bens de lazer mediante
um pagamento. Vale lembrar, que no contexto da economia, a modalidade de
serviços possui características próprias. Assim, para estudarmos o lazer enquanto
modalidade de negócio, consideramos as especificidades desse tipo de serviço,
conforme se apresentam na sequência baseado em Beckers (2000):

a) As vendas, a produção e o consumo dos serviços acontecem quase


simultaneamente.

b) Um serviço não pode ser produzido, inspecionado e estocado – geralmente


é prestado onde está o consumidor, por pessoas que não estão sob o controle
imediato da administração.

c) Um serviço não pode ser demonstrado e tampouco é possível enviar uma


amostra grátis ao cliente para que ele prove esse serviço antes de adquiri-lo.

d) Um cliente, ao receber o serviço, geralmente não tem nada de tangível até que o
serviço tenha sido prestado.

e) A prestação de um serviço geralmente requer certo grau de contato humano.

34
TÓPICO 3 | A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

f) Diferentemente de um mau produto, um mau serviço não pode ser substituído.

g) Há limites para a padronização de um serviço: quanto mais autêntico,


personalizado, espontâneo e adequado ao cliente o serviço for, mais valor ele
terá para o ciente.

De forma semelhante, as características do serviço turístico, o lazer


enquanto modalidade de negócio também apresenta atributos que o diferenciam
claramente da modalidade de produtos.

Andrade (2001) sustenta que os desejos e as necessidades de lazer, unidos


à capacidade econômico-financeira, determinam e direcionam a escolha dos
muitos tipos de repouso. Tais desejos e necessidades são fundamentais para a
determinação e o alcance do número de pessoas que poderão efetivar aquilo que
pretendem, obedecendo sempre a lógica da oferta e da procura.

Ainda que a escolha por determinados tipos de lazer dependa do poder


aquisitivo da pessoa, existe uma série de outros componentes que interferem na
escolha de consumo, muito além dos financeiros. Andrade (2001, p. 137) elenca
quinze motivos que levam as pessoas a consumirem determinado tipo de lazer,
acompanhe na sequência:

1. A liberdade.
2. A paz de espírito.
3. A companhia agradável.
4. A ausência de problemas.
5. A solitude.
6. A convivência comunitária.
7. A conveniência econômica.
8. A conveniência financeira.
9. As situações novas.
10. As expectativas de conforto.
11. O poder aquisitivo.
12. O desejo de rupturas.
13. O desejo de aparecer.
14. O amor.
15. A paixão.

Você pode observar que vários fatores interferem no momento de tomada


de decisão sobre o consumo de serviços de lazer.

5 EMPREENDIMENTOS DE LAZER
Na sequência, apresentam-se algumas modalidades de empreendimentos
em lazer para ilustrar quão amplo é o segmento.

35
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Bares e restaurantes

Sob o ponto de vista teórico, os estabelecimentos de alimentação podem ser


considerados um equipamento de lazer em si, pois, como se sabe, se alimentar constitui-
se de uma necessidade fisiológica básica e comer não significa necessariamente se
divertir. Contudo, na prática, é sabido que muitas pessoas incluem a ida a bares e
restaurantes como uma alternativa de lazer, pois além de simplesmente buscarem
o alimento, as pessoas procuram nesses espaços realizar encontros sociais, serem
vistas, ouvir música, apreciar a decoração, enfim, se divertir. Nesse sentido, cresce
o número de restaurantes especializados revestidos de uma esfera de descontração,
alegria ou sofisticação, dependendo do seu público alvo.

Vale a pena lembrar, conforme foi estudado na disciplina de Teoria Geral do


Turismo, que existem vários tipos de restaurantes, vamos revisá-los rapidamente
de acordo com Vasconcelos (2006):

a) Restaurantes étnicos: resultaram das grandes migrações do século XIX e XX,


como explica o autor, indianos que migraram para Inglaterra, assim como
espanhóis, portugueses e italianos que migraram para a América e para a
Austrália, criaram restaurantes que ofereciam comidas típicas. Na atualidade,
envolve tanto estabelecimentos de luxo, e, portanto caros, e como outros menos
sofisticados e de baixo custo. Estão incluídos nesse grupo os restaurantes
regionais (mineiro e baiano, por exemplo) e os restaurantes turísticos.

b) Restaurantes self-service ou autosserviço: referem-se àqueles estabelecimentos


nos quais o próprio cliente se serve, sem contar com o apoio de um funcionário,
dispondo de buffet quente e frio. Pode ter um preço pré-determinado (fixo)
por refeição e a pessoa pode se servir à vontade, ou pode pagar por quilo,
dependendo da quantidade consumida.

c) Restaurantes temáticos: são conhecidos por fazerem parte de roteiros


gastronômicos de todo o mundo. Caracterizam-se por recuperar e criar o
cenário local, ofertando aos clientes, produtos alimentares especializados.
Não só a comida é especializada, mas também todo o espaço é decorado e
apresenta atrações características de cada localidade, em alguns casos dispõem,
por exemplo, de garçons vestidos a caráter, para lembrar a construção da
regionalidade.

d) Restaurantes fast food: não é um restaurante onde se come depressa, mas, sim,
aquele onde a comida é preparada rapidamente. Apresenta como característica,
um cardápio reduzido. Podem oferecer em alguns casos, serviços adicionais,
como brinquedos para crianças; computadores com acesso à internet; locais
para leitura; principais jornais e revistas e até mesmo telefones.

36
TÓPICO 3 | A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Geralmente, os restaurantes que mais se aproximam do lazer são aqueles


que possuem atributos para além da comida em si. Existem estabelecimentos, por
exemplo, que funcionam até determinado horário e à medida que a noite avança,
transformam-se em baladas, com espaço para a dança, diminuição na iluminação
e aumento no volume da música.

Andrade (2001) explica que quando as pessoas saem de casa para ir a


um restaurante com a finalidade exclusiva de facilitarem o relacionamento ou
mudar de ambiente para se descontraírem, pode haver uma modalidade de
lazer. Contudo, quando elas saem de casa simplesmente porque a refeição estará
pronta ou porque querem evitar ir à casa de alguém do círculo de familiares e
colegas porque não se sentem bem recebidos, as conotações de um encontro em
local neutro podem ensejar efeitos desagradáveis.

Bibliotecas

Os conjuntos sistematizados de acervos arquivos-documentais são


fundamentais para o conhecimento e compreensão da história e tradição de
determinada sociedade. As bibliotecas podem ser públicas, particulares ou
comunitárias e servem tanto para pesquisas de trabalho e estudo como também se
constituem uma alternativa de entretenimento e lazer. (ANDRADE, 2001).

Cassinos

Os cassinos são estabelecimentos nos quais as pessoas se reúnem para


jogar. É um tipo de estabelecimento que incita polêmicas, pois a maioria dos jogos
que se realiza é de azar e precisam de uma regulamentação jurídica para poder
funcionar, dependendo do país ou estado em que esteja situado. Nesses espaços, a
jogatina acontece através do uso de dinheiro e apostas.

No Brasil, os cassinos são proibidos por lei. Entretanto, é inegável que


muitas pessoas apreciam esse tipo de passatempo e que por tal motivo, existem
destinos turísticos especializados em cassinos e hotéis cassino. Las Vegas é uma
figura icônica no segmento de cassinos.

Cartódromo ou kartodromo

Cartódromos são estabelecimentos dotados de pistas para treinos e


corridas de kart. Inspirado nas competições de automobilismo, as corridas de
kart vem se tornando uma forma de lazer bastante requisitada, principalmente
para o público masculino. Normalmente, é possível participar da corrida a partir
dos doze anos e são organizadas baterias de corrida entre um grupo de amigos.
Em tais espaços, existe uma infraestrutura de apoio com vestiários e lanchonetes,
para tornar a atividade mais confortável e atraente. É uma modalidade de lazer
com uma boa dose de competição.

37
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

FIGURA 4 – KARTÓDROMO DE INTERLAGOS - SP

FONTE: Disponível em: <http://www.premiuminterlagos.com.br/index.php>. Acesso


em: 11 jan. 2012.

Cinemas

Segundo Rosenfeld e Fernandes (2002, p.13), “cinemas são imagens


fotográficas em movimento, projetadas em uma tela a uma determinada
velocidade”. Trata-se de uma forma de arte que além das imagens, utiliza som e
outros instrumentos para nos contar uma história. Sua principal característica é
mostrar visualmente todo o contexto dramático da história para quem assiste a ele.

O hábito de ir ao cinema é uma das modalidades de lazer mais conhecidas


e comuns em nosso contexto cultural. Muitas pessoas se queixam dos preços dos
ingressos por considerá-los bastante elevados e existem políticas que buscam
tornar essa forma de arte mais acessível, praticando preços mais acessíveis para
estudantes e pessoas da terceira idade.

Ao comentar sobre o desenvolvimento do cinema, Rosenfeld e


Fernandes (2002) explicam que o mesmo se deve inicialmente aos estudiosos
que formularam as primeiras teorias sobre ótica; aos artistas, incluindo aí
roteiristas, diretores, equipe e atores; e aos empreendedores responsáveis por
planejar, distribuir e exibir os filmes. O cinema carece do aval do público,
pois é dele que provêm os fundos necessários para que as empresas de cinema
possam dar continuidade ao seu trabalho. Por isso, o que se espera ao lançar
um filme é que ele seja um sucesso de bilheteria.

Nos últimos anos, a arte do cinema vem se especializando e cresce o número


de salas que exibem filmes em três dimensões, salas amplas com telas gigantescas e
ainda, o chamado cinema vip, que dispõe de salas de luxo, com poltronas amplas e
reclináveis além de diferencias como espumantes e garçons para tornar o ambiente
mais sofisticado.

38
TÓPICO 3 | A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Circo

O circo é um equipamento de lazer muito antigo. Combinando atrações


engraçadas, como os palhaços; atrações de risco, trapézios, atiradores de facas,
animais ferozes; com números de música e dança, atraíram crianças e adultos ao
longo do tempo. De acordo com o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2009), trata-se
de um recinto formado por uma armação desmontável, coberta de lona, de forma
circular, para espetáculos acrobáticos, cômicos, equestres etc. Normalmente, trata-
se de uma companhia itinerante que congrega um grande número de artistas.

No Brasil e em vários lugares do mundo, os circos já foram alvo de inúmeras


críticas, por não oferecerem condições de vida digna para os seus funcionários,
além de cometerem uma série de maus tratos com os animais, como a ingestão de
alimentos estragados e violência no processo de treinamento e adestramento. Por
tais motivos, muitas pessoas deixaram de gostar das atrações circenses. Atualmente,
existem leis e fiscalizações que são realizadas para assegurar que as atividades do
circo ocorram em um espaço saudável e agradável para todos os seus integrantes.

Algumas companhias circenses adquiriram fama e renome internacional, como


é o caso do canadense Circo de Soleil (Cirque Du Soleil). Trata-se de uma companhia em
todo o mundo pelo entretenimento artístico de alta qualidade. Desde a sua fundação
em 1984, Cirque du Soleil procurou sempre evocar a imaginação, invocar os sentidos e
provocar emoções em pessoas de todo o mundo. Em 1984, 73 pessoas trabalhavam para
o Cirque du Soleil. Atualmente, a empresa tem 5000 funcionários em todo o mundo,
incluindo mais de 1300 artistas e mais de 100 milhões de espectadores assistiram a um
espetáculo do Cirque du Soleil desde 1984. (CIRQUE DU SOLEIL, 2012).

FIGURA 5 – CIRQUE DU SOLEIL, 2012

FONTE: Disponível em: <http://www.cirquedusoleil.com/pt/home.aspx#/


pthome/about/details/cirque-du-soleil-at-a-glance.aspx>. Acesso em: 10
jan.2012.

39
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Dica: Se você quiser conhecer melhor a história do circo ao longo do tempo


e aproveitar para se divertir, assista ao filme Água para Elefantes.

Clubes

Existem diversos tipos de clubes. Trata-se de uma palavra abrangente.


Ela poderia remeter à ideia de clube de futebol ou clube do livro. Nesse item, a
intenção é comentar a respeito dos clubes que possuem sede física e administrativa,
normalmente equipado com piscinas, saunas, quadras esportivas, churrasqueiras,
pistas de caminhada e parquinhos infantis.

Quase todas as cidades possuem clubes e muitas congregam uma porção


deles. Trata-se de um equipamento muito utilizado para o lazer, pois permite a
prática de lazer, o convívio social além da realização de festas e eventos, como
casamentos e bailes. Cada clube possui suas regras próprias para regulamentar o
número de sócios e as regras de utilização de suas dependências.

Danceterias e casas noturnas

Esse é um tipo de equipamento de lazer amplamente conhecido, sobretudo,


entre os jovens. Conforme o nome sugere, refere-se a um empreendimento
destinado ao encontro de pessoas com a finalidade de dançar, beber, serem
vistas e se divertirem. Em tempos da explosão das redes sociais, assumem ainda
a finalidade de ser o cenário de várias fotos e poses, para que no dia seguinte,
conhecidos ou desconhecidos possam acompanhar e comentar o destino da
noite anterior. O consumo dessa modalidade de lazer faz sentido por si só e pelo
reconhecimento pelos pares, quer dizer, para muitos jovens é relevante que seus
colegas fiquem sabendo e achem ‘legal’ a balada escolhida no último final de
semana. Trata-se de um mercado que reúne diferentes tipos de empreendimentos,
alguns sofisticados, outros despojados, focados em música eletrônica, sertanejo
universitário, pagode, rock ou em um estilo mais lounge entre outros. Em suma,
existem opções para todos os gostos.

Um fato curioso é que ao longo dos anos, os horários das baladas vem se
alterando, com as festas começando cada vez mais tarde. Em algumas cidades, é
comum antes de ir para as discotecas ou casas noturnas fazer o chamado ‘esquenta’,
reunião de amigos para tomar alguns drinks para então seguir para a festa em si,
depois da meia noite.

Hotéis de lazer

Hotéis de lazer são os meios de hospedagem que conforme o próprio


nome sugere, dispõe de uma infraestrutura de lazer para os seus hóspedes.
Nesses estabelecimentos, é comum a presença de piscinas, saunas, quadras
esportivas, restaurantes temáticos, sala de jogos, salas de massagem, ofurôs,
parquinhos para as crianças, pistas para caminhada, redes e poltronas ao ar
livre, lagos para pesca entre outros.

40
TÓPICO 3 | A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Além dos referidos equipamentos, existem profissionais especializados em


oferecer uma programação de lazer, como recreadores e animadores e agenda de
lazer e programada de acordo com cada faixa etária. Os resorts são uma expressão
icônica desse tipo de empreendimento.

Museus

Pires (2001) discorre sobre a questão da visitação dos museus brasileiros


e sustenta que pouco importa se um museu possui um acervo de conteúdo geral
ou específico. Para o autor, o mais relevante é buscar entender se esse acervo
tem sua visitação maximizada em função de seus atrativos e de suas condições
técnicas. Faz-se necessário enfatizar o que o lugar tem a oferecer e de que forma
tais conteúdos são apresentados ao público.

Museus em sua concepção tradicional, local de silêncio absoluto com


dezenas de relíquias expostas, parecem perder seu poder de encantamento. Muito
se discute, e em vários países e em alguns casos brasileiros, ocorre uma verdadeira
remodelação dos museus, planejados para oferecer visitações mais interativas.

Pires (2001) comenta que alguns museus tentaram se atualizar com o


intuito de apresentar temáticas mais em conformidade com a nova historiografia,
centrando-se, contudo, apenas no intelecto, na razão crítica. Painéis fotográficos
com extensas legendas podem ser interessantes para algumas pessoas, mas
dificilmente prenderão a atenção de adolescentes, por exemplo.

Museus mais modernos já se atentaram para essa realidade e vêm se esforçando


para empreender novas formas de exposição e apresentação de seus acervos. O Museu
da Língua Portuguesa, em São Paulo, é um ótimo exemplo a ser seguido. Se você ainda
não teve a oportunidade de visitá-lo, faça uma visita virtual para ver uma amostra do
que ele guarda, entrando no site <http://www.museulinguaportuguesa.org.br/>.

FIGURA 6 – MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA EM SÂO PAULO

FONTE: Disponível em: <http://www.museulinguaportuguesa.org.br/>. Acesso


em: 11 jan. 2012.

41
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

No bojo do turismo, a visitação aos museus é uma atividade bastante


conhecida, pois quando se está numa cidade, estado ou país diferente, é comum
ter curiosidade em conhecer um pouco da história local. Ocorre que muitas vezes,
as pessoas deixam de visitar os museus de sua cidade ou dos municípios vizinhos,
realizando apenas visitas obrigatórias durante o período escolar. Não deixe de
visitar e apreçar os atrativos e equipamentos de lazer próximos a sua residência,
porque você pode perder a oportunidade de se distrair e aprender mais sobre sua
própria herança cultural.

Parques aquáticos

São empreendimentos que possuem como atrativo principal a água, reunindo


várias piscinas, tobogãs, escorregadores, trampolins entre outras atrações aquáticas.
Além das piscinas, os parques aquáticos possuem infraestrutura adequada para
receber os visitantes, dispondo de guarda-vidas, estacionamento, vestiários, duchas
e serviço de bar e cozinha. Existem parques aquáticos de diferentes tamanhos, desde
pequenos negócios com duas ou três piscinas até grandes e famosos parques, capazes
de atrair um grande fluxo de turistas. Os parques aquáticos são um equipamento de
lazer comum em nosso país, devido ao clima quente e tropical. Em parques aquáticos
de porte médio ou grande, existem recreadores e animadores para incentivar e
estimular a recreação de crianças e adultos.

FIGURA 7 – BEACH PARK FORTALEZA

FONTE: Disponível em: <http://www.beachpark.com.br/site/pt/home/


home.asp>. Acesso em: 11 jan. 2012.

42
TÓPICO 3 | A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Parques de diversão

Empreendimento amplamente conhecido que abarca atrações e brinquedos


normalmente focados em crianças e adolescentes. É um tipo de negócio que
vem crescendo muito nos últimos anos e para além das atrações tradicionais
como carrossel, roda-gigante e montanha-russa, passaram a oferecer inúmeros
brinquedos cada vez mais tecnológicos e radicais, somado a apresentações artísticas,
shows diversos, variadas opções de alimentação, lojas de souvenir e muito mais.
No Brasil, Hopi Hari, Play Center, Beto Carreiro são exemplos representativos
dessa modalidade de negócio. Internacionalmente, a Disney e todo o complexo de
parques de Orlando (EUA) fazem parte do imaginário e do sonho de consumo de
muitas crianças, adolescentes e até mesmo de adultos.

FIGURA 8 – DISNEY PARK

FONTE: Disponível em: <http://disneyparks.disney.go.com/>. Acesso em: 11 jan.


2012.

Pesque e pague

Os “pesque e pague” são um tipo de empreendimento destinado às pessoas


que gostam de pescar e permite, além disso, que, na maioria das vezes, o pescador
não volte para casa de mãos vazias. Tais espaços são formados por um conjunto de
lagos e lagoas repletos de peixes, além de dispor de uma infraestrutura de apoio como
sanitários, lanchonete, estacionamentos etc. No “pesque e pague”, aquele que deseja
pescar normalmente encontra tudo o que precisa para a sua diversão, como iscas, varas
de pesca e anzóis. Conforme o nome sugere, ao final da pescaria, o pescador pesa seus
peixes e pagará o valor de acordo com a quantidade pescada. Os peixes mais comuns

43
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

de serem encontrados nesses locais são as carpas, tilápias, bagres, tambaquis entre
outras espécies dependendo de cada região. Buscando por diferenciais competitivos,
alguns “pesque e pague” oferecem a comodidade de limpar os peixes capturados
além de ofertar a possibilidade de prepará-los na hora, se assim o cliente desejar.

Teatros

Os teatros são um dos espaços de lazer mais antigos e tradicionais que


existem. Presentes em muitas cidades são espaços que contam um pouco da
história local e servem de palco para manifestações artísticas diversas, como
por exemplo, concertos de orquestras, apresentações de dança, coral, sapateado
além dos espetáculos teatrais entre outras modalidades. Antigamente (e
ainda existem resquícios desse pensamento), o teatro era visto como um local
luxuoso e nobre, ou seja, não acessível a todos. Atualmente, várias ações vêm
sendo realizadas para alterar esse quadro, como a realização de apresentações
a preços populares e com entrada franca.

44
RESUMO DO TÓPICO 3
Olá graduando! Agora vamos retomar alguns pontos fundamentais desse
tópico:

• A finalidade do lazer é conseguir a desaceleração das atenções pessoais, sejam


estas de natureza profissional ou não, distanciando-se das atividades rotineiras.

• Genericamente, as pessoas buscam quatro grandes motivações no lazer: a


aventura, a competição, a vertigem e a fantasia.

• Qualidade de vida é a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no


contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

• Diferentes aspectos da vida de uma pessoa devem ser ponderados para mensurar
seu nível de qualidade de vida.

• Os serviços de lazer possuem características especificas que precisam ser levadas


em conta para compreender a dinâmica do mercado existente em torno do lazer.

• Ainda que a escolha por determinados tipos de lazer dependa do poder aquisitivo
da pessoa, existe uma série de outros componentes que interferem na escolha de
consumo, muito além dos financeiros.

• Existem vários tipos de empreendimentos de lazer, alguns voltados


especificamente para os turistas e outros para a comunidade de modo geral.

45
AUTOATIVIDADE

1 Qual a importância do lazer para a sociedade?

2 Cite duas motivações comuns das pessoas que buscam o lazer, de acordo
com o conteúdo estudado no tópico.

3 De acordo com Organização Mundial de Saúde, qual o conceito de qualidade


de vida?

4 Cite quatro fatores que podem influenciar a qualidade de vida de uma


pessoa.

5 Qual é a relação entre lazer e qualidade de vida?

46
UNIDADE 1
TÓPICO 4

O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
As discussões sobre o tema do lazer perpassam por várias áreas do
conhecimento, como o turismo, a economia, a psicologia, a educação física e
a sociologia. Neste tópico, vamos lançar um olhar especial sobre essa última
disciplina a fim de entender que papel cumpre o lazer no contexto social.

2 AS ABORDAGENS TEÓRICAS DO LAZER


Conforme você pode ver, existe uma relação muito estreita entre o lazer e
o trabalho desde o início dos tempos. Aliás, vimos que a noção de lazer em si, tal
como a concebemos atualmente, existe a partir da Revolução Industrial.

Na atualidade, vivencia-se, contudo, uma crítica entre os teóricos do


assunto, que em termos simples, pode ser colocado da seguinte forma: de um
lado, existem aqueles que defendem o lazer baseado na sua capacidade de
relaxar o indivíduo e como uma forma de repor suas energias para realizar seu
trabalho da melhor forma possível (Luiz Otávio Lima Camargo, por exemplo)
e de outro, uma corrente que entende o lazer como parte da cultura vivenciada
(Nelson Carvalho Marcellino).

Padilha (2002) aborda tal questão e explica que muitas vezes, o lazer
acaba se configurando como residual, como compensatório, sendo considerado
como uma fonte de recuperação de energias que se perdem no trabalho ou
no tempo de realizar obrigações. Neste sentido, o quadro que se forma é
funcionalista, isto é, o lazer é encarado como um remédio capaz de curar os
males que a sociedade provoca.

Do outro lado, os que entendem que o lazer é um desdobramento da cultura


social existente, clamam por educação voltada para o mesmo. De acordo com
Marcelino (2000), a educação para o lazer tem como objetivo formar o indivíduo
para que viva o seu tempo dispo­nível da forma mais positiva, através de um
processo de desenvolvimento total no qual a pessoa amplia o conhecimento de si
próprio, do lazer e das relações do lazer com a vida e com o tecido social.

47
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Visando elaborar critérios e estabelecer parâmetros para a educação para o


lazer, a Associação Mundial de Recreação e Lazer elaborou a Carta Internacional de
Educação para o lazer. De acordo com o documento (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE
RECREAÇÃO E LAZER, 1993, p. 1):

A finalidade desta Carta é informar aos governos, às organizações não


governamentais e às instituições de ensino a respeito do significado
e dos benefícios do lazer e da educação para e pelo lazer. É também
orientar os agentes de educação, incluindo as escolas, a comunidade e
as instituições envolvidas na capacitação de recursos humanos sobre os
princípios nos quais poderão se desenvolver políticas e estratégias de
educação para o lazer.

Neste limiar, o referido documento preocupa-se em evidenciar a noção de


educação para o lazer, entendendo que as condições para o lazer não podem ser
garantidas somente pelo indivíduo, ou seja, o lazer demanda uma ação coordenada
por parte de governos, organizações não governamentais, instituições de ensino e
dos meios de comunicação para preparar o indivíduo para o lazer. (ASSOCIAÇÃO
MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 1993).

Esclarece ainda que (Associação Mundial de Recreação e Lazer, 1993, p. 3)


“a educação para o lazer deve ser adaptada às necessidades locais e às demandas de
determinados países e regiões, levando-se em consideração os diferentes sistemas
sociais, culturais e econômicos”.

A carta apresenta diretrizes para a implementação de projetos de educação


para o lazer em escolas e na comunidade, discutindo as várias etapas que envolvem
os referidos projetos, tais como estratégias de divulgação e marketing, plano de
comunicação, recursos humanos necessários entre outros.

DICAS

Acesse o documento na íntegra e discuta com seus colegas os aspectos


apresentados no documento. A Carta Internacional de Educação para o Lazer encontra-
se disponível em:<http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.
asp?cod_noticia=195>. Boa leitura!

3 UM DIALÓGO ENTRE LAZER E RACIONALIDADE


A discussão apresentada na seção anterior, sobre o modo como o lazer é
visto por diferentes autores, contém em sua essência, duas concepções diferentes de
racionalidade. Para você compreender o conceito de racionalidade e qual a relação
entre o tema em análise, vamos fazer uma breve incursão na arena sociológica.

48
TÓPICO 4 | O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

A reflexão sobre o que seria agir racionalmente tem apresentado variações


ao longo do tempo. Ramos (1989), aludindo ao sentido antigo da palavra razão,
explica que esta era entendida como a capacidade inerente à psique humana, que
habilita o indivíduo a distinguir entre o bem e o mal, entre o conhecimento falso e
o verdadeiro, servindo assim, para ordenar a vida pessoal e social da pessoa.

A partir dos trabalhos de Thomas Hobbes, a definição de razão torna-se


sistematizada e inspirada no ideário de modernidade, passa a ser compreendida
como a “capacidade que o indivíduo adquire pelo esforço e que o habilita a fazer o
cálculo utilitário de consequências” (HOBBES apud RAMOS, 1989, p. 3).

É significativo relatar que a modernidade ocidental levantou a pretensão


de levar a efetivação do ideal de uma civilização da razão, na qual se torne concreta
a conquista do sentido na vida histórica dos homens. Neste limiar, a crise da
modernidade desembocou numa crise do sentido para a vida humana e constata-
se que a meditação sobre o sentido da vida, passa necessariamente, na atualidade,
pela crítica da razão moderna. (OLIVEIRA, 1993).

O sociólogo Max Weber apud Ramos (1989) elaborou dois conceitos:

a) racionalidade instrumental (ou formal): é determinada pela expectativa de


resultados;

b) racionalidade substantiva (de valor): é determinada independentemente de suas


expectativas de sucesso e não caracteriza nenhuma ação humana interessada na
consecução de um resultado anterior a ela.

Cabe citar o trabalho de Mannheim (1986), dedicado a distinguir as


peculiaridades envoltas no conceito de racionalidade. O autor utiliza a denominação
racionalidade substancial e funcional. A primeira diz respeito aos julgamentos
independentes de acontecimentos em determinada situação, isto é, cada fato é
analisado por si só, sem levar em conta experiências anteriores ou com vistas aos
acontecimentos futuros. Em contraposição, a racionalidade funcional se refere a
qualquer conduta, acontecimento ou objeto, na medida em que este é identificado
como sendo apenas um meio de atingir uma determinada meta.

Os atos são racionais quando contribuem para que se logre atingir um


objetivo predeterminado. (RAMOS, 1983).

Com base no exposto, é possível concluir que os autores que entendem o


lazer a partir da sua capacidade de tornar o indivíduo revigorado para o trabalho,
pautam-se em um viés instrumental. Por sua vez, quando se compreende o lazer
como parte da cultura vivida, se revestem de uma abordagem teórica fundamentada
na racionalidade substantiva.

Convém apontar, que estas duas teorias podem se relacionar entre si,
dependendo da maneira que se trabalha com cada uma delas. Por exemplo, a

49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

ideia de lazer como uma restauração para o trabalho, não é equivocada. Porém,
não é exclusiva, quer dizer, sua única razão de ser. O lazer pode servir para
alguma coisa (racionalidade instrumental) ou não (racionalidade substantiva),
ter sentido por si só, como o desfrutar do ócio, ficar de pernas para o ar,
simplesmente pelo prazer do nada fazer.

É importante reconhecer para fins de análise do mercado turístico, que para


alguns o lazer é carregado de um significado funcionalista, isto é, só faz sentido
porque é uma forma de se recompor para o trabalho e que para outros o lazer é
importante por si só, isto é, não o entendem como uma forma de recompensa pelo
tempo investido no trabalho ou no estudo. Assim, fica lançado o desafio para você,
futuro Gestor de Turismo, no que diz respeito à elaboração de estratégias voltadas
para aprimorar os serviços e produtos de lazer para aqueles que já o praticam e
para conquistar aqueles que ainda não o praticam.

LEITURA COMPLEMENTAR

Para ampliar seu entendimento sobre os temas estudados na Unidade 1,


segue, na sequência, um fragmento de um artigo publicado na Revista Mal Estar e
Subjetividade. Boa Leitura!

ÓCIO, LAZER E TEMPO LIVRE NA SOCIEDADE DO CONSUMO E DO


TRABALHO

Cássio Adriano Braz Aquino e José Clerton de Oliveira Martins

Introdução

A importância de pensar a articulação entre os conceitos de ócio, tempo


livre e lazer no contexto atual se deve, principalmente, ao fato de o trabalho – que
ocupou o lugar de atividade central na inserção social e constituir fator fundamental
da produção subjetiva ao longo da sociedade moderna – ser questionado
como atividade dominante. Essa referência de dominância está caracterizada,
principalmente, por ser a atividade laboral o elemento que demarca a estruturação
dos quadros temporais das sociedades Pós-Revolução Industrial, tal como afirma
a sociologia do tempo e, de forma destacada, os teóricos contemporâneos dos
tempos sociais (Roger Sue, Gilles Pronovost, Giovanni Gasparini, Ramos Torre,
dentre outros).

A partir das teorias dos tempos sociais, surge, então, uma pergunta que
parece crucial para reiterarmos a importância de caracterizar esses três conceitos,
que dão título ao artigo, a saber, ócio, tempo livre e lazer. Considerando que, ao
longo da sociedade industrial, foi o trabalho a atividade que ocupou a centralidade
na organização da temporalidade social, seria o ócio a atividade que ocuparia
na sociedade pós-industrial o lugar que foi ocupado pelo trabalho na sociedade
industrial? A atividade social e o tempo que a demarca precisam ser postos em
50
TÓPICO 4 | O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

discussão para que tenhamos elementos para a formulação de uma análise crítica
do contexto social em que hoje vivemos.

O fator temporal passa por metamorfoses significativas, iniciadas no


momento em que o homem resolve medir o tempo cotidiano e quantificar o tempo
social na sociedade industrial, chegando à comercialização do próprio tempo, que
se torna uma mercadoria e passa a ter valor econômico.

Neste espaço, surge à pressa como um fenômeno típico da atualidade e


como mola mestra para os avanços tecnológicos que fabricam equipamentos para
poder ganhar mais tempo.

Os telefones celulares, o fax, o pager, a internet, entre outros, são mecanismos


que marcam essa busca incessante por mais tempo, porém, paradoxalmente, o
homem termina por preencher esse tempo disponível com mais atividades e afazeres.

No caos entre necessidades econômicas e existenciais, o homem contemporâneo


se vê dividido entre as obrigações impostas por suas atividades laborais e o desejo de
libertar-se dessas tarefas e, assim, poder usufruir um tempo para si.

No entanto, todo processo de educação/formação/orientação da sociedade


moderna gerou os valores da atual sociedade do consumo, não contempla a
orientação para ser/existir num tempo de “nada fazer”.

A maior ou a menor variação desse tempo na vida dos indivíduos organiza-


se e estrutura-se de acordo com padrões assimilados sobre como se deve dispor
o tempo para as diversas atividades, além de como o sujeito valora o sentido do
tempo cotidiano para si. Desta maneira, as diferentes formas de sentir, pensar, agir
e estabelecer o tempo seguem padrões culturais que se refletem na ação do sujeito.

Munné (1980) apresenta uma tipologia do tempo social, que se revela


através de quatro tipos fundamentais: o primeiro é o tempo psicobiológico, que é
ocupado e conduzido pelas necessidades psíquicas e biológicas elementares, o que
engloba o tempo de sono, nutrição, atividade sexual etc. Esse tempo se condiciona
endogenamente, é um tempo individual.

A segunda tipologia seria o tempo socioeconômico, que diz respeito


ao tempo empregado para suprir as necessidades econômicas fundamentais,
constituídas pelas atividades laborais, atividades domésticas, pelos estudos,
enfim, pelas demandas pessoais e coletivas, sendo que esse tipo de tempo está
quase que inteiramente heterocondicionado, somente sendo autocondicionado
nas circunstâncias que visam à realização pessoal.

A terceira tipologia seria o tempo sociocultural, sendo aquele dedicado às ações


de demandas referentes à sociabilidade dos indivíduos que se refere aos compromissos
resultantes dos sistemas de valores e pautas estabelecidos pela sociedade e objeto
maior de sanção social. Esta categoria de tempo tanto pode ser heterocondicionado
como autocondicionado, podendo existir um equilíbrio entre os dois polos.
51
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Finalmente, o autor apresenta a quarta categoria, o tempo livre, que se refere


às ações humanas, realizadas sem que ocorra uma necessidade externa. Neste caso,
o sujeito atua com percepção de fazer uso desse tempo com total liberdade e de
maneira criativa, dependendo de sua consciência de valor sobre seu tempo.

O tempo livre deveria ser um tempo máximo de autocondicionamento e


mínimo de heterocondicionamento, isto é, ser constituído por aquele aspecto do
tempo social, em que o homem conduz com menor ou maior grau de nitidez a sua
vida pessoal e social.

No entanto, neste tempo que poderia ser um tempo voltado para o ócio mais
verdadeiro, o consumismo termina por deteriorá-lo, mercantilizá-lo, coisificando-o
e empobrecendo-o de significados.

Encontra-se na literatura que é preciso educar os sujeitos não só para


perceber os meandros do trabalho, mas também para os mais diversos e possíveis
ócios, significa ensinar como se evita a alienação que pode ser provocada pelo tempo
vago, tão perigoso quanto a alienação derivada do trabalho (De Masi, 2000, p. 326).

Segundo Muller (2003), a educação costuma sonegar o direito ao ócio;


observa-se que as escolas tendem a preparar a criança para a importância da
profissão e do trabalho no futuro, isto é, preparam crianças e jovens para a vida
adulta moldada pelo trabalho, porém não há orientação nesse processo para o uso
adequado do tempo de ócio, um fator de vital importância para a edificação de um
indivíduo equilibrado. Isso porque a escola, dentro de uma concepção moderna,
está profundamente demarcada pelo paradigma da produção industrial, reiterando
que atividade social dominante e determinante da configuração social é o trabalho.

O aspecto educativo também se volta para a qualificação do trabalhador,


mais dirigido para a questão de execução de tarefas, limitando seu potencial
criativo, submetendo-o ao limite de suas habilidades, àquela ou a esta função.

Em Elogio ao Ócio, Russell critica de forma categórica a concepção


estritamente utilitária da educação, afirmando que esta ignora as necessidades
reais dos sujeitos e que os componentes culturais na formação do conhecimento
se ocupam em treinar os indivíduos com meros propósitos de qualificação
profissional, esquecendo, desta maneira, os pensamentos e desejos pessoais dos
indivíduos, levando-os a ocuparem boa parte de seu tempo livre com temas
amplos, impessoais e sem sentido (2002: 37).

Sobre ócio, tempo livre e lazer

A compreensão do conceito de ócio surge na contemporaneidade, um pouco


obscura, haja vista a amplitude que o termo possibilita pelos sentidos diversos que
toma, de acordo com as realidades de abordagens e interesses intrínsecos.

Em nossas investigações, encontram-se três termos que, cotidianamente,


aparecem como sinônimos, inclusive, muitas vezes, especialistas os utilizam como
52
TÓPICO 4 | O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

equivalentes. No entanto, sabe-se que tais termos possuem diferentes sentidos e,


para seguir em frente é melhor esclarecer. Os termos são: ócio, tempo-livre e lazer.

Como se pode observar, no Brasil, no sentido corriqueiro, as palavras ócio


e lazer aparecem como semelhantes. O termo tempo livre também está carregado
dos mesmos sentidos, embora fique evidente, já nas primeiras aproximações, que
os fenômenos lazer e ócio necessitam de um tempo liberado ou livre e resguardam
relação com liberdade.

Estudos atuais evidenciam que ambos são muito diferentes pelo contexto
de liberdade que invocam. No caso, um se apresenta na dinâmica social brasileira
carregado dos valores do capital, relacionando-se diretamente com tempo de
reposição de energia para o trabalho. O outro envolve um sentido de utopia por
orientar a uma liberdade supostamente, longe de ser alcançada, haja vista a própria
dinâmica socioeconômica preponderante.

Em Munnè (1980) e Gómez (1992), encontra-se uma relação forte da palavra


ócio em espanhol com a palavra grega scholé, carregada do sentido de um lugar
para o livre desenvolvimento individual. Remonta ao processo educativo daquela
civilização. Gómez (1992) sugere que nesta palavra grega está a origem etimológica
e sentido primeiro da palavra “escola” em vários idiomas modernos, como: school
no inglês, école no francês, escuela no espanhol e “escola” no português.

O termo lazer é atualmente utilizado de forma crescente, podendo ser


empregado em sua concepção real ou ser associado a palavras como entretenimento,
turismo, divertimento e recreação, porém o sentido do lazer é tão polêmico quanto
a origem e o sentido do termo ócio.

Por outro lado, a palavra ócio resguarda valores negativos apregoados


pela influência religiosa puritana, pela própria história da industrialização
e modernização brasileira, ao longo da qual se pode observar, claramente, o
surgimento de uma nova ordem entre empresários e empregados, operários e
patrões e a necessidade de controle social no tempo fora do trabalho, para garantir
a ordem numa sociedade elitista, herdeira de valores colonialistas.

Faz-se necessário declarar outra fonte de equívocos na compreensão dos


referidos termos no Brasil. Trata-se das traduções de obras originadas da produção
científica espanhola e italiana que trazem a utilização do termo ócio com o mesmo
sentido atribuído ao termo lazer, basta observar a obra de Domenico de Masi (2000;
2001), difundida no Brasil intensivamente, a partir da década de 90. E ainda outras,
como Puig e Trilla (2004), De Gracia (1966), apenas para citar algumas.

Sabe-se que, nas sociedades pré-industriais, as atividades lúdicas, hoje


atribuídas ao lazer, estavam ligadas ao culto, à tradição, às festas e não existia de fato
o lazer em si, pois as atividades de trabalho envolviam ludicidade e prazer criativo.

O trabalho e o lazer se intercalavam no cotidiano do indivíduo. O trabalho


e o tempo subjetivo eram difíceis de serem percebidos separadamente, pois ambos
53
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

possuíam intrínsecas relações. É curioso perceber que, em sociedades onde a


industrialização não foi hegemônica, essa relação do caráter lúdico e criativo, que
hoje se associa ao lazer, está presente em atividades laborais, que não compõem o
modelo industrial de produção.

Elungu (1987), ao discorrer sobre a estrutura temporal em algumas


sociedades africanas, fala da dificuldade de adaptação de tribos ao modelo de divisão
do tempo imposto pela organização produtiva industrial, e, consequentemente,
a resistência dos indivíduos a desvincular sua atividade produtiva dos prazeres
lúdicos. Em algumas dessas sociedades, não há categorias distintivas entre o
trabalho e o lazer.

O ócio é tão antigo quanto o trabalho, porém, somente após a Revolução


Industrial, com o surgimento do chamado tempo livre, que representa uma
conquista da classe operária frente à exploração do capital, é que foi evidenciado,
ocorrendo a nítida separação entre tempo-espaço de trabalho (produção) e lazer
(atividades contrárias ao trabalho) enquanto tempo para atividades que se voltam
para a reposição física e mental.

[...]

Novos investigadores surgem aportando abordagens críticas aos estudos


do lazer no Brasil, explicitando a necessidade de visualizar o fenômeno como fruto
de um processo econômico social específico brasileiro, chamando atenção para a
necessidade de observar o fenômeno enquanto elaboração social, orientado pela
dominação, alienação produzida pela relação capital-trabalho da qual, segundo
suas afirmações, não se deve fugir.

Nesse sentido, ressalta-se o trabalho de Mascarenhas (2005) e Marcassa


(2002), em que se observam colocações como esta:

[...] sobre o que é o lazer, é comum ainda encontrarmos respostas


que o associam à participação e ao desenvolvimento, dentre outras
possibilidades que evidenciam seu potencial formativo, mas o fato
é que tendencial e predominantemente o que ele constitui mesmo
é uma mercadoria cada vez mais esvaziada de qualquer conteúdo
verdadeiramente educativo, objeto, coisa, produto ou serviço em
sintonia com a lógica hegemônica de desenvolvimento econômico,
emprestando aparências e sensações que, involucralmente, incitam
o frenesi consumista que embala o capitalismo avançado. [...] o que
estamos querendo dizer é que num movimento como nunca antes se viu
o lazer sucumbe de modo direto e irrestrito à venalidade universal. A
mercadoria não é apenas uma exceção no mundo do lazer como antes,
mas sim a regra quase geral que domina a cena histórica atual.

A palavra ócio, derivada do latim otium, significa o fruto das horas


vagas, do descanso e da tranquilidade, possuindo também sentido de ocupação
suave e prazerosa, porém, como ócio, abriga a ideia de repouso, confunde-se
com ociosidade.

54
TÓPICO 4 | O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

Com a Revolução Industrial, um novo conceito de ócio se torna evidente,


um conceito oposto ao de ócio contemplativo grego, impregnado da mentalidade
puritana, “pai de todos os vícios”. Desta forma, o trabalho se torna a fonte de todas
as virtudes, e a jornada de trabalho aumenta de maneira assustadora, gerando,
assim, descompensações psicossomáticas na grande maioria das pessoas, conforme
defendem Paul Lafargue e Bertrand Russell (em De Masi, 2001), ferrenhos críticos
da mistificação do trabalho e de seu excesso desnecessário.

O ócio, na atualidade, tem sido fonte de polêmica. Sabemos que a redução


da jornada de trabalho gerou o tempo livre, assim como a problemática com relação
a sua utilização adequada.

A década de 90 coloca a palavra ócio em moda no Brasil, fruto das


publicações do sociólogo Domenico de Masi, que apregoa sua ideia de ócio criativo
como um modelo a ser perseguido por pessoas e organizações, na busca de um
modo de viver e trabalhar criativamente, a partir da redução do tempo de trabalho,
descentralização da empresa enquanto lugar de trabalho e do surgimento de uma
nova economia centrada no novo tempo livre.

Não se quer, aqui, defender ou atacar este ou aquele pensamento. Pretende-


se demonstrar as principais ideias sobre o fenômeno ócio e lazer que interferem na
compreensão geral do tema no Brasil.

FONTE: AQUINO, Cássio Adriano Braz; MARTINS, José Clerton de Oliveira. Ócio, lazer e tempo
livre na sociedade do consumo e do trabalho. Revista Mal-estar e subjetividade. Fortaleza, v.7,
n. 2, p. 479-500, set. 2007. Disponível em: <http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/dcefs/
Prof._Adalberto_Santos/4-ocio_lazer_e_tempo_livre_na_sociedade_do_consumo_e_do_
trabalho_22.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2012.

55
RESUMO DO TÓPICO 4
Olá acadêmico! Vamos revisar alguns pontos importantes estudados.

• Existem duas correntes principais de estudos do lazer: de um lado, existem


aqueles que defendem o lazer baseado na sua capacidade de relaxar o indivíduo
e como uma forma de repor suas energias para realizar seu trabalho da melhor
forma possível e de outro, uma corrente que entende o lazer como parte da
cultura vivenciada.

• Algumas vezes, o lazer acaba se configurando como residual, como


compensatório, sendo considerado como uma fonte de recuperação de energias
que se perdem no trabalho ou no tempo de realizar obrigações.

• Os autores, que entendem que o lazer é um desdobramento da cultural social


existente, clamam por educação voltada para o mesmo.

• A educação para o lazer tem como finalidade formar o indivíduo para que
viva o seu tempo dispo­nível da forma mais positiva, sendo um processo de
desenvolvimento total através do qual um indivíduo amplia o conhecimento de
si próprio, do lazer e das relações do lazer com a vida e com o tecido social.

• A Carta Internacional de Educação para o Lazer é um documento importantíssimo,


elaborado em 1993, que serve como referência para os debates em torno do
assunto.

• A racionalidade instrumental (ou formal) é determinada pela expectativa de


resultados.

• A racionalidade substantiva (de valor) é determinada independentemente


de suas expectativas de sucesso, e não caracteriza nenhuma ação humana
interessada na consecução de um resultado ulterior a ela.

56
AUTOATIVIDADE

1 O que quer dizer a expressão “o lazer passa a ser uma atividade


compensatória”?

2 Qual é o sentido de afirmar que o lazer deve fazer parte de uma cultura
vivenciada?

3 Qual é a razão de ser da educação para o lazer?

4 O que se entende por racionalidade instrumental?

5 O que se entende por racionalidade substantiva?

57
58
UNIDADE 2

TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO


DO LAZER E DO TURISMO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, você será capaz de:

• apresentar os diferentes consumidores de lazer, de acordo com a faixa etá-


ria na qual encontram-se inseridos;

• compreender o conceito de recreação e sua relação com o lazer;

• identificar as relações existentes entre esporte e lazer;

• analisar a questão do planejamento e das políticas de lazer e turismo;

• verificar de que modo o lazer se apropria dos espaços públicos e;

• debater sobre o profissional de lazer e sua formação.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em seis tópicos, no decorrer dos estudos, você
encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conteúdos adquiridos.

TÓPICO 1 – OS CONSUMIDORES DE LAZER

TÓPICO 2 – RECREAÇÃO E LAZER

TÓPICO 3 – ESPORTE E LAZER

TÓPICO 4 – O PLANEJAMENTO E AS POLÍTICAS DE LAZER E TURISMO

TÓPICO 5 – LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

TÓPICO 6 – O PROFISSIONAL DE LAZER E SUA FORMAÇÃO

Assista ao vídeo
desta unidade.

59
60
UNIDADE 2
TÓPICO 1

OS CONSUMIDORES DE LAZER

1 INTRODUÇÃO
Cada cultura possui valores definidos, que estabelecem correlação com
o sistema técnico vigente, que em toda sociedade, influi sobre a capacidade de
consumo de bens e serviços, sobre as formas de trabalho e de vida e, especificamente,
sobre a forma de uso do tempo livre. (BACAL, 2003). Nesse tópico, vamos estudar
um pouco sobre os diferentes consumidores de lazer.

2 O PÚBLICO INFANTIL/ ADOLESCENTE E O LAZER


É certo que os grupos vivenciam a cultura de acordo com a faixa etária na
qual estão inseridos. Por isso, é fácil compreender que para crianças, jovens, adultos
e idosos as experiências de lazer são vividas e sentidas de acordo com a idade que
se tem. A própria noção do tempo, considerado livre e disponível, se altera ao
longo da vida. Para as crianças, atividades recreativas e de lazer são uma forma
de ocupá-las e distraí-las, ou seja, uma alternativa para passar o tempo. Na fase
adulta, geralmente, tomada pelo trabalho, estudos e outras obrigações, o tempo
livre é precioso. Uma tarde de folga passa a ser realmente uma delícia e um fim
de semana prolongado, outro presente. Já na maturidade, a tendência é perceber o
tempo passar de modo menos acelerado e então, os momentos de sociabilidade e
de recreio com colegas e amigos passam a ser aguardado e desfrutado com atenção.
Espera-se com alegria o dia da hidroginástica ou o dia da semana para o encontro
com os parceiros do carteado.

As crianças gostam de dedicar o tempo que dispõem em atividades que


permitem o movimento, com liberdade para pular, correr, gesticular, falar e gritar,
sem se preocupar com os limites. Interessa-lhes aquilo que significa a quebra das
normas emanadas em suas casas e nos demais estabelecimentos de socialização em
que vivem ou passam parte de sua vida cotidiana. (ANDRADE, 2001).

Dentre as atividades apreciadas pelo público infantil, os jogos infantis


merecem destaque. A transmissão dos jogos tradicionais em geral ocorre pela
reprodução popular do saber (oralmente, imitação direta, observação etc.),
usualmente sem uma organização formal de ensino-aprendizagem. Tais formas
espontâneas propiciam um espaço com regras próprias, seguindo sua própria
lógica, sem o controle que julga e avalia. (BRUHNS, 1997). Negrini, Bradacz,
Carvalho (2001) comentam que através do brincar das crianças, é possível notar as
representações simbólicas que predominam em determinadas culturas. Por meio

61
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

dos jogos e brincadeiras, as crianças vão aprendendo e solidificando um rol de


comportamentos, atitudes e valores, tendo assim um relevante papel social.

Quando o assunto é lazer, as crianças se identificam com todas as diversões e


variados tipos de recursos que se apresentem como novidade, raridade, esquisitice
ou desafio. Costumam vivenciar o tempo de lazer intensamente e a fantasia deles é
o elemento dimensionador do universo imaginário. (ANDRADE, 2001).

Bruhns (1997) menciona que existe uma orientação deficitária dirigida às


crianças, referente ao desenvolvimento de propostas de lazer para elas. A criança é
tratada não como referência do seu universo, mas como um adulto em miniatura.
Muitos adultos elegem programas para as crianças de acordo com o seu próprio
desejo (por exemplo, o tradicional judô para os meninos e o balé para as meninas),
embora nem sempre exista uma boa aceitação por parte da criança.

Os principais equipamentos de lazer utilizados pelas crianças englobam a


própria área de recreação das escolas maternais e do jardim de infância, o parque
de diversões (sejam de praças, no prédio onde moram etc.), os clubes associativos,
os parques públicos (com pistas de caminhada, chafariz, árvores etc.), as praças
e as quadras esportivas. Outro equipamento que vem se tornando popular na
idade infantil são as casas de festas que além da infraestrutura para realizar as
comemorações de aniversário, contam com inúmeras atrações para entreter e
divertir as crianças, como o fliperama, os labirintos, as piscinas com bolinhas,
cama elástica, escorregadores etc. e todas estas facilidades se reúnem em ambiente
fechado, climatizado e com adultos monitorando. Espaços semelhantes têm se
tornado comum também nos shoppings.

FIGURA 9 – ESPAÇO DE LAZER INFANTIL

FONTE: CVC, 2012.

Com relação ao lazer na infância, há que se comentar que a questão da


ludicidade é tomada como um elemento importante no desenvolvimento e
aprendizado infantil. Psicólogos como Piaget, Wallon e Vygotsky destacam

62
TÓPICO 1 | OS CONSUMIDORES DE LAZER

o papel que cumpre o brincar na fase infantil, atribuindo-lhe papel decisivo na


evolução dos processos de maturação e aprendizagem. (NEGRINE; BRADACZ;
CARVALHO, 2001). Com relação às atividades infantis, tais como os jogos e as
brincadeiras, estas podem expressar diferentes significados, entre eles. (NEGRINI;
BRADACZ; CARVALHO, 2001, p. 37):

a) Experimentar a partir de sensações e estímulos externos;


b) Atrair a atenção dos outros para a atividade que realizam;
c) Imitar aquilo que viram ou veem outra pessoa realizar;
d) Servir como reforço às habilidades já adquiridas;
e) Testar suas habilidades ou adquirir novas.

Na infância, o lazer, os jogos, as brincadeiras e os aprendizados constituem


uma trama que contribui para o desenvolvimento pessoal, de modo que inexistem
barreiras claras que separam uma ação da outra, até porque, a própria criança ainda
não possui mecanismos de consciência suficientemente definidos. Por exemplo, se
uma criança for indagada sobre o que mais lhe atrai no parque próximo a sua casa, ela
não terá plena condição de afirmar o quanto exatamente os brinquedos lhe atraem, se
são os colegas que brincam com ela, ou o sorvete que ele pode tomar quando vai até lá,
ou ainda, se é a atenção que ela ganha dos pais que decidem levá-la até lá.

Quanto aos adolescentes, estes se divertem na companhia que eles


mesmos descobrem em seus relacionamentos amistosos, familiares, formais ou
informais. Eles fazem questão de selecionar por conta própria as modalidades
de lazer que consideram interessantes e muitas vezes, utilizam-nas para a sua
autopromoção. (ANDRADE, 2001).

3 O LAZER E OS ADULTOS
Dentre os públicos que desfrutam do lazer, os adultos são aqueles que
apresentam maiores dificuldades para desfrutar da atividade em sua plenitude.
É um público difícil de trabalhar porque considerando algumas exceções, os
adultos tendem a apegar-se a hábitos adquiridos, a pessoas e atividades às quais se
acostumaram pela rotina, pela conveniência e por necessidades. (ANDRADE, 2001).

Para que se vivenciem bons momentos de lazer, é necessário que os


adultos possuam certa disponibilidade para isso, isto é, precisam se permitir o
desfrute do lazer. Nesse sentido, verifica-se que a capacidade lúdica do adulto
está estreitamente relacionada à sua história de vida e faz parte da apropriação
de um saber que paulatinamente vai se instalando na conduta do indivíduo, face
ao seu modo de vida. (NEGRINI; BRADACZ; CARVALHO, 2001). Certamente,
com dedicação e esforço, novos hábitos podem ser incorporados e atitudes antigas
maléficas para o lazer podem ser deixadas para trás.

Na fase do tempo livre adulto, quanto ao uso de equipamentos, ocorre


uma diminuição de abrangência devido ao maior envolvimento com o tempo de

63
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

trabalho e os equipamentos procurados tendem a ser: clubes associativos, quadras


particulares, parques e praças públicas, academias e cinema. (STUCCHI, 1997).

Outro traço característico, é que muitos adultos dedicam pouco tempo


para o seu lazer, pois tem grande parte do seu tempo tomado pelo trabalho, pelas
obrigações familiares e ainda pelos deveres domésticos. Em nossa cultura, é comum
encontrar pessoas que se preocupam com as atividades de lazer dos seus filhos,
de proporcionar a eles momentos agradáveis nas férias, sem, contudo, priorizar
um tempo só para si, para o desfrute e para se recompor física e psicologicamente.
Entre os adultos, principalmente no caso das mulheres, parece rondar uma espécie
de culpa entorno da questão do lazer.

Dado o grande número de compromissos profissionais, familiares e sociais,


em alguns grupos, falar abertamente que você não abre mão de jeito nenhum de
frequentar a academia duas vezes por semana, soa como demonstração de egoísmo.
Dizer que você quer sair do trabalho e ir direto para a sauna, sem se aborrecer
com pendências do trabalho que podem tranquilamente ser encaminhadas no dia
seguinte, parece pegar mal em alguns ambientes de trabalho repleto de colegas
viciados em trabalho.

A essa altura, é desnecessário frisar o quanto essa percepção da realidade é


distorcida e prejudicial ao desenvolvimento pessoal. Todas as pessoas precisam dispor de
um tempo para o lazer para a manutenção da sua saúde e para manter um bom nível de
qualidade de vida.

Ocorre também que a fim de não desejarem correr o risco de serem levados
a reações que possam criar-lhes constrangimentos ou forçar rupturas em meu
modo de levar a vida, os adultos costumam fazer de tudo para garantir o clima de
coexistência pacífica. (ANDRADE, 2001). Não restam dúvidas que as mutações do
mundo atual, vão progressivamente afastando os indivíduos do convívio social de
caráter lúdico de modo que os tempos modernos impõem outras formas de lazer,
deslocando o eixo do lazer compartilhado para modalidades individuais. (NEGRINI;
BRADACZ; CARVALHO, 2001). As formas individuais de lazer são impulsionadas
pela tecnologia, por meio de equipamentos como os computadores portáteis, tablets,
a televisão, os celulares, os video games entre outros, fato perceptível já na fase infantil.

Outra questão paradoxal que dificulta o trabalho de lazer com o público


adulto reside no fato que embora não faltem informações e apelos para a
necessidade de se buscar um modo de vida mais saudável, muitos adultos ainda
não despertaram para isso e vêm desenvolvendo péssimos hábitos de vida. Fica
complicado tratar da necessidade de se entreter e relaxar para pessoas que não
conseguem se controlar e se esmerar em um padrão de alimentação mais saudável,
por exemplo. A pessoa sabe que precisa fazer uma dieta para se sentir bem e
melhorar sua saúde: seu cônjuge lhe diz isso, seu médico também, sem contar toda
a informação disponível nos canais de comunicações (internet, revistas, televisão

64
TÓPICO 1 | OS CONSUMIDORES DE LAZER

etc.). Mas muitas vezes não consegue mudar seu estilo de vida. O que falta para
convencer uma pessoa assim? A resposta não é fácil e nem evidente, mas um
caminho parece ser a insistência e a constante busca por maneiras de sensibilizar
os adultos para os benefícios que o lazer lhes reserva.

4 A TERCEIRA IDADE E O LAZER (adultos da segunda fase)


Há que se reconhecer que nessa etapa da vida, embora alguns autores se
utilizassem do termo ‘melhor idade’, ainda que possa ser um momento da vida
repleto de boas experiências. É fato que a maioria dos idosos apresenta-se com
algumas ou várias limitações orgânicas e de saúde, que podem restringir algumas
atividades ou impor condições específicas para sua realização. Parece irreal e
equivocado conceber que o público mais maduro conta exatamente com a mesma
disposição e aptidão física de um jovem de 25 anos.

Não se quer de modo algum argumentar que o destino dos idosos seriam as
atividades tradicionais e, às vezes, sem graça, como o bingo ou encontros semanais
para tricotar, sabendo que existem muitos que praticam atividades radicais e
adoram se socializar e se divertir. O que se pretende deixar claro é que se trata de
um público que demanda cuidados e atenções específicas.

Dados atuais do IBGE revelam o aumento da população idosa no Brasil.


O crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais, que
era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010. Um
detalhe é que a região Norte, apesar do contínuo envelhecimento observado nas
duas últimas décadas, ainda apresenta uma estrutura bastante jovem, devido aos
altos níveis de fecundidade no passado. Nessa região, a proporção de idosos de
65 anos ou mais passou de 3,0% em 1991 e 3,6% em 2000 para 4,6% em 2010. A
região Nordeste ainda tem, igualmente, características de uma população jovem
e a proporção de idosos passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000 e 7,2% em 2010.
Sudeste e Sul apresentam evolução semelhante da estrutura etária, mantendo-se
como as duas regiões mais envelhecidas do país, sendo que as duas tinham em
2010 8,1% da população formada por idosos com 65 anos ou mais. Ademais, na
região Centro-Oeste a população de idosos teve um crescimento, passando de
3,3% em 1991, para 4,3% em 2000 e 5,8% em 2010 (IBGE, 2012).

De acordo com Rubin e Rocha (2011), existe um novo padrão de


envelhecimento em curso, denominado por “envelhecimento ativo”, que nem de
longe lembra a resignação com que os idosos do passado se aposentavam do trabalho
e da vida social. Muitos idosos são saudáveis, dispostos a continuar em atividade
por mais tempo e, muitos possuem um bom poder aquisitivo. Vários brasileiros que
romperam a barreira dos 60 anos provam que é possível dialogar com a passagem
do tempo harmoniosamente realizando inúmeras atividades de lazer.

65
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

FIGURA 10 – OS IDOSOS E O LAZER

FONTE: RONDÔNIA DIGITAL, 2012.

Conforme faz notar Andrade (2001), os idosos gostam do lazer e procuram


exercê-lo a sua maneira, sem expor-se a situações que os ridicularize ou, ainda,
atraindo a atenção dos outros de modo a despertar pena, isto é, sem sair do limite
do conveniente. É importante lembrar que não há uma ruptura da personalidade
entre a primeira fase do adulto e a segunda. Algumas opções de lazer são
oferecidas ao público mais velho, como se este fosse um grupo homogêneo, o que
não é verdade. Nem toda senhora gosta de bordar para se distrair e nem todo
homem idoso aprecia jogar dominó, por exemplo. Outro fato que você já deve ter
observado, são os encontros dançantes, realizados normalmente à tarde, que vem
se popularizando entre os clubes de idosos. Novamente, sem criticar a iniciativa,
tendo em vista que o sucesso decorre do crescente número de participantes nessas
tardes dançantes, pretende-se simplesmente destacar que ao se elaborar um plano
de lazer para os idosos, sem dúvida, essa é uma das possibilidades, não a única.
Da mesma forma que acontece na fase juvenil e adulta, há que se recordar que
o lazer pode abarcar interesses manuais, artísticos, sociais, esportivos, de cunho
intelectual entre outros.

A relação entre o lazer e os idosos vem se alterando ao longo dos últimos


anos e se, de um lado, importantes esforços vêm demonstrando uma maior
preocupação com essa parcela da população, algumas limitações ainda precisam
ser superadas. Entre as fragilidades existentes, Bruhns (1997) relata o decréscimo
no salário, devido ao sistema de aposentadoria vigente no país e a rotulação
baseada nos estereótipos de que o idoso é carente, passivo, desinteressado pela
vida contribuem para um quadro insatisfatório na busca pelo lazer.

Tratando da relação entre o lazer e o idoso Andrade (2001, p. 133) destaca:


“conscientes que o tempo se torna sempre mais escasso para eles e mais difícil de
ser bem aproveitado, empenham-se em utilizá-lo ao máximo”.

66
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu que:

• Os grupos vivenciam a cultura de acordo com a faixa etária na qual estão


inseridos.

• As crianças gostam de dedicar o tempo que dispõem em atividades que permitem


o movimento, com liberdade para pular, correr, gesticular, falar e gritar, sem se
preocupar com os limites.

• A transmissão dos jogos tradicionais em geral ocorre pela reprodução popular


do saber (oralmente, imitação direta, observação etc.).

• Os principais equipamentos de lazer utilizados pelas crianças englobam a


própria área de recreação das escolas maternais e do jardim de infância, o parque
de diversões, os clubes associativos, os parques públicos, as praças e as quadras
esportivas.

• A questão da ludicidade é tomada como um elemento importante no


desenvolvimento e aprendizado infantil.

• Os adultos são aqueles que apresentam maiores dificuldades para desfrutar da


atividade em sua plenitude.

• Muitos adultos dedicam pouco tempo para o seu lazer.

• Dados atuais do IBGE revelam o aumento da população idosa no Brasil.

• Os idosos gostam do lazer e procuram exercê-lo a sua maneira, sem expor-se a


situações que os ridicularize ou, ainda, atraindo a atenção dos outros de modo a
despertar pena nos outros, isto é, sem sair do limite do conveniente.

67
AUTOATIVIDADE

1 Por que as pessoas atribuem um sentido diferenciado ao lazer de acordo


com a faixa etária na qual estão inseridas?

2 De modo geral, que atividades de lazer costumam atrair as crianças?

3 Como as crianças costumam aprender as regras dos jogos tradicionais, como


a brincadeira de esconde-esconde, por exemplo?

4 Que modalidades de lazer para adultos são estimuladas pela mídia


atualmente?

5 O que significa a expressão “envelhecimento ativo”?

Assista ao vídeo de
resolução da questão 5

68
UNIDADE 2 TÓPICO 2

RECREAÇÃO E LAZER

1 INTRODUÇÃO
O termo “recreação” é amplamente utilizado e conhecido e inclusive
algumas pessoas o entendem como um sinônimo de lazer. Nesse tópico, vamos
explorar o tema da recreação visando entender a sua relação com o fenômeno do
lazer e do turismo.

2 ENTENDENDO O CONCEITO DE RECREAÇÃO


Para iniciar o debate acerca do tema recreação, é oportuno mencionar
que algumas iniciativas preferem adotar o termo “lazer” à recreação, porque
esta, usualmente, pode ser vista como um fazer pelo fazer, como uma atividade
esvaziada de reflexões, significados, valores e fundamentos. No que se refere
ao significado da recreação no contexto brasileiro, na maioria das vezes, ela é
entendida como sinônimo de atividades realizadas com o intuito de promover
diversão, especialmente, aquelas desenvolvidas a partir de um profissional.
(GOMES; PINTO, 2009). No Brasil, em termos gerais, o que se concebe é o lazer
como uma área abrangente, que de acordo com o que estudamos, perpassa pela
cultura, turismo, educação física etc. e a recreação, como uma atividade que se
insere dentro do contexto do lazer.

Conforme evidencia Gomes e Pinto (2009), a recreação (do latim


recreatio, recreationem) mantém ao longo dos tempos, o sentido de atividade,
que pode ser desenvolvida em distintos espaços sociais, tais como a escola, a
igreja, a família e o trabalho.

Vale lembrar, que da mesma forma como ocorre com o turismo, que possui
termos e palavras específicas para cada ação empreendida, no dia a dia, no uso
comum, muitas vezes, ocorre uma utilização de termos inadequados, como é o
caso de excursão, por exemplo. Da mesma forma, é possível que você visualize
no cotidiano do seu campo de atuação, o emprego de termos pouco apropriados
e específicos, como por exemplo, departamento de recreação do hotel enquanto
o mais adequado seria “departamento de lazer”, dada a amplitude das tarefas
empreendidas. Nesse caso, o importante é ter discernimento dos sentidos e após a
construção de um relacionamento (o que demanda certo tempo), você pode sugerir
uma alteração. O que não soa bem é a partir de um determinado conhecimento
sair criticando todas as pessoas e iniciativas e querer que as mudanças ocorram
rapidamente. Os relacionamentos de trabalho são construídos gradualmente.
69
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Ao analisar o universo do lazer e da recreação como campo de trabalho,


Camargo (1999) divide o segmento em algumas categorias, a saber:

a) Recreação pública: nessa categoria estão incluídas todas as ações e instalações


focadas na ocupação do tempo livre da população de modo geral, abrangendo
as ações desenvolvidas por secretarias governamentais, fundações públicas e
empresas ligadas ao poder público municipal, estadual e federal, perpassando
por setores próximos, como a cultura, os esportes, turismo e meio ambiente.

b) Recreação comercial: dirigido ao público consumidor geral, abarca uma série


de empreendimentos privados voltados ao lazer, como parques temáticos,
livrarias, locadoras de filmes, galerias de arte, lojas de CDs e DVDs, academias
de ginástica, escolas de música etc. Ainda é possível incluir restaurantes
especializados e estabelecimentos de lazer noturno. Todas estas atividades
demandam mão de obra especializada.

c) Recreação industrial: a recreação no ambiente de trabalho industrial (atualmente


vem se espalhando em diversas áreas de trabalho) recebeu um significativo
incremento nas décadas de 70 e 80 e inicialmente, consistia principalmente em
grêmios e associação de empregados e é comum dentre as empresas médias e
grandes a presença de sedes sociais para a realização de festas e jogos esportivos,
as chamadas ‘ recreativas’. Algumas destas, mais sofisticadas, apresentam
infraestruturas similares a de clubes ou colônias de férias.

d) Recreação escolar: as escolas, sobretudo as particulares, vêm se firmando como um


importante mercado de trabalho para os profissionais da recreação. A existência
de instalações recreativas ociosas, carente de programações, tanto para a externa
como interna, torna o segmento um importante captador de mão de obra.

e) Recreação turístico-hoteleira: tal setor é bastante conhecido e envolve todos


aqueles que atuam na programação e operacionalização das atividades de lazer
nos hotéis de lazer e resorts. Parte das oportunidades de trabalho é sazonal,
concentrando-se nas férias e nos feriados prolongados. Os hotéis de negócios
também vêm demandando profissionais de recreação, pois vários eventos
(feiras, congressos, convenções) necessitam de pessoal para organizar atividades
paralelas para os participantes, cônjuges e filhos.

f) Recreação ecológica: uma modalidade de recreação turística assume uma


fisionomia diferenciada por destacar o contato intenso com a natureza.

g) Recreação hospitalar: os hospitais vêm nos últimos anos percebendo a


necessidade de melhorar a atmosfera do ambiente hospitalar, tornando-a
mais lúdica e atraente para os doentes e para os familiares que acompanham
os tratamentos médicos. Já existem indícios de que o ambiente mais acolhedor
e agradável contribui para a recuperação dos pacientes. Um exemplo dessa
modalidade são os chamados doutores da alegria.

70
TÓPICO 2 | RECREAÇÃO E LAZER

Mais uma vez, se apresentam de forma clara várias possibilidades de


atuação para os profissionais de lazer. Algumas pessoas quando pensam em
lazer e recreação não se atentam para as muitas opções. Outro fato que chama
atenção é que muitas vezes as atividades de recreação desenvolvidas são focadas
em atividades físicas, no movimento corporal. Existe uma série de opções para
divertir e ocupar o tempo disponível de crianças e adultos. Eis alguns exemplos
que poderiam ser melhor explorados:

• Oficinas de poesia.
• Oficinas e tour de fotografia (aproveitando a paisagem e espaços de lazer comuns
nos hotéis).
• Aulas de culinária.
• Aulas para aprender a preparar drinks.
• Oficinas sobre os ícones da Música Popular Brasileira.
• Oficinas sobre os principais talentos das artes plásticas no Brasil.
• Oficinas sobre como aproveitar melhor os passeios nas galerias e exposições de
artes.
• Oficina de introdução à musica clássica.
• Oficina sobre dicas de moda.
• Minicursos de automaquiagem.
• Minicurso para churrasqueiros.
• Minicurso sobre o uso de chás, ervas e temperos etc.

FIGURA 11 – AULA DE GASTRONOMIA – RECREAÇÃO COM CRIATIVIDADE

FONTE: MUNDO DAS TRIBOS, 2012.

71
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Alguns estabelecimentos de hospedagem se queixam da pouca adesão


por parte do público (principalmente entre os adultos) na programação de
lazer que o hotel oferece. Esse fato decorre de uma realidade na qual, muitas
vezes, os hóspedes já estão cansados entediados das atividades usualmente
oferecidas: alongamento, hidroginástica, dança, massagem, futebol e acabam
ficando por aí. Se o tempo estiver ruim, uma parcela dessas atividades já deixa
de ser oferecida.

É claro que nem sempre o recreador ou monitor de lazer terá condições


e conhecimento para abordar temas tão diversos. Mas existe uma série de
possibilidades, como por exemplo, chamar consultores externos especialistas
nos temas para realizar a atividade ou utilizar talentos internos que atuam no
próprio meio de hospedagem. Por exemplo, muitas cozinheiras possuem um vasto
conhecimento sobre o mundo dos sabores e aromas, assim como o próprio pessoal
do bar do hotel pode ser escalado para algumas oficinas.

Ainda que essas opções de lazer pouco praticadas representem um


custo, na realidade, para o hotel, esse tipo de despesa deve ser encarado como
um investimento, pois a programação de lazer é um grande diferencial em
estabelecimentos como os resorts e hotéis de lazer. É necessário sempre se atentar
para as características do público-alvo, tais como, nível de escolaridade, faixa
etária, nível de renda etc. para elaborar uma programação criativa e que seja capaz
de despertar o interesse dos hóspedes.

Imagine como é interessante para um turista estrangeiro poder tomar


contato de uma forma descontraída e agradável sobre os ícones da música nacional?
E ainda, estabelecer relações em um ambiente que incita a troca de ideias e o bate-
papo, que podem resultar em laços de amizade? Parece mais fácil puxar assunto
e trocar ideias sobre temas como música, arte, cozinha, vinhos do que nos antigos
moldes em que o primeiro contato já é o corpo a corpo, numa aula de salsa.

Ainda sobrevivem resquícios de estereótipos que confundem a atuação na


área de lazer com o simples oferecimento de uma série de atividades. Mas conforme
foi comentado na unidade anterior, vale reforçar que de certo modo, as atividades
de lazer são sempre culturais, em seu sentido mais amplo. Quer dizer, a escolha
por determinado tipo de atividade está direta e indiretamente condiciona à cultura
vivenciada. Por isso, a cultura não deve ser considerada somente como uma variedade
de linguagens, manifestações, mas também como um conjunto de valores, normas e
princípios que norteiam a vida em sociedade. (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003).

No contexto da hotelaria, o propósito de um serviço de recreação é oferecer


entretenimento e descontração aos hóspedes, de tal forma que eles se sintam bem
durante sua estada. Nas palavras de Negrini, Bradacz e Carvalho (2001, p. 49):

72
TÓPICO 2 | RECREAÇÃO E LAZER

Quando as pessoas se sentem bem num determinado local, tornam-


se mais disponíveis e ampliam consideravelmente suas relações
interpessoais. Quando isso ocorre, elas dão um significado todo especial
àqueles momentos, procurando revivê-los sempre que possível, já que
há uma tendência no comportamento humano de reviver tudo o que
causa prazer.

Nos meios de hospedagem, o planejamento das atividades lúdicas e de


lazer demanda um instrumento para sistematizar e divulgar as atividades que
serão oferecidas, a chamada programação. Na programação, são apresentadas
as relações de atividades, o local onde elas serão realizadas, o público a que se
destinam e o horário. É de bom tom inserir informações que possam ser relevantes
para o hóspede, como a duração da atividade e a roupa mais apropriada. Por mais
que pareça óbvio para alguns, sempre pode existir um ‘perdido’ que vá de calça
jeans para aula de alongamento ou com sua vasta, longa e rebelde cabelereira
solta na aula de culinária. Cabe ao responsável pela atividade pensar em todos
os detalhes que possam assegurar uma experiência mais agradável e harmoniosa
possível. Também é importante mencionar se as atividades são mantidas no caso
de mal tempo e outras informações que podem ser úteis. Lembre-se de que cada
hóspede possui personalidade diferente e alguns, por exemplo, podem deixar de
participar de alguma atividade por vergonha ou acanhamento em ligar para a
recepção e tirar alguma dúvida.

Outro ponto de suma importância é o cuidado na redação da programação,


para que não se cometam erros de grafia e concordância. Por mais que pareça
batido, sempre vale lembrar a relevância de revisar os textos e recordar que os
editores de texto, embora bastante úteis, não são suficientes para evitar escorregões
com a língua portuguesa. A programação deverá ser fixada e distribuída em pontos
estratégicos para que o hóspede tome contato com ela com antecedência suficiente
para se organizar para a atividade. Alguns hotéis de lazer costumam deixar uma
via da programação embaixo da porta no quarto do hóspede no período da noite,
para que ao despertar, ele possa planejar com sua família quais atividades serão
realizadas naquele dia.

Em síntese, a programação de lazer deve ter como finalidade (NEGRINI;


BRADACZ; CARVALHO, 2001):

a) Informar aos hóspedes as possibilidades de lazer disponíveis.

b) Buscar a participação livre e espontânea dos hóspedes nas atividades.

c) Contribuir para a construção de possibilidades de interação entre os hóspedes.

d) Criar uma atmosfera lúdica, sem discriminações de idade, sexo ou etnia.

e) Permitir uma avaliação constante dos serviços oferecidos.

73
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Com relação a esse último aspecto, é importante que se estabeleçam canais


de comunicação nos quais seja possível expressar a opinião sobre as experiências
vivenciadas e receber sugestões que permitam novos delineamentos no futuro.
Contudo, é necessário ser realista e entender que dificilmente as pessoas receberão
formulários espontaneamente. Se a equipe de gestão do hotel deseja ter um
retorno sobre as percepções dos clientes, é preciso incentivar o preenchimento dos
formulários, seja fazendo pequenos sorteios (de drinks ou doces, por exemplo) ou
fazer com que os participantes o preencham logo depois da atividade. Esperar que
formulários deixados no criado mudo do quarto sejam devidamente preenchidos
e amplamente devolvidos para a recepção é uma aposta otimista demais.

74
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu que:

• Recreação (do latim recreatio, recreationem) mantém ao longo dos tempos, o


sentido de atividade, que pode ser desenvolvida em distintos espaços sociais,
tais como a escola, a igreja, a família e o trabalho.

• Existem várias áreas para atuar na recreação entre elas: pública, comercial,
industrial, escolar, turístico-hoteleira, ecológica e hospitalar.

• As atividades de recreação devem ser criativas e não explorar somente a questão


física e desportiva.

• Ainda sobrevivem resquícios de estereótipos que confundem a atuação na área


de lazer com o simples oferecimento de uma série de atividades.

• O propósito de um serviço de recreação é oferecer entretenimento e descontração


aos hóspedes, de tal forma que eles se sintam bem durante sua estada.

• Nos meios de hospedagem, o planejamento das atividades lúdicas e de lazer


demanda um instrumento para sistematizar e divulgar as atividades que serão
oferecidas, a chamada programação.

75
AUTOATIVIDADE

1 Cite três áreas de atuação para o profissional de recreação.

2 Cite três possibilidades de atividades de lazer voltadas para hotéis, pouco


exploradas pelo setor.

3 Algumas empresas e organizações não valorizam a atuação do recreador.


Comente um dos motivos para esse fato.

4 Qual é a função do serviço de recreação nos meios de hospedagem?

5 Quanto à recreação hoteleira, no que consiste a programação?

76
UNIDADE 2
TÓPICO 3

ESPORTE E LAZER

1 INTRODUÇÃO
Grande parte da população em nosso país, quando opta por alguma
atividade corporal, não tem como finalidade o rendimento ou um desempenho
profissional, mas uma forma de se exercitar no tempo de lazer, fato que explicita a
relação direta que se estabelece entre esporte e lazer. (BRUHNS, 1997). Conforme
você aprendeu, o fenômeno do lazer abarca uma série de atividades diferenciadas,
de cunho recreacional, lúdico, artístico, cultural e esportivo.

Nesse tópico, vamos tratar da relação do esporte com o lazer, que de


acordo com o que foi visto, envolve as atividades esportivas realizadas nas horas
disponíveis, sem compromisso profissional. A categoria de esportes profissionais
pode se relacionar com o lazer, somente no sentido de ser um atrativo para o
turismo, como é o caso dos grandes eventos esportivos como as Copas Mundiais,
Olímpiadas e Corridas de Fórmula 1, por exemplo.

2 DISTINGUINDO ESPORTE E RECREAÇÃO


A recreação e o esporte são atividades que apresentam muitas
semelhanças por um lado, e por outro, resguardam suas singularidades. O jogo,
a dança, a ginástica e o esporte, ao serem tratados como atividades de lazer,
pressupõem que o conteúdo desses elementos, embora submetido a regras,
permite a alteração das mesmas pelos sujeitos envolvidos, ou seja, não exclui
adaptações se assim os envolvidos julgarem mais atraente. (BRUHNS, 1997).
Outro ponto relevante, é que as referidas atividades podem ser realizadas
por grupos que se formam por similaridades de interesses mais amplos. Por
exemplos, um grupo pode se configurar pelo apreço ao turismo de natureza
e como um desdobramento, passam a realizar a atividades de caminhadas,
montanhismos ou rafting. Ou seja, em alguns casos, mais do que a atividade
em si, o que é relevante para a realização de um ato de lazer é o contexto e as
relações sociais que acabam se formando.

Delineando distinções entre a área de recreação e educação física (voltada


aos esportes), Lüdtke (1984) realça:

a) Predomínio do motivo lúdico em oposição aos índices de resultado, baseado em


critérios de desempenho.

77
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

b) Ao invés de parâmetros fechados e permanentes, a ênfase deve ser em critérios


de livre escolha, discutíveis e substituíveis.

c) As formas sociais de participação precisam ser flexíveis e informais.

d) Para a realização das atividades, não é necessário que a equipe seja homogênea.

Conforme se pode notar, as atividades de lazer trabalhadas pela área de


educação física se focam na questão do lúdico e não da competição, no sentido de
busca pelo desempenho excelente. Ainda quanto às distinções entre o esporte de
alto rendimento e o lazer, Bruhns (1997) faz notar que o primeiro caracteriza-se
por regras rígidas, modelos, busca de rendimento, recordes, medalhas além da
superação física, enquanto as atividades lúdicas são marcadas pela espontaneidade,
a flexibilidade, a falta de comprometimento e a fantasia.

Outro traço marcante no esporte é que treinos fortes, além da busca da


adequação dos gestos técnicos e das táticas de jogo ou apresentação, significam
um processo de construção de novas possibilidades de tempo para o movimento
humano. Uma prova é o fato de que existem jogadas em inúmeros tempos, possíveis
de serem realizadas apenas com muito treinamento. (GEBARA, 1997).

3 BREVE HISTÓRICO SOBRE O ESPORTE


Buscando compreender os antecedentes históricos que explicam o
surgimento dos esportes no Brasil, Gebara (1997, p. 70) explica que para tanto, faz-
se necessário analisar as relações sociais e de trabalho existentes no início da era
industrial brasileira.

Novas relações sociais e uma nova sociedade alteraram


significativamente as máquinas e a medição do tempo. A máquina
e o relógio transformaram o universo das ações motoras, os homens
não mais definem seu potencial e habilidade muscular. Instrumentos
externos são introduzidos no sentido de avaliar mais racionalmente, ou
mais produtivamente, a atividade física do trabalhador. Está aí a chave
para compreendermos a constituição dos esportes modernos. Não se
trata de dizer que os jogos se esportivizaram e deixaram de existir;
os jogos, tanto como comunidades indígenas primitivas, continuam
existindo e se reproduzindo. O que se está argumentando é que com
a existência de mecanismos externos de controle, e de treinamento
muscular, se tornou possível tanto a invenção de modalidades esportivas
quanto a esportivização de jogos já existentes.

É desnecessário frisar que os esportes são muito antigos e não demandam


a presença de equipamento de medição para que aconteçam. Muitas modalidades,
por exemplo, adotam a contagem de pontos ou gols para determinar o início
e o fim das partidas. O que se pretende comentar é que o advento tecnológico

78
TÓPICO 3 | ESPORTE E LAZER

exerce influência importante sobre os esportes, tanto que na atualidade, as novas


possibilidades tecnológicas são responsáveis por tornar os esportes modalidades
de entretenimento. Uma amostra são as ferramentas utilizadas como tira-teima nos
jogos de futebol, com uma série de animações gráficas para mostrar, por exemplo, a
distância de um determinado lance e se esse estava impedido ou não. Tais aparatos
cativam os espectadores e ajudam até leigos entender melhor as regras do jogo e
passam a ficar mais motivados para acompanhar as partidas.

Outro elemento importante para a análise do esporte sobre o prisma do lazer


é não dissociar o esporte da cultura de forma dicotômica, como duas realidades
paralelas. Na realidade, as modalidades esportivas situam-se dentro de um aparato
cultural mais abrangente. A este respeito, Gomes e Pinto (2009) mencionam que
algumas atividades, como o futebol, por exemplo, remontam contextos diferentes
do atual quadro nacional. Isto é, o futebol foi ressignificado no Brasil, dada a base
cultural marcada pela multiplicidade étnica existente em nosso território. Também
as manifestações como o samba e a capoeira cujo surgimento está relacionado
ao Brasil sendo que ambas realçam a diversidade rítmica e corporal apreciadas
inicialmente pelos escravos, as quais passaram a fazer parte do gosto cultural de
vários grupos socioculturais.

Ainda quanto ao futebol, este é um exemplo bem nítido de como uma


mesma atividade pode ser considerada ou não uma forma de lazer. O futebol pode
ser vivenciado como uma brincadeira, conhecida na linguagem coloquial como
“pelada”. Estas partidas são jogadas com os amigos e quando crianças, muitas vezes
são disputadas na própria rua. Na fase adulta, é comum a formação de confrarias
e grupos que se reúnem semanalmente para jogar futebol, colocar o papo em dia e
tomar algumas cervejas. Por outro lado, o futebol profissional cresce cada vez mais
e passa a movimentar um mercado econômico com cifras milionárias.

Retomando a questão dos aspectos históricos que permitem compreender o


desenvolvimento dos esportes no Brasil, é indispensável discutir o papel da criação
do Ministério dos Esportes no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva no ano de 2003. O referido ministério é responsável por construir uma Política
Nacional de Esporte além de desenvolver o esporte de alto rendimento. Ademais,
a entidade trabalha com ações de inclusão social por meio do esporte, visando
garantir à população brasileira o acesso gratuito à prática esportiva, qualidade de
vida e desenvolvimento humano. (BRASIL, 2012).

No contexto do ministério do esporte, compete ao Conselho Nacional do


Esporte - CNE a deliberação, normatização e assessoramento das questões voltadas
ao esporte nacional, tendo por objetivo buscar o desenvolvimento de programas
que promovam a massificação planejada da atividade física para toda a população,
bem como a melhoria do padrão de organização, gestão, qualidade e transparência
do desporto nacional. (BRASIL, 2012).

79
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Complementando a compreensão sobre o contexto político do esporte e


do lazer, convém destacar a atuação da Secretaria Nacional de Desenvolvimento
de Esporte e Lazer do ministério dos esportes que vem desenvolvendo estratégias
que almejam garantir a elaboração de politicas públicas inclusivas de esporte
recreativo e lazer no país. (BRASIL, 2012).

Busca contribuir com a democratização de acesso da população brasileira


às práticas lúdicas no esporte e no lazer, pautadas em quatro estratégias centrais de
ação: (1) pesquisa: realizando estudos sobre temas prioritários para a qualificação
da política inclusiva do esporte e lazer, fomentando também a pesquisa de base
científica; (2) ação educativa: baseada na formação continuada dos gestores,
legisladores e profissionais que atuam na área de esporte e lazer e que contribuem
na formulação e implantação de políticas públicas para o segmento, em nível
municipal, estadual e federal; (3) informação: realizando investimentos na política
de documentação, informação e preservação do patrimônio histórico do esporte
e lazer com o intuito de subsidiar e qualificar políticas públicas, sistematizando e
difundindo informações relevantes e, por último; (4) gestão compartilhada: através
da consolidação de redes nacionais de gestores, legisladores, agentes comunitários
e demais parceiros, fomentando uma atmosfera favorável ao desenvolvimento do
setor de esporte e lazer.

Como você pode notar, embora o lazer não disponha de um ministério


específico para o segmento, a atividade é amparada por ações políticas no âmbito
do esporte, além dos ministérios do turismo e da cultura, dependendo do enfoque
que pretende trabalhar.

Existem vários desafios a serem superados pelos gestores e legisladores


responsáveis pela questão do esporte e do lazer no Brasil. Segundo pesquisa
do IBGE (2012), é notável a carência de equipamentos de esporte e lazer nos
municípios brasileiros. De acordo com o estudo, no ano de 2003, as participações
médias nacionais dos municípios que possuíam ginásios e estádios de futebol, de
propriedade e/ou gestão da prefeitura, em 31.12.2003, foram de 54,2% e 27,7%,
respectivamente. Ademais, dentre as regiões, o mesmo estudo indica que há de se
destacar que a Sul e a Centro-Oeste foram as que apresentaram um maior número
de municípios em que a prefeitura era a proprietária e/ou gestora dos ginásios,
atingindo participações de 75,5% e 82,3%, respectivamente.

Observe maiores detalhes do estudo na tabela apresentada na sequência:

80
TÓPICO 3 | ESPORTE E LAZER

TABELA 1 – MUNICÍPIOS E COMPLEXOS ESPORTIVOS, TOTAL, E NÚMERO DE EQUIPAMENTOS


E INSTALAÇÕES ESPORTIVAS LOCALIZADOS NOS COMPLEXOS ESPORTIVOS, POR TIPO
DE EQUIPAMENTO E INSTALAÇÃO ESPORTIVA EXISTENTE E EM CONSTRUÇÃO EM 31.12,
SEGUNDO CLASSES DE TAMANHO DA POPULAÇÃO DOS MUNICÍPIOS, GRANDES REGIÕES E
UNIDADES DA FEDERAÇÃO – 2003

Número de equipamentos e instalações esportivas


localizados
nos complexos esportivos
Tipo de equipamento e instalação esportiva existente e
Classes de tamanho
Total em construção em 31.12
da população dos Total
de
municípios, de Equipamento esportivo
complexos
Grandes Regiões e municípios
esportivos
Unidades da Federação Ginásio Estádio de futebol Complexo aquático

Em cons- Em cons- Em cons-


Existente Existente Existente
trução trução trução

Total 5 557 744 290 23 48 7 73 2


Classes de tamanho da
população
Até 5 000 hab. 1 366 50 17 1 1 - 3 -
De 5 001 a 20 000
hab. 2 655 120 49 6 7 2 7 1
De 20 001 a 50 000
hab. 989 127 58 4 16 1 4 -
De 50 001 a 100 000
hab. 309 102 51 4 6 3 8 -
De 100 001 a 500 000
hab. 205 189 72 6 15 1 25 1
Mais de 500 000 hab. 33 156 43 2 3 - 26 -
Grandes Regiões e
Unidades da Federação

Norte 449 24 6 3 1 1 - -
Rondônia 52 - - - - - - -
Acre 22 2 1 1 - - - -
Amazonas 62 6 1 - - - - -
Roraima 15 3 - 1 - - - -
Pará 143 8 4 1 1 1 - -
Amapá 16 4 - - - - - -
Tocantins 139 1 - - - - - -

Nordeste 1 790 33 13 1 5 - - -
Maranhão 217 - - - - - - -
Piauí 222 - - - - - - -
Ceará 184 9 1 - 2 - - -
Rio Grande do Norte 165 4 2 - 2 - - -
Paraíba 223 2 1 1 - - - -
Pernambuco 185 7 4 - - - - -
Alagoas 102 - - - - - - -
Sergipe 75 7 4 - 1 - - -
Bahia 417 4 1 - - - - -

Sudeste 1 668 495 178 11 28 3 66 2


Minas Gerais 853 128 36 5 6 3 2 -
Espírito Santo 78 1 - - - - - -

81
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Rio de Janeiro 92 28 6 3 - - - -
São Paulo 645 338 136 3 22 - 64 2

Sul 1 188 155 82 6 11 2 7 -


Paraná 399 70 24 3 4 1 7 -
Santa Catarina 293 34 29 - 4 - - -
Rio Grande do Sul 496 51 29 3 3 1 - -

Centro-Oeste (4) 462 37 11 2 3 1 - -


Mato Grosso do Sul 77 11 2 1 1 1 - -
Mato Grosso 139 11 2 1 - - - -
Goiás 246 15 7 - 2 - - -
                 

FONTE: IBGE – Perfil dos Municípios Brasileiros – Esporte 2003.

A realização de mapeamentos que retratem a realidade dos equipamentos


de esporte e lazer é fundamental para nortear o desenvolvimento de políticas e
ações de gestão nos níveis federal, estadual e municipal, pois muitas vezes, não
existem informações suficientes para delinear cenários e estabelecer quais ações
devem ser prioritárias.

4 ESPORTE, TURISMO E LAZER


Para finalizar o debate sobre o tema esporte, o qual muitos vezes não recebe
a devida atenção por parte dos gestores de turismo. Defende-se o argumento
que o esporte, lazer e turismo podem compor uma mesma equação, permitindo
alternativas de lazer completas e especializadas. Leia o fragmento da matéria
publicada na revista Veja e observe essa nova tendência:

FÉRIAS COM FÔLEGO

Bettina Monteiro

Subir morro, andar até fazer bolhas nos pés, esfolar-se, arrepiar-se de medo
e acabar o dia esgotado numa cama nada confortável não são atividades geralmente
associadas a férias ideais. No entanto, cada vez mais brasileiros alistam-se nas
fileiras do turismo de aventura, exatamente para passar por essas desventuras.
Todo mundo sabe que corpo cansado dá a agradável impressão de vitória sobre
a vil matéria. E que, à adrenalina liberada diante de um penhasco, segue-se uma
incrível sensação de prazer. Mas o motivo mais contundente para tanta gente
passar maus bocados por livre e espontânea vontade não é a bioquímica, e sim o
cenário. Só o turismo de aventura leva a algumas das paisagens mais excepcionais
do Brasil. Muitas inatingíveis para quem não se dispõe a padecer um pouquinho na
Terra antes de atingir o paraíso, que pode estar logo ali, no alto de uma montanha
ou no fundo de uma caverna.

82
TÓPICO 3 | ESPORTE E LAZER

A visão mais extasiante da Chapada Diamantina é conquistada de cima


daqueles morros de pedra íngremes nas laterais e planos no topo, típicos da região.
Para chegar ao cume do mais visitado deles, o Morro do Pai Inácio, a partir da
cidade colonial de Lençóis, percorrem-se 22 quilômetros, num carro sacolejante
ou num cavalo galopante, para depois seguir a pé, na vertical, por mais uns vinte
minutos. A recompensa é estar a 1.240 metros de altitude e poder admirar, em
360 graus, um imenso campo verde (a Chapada é maior que a Holanda) enfeitado
por chapadões, vales, cânions, rios, cavernas e lagos. Em algumas das mais de 200
cavernas da região, basta uma lanterna para extasiar-se diante das estalactites e
estalagmites. Na maioria, porém, é preciso recorrer a estacas, cordas e coragem. O
fotogênico Poço Encantado, por exemplo, só pode ser apreciado por quem topa se
enfiar numa caverna escura auxiliado por uma corda. Lá dentro, o visual parece
uma alucinação, especialmente entre maio e setembro, quando os raios solares
entram pela claraboia e tornam ainda mais deslumbrantemente azuis a água e as
paredes calcárias da gruta. Sem se molhar, dá para enxergar o fundo do poço, a 60
metros de profundidade.

Em 2001, 150.000 pessoas tiveram experiências fantásticas como essa na


Chapada Diamantina. E não foram apenas atletas com músculos de aço nem
malucos sequestrados pelo desejo de comunhão total com a natureza. Para encarar
o turismo de aventura basta ter um pouco de preparo físico e muito, muito bom
humor para enfrentar distâncias, poeira e, eventualmente, um travesseiro duro.
Em geral, ninguém reclama. No turismo de aventura, a natureza não é apenas
admirada, é desafiada.

Férias de aventura perfeitas envolvem o uso de mochila, capacete,


mosquetão. No mínimo, um canivete e um cantil. E, além de equipamentos,
jargões. Descer pela cachoeira pendurado em uma cinta e uma corda chama-
se rappel. Atirar-se para o nada, de uma árvore, pedra ou cascata, com uma
cinta presa a um sistema de cordas e roldanas tem o nome de tirolesa. Andar de
bicicleta em terreno acidentado, mountain bike. A região de Brotas, no interior
de São Paulo, é o lugar onde todas essas peripécias são organizadas de maneira
mais sistemática. Ali, cada queda-d’água, cada morro, cada pedra é desafiada.
Nos feriados e fins de semana, o principal rio dos arredores, o Jacaré-Pepira, fica
coalhado de boias (boia-cross) e botes infláveis (rafting) cor de laranja dirigidos
por aventureiros com colete e capacete igualmente coloridos. O rappel é feito
em penhascos e cachoeiras, quase sempre com mais de 40 metros de altura. As
agências locais oferecem cerca de quarenta atrações. A dose de adrenalina varia
da cavalgada em noite de Lua cheia ao arvorismo, uma mistura de gincana com
exercícios militares entre a copa das árvores.

O turismo de aventura fez com que Brotas passasse dos dois hotéis que tinha
dez anos atrás para vinte. Hoje a cidade recebe 100.000 turistas por ano. O modelo
deu tão certo que vem sendo copiado. Basta a geografia colaborar. No Parque
Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, os cânions são percorridos
a pé e de balão. No Vale do Itajaí, em Santa Catarina, as agências locais já oferecem

83
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

rafting no Rio Itajaí-Açu. No Paraná, os turistas aventuram-se em caminhada,


rappel e ciclismo no Cânion Guartelá, o sexto do mundo em extensão. Em Itacaré,
na Bahia, os nativos tornaram-se guias de trilhas pelas serras encostadas no mar,
de rafting pelos rios íngremes e de rappel nas cachoeiras. O espetáculo da natureza
costuma conquistar até os mais renitentes sedentários.

FONTE: REVISTA VEJA, 2012.

84
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você viu que:

• Grande parte da população em nosso país, quando opta por alguma atividade
corporal, não tem como finalidade o rendimento ou um desempenho profissional,
mas uma forma de se exercitar no tempo de lazer.

• O jogo, a dança, a ginástica e o esporte, ao serem tratados como atividades de


lazer, pressupõem que o conteúdo desses elementos, embora submetido a regras,
permite a alteração das mesmas pelos sujeitos envolvidos.

• O esporte de alto rendimento caracteriza-se por regras rígidas, modelos, busca


de rendimento, recordes, medalhas além da superação física.

• As atividades lúdicas são marcadas pela espontaneidade, a flexibilidade, a falta


de comprometimento e a fantasia.

• As modalidades esportivas situam-se dentro de um aparato cultural mais


abrangente.

• A criação do Ministério dos Esportes em 2003 foi de suma importância para o


desenvolvimento do setor no Brasil.

• Esporte, lazer e turismo podem compor uma mesma equação, permitindo


alternativas de lazer completas e especializadas.

85
AUTOATIVIDADE

1 Como deve ser tratado o jogo, a dança, a ginástica e o esporte enquanto


atividades de lazer?

2 Cite três características do esporte de alto rendimento.

3 Cite três características fundamentais para uma atividade ser considerada


lúdica.

4 Esporte e cultura devem ser encarados como fenômenos totalmente


separados. Você concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta.

5 No âmbito federal, qual é a função do Ministério do Esporte?

86
UNIDADE 2
TÓPICO 4

O PLANEJAMENTO E AS POLÍTICAS
DE LAZER E TURISMO

1 INTRODUÇÃO
Tanto o turismo como o lazer precisa ser devidamente planejado para que
tais áreas possam se desenvolver cada vez mais. Neste tópico, vamos estudar os
elementos que compreendem o planejamento das políticas de turismo e lazer.

2 A POSSIBILIDADE DAS POLÍTICAS DE LAZER E TURISMO


Para iniciar o debate sobre a questão das políticas de lazer e turismo, convém
revisitar o conceito de política. Conforme vimos na disciplina de Teoria Geral do
Turismo, o significado de política deriva do adjetivo pólis compreendido como
tudo aquilo que se refere à cidade e, por conta disso, o que é urbano, civil, público,
e até mesmo sociável e social. Explica Bobbio et al., (2000) que o termo política
foi usado durante séculos para qualificar principalmente obras relacionadas ao
estudo do conjunto de atividades humanas que se refere de algum modo às coisas
do Estado.

Para Dias (2005) o termo política refere-se ao conjunto de atividades que


tem como referência o Estado, seja como sujeito, quando desempenha seu poder em
determinado território, impondo ações através de seu poder coercitivo, ou, quando
é objeto de ações em que ele é o alvo preferencial, visando a uma mudança de suas
ações, por exemplo. A política envolve as práticas coletivas e cotidianas, articulada por
valores, objetivos e desafios individuais e coletivos atrelados ao projeto de sociedade
em determinado momento histórico. (GOMES; PINTO, 2009).

Conforme já estudamos, na atividade política, a pólis (o Estado) é algumas


vezes o sujeito, em ocasiões na qual a política tem como tarefas ordenar ou proibir
alguma coisa com efeitos vinculadores para todos os membros de um grupo social
específico, o exercício de um domínio exclusivo sobre determinado território. Em
outros casos, a pólis é objeto, quando são estabelecidas na esfera da política ações como
a conquista, a manutenção, a defesa, a ampliação entre outras. (BOBBIO et al., 2000).

Muitas vezes, existe uma expectativa e um discurso utópico em transferir


para a economia de mercado problemas de caráter social. No turismo, ocorre, muitas

87
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

vezes, uma leitura distorcida e equivocada sobre as possibilidades e os limites da


atividade turística. Conforme já estudamos na disciplina Teoria Geral do Turismo,
é indiscutível a contribuição do turismo para o incremento da economia, seja local,
nacional ou internacional, graças à geração de empregos diretos e indiretos, ao
efeito multiplicador do turismo, a balança de pagamentos entre outros elementos
da cadeia de valor do turismo. Contudo, é equivocado e imaturo pensar o turismo
como uma espécie de panaceia, pois é sabido que a prática do turismo é constituída
de uma estratégia de desenvolvimento exitosa, contemplada por vários aspectos,
tais como: a questão do planejamento e da análise dos impactos sociais, culturais e
ambientais. Em suma, não se trata de relações simplistas e diretas.

Raciocínio semelhante ocorre com a questão do lazer, especialmente no


âmbito das políticas públicas, nas quais é corrente a elevação do lazer à condição
de redentor dos problemas sociais, de tal modo, que não é raro, nos discursos
políticos, a carência de lazer nos centros urbanos, ser encarada como o principal
motivo para o aumento da marginalidade, do aparecimento da população de rua,
do aumento no número de usuários de drogas, entre outros. (ZINGONI, 2002).

Tratando da questão do papel do Estado no turismo, Dias (2005) faz lembrar


que o turismo é uma atividade dinâmica, capaz de gerar tanto efeitos positivos
como negativos e, nesse sentido, é necessário frear a avidez de lucro para que
seja possível desenvolver a atividade de modo sustentável. Outra contribuição do
Estado que pode ser apontada, diz respeito à relevância dos bens públicos, tanto a
infraestrutura, a segurança e diversos recursos naturais e culturais que dependem
diretamente do estado. Ademais, compete à administração pública cuidar da
acessibilidade, salubridade, beleza, segurança entre várias outras qualidades das
cidades e dos recursos turísticos em si.

Como faz notar Lobato (2006, p. 304), “na formulação de uma política
interagem mutuamente interesses diversos, representados por vários setores,
entre eles o Estado”. Bramante (1997) explica que a elaboração de políticas de lazer
demanda do gestor a utilização de estratégias de grande complexidade. Na prática,
o que se tem observado, seja em instituições públicas (prefeituras e secretarias, por
exemplo) ou em organizações privadas (hotéis e clubes recreativos, por exemplo)
é um “cardápio” de atividades de lazer, isto é, uma oferta de eventos totalmente
desconectados entre si e em relação a uma macropolítica que determine as metas
e objetivos de uma dada instituição.

Para evitar qualquer equívoco de entendimento, vale reforçar os conceitos


de setor público, semipúblico, semiprivado e privado, baseado na categorização
de Bramante (1997):

a) Setor público: envolve as organizações ligadas ao governo municipal, estadual


e/ou federal, que oferecem atividades gratuitas por natureza ou com custo
simbólico, acessível a toda população e sem o objetivo de reter lucros.

88
TÓPICO 4 | O PLANEJAMENTO E AS POLÍTICAS DE LAZER E TURISMO

b) Semipúblico: é composto por entidades de direito privado, porém com


características de atendimento semelhantes à esfera pública. No Brasil, no campo
do lazer, o SESI e o SESC são exemplos emblemáticos desse tipo de categoria.

c) Semiprivado: englobam as entidades sem fins lucrativos e que dispõem de


um estatuto que limita a participação. É o caso dos clubes sociais e recreativos
existentes em várias cidades do país, nos quais somente os sócios podem acessar
as áreas de lazer e as facilidades oferecidas.

d) Privado: são os empreendimentos do segmento de lazer que funcionam mediante


o pagamento para o desfrute de determinado bem ou serviço e que possuem
como principal finalidade a obtenção de lucros financeiros.

Gomes e Pinto (2009) sublinham que o SESI e o SESC foram criados


em 1946 a partir da iniciativa de empresários brasileiros, objetivando ampliar
a prestação de serviços sociais, como educação, saúde e lazer, destinados
aos trabalhadores e seus familiares. Especificamente o SESI, atende aos
colaboradores (em conjunto com seus dependentes) que atuam na indústria e
o SESC, por sua vez, é voltado para os trabalhadores do comércio. Trata-se de
instituições privadas sem fins lucrativos focada em interesses setoriais. Tanto
uma como outra, são mantidas com contribuições compulsórias calculadas a
partir da folha de pagamento dos funcionários, possuindo sedes em diversas
cidades do Brasil.

No âmbito das organizações políticas, é notável o papel complementar


das Organizações não Governamentais (ONGs). Trata-se de associações do setor
privado, mas que não visam a lucro. Elas estão inseridas no chamado Terceiro
Setor. Englobam um conjunto numeroso de organizações de variados tamanhos
e níveis de intervenção. Sua finalidade é atender demandas sociais e assumem
um papel complementar ao Estado, isto é, realizando ações de cunho público não
estatal. (DIAS, 2005).

Dias (2005) explica que sob o ponto de vista da sociedade civil, as ONGs
configuram uma forma de participação impessoal, constituindo-se por grupos de
pessoas a partir de uma perspectiva de cidadania atuante. Existem ONGs focadas
em diversos interesses, como o turismo, o meio ambiente, o lazer, a violência
doméstica entre várias outras.

Em suma, tendo em vista os aspectos políticos inerentes ao tema do


lazer, Melo e Alves Júnior (2003) asseveram que o lazer precisa ser analisado
como fenômeno social moderno, inserido no quadro das tensões entre as classes
sociais, reconhecendo-o como uma necessidade social e motivo de intervenção
de políticas públicas.

89
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

2.1 OPERACIONALIZAÇÃO DE POLÍTICAS DE TURISMO


E LAZER
Sob o ponto de vista técnico, a elaboração de políticas públicas de turismo e
lazer pressupõe algumas etapas fundamentais atreladas à função do planejamento.
Um planejamento de qualidade permite superar o improviso, projetar o futuro,
focar nos resultados, ajuda a evitar problemas e serve tanto para o público interno
como externo. Baseado em Dias (2005), é possível elencar quatro fases principais
do processo de planejamento:

a) Diagnóstico: engloba os procedimentos de coleta de dados, estudo das


informações obtidas e descrição do quadro atual. É uma espécie de fotografia
que retrata a realidade em determinado momento, apresentando de forma
quantitativa e qualitativa os problemas e tendências atuais.

b) Análise: visa identificar possíveis alternativas para os problemas encontrados,


formulando hipóteses e propondo diferentes modelos de desenvolvimento.
Após a identificação das alternativas mais pertinentes e adequadas, seleciona-se
o modelo mais desejável para ser implantado.

c) Elaboração do plano: acontece após a escolha do modelo de desenvolvimento e


no mesmo são indicados os critérios e diretrizes gerais, que deverão ser seguidos
e respeitados nos planos setoriais e projetos específicos.

d) Implantação do plano: é a última fase do processo de planejamento e consiste


na execução e operacionalização do plano elaborado. Vale lembrar que a tarefa
de planejar pressupõe esforços contínuos, no sentido de controlar, monitorar e
avaliar o andamento do plano, programa ou projeto.

A questão da participação é um dos elementos que vem sendo incorporada


na elaboração de políticas públicas, embora certamente se reconheça a necessidade
de aprimorar e superar dificuldades que ainda permeiam questão. O que se
percebe na prática é que os modelos atuais de gestão pública são reticentes à
democratização, prevalecendo o modelo desenvolvido por técnicos (tecnocrático)
e conservador (o Estado no controle). (RUECKERT; LENZ; BASTOS, 2011).

É evidente que as etapas básicas do planejamento são bastante genéricas


e úteis para se pensar o planejamento de empresas, organizações, do turismo
e até mesmo na esfera pessoal. No âmbito das políticas públicas, o processo
de planejamento orienta-se a partir de três ferramentas principais: o plano, o
programa e o projeto.

O plano é instrumento normativo e político, que expressa as decisões


e intenções de caráter mais geral, as diretrizes e as perspectivas de um processo
de mudança, uma proposição orçamentária e o modelo de alocação de recursos.
O programa, por sua vez, é um desdobramento do plano em unidades menores,

90
TÓPICO 4 | O PLANEJAMENTO E AS POLÍTICAS DE LAZER E TURISMO

contemplando setores diferenciados ou agrupando ações com os mesmos objetivos.


Por fim, o projeto é um empreendimento ou ação planejada que consiste em conjunto
de atividades inter-relacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar objetivos
específicos dentro dos limites de tempo e orçamento dados. (ANGIONI, 2008).

Tanto entidades públicas como privadas trabalham com a elaboração de


projetos voltados para o lazer. E os projetos podem atender a diferentes finalidades,
como, por exemplo, a criação de um programa de lazer para a população idosa de
determinado município ou um projeto que pretenda realizar um passeio ciclístico
no aniversário da cidade. Ainda que os projetos possam atender a diferentes
finalidades, de modo geral, é possível apresentar elementos comuns que os
caracterizam. Todo projeto surge a partir do apontamento de uma problemática,
que incita ideias de solução, as quais demandam a realização de um conjunto
de ações, empreendidas por um grupo de pessoas que precisam de recursos
financeiros para tanto (na maioria das vezes existe algum gasto envolvido).

De modo geral, os projetos costumam ser elaborados a partir das seguintes


etapas:

• Justificativa.
• Objetivos.
• Público alvo.
• Metas.
• Procedimentos Metodológicos.
• Cobertura Espacial e Localização.
• Cronograma.
• Equipe Responsável.
• Orçamento.
• Monitoramento.

É evidente que existem formatos diferentes e que cada entidade opta pela
estrutura de projeto que melhor lhe serve sob o ponto de vista legal e operacional.

91
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você viu que:

• O termo política refere-se ao conjunto de atividades que tem como referência


o Estado, seja como sujeito, quando desempenha seu poder em determinado
território, impondo ações através de seu poder coercitivo, ou, quando é objeto
de ações em que ele é o alvo preferência.

• Além das organizações públicas e privadas, existem as chamadas semipublicas


e semiprivadas.

• O SESI e o SESC foram criados em 1946 a partir da iniciativa de empresários


brasileiros, objetivando ampliar a prestação de serviços sociais, como educação,
saúde e lazer, destinados aos trabalhadores e seus familiares.

• As organizações não governamentais (ONGs) configuram uma forma de


participação impessoal, constituindo-se por grupos de pessoas a partir de uma
perspectiva de cidadania atuante.

• Sob o ponto de vista técnico, a elaboração de políticas públicas de turismo e lazer


pressupõe algumas etapas fundamentais atreladas à função do planejamento,
são elas: diagnóstico, análise, elaboração e implantação do plano.

• No âmbito das políticas públicas, o processo de planejamento orienta-se a partir


de três ferramentas principais: o plano, o programa e o projeto.

92
AUTOATIVIDADE

1 O que é uma organização semiprivada?

2 O que é uma organização semipublica?

3 Qual é a função das Organizações não Governamentais – ONGs?

4 Cite três funções do planejamento.

5 No contexto do planejamento, qual é a função da etapa de diagnóstico?

Assista ao vídeo de
resolução da questão 2

93
94
UNIDADE 2
TÓPICO 5

LAZER E A QUESTÃO DOS


ESPAÇOS PÚBLICOS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos buscar elementos para refletir sobre de que modo o lazer
se relaciona com o espaço público. Para isso, há de se admitir que permaneçam as
preocupações debatidas na seção anterior. Política e utilização de espaços públicos
são temas que conectam entre si, pois existe uma grande discussão no que tange à
democratização dos espaços de lazer.

2 O ESPAÇO DO LAZER
O desenvolvimento do lazer ocorre sempre em um determinado espaço,
sobre o qual exerce influências e também é influenciado. Historicamente, os
espaços utilizados pela produção sempre foram considerados os mais relevantes.
Por “produção”, entende-se o ato ou efeito de criar alguma coisa, gerar algum
produto ou realizar uma tarefa ou aquilo que é elaborado pelo homem, associando
trabalho e capital. Nesse sentido, os espaços de produção permitem observar um
produto acabado, concreto e lucrativo, isto é, um espaço onde o ser humano quer
mostrar o seu potencial. (STUCCHI, 1997).

As atividades empreendidas no tempo impõem alterações na organização


estrutural do meio urbano, determinando modificações no tipo de construção e
na ocupação de tais áreas. No início do período de desenvolvimento industrial,
não havia distinções entre as áreas habitacionais, áreas de lazer e áreas industriais.
Nessa fase, o panorama urbanístico se apresenta homogêneo, de modo que na
medida em que as pessoas vão chegando, em busca de trabalho nas fábricas,
instalam-se no perímetro adjacente ou próximo a elas. (BACAL, 2003). Somente
posteriormente é que as cidades passam a se preocupar com os espaços de lazer.

No Brasil, um fato histórico marcante para a relação trabalho e lazer, tal


como o concebemos atualmente, foi o processo de urbanização. Essa urbanização
efetiva-se na década 1970, quando o censo demográfico passa a indicar uma
supremacia da população urbana (BRUHNS, 1997). Quer dizer, se a maioria das
pessoas passa a residir no perímetro urbano, elas irão demandar por atividades de
lazer e, portanto, seria necessário criar tais espaços.

95
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Em nosso país, a preocupação com os espaços urbanos de lazer surge


influenciada pela experiência norte-americana e, inicia-se nas cidades de
Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. As primeiras “praças de esporte” e
“centros de recreio” surgem no final da década de 20 e início da de 30, no bojo
da organização dos espaços públicos urbanos. (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003).
Convém apontar, que nesse momento histórico, a finalidade de tais espaços era
ajudar na manutenção da saúde e recuperação da força de trabalho, fato relevante
para um país que se industrializava naquele momento e sentia os impactos desse
processo, principalmente no que se referia à organização das cidades que cresciam
aceleradamente. (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003).

O interesse do Departamento de Cultura de São Paulo era bastante nítido


conforme fazem notar Gomes e Pinto (2009, p. 71):

[...] as forças morais e sociais da nação, dependiam, em parte, das


maneiras pelas quais os cidadãos aproveitavam as suas horas de
descanso. Assim, os programas de recreação desenvolvidos nos
parques procuravam despertar as novas gerações para a importância do
emprego do seu tempo livre em atividades saudáveis. Esses programas
colaboraram para consolidar os significados da recreação como
sinônimo de atividades diversas: jogos, exercícios ginásticos, música,
dança, leitura, poesia, dramatização, passeios e festivais, entre outros.

O espaço público, baseado em Silva (2009, p. 11), é a “área de uso comum


e posse coletiva, pertencente ao Poder Público e por ele gerenciado e fiscalizado”.
Um exemplo icônico de espaço público são as ruas. Trata-se de locais cujo acesso
não é restrito e por isso, são espaços de livre acesso, como é o caso das praças, por
exemplo. O espaço público pode ser destinado a várias atividades, funcionando
como um lugar comunitário que desencadeia relações sociais, quer dizer, além de
sua base física, o espaço público resguarda um suporte de significados comuns à
comunidade, pois é nos locais públicos que as pessoas se encontram.

Um dos desafios da área de planejamento urbano e gestão dos espaços


públicos relaciona-se com o fato de que não basta simplesmente alocar ou captar
recursos para a construção de espaços de lazer público, é necessário ter condições
para uma adequada manutenção do mesmo. No Brasil, é comum encontrar espaços
públicos de lazer deteriorados.

Outra problemática que permeia a questão dos espaços públicos, tais como
as praças, é que justamente por sua natureza que permite o acesso de todos, tais
espaços precisam lidar com uma séria de problemas inerentes à cidade, como a
violência, os moradores de rua, questões de iluminação, uso de drogas, pichação,
conflitos entre grupos etc.

Para que uma praça seja um bom espaço de lazer, é importante que
além dos atributos físicos e de infraestrutura, tais como bancos, iluminação,

96
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

manutenção e jardinagem dos canteiros, limpeza a população precisa se sentir


atraída e segura para frequentar tais espaços. Por tal motivo, a utilização das
praças relaciona-se com o nível de qualidade de vida da cidade em que está
situada, principalmente, com o padrão e características da população mais
próxima. Várias cidades vêm utilizando câmeras de monitoramento em áreas
públicas visando melhorar a segurança dos locais. Ademais, além da base
física das praças, é desejável que as prefeituras e organizações sociais elaborem
programações com atividade de lazer que possam ser realizadas nestes espaços,
para incentivar a sua utilização.

FIGURA 12 – PRAÇA CELSO RAMOS – FLORIANÓPOLIS (SC)

FONTE: Associação Floripa Manhã, 2012.

Dado às fragilidades que permeiam a gestão do espaço público, chegou-se


num estágio que foi necessário repensar este processo, visto que sua ineficiência
e ineficácia tornaram-se indiscutíveis mediante a exclusão evidente nas áreas
urbanas. Assim, a Constituição Federal de 1988, complementada pelo Estatuto
das Cidades, aprovado em 2001, estabeleceram diretrizes para a melhoria da
política urbana, tendo como proposta a democratização do planejamento e gestão
do espaço urbano via inserção da participação popular. (RUECKERT; LENZ;
BASTOS, 2011). Destacando o papel que cumpre o elemento participação no
planejamento urbano, Pereira (2007, p. 326) argumenta que a necessidade imposta
pelo Estatuto da Cidade de uma “plena participação dos diferentes agentes que

97
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

ocupam (disputam) o espaço urbano, mostra a necessidade de ir além de uma


simples busca de governança urbana”. Assim, Pereira (2007) explica, ainda, que
se torna necessário que o planejamento e a gestão se abram a todos e quaisquer
cidadãos e que as instituições locais busquem, mais do que a governança, o “bom
governo” das cidades.

Quanto ao uso e acesso aos equipamentos de lazer é possível afirmar que


todo equipamento está situado de algum modo, dentro de certa proximidade
de setores residências ou então é projetado para que determinada parcela da
população se desloque até os mesmos e além da construção dos equipamentos em
si, faz-se necessária a presença de uma política específica para nortear e fomentar
a utilização do mesmo, para que não se incorra no erro de deixar uma área de lazer
sem receber visitantes.

Stucchi (1997) corrobora nesse sentido pontuando que a frequência de uso


de determinado equipamento de lazer vai depender do local onde se situa e da
demanda pela facilidade ou dificuldade de acesso. Na prática, os equipamentos
podem estar no perímetro urbano ou rural, desde que existam condições de
transporte para a população que deseja chegar a eles.

Atualmente, metade da população mundial vive em áreas urbanas e até a


metade deste século quase todas as regiões serão predominantemente urbanas.
Praticamente todo o crescimento populacional do mundo durante os próximos 30
anos estará concentrado nas áreas urbanas. (ONU, 2012).

Contudo, convém mencionar que os critérios adotados para distinguir o


espaço rural e o espaço urbano podem variar de acordo com cada país, região
ou localidade. Tradicionalmente, a separação entre zonas rurais e urbanas
leva em conta as atividades produtivas e suas respectivas funções que as
caracterizam, e nesse sentido as cidades abrangem funções como: indústrias,
serviços, residências, centro político-administrativo, centro financeiro entre
outros. Por outro lado, as áreas rurais abrangem atividades de produção
primária, como agricultura e pecuária. Mesmo nesta concepção, os limites
entre o rural e urbano não são absolutos, admitindo, por exemplo, a presença
de zonas intermediárias, conforme trata Tulik (2003).

O tamanho e as características demográficas também são utilizados


como parâmetros classificatórios, sendo adotado, por exemplo, nos Estados
Unidos, no qual se enfatiza a dimensão populacional e onde aglomerados, com
mais de dez mil habitantes, são considerados urbanos. Na Índia e no Japão, é a
repartição da População Economicamente Ativa (PEA) que define o que é rural
ou urbano. (TULIK, 2003). Nesta sistemática, é o poder de consumo que baliza
a diferenciação.

98
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

É possível ainda, definir os espaços a partir do arcabouço institucional e legal


vigente, isto é, trata-se de uma base político-administrativa na qual a delimitação do
perímetro urbano é definida pelo poder-público. (TULIK, 2003). Este é o princípio
adotado no Brasil. É pertinente destacar que na realidade brasileira, a preocupação
com a delimitação do perímetro urbano está diretamente correlacionada à cobrança
de impostos, destacando-se: o Imposto Predial e Territorial (IPTU) cobrado pela
prefeitura e o Imposto Territorial Rural (ITR) arrecadado pelo Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Como consequências desta política,
resultaram alguns equívocos oriundos da ânsia de aumentar a arrecadação
tributária, de forma que em alguns casos, o perímetro urbano foi dilatado para que
houvesse uma maior arrecadação municipal, ainda que tais espaços apresentem
marcadamente traços agrícolas.

Nesse contexto, não há dúvidas que na dinâmica da sociedade moderna, o


espaço do lazer é preponderantemente urbano e neste espaço, vivenciam-se uma
série de problemas, conforme expressa Bruhns (1997):

a) Distanciamento das camadas menos favorecidas dos centros concentradores de


lazer.

b) A questão do transporte dificultando o acesso aos equipamentos de lazer.

c) O isolamento do homem numa sociedade que pouco incentiva o convívio social.

d) A iniciativa privada colocando-se à frente dos investimentos destinados ao lazer


transformando-o em uma mercadoria nem sempre acessível para a maioria.

Tendo em vista a insuficiência dos espaços públicos de lazer, atualmente,


os apartamentos já são planejados e construídos com áreas de lazer, e grandes
conjuntos residenciais ostentam grandes áreas verdes que buscam melhorar o
padrão de qualidade de vida dos seus moradores. Os mais sofisticados dispõem
ainda de piscinas, playground, quadras esportivas, casa de bonecas, academias
etc. (BACAL, 2003).

Muitas pessoas reagem contra as pressões da sociedade pós-moderna


criando um ambiente artificial que possa lhe oferecer algum tipo de proteção. A
tendência é que deslanche um planejamento urbanístico que preveja áreas verdes
em zonas periféricas, para que as populações urbanas possam efetuar evasões
periódicas, em busca de atividades e distrações distintas das suas atividades
habituais. (BACAL, 2003).

É inegável que existem várias dificuldades a serem superadas no que


tange à gestão dos espaços públicos de lazer. Ideias inovadoras vêm apontando
alternativas neste sentido, como a iniciativa argentina apresentada a seguir:

99
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Projeto “Praça Móvel” traz solução para espaços públicos carentes de


lazer

Para tornar um espaço agradável são instalados bancos, jogos, quadras


esportivas e plantas.

O argentino Manuel Rapoport observou que em Buenos Aires há muito


desperdício do espaço público e falta de áreas verdes para o lazer. Então,
desenhou um projeto chamado Praça Móvel, que pode servir de inspiração às
metrópoles com pouca arborização.

A partir do projeto, a cidade pode abrigar muitas praças de finais de


semana nos locais públicos. Para tornar um espaço agradável seriam instalados
bancos, jogos, quadras esportivas e plantas. Esta é uma solução criativa para
incentivar a população a sair de casa, praticar exercícios físicos ou apenas fazer
um passeio.

Rapoport descobriu que Buenos Aires possui 3,5 m2 de áreas de lazer por
habitante. Para se ter uma ideia da insuficiência, a Organização Mundial da
Saúde recomenda 15 m2. Mas, Rapoport não se intimidou com o fato das praças
e bosques urbanos estarem cada vez mais escassos, desta forma criou o projeto
das praças itinerantes. "Acredito que as praças móveis tenham um potencial
gerador de cidadania. Um local para encontros, descanso, dividir momentos,
para o esporte e o lazer, ou seja, para a saúde e o bem-estar", diz ele.

De acordo com o site TreeHugger Brasil, o projeto surgiu a partir de um


concurso da Philips chamado Livable Cities (Cidades Habitáveis, em português),
cuja proposta era aumentar a qualidade de vida no ambiente urbano. O designer
Rapoport então colocou no papel a ideia de fazer as instalações em ruas pouco
utilizadas pelos carros nos fins de semana e feriados.

O projeto já ganhou o segundo prêmio do concurso Livable Cities e recebeu


25 mil euros para colocá-lo em prática. Para que o modelo seja executado será
preciso unir a população e governos municipais para assim ser realizada a
montagem de outras praças móveis pelas ruas da cidade.
FONTE: Revista Exame, 2012.

3 INTERSETORIALIDADE NO LAZER
No setor público, a gestão das ações e dos equipamentos específicos para o
lazer depende de ações que necessitam de articulação entre as três esferas de poder,
pois o município depende do estado e deste depende da União. Nem sempre é
observada uma vontade política deliberada por parte dos dirigentes no que tange

100
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

às ações voltadas para o lazer. (STUCCHI, 1997). Por sua vez, o fenômeno turístico
reúne características, demanda uma permanente articulação entre o setor privado
e o público, e tal aproximação é indispensável. Nas palavras de Dias (2005, p. 140):

[...] o turismo implica uma permanente articulação entre o setor público


e o privado, sem a qual não ocorrerá uma atividade turística, ou ela
não será completa para o visitante. O produto turístico global cidade
compreende os espaços públicos (vias públicas, praças, parques etc.) e
as atividades privadas de atendimento do visitante (hotéis, restaurantes,
agências de viagem, transportes etc.).

No debate sobre as políticas públicas, a questão da intersetorialidade vem


tomando força nos últimos anos. Inojosa (2001, p. 4) define a intersetorialidade
como a articulação de saberes e experiências para o planejamento, a realização
de avaliação de políticas, programas e projetos, cujo fim é alcançar resultados
cooperativos em situações complexas. A despeito do assunto, Sposati (2006, p. 140)
entende a intersetorialidade “não só como um campo de aprendizagem dos agentes
institucionais, mas também como caminho ou processo estruturador da construção
de novas respostas, novas demandas para cada uma das políticas públicas”.

Tendo em vista as características típicas tanto do lazer como do turismo, as


ações intersetoriais oferecem pistas para se pensar em soluções para os setores dada
a insuficiência e ineficiência das ações desenvolvidas pelo Estado. Discorrendo
sobre a relação entre os setores públicos e privados de lazer, Trigo (2002) alerta
para a necessidade de superar antigas dicotomias, nas quais de um lado, o
esquerdismo arcaico defende cegamente qualquer atividade do setor público
e no outro extremo, visões pautadas em neoliberalismo distorcido, consideram
exclusivamente a iniciativa. Tais estereótipos são esvaziados de conteúdos e não
ajudam a compreendem a complexidade real da gestão do setor.

Não de pode adotar uma postura radical que considere a iniciativa


privada como a verdadeira panaceia ou o estado como legítimo redentor de
todas as mazelas sociais. Tanto o setor público como o privado apresentam
aspectos positivos e negativos. Observe um comparativo muito interessante
elaborado por Trigo (2002):

QUADRO 1 – COMPARATIVO
PRIVADO PÚBLICO

Menos burocracia Burocracia excessiva

Visa lucros Visa objetivos sociais

Continuidade de trabalho Eventual descontinuidade nas mudanças de governo

Gente qualificada Gente qualificada e não qualificada

101
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Mede-se por eficiência Mede-se pelo impacto político

Limitada pelas possibilidades de mercado Espaço para criar/inovar

Requer atualização Requer atualização

Pode ter mais capital Limitação de capital

Planejamento de metas Planejamento fragmentado

FONTE: TRIGO, (2002).

No âmbito do lazer, é comum a realização de ações que envolvem o setor


público e privado conjuntamente. Por exemplo, a discussão sobre a abertura
das lojas aos domingos pode envolver a legislação municipal, empresários,
empregados, sindicatos e a comunidade local. O debate sobre a programação
das quadras de esportes municipais também depende de vários fatores. Assim
também ocorre com clubes, centros comunitários ruas e praças. Para que esses
locais possam ser bem aproveitados é necessário fomentar iniciativas que
atendam às pessoas que frequentam os mesmos e que existam iniciativas que
procurem abrir novas possibilidades de lazer adequadas aos seus públicos.
(TRIGO, 2002).

Para exemplificar uma experiência de ação intersetorial no turismo, leia


um trecho do artigo Desafios intersetoriais no desenvolvimento do turismo: uma
leitura das parcerias em Blumenau, SC, escrito por Patrícia Gorni e Marialva
Dreher e publicado no Caderno Virtual de Turismo.

LEITURA COMPLEMENTAR

DESAFIOS INTERSETORIAIS NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO:


UMA LEITURA DAS PARCERIAS EM BLUMENAU-SC

Introdução

O turismo é uma atividade socioeconômica que promove o deslocamento,


interação e lazer das pessoas e, decorrente disso, movimenta organizações públicas
e privadas responsáveis pela oferta de atrativos e infraestruturas receptivas e
emissivas. Neste setor, a competitividade entre os destinos turísticos compostos por
várias tipologias de organizações (hotéis, transportadoras, restaurantes, lazer etc.),
exige gestão profissionalizada. E, sobretudo demanda articulação entre elas, uma
vez que esta atividade é organizada e comercializada em produtos compostos, que
sugerem participação nas decisões, como os roteiros turísticos. Por isso, é essencial

102
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

que as organizações tornem-se parceiras na condução de estratégias coletivas para o


fortalecimento da atividade em ampla escala que supere as questões particularizadas.
Dentre as estratégias, destaca-se a importância das parcerias intersetoriais, nas quais,
a cooperação entre os setores público, privado e terceiro setor pode representar uma
alternativa favorável à gestão e desenvolvimento do turismo.

Diante das vantagens obtidas com a maior integração entre os setores,


Junqueira (2004) aponta que as ações intersetoriais surgem como uma possibilidade
para a solução de problemas sociais que incidem sobre uma população em uma
determinada localidade. Nesse sentido, a intersetorialidade com o objetivo de
intervenção social exige a articulação de organizações e pessoas, estabelecendo um
conjunto de relações e constituindo uma rede, por meio da qual é possível integrar
e articular saberes e experiências.

Além de contribuírem para a resolução dos problemas sociais, as


estratégias intersetoriais favorecem a união de esforços entre os setores em
busca do fortalecimento de suas ações. De acordo com Austin (2001), várias
forças estão criando um ambiente de incentivo à cooperação intersetorial, tanto
no nível macro, quanto micro da sociedade e Fischer (2002) afirma que existe
um nível crescente de interação colaborativa entre os setores que tais alianças
podem ser bilaterais entre dois setores ou trilaterais, envolvendo os três setores
em parcerias privadas e públicas.

Perante isso, destacam-se neste trabalho as ações em conjunto que os setores


(público, privado e terceiro setor) promovem na busca pelo desenvolvimento
do turismo, que depende dos investimentos, especialmente do setor público e
do privado. Conforme Dias (2005, p. 140) “de qualquer modo que se aborde o
turismo, se trata sempre de uma combinação de atividades privadas, que atraem
consumidores que pressionam sobre uma oferta de bens, predominantemente
públicos.” Cabe ao Estado desenvolver políticas públicas que fomentem o turismo
e favoreça as localidades receptoras as condições básicas de infraestrutura
para receber os visitantes. O setor privado forma a oferta e se encarrega pelos
investimentos em bens e serviços que atendam às necessidades dos turistas, tais
como hospedagem, alimentação, transporte agenciamento, entre outros.

Com relação à colaboração do terceiro setor, no Brasil existem entidades


que atuam para combater a exploração sexual, as que oferecem capacitação para a
formação de mão de obra, as que se dedicam à proteção ambiental, os conventions
bureaux e outras. Contudo, de acordo com Pereira (2005), o foco de preocupação
da sociedade civil, no país, está principalmente voltado às questões referentes aos
problemas sociais, não se apresentando muito atuante no turismo, sendo que, a
gestão e controle das políticas de recursos públicos da atividade turística sempre
estiveram restritos à esfera do mercado e do Estado.

103
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

Geralmente, na atividade turística os três setores atuam de forma isolada,


no qual, as ações de parceria não ocorrem com tanta frequência, ou não se
encontram instituídas de maneira organizada e consolidada. Este fenômeno
reduz o valor político e operacional das decisões definidas em movimentos de
parceria que apresentam pouca credibilidade. Diante desta problemática, a
hipótese deste estudo fundamenta-se na crença de que as parcerias intersetoriais
podem contribuir de maneira mais ordenada com a cooperação e articulação entre
os setores favorecendo o desenvolvimento do turismo. Sendo assim, o objetivo
deste trabalho consiste em analisar a experiência de parceria existente entre as
organizações públicas, privadas e sociedade civil na condução do turismo de
Blumenau, SC, enfocando as organizações participantes do Núcleo de Turismo
Receptivo da Associação Empresarial de Blumenau (ACIB).

No Estado de Santa Catarina ocorrem outras iniciativas de parcerias vistas


em muitos projetos coletivos, em especial de captação e realização de eventos e
na promoção dos Roteiros Regionais que dependem do esforço dos setores na sua
consolidação. Por isso, acredita-se que o Núcleo Receptivo da ACIB, objeto deste
estudo, também pode tornar-se uma boa estratégia de ampliação das relações
intersetoriais em prol de um desenvolvimento mais participativo nesse setor.

Aportes teóricos

Conforme Goeldner, Ritchie e McIntosh (2002) a organização do turismo


envolve milhares de unidades e podem ser analisadas das seguintes maneiras: (a)
por função ou tipo de atividade, como regulamentadoras, comerciais, prestadoras
de serviços, pesquisadoras, fomentadoras, editoras, educadoras, e outras; (b)
geograficamente, podendo ser internacionais, nacionais, regionais, estaduais e
locais; (c) em termos de propriedade, como governamentais, não governamentais
e privadas; (d) por segmentos, como transportes, meios de hospedagem, agentes
de viagens, e outras e (e) por motivação, sendo com ou sem fins lucrativos. Neste
trabalho, as organizações turísticas são classificadas em: governamentais (públicas),
privadas e não governamentais (terceiro setor ou sociedade civil).

A oferta turística se constitui de tudo o que o local dispõe como seus recursos
naturais, culturais e artificiais, bem como os bens e serviços públicos e privados.
Sendo assim, o setor público exerce papel fundamental na atividade turística e de
acordo com Dias (2005) essa importância se dá principalmente por dois motivos:
(1) o turismo é uma atividade dinâmica que pode gerar efeitos tanto positivos
quanto negativos, sendo necessário, portanto, equilibrar o objetivo do lucro com sua
sustentabilidade econômica, ambiental e social; (2) o Estado é responsável por bens
públicos como a infraestrutura, segurança, recursos naturais, culturais e outros.

Dias (2005) concentra o papel do Estado no turismo em sete pontos


principais: (1) coordenação e efetivação de uma política de turismo; (2)

104
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

planejamento da atividade turística de maneira a atender aos interesses da maioria


da população de um país, estado ou município; (3) legislação e regulamentação
de normas codificadas no direito; (4) função empresarial na medida em que
investe em infraestrutura básica, além de ser também proprietário e responsável
por dirigir empreendimentos; (5) incentivador do setor privado, por meio de
empréstimos, incentivos fiscais e outros; (6) promotor do turismo social às
camadas sociais menos favorecidas, e (7) divulgação e promoção do turismo nas
regiões emissoras, considerada por Dias (2005) uma das mais importantes funções
da administração pública, em função de desempenhar o papel de coordenador das
diversas atividades voltadas para o turismo em seu território.

Acredita-se, no entanto, que apesar da relação proposta por Dias (2005)


oferecer uma compreensão geral do assunto, a mesma não esgota as possibilidade
das ações que são desenvolvidas pelo Estado em relação à atividade turística.
Destaca-se, conforme Wanhill (2002), que a extensão do envolvimento público
depende da filosofia econômica do governo. Os incentivos proporcionados pelos
governos, em prol do desenvolvimento do turismo, são os instrumentos usados
para concretizar os objetivos estabelecidos pela política de turismo no país.
Complementa que os incentivos políticos podem ser utilizados para corrigir as
deficiências do mercado e para assegurar a parceria entre o público e o privado.

[...] O setor público depende da participação da iniciativa privada, no


qual, por meio da cooperação conjunta, poderão fortalecer as ações para o
desenvolvimento da atividade turística. Beni (2004) defende que, para o setor
público, a parceria entre as empresas privadas é o único meio a curto e médio
prazo para sanar as limitações referentes à escassez de recursos financeiros e a
pouca disponibilidade de recursos humanos realmente especializados com amplo
conhecimento de seus setores por exemplo.

No que tange a participação do terceiro setor no turismo, este é constituído


por organizações que apoiam o Estado em suas ações frente ao desenvolvimento
da atividade turística. No Brasil, dentre essas entidades, identificam-se as que
atuam para combater a exploração sexual, as que oferecem capacitação para a
formação de mão de obra especializada para os meios de hospedagem, as que
se dedicam à proteção ambiental, para a inclusão social, os conventions bureaux,
que tem como objetivo principal a captação de eventos para uma determinada
localidade, e outras. (DIAS, 2005). [...].

Normalmente, cada setor age de forma isolada no cumprimento de suas


atividades, contudo, a colaboração intersetorial pode representar maior eficiência
na obtenção dos objetivos. A cooperação entre o Estado, mercado e sociedade
civil proporciona a troca de experiências e competências específicas de cada um
desses setores, contribuindo para a superação de problemas e criando novas

105
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

oportunidades. De acordo com Fischer (2002), a junção dessas atividades, apesar de


não ser uma tarefa simples, tem se mostrado enriquecedora, além disso, as alianças
estratégicas despontam como uma promissora alternativa para o fortalecimento
de uma sociedade democrática. [...]

Vale destacar, no entanto, que apesar dos benefícios gerados em tais


parcerias, Austin (2001) e Fischer (2002) chamam a atenção para as dificuldades em
seu estabelecimento e funcionamento em prol da obtenção de benefícios mútuos.
Pesquisas iniciais sobre as parcerias revelam alguns desafios que a gestão das alianças
intersetoriais enfrenta como: dificuldade de compartilhar o poder e o controle
nas decisões que envolvem as organizações aliadas; barreira encontrada para
compatibilizar culturas organizacionais distintas; falta de ferramentas gerenciais
voltadas a colaboração intersetorial, adequadas ao modelo de gestão.[...]

Metodologia

Para atingir o objetivo proposto e responder à problemática desta pesquisa,


dividiu-se o método em duas etapas: primeira exploratória seguida pela descritiva.
Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram: análise documental (atas,
projetos, relatórios etc.) e questionário composto por perguntas abertas e fechadas,
dividido em três blocos temáticos: perfil do entrevistado; parceria intersetorial
existente entre as organizações vincula das ao Núcleo de Turismo da ACIB
(alinhamento de expectativas, estratégias, comprometimento, comunicação,
papéis, recursos, agregação de valor e sistemas de avaliação) e no terceiro bloco a
opinião dos entrevistados acerca das parcerias intersetoriais.

A população envolveu a coordenação do Núcleo de Turismo e 10 das


11 organizações associadas a esta entidade, sendo: cinco pertencentes ao setor
privado, três pertencentes ao setor público e duas do terceiro setor. A análise dos
dados foi amparada pela abordagem quantitativa e qualitativa dos dados.

Sobre a ABIC

O Núcleo de Turismo Receptivo é uma entidade amparada pela ACIB que


conta com a presença de nucleados dos setores público, privado e sociedade civil.
Este Núcleo surgiu em 2006, a partir de uma iniciativa da ACIB, que identificou a
necessidade de promover ações que visassem contribuir com o desenvolvimento
da atividade turística no município de Blumenau/SC. A ACIB é composta por 26
Núcleos, que são coordenados por sete consultores que apoiam as organizações
participantes.

O Núcleo de Turismo Receptivo, objeto deste estudo, além de contar com a


direção de um dos consultores da ACIB, possui uma coordenadora que é concedida
pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico Municipal. O principal objetivo
do Núcleo é discutir propostas para a melhoria no desenvolvimento do turismo

106
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

receptivo do município, referentes à atuação dos meios de transportes, bem como,


dos serviços das demais estruturas turísticas, como os meios de hospedagem,
alimentação e outros.

Com relação ao tempo de atuação no mercado 50% das pesquisadas atuam


há mais de 20 anos e 20% entre 10 e 20 anos, comprovando que a maturidade
organizacional - especialmente das com mais de 20 anos de mercado, favorece
a busca de parcerias intersetoriais. Além disto, não representa um impedimento
que cria barreiras nas ações intersetoriais que promovem o desenvolvimento do
turismo neste local. Esta participação é fundamental no apoio das demais 30% (1 a
10 anos), consideradas iniciantes no setor e que necessitam de maior conhecimento
sobre mercado turístico.

No que tange à participação no Núcleo (objeto deste estudo), atualmente


ocorre a participação ativa da maioria das organizações (60%) associadas desde
sua criação. Isto confirma que os representantes de tais organizações consideram
válida essa parceria, uma vez que mantém sua presença desde o início. Além
dessas, 20% se associou após aproximadamente um ano de funcionamento e os
representantes das demais não souberam especificar o período.

Os encontros promovidos pelo Núcleo acontecem quinzenalmente e


a maioria dos respondentes, ou seja, 70% diz participar sempre das reuniões, o
que pressupõe que as organizações associadas estão se dedicando regularmente,
favorecendo o fortalecimento das ações do Núcleo. Para a coordenadora do Núcleo,
apesar do número de participante variar a cada encontro e que a participação dos
nucleados poderia ser mais regular, os encontros são sempre produtivos. No que
tange aos objetivos propostos pelo Núcleo, a maioria dos respondentes (80%)
afirma conhecê-los totalmente e 20% deles consideram que os conhecem em parte.

As questões que envolvem a efetividade das ações do Núcleo e suas


contribuições para o desenvolvimento do turismo local foram analisadas em
conjunto. Pode se considerar, que na opinião dos nucleados (80%), o Núcleo de
Turismo Receptivo vem conseguindo efetivar suas ações de maneira positiva.

Quanto à contribuição para o desenvolvimento do turismo local pode


se afirmar que a maioria dos respondentes (70%) acredita que o Núcleo vem
contribuindo para o desenvolvimento do turismo local. Contudo, para a
coordenação essa entidade ainda tem muitos aspectos que podem ser melhorados
para contribuir ainda mais para o desenvolvimento da atividade turística no
município, especialmente por se tratar de uma organização que começou a atuar
recentemente e que irá amadurecer suas ações conforme o passar do tempo. [...]

Os entrevistados foram questionados sobre em que áreas e projetos os


setores público, privado e terceiro setor poderiam trabalhar em conjunto em

107
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

prol do desenvolvimento do turismo local. Dentre as sugestões propostas para a


parceria intersetorial em prol do desenvolvimento do turismo encontram-se: ações
que promovam o desenvolvimento social, realização de obras para o município,
a promoção de treinamentos para as pessoas que atuam na atividade turística;
ações que colaborem para o melhor desempenho das empresas que atuam com
o turismo receptivo; parcerias para a elaboração de instrumentos que divulguem
a localidade e melhorarem a sinalização e acesso aos empreendimentos; ações
que contribuam para a melhora no que tange o embelezamento do município
como manutenção de parques e praças e para a captação e desenvolvimento de
eventos, no qual, foi apontando pela maioria dos respondentes. Considera-se
que a sugestão sobre o turismo de eventos esteja relacionada ao empenho que o
município vem realizando em prol do desenvolvimento desse segmento, no qual,
conforme a coordenadora do Núcleo, este se trata de um dos principais enfoques
para o turismo em Blumenau.

Conclusão

Os esforços desta pesquisa foram direcionados para a melhor compreensão


sobre os desafios intersetoriais no desenvolvimento do turismo, em uma leitura
das parcerias em Blumenau, SC. Para tanto, foram investigadas dez organizações
turísticas que atuam no Núcleo de Turismo Receptivo da Associação Empresarial
de Blumenau (ACIB). Este Núcleo pode ser considerado como um exemplo efetivo
de parceria entre as organizações que dele participam, no entanto, por enquanto,
deve ser analisado como um estímulo ao fortalecimento da intersetorialidade, uma
vez que é representado por uma pequena (10 organizações), embora significativa,
parte das organizações turísticas existentes neste município. Ressalta-se que a
maioria das organizações do Núcleo é tomadora de decisão quanto ao futuro do
turismo local.

Na medida em que este Núcleo, que possui apenas dois anos de atuação,
se fortalecer contando com uma representatividade mais expressiva, será possível
verificar os efeitos da intersetorialidade, promovida por ele, no desenvolvimento
turístico de maneira mais abrangente. Atualmente pode ser considerado como
uma ação em estruturação. Todavia, esta iniciativa já representa um caminho na
construção de novos olhares na relação das organizações quanto às parcerias. Um
resultado positivo desta análise é representado pela assiduidade (em 70% dos
entrevistados) nas atividades estabelecidas por este Núcleo. Acredita-se que este
resultado positivo demanda do fato de que o processo de definição estratégica é
decidido, segundo 70% dos entrevistados, de maneira coletiva representando um
compromisso conjunto na condução das ações.

Além disto, muitos nucleados também estão participando de outras


iniciativas coletivas que promovem ações intersetoriais no município de Blumenau,

108
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

entre elas, o C&VB e o Conselho de Turismo, como mais expressivas. Estes


movimentos representam um maior conhecimento do setor e ainda das relações
políticas existentes no município no sentido de articulação entre as organizações.
Conforme Dreher e Badel (2009), a intersetorialidade não é somente uma intenção,
mas sim uma prioridade para o desenvolvimento do turismo que sugere a relação
de vários setores ao seu ordenamento.

Internamente, no que tange sua organização, o Núcleo foi bem avaliado


pelos pesquisados o que leva a crer que sua gestão está de acordo com as
exigências de sua manutenção no mercado. Observa-se nos resultados que 60% dos
entrevistados afirmaram que há uma boa troca de conhecimentos aproveitados na
gestão das organizações, evidenciando o atendimento de um dos mais importantes
objetivos e razão de existência do Núcleo, que é o fortalecimento do setor.

É fundamental destacar que para a ampliação dos seus resultados positivos,


o Núcleo precisa divulgar suas ações de maneira mais dirigida para conquistar
mais adeptos que desejam compartilhar os desafios e oportunidades que o turismo
apresenta para as organizações e o município. Por isso, é necessário que uma iniciativa
como esta, continue persistindo em ações que incentivem o planejamento e gestão
profissionalizada do setor. Tudo indica que o Núcleo representa um bom exemplo
de parceria na medida em que promove a integração com responsabilidade, isto
representa desafios diários que precisam ser solucionados pelos sujeitos que deram
início e acreditam no Núcleo. Como o turismo é uma atividade multidisciplinar
que envolve uma gama variada de setores e organizações, demanda de iniciativas
como esta para poder se estabelecer e competir com os demais destinos. Por fim,
acredita-se que o sucesso deste Núcleo se dará a partir do momento em que houver
uma maior evidência dos seus resultados perante o mercado e a sociedade, questão
fundamental para sua credibilidade.

Ressalta-se ainda que este estudo apresenta um recorte teórico e temporal


que atende apenas uma parcela do contexto desta temática, por isso, para a
melhor compreensão do fenômeno são necessárias novas investigações. Salienta-
se que, como esta pesquisa está inserida em um grupo de pesquisa que investiga
há cinco anos o turismo na região de Blumenau, o próximo passo será provocar
novos estudos que abordem entre outras questões, as ações intersetoriais e seus
resultados, a partir disto traçar um panorama mais amplo deste tema neste setor.

REFERÊNCIAS DA LEITURA COMPLEMENTAR

AUSTIN, J. E. Parcerias: fundamentos e benefícios para o terceiro setor. Trad.


Lenke Peres. São Paulo: Futura, 2001.

BENI, M. C. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC, São Paulo, 2004.

109
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

BRINKERHOFF, J. M. Government-nonprofit partnership: a defining


framework. Public Administration and Development, v. 22, n. 01, p. 19-30, 2002.

BUHALIS, D. Marketing the competitive destination of the future. Tourism


Management. V. 21, n. 1, Fev. 2000, p. 97-116.

CARNEIRO, C. B. L.; TEODÓSIO, A. S. S.; ROCHA, M. C. G. Desafios e dilemas


das parcerias intersetoriais: discurso e prática dos atores a partir de círculos de
ação e reflexão. XI Colóquio Internacional sobre Poder Local: desenvolvimento e
gestão social de territórios. Salvador: 2009.

DENCKER, A. DE F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo:


Futura, 1998.

DIAS, R. Introdução ao turismo. São Paulo: Atlas, 2005.

FINGERMANN, H.; LOUREIRO, M. R. Mudanças na relação público-privado e


a problemática do controle social: algumas reflexões sobre a situação brasileira.
In: FINGERMANN, H. (org.). Parceria público-privado: cooperação financeira e
organizacional entre o setor privado e administrações públicas locais. São Paulo:
Summus, 1992.

FISCHER, Rosa M. O desafio da colaboração: práticas de responsabilidade social


entre empresas e terceiro setor. São Paulo: Gente, 2002.

FISCHER, R. M. Alianças estratégicas intersetoriais para atuação social: centro de


empreendedorismo social e administração do terceiro setor – CEATS. São Paulo,
2003.

FONSECA, G. M. DA; MOORI, R. G.; ALVES, M. A. Cooperação intersetorial


(empresas privadas e organizações do terceiro setor): uma visão baseada em
valor. In: XXIX EnANPAD - Encontro Nacional da ANPAD de 2005.

GOELDNER, C. R.; RITCHIE, B.; MCINTOSH, R. W. Turismo: princípios,


práticas e filosofias. Porto Alegre: Bookman, 2002.

HAIR, J. F. JR, (et al). Fundamentos de métodos de pesquisa em administração.


Porto Alegre: Bookman, 2005.

INOJOSA, R. M. <Sinergiaempolíticaseserviçospúblicos:
desenvolvimentosocialcomintersetorialidade>. Cadernos FUNDAP, n. 22, 2001,
p. 102-110. <Disponível em: http://publicacoes.fundap.sp.gov.br/ cadernos/cad22/
dados/inojosa.pdf>.

JUNQUEIRA, L. A. P. A gestão intersetorial das políticas sociais e o terceiro setor.


Saúde e Sociedade, v.13, n.1, p.25-36, jan. – abr. de 2004.

110
TÓPICO 5 | LAZER E A QUESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

OLIVEIRA, A. P. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. São


Paulo: Atlas, 2005.

PEREIRA, C. A. S. Organizações do terceiro setor no desenvolvimento das


políticas de turismo e de lazer. Turismo em Análise, V. 16, n. 1, p. 68-84, maio de
2005.

PORTER, M. Competição: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro:


campus, 1999.

WANHILL, S. O papel dos incentivos governamentais. In: THEOBALD, William


F. (org.) Turismo Global, São Paulo: SENAC, 2002.

WTOBC- WORLD TOURISM ORGANIZATION BUSINESS COUNCIL. Public


Private Sector Cooperation: enhancing tourism competitivesess. Madrid, Spain:
World Tourism Organization, 2000.

111
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você viu que:

• As atividades empreendidas no tempo impõem alterações na organização


estrutural do meio urbano, determinando modificações no tipo de construção e
na ocupação de tais áreas.

• Em nosso país, a preocupação com os espaços urbanos de lazer surge influenciada


pela experiência norte-americana e, inicia-se nas cidades de Porto Alegre, São
Paulo e Rio de Janeiro.

• Espaço público é uma área de uso comum e posse coletiva, pertencente ao Poder
Público e por ele gerenciado e fiscalizado e pode servir para várias finalidades.

• Um dos desafios da área de planejamento urbano e gestão dos espaços públicos


relaciona-se com o fato de que não basta simplesmente alocar ou captar recursos
para a construção de espaços de lazer público, é necessário ter condições para
uma adequada manutenção do mesmo.

• Para que uma praça seja um bom espaço de lazer, é importante que além dos
atributos físicos e de infraestrutura, tais como bancos, iluminação, manutenção e
jardinagem dos canteiros, limpeza a população precisa se sentir atraída e segura
para frequentar tais espaços.

• O Estatuto das Cidades, aprovado em 2001, estabelece diretrizes para a melhoria


da política urbana, tendo como proposta a democratização do planejamento e
gestão do espaço urbano via inserção da participação popular.

• A frequência de uso de determinado equipamento de lazer vai depender do


local no qual se situa e da demanda pela facilidade ou dificuldade de acesso.

• Existem diferentes critérios para determinar qual área da cidade é rural ou urbana.

• Na dinâmica da sociedade moderna, o espaço do lazer é preponderantemente


urbano.

• A intersetorialidade consiste na articulação de saberes e experiências para o


planejamento, a realização de avaliação de políticas, programas e projetos, cujo
fim é alcançar resultados cooperativos em situações complexas.

112
AUTOATIVIDADE

1 No Brasil, quando inicia o debate sobre a construção de espaços de lazer?

2 O que quer dizer espaço público?

3 Qual é a principal dificuldade normalmente encontrada na gestão dos


espaços públicos de lazer?

4 Por que é importante planejar com cuidado onde serão instalados os


equipamentos de lazer?

5 O que significa intersetorialidade?

Assista ao vídeo de
resolução da questão 1

113
114
UNIDADE 2
TÓPICO 6

O PROFISSIONAL DE LAZER
E SUA FORMAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Dada à relevância do lazer enquanto fenômeno social no decorrer do
século, XIX, XX e XXI, faz sentido que se tenha organizado um campo de formação
profissional e um campo econômico que contemple esta temática. As reflexões sobre
o tema do lazer perpassaram o mundo inteiro, de modo que muitos intelectuais,
de forma direta ou indireta, destacam-se entre eles: Bertrand Russell, Thorstein
Veblen, Georges Fridmann e Herbert Marcuse. (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003).

DICAS

Procure conhecer mais sobre esses intelectuais. Faça pesquisas na internet para
investigar as contribuições de cada um deles.

Embora seja uma dura realidade, é necessário admitir que grande parcela
dos profissionais que atuam na área do lazer não teve uma formação adequada
e solidificada para exercerem suas atribuições, fato perceptível perante algumas
fragilidades visualizadas nesse segmento. Felizmente, o quadro vem se alterando
e melhorando à medida que cresce a oferta de cursos especializados voltados
para a área. Várias denominações são utilizadas para denominar os profissionais
que atuam diretamente na área de lazer, tais como, recreadores, animadores,
dinamizador, agente cultural, monitores entre outras.

Alguns equívocos, distorções e dificuldades permeiam a atuação


profissional no lazer, entre elas. (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003):

a) A compreensão equivocada que atuar na área de lazer é fácil (basta ser divertido
e carismático).

b) As características multifacetadas do mercado profissional. Há de se formar


pessoas para atuarem em diferentes empreendimentos: clubes, colônias de

115
UNIDADE 2 | TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER E DO TURISMO

férias, museus, hotéis etc.; para exercer diferentes funções: animador, recreador,
gestor de atividades, gerente de planejamento do lazer entre outras.

c) O caráter complexo e multidisciplinar da área de atuação e formação, que


envolve profissionais advindos da educação física, do turismo, administração,
cinema, administração entre outras.

d) A carência de uma regulamentação profissional para determinar normas sobre


a jornada de trabalho, salário e plano de carreira.

Discorrendo sobre o perfil dos profissionais de lazer, Camargo (1999)


elenca alguns atributos relevantes para os mesmos, tais como:

a) Polivalência cultural, capaz de lidar com diferentes campos e técnicas de


trabalho, mesmo os animadores especializados em determinada prática
(ginástica, música, dança etc.) precisam ter uma noção do todo.

b) Conhecimento para lidar com diferentes públicos, do ponto de vista do gênero,


da faixa etária, da classe socioeconômica.

c) Capacidade de montar e coordenar equipes com profissionais de diferentes


áreas de formação.

d) Domínio de conhecimento sobre a formatação metodológica e financeira de


projetos.

e) Percepção das sutilezas do espaço físico e das diferentes respostas que podem
provocar em cada público.

f) Habilidade para buscar informações junto a outras instituições públicas ou


privadas que possam associar-se ao planejamento de lazer de determinado local.

Para além das competências técnicas usualmente requisitadas aos


profissionais de lazer, outros desafios apresentam-se tendo em vista a complexidade
da dinâmica social. Entre estes, Melo e Alves Júnior (2003) elucidam:

a) Disseminar os elementos da cultura erudita, a fim de evidenciar a todas


diferentes linguagens e possibilidades de lazer.

b) Difundir e recuperar aspectos da cultura popular, que se encontram algumas


vezes deteriorados e carentes de atenção especializada.

c) Aprender a lidar criteriosamente com os elementos da cultura de massa.

A presença de um profissional de lazer em hotéis e empreendimentos


turísticos é bastante conhecida. Contudo, os referidos profissionais também
possuem um papel importante para cumprir em suas próprias cidades junto à

116
TÓPICO 6 | O PROFISSIONAL DE LAZER E SUA FORMAÇÃO

população local. Tendo em vista que as restrições aos equipamentos e múltiplas


possibilidades de lazer são comuns e implicam alguns casos no isolamento de
grande parte da população ao lazer, pode o profissional de lazer incentivar os
habitantes a conhecerem melhor sua cidade, seus atrativos e seu potencial de
aproveitamento. (MELO; ALVES JÚNIOR, 2003).

Não se pode negar que existe uma crítica ao trabalho desenvolvido por alguns
recreadores. Seja nas colônias de férias ou em hotéis de lazer, existem profissionais
que apresentam programas de lazer no qual o hóspede tem de seguir um rígido
programa, que lembra a rotina de trabalho ou estudo, sem opções de escolhas.

Outro problema é que muito desses profissionais não possuem o devido


preparo e percepção para lidar com os diferentes públicos que frequentam
hotéis de lazer. Enquanto algumas pessoas podem achar incrivelmente divertido
recreadores ou recreadoras que tiram as pessoas para dançar um típico forró
nordestino para animar o clima de descontração do resort, alguns hóspedes mais
reservados podem ficar incomodados se o seu cônjuge receber esse tipo de convite.
E a situação fica mais constrangedora se após uma simpática negação do convite
ao estilo “Vamos deixar para uma próxima”, o recreador insiste e para piorar o faz
uma “piadinha” envolvendo as outras pessoas em volta. Esse tipo de abordagem,
ao invés de entreter, exerce efeito contrário e ainda pior, pois as pessoas podem
ficar sem graça e incitar discussões entre os casais.

Por isso, uma das habilidades fundamentais da pessoa que atua frente
a frente com os hóspedes de lazer, é ter bom senso e saber ler os sinais a sua
volta. Em estabelecimentos que recebem turistas internacionais, o cuidado deve
ser redobrado, pois dependendo da base cultural de cada um, alguns gestos ou
atitudes podem ter conotação diferente daquela inicialmente concebida.

Gomes e Pinto (2009) defendem que é necessário dedicar especial atenção


à formação de profissionais do lazer, estimulando o comprometimento como
processo de construção do saber, que questione a realidade e busquem compreender
o real sentido de sua atuação profissional, assumindo uma postura reflexiva face
aos processos sociais, fazendo do lazer não um mero produto a ser consumido,
mas uma possibilidade lúdica e criativa.

117
RESUMO DO TÓPICO 6
Neste tópico, você viu que:

• As reflexões sobre o tema do lazer perpassaram o mundo inteiro, de modo que


muitos intelectuais, de forma direta ou indireta, se destacam: Bertrand Russell,
Thorstein Veblen, Georges Fridmann e Herbert Marcuse.

• Existe uma compreensão equivocada que atuar na área de lazer é fácil (basta ser
divertido e carismático).

• Espera-se que o profissional de lazer seja capaz de lidar com diferentes campos
e técnicas de trabalho e que conhecimento para lidar com diferentes públicos.

• O profissional de lazer deve ter habilidade para montar e coordenar equipes


multidisciplinares de trabalho.

• Alguns profissionais de lazer não possuem o devido preparo e percepção para


lidar com os diferentes públicos que frequentam hotéis de lazer e cometem gafes,
as quais devem ser evitadas ao máximo.

118
AUTOATIVIDADE

1 De que modo os profissionais de lazer costumam ser chamados?

2 Sob o ponto de vista de qualificação profissional, que tipo de atitude não


pode ser incorporada por aqueles que pretendem atuar no setor?

3 Por que e importante que o profissional de lazer seja capaz de atuar em


equipes multidisciplinares?

4 Cite uma atitude indispensável para os profissionais que atuam na área de


recreação hoteleira.

5 Além das funções técnicas esperadas, como prover diversão e entretenimento,


qual outra atribuição o profissional do lazer poderá assumir?

119
120
UNIDADE 3

TURISMO E LAZER - TEMAS


TRANSVERSAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, você será capaz de:

• conhecer as principais motivações para o lazer e o turismo;

• debater a relação entre o lazer e a empresa;

• analisar o impacto das tecnologias no lazer;

• verificar a relação entre o lazer e o jogo e;

• estudar a interface entre festas, lazer e cultura.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos, no decorrer dos estudos, você
encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conteúdos adquiridos.

TÓPICO 1 – MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

TÓPICO 2 – O LAZER E A EMPRESA

TÓPICO 3 – LAZER E TECNOLOGIA

TÓPICO 4 – O LAZER E O JOGO

TÓPICO 5 – FESTAS, LAZER E CULTURA

Assista ao vídeo
desta unidade.

121
122
UNIDADE 3
TÓPICO 1

MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

1 INTRODUÇÃO
O comportamento reflete as atitudes do homem, que estão diretamente
vinculadas àquilo que a pessoa pensa, acredita e vê, e se realiza graças à capacidade
cognitiva e emocional de cada um. Neste sentido, a direção, a persistência e a
finalidade de um comportamento constituem o objeto de estudo da motivação,
isto é, trata-se de uma área de estudo que analisa quais razões e estímulos
norteiam as ações individuais. (BACAL, 2003). Vamos nos debruçar então sobre o
comportamento e a motivação dos consumidores de lazer e turismo.

2 AS PRINCIPAIS MOTIVAÇOES PARA O TURISMO E LAZER


Existem muitas causas que induzem o homem a viajar. Quando possuem
um caráter prático, transformam-se numa obrigação, como é o caso das viagens
realizadas por motivo de negócios, por razões de saúde ou trâmites de qualquer
natureza. O restante das viagens merece uma análise que permita ajudar para
saber por que as pessoas viajam quando nada as obriga a isso. (BOULLÓN, 2004).

Para que se compreendam os apelos motivacionais é importante ter em


mente que as pessoas procuram atingir objetivos, e têm a intenção de consegui-lo
de uma determinada forma, dentro de certo tempo, com algum grau de esforço
e determinado nível de realização. (BACAL, 2003). Isto implica que quando
realizamos o esforço de compreender quais os motivos que impulsionam as
viagens de lazer, precisamos sempre tomar em conta um conjunto de condições e
circunstâncias específicas. Em síntese, de acordo com Weisinger (1997), a motivação
é aquilo que leva o indivíduo a despender energia numa direção específica com
um determinado propósito. Para Barreto (1995, p. 64) “as motivações são as causas
subjetivas que vão fazer com que o turista decida sua viagem”.

As motivações recebem interferência do contexto social em que o indivíduo


se encontra inserido. Andrade (2001) comenta que o lazer pode ser motivado ou
estimulado pelo desejo de se viver novas experiências, pela busca por aventura,
por necessidade psicológica de repouso e por situações variadas, provenientes do
círculo social em que o sujeito está envolvido.

123
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Conforme faz notar Bacal (2003), o nível de aspiração do que se pretende


atingir é colocado na mesma altura dos comportamentos valorizados pelos seus
grupos de participação. Significa dizer que algumas pessoas escolhem alguns
destinos e programas, pois todos da sua ‘turma’ já fizeram determinado passeio
e como uma forma de reconhecimento e aceitação, a pessoa também quer
vivenciar aquela mesma experiência. Em outros casos, na ânsia de ascender
verticalmente, o sujeito procura reproduzir comportamentos inseridos no
repertório do grupo de referência. É o caso, por exemplo, dos chamados ‘novos
ricos’, que para demonstrar sua recém-conquistada prosperidade financeira,
não medem esforços para selecionar destinos e programas considerados na
moda pelos seus pares.

Convém apontar que os relatos, conselhos e sugestões de colegas e


amigos são elementos importantes na influência de opções pessoais. O papel
desempenhado pelos canais de marketing e comunicação (publicidade, propaganda,
divulgação em sites e jornais etc.), tal como a elaboração de contratos (compras
de viagens antecipadas), somada a formas de pagamento disponíveis, são fatores
determinantes para as escolhas do turista. (ANDRADE, 2001).

O processo de gestão do turismo e do lazer não pode perder de vista que


o turismo faz parte do mundo dos símbolos, ícones, sonhos e representações, pois
se trata de um conjunto de pré-concepções e percepções de imagens e valores
imbuídos de sentido cultural.

Andrade (2001) comenta que as pessoas que demonstram uma busca obsessiva
por repouso e lazer, por conta de sua ideia fixa e do objetivo que esperam atingir, não
se distraem e nem relaxam. Ademais, o nível intelectual, as necessidades e os gostos
pessoais, somados a disposição para relaxar e as possibilidades para tanto, constituem-
se em fatores predeterminantes da qualificação do resultado do lazer.

Além das motivações psicológicas que interferem no processo de consumo


do lazer e do turismo, outros aspectos de ordem bastante prática também exercem
influência. Conforme salienta Barreto (1995), para que ocorra o consumo de bens
e serviços de lazer, é preciso que suas necessidades vitais tenham sido supridas.
Quer dizer, do ponto de vista econômico, o consumo turístico só é possível
depois que todo o orçamento individual foi contemplado, levando em conta os
itens de consumo obrigatório, como moradia, alimentação, higiene, vestuário
básico, transporte básico, saúde. Dependendo do nível de renda, a pessoa poderá
gastar com itens não tão vitais (eletrodomésticos, livros, CDs) e se ainda sobrar
dinheiro, a pessoa pode optar em fazer uma poupança dessa parcela de dinheiro
ou realizar gastos considerados supérfluos, como artigos de luxo, divertimento e
potencialmente, realizar viagens.

Quando se discute a questão dos desejos e necessidades humanas, é


indispensável retomar a pirâmide trabalhada por Abraham Maslow, conhecida

124
TÓPICO 1 | MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

como “Teoria da Hierarquia das necessidades”, que oferece uma base sólida
para situarmos os motivos das viagens turísticas. Nessa teoria, as necessidades
humanas são divididas em cinco grupos, dispostos em uma ordem hierárquica. A
partir do momento em que uma necessidade é atendida, busca-se a satisfação da
próxima ascendente. (MAXIMIANO, 2007).

Observe na figura a seguir:

FIGURA 13 – PIRÂMIDE DE MASLOW

FONTE: Extraído e adaptado de: Maximiano (2007).

De modo sintético, a Pirâmide de Maslow considera que as necessidades


fisiológicas, isto é, as de caráter básico como fome, sede, sono, sexo, devem ser
as primeiras a serem atendidas. Posteriormente, situam-se as necessidades de
segurança ou de estabilidade, permitindo ao ser humano viver longe de perigos
ou ameaças. Envolvem o desejo de sentir seguro dentro de sua residência, de
se ter um emprego estável ou um plano de saúde, por exemplo. Na sequência,
encontram-se as necessidades sociais, vinculadas aos sentimentos de afeto,
amor, afeição e de pertencimento a determinado grupo. No quarto nível, a
necessidade de estima relaciona-se com a maneira pela qual o indivíduo se
vê e se avalia, envolvendo o reconhecimento das capacidades pessoais e o
reconhecimento dos outros perante as atividades que o sujeito realiza. Esse

125
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

nível de necessidade, quando satisfeita, conduz a sentimentos como força,


valor, autoconfiança, prestígio, utilidade e capacidade. Por fim, a necessidade
de autorrealização é a mais elevada da pirâmide, e refere-se à motivação para
realizar o potencial máximo do ser. Está vinculada ao processo de identificação
do próprio potencial e à busca pelo contínuo autodesenvolvimento.
(CHIAVENATO, 1987).

Com base no exposto, não há dúvidas que o consumo do turismo, enquanto


modalidade de lazer situa-se nas camadas mais superiores da pirâmide. Os
deslocamentos turísticos podem ser considerados como uma necessidade social,
quando na percepção do indivíduo, ele deve viajar para obter reconhecimento de
um determinado grupo e assim obter estima. A pessoa pode buscar no turismo a
autorrealização com uma atividade que lhe satisfaça, que lhe traga prazer ou que
contribua para o seu desenvolvimento pessoal, situando desta forma o turismo no
topo da pirâmide. (BARRETO, 1995).

Conforme estamos estudando nesse caderno, o acesso ao lazer deveria


ser um direito assegurado a todas as parcelas da população tendo em vista sua
relevância para o desenvolvimento humano. Contudo, a realidade brasileira
demonstra que na prática, apenas determinadas parcelas da população têm acesso
ao lazer. Outro ponto que já estudamos ao longo da disciplina, é que embora
a disponibilidade financeira não seja um pré-requisito para as atividades de
lazer, tendo em vista que algumas delas não possuem nenhum custo (caminhar,
ler, ir a bibliotecas etc.), é notável que parcelas da população economicamente
desfavorecidas, muitas vezes, não possuem o hábito de dedicar certo tempo para o
lazer como parte de sua cultura. Andrade (2001, p. 138) comenta:

É constrangedora a constatação de que para as populações de menores


chances de chegar aos bens sociais e materiais e aos níveis desejáveis de
liberdade intelectual, as mídias, além de funcionarem como recursos
que pressionam o aumento das vendas e a aceitação passiva de ideias,
também se constituem em si mesmas em espécies de lazer e de repouso.

Isto quer dizer que muitas pessoas não foram educadas para o desfrute
do lazer e não possuem o costume de realizar certo esforço para organizar e
viabilizar seu lazer, seja organizando mentalmente suas atividades com cuidado,
afim de que sobre mais tempo para descansar; pesquisando em sites e jornais a
programação artística e cultural da sua cidade; economizando dinheiro ao longo
de todo o ano para poder realizar um passeio nas férias; planejando o ambiente de
sua casa (quartos, salas e varandas) para que estes fiquem mais aconchegantes e
estimulantes para o convívio social etc.

Observa-se que na realidade cotidiana, muitas pessoas vão se deixando


levar pela vida sem se atentar para a necessidade de reservar um espaço e tempo
de qualidade para o lazer resultando, por exemplo, em um fim de semana inteiro
largado em frente à televisão, assistindo à programação de forma passiva, sem

126
TÓPICO 1 | MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

escolher e selecionar de fato a programação (da televisão e da sua própria agenda).


E para piorar, a televisão, comumente nos vende a ideia de que precisamos adquirir
determinados produtos e sugerindo que a ausência deles resulta em algum tipo de
descontentamento e insatisfação pessoal.

O comportamento do consumidor no turismo, como qualquer outro


comportamento motivado, não pode ser explicado a partir de um único motivo.
É comum que a motivação para viajar englobe uma combinação de motivos,
como diminuir o estresse, conhecer novos lugares ou aprender mais sobre
determinada cultura.

Boullón (2004) identifica oito causas pertencentes à categoria das denominadas


motivações psicológicas que motivam a realização de viagens. São elas:

1) Por razões culturais ou educacionais: envolve o desejo de conhecer (ou de voltar


a visitar) destinos dos quais se possui informações prévias e precisas. Envolve
interesses culturais, como visitar cidades antigas, conhecer obras de artes, locais
de beleza arquitetônica além de cursos ou congressos de curta duração.

2) Por saúde: engloba as pessoas que, sem estarem doentes, viajam por motivações
de beleza, estética e rejuvenescimento.

3) Por desejo de mudança: envolve a busca de algo que compense os desgastes


provocados pelo trabalho, pela vida cotidiana, as incomodações decorrentes do
núcleo familiar ou das pressões decorrentes da vida da cidade.

4) Para fazer compras: responde à inclinação de adquirir coisas típicas, que só


podem ser conseguidas no local de origem e que servem como testemunho da
viagem ou ainda, ao desejo de obter artigos conhecidos pelo menor preço.

5) Por hedonismo: envolve coisas concretas e experiências subjetivas, tais


como: passar bem, comer bem, bronzear-se ao sol, conhecer pessoas bonitas,
extravagantes ou acolhedoras, viver aventuras amorosas, experimentar emoções
ou simplesmente não fazer nada.

6) Para descansar: pressupõe certo nível de exaustão motivado pelo trabalho, pela
família ou pela vida urbana.

7) Para praticar esportes: refere-se às viagens de pessoas que já adquiriram uma


habilidade e viajam atraídas pela oportunidade de praticar seu esporte preferido,
como a pesca ou o alpinismo, por exemplo. Excluem-se dessa categoria as
viagens motivadas pela prática de esporte profissional.

127
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

8) Para conhecer: é o impulso mais comum a todos, pois as pessoas possuem a


curiosidade de tomar contato com ambientes e pessoas diferentes.

Sempre é válido lembrar que as motivações não atuam de forma independente


sobre o mecanismo de decisão, elas podem combinar-se entre si. Conforme foi
comentado, existe a categoria de motivações vinculadas às obrigações, as quais,
além do trabalho e por questões de saúde, envolvem um conjunto de motivações
que podem ser representadas pelo ente “família”, incluindo relações ineludíveis,
não recreativa, como ir à festa de algum membro da família, sair para cuidar de
um doente ou participar de alguma atividade que outra pessoa escolheu por razões
psicológicas, sem levar em conta a opinião dos demais. (BOULLÓN, 2004).

Para Coriolano e Silva (2005) a viagem turística de lazer possui por objetivo
a busca do prazer e do gozo, permitindo a pessoa se distanciar do seu cotidiano,
propiciando o encontro com o novo, o diferente e visa satisfazer diversos prazeres
que vão do luxo ao consumo, avançando para o resgate psíquico que permitiria, de
certa forma, a pessoa ser mais feliz. Evidentemente, as viagens de lazer são bastante
distintas das viagens realizadas por razões de negócios, seja em sua motivação
e pelas características inerentes a cada modalidade. Swarbrooke e Horner (2002)
identificam as diferenças no quadro a seguir:

QUADRO 2 – DIFERENÇAS TURISMO DE LAZER X TURISMO DE NEGÓCIO

Turista de lazer Turista de negócio


O consumidor usa o serviço, mas ele não é o
Ele é tanto o cliente que toma a decisão quanto o cliente (ou seja, é geralmente o empregador que
consumidor que usa o serviço. decide se o turista de negócios viajará e sobre
o custo da viagem).
Quase sempre escolhe a destinação. Não costuma escolher a destinação.
Viagens relativamente pouco frequentes. Viaja com relativa frequência.
Suas viagens são em geral mais longas do que as
Viagens em geral mais breves.
do turista de negócios.
O período de planejamento da viagem pode ser
Planos de viagem realizados geralmente numa bastante curto (em horas), para resolver algum
escala média de duração (de algumas semanas trâmite urgente ou longamente planejado (anos)
a um ano). no caso de comparecimento a conferências, por
exemplo.
Relativamente consciente dos custos, já que ele Orçamento menos consciente, já que o turista
próprio costuma pagar a conta. não paga os custos da viagem.
Consumidor em geral menos experiente e menos Consumidor em geral mais experiente e
exigente. exigente.

FONTE: Swarbrooke e Horner (2002, p. 216).

128
TÓPICO 1 | MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

Além de entender as motivações do turista de lazer, é fundamental conhecer


o perfil desse tipo de viajante, a fim de que possam ser elaboradas estratégias de
negócios condizentes com suas características. Cabe aos gestores de turismo e lazer
buscarem pistas para elaborar produtos turísticos de acordo com a motivação do
seu público-alvo. Para Andrade (2001b), os diferentes estilos de vida são indicadores
eficientes para colaborar no trabalho de captação de novos praticantes de lazer e
do turismo. Além disso, para compreender as motivações do turista, é primordial
conhecer os principais perfis psicológicos utilizados no âmbito do turismo. Existem
várias formas de se classificar os tipos de turistas e uma das mais conhecidas é o
modelo de Plog (apud Barreto, 1995), acompanhe na sequência:

a) Turistas alocêntricos: são exploradores, aventureiros e buscam experiências


novas e estabelecer contato com os visitantes. Quando uma destinação passa a
receber muitos turistas, eles buscam novos locais, pois não se preocupam com a
“moda” ou a “badalação”.

b) Turistas mesocêntricos: viajam individualmente, mas normalmente vão para


locais onde que recebem bastante visitantes e gostam de visitar lugares com
reputação. Estabelecem contato com a população local, principalmente por meio
da aquisição de bens e serviços.

c) Turistas psicocêntricos: modalidade de turistas que só viaja para lugares que


lhes sejam familiares, utilizando-se dos “pacotes turísticos”, isto é, saem de casa
com a viagem toda programada. Primam muito pela segurança em todos os
sentidos e normalmente, não abrem mão da presença constante de um guia de
turismo. Esperam que no núcleo turístico haja as mesmas coisas que em seu
local de origem e, além disso, são gregários, só viajam em grupos.

Outra forma de classificar os turistas bastante difundida são os quatro tipos


elaborados pela influente sociólogo Cohen apud Swarbrooke e Horner (2002) que
também leva em conta as motivações dos turistas:

a) Turista de massa organizado: compra suas férias num pacote no ensejo de


conhecer destinações populares e viaja em grupos numerosos e seguindo um
itinerário predeterminado e inflexível. Normalmente, não se aventura para
muito longe da excursão ou do hotel em que está hospedado.

b) Turista individual de massa: realiza o turismo através de pacotes mais flexíveis


que lhe proporcione mais liberdade. Eventualmente, busca novas experiências.
Sua tendência, porém é optar por destinos e empreendimentos conhecidos.

c) Turista explorador: organiza sua própria viagem de férias, empreendendo-a de


forma a evitar contato com outros turistas. Se por um lado pretende interagir
com as pessoas locais, por outro espera certo nível de conforto e segurança.

129
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

d) Turista errante: esse tipo realiza grande esforço para ser aceito, ainda que
temporariamente, como parte da comunidade local. Não possui um itinerário
planejado e escolhe suas destinações e acomodações de forma improvisada,
sem prévio planejamento. Tenta evitar ao máximo o contato com empresas
turísticas formais.

FIGURA 14 – TURISTAS VIAJANDO EM GRUPOS ORGANIZADOS

FONTE: O turismólogo. Disponível em: <http://oturismoloogo.blogspot.com/2011/05/


cresce-o-numero-de-turistas.html?z#!/2011/05/cresce-o-numero-de-turistas.html>.
Acesso em: 15 fev. 2012.

No turismo, os elementos que contribuem para a qualidade de vida


fazem com que a evasão, o desejo de “fugir do mapa” se torne uma importante
motivação para as viagens, representando uma forma de se distanciar dos
constrangimentos impostos pelo ambiente, no anseio de buscar mais liberdade.
(BACAL, 2003).

Nesta linha de considerações, outra vantagem do turismo é que como


as viagens demandam a liberação de um tempo livre contínuo, a mesma se
apresenta como um espaço de tempo propício para o desenvolvimento do
lazer. Como sabemos, a usufruição do lazer necessita de uma atitude mental
nem sempre fácil de ser alcançada, pois para relaxar, não existe um dispositivo
mágico que ao ser tocado isenta a pessoa de todas as suas preocupações.

130
TÓPICO 1 | MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

Por isso, muitas vezes, durante uma viagem de férias é comum que o sujeito
leve alguns dias (ou pelo menos algumas horas) para se ambientar e passar
a desfrutar do seu tempo de lazer. Por tal razão, o turismo é tão eficiente na
tarefa de permitir a restauração mental, física e psicológica, pois usualmente,
assegura tempo e espaço para tanto.

Outro ponto interessante com relação ao potencial do turismo como


modalidade de lazer, é que a atitude e a sensibilidade da pessoa sofrem alterações
quando ela está viajando. Boullón (2004, p. 110) nos diz:

Quem quer que se transforme em turista experimenta naturalmente uma


alteração em seu comportamento habitual. Sem mudar os traços básicos
do caráter e da forma de ser, o fato de viajar predispõe o indivíduo, de
modo especial, diante das coisas e situações que vivenciará, inclusive
as parecidas às da vida cotidiana. A mudança mais evidente no turista,
quanto ao comportamento, reside no excitamento da curiosidade. É
interessante observar como pessoas que nunca visitaram um museu
da cidade natal interessam-se por outros que nem sabiam que existiam
antes de embarcar no avião.

Tal fato é realmente instigante, mas é notável que muitas pessoas mudam
sua postura e sua atitude quando viajam. Algumas se tornam mais expansivas e
alegres, outras passam a utilizar roupas bem mais coloridas, vibrantes e despojadas
do que no dia a dia, outras demonstram interesse por assuntos que antes pareciam
não lhe agradar. Se a viagem for em grupo então, parece que as mudanças e até
mesmo os exageros são potencializados. Como é notável em várias situações
cotidianas, duas moças acomodadas em um restaurante, tendem a falar em um
tom de voz natural. Em um grupo de dez mulheres, por sua vez, a tendência é
um aumento expressivo no tom da conversação e que estas se apresentem de
forma mais expansiva. O estudo do comportamento das pessoas e dos diferentes
consumidores é um tema complexo que cresce nos últimos anos.

Para Dumazedier (1979) o turismo desempenha três funções principais. A


primeira é função de descanso; a segunda diz respeito à função do divertimento,
recreação e entretenimento e a terceira é a função do desenvolvimento.

Tendo em vista que os negócios voltados ao turismo e ao lazer representam


um importante segmento econômico, profissionais como promotores culturais,
agentes, animadores, recreadores e demais profissionais do setor, passam a dedicar-
se a programar e criar novas motivações e justificativas de lazer disponíveis nas
variadas formas de turismo. As programações de lazer elaboradas para despertar
interesses funcionam como elemento impulsionador para tornar mais agradáveis
e frequentes as viagens de saúde, de negócios, de estudos, de aventura, de
cumprimento de deveres religiosos ou de afastamento de problemas ou situações
desagradáveis. (ANDRADE, 2001b).

131
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Tratando ainda dos aspectos subjetivos que permeiam o turismo, Oliveira


apud Marcellino (1996) esclarece que o turismo, enquanto atividade de lazer
envolve três dimensões, a saber:

a) Imaginação: é a fase que antecede a viagem, o domínio do sonho. É a etapa em


que a pessoa busca informações nos diversos canais de comunicação disponíveis,
buscando um referencial que permita curtir a viagem por antecipação.

b) Ação: é a vivência da viagem em si, abarcando a surpresa e a aventura que


cercam a ruptura com o cotidiano. Viagens totalmente programadas deixam
pouca margem para os elementos inesperados.

c) Recordação: é uma espécie de prolongamento da viagem, que não termina


na volta. Quando a viagem permite um intenso envolvimento, maior será o
prolongamento em termos de recordações de imagens e sensações, as quais
passam a ser socializadas entre familiares e amigos.

Boullón (2004) comenta o aspecto da imagem-recordação das viagens e


explica que independente da duração e da repetição de uma viagem, ela pode passar
para a memória de longo prazo e durar a vida toda. As lembranças estão vinculadas
aos acontecimentos que mais impressionaram o turista durante a viagem. Cabe
ressaltar que na mesma viagem, as mesmas coisas são percebidas de modo diferente
por cada pessoa. A percepção de cada um está atrelada, de modo geral, a fatores
como idade, sexo, nível cultural, profissão e experiências anteriores do turista.

132
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você viu que:

• O comportamento reflete as atitudes do homem, que estão diretamente vinculadas


àquilo que a pessoa pensa, acredita e vê e se realiza graças à capacidade cognitiva
e emocional de cada um.

• As motivações são as causas subjetivas que vão fazer com que o turista decida
sua viagem.

• As motivações para viajar recebem interferência do contexto social em que o


indivíduo se encontra inserido.

• O nível intelectual, as necessidades e os gostos pessoais, somados à disposição


para relaxar e as possibilidades para tanto, constituem-se em fatores
predeterminantes da qualificação do resultado do lazer.

• O consumo do turismo, enquanto modalidade de lazer, situa-se nas camadas


mais superiores da Pirâmide de Maslow.

• É comum que a motivação para viajar englobe uma combinação de motivos.

• Além de entender as motivações do turista de lazer, é fundamental conhecer o


perfil desse tipo de viajante, a fim de elaborar estratégias de negócios condizentes
com suas características.

• Plog classifica os turistas em alocêntricos, mesocêntricos e pscicocênctricos.

• Cohen divide os turistas nas seguintes categorias: turista de massa organizado,


turista individual de massa, turista explorador e turista errante.

133
AUTOATIVIDADE

1 Explique o que é motivação para o turismo.

2 Mencione três fatores que exercem influência sobre o resultado das


atividades de lazer.

3 Qual é o principal argumento presente na Teoria das Necessidades de


Maslow?

4 Cite dois motivos que estimulam a realização de viagens de lazer.

5 De acordo com Plog, o que quer dizer turistas alocêntricos?

134
UNIDADE 3
TÓPICO 2

O LAZER E A EMPRESA

1 INTRODUÇÃO
Durante muitos anos, os tempos de trabalho e os tempos de lazer
mantiveram-se claramente separados e a dicotomia existente impedia a realização
de práticas mais integradoras. Nos últimos anos, essa realidade foi alterada e no
âmbito das organizações, o lazer passou a ser debatido e incorporado por muitas
empresas. Neste tópico, vamos analisar de que modo ocorreu esse processo e
observar quais são os avanços e as fragilidades que permeiam essa relação.

2 O TRABALHO E O LAZER NAS EMPRESAS


O lazer e a empresa são pares intimamente relacionados, pois conforme
estudamos, o tempo livre para o lazer usualmente depende da liberação do
tempo de trabalho e das obrigações. Atualmente, grande parte dos gestores já
está convencida da necessidade de tempo livre para o lazer e o repouso dos seus
funcionários, no próprio ambiente de trabalho ou fora dele, tendo em vista a
preocupação em mantê-los os mesmos menos estressados, melhorar a qualidade
de vida e estimular a boa convivência entre todos.

Durante os primórdios da Era Industrial, alguns empresários julgavam-


se senhores não apenas de seus negócios, mas também do tempo de serviço
do tempo livre de seus empregados, sendo que muitos acreditavam que a
remuneração que os trabalhadores recebiam eram superiores ao que eles
mereciam. (ANDRADE, 2001b).

Chamando atenção para a importância de espaços de repouso e diversão,


Andrade (2001b, p. 53) diz:

Ninguém consegue desenvolver sempre com segurança e no melhor


nível de qualidade, seu trabalho profissional ou qualquer outra
atividade que realiza de modo sistemático e constante. Todas as
criaturas humanas necessitam de pausas para repouso que podem
constituir-se de atividades de distração ou de tempo para dormir, a fim
de não entrarem em processos de irritação ou de extenuação.

Conforme estudamos na Unidade 1, historicamente o trabalho sempre


mereceu mais destaque do que o lazer, devido seu caráter de manutenção e

135
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

provedor dos elementos necessários para a sobrevivência bem como sua


representatividade econômica. Ainda existem resquícios de um pensamento
que considera o lazer, o lúdico e a diversão como um perigo para a lucratividade.
Nas empresas, essa realidade se expressa, por exemplo, na limitação do acesso
de determinados sites da internet, pois em algumas organizações, se não existir
o controle, seus colaboradores gastam horas em conteúdos que não possuem
relação com seu trabalho, tais como notícias, previsões astrológicas, redes
sociais, ensaios sensuais, resultados da última rodada do campeonato, receitas
etc. Outras empresas conseguem lidar melhor com a questão, de modo que
ainda que todo tipo de conteúdo esteja disponível, seu corpo organizacional
sabe utilizá-lo com parcimônia.

É evidente que pode ser saudável e agradável para o colaborador, consultar


materiais diversos para se distrair após um tempo intenso de trabalho, por exemplo.
Mas há também que se ponderar os interesses da empresa, porque caso não exista
o devido cuidado, ela passa a ser prejudicada, pois ao invés de realizar suas tarefas
durante o expediente, por exemplo, o funcionário pode perder o foco várias vezes ao
longo do dia, enviando mensagens e postando comentários sobre as fotos da viagem
do amigo no último fim de semana e, ter de ficar depois do horário no escritório
para finalizar suas pendências, demandando o pagamento de horas extras. Há que
se refletir, portanto, na necessidade de adotar uma postura responsável, educada e
apropriada ao ambiente de trabalho, ponderando sempre os interesses de ambas as
partes envolvidas. Se por um lado, o lazer pode ser um símbolo de liberdade, por
outro, carece de boa dose de maturidade e comprometimento.

Defendendo a necessidade de lazer dentro das empresas, Marcellino (1999)


sustenta que vivemos em um período em que a criatividade e a capacidade de
organização, tanto no trabalho como no lazer, exigem maiores investimentos na
área de tal forma, que a iniciativa privada “esclarecida” precisa estar atenta aos
benefícios provenientes do lazer não somente para os trabalhadores, mas também
para as empresas onde eles desenvolvem sua atuação profissional.

O lazer nas empresas, embora restrito, apresenta um crescimento


considerável, sobretudo em organizações de médio e grande porte, permitindo
melhorar o bem-estar social e a melhoria da qualidade de vida no trabalho.
Para desenvolver ações de lazer no bojo das empresas é imprescindível criar
competências para trabalhar a questão do lazer de forma séria. (RAMALHO,
1999). Ainda que existam dados otimistas, há que se considerar que a incorporação
de momentos de lazer demanda um processo de amadurecimento e alteração
cultural, o que certamente, demanda algum tempo. Nenhuma mudança social
ocorre instantaneamente e por isso, é necessário compreender que até que se mude
o entendimento por parte dos gestores da empresa, pode passar algum tempo.

Uma das empresas precursoras e que ficou internacionalmente conhecida


por incentivar momentos de lazer, foi a gigante Google. Na referida organização,
a preocupação com o lazer surge atrelada à intenção de fomentar a criatividade.
A empresa iniciou suas operações em 1998, e embora tenha se tornado uma mega
corporação, seus gestores afirmam manter o ambiente de pequena empresa.
136
TÓPICO 2 | O LAZER E A EMPRESA

No almoço, quase todos comem na cafeteria do escritório, sentados em


qualquer mesa que tenha uma vaga e desfrutando de conversas com googlers de
outras equipes. Na visão dos gestores da empresa, o compromisso com a inovação
depende de todos estarem confortáveis compartilhando ideias e opiniões.

FONTE: Disponível em: <http://www.google.com/intl/pt-BR/about/corporate/company/culture.


html>. Acesso em: 27 fev. 2012.

A empresa estimula seus funcionários ao lazer e quando não estão


trabalhando, os googlers se envolvem em várias atividades, desde andar de bicicleta
pelo país até degustar vinhos, voar e jogar vôlei. Nas sedes da empresa, é possível
encontrar mesas de sinuca, quadras de vôlei, diversos videogames, pianos, mesas
de pingue-pongue e academias que incluem aulas de ioga e dança. Além disso,
existem organizações criadas por funcionários com todos os tipos de interesse,
como aulas de mevditação, cinema, degustação de vinhos e grupos de salsa.
Preocupados com a qualidade de vida, são servidos almoços e jantares saudáveis
para a equipe inteira em várias lanchonetes. (GOOGLE, 2012).

FIGURA 15 – AMBIENTE DE TRABALHO DA EMPRESA GOOGLE

FONTE: Página Institucional Google. Disponível em: <http://www.google.com/


intl/pt-BR/about/corporate/company/culture.html>. Acesso em: 20 fev. 2012.

Tendo em vista o sucesso que a empresa se tornou nos últimos anos,


não restam dúvidas de que quando bem implementadas, as políticas de lazer e
qualidade de vida nas empresas podem fomentar excelentes resultados.

As relações que equilibram as qualidades do trabalho e do lazer realizam-se de


modo mais apropriado quando existe um claro reconhecimento das vantagens para
todos os setores e pessoas envolvidas, contrabalanceando o trabalho e a lucratividade;
a satisfação pessoal e coletiva dos membros da equipe. (ANDRADE, 2001b).

137
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

De modo geral, o trabalho, sobretudo quando fragmentado ou aqueles que


envolvem tarefas iguais e demasiadamente limitada, geram monotonia e podem
provocar consequências que se refletem fisicamente na fadiga e psicologicamente
no tédio. Uma das alternativas para reestabelecer o equilíbrio físico e mental é
proporcionar um espaço/tempo no qual haja a possibilidade de realização de
atividades livres. (BACAL, 2003).

Já ficou para trás o tempo em que as empresas se preocupavam apenas em


produzir o máximo possível no menor tempo. Na atualidade, várias preocupações
permeiam as bases da gestão moderna e além de produzir muito e com qualidade,
as organizações vêm procurando definir e delimitar o custo material e humano dos
seus produtos e serviços. Sob essa perspectiva, inúmeras iniciativas disseminam a
preocupação emergente com a saúde e a motivação dos colaboradores.

Alguns apontamentos podem ser feitos quanto à criação de tempos e


espaços de lazer dentro das empresas. (ANDRADE, 2001b):

a) É fato conhecido, que periodicamente, com maior ou menos frequência, a


capacidade criativa e produtiva decaem de maneira sensível após um período
intenso de trabalho.

b) O sucesso do lazer geralmente depende do acerto na escolha da atividade


sugerida. É importante também as pessoas se permitirem conhecer melhor outras
atividades, a fim de ampliar seu leque de interesses por atividades lúdicas.

c) Em termos organizacionais, o tempo livre institucionalizado deve ser integrado


explicitamente como componente do horário normal das atividades contratadas.

d) As pausas para o lazer durante a jornada de trabalho prestam-se para a


tomada de fôlego visando melhorar o ânimo pessoal de cada funcionário como
a produtividade da empresa. Ou seja, tais práticas não são suficientes para
substituir a necessidade de períodos mais longos de lazer, como no fim do dia,
finais de semana ou durante as férias.

e) O ideal da gestão madura pressupõe que os tempos e locais de trabalho precisam


se tornar cada vez mais agradáveis.

Uma das atividades de lazer pioneira nas empresas é a Ginástica na


Empresa ou Ginástica Laboral, como denominam alguns. A concepção desse tipo
de programa incorpora métodos diversos, elaborados de acordo com o tipo de
atividade desenvolvido por cada empresa. Além disso, os exercícios são elaborados
em acordo com a função exercida em cada posto de trabalho, de modo que, os
exercícios praticados pelos colaboradores do departamento de informática, são
distintos daqueles executados pela equipe responsável pela linha de montagem,
por exemplo. (RAMALHO, 1999). Dentre os benefícios proporcionados pela
ginástica laboral, Ramalho (1999) elucida:

138
TÓPICO 2 | O LAZER E A EMPRESA

a) prevenção da saúde ocupacional;

b) diminuição dos níveis de estresse;

c) redução do número de acidentes de trabalho;

d) queda no número de faltas por motivo de saúde;

e) diminuição dos gastos com despesas médicas;

f) melhoria das relações interpessoais; e

g) aumento da produtividade.

FIGURA 16 – GINÁSTICA LABORAL NAS EMPRESAS

FONTE: Portal R7. Disponível em: <http://noticias.r7.com/saude/


noticias/ginastica-laboral-ajuda-a-prevenir-doencas-decorrentes-da-ma-
postura-20110915.html>. Acesso em: 18 fev. 2012.

De modo geral, a oferta de atividade de lazer durante o expediente faz com


o que o colaborar reconheça a preocupação por parte de seus líderes com o seu
bem-estar, o que pode significar a otimização de tempo e de recursos, melhorar o
nível de satisfação propiciado pelo trabalho além de contribuir para a construção
de uma identidade positiva da organização.

Na matéria a seguir, publicada no Portal do site Terra, é possível conhecer


experiências em curso nesse sentido. Acompanhe:

139
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Qualidade de vida nas empresas

Priscilla Nery

É tão bom quando a gente se sente bem no ambiente de trabalho, não é?


Isso nos faz sentir mais motivados e menos estressados. A qualidade de vida
foi apontada como uma das 10 razões escolhidas pelos profissionais na hora de
aceitar uma nova proposta de emprego na pesquisa "A Contratação, A Carreira
e a Demissão dos Executivos Brasileiros de 2009", realizada pela Catho Online.

E pelo jeito algumas empresas já perceberam isso.

Uma delas é a Nivea, especialista em cuidados pessoais. A empresa


desenvolve o "Programa Bem-Estar" há mais de um ano, oferecendo quick
massage uma vez por semana e, esporadicamente, outras atividades para os
funcionários. "No começo, pensamos que as pessoas não iriam deixar seus
postos de trabalho para receber massagem. Mas fomos surpreendidos. Hoje, a
agenda de quick massage está sempre lotada", conta a responsável pelo setor de
Recursos Humanos da Nívea, Renata Braite.

Ela afirma que os colaboradores ganham tempo quando param e fazem


massagem, pois voltam ao trabalho mais produtivos. "Acreditamos que isso
aconteça porque os funcionários ficam mais conscientes do próprio corpo.
Muitos se queixavam de dores de cabeça e falta de concentração, e agora não
se queixam mais", diz.

Carolina Stilhano, gerente de comunicação da Catho Online, observa que


várias empresas têm buscado a melhoria do ambiente de trabalho e, consequente,
aumento na produtividade dos funcionários. "Há empresas que têm áreas de
descanso e lazer para seus funcionários, outras fazem parcerias com academias,
programas de saúde e bem-estar. Tudo pensando em ter funcionários mais
saudáveis e felizes", afirma.

A "Hera Brasil", especializada em oferecer serviços de qualidade de


vida para funcionários, é a responsável pela quick massage realizada na
Nivea. Hoje, esse tipo de consultoria tende a crescer. "As empresas precisam
entender que seu maior bem são os funcionários", diz Guilherme Falchi,
diretor comercial da Hera Brasil.

Ele informa que a produtividade aumenta cerca de 20% nas empresas que
investem em qualidade de vida. "Além disso, com um ambiente de trabalho
equilibrado, a redução de custos com saúde chega a 50%, já que os colaboradores
ficam doentes com menos frequência e por menos tempo", conta.

Guilherme descreve a atividade da empresa onde trabalha. "Primeiro,


estudamos o cliente para entender quais os principais pontos de escape de que
os colaboradores precisam. Depois, traçamos um projeto de acordo com essas

140
TÓPICO 2 | O LAZER E A EMPRESA

informações e vamos acompanhando os resultados." Esse acompanhamento


é uma avaliação que acontece de três em três meses com cada cliente. Os
funcionários da Hera Brasil também mantêm contato com toda a hierarquia da
empresa, diariamente.

No "Espaço Mulher", evento oferecido pela empresa, as funcionárias


aproveitam serviços como manicure, pedicure, depilação, palestras e massagem.
"Creio que esses serviços sejam ainda mais importantes quando se trata das
mulheres, pois elas são mais sobrecarregadas, são mães, esposas e se preocupam
mais com a autoestima", justifica o diretor comercial.

Mas há outras atividades voltadas ao público feminino que estão


ganhando espaço nas grandes corporações. "Com a creche dentro da empresa,
por exemplo, as mães podem cuidar ou amamentar os filhos sem precisarem
se deslocar do trabalho e ainda conseguem executar suas atividades sabendo
que os filhos estão sendo bem tratados e logo ali do lado de seus escritórios",
observa Carolina.

Segundo a gerente de comunicação, os empresários estão percebendo que


precisam de funcionários saudáveis e que saibam equilibrar vida profissional
e vida pessoal. É deles que depende o sucesso de qualquer empresa. "Se as
empresas conseguem permitir estes espaços e esta saudabilidade aos seus
profissionais, logo elas terão equipes totalmente focadas que investem no
negócio como um todo", completa. E isso significa um lucro maior.

A especialista citou vários serviços que podem ser oferecidos para o bem-
estar dos funcionários. Quem sabe sua empresa não resolve implantar algum:

• criar áreas de lazer e de descanso, com livros, videogames, televisões, filmes;

• fazer parcerias com academias de ginástica ou disponibilizar uma dentro da


própria empresa;

• propor programas e campanhas internas pensando no bem-estar de cada


profissional;

• ter profissionais que aplicam ginástica laboral dentro das empresas;

• propor horários flexíveis em dias de rodízios, ou estabelecer banco de horas.


FONTE: Portal Terra. Disponível em: <http://vilamulher.terra.com.br/qualidade-de-vida-nas-
empresas-5-1-37-475.html>. Acesso em: 21 fev. 2012.

141
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

FIGURA 17 – QUICK MASSAGE NAS EMPRESAS

FONTE: Emana. Disponível em: <http://emana.webnode.com.br/quick-


massage/>. Acesso em: 17 fev. 2012.

Quando se aborda o lazer institucionalizado, seja nas empresas, ou e


outras instituições como prefeituras ou escolas, é relevante que se reconheça
as características das pessoas envolvidas e que se estimule a participação das
mesmas nas decisões sobre o lazer, para que não aconteça um simples consumo
do lazer, e sim, uma participação efetiva das ações das quais as pessoas devem ser
considerados sujeitos e não meros objetos. (MARCELLINO, 1999).

Desta forma, é indispensável conhecer os trabalhadores da empresa, para


que seja possível oferecer atividades que despertem seu interesse e que realmente
os motive. Pois seria um grande contra censo, ofertar uma atividade que não agrade
a maioria e que, para piorar, se o clima organizacional não permitir que as pessoas
fiquem a vontade, corre-se o risco de observar pessoas participando das atividades
de lazer por obrigação e para não desagradar o chefe, minando os benefícios que
poderiam ser provenientes da prática.

Na abordagem de Marcellino (1999), a formação de grupos de interesse


em cada empresa, como forma de incentivo à produção cultural e à difusão das
programações aos seus familiares, pode ser uma alternativa para melhorar o
desenvolvimento de ações de lazer. Como exemplo de grupos de interesses, o autor
menciona a constituição de grêmios, clubes e Associações Desportivas Classistas
(ADCs) que entendam o lazer de uma perspectiva ampla em termos de conteúdo,
incluindo o esporte, mas não ficando restrito a ele. Além disso, o papel de tais
grupos é entender os valores do lazer visando ao desenvolvimento pessoal e social.

A realização de atividades de lazer no ambiente de trabalho encontra-se


atrelada a uma visão empresarial pautada nas relações de trabalho que primam
pela qualidade dos recursos humanos e pelo capital intelectual. Além disso, as

142
TÓPICO 2 | O LAZER E A EMPRESA

referidas atividades inserem-se no conceito de responsabilidade social empresarial.


A responsabilidade social é um assunto que toma força nos últimos anos e diz
respeito ao modo como as empresas realizam seus negócios. As primeiras
iniciativas de responsabilidade social focavam-se nas questões ambientais,
preocupadas com a origem da matéria-prima utilizada, o modo como os resíduos
eram tratados, fomentam ações de reciclagem e ações do gênero. Com o tempo, a
noção de responsabilidade social passou integrar as noções de desenvolvimento
sustentável, e novas variáveis passaram a fazer parte da pauta das discussões sobre
a responsabilidade das empresas.

De acordo com Kraemer (2005), a concepção de responsabilidade social pelas


empresas vem sendo amplamente difundida no bojo das organizações por conta
dos desafios impostos pelas exigências dos consumidores, pela pressão de grupos
da sociedade organizada e pelas legislações e regras comerciais, que primam pela
proteção ambiental, pelo cumprimento de normas éticas e trabalhistas em todos os
locais de produção e em toda a cadeia produtiva. Nesta perspectiva, a preocupação
com as condições de trabalho do funcionário passaram a ser levadas em conta.

O Instituto Ethos (2012) é uma importante e reconhecida organização


que fomenta ações de responsabilidade social nas empresas. De acordo com a
entidade, responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define
pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais
ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem
o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais
e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais.

Para Félix (2003), a responsabilidade social empresarial emerge da


integração das preocupações sociais e ambientais com as operações comerciais e
as relações da organização com seus representantes e sua área de influência.

Desta forma, quando as empresas investem em programas de lazer para


seus funcionários, visando melhorar a qualidade de vida, elas estão realizando
ações que coadunam com as premissas da responsabilidade social. Além disso,
tais ações são bem vistas pelos públicos com os quais a organização se relaciona,
incluindo fornecedores, clientes, a comunidade, investidores, entidades de classe
entre outros. Por consequência, além de investir no funcionário em si, as ações de
lazer podem ser integradas às ações de marketing da empresa, pois passam a ser
um elemento que influencia na identidade corporativa da organização.

Além de proporcionar momentos de lazer para seus funcionários, algumas


empresas, cientes do difícil acesso dos trabalhadores e suas famílias a atividades
culturais e recreativas, estendem o benefício do lazer para seus dependentes,
sobretudo em datas comemorativas e mediante a celebração de convênios (SESC e
SESI, por exemplo).

143
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Marcellino (1999) lembra a importância do poder público atentar-se para


as demandas de lazer empresarial, pois as empresas também são contribuintes
do município e, portanto, podem ser beneficiadas com o desenvolvimento de
atividades de lazer diversas.

A realidade atual do mundo empresarial demanda um esforço por parte das


organizações para se adaptarem às novas abordagens sociais e levando em conta
as mudanças do perfil de exigências de funcionários no mercado, remodelando
seus programas de ações, com a finalidade de catalisar novos rumos para as
organizações, como a ênfase nos aspectos da criatividade, da inovação e do clima
organizacional. (SCHWARTZ, 1999).

144
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

• Ninguém consegue desenvolver sempre com segurança e no melhor nível de


qualidade, seu trabalho profissional ou qualquer outra atividade que realiza de
modo sistemático e constante.

• Vivemos em um período em que a criatividade e a capacidade de organização,


tanto no trabalho como no lazer, exigem maiores investimentos na área de tal
forma, que a iniciativa privada “esclarecida” precisa estar atenta aos benefícios
provenientes do lazer não somente para os trabalhadores, mas também para as
empresas onde eles desenvolvem sua atuação profissional.

• Uma das empresas precursoras e que ficou internacionalmente conhecida por


incentivar momentos de lazer, foi a gigante Google.

• As relações que equilibram as qualidades do trabalho e do lazer realizam-se de


modo mais apropriado quando existe um claro reconhecimento das vantagens
para todos os setores e pessoas envolvidas, contrabalanceando o trabalho e a
lucratividade; a satisfação pessoal e coletiva dos membros da equipe.

• O sucesso do lazer geralmente depende do acerto na escolha da atividade


sugerida.

• O ideal da gestão madura pressupõe que os tempos e locais de trabalho precisam


se tornar cada vez mais agradáveis.

• Uma das atividades de lazer pioneira nas empresas é a Ginástica na Empresa ou


Ginástica Laboral.

• É indispensável conhecer os trabalhadores da empresa, para que seja possível


oferecer atividades de lazer que despertem seu interesse e que realmente os motive.

• A realização de atividades de lazer no ambiente de trabalho encontra-se atrelada


a uma visão empresarial pautada nas relações de trabalho que primam pela
qualidade dos recursos humanos e pelo capital intelectual.

• Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela


relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e
culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais.

145
AUTOATIVIDADE

1 Por que as pessoas precisam de pausas durante a realização dos seus


trabalhos?

2 A realização de atividades de lazer na empresa geralmente está atrelada a


outros interesses por parte da organização além da qualidade de vida do
funcionário. Cite duas competências que se desenvolvem de modo melhor
quando existem pausas de lazer no trabalho.

3 Comente o caso de uma empresa famosa por estimular atividades de lazer no


trabalho.

4 O direito ao lazer no trabalho aumenta a qualidade de vida dos funcionários,


mas precisa de algumas condições para que se desenvolva de maneira
adequada. Qual deve ser a postura do funcionário quanto às atividades de
lazer?

5 Cite três atividades de lazer que podem ser realizadas nas empresas.

Assista ao vídeo de
resolução da questão 1

146
UNIDADE 3
TÓPICO 3

LAZER E TECNOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Após a Revolução Industrial, o advento tecnológico impulsionou uma série
de inovações e mudanças que passaram a fazer parte da vida das pessoas e das
empresas. No âmbito do lazer e do turismo, a tecnologia também foi responsável
por profundas alterações e indispensável para que se criassem novas modalidades
de entretenimento. Neste tópico, vamos analisar de que modo a tecnologia e os
avanços da era digital interferem no lazer das pessoas.

2 COMO O LAZER SE RELACIONA COM A TECNOLOGIA


Atualmente, a tecnologia contribui significativamente para a criação e
o surgimento de novas modalidades de lazer e entretenimento. Ao longo da
história, sempre houve atividades divertidas e programadas, como brincadeiras
de rua, jogos, festas, circos, teatros, shows, romarias, quermesses entre outros. No
século passado, despontaram-se modalidades mais elaboradas sob o ponto de
vista tecnológico, como o cinema o rádio e a televisão, avançando para o DVD,
os computadores entre outros equipamentos responsáveis pela transformação do
entretenimento em tecnologia de ponto destinado à massa. (TRIGO, 2003).

Para tratarmos da relação entre lazer e tecnologia, precisamos ter o


discernimento de que as mudanças tecnológicas sempre foram mais velozes do
que as mudanças sociais. Tendo em mente que a tecnologia exerce influências sobre
a sociedade, faz necessário ter a clareza de que a transição de uma modalidade
tecnológica para outra, não se dá de forma imediata e homogênea. Tais processos
tomam tempo e dependem de fatores culturais dos grupos sociais.

Tratando dos impactos da tecnologia nos territórios, Gomes e Pinto (2009)


sustentam que as novas tecnologias impulsionam novas relações entre lazer e
território, e tal evidência reforça a complexidade da sociedade globalizada e, sob
esse ponto de vista, sem fronteiras nítidas para demarcar o que é próprio ou não
de um determinado contexto.

Saímos de um lazer artesanal localizado para um lazer industrial


globalizado, de um lazer entranhando na sociedade a um lazer automatizado.
Essa automatização fez do lazer uma importante atividade econômica, que atinge
setores como o esporte, o turismo e as artes. Neste cenário, o advento tecnológico
permite uma integração dos lugares e de suas formas de representação. Entretanto,
147
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

chama atenção que em vez de se ter um conhecimento mais verdadeiro dos lugares,
com a possibilidade de consultar imagens de praticamente todos os destinos em
qualquer parte do mundo, o turismo pode ser impactado pela criação de imagens
estereotipadas. (SANTOS, 2000).

No contexto das relações existentes entre lazer e tecnologia, cabe destacar o


papel que cumpre o segmento econômico do entretenimento. Trigo (2003) explica
que o conceito de entretenimento surge ao longo do século XIX e XX, resultado da
estruturação do capitalismo em fase pós-industrial. O conceito emerge com força
nos Estados Unidos, de modo que o setor de entretenimento cresceu mais do que a
indústria automobilística, siderúrgica ou o setor financeiro nos últimos anos.

Inicialmente, o setor do entretenimento não era bem visto e alguns


estudiosos, pensadores e burgueses entendiam o entretenimento como uma forma
menos elaborada de arte. Gabler apud Trigo (2003, p. 30) comenta essa questão
mencionando algumas características do entretenimento:

[...] eram gratificação e não edificação, transigência e não transcendência,


reação e não contemplação, escape em vez de submissão às instruções
morais. Como disse um elitista, a diferença entre entretenimento e
arte é a diferença entre a gratificação espúria e a experiência genuína
como degrau para uma maior realização pessoal. Está claro que o
entretenimento podia fazer concessões à moralidade, mas ninguém
em sã consciência podia atribuir o poder do entretenimento a isso. Ao
contrário, seu apelo parecia estar no fato de resistir, deliberadamente,
às obrigações da arte. Um dos dogmas da cultura era que a arte
exigia esforço para ser apreciada, sobretudo esforço intelectual, mas o
entretenimento não fazia nenhuma exigência a seu público. Trabalhava
apenas a serviço dos sentidos e das emoções; era a reação passiva
recompensada pela diversão.

Nesta passagem, um ponto que merece ser destacado diz respeito à


questão do entretenimento, da cultura, da arte e do lazer e suas relações com os
valores morais de cada época. Não é fácil provar de que modo as alternativas de
lazer selecionadas por uma pessoa influenciam e são influenciadas pela bagagem
cultural de cada um. Por exemplo, o que explicaria o sucesso de programas
como os reality shows atualmente? Seriam tais programas uma expressão dos
valores cultivados pela sociedade atual, marcada por uma geração de pessoas
demasiadamente preocupadas com os padrões estéticos, capazes de expor
sua intimidade a qualquer preço, envolvendo-se em relações sociais e afetivas
tumultuadas, cultuando a busca do prazer acima de tudo? Ou seria o inverso, uma
tentativa dos meios de comunicação de estimular determinados comportamentos
e atitudes em sua audiência, pautada na máxima do “pão e circo” a fim de que a
população não fique atenta aos problemas a sua volta? Não existe uma resposta
pronta para tais indagações, mas conforme já comentamos, sempre é necessário
lembrar que o modo como determinada sociedade se diverte depende do aparato
cultural que atribui significados para as manifestações e que, portanto, essas
escolhas não podem ser totalmente esvaziadas de sentido social.

148
TÓPICO 3 | LAZER E TECNOLOGIA

Outro aspecto chave refere-se às rivalidades existentes entre as várias


formas de lazer. A concepção de que o lazer cultural seria uma forma mais
sofisticada e que seria destinada a camadas privilegiadas da população, precisa
ser abandonada nos dias de hoje. É evidente que cada modalidade de atividade,
apresenta suas características próprias. Por exemplo, não se pode dizer que
assistir a uma apresentação de uma orquestra ou a um filme seja atividades
equiparáveis. Cada uma delas cumpre sua função, e se por um lado, assistir à
apresentação da orquestra serve para ampliar a educação musical, isso não coloca
o filme, enquanto passatempo despretensioso, em uma escala inferior. Conforme
vimos, o lazer pode contribuir na formação cultural do sujeito ou pode se dar sem
nenhuma intencionalidade, almejando simplesmente o prazer, ou curtir algumas
gargalhadas, por exemplo.

Trigo (2003) menciona que alguns intelectuais (ou pretensos intelectuais)


adotam uma postura pedante perante a cultura de massa e o entretenimento
contemporâneos e que as explicações para tal atitude, encontram-se inscritas na
história. Segundo o autor supracitado, a aristocracia reacionária não aceitava o
fato de camadas menos abastadas da população se divertissem longe da Corte,
da Igreja e do Estado. Isso era permitido apenas nas festas de exceção, como o
carnaval, feiras populares ou em algumas quermesses. Contudo, quando tudo isso
se tornou uma atividade independente, lucrativa e submetida deliberadamente
aos desejos do público, as elites perceberam que estavam perdendo poderes e que
outras elites estavam se configurando.

Atualmente, os Estados Unidos são referência no segmento de entretenimento,


e possuem milhares de parques de diversão e temáticos, museus de todos os tipos,
parques aquáticos, parques naturais, cinemas, jogos eletrônicos etc. De acordo com
Trigo (2003), duas áreas podem ser consideradas pioneiras no surgimento das
atividades de entretenimento organizadas: Coney Island, em Nova York e Venice,
Califórnia. Essas duas localidades foram precursoras dos grandes parques atuais
como Disneyland, Walt Disney World, Universal Studios, Six Flags, entre outros.

O segmento do entretenimento, um dos que mais emprega tecnologia no


âmbito do lazer é um setor embasado na diversão, no fácil, nas sensações e até
mesmo no irracional, como alguns efeitos e tramas de filmes, que embora sejam
totalmente irreais, cativam muitos expectadores. Da mesma forma como acontece
com as mais variadas formas de lazer, o entretenimento também sofre com
produções de baixa qualidade. Não há nenhuma dúvida que existem programas
de tevê grotescos, filmes apelativos e sem um bom enredo, do mesmo modo que
se montam exposições de obra de arte de péssimo gosto ou que se produzem
peças teatrais ruins. O que não se pode, é a partir de alguns casos, generalizar o
entendimento de que o entretenimento, destinado para as massas, é em si ruim e
pouco qualificado.

A indústria do lazer absorveu as tecnologias assim como o turismo, e é


inegável que muitas vezes tecnologia de ponta consiste em altos preços – sobretudo
no Brasil. Por isso, a tecnologia destinada ao lazer ainda não é acessível para muitas
parcelas da população.
149
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Embora o turismo, enquanto atividade de lazer venha crescendo nos


últimos anos, muitas atividades de lazer são desenvolvidas dentro do espaço
doméstico. Anda que existam equipamentos variados como o rádio e os
computadores, a televisão costuma reinar quase que absoluta no lar. A televisão
adentra nas residências e em vários outros locais de socialização, como consultórios
e restaurantes, ocupando cada vez mais tempo das pessoas, especialmente das
que dispõem de TV por assinatura, que amplia e diversifica a gama de atrações,
mas que muitas vezes, apresentam pouca qualidade de conteúdo. Para Marcellino
(1996) o reinado da TV é exercido sobre um fiel público cativo, como uma forma
de lazer que não demanda grandes investimentos.

Muitas famílias brasileiras vivenciam uma realidade na qual a televisão


rouba um tempo precioso para as conversas e o convívio familiar. É comum as
pessoas manterem a televisão ligada durante as refeições e se manterem vidradas
na programação sem compartilhar os acontecimentos do dia. Tamanhos são os
impactos desse tipo de comportamento, os quais certamente, não possuem causa
e efeito direto, pois é difícil mensurar quais fatores subjetivos exercem influência
sobre as atitudes e sentimentos individuais. É fácil imaginar, contudo, que tomar
o café da manhã, com a televisão ligada em alto volume, apresentando uma série
de notícias violentas, repleta de crimes, conflitos e problemas diversos, afeta de
alguma forma o humor das pessoas.

Tratando do impacto da televisão sobre as relações familiares, Marcellino


(1996) reflete sobre o potencial da televisão permitir uma socialização dos
membros família e indaga até que ponto a cena da família reunida em torno do
aparelho, totalmente calada, seria causada pelo fascínio da programação ou uma
alternativa para quem não tem muito a dizer um ao outro. Trata-se de um assunto
delicado e com difícil reposta, mas infelizmente, várias famílias vêm apresentando
dificuldades em manter sólidos e harmoniosos laços afetivos.

Muito se discute, e você já deve ter ouvido falar a respeito, da capacidade


que os canais de comunicação possuem em despertar desejos de consumo, sem que
exista uma real necessidade dos mesmos. Andrade (2001b, p. 82) comenta o assunto:

Esta constelação de mídias, encabeçada pela televisão estimula os


sentidos, desperta atenção a atenção, cria ou reforça desejos, e leva os
indivíduos a aquisições que, anteriormente, talvez jamais tivessem tido
disposição ou coragem de fazer. Evidencia-se que a força da mídia induz
os indivíduos e toda a sociedade a respostas cada vez mais frequentes
e exageradas, a necessidades naturais ou não, e cria o mercado da
transformação do supérfluo em realidades indispensáveis à vida social.

No Brasil, a situação torna-se mais critica, pois existe um claro exemplo de


hegemonia em termos de produção cultural televisiva, uma vez que a principal
emissora de TV chega a praticamente todos os 5.400 municípios do Brasil. Contudo,
o sinal emitido para todas as cidades é gerado exclusivamente no Rio de Janeiro,
difundindo em todo o Brasil (inclusive em outros países) determinados valores,
ideologias, visões de mundo e compreensões de lazer típico daquela realidade.
(GOMES; PINTO, 2009).
150
TÓPICO 3 | LAZER E TECNOLOGIA

Lapolli e Gauthier (2008) explicam que os meios de comunicação de


massa são veículos nos quais o fluxo de comunicação é, predominantemente,
único ainda que existam várias formas de feedback, como os índices de consumo,
mensuradores de audiência, cartas dos expectadores, telefonemas e e-mails, a
capacidade de intervenção dos receptores é restrita. Na prática, nas mídias de
massa as mensagens são produzidas por algumas pessoas e transmitidas para
outras em situações espaciais e temporais diferentes das encontradas na ocasião
de concepção das mesmas. Assim, os receptores das mensagens participam de um
processo estruturado de transmissão simbólica, que não participa da elaboração
das mensagens. Nas palavras de Lapolli e Gauthier (2008, p. 35), “a massa é então
um conjunto de indivíduos com características sociológicas comuns, mas sem
nenhum encontro coletivo”.

Ou seja, as práticas de lazer apresentadas nas telenovelas, muitas vezes


realizadas pela orla da praia, com corpos musculosos e gente que dispõe de longos
períodos para o lazer, podem causar frustração para muitos expectadores, se estes
entenderem aquele ideal como o melhor para sua vida.

Por isso, é sempre importante que o uso da televisão enquanto instrumento


de lazer doméstico, perpasse por um senso crítico e de discernimento de quem
assiste, pois, no caso dos seriados americanos, por exemplo, a atitude soberba e
poderosa da patricinha protagonista da trama, se adotada por uma adolescente no
seu meio social, pode gerar um afastamento de muitos colegas. Embora seja difícil
de reconhecer, há que se atentar que o conteúdo assistido diariamente na televisão
(em alguns casos, durante várias horas) exerce influência sobre as percepções
e compreensões de realidade do indivíduo (principalmente entre crianças e
adolescentes) de forma direta ou indireta.

Outro equipamento que faz parte do gosto de muitas crianças,


adolescentes e, inclusive alguns adultos, são os video games. Trata-se de uma
modalidade de entretenimento gerada pela indústria eletrônica e abrigada pela
indústria do entretenimento, sendo continuamente aperfeiçoada. De acordo
com Reginato (1999, p. 132):

O vídeo game é o entretenimento como experiência individual, mediada


pela máquina, durante a qual a atenção do indivíduo é tomada pela tela
onde o jogo acontece e onde a velocidade é o índice da capacidade de
resposta. As máquinas requerem habilidades diferentes, pois o manejo
das alavancas e dos botões se inscreve na ordem dos reflexos corporais;
já o que se passa no vídeo e o que se deseja que ali aconteça obedecem a
uma lógica extracorporal.

No video game, o interesse é alimentado pela tensão que o jogo proporciona


e a recompensa, a satisfação, decorre da superação dos limites, da marca e da
pontuação alcançada anteriormente. Genericamente, pode-se afirmar que o video
game, jogado individualmente ou com outros colegas, demandam habilidades
manuais, rapidez de raciocínio e cooperação. (REGINATO, 1999).

151
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Muito se discute sobre o impacto do video game na formação das crianças


e dos adolescentes. Dentre os que criticam a massificação dessa modalidade de
entretenimentos, condena-se principalmente a violência presente na maioria
deles; a diminuição da socialização entre os amigos, pois jogos brincadeiras
ao ar livre estimulam a criação de laços sociais; a falta de movimentação e
deslocamento do indivíduo, pois ao contrário das atividades físicas, o video
game não consome muitas calorias nem estimula o saudável desenvolvimento
corporal. Esse último aspecto apontado vem se tornando um grande mal em
nossa sociedade, a obesidade infantil. Os números aumentam a cada ano
e constante consumo de alimentos industrializados, prontos e congelados,
típicos de uma geração nas quais os pais passam longos períodos no trabalho
e partir de certa idade, as crianças já aprendem a se virar sozinhas passando
diariamente várias horas desacompanhadas, o cenário se complica. Trata-se,
contudo, de uma discussão que requer certo nível de cuidado, pois não se pode
provar, por relação simples e direta, que o video game torna a criança violenta,
por exemplo. Perante os vários estímulos e relações que menor encontra-se
exposto, vários fatores interferem em sua formação.

Por outro lado, entre os defensores do video game, os principais benefícios


apontados são o estímulo ao raciocínio rápido e a concentração. Nessa equação,
parece não haver uma resposta ou fórmula única, pois mesmo os pais que proíbem
seus filhos de utilizar o referido equipamento, encontram dificuldades, pois a
criança poderá ter acesso a ele na casa de vizinhos, colegas e amigos, sem contar a
constante pressão para a aquisição.

O que parece bastante pertinente é estabelecer normas para o uso do video


game. Como todos sabem qualquer exagero não faz bem para a pessoa e para sua
saúde. É de suma importância que os pais e responsáveis estabeleçam regras e
negociações para que a exposição a qualquer equipamento tecnológico seja o video
game, o computador ou dispositivos sonoros não seja exagerada. A imposição de
limites é fundamental no processo educativo.

Atentas às críticas que vinham recebendo por contribuir para o


sedentarismo e a obesidade (sobretudo infantil) nos últimos anos, algumas
empresas vêm projetando jogos com detectores de movimentos nos quais o
participante realiza atividades físicas integradas ao jogo, isto, ao invés de apenas
apertar o botão, pode ser solicitado ao jogador, dar passos para frente e para
trás. Algumas empresas estão inclusive acoplando dispositivos nos detectores
de movimentos, com a finalidade de mensurar quantas calorias foram gastas
em determinada partida. Esta é uma nova modalidade de jogos de video game
lançadas recentemente, e tendo em vista o paulatino advento tecnológico, não
será de estranhar se dentro de algum tempo, surjam outras capazes de explorar
novas modalidades de lazer digital.

152
TÓPICO 3 | LAZER E TECNOLOGIA

FIGURA 18 – NOVAS MODALIDADES DE VIDEO GAME

FONTE: Revista Típica. Disponível em: <http://www.revistatipica.com.


br/?s=destaque&n=4>. Acesso em: 12 fev. 2012.

Sob o ponto de vista econômico, tamanho é o sucesso dos video games como
forma de entretenimento que nos últimos anos, despontam-se novos cursos, em
nível técnico e de graduação, focados na elaboração de jogos.

Na reportagem apresentada na sequência, publicada pela Revista


Crescer, especialistas na área de desenvolvimento infantil falam a respeito do
uso do video game. Acompanhe:

Video game a favor do seu filho

Simone Tinti

Apesar de sempre gerar polêmica, os games podem ser uma diversão


saudável. O segredo está no controle dos pais, que precisam estar atentos com
o que os filhos se divertem.

Jogos de video game sempre geram polêmica entre os pais. Afinal, fazem bem
ou mal para as crianças? Para a psicóloga Andréa Jotta Nolf, do Núcleo de Pesquisa
da Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP, as crianças de hoje não conhecem
o mundo sem tecnologia. Portanto, não seria possível privá-las do video game.

A questão está no limite desta exposição. “Apesar de ser uma atividade


que entretém os pequenos por horas, os pais precisam regular o tempo da
brincadeira. Até os 12 anos de idade, a criança não tem controle da intensidade
de suas atividades. Então, cabe aos pais esse papel”, diz.

Como diz a psicóloga Prislaine Krodi, do Instituto da Criança do Hospital


das Clínicas de São Paulo, se praticado em excesso o video game pode virar

153
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

compulsão. E como perceber isso? “Se a criança não pede mais para ir ao parque,
deixa de estudar, não se interessa por outras atividades ou não telefona mais
para os amigos, é o momento de diminuir as horas de jogo”, diz.

Uma saída para o equilíbrio é oferecer mais opções de lazer dos filhos.
Além de jogar video game, eles devem ter outras formas de diversão, como a
prática de esportes ou brincadeiras ao ar livre. Além disso, o game não pode
atrapalhar a hora da lição ou do banho. “Os pais precisam criar regras e
serem firmes na execução delas. Até pode ser atraente ter algumas horas de
sossego, com o filho quietinho em frente à televisão ou computador, mas os
combinados devem ser seguidos”, explica.

Em relação aos jogos violentos, Andréa recomenda verificar a classificação


indicativa. Caso seja permitido, a atividade pode funcionar como uma “válvula
de escape” para a criança. “Esse tipo de game segue a mesma lógica das
brincadeiras de mocinho e bandido. É uma forma de catarse”, afirma Andréa.

Prislaine Krodi diz, ainda, que no caso dos games violentos, a atenção deve
ser maior com os menores de 7 anos. “Até essa idade, aproximadamente, a criança
não separa muito bem a fantasia da realidade”, diz. Uma solução é explicar a
diferença do que acontece no jogo e na vida real e, se possível, incentivá-lo a
brincar com outro game. “Os pais precisam saber o que o filho está jogando,
discutir o que acontece na tela e oferecer outras opções”, afirma Prislaine.

FONTE: Revista Crescer. Disponível em: <http://revistacrescer.globo.com/Revista/


Crescer/0,,EMI4713-10540,00.html>. Acesso em: 19 fev. 2012.

Com relação ao advento tecnológico, vale a pena comentar que sempre


que surge uma nova forma superior ou diferente de tecnologia, é comum que
ocorra o pensamento de que a forma anterior será deixada totalmente para trás.
No caso do vídeo cassete, por exemplo, foi o que aconteceu com o surgimento
do aparelho de DVD, a forma mais moderna tornou totalmente obsoleta a
modalidade anterior. Em outros casos, entretanto, a transição pode ser mais
lenta e a substituição pode não ser total. Um exemplo é o rádio, que embora
antigo e com substitutos mais arrojados, ainda faz parte da realidade cotidiana.
O livro e as bibliotecas podem ser outra demonstração, pois embora existam
amplos acervos digitais, o domínio ainda é o das obras impressas.

O lazer em conjunto com a tecnologia, seja através da televisão, do


video game, dos jogos online ou dos computadores, exploram as possibilidades
oferecidas pela tecnologia, passando pela simulação de geografias, épocas e
situações que podem contribuir para a construção de uma rede de informações
e experiências que levam o indivíduo a superar limites e sua compreensão
do mundo, possibilitando ainda, o prazer de compartilhar conversas com
indivíduos distantes fisicamente. (REGINATO, 1999).

154
TÓPICO 3 | LAZER E TECNOLOGIA

A tecnologia digital surge para suprir a demanda por trocas de informações


e rapidamente foi integrada ao cotidiano das organizações, alterando a forma de
se fazer negócio e posteriormente, extrapolou os limites das empresas e passou
a fazer parte da vida de todos. Sob o ponto de vista da gestão, a tecnologia
digital cria oportunidades para as empresas estreitarem seus relacionamentos
com o consumidor além de inúmeras outras vantagens, como a redução de
custos, melhorias nos processos operacionais, aperfeiçoamento das ferramentas
de controle e pode oferecer subsídios para as tomadas de decisões estratégicas.

155
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você viu que:

• Ao longo da história, sempre houve atividades divertidas e programadas, como


brincadeiras de rua, jogos, festas, circos, teatros, shows, romarias, quermesses
entre outros.

• As novas tecnologias impulsionam novas relações entre lazer e território, e tal


evidência reforça a complexidade da sociedade globalizada e, sob esse ponto
de vista, sem fronteiras nítidas para demarcar o que é próprio ou não de um
determinado contexto.

• Inicialmente, o setor do entretenimento não era bem visto e alguns estudiosos,


pensadores e burgueses entendiam o entretenimento como uma forma menos
elaborada de arte.

• A concepção de que o lazer cultural seria uma forma mais sofisticada e que seria
destinada a camadas privilegiadas da população, precisa ser abandonada nos
dias de hoje.

• Antes da ascensão do capitalismo, a aristocracia reacionária não aceitava o fato


de camadas menos abastadas da população de divertirem longe da Corte, da
Igreja e do Estado.

• Atualmente, os Estados Unidos são referência no segmento de entretenimento, e


possuem milhares de parques de diversão e temáticos, museus de todos os tipos,
parques aquáticos, parques naturais, cinemas, jogos eletrônicos etc.

• A televisão adentra nas residências e em vários outros locais de socialização,


como consultórios e restaurantes, ocupando cada vez mais tempo das pessoas,
especialmente das que dispõem de TV por assinatura, que amplia e diversifica a
gama de atrações, mas que muitas vezes, apresentam pouca qualidade de conteúdo.

• Os meios de comunicação de massa são veículos nos quais o fluxo de comunicação


é, predominantemente, único.

• É sempre importante que o uso da televisão enquanto instrumento de lazer


doméstico, perpasse por um senso crítico e de discernimento de quem assiste.

• No video game, o interesse é alimentado pela tensão que o jogo proporciona e


a recompensa, a satisfação, decorre da superação dos limites, da marca e da
pontuação alcançada anteriormente.

156
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a relação entre lazer e tecnologia?

2 Qual é o impacto das novas tecnologias aplicadas ao lazer sobre os territórios?

3 O segmento do entretenimento sempre foi bem visto pelos formadores de


opinião. Essa afirmativa é verdadeira ou falsa? Justifique sua resposta.

4 Existem formas de lazer consideradas superiores que outras. Você concorda


com isso? Por quê?

5 Qual país é considerado o precursor e referência até hoje no segmento de


entretenimento?

157
158
UNIDADE 3
TÓPICO 4

O LAZER E O JOGO

1 INTRODUÇÃO
Muitos turistas viajam motivados em participar de jogos e apostas. O
jogo é um segmento do turismo que cresceu nos últimos anos. Existem destinos
e cruzeiros famosos por seus cassinos, e talvez Las Vegas seja um ícone desse
segmento. Neste tópico, vamos estudar a relação que se estabelece entre os jogos,
o lazer e o turismo.

2 OS JOGOS E OS CASSINOS
O primeiro cassino europeu foi fundado por volta de 1638, quando os
venezianos decidiram trabalhar profissionalmente o jogo, batizando-o de Il
Redotto e, em seguida, fundaram diversos outros. Nesse período inicial, houve
muitas brigas, impasses e falências, pois muitas famílias levaram suas finanças a
ruínas, jogando suas posses e até sua dignidade pessoal nas mesas e nas roletas.
Passado o período de conflitos e tumultos, houve a regulamentação do jogo e dos
cassinos, que há séculos compõe um dos setores mais lucrativos no âmbito do
lazer, nos países onde sua prática é legalmente permitida. (ANDRADE, 2001b).

Enquanto muitos criticam a legalização do jogo, há que se ponderar, que


quando bem administrada, tal prática permite o recolhimento de grande volume
de impostos para os cofres públicos, aumentando o montante de recursos que
podem ser investidos em benfeitorias em prol da sociedade.

Os Estados Unidos dominam o cenário de jogos de entretenimento na


América do Norte, contando com mais de 1.500 estabelecimentos de jogos. Na
cidade de Las Vegas, Nevada, estão localizados os melhores cassinos, que são os
preferidos de jogadores dos Estados Unidos e de outros países. Há outras cidades
que reúnem importantes cassinos, Atlantic City, Biloxi, Reno, além de outras
cidades na região do Golfo do México como Mississippi e Louisiana. Existe ainda
a modalidade de cassinos fluviais, situados em Illinois e Indiana. Os estados da
Califórnia e Colorado também experimentam grande crescimento no setor. Os
cassinos fluviais de Illinois e Indiana continuam emocionantes e você também
encontrará cassinos na Pensilvânia, abrindo caminho para ampliação dos jogos a
outros estados do país. (WORLD CASINO DIRECTORY, 2012).

159
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

FIGURA 19 – HOTEL CASSINO EM LAS VEGAS

FONTE: Disponível em: <http://vegasrooms.com/stratosphere-las-vegas.


html>. Acesso em: 20 fev. 2012.

Na Europa, o Principado de Mônaco, também é um destino muito famoso


por seus cassinos. Na América Latina, apenas o Brasil e a Bolívia não autorizam a
exploração dos jogos de azar. Na Argentina, os cassinos são um importante atrativo
turístico e para se ter uma ideia, somente um empreendimento, denominado Trillenium
recebe mais de 10 mil visitantes diários, sendo 80% destes, brasileiros. (SILVEIRA,
2004). É evidente que todos os investimentos em hospedagens e em infraestrutura
para atender aos turistas que frequentam os cassinos podem ser aproveitados por
outros segmentos de turismo e, além disso, conforme estudamos, tendo em vista que
o turista pode ter múltiplas motivações, é muito provável que além de frequentar os
cassinos, dedica-se a conhecer outros atrativos turísticos da cidade.

O Paraguai também participa do mercado turístico que comercializa os


cassinos como atração para seus visitantes. Leia na notícia apresentada a seguir,
informações sobre esse destino.

Cassinos no Paraguai são opções de lazer nas noites da tríplice fronteira

Proibido no Brasil desde a década de 50, os cassinos de Ciudad Del Leste


são alternativas para quem aprecia jogos ou procura um ambiente aconchegante
para um "happy hour".

A noite na Tríplice Fronteira – Brasil, Paraguai e Argentina – está cada


vez mais charmosa e com maior número de atrativos. Para quem cruza a Ponte

160
TÓPICO 4 | O LAZER E O JOGO

da Amizade após às 20 horas, os cassinos são opções certas de diversão. Se não


aprecia “testar sua sorte” em jogos como a roleta bacará, blackjack e pôquer
caribenho ou, ainda, os populares caça níqueis (com apostas a partir de US$
0,01) os cassinos contam com excelentes restaurantes que valem a pena conferir.

Ciudad Del Leste (CDE), no Paraguai, têm dois cassinos – Gran Casino
Paraná e Gran Casino Itaipu. Com ambientes cuidadosamente decorados,
sempre com muito glamour e elegância, ambos levam os visitantes a cenários
que lembram os grandes centros de jogos, como Las Vegas.

O mais antigo da tríplice fronteira, em funcionamento desde a década de


70, é o Gran Casino Itaipu. Situado na região central de CDE, conta com salões
espelhados, iluminados e climatizados – típicos de Las Vegas – onde o visitante
pode se distrair com várias opções de jogos. Além disso, há um espaço cultural
destinado para exposições. O estabelecimento tem serviços de segurança e de
baby sitter. Para quem aprecia gastronomia internacional, a dica é saborear as
delícias do restaurante anexo ao cassino, além do piano-bar.

“De cara nova” – Outra opção é o Gran Casino Paraná (antigo Casino
Acaray), que foi remodelado recentemente e se tornou opção de lazer para toda
a família. A casa de jogos conta também com boate e restaurante internacional,
com um cardápio para agradar aos paladares mais exigentes. Caso a intenção seja
apenas um happy hour, o Casino Paraná é uma boa opção para saborear petiscos.
Essa nova estrutura foi inaugurada no final de outubro do ano passado. Situado
próximo ao Rio Paraná, o cassino é anexo ao luxuoso Hotel Casino Acaray, de
padrão quatro estrelas. O local ganhou fama internacional por ter sido cenário
para a gravação do filme “Miami Vice”.

Os cassinos paraguaios, especialmente após a reforma do então cassino


Acaray, estão ganhando espaço na preferência do turista e já começam a
concorrer em patamares de igualdade com o argentino Gran Casino Iguazu,
que, nos últimos anos, monopoliza a preferência dos jogadores brasileiros.
FONTE: Portal Click Foz do Iguaçu. Disponível em: <http://www.clickfozdoiguacu.com.br/foz-
iguacu-noticias/cassinos-no-paraguai-sao-opcoes-de-lazer-nas-noites-da-triplice-fronteira>.
Acesso em: 16 fev. 2012.

Outros destinos vêm se fortalecendo turisticamente por conta de seus


cassinos. Macau, na Ásia, é um ícone desse crescimento. Os cassinos de Macau
encerraram o mês de janeiro de 2012 com receitas brutas superiores a 2.190 milhões
de euros traduzindo um crescimento de cerca de 25 por cento face ao mesmo mês
de 2011. (RTP NOTÍCIAS, 2012).

No Brasil, os cassinos são oficialmente proibidos. Contudo, como é de


conhecimento de todos, existem jogos que são realizados de forma ilegal, como
os bingos e o jogo do bicho. Andrade (2001b) faz notar que diversas formas de
loterias federais e estaduais, as rifas beneficentes, os documentos que garantem
prêmios nos sorteios visando ao incentivo da capitalização e um leque de outras

161
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

modalidades de aposta no acaso ou na sorte constituem-se em fatos diários,


sinalizando o apreço que a ‘jogatina’ desperta no povo brasileiro.

É importante lembrar que nem sempre os cassinos foram proibidos no


Brasil. A proibição ocorre em 30 de abril de 1946 quando o presidente Eurico
Gaspar Dutra proibiu os jogos em território nacional pelo Decreto-Lei nº 9.215/1946,
decretando a suspensão dos jogos. Segundo o então presidente, a tradição jurídica
e religiosa do povo brasileiro é contrária aos jogos de azar, que podem incitar
abusos nocivos à moral e aos bons costumes. (SILVEIRA, 2004).

Antes da proibição dos jogos, de acordo com Silveira (2004), havia no


Brasil 71 cassinos legalizados, que juntos, empregavam direta e indiretamente 60
mil pessoas. Tal como ocorre em vários países, no Brasil, os cassinos fomentaram
a criação de outros empreendimentos turísticos no seu entorno, como hotéis, bares
e restaurantes, e atraíam visitantes oriundos da Argentina, Paraguai e Uruguai. De
acordo com a mesma autora, nos grandes cassinos reuniam diversas atrações como
vários tipos de jogos, bailes inesquecíveis e shows com artistas importantes da época.

O primeiro cassino brasileiro foi fundado no Rio de Janeiro, especificamente


no Hotel Copacabana Palace. Depois, surgiram grandes cassinos em Minas Gerais,
São Paulo e Foz do Iguaçu e espalharam-se empreendimentos por outras cidades
do Brasil. Após a proibição dos jogos, a maior parte das instalações dos cassinos
passou a atender à demanda hoteleira. (SILVEIRA, 2004).

A legalização do lazer-jogo no Brasil poderia ser uma alternativa para


diversificar a oferta de produtos turísticos captando mais turistas estrangeiros e
nacionais. É claro que para isso, seria necessária uma clara e sólida política de
incentivo e fiscalização para regulamentar a atividade e para que não se crie
condições para a realização de crimes como lavagem de dinheiro, sonegação de
impostos, comercialização de drogas, prostituição e todos os outros fantasmas que
rondam o assunto quando a atividade não se desenvolve de forma séria e lícita.

162
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você viu que:

• Muitos turistas viajam motivados em participar de jogos e apostas, sendo um


segmento do turismo que cresce nos últimos anos.

• Os Estados Unidos dominam o cenário de jogos de entretenimento na América


do Norte, contando com mais de 1.500 estabelecimentos de jogos.

• Os investimentos em hospedagens e em infraestrutura para atender aos turistas


que frequentam os cassinos podem ser aproveitados por outros segmentos de
turismo.

• Macau, na Ásia, vêm se fortalecendo turisticamente por conta de seus cassinos.

• Atualmente, no Brasil, os cassinos são oficialmente proibidos.

• Nem sempre os cassinos foram proibidos no Brasil, a proibição ocorreu em 30 de


abril de 1946, durante o mandato do presidente Eurico Gaspar Dutra.

• Antes da proibição dos jogos havia no Brasil 71 cassinos legalizados.

• A legalização do lazer-jogo no Brasil poderia ser uma alternativa para diversificar


a oferta de produtos turísticos captando mais turistas estrangeiros e nacionais.

163
AUTOATIVIDADE

1 Existiria demanda para frequentar cassinos no Brasil, caso a atividade fosse


regulamentada?

2 Onde está localizada a maior quantidade de cassinos no mundo?

3 Como os investimentos necessários para a construção de cassinos influenciam


o turismo?

4 No continente asiático, qual país vem se consolidando como uma importante


potência no segmento de jogos?

5 Já existiram cassinos no Brasil? Comente o assunto.

164
UNIDADE 3
TÓPICO 5

FESTAS, LAZER E CULTURA

1 INTRODUÇÃO
Se a tarefa de relacionar alguns assuntos, como lazer e trabalho, podem
requerer algum esforço inicial, algumas associações parecem tão evidentes e parecem
se encaixar perfeitamente. Festa e lazer são um desses casos. A festa é uma expressão
de alegria, de diversão, de encontro. As festas são uma forma de lazer muito difundida
e antiga. Neste tópico, vamos abordar a questão das festas e do lazer.

2 FESTAS E TURISMO
As festas são um espetáculo à parte e ocorrem em um espaço e tempo
especiais e o setor do entretenimento empreende significativos esforços para fazer
com que as pessoas se abstraiam de seu lugar comum social e temporal a fim de
integrá-las na esfera festiva. As festas podem acontecer em diferentes espaços, tais
como: ruas, clubes, bares, praças das cidades, centros de eventos entre outros. As
festas permitem explorar a variável temporal de diferentes formas. O complexo
Disney Village, em Orlando, Flórida, comemora todas as noites, à meia-noite, uma
festa de réveillon. (TRIGO, 2003).

FIGURA 20 – SHOW DE FOGOS DE ARTIFÍCIO DISNEY

FONTE: UOL. Disponível em: <http://ec.i.uol.com.br/2009/


fevereiro/19disney02.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2012.

165
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Diversos empreendimentos como clubes e danceterias em várias cidades


comemoram festas temáticas – juninas, halloween, piratas, cowboys, fantasia,
carnaval fora de época, bailes do Hawai entre outras – que tiveram origem em
outras cidades. Em muitos casos, as festas estavam vinculadas ao calendário
religioso, sendo revestidas, portanto, de cunho sagrado. (TRIGO, 2003).

Muitas festas são incorporadas no calendário de eventos da cidade e fazem


parte das atrações turísticas. No calendário de eventos, são apresentados todas as
festas, feiras, congressos e exposições que irão acontecer na cidade no decorrer
do ano, bem como o período e o local onde acontece o evento. Desta forma, o
calendário de eventos é um importante instrumento de gestão do turismo de uma
cidade, pois permite tanto aos administradores e servidores municipais como aos
turistas, planejarem e se organizar para participar dos mesmos.

As festas de um povo estão relacionadas com sua identidade cultural e em


alguns casos, fazem parte do patrimônio imaterial de determinada comunidade. Se
durante algum tempo, a noção de patrimônio cultural remetia apenas aos prédios
e obras arquitetônicas de grande valor que deveriam ser tombadas e visitadas
para contemplação, atualmente, novos elementos incorporam-se ao tema. Macena
(2003) assevera que a concepção de patrimônio envolve todo o legado cultural de
um povo, como suas lendas, festas, folguedos, costumes, crenças, manifestações
artísticas, etc., e todos os elementos essenciais para o registro da melhora
individual e coletiva e que contribuam para a formação do sentimento de pertença
a determinada comunidade.

Além de serem uma ótima alternativa de lazer, no âmbito do turismo,


as festas são responsáveis por impulsionar significativos fluxos de viajantes. As
festas, danças, folguedos, histórias orais entre outros aspectos da cultura de uma
comunidade, podem atrair atenção e despertar o interesse de muitas pessoas
a conhecerem melhor o local e inclusive, vivenciar a experiência de participar
das festas em conjunto com a comunidade autóctone. Quando a cidade percebe
seu potencial cultural e resolve com organização e parcerias transformar
suas manifestações culturais em atrativo turístico, os turistas passam a ter a
oportunidade de se aproximar de manifestações artísticas distintas das suas.
(MACENA, 2003).

Em alguns casos, uma festa pode adquirir tamanha importância no contexto


da cidade que passa a ser o atrativo responsável por atrair os visitantes. Em
Blumenau, SC, a Oktoberfest é uma grande festa que tornou a cidade nacionalmente
conhecida. Inspirada na Oktoberfest de Munique, a versão blumenauense nasceu da
vontade do povo em expressar seu amor pela vida e pelas tradições germânicas,
tendo sua primeira edição realizada em 1984. O evento é a maior festa alemã das
Américas e entre suas atrações, destacam-se vários elementos da cultura alemã,
através da música, da dança, dos belos trajes, da refinada culinária típica e do
saboroso shop. (OKTOBERFEST BLUMENAU, 2012).

166
TÓPICO 5 | FESTAS, LAZER E CULTURA

FIGURA 21 – DESFILE DA OKTOBERFEST EM BLUMENAU – SC

FONTE: Site Oktoberfest Blumenau. Disponível em: <http://www.


oktoberfestblumenau.com.br/galeria/album-de-fotos>. Acesso em: 22
fev. 2012.

No Brasil, uma das festas mais conhecidas é o carnaval. A festa, contudo,


não é uma criação nacional e remonta origens muito antigas. Conforme explica
Ferreira (2004, p. 15):

A origem da festa carnavalesca está coberta de mistérios e controvérsias.


Alguns afirmam que ela teria surgido nos ritos agrários das primeiras
sociedades de classes, outros preferem considerar que a primeira folia
aconteceu no Antigo Egito ou na civilização greco-romana. O certo é que
existem referências ao termo “carnaval” a partir do século XI, quando
a Igreja decide instituir o período da Quaresma. Daí em diante, a festa
vai tomar várias formas até que, no século XIX, a burguesia parisiense
‘inventa’ o carnaval tal como o concebemos atualmente.

A concepção de carnaval está vinculada ao divertimento de populares,


associado a máscaras, fantasias, desfiles, bebidas e dança. Ferreira (2004) explica que
o surgimento do carnaval está ligado à instituição da quaresma, que deveria ser um
período no qual os fiéis deveriam deixar de lado a vida cotidiana, para dedicar-se
a questões espirituais, privando-se dos prazeres da vida material, isto é, abstendo-
se de comilanças, namoros, brincadeiras e bebedeiras. No período da quaresma,
deveria reinar a temperança, o comedimento, a castidade e um rigoroso jejum.
Ainda em suas explicações, Ferreira (2004) comenta que o primeiro dia da quaresma
era chamado de quarta-feira de cinzas devido ao costume de marcar a testa dos
fiéis com uma cruz feita com cinzas de uma fogueira, como sinal de penitência e o
período de privações e dedicação espiritual encerrava-se no domingo de Páscoa.
Como era de se imaginar, para muitas pessoas todas essas privações eram difíceis de
serem suportadas e passaram a organizar festejos na véspera do início da quaresma,
marcados por exageros e farturas. “Os últimos dias de fartura antes dos quarenta
dias de penúria começaram então a ser chamados de dias do ‘adeus à carne’, que,
em italiano, fala-se dias da ‘carne vale’”. (Ferreira, 2004, p. 26). Para especialistas no
assunto, essa é a explicação mais aceitável para a origem do termo.

167
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

No Brasil, o carnaval incorpora elementos da cultura nacional e a partir da


entrada do país na modernidade dos anos de 1920, a festa carnavalesca se torna
uma importante celebração da diversidade cultural do país, contando com cordões,
blocos, ranchos e belas alegorias. (FERREIRA, 2004).

A cada ano que passa, o carnaval brasileiro toma força e os desfiles das
escolas de samba, do Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente, são atrações
aguardadas por muitos durante vários meses.

FIGURA 22 – DESFILE DE ESCOLA DE SAMBA NA SAPUCAÍ

FONTE: Portal Extra. Disponível em: <http://extra.globo.com/noticias/carnaval/


carnaval-confira-ordem-do-segundo-dia-de-desfiles-do-grupo-especial-4028231.html>.
Acesso em: 20 fev. 2012.

O carnaval brasileiro atrai muitos turistas nacionais e internacionais.


Acompanhe na matéria elaborada pelo Ministério do Turismo dados sobre a
expectativa de viagens turísticas.

Rio, Salvador e Recife serão os destinos mais visitados

Seja para descansar ou para cair na folia, o fato é que o brasileiro vai sair de
casa durante o carnaval. É o que revela levantamento do Ministério do Turismo
que estima a realização de seis milhões de viagens, dentro do Brasil, no período
que começa na sexta-feira (17) e se estende até a Quarta-Feira de Cinzas (22).

Os destinos mais procurados são Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Recife
(PE). As seis milhões de viagens, realizadas por turistas brasileiros e internacionais,
devem resultar em uma movimentação financeira de R$ 5,5 bilhões.

168
TÓPICO 5 | FESTAS, LAZER E CULTURA

Esses números contribuem para a estimativa de que o verão, com ênfase


nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro deste ano, registre a realização
de 70 milhões de viagens domésticas. O número é 3% melhor que a projeção
anteriormente divulgada pelo Ministério do Turismo, de 68 milhões de viagens
realizadas por brasileiros durante a estação. Em 2011, o indicador registrou 60
milhões de viagens nacionais realizadas no mesmo período.

De acordo com o Departamento de Estudos e Pesquisas (Depes) do MTur,


a revisão da projeção deve-se ao incremento do turismo doméstico verificado
durante o Reveillon do ano passado.
FONTE: Ministério do Turismo. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/
todas_noticias/20120203.html>. Acesso em: 17 fev. 2012.

LEITURA COMPLEMENTAR

Para complementar seus estudos, na sequência apresenta-se o artigo Lazer,


festa e festejar, escrito pela antropóloga Marielys Siqueira Bueno e publicado na
Revista Cultura e Turismo. Boa leitura!

LAZER, FESTA E FESTEJAR

1. INTRODUÇÃO

A realidade do lazer no mundo moderno revelou-se complexa e ambígua,


pois além das relações profundas com todos os grandes problemas do trabalho,
é preciso considerar que o lazer cada vez mais se insere no universo do mercado.

O lazer pressupõe uma atividade de livre escolha, mas essa liberdade


encontra limites nos diversos determinismos sociais, limites esses que serão tanto
mais estreitos e opressores quanto maior for a estafa que dificulta o descanso e
menor for o salário.

A conquista do tempo livre no mundo do trabalho transcende o direito


de descanso e implica a oportunidade do exercício de funções individuais
tais como distrair-se, desenvolver-se etc. Portanto, o tempo livre se inscreve
num tempo social que permite a livre expressão do indivíduo na sociedade. O
processo de industrialização tem sido apontado como o motor da urbanização
que provocou uma verdadeira ‘mutação cultural’ que, historicamente, fez o
homem passar do arcaísmo ao modernismo determinando, também, profundas
transformações na esfera das relações principalmente naquelas decorrentes da
própria natureza do trabalho.

Nas sociedades industriais o trabalho se torna, progressivamente,


parcelado, mecanizado, desvalorizado. As forças econômicas, na busca de

169
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

ampliação de seus lucros negligenciam alguns aspectos fundamentais das


necessidades humanas, de forma que se pode avaliar o grau de isolamento e de
desigualdade entre os espaços urbanos.

Por outro lado, para o trabalhador urbano, as alterações no modo de trabalho


foram acompanhadas de mudanças no número de horas livres – o progresso
tecnológico permitiu maior produtividade com maior tempo livre. Ao lado dessa
conquista de maior tempo livre e de leis trabalhistas que garantiam o direito a
esse tempo, o lazer, em seus vários aspectos, passa a possuir uma dimensão social
nova, cuja importância não pode ser negligenciada.

O lazer, hoje, não é mais considerado apenas como tempo necessário


para a reprodução da força de trabalho. Ele se tornou, pela sua extensão e pela
infraestrutura que ele supõe um fenômeno social da maior importância. Além disso,
o lazer atualmente não é mais o privilégio de uma minoria ou de uma classe, mas o
conjunto da população reivindica o direito a ele e, mesmo que ainda persistam fortes
desigualdades, o direito ao lazer se tornou uma demanda social fundamental.

Esse fenômeno vai encorajar a industrialização do lazer e pode se notar


que ele tem sido progressivamente apropriado pela sociedade industrial. Em
consequência, vem se tornando tanto um tempo disponível quanto um objeto de
consumo – de tal forma, que nos espaços urbanos pode se considerar o lazer como
sinônimo de consumo.

Se articularmos os diferentes aspectos da condição do trabalho urbano –


salário gasto na sobrevivência, jornada de trabalho longa e, algumas vezes intensa e
penível, moradia distante, falta de centros recreativos e culturais além do acréscimo
de trabalho exigido pelas obrigações de ordem pessoal, o lazer pode se tornar um
espaço de fuga. E é por isso que se constatam numerosas atitudes de passividade
face ao lazer. O lazer ocupado pela televisão nas atividades de lazer é testemunho
dessa atitude. A preocupação então se volta para o ‘lazer anestesiante’, o lazer que
esvazia o homem de sua interioridade pelo processo de massificação que teria um
efeito tão despersonalisante quanto o trabalho parcelado e automático.

É nesse sentido que Ecléa Bosi (1981) insiste em destacar que o lazer deve
ser sempre definido em relação (de posição e oposição) ao trabalho. Não com fato
externo, mas como é vivido pelo trabalhador, como é integrado na vida cotidiana
e qual é a significação para a sua consciência.

Nelson Carvalho Marcelino ao argumentar sobre ao lazer no mundo


urbano e os elementos redutores da liberdade de escolha do lazer pelo trabalhador
cita Godbey por ser enfático ao afirmar que, contrariamente ao que se afirma, não é
a prática do lazer que vem aumentando gradativamente, mas sim, o que ele chama
de ‘antilazer’, ou seja, uma atividade compulsiva realizada a partir de estimulação
exterior. É o “homem fugindo de si próprio, negando o afrontamento consigo
mesmo e como o mundo que o cerca, incapaz de encontros verdadeiros. É o vazio,
o nada, o tédio, a alienação”. (MARCELINO, 1986, p. 48).

170
TÓPICO 5 | FESTAS, LAZER E CULTURA

Parece haver um consenso de que na sociedade atual nada favorece os


encontros comunitários. O desenvolvimento capitalista, na opinião de Edgard
Morin, acarretou a mercantilização generalizada destruindo numerosos tecidos de
convivialidade. Esse desenvolvimento, diz ele, “não somente trouxe o florescimento
individual, liberdade e lazer, mas também, uma atomização, consequência das
coerções organizacionais especificamente modernas”. (MORIN, 1993, p. 23).

Muitos pensadores sociais apontam para essa fragmentação do espaço


urbano que compromete a convivialidade e empobrece as relações. Richard Sennet
(1994), em seu livro ‘O declínio do homem público’ verifica que à medida que a vida
pública e comunitária se torna exangue, anula-se o senso de contato significativo.

Referindo-se à condição atual, Balandier (1985) afirma que o homem de


hoje está preso no casulo invisível formado por todas as redes que lhe transmitem
a distância imagens e ruídos do mundo. É preciso, diz ele, encontrar novas terapias
capazes de tirar os homens do efeito das fascinações e reensinar a eles governar as
imagens e a não suportar que elas sirvam à captura da sua liberdade.

Hoje, quando praticamente todos os espaços estão impregnados pelo


espírito da modernidade que se caracteriza especialmente pelo transitório, o
efêmero e contingente determinando uma vida linear, direcionada, planificada,
torna-se imperativo a constatação de que existem diferentes dimensões na
concretude da vida.

No entanto, Rita Amaral não concorda e diz que,

não é possível pensar a cidade, especialmente as metrópoles, como o lugar


da solidão e do individualismo, como o senso comum tende a estereotipar.
Na verdade, vivem-se, atualmente, novos tipos de associação, com bases
mais “afetivas”, que têm no partilhar um gosto comum e práticas comuns
seu elemento mais notável. (AMARAL, 1998, p. 111).

É justamente nesse sentido que vemos o papel social importante das festas
que no dizer de Balandier (1985) abrem espaços no interior da sociedade e ela
não seria apenas um espetáculo onde se joga com a realidade e com o imaginário,
mas igualmente, oferece a possibilidade para uma participação ativa onde se
criam momentos para a libertação física e psíquica propiciando a vivência da
convivialidade e solidariedade.

2. FESTA

O uso do tempo livre, o lazer não é, como aponta Maffesoli (1984), um


divertimento de uso privado, mas, fundamentalmente, a consequência e o efeito
de toda sociabilidade em ato. A comunhão de emoções ou sensações difundida
nesses momentos é, para ele, o que funda a vida social.

A festa é uma verdadeira ‘recr(e/i)ação’ ao contrário de muitas formas de


lazer pobres em criatividade, convivialidade e comunhão comunitária. As festas

171
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

são ocasiões para as pessoas se reunirem e delas saírem fortalecidas. Nelas se


instala o clima da descontração, despreocupação. A festa tem a leveza e nela se
conecta com “o outro”. Na festa a despesa não é utilitária e a sociedade vê nela uma
fonte de energia e criação.

Capra, em sua obra às conexões ocultas (2002, s.n.), diz que “a capacidade
marcante do nosso planeta é a sua capacidade intrínseca de sustentar a vida” e sinto-
me tentada a parafraseá-lo dizendo que a capacidade marcante do Homem é a sua
capacidade de sustentar a vida social. Entre os mecanismos alienantes da economia
e as limitações opressoras do poder, o Homem reage infiltrando, nos interstícios
da sociedade, formas de vivências revitalizadoras para recuperar seu sentido de
participação e construção de identidade. Assim, numa convivência solidária, em
diferentes modos de ser e viver, os homens criam, imaginam e inventam formas de
sustentar o humano no social, a identidade na impessoalidade.

Entre esses mecanismos, um espaço se destaca – a Festa. Particularmente


as festas que são manifestações da tradição cultural pelo seu grande potencial
criativo e de integração. Referindo-se à festa como manifestação cívica e cultural,
Octávio Paz (1984, p. 32) diz que a “sociedade comunga consigo mesma na festa
e, graças a ela, o mexicano comunga com seus semelhantes e com os valores que
dão sentido à sua existência”.

A Festa, em todas as suas diferentes modalidades e seus múltiplos significados


e contextos, têm em comum o fato de criar um espaço essencial para fortalecer e
nutrir a rede das relações sociais, a parte humana vital da chamada ‘teia da vida’.

A Festa – esses eternos rituais que acompanham o homem em momentos


suspensos, extraídos da linearidade do tempo cotidiano – tem muitas
modalidades, mas seja qual for a sua forma de expressão, os momentos de
lazer proporcionados por elas, têm sempre um caráter participativo e a forma
de convivialidade que ela cria reforça e nutre os laços sociais. O tempo vivido
na Festa é um tempo extraído do cotidiano porque cria um envolvimento
que permite um distanciamento das preocupações, especialmente aquelas
decorrentes do trabalho e/ou medo subjacente de perdê-lo.

A complexidade e riqueza da festa têm sido abordadas por vários autores.


Rita de Cássia Amaral (1998), em ‘Festa à brasileira’, diz que a festa é, conforme
o contexto, capaz de celebrar, ironizar, sacralizar a experiência social e, também,
pessoal. É capaz, ainda, de resolver, pelo menos no plano simbólico, contradições
da vida social, apontando assim, para seu poderoso papel de mediador entre
as estruturas econômicas, bem como entre as diferenças socais e culturais,
estabelecendo pontes entre grupos e indivíduos, realidades e utopias, além de
suas mediações simbólicas entre o sagrado e profano. Ainda segundo Amaral, a
festa é capaz de apreender o sentido de cidadania proporcionando um despertar
da consciência de grupo, de comunidade. Por essas razões, entre outras, que ela
atribui, às festas, uma tríplice importância: cultural, por colocar em cena valores,

172
TÓPICO 5 | FESTAS, LAZER E CULTURA

projetos, artes e devoção; como modelo de ação popular e como produto turístico
capaz de revitalizar e revigorar muitas cidades.

3. METODOLOGIA

As reflexões que orientam este artigo resultam de trabalho de campo,


realizado em diversas épocas, acompanhando cada um das festas relatadas a
seguir, em todos os seus momentos, com objetivo de registrar, pela observação,
as manifestações próprias a cada uma delas. Utilizou-se como instrumento de
pesquisa, a entrevista com os principais “atores” participantes das festas, assim
como os turistas, provenientes de diversas regiões do Brasil.

Além disso, o interesse pelo tema é bastante antigo, embasando-se em


pesquisa bibliográfica de suporte, que permitiu a percepção das festas como uma
modalidade especial de lazer, que leva a privilegiar uma sociabilidade própria a
esses momentos. Percebem-se as funções sociais da festa nos resultados da coesão
grupal e um esforço na identidade grupal e, como disse um depoente, “antes
éramos conhecidos pela pobreza, e hoje somos conhecidos no Brasil inteiro pela
festa do Boi Bumba” (Parintins).

4. O FESTEJAR

As festas comunitárias ocupam um lugar privilegiado na cultura brasileira.


Seu forte apelo aos sentidos atrai e envolve tanto a comunidade quanto os visitantes
e admiradores. Nas festas, por todo o Brasil, o jogo de cores, os ritmos. As toadas, os
bailados e as comidas se multiplicam e encantam os que dela participam, criando
um envolvimento que, de certa forma, dilui barreiras e fronteiras entre sagrado e
profano, rico e pobre, brancos e mulatos.

Pode-se dizer que, a despeito da modernidade, as festas crescem, se


multiplicam e ganham visibilidade. Muitas festas tradicionais tornaram-se
atrações turísticas exercendo, pela sua organização, uma ação de destaque,
podendo alcançar uma visibilidade nacional que favorece, entre outros aspectos, a
construção de identidades sociais.

Na multiplicidade de festas que se tornaram verdadeiros ‘eventos’


nacionais, elegemos a festa do Boi-Bumbá de Parintins, no Amazonas e a Cavalhada
de Pirenópolis, em Goiás, como apoio para algumas considerações sobre certas
características do festejar brasileiro.

A primeira é uma festa de motivação folclórica e, a segunda, uma festa


religiosa. Com temas, motivações e estruturas de organização tão diferentes é
surpreendente encontrar nelas vários aspectos comuns. Ambas privilegiam o
imaginário em momentos criativos de uma plasticidade rica e atraente e, em ambas,
encontra-se o aspecto ‘mutirão’ que evidencia a oposição ao individualismo que
apontam ser característica urbana.

173
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Ambas requerem a participação efetiva de praticamente toda a comunidade,


durante o ano todo, através da distribuição de funções dentro de uma estrutura de
planejamento e produção.

O importante dessas manifestações festivas é a genuína comunhão e o autêntico


entusiasmo da participação coletiva. Imediatamente após o término da festa iniciam-se
o planejamento e a montagem da próxima. Dividem-se tarefas, envolvendo inúmeras
especialidades e talentos. Dessa forma, a festa se insere na própria vida cotidiana.

5. FESTA DE PARINTINS

Em Parintins, o folclore do boi-bumbá é uma variante espetacular de um


tema registrado em várias regiões do país. O tema folclórico original do boi-bumbá
diz respeito a um vaqueiro que, para satisfazer o desejo da mulher grávida de comer
língua de boi, mata o boi que um rico fazendeiro havia dado à sua filha querida. O
fazendeiro descobre o ‘crime’ e só suspenderá a punição ao vaqueiro de confiança
se o boi for ressuscitado. Por interferência de um padre o boi ressuscita e o vaqueiro
é perdoado. Na versão amazônica, um médico e um padre tentam ressuscitar o boi,
mas fracassam. É introduzida a figura do pajé. Este consegue o feito através de seus
processos mágicos de cura, que levam ao perdão do vaqueiro e à reconciliação festiva.
A figura do pajé, bem como a ênfase na incorporação do tema indígena, marca a
singularidade do festival de Parintins frente às representações de outros estados.

Tradicionalmente, o boi-bumbá era uma brincadeira de rua. Os brincantes do


boi saíam pelas ruas da cidade festejando, dançando e contando diante das casas dos
mais ricos, encenando a matança do boi. Em troca, o dono da casa comprava a ‘língua
do boi’, ou seja, retribuía a dádiva com uma quantia em dinheiro dada aos brincantes.

A apresentação, na forma em que é conhecida hoje, iniciou-se em 12 de


junho de 1966 e ficou registrada como o primeiro festival oficial. O local foi a praça
da igreja Nossa Senhora do Carmo. A partir dessa data, as apresentações passaram
a ter um caráter competitivo, pois visavam a agradar o público e conquistar o título
de ‘o melhor festival’.

A partir daí há uma espetacularização do Festival. Em função do caráter


competitivo, novos critérios de regulamentação foram progressivamente
introduzidos na apresentação. A dimensão da festa levou os organizadores a se
mobilizar para adquirir um espaço permanente para a apresentação dos bois. Depois
de várias experiências, a consolidação de um espaço permanente e adequado aos
critérios da encenação será conquistada em 1988 com a inauguração do Centro
Educacional e Desportivo Amazônico Mendes que comporta trinta e cinco mil
pessoas e é conhecido e chamado de Bumbódromo (numa alusão comparativa ao
Sambódromo do Rio de Janeiro).

174
TÓPICO 5 | FESTAS, LAZER E CULTURA

Os bois Garantido e Caprichoso se apresentam nos três últimos dias do


mês de junho celebrando o boi-bumbá através de um enredo que guarda o núcleo
semântico original, mas incorpora elementos do universo imaginário amazônico.

Cada boi cria, anualmente, um enredo que será representado na arena do


Bumbódromo, durante duas horas e meia, por três dias. Isso significa um trabalho
para o ano todo, começando pelo planejamento, seguido por atividades febris para
a execução das alegorias, os ensaios das coreografias e ajustes no acompanhamento
rítmico e melódico da linha narrativa.

Devido à crescente complexidade técnica, recursos cenográficos,


grandiosidade das alegorias e efeitos de luz, o festival assumiu uma dimensão
comparável ao desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro – fato extraordinário
se considerarmos as dimensões da cidade e o seu isolamento da ilha. Aliás,
segundo Braga (2002), foi o carnaval carioca que inaugurou essa concepção de
espaço destinado aos grandes espetáculos de massa que, mais tarde, se expandiu
para outras manifestações populares.

Tudo que se possa ler e ouvir, imagens que se possam ver, não conseguem
transmitir a efervescência da festa, seu aspecto monumental e seu clima feérico.
Ao amanhecer do primeiro dia dos festejos a cidade entra em ebulição. As ruas
se transformam, num abrir e fechar de olhos, barracas se erguem com os mais
variados produtos e as embarcações típicas do amazonas, com dois ou três andares
e dezenas de redes para acomodar os passageiros, buscam lugar para atracar. Desse
momento em diante, as ruas centrais, se transformam em palco onde milhares de
turistas passeiam, dançam e compram artesanato. Sucos de frutos afrodisíacos são
anunciados e pratos típicos são disputados nas barracas. Bicicletas, transformadas
em ‘taxi’, disputam espaço com os turistas.

De navios de cruzeiros internacionais desembarcam turistas estrangeiros.


Para estes são feitas apresentações especiais dos bumbas se eles chegam fora da
temporada do festival. A expansão da festa e os novos significados da tradição
determinaram, evidentemente, importantes modificações que recebem críticas
de uns e aprovação de outros. Mas parece não haver dúvidas de que o boi
tem fortalecido o orgulho da população. Nesse novo formato ‘espetáculo’, a
organização da festa, em função do acréscimo de outros participantes e outros
assistentes, exige um planejamento que requer múltiplos talentos, gerando um
tecido de atividades sociais criativas, uma convivialidade e uma solidariedade
em diferentes níveis de participação.

O núcleo tradicional das festas ganha, por esse processo, meios de


expressão de maior amplitude. Tudo vai permitir falar mais vigorosamente de
sua história, de redinamizar seu imaginário e fazer renascer valores esquecidos. O
certo é que durante todo o ano, várias formas de entretenimento ligadas ao Festival
animam a maioria dos moradores da cidade – ensaios das danças, das músicas etc.
constituindo um espaço concreto de relações de lazer.

175
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

6. A FESTA DA CAVALHADA

Outra festa que apresenta esse processo de expansão de suas manifestações


populares é a Cavalhada de Pirenópolis. Também nesse caso, os moradores da
cidade têm durante todo o ano momentos de encontros festivos e de convivialidade
ligados ao preparo e planejamento da festa.

A Cavalhada propriamente dita é a evocação da luta entre os cristãos e os


mouros inserida na Festa do Divino e se realiza, anualmente, cinquenta dias após a
Páscoa. Pirenópolis é uma pequena cidade no interior do estado de Goiás. Foi fundada
em 1727 em função da exploração das ricas minas de ouro da região. Rapidamente as
minas se esgotaram e, para a cidade, só restaram o comércio e a agricultura.

Essa cidade ganhou um novo impulso com a criação de Brasília e sua


classificação como monumento histórico. Esses aspectos, aliado à sua configuração
geográfica, fazem dela uma cidade com potencial turístico e ecológico. Mas ela é
conhecida, principalmente, por causa da festa da Cavalhada, momento em que o
número de visitantes dobra a população da cidade.

Se a cavalhada propriamente dita dura três dias, a festa, no seu conjunto,


dura dez dias e sua preparação o ano todo.

Realizada desde 1819, a Cavalhada é uma festa de inspiração religiosa e a


ela foram acrescentadas numerosas manifestações profanas, o que provoca alguns
conflitos com as autoridades religiosas.

A motivação de Parintins é a competição e a motivação da Cavalhada é a


fé religiosa. Todos chamam a festa da Cavalhada, mas o verdadeiro nome é “Festa
do Divino”, o que mostra bem sua origem religiosa e a motivação particular das
pessoas para a sua preparação.

A festa de Pirenópolis também vem aumentando. Para receber o número


crescente de turistas algumas casas foram reformadas para assegurar a instalação
do “Bread and Breakfast”. As numerosas pousadas construídas asseguram o
alojamento dos turistas.

Para a festa os artesãos confeccionam artigos ricos e variados, as doceiras


oferecem as especialidades da região, as bordadeiras, hábeis, se revezam na
confecção das roupas cada vez mais luxuosas dos cavaleiros e para os ornamentos
dos cavalos. Os bares cafés e restaurantes se aperfeiçoam e se decoram – a cidade
se torna brilhante, viva e seus habitantes ficam orgulhosos de tudo isso. Muitos
aprovam as modificações ligadas à presença do número crescente de turistas,
mas não faltam críticas. Mas apesar da desaprovação de alguns moradores mais
conservadores, a festa da Cavalhada continua proporcionar aos seus moradores
momentos prazerosos de encontros festivos para preparação para a festa, para o

176
TÓPICO 5 | FESTAS, LAZER E CULTURA

ensaio das pastorinhas, para a programação dos fogos de artifício, para a confecção
das máscaras dos cavaleiros. Alguns moradores confirmam esse prolongamento
do ‘festejar’ durante muito tempo e nas mais variadas ocasiões.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inegável que o fenômeno turístico pode significar a revitalização dessas


festas e oferecer condições para a manutenção dessas expressões culturais sempre
ameaçadas de esgotamento e extinção face às condições corrosivas da modernidade.
É bem conhecido que as festas populares ocupam um lugar importante e de grande
visibilidade na cultura brasileira.

Pode-se dizer que, a despeito da modernidade, as festas, se multiplicam e


ganham notoriedade. Por sua vez, essas festas oferecem ao turista, elementos que
o enriquecem na medida em que vivenciar uma manifestação cultural diferente,
pois olhar já é participar pela alegria, satisfação que a festa suscita.

No entanto, apesar desses aspectos reconhecidamente positivos é preciso


considerar a natureza da interação entre visitantes e residentes nessas festas, pois
segundo Urry, citado por Luiza Neide M. T. Coriolano (1997), existem muitos
determinantes conflitivos entre hospedeiros e hóspedes nas relações sociais através
das práticas turísticas. Daí a necessidade de avaliar as marcas deixadas por esse
intercâmbio que cria novos elementos e/ou novas funções nessas práticas sociais.

Vemos, portanto, que a festa é uma realidade social que requer abordagens
e interpretações múltiplas e complementares. Entre elas, gostaria de ressaltar o
fato de que ela é um espaço privilegiado para a prática do lazer.

A festa supõe, evidentemente, o acolhimento do ‘outro’, uma expansividade


coletiva. A alegria e despreocupação que permeia a festa e cuja função primordial
é criar e estabelecer relações. Seria o antídoto para a acentuada tendência da
modernidade de suprimir os vínculos sociais.

As relações sociais que estão na base dessas manifestações ganham


dimensões coletivas e induzem a formas de relacionamento peculiares. Antes de
tudo, a preparação da festa ganha proporções coletivas e elaboradas. A cidade
ou a comunidade se mobiliza para a preparação da festa e para recepcionar os
visitantes. As habilidades individuais ganham relevo e dão aos seus portadores
uma visibilidade e uma importância nem sempre presentes na vida cotidiana.

Devemos considerar que, embora a modernização da sociedade tenha se


aprofundado e que as diversas modalidades de comunicação tenham padronizado
muitos códigos e símbolos através da cultura de massa, é notável perceber que a cultura
popular, especialmente através de seus festejos, revela uma extraordinária vitalidade.

177
UNIDADE 3 | TURISMO E LAZER - TEMAS TRANSVERSAIS

Além disso, apesar da mercantilização e espetacularização de muitas dessas


festas, elas continuam fazendo, em suas manifestações, uma interpretação dos
mitos, lendas e história, através da elaboração da expressão de uma imaginação
simbólica que desempenha o seu papel revelador e crítico.

O sentido e o valor que a festa popular possa oferecer na prática do lazer


representam aspectos importantes para a reflexão sobre o papel e a própria função
do lazer na vida moderna. O dinamismo das festas e suas novas configurações
representam um grande estímulo para os estudiosos do lazer.

Termino essas considerações com a fala de Magnani em “Festa no


Pedaço”: “Em vez de avaliar exclusivamente a autenticidade ou não dos traços
culturais – preocupação, costumes, festas, tradições e formas de entretenimento,
com contexto das condições concretas de vida de seus portadores, constituindo,
deste modo, uma via de acesso ao conhecimento de sua ideologia, seus valores e
sua prática social”. (MAGNANI, 2003, p.32).

REFERÊNCIAS

AMARAL, Rita de Cássia de Mello Peixoto. Festa à brasileira. Tese apresentada


ao departamento de antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Sociais da USP. São Paulo: 1998.

BOSI, Ecléa. Cultura de massa e cultura popular. Petrópolis: Vozes, 1991.

BRAGA, Sérgio Ivan Gil. Os bois-bumbás de Parintins. Amazonas: EDUA-


FUNARTE, 2002.

BALANDIER, Georges. Le détour, pouvoir e modernité. Paris: Fayard, 1985.

CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2002.

CORIOLANO, Luzia Neide M. T. Da sedução do turismo ao turismo de sedução.


In: Turismo, modernidade, globalização. São Paulo: Hucitec, 1997.

DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva,


1974.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na


cidade. São Paulo: Hucitec, 2003.

MARCELINO, Nelson Carvalho. Lazer e humanização. Campinas: Papirus, 1986.

MAFFESOLI, Michel. A conquista do presente. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.

MORIN, Edgard & BAUDRILLARD, Jean & MAFFESOLI, Michel. A decadência


do futuro e a construção do presente. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993.

178
TÓPICO 5 | FESTAS, LAZER E CULTURA

PAZ, Octávio. O labirinto da solidão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

PIMENTEL, Ângelo César Brandão. Parintins: turismo e cultura. In: Sonalu:


Revista de Estudos Amazônicos, Ano II, n.2, Edição Especial. Manaus: Valer
Editora, 2002.

SENNET, Richard. O declínio do homem público. Rio de Janeiro: Record, 1994.

VIEIRA FILHO, Raimundo D. A festa do boi-bumbá em Parintins: tradição


e identidade cultural. In Sonalu. Revista de Estudos Amazônicos, Ano II, n.2,
Edição Especial, Manaus: Valer Editora, 2002.

FONTE: BUENO, Marielys Siqueira. Lazer, festa e festejar. Revista de Cultura e Turismo. Santa
Cruz do Sul, v. 2, n. 2, p. 47-59, jul. 2008. Disponível em: <http://www.uesc.br/revistas/
culturaeturismo /edicao3/artigo3.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2012.

179
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você viu que:

• As festas são um espetáculo à parte e ocorrem em um espaço e tempo especiais.

• As festas permitem explorar a variável temporal de diferentes formas.

• Muitas festas são incorporadas no calendário de eventos da cidade e fazem parte


das atrações turísticas.

• As festas de um povo estão relacionadas com sua identidade cultural.

• A concepção de carnaval está vinculada ao divertimento de populares, associado


a máscaras, fantasias, desfiles, bebidas e dança.

• O surgimento do carnaval está ligado à instituição da quaresma, que é um


período em que os fiéis deveriam deixar de lado a vida cotidiana, para dedicar-
se a questões espirituais, privando-se dos prazeres da vida material, isto é,
abstendo-se de comilanças, namoros, brincadeiras e bebedeiras.

180
AUTOATIVIDADE

1 Por que as festas são importantes para o lazer?

2 A festa permite explorar a variável tempo de forma diferente. O que significa


isso?

3 De que modo as festas devem ser inseridas no processo de planejamento


turístico?

4 Qual é a função do calendário de eventos?

5 Qual é a origem do termo carnaval?

Assista ao vídeo de Assista ao vídeo de


resolução da questão 1 resolução da questão 3

181
182
REFERÊNCIAS
ANDRADE, José Vicente de. Lazer: princípios, tipos e formas na vida e no
trabalho. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

ANDRADE, José Vicente de. Gestão em lazer e turismo. Belo Horizonte:


Autêntica, 2001b.

ANGIONI, Marilda. Elaboração de projetos. Blumenau : FURB; Gaspar: Assevali


Educacional, 2008.

ALVES JUNIOR, Edmundo de Drummond; MELO, Victor Andrade de.


Introdução ao lazer. Barueri : Manole, 2003.

AQUINO, Cássio Adriano Braz; MARTINS, José Clerton de Oliveira. Ócio,


lazer e tempo livre na sociedade do consumo e do trabalho. Revista Mal-estar e
subjetividade. Fortaleza, v. 7, n. 2, p. 479-500, set. 2007.

ASSOCIAÇÃO FLORIPA MANHÃ – Dossiê Praças. Disponível em: <http://


floripamanha.org/2008/07/dossie-pracas/>. Acesso em: 20 jan. 2012.

ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER. Seminário Internacional


de Educação para o Lazer. 2-4 ago. 1993, Jerusalém. Carta internacional de
educação para o lazer. Disponível em: <http://www.saudeemmovimento.com.br/
profissionais/legislation/index.htm>. Acesso em: 15 dez. 2011.

BACAL, Sarah. Lazer e o universo dos possíveis. São Paulo: Aleph, 2003.

BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas:


Papirus, 1995.

BECKERS, Theodorus. Capital humano em lazer. In: Lazer numa sociedade


globalizada. São Paulo: SESC/WLRA, 2000.

BOULLON, Roberto C. Atividades turísticas e recreativas: o homem como


protagonista. Bauru, SP: EDUSC, 2004.

BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política. 5 ed. Brasília: Editora


Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.

BONALUME, Cláudia Regina. O lazer numa proposta de desenvolvimento


voltada a qualidade de vida. In: Lazer e desenvolvimento regional. MULLER,
Ademir; COSTA, Lamartine Pereira (Org.). Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002.

183
BRAMANTE, Antônio Carlos. Qualidade no gerenciamento do lazer. In:
BRUHNS, Heloísa Turini (Org.). Introdução aos estudos do lazer. Campinas:
Editora da UNICAMP, 1997.

BRASIL, MINISTÉRIO DO ESPORTE. Disponível em: <http://www.esporte.gov.


br/institucional/ministerio.jsp>. Acesso em: 22 jan. 2012.

BRASIL, MINISTÉRIO DOS ESPORTES. Disponível em: <http://www.esporte.


gov.br/institucional/ministerio.jsp>. Acesso em: 25 jan. 2012.

BRASIL. Planalto. Decreto-Lei nº 5.452 em 1º de maio de 1943. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 1
dez. 2011.

BRUHNS, Heloísa Turini. Relações entre a educação física e o lazer. In:


BRUHNS, Heloísa Turini (Org.). Introdução aos estudos do lazer. Campinas:
Editora da UNICAMP, 1997.

BUENO, Marielys Siqueira. Lazer, festa e festejar. Revista de Cultura e Turismo.


Santa Cruz do Sul, v. 02, n. 02, p. 47-59, jul. 2008. Disponível em: <http://www.
uesc.br/revistas/culturaeturismo/edicao3/artigo3.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2012.

CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna,
1999.

CAMARGO, L.O.L. Sociologia do lazer. In: ANSARAH, M.G.R. (Org.). Turismo:


como aprender, como ensinar. São Paulo: Editora Senac, 2001.

CIRQUE DU SOLEIL. Disponível em: <http://www.cirquedusoleil.com/pt/home.


aspx#/pt/home/about/details/cirque-du-soleil-at-a-glance.aspx>. Acesso em: 10
jan. 2012.

CHIAVENATO, Idalberto. Teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo:


McGraw-Hill, 1987.

CORIOLANO, Luzia Neide de Menezes Teixeira; SILVA, Sylvio C. Bandeira de


Mello. Turismo e geografia: abordagens críticas. Fortaleza: Ed. UECE, 2005.

CVC – Ocean Palace Resort. Disponível em: <http://www.cvc.com.br/site/_


hotSite/resorts_1024/resorts/48/lazer.jsf>. Acesso em: 18 jan. 2012.

DA MATTA, Roberto. Você tem cultura? Disponível em: <http://naui.ufsc.br/


files/2010/09/DAMATTA_voce_tem_cultura.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2011.

DIAS, Reinaldo. Introdução ao turismo. São Paulo: Atlas, 2005.

DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia empírica do lazer. 2. ed. São Paulo: SESC,


1999.
184
DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 1979.

DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 1973.

EDGINTON, Christopher. O acesso ao lazer é um direito social. Revista Isto É.


Disponível em: <http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/3305_O+A-
CESSO+AO+LAZER+E+UM+DIREITO+SOCIAL+?pathImagens=&path=&actua-
lArea=internalPage>. Acesso em: 14 dez. 2011.

TOZZI, Elisa; OHL, Murilo. Seu cérebro no trabalho. Revista Você S/A.
Disponível em: <http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/seu-
cerebro-trabalho-612822.shtml#>. Acesso em: 18 dez. 2011.

ETGES, Virgínia Elisabeta. O lazer no contexto das múltiplas dimensões do


desenvolvimento regional. In: MULLER, Ademir; COSTA, Lamartine Pereira
(Org.). Lazer e desenvolvimento regional. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002.

FEATHERSTONE, Mike. A globalização da mobilidade: experiência,


sociabilidade e velocidade nas culturas tecnológicas. In: Lazer numa sociedade
globalizada. São Paulo: SESC/WLRA, 2000.

FÉLIX, Fabíola Angarten. Juventude e estilo de vida: cultura de consumo, lazer e


mídia. 2003. 99 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua


portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Positivo, 2009.

FERREIRA, Felipe. O livro de ouro do carnaval brasileiro. Rio de Janeiro:


Ediouro, 2004.

GEBARA, Ademir. Considerações para uma história do lazer no Brasil. In:


BRUHNS, Heloísa Turini (Org.). Introdução aos estudos do lazer. Campinas:
Editora da UNICAMP, 1997.

GEE, Chuck Y; FAYOS-SOLÁ, Eduardo. Turismo internacional: uma perspectiva


global. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2003.

GOMES, Christianne; PINTO, Leila. O lazer no Brasil: analisando práticas


culturais cotidianas, acadêmicas e políticas. In: GOMES, Christianne. Lazer
na América Latina: tiempo libre, ocio y recreación en Latinoamérica. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2009.

GOOGLE – Cultura da epresa. Disponível em: <http://www.google.com/intl/pt-


BR/about/corporate/company/culture.html>. Acesso em: 18 fev. 2012.

185
GORNI, Patrícia Monteiro; DREHER, Marialva Tomio. Desafios intersetoriais
no desenvolvimento do turismo: uma leitura das parcerias em Blumenau, SC.
Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 11, n. 1., p. 1-17, abr. 2011.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cresce o


número de idosos. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/
noticia_visualiza.php?id_noticia=1866&id_pagina=1>. Acesso em: 5 jan. 2012.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTTÍSTICA – Perfil dos


municípios brasileiros – esporte 2003. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/
home/estatistica/economia/perfilmunic/esporte2003/esporte2003.pdf. Acesso em:
18 jan. 2012.

INOJOSA, Rose Marie. Sinergia em políticas e serviços públicos:


desenvolvimento social com intersetorialidade. Cadernos Fundap, São Paulo, n.
22, p. 102-110, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE.


Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/
esporte2003/esporte2003.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2012.

INSTITUTO ETHOS – Disponível em: <http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/


pt/29/o_que_e_rse/o_que_e_rse.aspx>. Acesso em: 7 fev. 2012.

KRAEMER, Maria E. P. Responsabilidade social corporativa: uma contribuição


das empresas para o desenvolvimento sustentável. Gestão Ambiental, Itajaí, out.
2005. Disponível em: <http://www.gestaoambiental.com.br/articles.php?id=66>.
Acesso em: 9 fev. 2012.

LOBATO, Lenaura V. S. Algumas representações sobre a representação de


interesses no processo de formulação de políticas públicas. In: Políticas Públicas.
Brasília: Enap, 2006.

LAPOLLI, Mariana; GAUTHIER, Fernando Álvaro Ostuni. Publicidade na era


digital. Florianópolis: Pandion, 2008.

LÜDTKE, Hartmut. O lazer como campo de condição social para atividades


esportivas. In: DIECKERT, Jürgen. Esporte de lazer. Rio de Janeiro, Ao Livro
Técnico, 1984.

MACENA, Lourdes. Festas, danças e folguedos: elementos de identidade local,


patrimônio imaterial do nosso povo. In: MARTINS, Clerton. Turismo, cultura e
identidade. São Paulo: Roca, 2003.

MANNHEIM, Karl. Ideologia e utopia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do Lazer: Uma Introdução. 2 ed.


Campinas: Autores Associados, 2000.
186
MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Lazer e empresa: múltiplos olhares.
Campinas: Papirus, 1999.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas:


Autores Associados, 1996.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e educação. 2 ed. Campinas: Papirus,


1990.

MASCARENHAS, Fernando. Lazer como prática da liberdade. Goiás: UFG,


2003.

MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à


revolução digital. São Paulo: Atlas, 2007.

MELO, Victor Andrade; ALVES JÚNIOR, Edmundo de Drummond. Introdução


ao lazer. Barueri: Manole, 2003.

MONTANER, Montejano Jordi. Estrutura do mercado turístico. São Paulo:


Rocco, 2001.

MUNDO DAS TRIBOS – Aula de gastronomia. Disponível em: <http://www.


mundodastribos.com/curso-de-gastronomia-italiana.html>. Acesso em: 18 jan.
2012.

NEGRINE, Airton; BRADACZ, Luciane; CARVALHO, Paulo Eugenio Gedoz de.


Recreação na hotelaria: o pensar e o fazer lúdico. Caxias Do Sul: EDUCS, 2001.

OLIVEIRA, Manfredo. Ética e racionalidade moderna. São Paulo: Loyola, 1993.

ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Relatório sobre o estado das


cidades do mundo: unindo o urbano dividido. 2010/2011. Tradução e publicação
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Disponível em: <http://
www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/100408_cidadesdo mundo_
portugues.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2012.

OKTOBERFEST BLUMENAU – Disponível em: <http://www.


oktoberfestblumenau.com.br/oktoberfest/historia>. Acesso em: 22 fev. 2012.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Questionário Qualidade de Vida.


Disponível em: <http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol-100.html>. Acesso em: 29 dez.
2011.

PADILHA, Valquíria. A indústria cultural e a indústria do lazer: uma abordagem


crítica da cultura e do lazer nas sociedades capitalistas globalizadas. In:
MULLER, Ademir; COSTA, Lamartine Pereira (Org.). Lazer e desenvolvimento
regional. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002.

187
PEREIRA, Elson. Demandas Populares no Planejamento das Cidades: redefinição
do papel das cidades, democratização e governança urbana. In: Sarah Feldman;
Ana Fernandes. (Org.). O urbano e o regional no Brasil contemporâneo:
mutações, tensões, desafios. Salvador: EDUFBA, 2007.

PIRES, Mário Jorge. Lazer e turismo cultural. Barueri: Manole, 2001.

RAMALHO, Claudia Martins. Lazer na empresa: uma via para a


responsabilidade ético-social. In: MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Lazer
e empresa: múltiplos olhares. Campinas: Papirus, 1999.

RAMOS, Alberto Guerreiro. A nova ciência das organizações. 2 ed. Rio de


Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e contexto brasileiro: esboço de


uma teoria geral da administração. 2.ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas,1983.

REGINATO, Sídia Márcia Desousart. O que promove o lazer. O que promove o


homem. In: MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Lazer e empresa: múltiplos
olhares. Campinas: Papirus, 1999.

REVISTA EXAME – Praça móvel traz solução para espaços públicos carentes
de lazer. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/economia/meio-ambiente-
e-energia/noticias/projeto-praca-movel-traz-solucao-para-espacos-publicos-
carentes-de-lazer>. Acesso em: 13 jan. 2012.

REVISTA FÓRUM. Férias remuneradas: um direito a ser conquistado no mundo.


Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.
php?codNoticia=8620/>. Acesso em: 1 dez. 2001.

REVISTA ISTO É. Envelhecer bem. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/


reportagens/139317_ENVELHECER+BEM>. Acesso em: 25 jan. 2012.

REVISTA VEJA – Férias com fôlego. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/


especiais/turismo/p_058.html>. Acesso em: 19 jan. 2012.

ROCHA, E. A sociedade do sonho: Comunicação, cultura e consumo. Rio de


Janeiro: Mauad, 1995.

ROLIN, Liz Cintra. Educação e lazer: a aprendizagem permanente. São Paulo:


Ática, 1989.

RONDÔNIA DIGITAL. Hidroterapia trata idosos. Disponível em: <http://


rondoniadigital.com/destaque/hidroterapia-trata-idosos/>. Acesso em: 8 jan. 2012.

ROSENFELD, Anatol; FERNANDES, Nanci. Cinema: arte & indústria. São Paulo:
Perspectiva, 2002.
188
RTP NOTÍCIAS. Disponível em: <http://www.rtp.pt/noticias/index.
php?article=522549&tm=6&layout=121&visual=49>. Acesso em: 15 fev. 2012.

RUECKERT, Rachel A. De Oliveira; LENZ, Talita Cristina Zechner; BASTOS, José


Messias. A gestão do turismo no espaço urbano: algumas reflexões visando a
sustentabilidade. In: V Fórum Internacional de Turismo do Iguassu. 2011, Foz do
Iguassu. Anais.

SANTOS, Milton. Lazer popular e geração de empregos. In: Lazer numa


sociedade globalizada. São Paulo: SESC/WLRA, 2000.

SCHEFFER, Cintia. Entrevista templos de consumo e lazer. Disponível em:


<http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=900017>.
Acesso em: 8 dez. 2011.

SHWARTZ, Gisele Maria. Lazer e empresa: peças do mesmo quebra-cabeça. In:


MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Lazer e empresa: múltiplos olhares.
Campinas: Papirus, 1999.

SILVA, Kelson de Oliveira. Condomínios fechados, residências secundárias e


o uso do espaço público pelo capital imobiliário. Observatório de Inovação do
Turismo–Revista Acadêmica. Vol. IV – Nº. 1. Março de 2009.

SILVEIRA, Daniela Perfeito. Legalização dos cassinos como fator de


desenvolvimento do turismo. Trabalho de conclusão de curso de especialização
em gestão e marketing de turismo. Universidade de Brasília, Centro de
Excelência em Turismo. Brasília, 2004. Disponível em: <http://bdm.bce.unb.br/
bitstream/10483/285/3/2004_DanielaPerfeitoSilveira.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2012.

SPOSATI, Aldaíza. Gestão pública intersetorial: sim ou não? Comentários de


experiência. Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 85, p. 133-141, mar. 2006.
 
STUCCHI, Sérgio. Espaços e equipamentos de recreação e lazer. In: BRUHNS,
Heloísa Turini (Org.). Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Editora da
UNICAMP, 1997.

SWARBROOKE, John; HORNER, Susan. O comportamento do consumidor no


turismo. São Paulo: Aleph, 2002.

TASCHNER, Gisela B. Lazer, cultura e consumo. Revista Administração de


empresas. São Paulo, v. 40, n. 4, p. 38-47, out/dez 2000.

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Entretenimento: uma crítica aberta. São Paulo: Ed.
Senac, 2003.

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Os setores público e privado no lazer e no


turismo. In: MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Lazer: formação e atuação
profissional. 5. Ed. Campinas: Papirus, 2002.
189
TULIK, Olga. Turismo rural. São Paulo: Aleph, 2003.

VASCONCELOS, Deisy Lúcio. Restaurantes: evolução do setor e tendências


atuais. Monografia. Universidade de Brasília, Centro de Excelência em Turismo.
Brasília: 2006.

VIANA, Diego. Conheça a história da CLT, que modernizou a legislação em


43. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u36226.
shtml>. Acesso em: 1 dez. 2011.

WEISINGER, H. Inteligência emocional no trabalho. Rio de Janeiro: Objetiva,


1997.

WHOQOL Group. The World Health Organization quality of life assessment


(WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Genebra:
Social Science, 1995.

WORLD CASINO DIRECTORY. Disponível em: <http://www.


worldcasinodirectory.com/br>. Acesso em: 20 fev. 2012.

ZINGONI, Patrícia. Lazer como fator de desenvolvimento regional: a função


social e econômica do lazer na atual realidade brasileira. In: MULLER, Ademir;
COSTA, Lamartine Pereira (Org.). Lazer e desenvolvimento regional. Santa Cruz
do Sul: EDUNISC, 2002.

190
ANOTAÇÕES

____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

191

Вам также может понравиться