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Performance

O Pianista positivo: como o fluxo traz


paixão para a prática e a performance
Resumo: O presente artigo é uma tradução para português do original em inglês do
Professor Thomas J. Parente da Rider University (NJ – EUA) publicado na revista Cla-
vier Companion (2015) Vol. 7, No. 1, pp. 50-53 e tem como objetivo demonstrar a impor-
tância da aplicação da teoria do flow do psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi no
estudo de piano, seja em grupo ou individual. A partir da descrição das experiências de
Csikszentmihalyi, Parente aponta as sete principais características de se estar em esta-
do de flow que seriam capazes de sustentar a motivação no estudo cotidiano e na con-
dução das aulas, otimizando os resultados no estudo do instrumento e na performance.

Por Thomas J. Parente


Tradução Ernesto Hartmann
e Mirna Azevedo

T
odos nós já vivenciamos momentos em -lo, e não por alguma expectativa de recompensa.
que, em vez de fustigados por forças anô- Quando fazemos algo pelo simples prazer, esta-
nimas, nos sentimos em controle de nossas mos intrinsecamente motivados. Quando fatores
ações, donos de nosso próprio destino. Nas raras intrínsecos não estão presentes, então os fatores
ocasiões em que isso ocorre, sentimos uma sen- extrínsecos geralmente se tornam a engrenagem
sação de alegria, um profundo sentimento de sa- por trás da ação. Esses fatores incluem realizar
tisfação há muito acalentado e que se torna uma uma ação de forma a:
referência na memória de como a vida deveria ser - receber elogios,
(CSIKSZENTMIHALYI, 2007, p.3). - ser pago ou receber alguma forma de recompen-
Mihaly Csikszentmihalyi, o autor da citação sa;
acima, é responsável pelo termo flow (doravante - impressionar amigos e conhecidos;
denominado fluxo) da forma como o entendemos - satisfazer o professor, receber um conceito, ou
dentro do campo da psicologia humana. O estado cumprir com uma obrigação acadêmica;
de fluxo, que ele descreve como uma “sensação de - satisfazer os pais ou outras pessoas próximas;
alegria” e uma “profunda satisfação”, pode ser ex- - evitar punições ou constrangimentos.
perimentado por participantes de muitas outras Quando comparada à motivação intrínseca,
atividades. Aqueles que experimentam a sensa- todos esses motivadores extrínsecos caem por ter-
ção de fluxo geralmente escolheram participar de ra. Não obstante, professores de piano dedicados
uma atividade específica pelo puro prazer de fazê- a transmitir a arte de fazer música frequentemen-

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te apoiam-se nessas abordagens com a finalidade tarmos como certo que os próprios estudantes
de se motivar e de motivar os seus estudantes. têm internamente esta alegria, isso nos obriga,
Todos nós (sim todos) nos tornamos músicos como educadores, a conduzi-los mais plenamente
graças ao amor. Indague à maior parte dos pianis- em direção às suas próprias individualidades, às
tas, e a maioria de nós irá mencionar alegria, fe- pessoas que eles estão determinados a ser.
licidade, sentimento de integração com universo Os motivadores extrínsecos acima menciona-
e a palpitação no coração que sentimos quando dos, como a promessa de recompensa e/ou medo
recordamos nossas primeiras experiências com de punição, são incapazes de propiciar isso. Em
o piano. Eu, por exemplo, posso (meu coração 1969, um pós-graduando em psicologia chamado
palpita com estas palavras) vividamente recordar Edward Deci (DECI, 1996), destinado a se tornar
quando a espineta do meu tio-avô Lester chegou o maior especialista no estudo da motivação in-
em minha casa. Eu tinha sete anos de idade, es- trínseca, realizou um experimento. Ele organizou
tava na primeira série e lá estava, em minha sala, dois grupos de estudantes de cursos superiores
um piano! Meu desejo de aprender a tocar piano em salas com muitas revistas e um quebra-cabeça
deve ter sido tal a ponto de motivar meus pais, similar ao cubo mágico. A um grupo foi oferecido
um tanto indiferentes musicalmente e com difi- um pagamento para solucionar o quebra-cabeça
culdades financeiras, a providenciar a mudança e ao outro grupo foi solicitado simplesmente que
do piano da residência do meu tio-avô em Wa- brincassem com o quebra-cabeça. Como espera-
shington. D.C (ele era diretor do Departamento do, o primeiro grupo trabalhou duramente para
de Teologia na Catholic University) para a sala de solucionar o problema. O que veio depois foi fas-
estar da minha pequena casa de estilo rústico em cinante e significativo.
North Arlington, Nova Jérsei. Você se lembra de No dia seguinte ao experimento, Deci convidou
sentimentos similares? Se você pudesse ver es- novamente ambos os grupos. Desta vez, ele disse ao
ses pequenos momentos dentro de um espectro primeiro grupo que não havia dinheiro suficiente
maior de emoções, o que acha que veria? Você para pagá-los pela solução do problema. Este gru-
estaria pulando de felicidade? Estaria alegremen- po reagiu perdendo interesse na tarefa. O segundo
te correndo? O que você veria, no presente, com grupo ao qual não foi ofertado dinheiro, entretan-
seus olhos de criança? to, passou mais tempo com o quebra-cabeça do que
Nosso reconhecimento e nossa consciência antes. Portanto, a presença ou a falta de pagamento
desses sentimentos podem nos ajudar a reconci- influenciou a motivação da tarefa. Contudo, a fas-
liar-nos com nossas autênticas individualidades. cinação pelo quebra-cabeça alimentou a si mesma
Confiar e ensinar para as autênticas individuali- e proveu motivação para maiores explorações pelo
dades dos nossos estudantes pode embasar nossas segundo grupo. Esse, assim como em muitos outros
decisões enquanto os guiamos. Porém, quão fre- experimentos clássicos de motivação, demonstrou
quentemente nos ocorre permitir que esse dese- que o compromisso em uma ação intrinsecamente
jo intrínseco de fazer música nos conduza como prazerosa pode ser frustrado pela introdução de uma
músicos e professores? Notemos que a origem recompensa extrínseca. Evidentemente, o mesmo se
latina da palavra educar é: e-, significando “para dá em relação a tocar piano. Portanto, a alegria e o
fora, de” e - duca, significando “conduzir”. Se acei- prazer de tocar devem ser os principais motivadores.

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Os indivíduos simplesmente aprendem me- não é afetada pelos gritos dos torcedores ou pelo
lhor quando, guiados pela sua autêntica natureza resultado de suas ações no decorrer do jogo. Nada
de se engajar em uma ação por razões intrínse- mais existe para o pianista que está estudando ou
cas, eles terminam por repeti-las diversas vezes. À se apresentando exceto o que ele ou ela está fazen-
medida que a habilidade aumenta devido ao am- do naquele momento.
pliado tempo dedicado à tarefa, também cresce o 3. As metas são claras. Existem metas claras em
desejo de buscar maiores desafios, o que conduz cada passo. Em contraste à nossa rotina diária, em
à maior habilidade e a um desejo de enfrentar um que podemos estar incertos sobre a nossa próxi-
desafio maior e assim por diante. Desta forma, ma ação, a pessoa no estado de fluxo tem o claro
um círculo virtuoso é criado à medida que a mo- sentido de metas imediatas e de longo prazo. O
tivação de crescer em direção à nossa autêntica pianista sabe o que deve fazer em cada momento
individualidade alimenta o crescimento, que, por a fim de interpretar musicalmente a partitura.
sua vez, motiva mais o desejo de crescimento e 4. Não há medo de falhar ou de perder o controle.
assim sucessivamente. É possível pensar em qual- A tarefa escolhida é possível e tecnicamente viá-
quer artista, esportista ou personalidade do en- vel. A pessoa nunca se sente fora de controle. Ten-
tretenimento que atingiu um ponto de excelência do banido todos os pensamentos alheios, ficamos
em seu trabalho sem amar o que faz? A maioria tão imersos na atividade que estamos realizando
dessas pessoas relata períodos de estar na zona de que ignoramos tudo o que está além da ação e
intensa concentração ou experimentando o “flu- não há medo do fracasso. O esgrimista nunca tem
xo” enquanto realizam ou praticam seus trabalhos medo de perder o equilíbrio e o terceiro remador
e atividades. na equipe está perfeitamente alinhado com os ou-
tros colegas do seu barco. Seu domínio o encoraja
AS CARACTERÍSTICAS DO FLUXO a nunca duvidar de sua habilidade de manter-se
Ao longo dos anos, a pesquisa de Csikszentmihalyi sincronizado com os outros. O pianista toca uma
a respeito do fluxo lhe permitiu identificar diver- passagem confortável em um tempo confortável
sas caraterísticas que estão consistentemente pre- de maneira que, ainda assim, produz satisfação
sentes quando se vivencia esse estado. artística.
1. O desafio a ser vencido está ligeiramente aci- 5. A consciência de si mesmo diminui ou desapa-
ma do nível de habilidade do indivíduo. O fluxo rece. Nosso sentido de auto percepção, também
pode surgir quando se está participando de uma extrínseco à ação, desaparece. Quando estamos
atividade prazerosa, como jogos e esportes, que em estado de fluxo, o medo de constrangimento
demandam um elevado nível de habilidades mo- ou humilhação desaparece porque as vozes do
toras. O pianista está estudando algo ligeiramente autoquestionamento não estão mais presentes.
acima de seu nível de habilidade. Pensamentos de auto engrandecimento também
2. Há um alto nível de concentração conduzindo desaparecem, uma vez que eles também nada têm
à exclusão de pensamentos negativos tais como o a ver com a ação sendo realizada. O pianista está
aborrecimento ou a preocupação. A concentração totalmente envolvido.
de um centroavante no futebol ou um jogador de 6. A percepção do tempo torna-se alterada. A ex-
basquete se preparando para um arremesso livre pressão frequentemente utilizada “o tempo voa

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quando você está se divertindo” torna-se verda- nam-se indiferentes às muitas questões de deta-
de aqui. É inacreditável quanto tempo se passa lhamento técnico e problemas musicais que emer-
enquanto estamos em estado de fluxo. O diretor gem durante o estudo, simplesmente porque eles
de cinema, roteirista, produtor e editor japo- não percebem esses problemas. Tal desatenção às
nês Akira Kurosawa disse sobre esse fenômeno: demandas do momento presente geralmente os
“quando você está aproveitando a vida, o tempo coloca distraídos e um tanto caóticos no processo
voa; quando você não está, ele é estático, embora, de aprendizado, enquanto eles avançam através
como reflexo desta quietude, o observador possa da peça inteira de uma maneira desorganizada.
notar o quanto desse tempo passou e o quanto foi A falta de uma abordagem consciente ou racional
desperdiçado. O pianista otimiza seu tempo gas- do estudo impede que eles experimentem a satis-
to na aprendizagem enquanto minutos parecem fação que poderia derivar-se do fluxo estimulado
passar como segundos e cada ação é impregnada pela atenção consciente ao detalhe. Soma-se a isso
de significado. o fato de que pensamentos frequentemente alea-
7. Ação e consciência fundem-se. Estar em esta- tórios e mesmo negativos, tais como “por que eu
do de fluxo é estar completamente absorvido em não consigo fazer isso” ou “isso é tão difícil”, sur-
uma atividade. No nosso cotidiano, nossas mentes gem na mente, minando a autoestima e a motiva-
frequentemente estão desconectadas da atividade ção, resultando em menos tempo de dedicação na
que estamos realizando; é como se estivéssemos tarefa em virtude do auto desencorajamento.
operando em modo de piloto automático. O que O estudo da aquisição de habilidades combi-
o pianista faz e pensa se unem em uma só coisa. nado com o fluxo é a chave para conduzir nossos
Quando em estado de fluxo, nós estamos si- estudantes a níveis mais elevados. Para tornar-nos
multaneamente felizes (talvez mesmo exultantes) e professores capazes de guiar os estudantes para o
em nosso melhor possível. Portanto, a “motivação fluxo, devemos resistir à tentação de dizer-lhes
emergente” (o desejo de realizar uma determinada como compreender a peça ou executar uma pas-
ação novamente) torna-se uma realidade. O suces- sagem, dado que essa abordagem cria dependên-
so gera o desejo por mais sucesso, que, por sua vez, cia e falta de autenticidade em suas performances.
conduz a mais sucesso. Quando orientamos um Quão frequentemente escutamos críticas a respei-
estudante a este estado de fluxo, estamos conce- to da falta de ideias dos pianistas? Realmente é tão
dendo talvez um dos maiores presentes que se pos- espantoso constatar que esses problemas existem
sa dar a outra pessoa. Conduzir nosso estudante se nós, como professores, dependemos profunda-
ao estado de fluxo é a chave tanto para sua própria mente de tais afirmações dogmáticas como “faça
realização como artista como para seu progresso desta forma” ou “essa era a intenção de Beetho-
pessoal. Porém, como podemos fazer isso? ven?”. Realmente, como meu pai jocosamente di-
Tenho percebido em minha experiência como zia quando um de nós fazia um comentário sobre
professor que, frequentemente, durante o estudo, algo absurdo: “você estava lá, Charlie?”.
os estudantes trabalham de uma maneira indisci- Para tomar as medidas necessárias à condu-
plinada, não planejada e, consequentemente, sem ção de nossos estudantes para que eles se tornem
foco. Como resultado dessa abordagem “pouco verdadeiramente autênticos artistas, nós devemos
racional” do estudo do piano, os estudantes tor- escutar profundamente e simultaneamente em ní-

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veis musicais, emocionais e espirituais. E devemos de emergir. Parafraseando Eurípides, ao afirmar


fazer isso por meio da música em que nós e nos- que “o homem mais sábio segue seu próprio ca-
sos estudantes estamos trabalhando, seja em dois minho”, os professores mais sábios orientam seus
compassos ou quarenta páginas. Devemos ajudá- estudantes a seguirem sua própria direção musi-
-los a investigar a partitura e, cuidadosamente, cal. Ensinando e aprendendo em direção ao fluxo,
apoiar seus esforços de forma que o sucesso con- tudo isso se realiza. ◆
duza a mais sucesso. Talvez seja até mais impor-
tante assegurar que, em nossas aulas semanais,
toda comunicação negativa, especialmente aquela REFERÊNCIAS
que é autoritária ou agressiva, seja banida. Minha CSIKSZENTMIHALÝI; Mihaly. The Psychology
pesquisa e a de outros pesquisadores estabelecem of optimal experience. Harper Perennial, New
o fato inegável de que aprendemos melhor quan- York, 2007.
do gostamos do que aprendemos. Por essa razão,
e por isso mesmo, devemos ser cuidadosos para DECI; Edward. Why We Do What We Do: Un-
garantir que a meta principal de nossas tarefas se- derstanding Self-Motivation. Penguin Books,
manais seja desfrutar a exploração de uma dada Londres. 1996.
quantidade de música. Portanto, devemos ter cer-
teza de que levamos em consideração a tolerân- PARENTE; Thomas J. The Positive Pianist. Ox-
cia e a frustração de cada estudante de forma que ford University Press, New York, 2015.
não ultrapassemos esse limiar. Se as três emoções
de frustação, ansiedade e tédio que bloqueiam o _______________. The Positive Pianist: How
fluxo não estiverem presentes durante a prática flow brings passion to practice and performance.
semanal de cada estudante, as condições propí- Clavier Companion (2015) Vol. 7, No. 1, pp. 50-
cias ao estado de fluxo terão uma maior chance 53, editor Francis Clark Center, ISSN 2152-4491
Divulgação

Thomas Parente
Compositor, autor, pia-
nista, PHD em música e
professor no Westmins-
ter Choir College, Rider
University.

thomasjparente.com

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