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1. O universo
Ao tratar deste assunto, Santo Agostinho parte da certeza de que Deus é o único Criador
de todas as coisas. Para tanto, ele tem especial atenção ao livro do Gênesis e escreve
comentários sobre ele. Esta preocupação com a criação possui alguns motivos, como, por
exemplo, o fato de os maniqueus terem uma leitura própria do Livro Sagrado e procurarem
mostrar que a maneira da Igreja de interpretá-Lo estaria errada, e, no fundo, o próprio texto
teria problemas.
Evidentemente, Agostinho tentar mostrar o contrário. O Gênesis, de fato, corretamente
analisado, diz que o mundo é uma realidade criada. E se é uma realidade criada por um Deus
que é o Sumo Bem, há algumas implicações que no pensamento do Santo de Hipona serão
muito fortes.
Deus, de fato, é Aquele que cria o Céu e a terra, que para o Santo, representariam a
totalidade da criação, sendo tanto coisas corpóreas quanto as espirituais. E se o Criador, de fato,
é sumamente Bom, todo a Sua criação é necessariamente boa. Não existe, portanto, nada que
seja intrinsecamente mal, isto é, simplesmente por existirem, as coisas são boas.
3. Razões seminais
Para Agostinho, falar em razões seminais seria falar sobre os elementos constitutivos
primitivos do mundo, como se fossem forças ou energias dadas por Deus no início da Criação,
a fim de que se realizasse o que Ele, de fato, pensou, produziu e chamou à existência, que
poderia ser naquele determinado momento ou em outro, de uma maneira ou de outra. Deus,
pois, é o Criador de todas as coisas, criadas ao mesmo tempo, mas isto não significa que elas
apareceram no mesmo instante e da mesma forma, e não nega que elas possam se desenvolver.
Além disso, o Santo mostra que a dimensão teleológica também está presente: as coisas
buscam determinado fim, que é Deus. O Criador, pois, é o princípio de todas as coisas, mas
também a causa final de tudo – Alfa e Ômega; é de onde tudo vem, e para onde tudo volta. É
por isso que será encontrado no pensamento agostiniano um otimismo metafísico muito grande,
pois olhar para a realidade criada e dizer que ela existe, já implica dizer que ela é bela e boa.
Tudo o que existe, pelo simples fato de existir, é bom e belo porque Deus, sendo Criador de
todas as coisas, fez tudo com medida, modo, forma e com ordem.
Se existem grandes bens dentre os bens criados, ou seja, se existem graus de perfeição, é
porque, a partir destes predicados ou atributos metafísicos, que são constitutivos, pois todos os
seres têm modo, forma e ordem, alguns possuem um grau de excelência maior. E os bens que
são considerados inferiores são assim não porque não possuem forma, ordem e medida, mas
porque possuem estes atributos metafísicos em um grau menor. E Deus, pois, é a suprema
medida – suprema forma, unidade, ordem – que é o fundamento último de todas as coisas.
Considerando isso, como, de fato, existe um vínculo entre o Criador e a criatura, a estrutura
e o modo de ser desta última – que não explica a si mesma – remete ao Primeiro. Sendo assim,
a visão maniqueísta, que mostra que o corpo está ligado à corrupção e que a matéria é a origem
do mal foi rejeitada por Santo Agostinho, que diz que tudo o que Deus criou é bom e belo
porque participa do próprio Ser de Deus e é sustentado por Ele. É por isto que quando se
interroga as criaturas, elas, de certa maneira, apontam para o fundamento último do próprio ser,
que é Deus.
4. Desfecho
Esta, pois, é a visão de mundo de Agostinho. Na próxima exposição será apresentado como
o Santo enxerga o ser humano, uma criatura peculiar e a mais nobre de todas as outras.
Quem é Deus?
Perguntei-o à terra e disse-me: “Eu não sou”. E tudo o que nela
existe me respondeu o mesmo. Interroguei o mar, os abismos e os
répteis animados e vivos, responderam-me: “Não somos o teu Deus;
busca-o acima de nós”. Perguntei aos ventos que sopram; e o ar, com
os seus habitantes, respondeu-me: “Anaximenes está enganado; eu
não sou o seu Deus”. Interroguei o céu, o sol, a lua, as estrelas e
disseram-me: “Nós também não somos o Deu que procuras”. Disse a
todos os seres que me rodeiam as portas da carne: “Já que não sois o
meu Deus, falai-me do meu Deus, dizei-me ao menos, alguma coisa
d’Ele”. E exclamaram com alarido: “Foi Ele quem nos criou”.
Santo Agostinho (Confissões)