Вы находитесь на странице: 1из 63

COMO SE

APRENDE A
FAZER ALGO
QUE NÃO PODE
SER ENSINADO?
"Participar neste
encontro foi uma
ambição de todos os
que adoram liderar."
Pierre e Mohammeded
Bedjou
"Uma visão
atempada do
futuro"
Francine Savater
NOTA DA 2º Edição
Nada é mais
confortante para o
homem, nem mais
perigoso, que as
certezas. A 24 de
Abril, em Madrid,
Álvaro Carva
apontou caminhos
que parecem ser as
respostas que se
procuravam. A
diferença
fundamental é que
quem o ouviu nessa
data esteve um
passo mais à frente.
Estas reflexões
ajudam aos
problemas de hoje.
Leia, pois, as
perguntas e
repostas e, no fim,
PREFÁCIO

Álvaro Carva escreveu este texto a convite do INSTITUTO DE ESTU-


DIOS POLITICOS Y SOCIALES.. A publicação e o convite formulado a
Álvaro Carva teve um motivo associado: obter a sua opinião e pensa-
mento sobre temas comunitários, tendo por base a presidência espanho-
la da União Europeia. E fazer publicar a sua reflexão na Revista Critérios,
que irá lançar um número especial e comemorativo, promovido por diver-
sas personalidades ímpares espanholas. E tendo como convidado portu-
guês Álvaro Carva.
Há três anos atrás este relevo foi atribuído ao Dr. Mário Soares.

A Revista Critérios é distribuída selectivamente nas Universidades, poder


legislativo e executivo, junto de diversas personalidades do mundo local
(alcaldias e diputaciones), comunidades autónomas e centros de interes-
se político e cultural em Espanha.

O INSTITUTO DE ESTUDIOS POLITICOS Y SOCIALES foi convertido


em Fundação de âmbito e de actuação estatal em Espanha e nasce na
sequência da sensibilidade de diversas pessoas, tendo em

7
comum os valores democráticos duma sociedade moderna.

A publicação em Portugal do texto de Álvaro Carva, por parte deste Centro


de Estudos, vai ao encontro de dar a conhecer o trabalho intelectual e peda-
gógico de um profundo especialista na área financeira e de estudos euro-
peus, no caminho da consciência do valor do autor deste texto, da sua contri-
buição moral, de cidadania, que urge enaltecer e agora publicar. Álvaro Car-
va é também uma personalidade conhecida além fronteiras, promovendo
conferências em Espanha, França, Itália, Marrocos, Rússia, Estados Unidos,
Inglaterra e noutros locais deste mundo globalizado.

O fascículo em separado que agora se publica em Portugal, com a síntese


deste trabalho de Álvaro Carva, será distribuído junto de entidades ou perso-
nalidades para quem estes temas são também a consciência do debate inte-
lectual e científico, que honram Portugal além fronteiras.

Publicado em Portugal, 25 de Abril de 2010. 36 anos depois do 25 de Abril de


1974.

O Conselho Científico do Centro de Estudos Fernando Pessoa


Título
“O Poder da Europa”
Workshop em Madrid
(24.04.2010)

Edição
Centro de Estudos Fernando Pessoa

Paginação e Capa
Centro de Estudos Fernando Pessoa

Edição
1º EDIÇÃO— Abril de 2010
2º EDIÇÃO— Maio de 2010

Depósito Legal
XXXX/10
ESPAÇO PARA LEITURAS

PENSAMENTOS
Álvaro Carva é um especialista reconhecido em Comunidades Europeias e na
área bancária.

Álvaro Carva nasceu em Angola e desde cedo viveu no meio das fragas trans-
montanas e no meio das suas gentes que muito ama, como faz questão de
salientar. Mas é um cidadão urbano e universal. Ao longo dos seus 50 anos
de idade realizou diversas intervenções na sociedade civil. Viajador incansá-
vel e reconhecido internacionalmente pelas suas qualidades de comunica-
ção, liderança e assertividade nos seus pensamentos , é um conhecedor pro-
fundo dos temas que domina. Recebeu, recentemente, da Câmara Municipal
do Rio de Janeiro uma Moção de Honra ao Mérito pelos seus esforços em
incrementar e enriquecer as relações entre Portugal e o Brasil. A Academia
de Letras e Artes do Brasil e outras entidades nacionais e internacionais hon-
ram-no com Diplomas de Mérito e distinguem-no em conjunto com outras
personalidades. Álvaro Carva é quadro bancário e Professor “Ad honorem”
do reconhecido INSTITUT INTERNATIONAL DES SCIENCES POLITIQUES IICP -
IISP, membro das Nações Unidas .

Álvaro Carva é ainda membro do Conselho Científico do referido Instituto,


em conjunto, com o Prof. Dr. Mário Soares, Prof. Dr. José Manuel Durão Bar-
roso, Prof. Marceau Long, Vice-presidente Honorário do Conselho de Estado
Francês, Prof. D. Francisco Javier Rojo Garcia, Presidente do Senado Espa-
nhol, Professora Carme CHACÓN PIQUERAS, Ministra da Defesa do Estado
Espanhol, Profa.. Dra. Ellen KENNEDY, Professora de Direito Constitucional e
Ciência Política da Universidade da Pennsylvania, (Philadelphia), de entre
outros prestigiadas personalidades. O referido Conselho Científico é presidi-
do pelo Prof. Dr. D. Manuel BALADO, Presidente e Director da Cátedra UNES-
CO de Ciência Política e Administrativa e Professor do l’Institut d’Études Poli-
tiques d’Aix-en-Provence.
ÍNDICE

Prefácio…………………………………………………….……………...….…. 02
O Poder…………………………………………………….……………….…….. 23
A Imutabilidade da Política Europeia .………..…………….…….. 25
A Legitimidade do Poder Europeu …....………..………….………. 29
A Mentira ……………………………………………….……………….…….. 33
Nota de Esclarecimento ……………………………….……………….…….. 37
Workshop em Madrid…………………………………….…………….…….. 39
“O PODER DA EUROPA”

***

WORKSHOP EM MADRID
(24.04.2010)

Centro de Estudos Fernando Pessoa


“O PODER DA EUROPA”

Espanha, Março de 2010

Centro de Estudos Fernando Pessoa


Três acontecimentos: os “Dez Mandamentos” ; os plebeus que
arrancaram a “Lei das Doze Tábuas” ; os “sete pecados capitais” .

Séculos depois...

Assis, Fevereiro A.D. 1197


Querido Lotario,
Confiando na minha sorte, escrevo-te para Messina. Espero que
quando a minha carta chegar, ainda aí estejas. Fiquei muito preo-
cupada com a tua última mensagem: o que queres dizer com isso
de que vais apostar tudo na tua causa? Não compreendo. Significa
que estás disposto a renunciar a tudo aquilo que te desvie do teu
objectivo? Assusta-me esse tom. Para quê tanto mistério comigo?
Deus escutou as nossas preces e o Imperador começou a aproxi-
mar-se do Papa depois de tantas afrontas. Sem o apoio dos prínci-
pes alemães, embora a França e a Alemanha, o Chipre e a Arménia
sejam ainda seus vassalos, embora a Hungria e a Dinamarca conti-

11
nuem prostradas a seus pés, Henrique VI sabe que a única possibi-
lidade que tem para que o seu filho o suceda no trono é contar
com o apoio de Celestino. A Igreja está dividida [...] És um cardeal
da Igreja Católica, o que mais podes desejar neste momento?
[...]
Ortolana

- “É verdade que queres ser Papa?”, perguntam-lhe.


Com olhar matreiro responde: - “Um dia sê-lo-ei”, previa o nosso
jovem .
Mas responde-me. - “Por que me fazes essa pergunta?”
- “Se me acompanhares dar-te-ei pormenores”.
A notícia corria de forma rápida. Os príncipes da Saxónia e da
Turíngia tinham-se negado a apoiar o império hereditário que é
proposto por Henrique VI.

Reconheceu, certamente, que estamos a escrever sobre Lotario de


Segni. Que nasceu em 1160.

Cronologicamente deixo-lhe ainda mais umas brevíssimas notas.


Em 1174 Saladino toma Damasco. Em 1179 realiza-se o terceiro
Concílio de Latrão.

12
O que levou estes homens a agirem desta forma?

A imposição e o poder, evocam paixões e variadas dramaturgias.


Séculos depois de imposições diversas, os Estados abastados
impõem a “Lei dos cinco continentes”. Logo depois, a imposição
do “Império dos mares”.

Estas particularidades irresistíveis fornecem-nos indicações úteis


da amplitude e da duração das etapas do homem e das suas orga-
nizações. As descobertas ultramarinas nos séculos XV e XVI mode-
lam as regras do direito internacional. A revolução industrial for-
çou-nos às regras coloniais de confiscação da supremacia da Euro-
pa sobre os povos do ultramar. A descolonização tornou-se tão
importante como o fenómeno das descobertas. Lidou-se com o
imprevisível no direito internacional.

Sempre nos envolvemos em relações de dominação que, com


algum jeito de imposição, justificamos.

Hoje temos uma Europa que controla e que quer controlar. Ao


moldarmos esta Europa aos nossos desígnios, se convertemos as
leis, a chave para entender a experiência do poder. As nossas rela-
ções são de domínio sempre sobre os outros.

13
Mas por que escrevo este texto apesar de ser convidado pela Con-
selho Científico e editor do Instituto de Estudios Politicos y Socia-
les? Faço-o para compreender. É a minha forma de reflectir .

14
O PODER

Admiramos o poder. Enlouquecemos pelo poder. Utilizamos o


poder em todas as circunstâncias. Fascinamo-nos com o poder. O
poder é beleza, segredo, visibilidade, realidades contraditórias.

Como nos diz Hobbes, “Dou como primeira inclinação natural de


toda a humanidade”, um “perpétuo e incansável desejo de conse-
guir poder, que só cessa com a morte”.

John Galbraith diz que “Do contexto e do exercício do poder, deri-


va uma sensação de valor auto-induzido. Em nenhum outro aspec-
to da existência humana se encontra a vaidade submetida a tanto
risco”.

Se tivermos em conta Nietzsch, Foucault, Boursdieu, Luhmann, de


entre outros, constatamos uma inversão no conceito de poder
com as tradições mais antigas. Foucault diz-nos que “O poder, se é
visto de perto, não é algo que divide entre os que o ostentam e os

15
que não o têm ou o sofrem. O poder é e deve ser analisado como
algo que circula e funciona – por assim dizer – em cadeia. Nunca
está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguém. Nunca
é uma propriedade, como uma riqueza ou um bem”.

Há uma história muito interessante contada por Dennis Reynolds,


quando nos diz que na reunião de Munique que ocorreu entre
Chamberlain e Hitler, ambos aceitaram a invasão da Polónia, para
que assim Hitler pudesse defender os habitantes de língua alemã.
É certo que os ingleses não estavam envolvidos de forma directa
neste acontecimento, sendo certo que os franceses tinham um
tratado de defesa com a Polónia. Mas Chamberlain assumiu pes-
soalmente este movimento por razões pessoais de desejo e poder.
Já Luhmann esclareceu que “O poder não é um instrumento ao
serviço da vontade. É o poder que engendra a vontade”.

Poder é pois o acto de agir, mandar, deliberar. Expressa-se nas


diversas relações sociais, de diversas formas, sempre com sentido
amplo e para além da função de poder exercido pelo Estado. Na
política definem-no como capacidade de imposição, sem alternati-
va de desobediência, autoridade, legitimidade e leis imutáveis.

16
A IMUTABILIDADE DA POLÍTICA EUROPEIA

Assiste-se hoje a uma prodigiosa interpelação da Europa que des-


de há séculos se projecta no “seu” poder de direito dominante. É
certo que se o contestarmos ele reivindica que o direito se reco-
nhece num pretenso carácter de imutabilidade. Como se o direito
fosse um culto. E um poder legitimado. O direito pelo direito? Ou a
consistência do estabelecido para uma sociologia apaziguada?

As instituições seculares, as interacções pessoais, as leis são a for-


ça ou a fuga do exercício de poder? De onde emana o poder da
Europa?

Eu não sei se terei talento suficiente para esta breve reflexão. Por
pensar e duvidar. Se tento saber, medito e torno-me um ente sem
interesse e sem utilidade. Se vejo e constato o que se passa com
os outros, fico inquieto e pelo respeito sobre esses outros deixo de
duvidar do poder europeu. Mas sem esforço percebo que o poder
fascina. Trata-se de uma realidade contraditória mas que o euro-

17
peu cultiva com visibilidade e grandeza, na sua miséria e espanto.
Esta conflitualidade agarra-se a conceitos como a liberdade para o
tornar menos suspeito. Uma realidade contraditória que o lord
Acton esclarece com ”o poder corrompe sempre”.

Se a imposição do direito europeu ou qualquer outro se torna uma


referência imutável, toda a mudança se torna ímpia. Torna-se
assim numa realidade de direito dominante, de conservação, de
privilégios. Quem se atreverá a contrariar posteriormente esta
“neutralidade”? Mas quem aceitará o poder se ele corrompe?

Esta “neutralidade” colocada nestas condições não reflecte a fide-


lidade, as aspirações da união europeia; ou será que exprime as
necessidades que Shakespeare expressou como “É belo ter a força
de um gigante, mas é horrível usá-la como um gigante”?

O poder europeu, este culto totémico é a felicidade dos homens


da nossa época. Trata-se de um monumento, de um sacrossanto
que muitos perseguem e por ele lutam incansavelmente.

As normas são pois negociadas em conjunto para se revestirem de


um carácter de eternidade que as proteja contra o desgaste.

18
Seria então possível e no momento actual abdicarmos da união
europeia? Haveria uma força suficiente para um movimento natu-
ral de metodologia, de filosofia, que alterasse esta manifestação
de uma união europeia? É certo que a história nos demonstra que
com os tempos os sistemas mudam e a mudança provoca a evolu-
ção das sociedades.

Somos a consciência da participação igualitária em interesses


comuns. Por isso se democratizaram as relações entre os Estados,
fossem eles grandes, médios e pequenos. Apresentaram-se os
Estados numa relação de igualdade nesta “velha” Europa de direi-
tos, a favor da paz e na instauração de uma nova ordem mundial.
Exigiu-se a democratização e a universalidade do sistema.

Ma há quem defenda que é o tempo e a duração do próprio poder


que leva à actual situação politica e igualitária em que vivemos.
Que estamos perante um fim em si mesmo. Como se houvesse um
infinito e este actual modelo seria o fim desta longa evolução. Mas
como formulou Bergson e outros pensadores, se o tempo é infinito
e nos encontrámos no fim de um percurso, por que será que todas
as coisas nos sucederam já? Por que aconteceram todas de forma
sucessiva? Por que já tudo se sucedeu? O que na verdade Bergson
esclarece é que não há uma certa concepção linear do tempo
como uma recta infinita ou que se estende infinitamente em
ambas as direcções. Esclarecendo-nos que o tempo é basicamente
duração. E a duração é o que constitui a nossa consciência dos
19
fenómenos. Este modelo de que a duração é a nossa consciência
em todas as etapas do processo de elaboração da decisão, ela tor-
na-se numa “ordem do dia” dos governos europeus e dos negócios
mundiais de qualquer natureza. A ponto da família ser hoje a única
defesa contra esta mercantilização e este poder que um dia pode
estar em queda, sem que no entanto haja um outro.
Esta é a Europa de hoje. Com relações difíceis que são contamina-
das pelo poder. Numa relação mundial e de submissão a poderes
com demasiadas crenças para um sistema que muitos queriam de
denominação.

20
A LEGITIMIDADE DO PODER EUROPEU

Legitime, palavra de origem latina. Legitimidade que deriva deste


legítimo. Mas que legitimidade pode existir se ela se situa no limiar
das deontologias e axiologias do “ser” e do “dever ser”?

Deixemos esta reflexão para uma outra oportunidade. Situemo-


nos por agora no termo da sua história que está associada ao
poder, ou até direi de outra forma mais moderna, à autoridade.
Ou como dizem os que não escondem o gosto do poder, “o poder
legitimado”. Nesta Europa de legitimidades e de governabilidade,
a associação entre o poder e o governante conforma-nos a uma
mútua convivência.

Antes dos gregos esta relação de poder como se pode constatar


nos brevíssimos exemplos inicias, apontava-nos para um caminho
de vontade privada. Uma determinação de que o próprio gover-
nante seria a própria encarnação do poder. Um verdadeiro critério
do justo, do injusto, da paz e da guerra. Mais tarde este conceito
era perspectivado numa relação de um princípio de interconexão
entre os termos gregos e romanos. Como se as leis exprimissem a

21
vontade colectiva pelo interesse público. Uma linha nem sempre
visível mas onde o interesse público era percebido com uma visão
ampla, que iria muito para além da política. Atravessava as pró-
prias relações sociais. A passagem pela Idade Média redefine-se e
as autoridades cristãs esforçam-se por rejeitar o público e a moral
argumentativa da sociedade. Deixa de existir a politica idealizada
pelos gregos e existe apenas o poder e o privado assume a van-
guarda das relações das lideranças sociais. Na Modernidade há as
oscilações históricas e, segundo Humberto Eco, a racionalidade
moderna não é apenas composta de ideal de conhecimento segu-
ro, de verdade, de paz, mas de conflito e contingência. Percebe-se
que a Modernidade tratou a legitimidade como se este termo
tivesse o sinónimo de legalidade. E na Europa de hoje?

Os europeus já estão para além da democracia de auto-afirmação


e do auto-conhecimento. Se um Estado não assumisse estas duas
vertentes anunciadas tornar-se-ia num Estado de Excepção, colo-
cando a sua natureza de poder com a ausência de legitimação
democrática. Estamos num poder europeu que já predomina a
própria formação social do poder, tornando-o aceite e desejável,
difuso e pessoal, institucionalizado e regredido. A linguagem tor-
nou-se o poder expresso que usa as palavras para a compreensão
e obediência. Numa utopia de que este poder serve o bem público,
de forma elegante, sóbria e clara, objectiva e persuasiva. Utilizam
a linguagem do poder entre o amor e a paixão. Uma forma moder-
na de impor o poder sem desobediência. O poder legítimo e san-

22
cionado de hoje coincide com a autoridade, com a paixão, com a
manutenção das barreiras sociais para que se nutra o desejo desse
sentimento. Tratam-se os cidadãos como apaixonados, promoven-
do-lhes a felicidade e a satisfação, como se houvesse um senti-
mento afectivo. Mas estudos de psicologia humana dizem-nos que
os sentimentos de um estado de paixão dificilmente ultrapassa os
três anos. A paixão pelos governados esforça-se para que estes
sentimentos de propaganda e publicidade política não se percam
nos três anos subsequentes a uma eleição. E se a paixão se perder,
com ela, existirá uma eventual derrota nas eleições. A tristeza
invade as pessoas e as dificuldades atingem a plenitude levando o
“eleitor-apaixonado” a ser só feliz se conseguir o objecto da sua
paixão. Mas ainda temos um outro conceito que pode abalar esta
paixão pela politica europeia ou até, pela politica de cada um dos
Estados Europeus: a mentira.

23
A MENTIRA

Descrever declarações de verdade pode levar a acreditar que essa


declaração seja suspeita, que seja falsa, desde que uma das perso-
nagens (o ouvinte) acredite nesta desfiguração da verdade. A des-
figuração da verdade coincide com um conjunto de acontecimen-
tos que podem ser até uma verdade com a intenção de causar
uma acção de engano. Esta desfiguração pressupõe a presença de,
pelo menos, duas personagens: o falante e o ouvinte. Mas para
esta breve reflexão o que me parece de maior relevância é a desfi-
guração consciente da verdade. E que desfigurações conscientes
da verdade podemos desde já traduzir?

Numa perspectiva brevíssima, constatamos que a anulação de


uma transformação consiste em eliminar um subconjunto de acon-
tecimentos, sabendo que nesta política europeia se promove, com
demasiada frequência, a ocultação do estado real dessas mesmas
ocorrências. E com situações limite sempre que utilizam o silêncio.
Que podemos denominar de “mentira ignorativa”. Onde o “não vi”
e o “não sei” são status pragmáticos e semânticos demasiadas

25
vezes utilizados.
Há também a transformação consciente de acontecimentos e
objectos “estranhos”, que se utilizam para produzirem anulação. E
não me devendo alongar, a transformação da indefinição que se
assemelha a uma anulação parcial e que o exemplo seguinte escla-
rece: “Quem foi o ministro?” “Um conhecido”. É certo que há ain-
da variadíssimas outras modalidades e transformações da mentira
politica. Mas estas observações já nos permitem perceber que
este é o nosso tempo, onde a desfiguração da verdade tem causas
ontológicas, gnoseológicas e linguísticas. Tal como a inconstância
da realidade, a delimitação imprecisa dos objectos, acontecimen-
tos e situações; ou onde a virtude de actos e mensagens são desfi-
gurados da verdade a fim de se evitar falar da realidade da cons-
ciência e, por fim, o carácter generalizado com a referência inexac-
ta de objectos e acontecimentos em textos.
NOTA DE ESCLARECIMENTO

Decorreu no passado mês de Abril, Sábado, em Madrid, um workshop


sobre a Europa. Um dos oradores convidados foi Álvaro Carva, que
participou neste workshop e a convite da Comissão organizadora.
Após a sua intervenção, os participantes sugeriram que respondesse a
um conjunto de perguntas, que amavelmente acedeu.

A preocupação da plateia é visível. A crise económica é hoje uma das


principais preocupações dos cidadãos. Uma crise económica, planetá-
ria, cuja componente financeira foi enaltecida pelas questões coloca-
das. A sociedade plural, com diversos pensamentos e interpretações
que a plateia representava, permitiu constatar o seguinte: o modelo
económico e o seu sustento financeiro foram a realidade do tempo
actual, que aqui trazemos a público, com a publicação das perguntas e
das repostas obtidas. Que esta publicação possa ser útil, sabendo-se
que este é um humilde e pequeno contributo para esse fim por parte
deste Centro de Estudos.

O Director Executivo do Centro de Estudos Fernando Pessoa.


WORKSHOP EM MADRID
(24.04.2010)

Centro de Estudos Fernando Pessoa

29
Mapa Antigo dos Açores

30
WORKSHOP em MADRID

Álvaro Carva, existem diversos pareceres e interpretações sobre a


Europa. Estamos a 24 de Abril de 2010. Como vêem os políticos e
os governos esta realidade?

- Acredito que todos os governantes analisam estas preocupa-


ções com critérios de oportunidade política. Permitindo-lhes um
maior controlo nas instituições públicas e na representação
democrática dos cidadãos.

- A banca revê-se nesta realidade?

- Os Conselhos de Administração dos bancos ou os seus donos,


são capazes de se tornarem executivos, na determinação dos
objectivos e nas grandes preocupações sociais, apoiando os
poderosíssimos instrumentos políticos que cada Estado europeu
pode utilizar.

- Como podem os Conselhos de Administração dos bancos

31
apoiar esta realidade económica?

- Se os Estados europeus desenvolverem dotações financeiras,


prestando as ajudas devidas, todos os projectos são financeira-
mente viáveis, podendo dessa forma promover-se a fusão e acor-
dos estratégicos entre realidades diferenciadas. Os problemas
económicos não são problemas das instituições de crédito. São
um problema de território que politicamente deve ser repensa-
do.

- Mas como se permitiu chegar a esta situação?

- O ultraliberalismo e a desregulamentação podem ser as cau-


sas e, por esse facto, devem estes conceitos ser modificados. O
que acabo de dizer é declarar que podemos ter um problema
num modelo económico e no seu sustento financeiro. Mas se eu
pensar em Portugal, a banca do meu país não contribuiu para
essas situações díspares. Os gestores tiveram um comportamen-
to adequado para uma sociedade civil e democrática que Portu-
gal representa.

- Como viu a banca portuguesa as condicionantes da economia?

32
- As condicionantes económicas são uma condição da própria
sociedade civil. A avaliação das possibilidades técnicas da banca
é que podem passar pela fusão, absorção e cooperação, na
sequência desses condicionantes económicos.

- Que tipo de dificuldades pode encontrar em Portugal na ban-


ca que passa dificuldades?

- A banca portuguesa, na sua generalidade, não passa por esse


tipo de dificuldades. Haverá dois ou três bancos que estão a pas-
sar por défices de capitalização, com perdas e sem poderem fazer
face às suas obrigações. Há um caso de polícia. E um pequeno
banco que tem uma organização tão complexa, um organigrama
com tantos directores e adjuntos de directores que é praticamen-
te disfuncional.

- Que solução para esses casos?

- O saneamento e absorção dos seus activos, por outras enti-


dades creditícias. E uma alteração ao organigrama e uma maior
firmeza na aplicação do espírito de missão, cultura e valores da
empresa. Com um código de conduta assente nos valores
morais.

33
- Não haverá tensões de liquidez?

- Esse é um problema que não depende a médio prazo das


entidades, mas de outros factores, que podem ser positivos e
negativos, tal como a dificuldade para continuarem a obter liqui-
dez nos mercados internacionais.
- Que mais tensões se devem ter em conta?

- A possibilidade de alteração da qualificação creditícia de um


Estado e a fractura no mercado interbancário. Esse é o maior
perigo que podemos vir a encontrar em breve.

- Dê-nos um exemplo?

- A restrição da liquidez e a perda de confiança entre entida-


des são dois bons exemplos.

- Que mais variáveis se pode ter em conta para este perigo emi-
nente?

- As mudanças das facilidades creditícias do Banco Central


Europeu; a expectativa da subida da Euribor, que pode provocar

34
aumentos de morosidade. Mas há, para mim, duas variáveis que
posso deixar aqui em jeito de reflexão. Duas variáveis que podem
fazer evoluir favoravelmente a liquidez no sistema financeiro:
uma será o aumento da taxa de poupança e a consequente redu-
ção da taxa de consumo. A segunda, a redução substantiva do
deficit exterior da economia de qualquer país.

- Sendo assim, mantêm-se as dificuldades?

- As dificuldades de liquidez no mercado a curto prazo, por


quantidade e preço são factores que os Estados e as Instituições
têm de assumir. Esta bonança deve estar a terminar.

- Portugal tem capacidade para cumprir o PEC?

- Acredito que há uma determinação governativa para a redu-


ção do défice. Mas a maior dificuldade, na minha opinião, será o
abrandamento da economia nos próximos anos. Se iniciarem
desde já este processo mostrarão energia e poderão, sempre que
julgarem necessário, solicitar uma maior consolidação, promo-
vendo o lançamento de mais medidas.

- Acredita nessas ideias?

35
- Não estou céptico e acredito que o governo se empenhe nes-
sa redução. O rácio da dívida poderá ser gradualmente consolida-
do.

- E se houver uma alteração do rating de Portugal?

- Temos de conviver com isso. Poderá essa notícia criar


algum impacto nos mercados. Podemos ter algumas dificuldades
por dependermos dos mercados para financiarmos as nossas dívi-
das. Mas a determinação do governo e do seu Ministro das
Finanças será certamente inabalável.

- Mas a instabilidade está para durar em Portugal?

- Este é um processo que precisa de algum tempo para ser


resolvido. Pode haver oscilações nos mercados. Poderá haver
uma pressão nas vendas no mercado accionista e um aproveita-
mento alheio deste acontecimento. Os mercados vão reagir.

- Como se pode ultrapassar a preocupação de Portugal?

36
- Resolvendo o problemas do euro e da economia grega. Portu-
gal está a viver as preocupações e o pessimismo vivido por outros
países que se relacionam com a união europeia e que fazem par-
te da nossa moeda comum, o euro. Mas eu não sou economista.
Sou apenas um estudioso destas matérias, em especial na área
financeira e europeia. Por envolvimento profissional e por conhe-
cimento cientifico. E é pela nossa “velha” Europa que estou hoje
aqui. Apesar de compreender esta interdependência.

- Como vê a banca?

- Em Portugal?

- No seu país, em Portugal.

- Trata-se de uma banca que cumpre integralmente as boas prá-


ticas e com um bom governo.

- Não vê a banca portuguesa a entrar no vermelho?

- Isso é uma consequência das empresas que vivem inseridas no


mercado. Poderá haver um recuo no lucro. Uma eventual quebra
nos lucros, num determinado período homólogo, que pode gerar

37
menores receitas. E nalguns trimestres perdas com significado.
Mas isso não é entrar no vermelho. E a banca portuguesa, estou
certo disso, apostará em rendibilidade operacional. Aumentando
a margem financeira e potenciando os benefícios das operações
internacionais. Conhecem a qualidade dos serviços bancários pra-
ticados em Portugal?

- Como vê os principais indicadores financeiros para ter uma


ideia positiva das condições de capitalização e de solvência da ban-
ca portuguesa?

- Eu não tenho aqui documentação que me permita dar respos-


tas a esse tipo de questões colocadas. Mas posso garantir que há
bem pouco tempo tive a oportunidade de poder ver a estrutura e
o rácio dos recursos próprios, prazos de devolução e de recursos
alheios, rácios de morosidade e de provisões, bem como outros,
que me permitem hoje dizer-lhes que todos eles são suficiente-
mente seguros para a imagem de serenidade da banca do meu
País.

- Como vê a banca espanhola?

- Não queria comentar. Estou aqui a convite de espanhóis e


para vos falar da Europa.

38
- Acompanhou o processo das Caixas de Crédito Espanholas?
- Naturalmente.

- O que nos tem a dizer?

- Nada.

- Nem umas ideias?

- Conhecem melhor do que eu esta vossa realidade. Sob o pon-


to de vista técnico o diagnóstico é claro: aumento das condições
objectivas de capitalização; aumento da eficiência na gestão ban-
cária, aumentando as margens e verificando com rigor os custos
de exploração. Mas esta é uma realidade e atenção profissional
que eu apenas acompanho de perto, no âmbito das sinergias e
diversificação das consequências deste movimento ibérico.

- Parecem-lhe inevitáveis as fusões?

- Creio que vão ser inevitáveis as fusões, as absorções e a coo-


peração. E por que não dizer, apoiem-se no vosso sistema institu-

39
cional de protecção a esse movimento.

- O que nos diz da banca espanhola em Portugal?

- Pelo respeito que tenho pelas Instituições e pelas pessoas


não queria personalizar a minha intervenção. Apenas vos digo
que são bancos sólidos, que controlam o risco e que têm uma
excelente relação com os clientes. Bons ratings, com crescimen-
tos no negócio e com uma evolução das receitas. Portugal é um
País excelente, com qualidade bancária, num modelo de negócios
assente no retalho e com gestores na banca espanhola, bem
conhecedores da realidade bancária.

- Álvaro Carva, nas suas relações transversais com a sociedade


global, que movimentos denota na área financeira?

- As nossas observações são frágeis. Normalmente conhece-


mos 10 por cento do que fazemos e executamos 90 por cento do
que se não conhece. E mesmo assim decidimos fazer.

- As relações são duradoiras no mundo financeiro?

- No mundo financeiro há imensas relações duradoiras e de

40
elevado valor nas organizações de topo. A esse nível precisamos
é de pessoas com uma determinação inabalável, de um certo
optimismo, ambição, resistência à frustração, personalidade
audaciosa e considerar que o mais fácil não é o sucesso — descul-
pem-me por ter lido este apontamento.

- Pensou em alguém com essas características?

- Claro que sim.

- O direito impõe-se nas sociedades bancárias?

- Em qualquer sociedade o direito impõe-se pela força e depois


submete-se pelas normas.

- A banca tem tendência para chegar aos Estados?

- Trata-se de uma das funções do sistema de associação. E é de


todo conveniente para se proteger os fracos do poder dos fortes.

- Sempre se pensou assim?

41
- Eu não sei o que pensam as outras pessoas sobre as questões
que me estão a colocar. O poder directo demorou uma eternida-
de para chegar às nações. Desde a impunidade, às glórias nacio-
nais, aos actos bélicos e às batalhas triunfantes.

- A força constituía o direito?

- Esse conceito é histórico. Trata-se de uma teoria darwiniana.


O forte tinha o direito de apropriar-se do que lhe passava a per-
tencer.

- A guerra é uma consequência do poder?

- Tratava-se de um direito de conquista.

- Uma nação poderosa quer algo e toma-o. A banca reage da


mesma forma?

- Os Estados não estão nessa fase. Nem os Estados, mesmo os


poderosos, desejam algo e tomam-no de imediato. A banca pode
reagir a uma necessidade de conquista, mas apenas lhe falo des-
tes conceitos por manifesta necessidade destas explicações e
pela inevitabilidade do exercício de pensarmos sobre eles.

42
- As guerras na banca usam a coacção?
- A banca do meu País trata todos os assuntos de forma directa
e indirecta e tem em conta os valores morais e éticos universais.
Isso é um processo de legitimação.

- Que legitimação entende que a banca deve usar?

- Se a banca baseia as suas regras nos princípios ou valores uni-


versais, na prática pode e deve justificar a sua legitimidade direc-
cionada para o lucro, convertendo-o em justiça.

- As normas são suficientes?

- A legitimidade requer conceitos normativos. A banca não


pode basear a sua actuação em emoções, na fé, ou em crenças,
mas na eficácia dos mandatos dos seus gestores.

- Como está a banca portuguesa?

- A sua questão é demasiado generalista. Dir-lhe-ei que está


bem e recomenda-se.

43
- Mas têm perdido muitos bancos.
- Não é uma observação perfeita. Tem havido muitas fusões. É
certo que nos pode apontar uma perda de 59 bancos em 10 anos.
Se considerar que as Caixas Agrícolas, cada uma per si, são um
banco, perceberá aqui a necessidade das fusões. Não são pois
perdas, mas a necessidade de se fundirem para reforço da sua
intervenção nos mercados.

- Quantas Caixas Agrícolas se fundiram?

- Dez Caixas Agrícolas.

- Sendo assim houve uma redução de 185 para 174 instituições


de crédito nacionais?

- Estão bem informados. Podiam-me ter avisado deste inquéri-


to. Teria vindo preparado. Espero que não estejamos no tempo
da inquisição. (risos da plateia). Parece-me que os seus números
são perfeitos. Eu não tenho comigo esses indicadores. Mas pare-
cem-me acertados.

- Efeito da concentração?

44
- Um acto que não posso deixar de considerar naturalíssimo.
Em Portugal, os cinco maiores bancos representam oitenta por
cento dos activos bancários.

- Não teme Basileia II?

- Hoje em dia ninguém teme Basileia II. Mas devemo-la conhe-


cer e aplicar.

- E Basileia III ?

- Só temos de ter consciência do que vier a ser aprovado e ter


isso em linha de conta nas estratégias bancárias. Mas prevejo
dificuldades diversas em vários bancos.

- Mas não prevê problemas na economia portuguesa?

- Não é uma preocupação portuguesa. Basileia III terá um tre-


mendo impacto na economia europeia. Será uma preocupação
de todos os Estados europeus.

45
- Explique-se melhor.

- Com Basileia III haverá uma grande pressão sobre as Institui-


ções bancárias e com elevados aumentos de capital. Em Portugal
a situação será ainda mais difícil por já não haver capitalistas.
Haverá, certamente, que restringir também nos balanços novas
fórmulas de contabilização.

- Haverá mudança no controlo dos reguladores?

- Isso será certo. Acredito numa supervisão prudencial e numa


supervisão comportamental. E na consequência de uma aprendi-
zagem sobre os erros cometidos na banca e nos Estados.

- Sobre os produtos vendidos nas redes das Agências?

- Será no acompanhamento dos produtos lançados pela banca.


Mas o mais relevante será no acompanhamento a ser realizado
junto das próprias Instituições de Crédito, tendo em conta os ele-
vados aumentos de capital. Bem como nas contas públicas dos
Estados europeus, se quiserem solidez nesta interdependência
económico-financeira.

46
- O que levou no passado a que houvesse receitas extraordinárias
a favor de muitos administradores?

- Não entendi. Creio que me fala de um processo, uma opção,


que permitiu a contabilização ao valor do mercado dos títulos
financeiros em que os bancos investiram.

- Mas resultou em receitas favoráveis a favor das lideranças.

- Foram cálculos bem realizados. Pode-se pôr em causa se esse


valor deveria ser calculado sobre o lucro ou sobre o potencial e,
dessa forma, acreditou-se ser injusta essa contabilização. Foi um
facto.

- Como vê os bancos mais pequenos?

- Nos bancos mais pequenos haverá lucros, mas sem significa-


do. O produto bancário e o crédito serão deficientes.

- A situação actual pode prejudicar os bancos mais pequenos?

- Essa situação é uma consequência da dimensão que pode

47
levar ao aumento do rácio do crédito malparado e da própria
eficiência. Com a expansão necessária podem-se criar proble-
mas na Conta de Resultados. Mas no momento presente e futu-
ro os bancos pequenos têm de emagrecer e não expandirem-se.
E se não o fizerem de imediato, fá-lo-ão e com maiores prejuí-
zos.

- Que tipo de emagrecimento? Dê-nos um exemplo concreto


para um organograma de um banco com 100 Agências.

- Fecharem agências sem resultados. Assumirem que um


banco pequeno, com 100 agências, ou pouco mais, deve orientar
as suas energias para os comerciais. Cada caso é um caso. Mas se
o não fizerem, a fatalidade estará à porta. Uma empresa de
pequena ou média dimensão precisa é de gerentes comerciais.
Em Portugal, por exemplo, um director-geral e dois directores
comerciais — um a Norte e outro a Sul — para pontos de negócio
com volumes superiores a 100 milhões de euros será suficiente.
Três directores para as restantes agências, com um volume de
negócios inferior ao valor já indicado. Estando um director a Nor-
te, outro no Centro e outro no Sul. Isso representa, em média, 25
agências sob a sua orientação. E com uma cadeia de gerentes nas
agências já se pode tornar num banco comercial e rentável.
Como vêem, um Director-Geral e cinco directores comercias assu-
mem a gestão directa sobre o negócio. Não deverá haver mais
hierarquia na cadeia de decisão. Para além disso, mais hierarquia
48
representa custos e mais custos que hoje não se podem suportar.
Em Espanha necessitariam, na minha opinião, de uma outra par-
ticularidade, que posso abordar mais logo. Mas repito, cada caso
é um caso.

- O que se deve fazer aos directores já nomeados?

- Dar-lhes a oportunidade de serem gerentes comerciais na


área das empresas. Vêem como se pode aligeirar a cadeia de
comando num banco com o número de Agências reduzido?

- Que valor nos pode dar como referência para o crédito malpa-
rado em Portugal?

- Não tive ainda oportunidade de ter acesso aos valores oficiais.


Deverão situar-se entre os 4 e os 5 pontos percentuais. Eventual-
mente um pouco mais se tivermos em conta os resultados das
Caixas Agrícolas.

- Mas não deveriam estar os bancos mais preocupados com a


rendibilidade? Enquadre a sua resposta nos bancos mais peque-
nos.

49
- Isso é uma preocupação natural de qualquer gestor bancá-
rio. Só que os rácios nos bancos mais pequenos são, consequen-
temente, de outra dimensão, mas sempre muito preocupantes.
No actual modelo económico-financeiro há que rever, pelo
menos de três em três meses, as metodologias da organização. E
dar resposta à seguinte pergunta: como colocar um País ou uma
empresa com um rating AA, por exemplo? Se assim não pensar-
mos a margem de manobra é curta e as metas podem não ser
apropriadas.

- Um futuro pouco risonho para a banca europeia?

- Eu diria para a generalidade da banca mundial. O futuro para


os bancos pequenos, mas também para os bancos com dimensão
é pouco risonho e a crise ainda não se fez sentir. O contexto eco-
nómico espanhol e português também afecta a evolução do cré-
dito malparado e uma diminuição no negócio bancário. Mas a
banca portuguesa é um exemplo que recomendo e daqui faço um
desafio para que acompanhem mais de perto esta interessante
realidade.

- Obama aumentou a regulação bancária. Portugal e a Espanha


controlam ou regulamentaram o crédito da dívida?

50
- Controlar a dívida é um acto normalíssimo na gestão do meu
País. Mas se a dívida disparar, a banca portuguesa pode vir a ter
problemas.

- Prefere a banca portuguesa ou a espanhola?

- As duas são excelentes. No momento presente a banca portu-


guesa tem menor pressão na captação de depósitos. E menores
provisões contra o crédito mal parado e um potencial maior de
margem financeira. Podemos mudar de assunto?

- Só mais algumas perguntas sobre esta matéria. Qual a sua opi-


nião sobre a banca africana?

- Não tenho opinião formada. Tenho conhecimento de dados


concretos e, há pouco, tive oportunidade de conversar com
alguns executivos de topo da banca em África aqui presentes.
Prefiro que esta opinião seja reservada. Como sabem, tenho
excelentes relações pessoais e noutras plataformas de comunica-
ção, com vários países africanos e europeus. Não posso pois ir
mais longe, tal como pretendem.

- E como actua a banca portuguesa no mercado africano?

51
- Dando notoriedade aos seus dirigentes locais e trabalhando
afincadamente pelos seus países.

- Há uma posição comum da banca portuguesa em África?

- Não creio. Cada Instituição de Crédito faz os seu trabalho de


casa. Pessoalmente acredito que uma “task force”, uma
“holding” africana permitiria resultados mais animadores.

- Cotada em bolsa?

- Não creio que daí resulte qualquer interesse para as partes.


Mas uma nova visão, uma visão mais acertada e mais conhecedo-
ra da realidade africana. E com um potencial maior de valoriza-
ção. Eu acredito nestes modelos de trabalho e de organização,
reconhecendo que qualquer modelo é bom e válido para as parti-
cipadas estrangeiras.

- Vê as empresas como organizações de coordenação central?

- Vejo isso de forma muito clara. Há empresas que são maio-


res que os próprios Estados. E não se esqueçam que o mundo empre-
sarial tem feito um grande esforço para estudar os temas da organi-
zação, do poder e de liderança.

- As lideranças estão no topo?

- Sim. Trata-se da teoria clássica de organização. São as figuras


tradicionais do poder que derivam do posto que assumem. O traba-
lhador sabe e cumpre directamente as ordens emanadas.

- Que tipo de preocupações devem existir nas áreas comerciais


dos bancos?

- Trata-se de uma visão que deve ser estudada e particularizada.


Eventualmente aumentando o potencial de up-selling e de
cross-selling, dos clientes individuais, familiarizando-os na área
comercial, numa perspectiva emocional. Apostando na área
empresarial e, há pouco, enquadrei esse modelo de gestores.

- O que pode acontecer à taxa Euribor?

- Não consigo ser adivinho. (risos na plateia) Eventualmente subirá,


obrigando os bancos a subir as referidas taxas e elevando o
custo do crédito. Acredito que este fenómeno ocorrerá em
qualquer um dos prazos temporais existentes para a Euribor.

- O que pode acontecer aos bancos que investiram na dívida grega?

- Temo que este investimento num País que deve em breve pro-
mover a fuga de investidores possa ser penalizador. Os Gregos já
admitiram erros propositados nos cálculos realizados sobre as contas
gregas. A dívida desta forma pode ser superior aos valores que são
admitidos pelos gregos. Os problemas da Grécia devem ser superio-
res a 200 mil milhões de euros. Por quanto tempo? No final desse
prazo terão de recorrer a novos empréstimos. Não tem alternativa.
Tirem as vossas conclusões.

- O que pode acontecer ao Euro?

- Uma depreciação do euro em relação ao dólar. O euro deverá


bater os seus mínimos históricos se este fenómeno progredir. O pre-
ço do petróleo pode aumentar. Haverá pois que sabermos recomprar
as nossas dívidas em cada um dos Estados europeus. Mas não sei se
isso será suficiente para um dia acalmarem os mercados. Na área
económica haverá, diariamente, novas informações. Certamente
tudo será ainda mais grave. Na área financeira haverá um turbilhão
se os países não actuarem sobre esta realidade. E veria com bons
olhos a criação de um Fundo Monetário Europeu.

- O que pensa sobre as Agências de rating?


- Não se podem ignorar as Agências de rating.
-- É desejável um trabalhador sem cabeça?

Não. Lembram-se da “velha” história de Henry Ford quando um


dia gritou: “Quando o que eu preciso são dois braços para aper-
tar porcas, mandam-me uma pessoa! Para que preciso eu de
uma pessoa?” (risos da plateia). Mas reconheço que há empre-
sas que só funcionam com este modelo de administração. Mas
sabemos que as empresas devem articular contributos, criativi-
dade, sistemas de comunicação, colaboração, reconhecimento,
prémios e outras participações.

- Ainda se mantém essa definição de poder?

- Que definição? O que se sabe é que hoje há várias tendências


nas organizações e há nas hierarquias intermédias, abusos de poder
e de autoridade pessoal. Quando, na verdade, deveria haver autori-
dade para as capacidades de se conseguirem atingir os objectivos.
Com estas preocupações as administrações continuam a ter um rele-
vante papel no interior e exterior da empresa, controlando e acima
de tudo fiscalizando os actos daqueles a quem delegam as suas com-
petências. E nas organizações pequenas se isso não for controlado a
figura do subordinado promove novas figuras de poder. Espero ago-
ra ter justificado o modelo de laboratório há pouco explicado.
- Voltarão a acontecer estes fenómenos de má gestão?

- Não há regras uniformes e será muito difícil que esses fenóme-


nos não se repetissem na actual conjuntura. Conseguem mudar com-
portamentos e riscos económicos e financeiros de um momento para
o outro?

- Mas a União Europeia tem um percurso. Os Estados não são


todos iguais, não lhe parece?

- Exactamente por essa realidade que apresenta, a importância


da moeda única é divergente em cada um dos países. A Europa não
tem uma uniformidade, mas vários rumos, com uma gestão financei-
ra e económica que não é abrangente. Faria todo o sentido que a
Europa controlasse estas análises de rating. Eu não sei como ainda
não se pensou na criação de uma agência de rating europeia, para
que tivéssemos em conta as dívidas soberanas. Da forma como
temos os mecanismos montados, poderá haver o perigo de contá-
gio. Temo muito pela falência do conceito de união, repito, temo
pelo conceito de união. O preço do credit default swaps grego, esse
sim, para já, será muito perigoso. Volto a propor uma mudança do
tema. Aceitam?

- Falemos de gestão bancária. Aceita?

- As opções são vossas. Estou aqui para esses desafios.


- Quem domina hoje a sociedade?

- O capital, a empresa que tem como objecto a produção de bens


económicos. O próprio poder político, o económico e o financeiro.
Podem considerar estes conceitos como o capital social, o capital
humano, o capital intelectual, o capital comunicativo, de entre
outros.

- Sendo alguém com uma experiência e conhecimentos demons-


trados, como julga que se deve posicionar um líder?
(sorrisos do interveniente). Podemos
considerar dois modelos: os pes-
soais e os posicionais. Os que são meus ou vossos e os que
dependem da função. Eu dou valor aos dois e acredito que,
intelectual e profissionalmente, por essa via, vale a pena
recompensar ou premiar o dono de uma empresa, um conselho
de administração, o cliente e o subordinado. Mas o dirigente
intermédio torna-se vulnerável. No momento presente, o
poder formal sobre os subordinados é insuficiente e, por isso, a
necessidade de uma fiscalização maior sobre as atitudes e
sobre as actividades comportamentais das lideranças intermé-
dias. Por isso, defendo que numa empresa pequena é muitas
vezes mais útil um Conselho de Administração que trabalha
directamente com as gerências locais. A capacidade de sedu-
ção, mobilização, simpatia, convicção são aptidões de um Con-
selho de Administração que seguem directamente para os
recursos humanos e para a rede comercial. Mas este é um
exemplo e não uma ideia modelo. A noção de poder nas
empresas está a mudar. O poder hoje já não está no monarca,
no Estado ou no povo. Mas no indivíduo que deve ter a força
suficiente para se manter equidistante dos problemas e na
grandiosidade das suas tarefas, não se deixando invadir pelo
desânimo. Que ele seja capaz de construir, pedra a pedra, o seu
sonho de que está a ajudar a construir uma Catedral. Gracias.
Un saludo.
- Obrigado Álvaro Carva.

Вам также может понравиться