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HÁ 200 ANOS ERA INVENTADA A PILHA

MEMÓRIA
Uma descoberta
eletrizante 75

Quando acendemos uma lanterna, conferimos a hora no relógio ou escutamos um pro-

grama de rádio não passa por nossas cabeças que essas atividades só são possíveis hoje

graças a uma das maiores invenções do século 18. A pilha que torna o nosso dia-a-dia

cada vez mais simples resultou de experiências sobre eletricidade conduzidas, no fim

de 1799, pelo físico italiano Alessandro Volta (1745-1827), professor da Universidade de

Pávia. Em carta datada de 20 de março de 1800, Volta relatava à Royal Society (Grã-

Bretanha) a construção de um aparelho formado por uma pilha de discos, de dimensão de

moedas e de diferentes metais, com o qual conseguira obter faíscas e choques elétricos.

mbora os fenômenos elétri- que as pesquisas sobre eletrici- mim Franklin (1706-1790), que
E cos fossem conhecidos des-
de a Antigüidade – Tales de Mile-
dade se difundiram entre os físi-
cos, iniciando-se um período ati-
desconhecia os trabalhos desen-
volvidos na Europa. Foi Franklin
to relatara no século 6 a.C. a atra- vo de experimentações e propo- que introduziu o termo ‘carga
ção de cabelos humanos por um sição de teorias. Destaca-se entre elétrica’ para designar as duas

Há 200 anos
bastão de âmbar depois de atri- os personagens mais envolvidos ‘formas’ de eletricidade e lhes atri-
tado –, foi no começo do século 18 com esse estudo o químico fran- buiu os sinais positivo e negativo.
cês Charles François de Cisternay Ao observar que corpos pontiagu-
Du Fay (1698-1739), para quem dos eram capazes de transmitir
a eletricidade era “uma proprie- eletricidade a outros corpos, ele
dade que consistia em atrair cor- também acabou inventando o
pos leves”. Baseando-se em expe- pára-raios.
riências com várias substâncias, Em meados do século 18, já
ele foi o primeiro a dividir os cor- existiam máquinas elétricas, ba-
pos em dois grandes grupos – os seadas na geração de eletricida-
“vítreos” e os “resinosos” – segun- de por atrito, que eram as gran-
do seu comportamento elétrico. des atrações nas academias, on-
A existência de dois ‘tipos’ de de físicos profissionais e amado-
eletricidade foi também compro- res realizavam experiências. O
vada de forma independente pelo físico holandês Pieter van Mus-
OS CIENTISTAS, V. 1, ABRIL CULTURAL, 1972

cientista norte-americano Benja- schenbroek (1692-1761), da


Universidade de Leyden, desen-
volveu um aparelho em 1746 que
Figura 1. Galvani mostrando ficaria conhecido como garrafa
a seus discípulos o efeito
da eletricidade sobre de Leyden. Ele usou uma garrafa
os músculos de uma rã, em pintura de vidro com água, tampada com
de autor desconhecido uma rolha atravessada por um

novembro de 1999 • CIÊNCIA HOJE


MEMÓRIA
prego, e apoiou o prego no pólo século 18 apoiada, por um lado, provar que era possível medir sua
de sua máquina elétrica. Em se- nos princípios de Franklin e, por carga. Já Coulomb definira a lei
guida, aproximou o prego de um outro, nas medidas do químico segundo a qual dois corpos com
objeto qualquer, provocando uma inglês Henry Cavendish (1731- cargas elétricas de sinal oposto se
forte faísca. A partir de então, o 1810) e do físico francês Charles- atraem na razão direta do produ-
aparelho passaria a ser um im- Augustin de Coulomb (1736- to de suas cargas e na razão inver-
portante instrumento de pesqui- 1806). Cavendish havia demons- sa do quadrado da distância que
sas elétricas. trado que um corpo era capaz de os separa.
Uma nova conceituação da ele- armazenar eletrici- Nessa época também surgia a
tricidade esboçava-se no fim do dade, além de idéia de que, além da eletrici-
dade observada nas máqui-
nas e na garrafa de Leyden,
existiria também a eletri-
Vocação para a pesquisa cidade animal, encontrada
apenas nos seres vivos. En-
Alessandro Volta nasceu em 18 de fevereiro de 1745, na cidade de tre os interessados na ele-
Como, na Lombardia. Educado em escola jesuítica, sua família espe- tricidade animal, desta-
rava que ele seguisse a carreira religiosa. Mas seu interesse pelos cava-se o fisiologista itali-
fenômenos elétricos o levou a estudar os relatos sobre as experiênci- ano Luigi Galvani (1737-
as com eletricidade dos especialistas da época e os conceitos sobre 1798). A ele atribui-se a des-
cargas elétricas e suas manifestações. Volta saboreou, por exemplo, as coberta, em torno de 1780, de
invenções de Pieter van Musschenbroek, que criou a garrafa de Leyden (o que um choque elétrico aplica-
primeiro condensador elétrico), do abade francês Jean Antoine Nollet (1700- do à perna de uma rã, recém-se-
1770) e do italiano Giovanni Batista Beccaria (1716-1781), que desenvolveram dispositi- parada de seu corpo, provoca mo-
vos fundamentais, como o eletroscópio (o primeiro instrumento para visualizar facil- vimentos violentos (figura 1). Al-
mente a presença da eletricidade). guns historiadores dizem que foi,
Com apenas 24 anos, em 1769, Volta publicou seu primeiro trabalho, como habitual na verdade, um dos alunos de Gal-
na época, em latim: De vi attractiva ignis eletrici (Sobre a força atrativa do fogo elétri- vani que observou esse efeito. O
co). Foi o marco inicial para outras realizações multidisciplinares. professor tinha reconhecida fama
Em 1775, por decisão dos governantes de sua cidade natal, recebeu a cátedra de de avarento e costumava reapro-
física experimental do Ginásio Real de Como. Nas férias de 1776, em passeio de barco veitar instrumentos estragados,
no lago Maggiore (cerca de 35 km a leste de Como) percebeu que, ao cutucar o fundo podendo ser encontradas em seu
limoso com uma vara, desprendiam-se grandes bolhas gasosas que, se recolhidas em laboratório pinças com hastes de
frascos de laboratório, podiam ser queimadas. Volta batizou essa substância gasosa de metais diferentes. Foi ao encos-
‘ar inflamável nativo dos pântanos’. Tratava-se do gás metano – o mais simples do gru- tar uma dessas pinças na rã dis-
po dos hidrocarbonetos, formados apenas de carbono e hidrogênio –, de fórmula CH4. A secada que o aluno de Galvani
substância é o constituinte fundamental do biogás, gerado naturalmente na decompo- teria observado as contrações
sição de vegetais, seja em pântanos ou nos geradores freqüentemente usados como musculares.
fonte alternativa de energia. O fisiologista italiano atribuiu
Pensando em como poderia provocar a combustão explosiva desse gás através de uma esse efeito a uma ‘eletricidade
faísca elétrica, o físico desenvolveu um balão semi-esférico, de gargalo longo, com dois eletro- animal’ que se descarregaria so-
dos na base, abastecido com metano e ar. Ao aplicar nos eletrodos um dispositivo capaz de ge- bre os músculos quando estimu-
rar uma descarga elétrica, obtinha uma estrondosa explosão, equivalente a um tiro de arma de lada por outras descargas elétri-
fogo. Por isso, o dispositivo passou a ser conhecido como ‘pistola de Volta’. O cientista transfor- cas. Sua hipótese era a de que, na
mou esse equipamento em um instrumento para medir a força de uma explosão. Não contente, rã, o músculo e seu nervo seriam
em mais um aperfeiçoamento do aparelho, desenvolveu um método para determinar a quan- equivalentes às duas superfícies
tidade de oxigênio presente no ar, através da intensidade da explosão obtida com a pistola. condutoras (chamadas de arma-
Nomeado em 1778 pelo conde Firmian para o cargo de ‘professor de física particular’ duras, na gíria de laboratório) que
na Universidade de Pávia, Volta formulou, a partir de experimentação, a equação dos constituem um condensador elé-
condensadores, que estabelece que a carga acumulada corresponde ao produto da trico, como a garrafa de Leyden.
capacidade do condensador pela tensão elétrica. Do mesmo modo que salta uma
Além de inventar vários instrumentos para medir a eletricidade, Volta foi considera- faísca elétrica quando as arma-
do o pioneiro da eletroquímica e um dos cientistas que mais contribuíram para a expan- duras são postas em contato, ha-
são do eletromagnetismo e da eletrofisiologia. Ele morreu em 3 de março de 1827, em veria também descarga quando se
sua residência de campo. põem o músculo e o nervo em con-
tato através de um fio metálico.

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MEMÓRIA
A eletricidade ‘artificial’ tefato também causava a con- prefiro a tranqüilidade e doçura
THE DEVELOPMENT OF MODERN CHEMISTRY, A. J. IHDE, HARPER & ROW, N. YORK, 1964

Os experimentos de Galvani des- tração muscular da perna de rã. da vida doméstica.” Sua frase re-
pertaram o interesse de Alessan- Por isso, Volta chamou seu apare- vela o caráter introvertido e tran-
dro Volta no início da década de lho de ‘órgão elétrico artificial’. qüilo do físico italiano, que sou-
1790. A partir do conhecimento Ele acabava de inventar a pilha. be equilibrar sua vida familiar
acumulado em seus próprios es- Havia na época um grande in- com sua atividade profissional.
tudos (ver ‘Vocação para a pesqui- teresse em torno da eletricidade
sa’), Volta sugeriu que as con- As novas aplicações Figura 2.
trações observadas por Galva- Cada pilha fornece uma ten- Pilhas
ni seriam causadas por uma são elétrica que é medida em construídas
por Volta,
eletricidade ‘artificial’. Segun- volts, unidade física cujo no- segundo
do ele, o choque elétrico na pa- me homenageia o físico itali- desenhos
ta da r㠖 assim como o provo- ano. As baterias costumam publicados
cado ao encostar a pinça na ser associações em série de pela Royal
nossa língua – resultava da di- pilhas, o que permite obter Society
versidade dos metais da pinça. maiores tensões elétricas. As
Para demonstrar sua teo- pilhas têm hoje mais aplica-
ria, Volta teve a idéia de ampli- ções do que se imagina. Todo
ficar o efeito elétrico colocan- veículo automotivo usa bate-
do vários pares de metais di- rias chumbo-ácidas. Nos au-
ferentes em contato sucessi- tomóveis de passeio, as bate-
vo (associação em série, no jar- rias são conjuntos de seis pi-
gão dos especialistas), através lhas de grades de dois tipos,
de um terceiro condutor – um uma de chumbo e outra de
papel ou tecido embebido em chumbo revestido com óxido
salmoura. Para isso, construiu de chumbo, mergulhadas em
um aparelho que repetia, siste- no mundo inteiro, que abrangia ácido sulfúrico.
mática e alternadamente, discos também as possíveis aplicações Os telefones celulares, ao lon-
de prata, zinco e papel ou tecido práticas. Assim, Volta foi convi- go desta década, usaram pelo me-
umedecido com água e sal. Cerca dado em 1801 por Napoleão Bona- nos três tipos de bateria: as de ní-
de 30 desses conjuntos de três dis- parte, então cônsul da França, pa- quel-cádmio, as de níquel-hidreto
cos foram mantidos empilhados, ra que apresentasse os efeitos elé- metálico e atualmente as de íon
apoiados em um suporte de has- tricos de sua pilha (figura 3). Foi lítio. Relógios de pulso, calcula-
tes verticais de madeira (figura nessa oportunidade, no Instituto doras portáteis e os ponteiros laser
2). Quando aproximava as extre- Nacional da França, que o físico dos conferencistas usam pilhas na
midades de dois fios de cobre, um italiano recebeu uma medalha de forma de botão (com diâmetro
previamente ligado à base e ou- ouro de Napoleão, escrevendo em inferior a 1 cm e espessura de al-
tro ao topo da pilha, saltava uma seguida para seus familiares: “À guns milímetros) de óxido de
faísca elétrica. A descarga do ar- vida acomodada de uma glória vã mercúrio ou óxido de prata. Os
pequenos aparelhos de surdez
usam pilhas-botões de diâmetro Figura 3.
ainda menor, baseadas em zinco Volta exibe
seus
e oxigênio do ar – uma tentativa
aparelhos
de produzir pilhas que minimi- elétricos para
zem as agressões ambientais. Napoleão, em
Sem contar o benefício que os pintura de
marcapassos, movidos por pilha autor
desconhecido
de lítio-iodeto de lítio, trouxeram
para muitos que apresentam pro-
OS CIENTISTAS , V. 1, ABRIL CULTURAL, 1972

blemas cardíacos.

José Atílio Vanin


Instituto de Química,
Universidade de São Paulo

novembro de 1999 • CIÊNCIA HOJE • 77

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