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Castro, R. D. & Mayorga, C. Decolonialidade e pesquisas narrativas: contribuições para a Psicologia Comunitária

Decolonialidade e pesquisas narrativas: contribuições para a Psicologia


Comunitária

Decoloniality and narrative researches: contributions to Community


Psychology

Decolonialidad e investigaciones narrativas: contribuciones a la Psicología


Comunitaria

Ricardo Dias de Castro1

Claudia Mayorga2

Resumo

Este artigo propõe aproximações entre a Psicologia Social Comunitária, as pesquisas narrativas
(auto)biográficas e a perspectiva decolonial. Reconhece-se, nesse sentido, que os efeitos da colonização
latina seguem nutrindo lugares de enunciação muito distintos para sujeitos marcados pela
diferença/desigualdade colonial na sociedade brasileira, o que tem produzido movimentos epistêmico-
políticos decoloniais que interpelam o projeto de sujeito e sociedade construído a partir das lógicas
coloniais. Dessa forma, é importante que possamos colaborar no endereçamento de que os sujeitos
colonizados, a partir de suas narrativas, fazem à comunidade latina e brasileira em busca de elaboração
denúncia e combate às desigualdades coloniais. É fundamental, portanto, que retomemos as alianças
históricas que permitiram que os colonizados (re)inventassem outros mundos possíveis, rompendo com a
posição subalterna, apenas, como lugar da vitimização. Devemos, assim, valorizar, eticamente, não sem
(auto)críticas, os deslocamentos que as narrativas decoloniais proporcionam às narrativas comunitárias,
historicamente, legitimadas como local de produção da transformação social.

Palavras-chave: Psicologia Comunitária. Narrativas. Decolonialidade.

Abstract

This article builds approximations between Community Social Psychology, narrative (self) biographical
research and the decolonial perspective. In this sense, it is recognized that the effects of the Latin
colonization still harbor very distinct places of enunciation for subjects marked by the colonial difference /
inequality in Brazilian society. What has produced decolonial epistemic-political movements which
challenge the project of subject and society built from the colonial logics. Thus, it is important that we can
collaborate in the addressing that the colonized subjects, from their narratives, make to the Latin and
Brazilian community in search of elaboration, denunciation and combat to the colonial inequalities. It is

1
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Graduado em Psicologia pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da (UFMG, 2013). Integrante do Núcleo
de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes (Fafich/UFMG). Tem, também, percurso acadêmico e de
atuação nas áreas de Psicologia Social e Psicologia Política.
2
Doutora em Psicologia Social pela Universidade Complutense de Madri – Espanha – com foco em estudo
sobre gênero, política e feminismo. Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas
Gerais e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Coordena o Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão
Conexões de Saberes (UFMG).

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therefore essential that we retake the historical alliances that allowed the colonized to (re)invent other
possible worlds, breaking with the subaltern position, only, as a place of victimization. We must therefore
ethically value, not without (self) criticism, the displacements that the decolonial narratives provide for
historically legitimized community narratives as the place of production of social transformation.

Keywords: Community Psychology. Narratives. Decoloniality.

Resumen

Este artículo construye aproximaciones entre la Psicología Social Comunitaria, las investigaciones
narrativas (auto) biográficas y la perspectiva decolonial. Se reconoce, en ese sentido, que los efectos de la
colonización latina todavía nutren lugares de enunciación muy distintos para sujetos marcados por la
diferencia / desigualdad colonial en la sociedad brasileña. Lo que ha producido movimientos epistémico-
políticos decoloniales que interpelan el proyecto de sujeto y sociedad construido a partir de las lógicas
coloniales. De esta forma, es importante que podamos colaborar en el direccionamiento que los sujetos
colonizados, a partir de sus narrativas, hacen a la comunidad latina y brasileña en busca de elaboración,
denuncia y combate a las desigualdades coloniales. Es fundamental, por lo tanto, que retomamos las
alianzas históricas que permitieron que los colonizados (re) inventasen otros mundos posibles, rompiendo
con la posición subalterna, apenas, como lugar de la victimización. Debemos, así, valorar, éticamente, no
sin (auto) críticas, los desplazamientos que las narrativas decoloniales proporcionan a las narrativas
comunitarias, históricamente, legitimadas como lugar de producción de la transformación social

Palabras clave: Psicología Comunitaria. Narrativas. Descolonialidad.

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Psicologia Social Comunitária latino- saber psicossocial e comunitário com o


americana e brasileira: alguns recortes debate das pesquisas narrativas e, em
narrativos para falarmos de um campo seguida, com a perspectiva decolonial.
político-científico Dessa forma, recordamos que a
Psicologia Social Comunitária se consolida
Sabe-se que há várias narrativas como um campo forte, na América Latina, a
sobre a história da Psicologia Social e, partir da década de 1960 e 1970, quando a
também, distintas concepções acerca de comunidade psicológica começa a se
quais seriam as suas abordagens fundantes interrogar sobre a função da Psicologia
como um campo de conhecimento, bem como ciência e profissão em contextos
como os seus principais desdobramentos e marcados por dinâmicas autoritárias e
dissidências intra e extracampo (Álvaro & desigualdade econômica extrema
Garrido,2003; Farr, 1998). A partir dessa fomentadas pelos golpes militares da
atmosfera, tem-se hegemonizado uma América Latina da década de 1960 – o que
narrativa sobre a história da Psicologia teve como efeito o questionamento do
Comunitária latino-brasileira que antagoniza profissional de Psicologia sobre a sua
– por vezes, dicotomicamente – a atuação com a maioria da população e de
experiência latina com os pressupostos qual seria o seu papel na conscientização e
experimentais e cognitivos da Psicologia organização civil e política a favor da
norte-americana e com o elitismo burguês autonomia e da liberdade dessas populações
europeu. No entanto, na direção contrária, há (Campos, 1996). Nesse momento, a
referenciais e propostas estadunidenses e intelectualidade psicossocial latino-
europeus que, em tempos atuais, circulam americana questiona a hegemonia científica
como repertório científico-político no do Norte Global e o campo psicológico é
pensamento e prática psicossocial latino- abalado pelos questionamentos éticos de
brasileiro em comunidades (Gonçalves & psicólogos que rechaçaram vários modelos
Portugal, 2016). Ainda assim, em função de analíticos estadunidenses e europeus não
recortes para este artigo, essa tensão condizentes com as questões experienciadas
(Norte/Sul da Psicologia Comunitária) não pelos países que ainda sofriam os efeitos da
fará parte do circuito genealógico (Foucault, colonização e exploração dos Estados do
1971/1994) que, aqui, construiremos. “primeiro mundo” (Almeida, 2012; Lane,
Fazemos a escolha, neste trabalho, 1996; Martín-Baró, 1996; Mayorga, 2007,
então, por elencar elementos da construção 2014).
da Psicologia Social e Comunitária – a partir Nas décadas de 1960 e 1970, em se
do Sul Global (Gomes, 2017) –, tendo em tratando de Brasil, a Psicologia era,
vista todos os vários movimentos teórico- marcadamente, voltada para o atendimento
políticos desses campos que se empenharam clínico individualizado, e a Psicologia
na construção de sentidos-intervenções para Social, por sua vez, tinha como campo de
aquilo que diria do sujeito e de como ele estudo processos grupais, atitudes, liderança,
performaria uma interação inevitável cooperação/competição e outros temas que
consigo mesmo, com os outros e com as eram circunscritos a pequenos grupos. No
especificidades das instituições da sociedade fim da década de 1970 e, principalmente,
latina e brasileira (Almeida, 2012; Bock, nos anos 1980 – a partir das movimentações
Ferreira, Gonçalves & Furtado, 2007; críticas que já se realizavam em outros
Ferreira, 2010; Mayorga, 2014; Rey, 2004). territórios latinos –, a realidade da maioria
Optamos por esse caminho para, da população brasileira, em situação de
posteriormente, colocarmos em diálogo o desigualdade econômica, é tomada como

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campo de estudo e intervenção em principalmente. O que foi possível com a


Psicologia Social, o que começa a se participação, respectivamente, do Setor de
constituir como uma perspectiva Psicologia Social da UFMG, com a criação
psicossocial com o viés da transformação da disciplina de Psicologia Comunitária e
social mais, amplamente, comunitário e de Ecologia; da inserção de estudantes e
combate aos interesses das elites brasileiras profissionais de Psicologia nas favelas
(Bock, Ferreira, Gonçalves & Furtado, cariocas por meio de projetos de ensino-
2007). pesquisa-extensão e, por fim, com a criação
A Psicologia Social Comunitária, dos círculos de cultura de Paulo Freire com
então, começa a se reconfigurar, na década grupos de jovens marginalizados e
de 1980, como um campo da Psicologia alfabetização de adultos na periferia de
Social diverso que, a partir da chamada crise Fortaleza. Diante desse cenário, há a criação
da Psicologia Social Brasileira, é da Associação Brasileira de Psicologia
perpassada pelo debate da ação comunitária, Social (Abrapso)), em novembro de 1979,
embasada pelo materialismo histórico, pela que institucionalizou os campos e os temas
crítica ao positivismo e ao individualismo e de pesquisa-intervenção, considerados de
voltada para uma Psicologia da maior relevância social para a população
transformação social. Essa crise fez com que brasileira e latino-americana, marcadas por
a Psicologia brasileira enfrentasse estratégias acessos restritos a direitos sociais e rendas
de produção de conhecimento que fossem financeiras insuficientes (Gonçalves &
construídas a partir de pesquisas de campo Portugal, 2016).
que tomassem a sociedade e o povo A interpelação do campo psicossocial
brasileiro como seu sujeito/objeto de estudo. nacional foi possível, então, mediante a
O que aconteceu, inicialmente, atrelado aos produção de um saber/fazer voltado para a
movimentos sociais populares e às colaboração com a emancipação das
reorganizações na prática da Psiquiatria, na minorias sociais e para a superação das
saúde, com a criação dos Centros desigualdades a partir do lugar dos próprios
Comunitários de Saúde Mental (Gonçalves grupos em situação de subordinação (Freire,
& Portugal, 2016). Há, aqui, uma 1987; Mayorga & Pinto, 2015). A classe,
mobilização coletiva para que o campo torna-se, nessa concepção, uma categoria de
psicossocial redirecionasse seus referenciais análise primordial para se pensar na
epistêmico-teórico-metodológicos no mudança social a partir do campo da
horizonte de uma atuação teórico-política Psicologia (Mayorga, 2014). Nessa
nas periferias, favelas e organizações civis perspectiva de análise dos processos
políticas não institucionais que estivessem psicossociais, começou a se defender,
embebidas da interface entre a subjetividade portanto, a indissociabilidade entre a teoria,
e o desejo de mudança do cenário político. a metodologia e a prática transformadora da
Algo que foi, fortemente, sistematizado a Psicologia como um dispositivo político de
partir de críticas que consolidaram a emancipação da população mais pobre
construção da Psicologia Sócio-Histórica (Campos, 1996; Codo & Lane, 1984;
(Sawaia, 2015). Gomes, 1999). Algo que se consolidou, por
Para além da Escola Paulista Sócio- exemplo, a partir da perspectiva vigotskiana
Histórica de Silva Lane, no entanto, é e demais pensadores soviéticos que
importante reconhecer as crises que, representaram a subjetividade como um
também, perpassaram a produção do campo sistema complexo, cuja organização não
científico psicológico e psicossocial em excluiria o caráter processual e dinâmico do
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Ceará, sistema social como um todo. Dessa forma,

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o psiquismo e o social formariam um potencializar os laços de coletividade,


sistema dialético, histórico e cultural autonomia e autogestão que garantisse que o
mediado pela linguagem, que, por sua vez, sujeito e a sociedade pudessem se
seria o dispositivo subversor da dicotomia transformar, tendo como ponto de partida a
subjetividade × objetividade material. A liberdade, o pensamento crítico e a garantia
subjetividade seria, portanto, uma dimensão de um projeto de sujeito/sociedade
importante, na qual o processo democrático (Scarparo & Guareschi, 2007).
revolucionário se construiria por meio de um A politização da prática da
engajamento subjetivo fundamental para um Psicologia, por sua vez, começa a ser
compromisso e transformação social defendida como sendo um eixo principal de
(Sawaia, 2014), indo ao encontro dos partida e como horizonte da Psicologia
anseios de uma Psicologia Comunitária Comunitária, em que o sujeito, a sociedade e
interessada em romper com os dualismos a relação entre eles será o foco da análise do
modernos e positivistas comuns ao campo de pesquisador e do profissional da Psicologia.
uma Psicologia de cunho mais individualista Isso porque a trajetória de construção,
e apolítica que marcou a produção dessa consolidação e aplicação da Psicologia
ciência (Alves, 2010; Farr, 1998; Magalhães, Social Comunitária começa a se voltar,
2017; Martín-Baró, 1996; Montero, 2003). sobretudo, para as problemáticas sociais que
Os escritos de Sílvia Lane afetam grande parcela da população
(Psicologia Sócio-Histórica), Ignácio brasileira, bem como para a construção de
Martín-Baró (Psicologia da Libertação) e de processos de combate a essas dinâmicas de
Maritza Montero (Paradigma Latino- violação (Freitas, 2001). As práticas de
Americano de Construção e Transformação intervenção psicossocial, portanto, nas
Crítica) começam a integrar, cada um ao seu comunidades, começam a se dar na fronteira
modo, um cenário da Psicologia Social indivíduo/sociedade em movimento, que é o
Comunitária que se destacava por enfocar sujeito psicossocial. Sujeito que se constitui
processos de intervenções psicossociais e é constituído pelo mundo social; sendo,
existentes em comunidades (Ansara & portanto, sujeito/sociedade um elemento
Dantas, 2010). Comunidades em uma híbrido, complexo e processual (Afonso,
conceituação mais ampla do termo – em que 2011).
a relação indivíduo-sociedade pudesse ser Nesse contexto, é possível perceber a
investigada por meio de grupos sociais, introdução de setores populares e demais
associações de moradores de bairro, escolas, grupos historicamente, subalternizados, na
hospitais, sindicatos e, até mesmo, grandes condição de atores sociais e políticos
movimentos sociais, o contexto das políticas diretamente ligados aos processos de
públicas e o espaço da comunidade conscientização e participação coletivas e
acadêmica que compõe o ensino superior comunitárias (Freitas, 2001; Mayorga,
público, por exemplo. E, diante dessa 2014). Sendo assim, os sujeitos em
consideração, a comunidade poderia ser sociedade transgridem, escapam, renomeiam
caracterizada por um coletivo de pessoas e ressignificam o que está, aparentemente,
com determinada interação social; um colocado; fazendo vacilar a dimensão da
coletivo que repartisse interesses, existência de uma superestrutura ou de uma
sentimentos, crenças e atitudes; um conjunto autogestão dos sujeitos que seja alheia aos
de pessoas desconectadas, mas que circulam jogos de poder da sociedade (Castro &
por espaços comuns; um território específico Mayorga, 2018a). Dessa forma, para a
– periférico ou não –, entre outros. O maioria dos autores e autoras do campo
objetivo primordial da Psicologia, aqui, seria psicossocial comunitário, o sujeito, ao

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transformar a realidade, apropria-se cada vez não por uma filiação teórico-metodológica, a
mais dela, conhecendo-a cada vez mais, priori, que se aplique a qualquer fenômeno
tornando-se, então, sujeito de sua história e da realidade (Freitas, 2001; Gois, 2008;
de sua realidade. Isso potencializa a Gomes, 1999; Martín-Baró, 2013; Montero,
construção de posturas mais implicadas do 2006; Ximenesa & Barros, 2009).
sujeito por si e pelos “nós” em sua A partir desse matiz de construção e
comunidade; construindo novos e distintos consolidação de um saber/fazer
projetos de sujeito e sociedade que psicocomunitário plurimórfico e polifônico,
pluralizam e democratizam os sentidos podemos perceber a construção de uma
psicossociais que circulam nos espaços de posição da Psicologia Social Comunitária
sua vida (Gois, 2008) que consiste na problematização e na
Ainda que perpassada por uma desnaturalização de saberes e práticas no
pluralidade epistêmica-teórica-conceitual- campo da intervenção psicossocial, de modo
metodológica, a Psicologia Social que acontecimentos, interações e conexões
Comunitária brasileira e latino-americana possam ser interpeladas, questionadas e,
tem-se feito existir por meio de uma continuamente, repensadas, produzindo,
dialética reflexão/ação interessada em então, outras possibilidades de composição
investigar e intervir nos sentidos relativos à de sentidos, de interações sociais, de modos
dinâmica comunitária dos coletivos, em de vida e de pactos coletivos que pluralizam
compreender como essa dinâmica implica na o saber da experiência humana em uma
reiteração ou reinvenção das subjetividades e comunidade perpassada pela potência
das relações cotidianas, bem como construir interpeladora da linguagem (Bondía, 2002;
diálogos e interpelações na Ximenes e Barros, 2009).
produção/invenção de conhecimentos que Cabe, nesse momento, apontar a
possam potencializar práticas voltadas à existência de outro campo de estudos, que
diversidade e ao desafio de se pensar um começa a se consolidar, também, na década
projeto ético-político comum. Dessa forma, de 1980, nomeado, comumente, como
priorizam-se, aqui, as questões interpessoais campo narrativo (auto)biográfico. As
e a comunidade, em detrimento do pesquisas narrativas, parece-nos, colabora na
tradicional recorte da Psicologia para olhar produção de uma Psicologia Social
para o indivíduo e para as questões Comunitária que seja pautada pela
intrapsíquicas (Codo & Lane, 1984; Lane, valorização – e não essencialização – do
1985). saber do outro sobre si mesmo e sobre o
Diante desse cenário, produzem-se, a mundo com o qual a sua experiência, por
partir desse campo, preocupações e intermédio da linguagem, fronteiriza
perspectivas, entre elas a de uma Psicologia, (Bolívar Botía, 2002). Sendo assim,
radicalmente, qualitativa que se interessa por reconhecemos que os processos de
problemas, sintomas, questões, situações construção de conhecimento que se dão por
contemporâneas coletivas e atuais que meio das atividades narrativas perpassam a
exigem um esforço na construção de um maioria das atividades humanas, o que se
conhecimento interdisciplinar que reconheça reverbera em um contínuo movimento de
as limitações do uso de uma única disciplina manutenção e renovação da cultura, da
como a verdade do saber (Sawaia, ciência, da tecnologia, das crenças e dos
Albuquerque & Busarello, 2018). Essa desejos individuais e coletivos (Simão,
postura, comumente, parte do pressuposto de 2004). Conhecimento, experiência, narrativa,
que a produção do conhecimento deva ser comunidade e transformação social parecem
mais pautada pelo problema de pesquisa e se encontrar, então, envoltos ao que a

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Psicologia Social Comunitária vem, Genealogicamente, as narrativas


historicamente, construindo (se) como começam a se tornar um campo emergente
campo de saberes e fazeres. Tentaremos, nesse cenário de dissensos e conflitos que
pois, construir algumas aproximações, nas ocorreram, na década de 1980, quando a
próximas páginas, entre a Psicologia Social teorização em torno da da História, da
Comunitária e o campo narrativo linguagem oral, da escrita e da Literatura
(auto)biográfico. tornam-se parâmetro psicológico, cultural e
filosófico para tentar explicar as condições
Narrativas e Psicologia Social da existência humana (Brockmeier & Harré,
Comunitária: uma aproximação 2003). Enfoca-se, aqui, no estudo das
epistêmica-teórica-metodológica potente práticas discursivas, de maneira que a
linguagem é tomada como uma prática
Levando-se em conta essa humana que tem efeitos que, por sua vez,
configuração polimorfa do campo narrativo, convocam-nos a focar na interface entre os
para além da perspectiva que assume as usos da linguagem e as condições de sua
narrativas humanas como um relato, elas produção e veiculação (Méllo, Silva, Lima
serão abordadas aqui, antes de tudo, como & Di Paolo, 2007).
um modus operandi composto por um Nesse eixo de deslocamento, os
conjunto de estudos, propostas, críticas e estudiosos das ciências humanas – que
princípios – quase nunca homogêneos – que pretendiam utilizar toda a potência
lançam luz à inevitabilidade de se discursiva dos seres humanos para as suas
compreender a experiência como um análises de pesquisa – começam a se
conjunto de histórias vividas e narradas. O interessar por esse ponto da narrativa que
que, analiticamente, requer uma atuação de perpassa o indivíduo e a sociedade a partir
pesquisa que intencione compreender e de um gênero, estrutura, retórica e uma
interpretar as dimensões subjetivas e situação em que a própria narrativa se faz
coletivas para além de esquemas fechados, existir no âmbito de uma base histórico-
recortados e quantificáveis. A atmosfera das cultural de produção/invenção (Brockmeier
pesquisas narrativas apontam, então, para a & Harré,2003; Carvalho, 2003; Fonte,
emergência de um caminho de pesquisa 2006). Sendo assim, não é, apenas, a
alternativo aos modelos hegemônicos, narrativa que faz a mediação e expressa a
colocando, em cena, uma interpelação aos cultura; mas ela, também, constrói os
modos de produção do conhecimento sistemas de inteligibilidade narrativos. Com
positivista e moderno; autorizando a abertura isso, quer se dizer que as narrativas não são
de outros horizontes para as investigações tão espontâneas a ponto de serem
interpretativas que tomam como campo de desvinculadas de um repertório de signos,
análise-intervenção a vida social, política, formas e possibilidades de existência que
comunitária, discursiva e cultural, em contextualizam as suas condições de
oposição à busca por leis gerais e produção, surpreendentemente, variadas
prescritivas do comportamento humano (Arrabal, Engelmann & Kuczkowski, 2016).
(Arfuch, 2010; Bolívar Botía, 2002; Desde contos de fadas, memoriais,
Brockmeier & Harré, 2003; Carvalho, 2003; ensaios jornalísticos, declarações de amor e
Conceição Passeggi & Souza, 2017; a produção da ciência, as narrativas são um
Connelly & Clandinin, 2011; Egan & dispositivo componente de um conjunto
Mcewan, 2005; Fonte, 2006; Larossa, 2016; transmissivo de sentidos que perpassam o
Oliveira & Paiva, 2008). espaço-tempo, a cultura e a História,
enunciadas por sujeitos e/ou coletivos

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mediante técnicas, habilidades, reinvenção do conhecimento, a teoria e a


competências e experiências sensíveis que se prática – como elementos constituintes do
embebem da potência inventiva-propositiva campo narrativo – tornam-se um dispositivo
entre o sujeito e a sociedade. Nesse sentido, de pesquisa recorrente para se pensar a
a condição de um sujeito que narra sua vida trajetórias de professores, sendo o campo
coloca-o numa posição que é, ao mesmo narrativo, portanto, um dispositivo para se
tempo, de autor e de intérprete de si mesmo pensar a própria lógica inventiva e
(Carvalho, 2003). Essa condição faz das transformadora da experiência docente na
construções narrativas não plenamente produção do conhecimento (Freitas &
controláveis para o sujeito, aproximando-as Ghedin, 2015)
de um ato de criação estruturalmente Dessa forma, não haveria – no campo
análogo à ficção. Nesse sentido, o relato de estudos das narrativas e para além do
autobiográfico não representa o sujeito, mas âmbito da Educação – a possibilidade de se
o produz; o que tem como efeito a invenção encontrar uma resposta verdadeira e
de si, do Outro, das relações de alteridade e, universal recorrendo à eliminação da
portanto, da identidade narrativa de um subjetividade humana do processo
campo intersubjetivo e cultural em questão investigativo. Primeiro porque, no campo de
(Carvalho, 2003). estudos narrativos, a universalidade não é
Nesse sentido, dizer ou pressupor que sequer um horizonte a ser alcançado;
tudo seria ordenado e determinado tampouco, acredita-se que seja possível
funcionaria como uma armadilha que eliminar o complexo fenômeno de nós
corresponde à maneira como o pensamento mesmos do processo investigativo (Castro &
do ocidente se instituiu como razão. E, por Mayorga, 2018a). Ou seja, longe de ser o
outro lado, o que se supunha ser a ordem reflexo de uma realidade psicológica
natural das coisas é, a partir do campo de preexistente, o campo narrativo é o próprio
estudos narrativos, radicalmente, uma fenômeno psicossocial e deixa de ser um
criação embebida em uma espécie de fluxo reflexo no mundo para se tornar agente na
que não pode ser, na sua totalidade, captado (re)construção da realidade. E é, justamente,
pela lógica do indivíduo racional da por estar embebida em processos sócio-
modernidade. Dessa forma, a inventividade e históricos complexos que as narrativas não
a criatividade constituinte da experiência se constituem como algo eterno e
humana não reproduz os dados fornecidos permanente; mas, pelo contrário, estão
pela percepção e/ou pela tentativa – diga-se sempre se transformando na contínua
de passagem falaciosa – de representar algo, atividade de (re)construção de histórias que
nem combina elementos do mundo racional são parciais e incompletas.
(Brockmeier & Harré, 2003; Castoriadis, Nesse sentido, as narrativas são
1982). potentes discursos que lidam com a ação e a
A narrativa seria criação, gênese intencionalidade humana quando esta é
ontológica, posição/instituição de uma nova colocada em relação com o culturalmente
forma de ser/existir/pensar. Nessa direção, previsto. Ou seja, ela é efeito da relação
os sujeitos deixam de ser lidos como meros entre a estrutura social e o mundo
processadores de informação e começam a idiossincrático dos desejos, das crenças e das
ser vistos como construtores ativos de esperanças (Carvalho, 2003; Fonte, 2006). E,
significados indeterminados entre eles e a por isso mesmo, é comum se referir às
sociedade (Castoriadis, 1982; Fonte, 2006; pesquisas narrativas como um campo
Tovar-Restrepo, 2012). É por isso que, (auto)biográfico; ainda que o foco não seja a
inclusive, o atravessamento entre a construção da história pelo próprio sujeito

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ensimesmado. Afinal, ela nunca o seria “em investigar, sobretudo, as bases de


si mesma”. Sendo assim, ao contarem as sustentação que alicerçam – ainda que de
suas histórias, os sujeitos não pretendem, forma, aparentemente, frágil – as maneiras
somente, memorizar e reelaborar suas pelas quais as pessoas tentam dar sentido às
experiências isoladas: eles, também suas experiências subjetivas, coletivas e
pretendem, explicitamente, posicionar-se políticas. Dito de outro modo, um
diante de suas histórias coletivas; pesquisador que dialoga com os
convencendo, persuadindo e impressionando pressupostos comunitários e dos estudos
os seus interlocutores (Fonte, 2006). As narrativos deve se sentir curioso a construir
narrativas nos permitem potencializar, sentidos, coletivamente, para o porquê que
portanto, as análises das relações entre os sujeitos são o que eles são. Não para que
sujeito, sociedade e historicidade. Isso se localizem efeitos causas-consequências
porque a fronteira que demarca esses lineares, mas para que, à luz de uma
elementos começa a ser vista menos como perspectiva genealógica, considere-se a
oposição e mais como área de negociação e emergência desse sujeito como campo do
trânsito entre esferas; já que, na vida conhecimento com base na análise das
cotidiana, os três constituem-se mutuamente discórdias, dissensos e conflitos que o
e não se dicotomizam (Carvalho, 2003). perpassam.
Parece estar aí, colocado, o diálogo Retomando os princípios de combate
psicossocial e psicocomunitário com o à desigualdade econômica que marcam a
campo das pesquisas narrativas, já que esses atuação da Psicologia Comunitária, no
campos de análise-intervenção contribuem Brasil, ao longo de sua história, os estudos,
com a formação de uma proposta da ciência sobretudo marxianos, marxistas,
humana, em suas especificidades, em materialistas-históricos-dialéticos e
direção à aceitação da ontologia histórico- freirianos, atentaram-se para as construções
social-política-transformadora do ser narrativas do sujeito oprimido e alienado em
humano. O sentido do sujeito e da sociedade, sua classe, economicamente,
então, é lido pela Psicologia Social desprivilegiada. No entanto, as sociedades
Comunitária e pelo campo narrativo como contemporâneas têm apontado para uma
efeitos de formações históricas e culturais do complexidade da luta política coletiva e
psiquismo do sujeito, que se integrariam ao emancipatória muito grande. É, a partir da
contexto atual das suas experiências vividas, presença contundente de diversos
isto é, a psique operando como ação e práxis atores/atrizes, na cena pública, que se inicia
humana. Esses campos, portanto, estariam uma denúncia coletiva de que, para além da
interessados em compreender, investigar e desigualdade econômica, outros marcadores
intervir em sujeitos, comunidades e sociais produziriam violências e sofrimento
instituições a partir de uma postura do psicossocial no Brasil (Costa & Brandão,
psiquismo humano que pudesse, também, 2005; Sawaia,1999). Sendo assim, para além
debruçar-se em torno das condições sociais da classe, que embasou grande parte das
que são constitutivas desse mundo leituras acerca das opressões nacionais, os
psicológico sempre em mudança (Afonso, saberes emancipatórios sobre as
2011; Codo & Lane, 1984; Lane,1985). desigualdades começam a ser demandados
Dessa forma, uma pesquisa narrativa por coletivos de mulheres, negros e negras,
no âmbito de uma análise-intervenção da gays e lésbicas, travestis e transexuais,
Psicologia Comunitária, ainda que livre para imigrantes, prostitutas e minorias étnicas por
poder fazer as suas escolhas conceituais e meio de lógicas de produção da
metodológicas, deve estar interessada em desigualdade distintos, mas, também, inter-

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Castro, R. D. & Mayorga, C. Decolonialidade e pesquisas narrativas: contribuições para a Psicologia Comunitária

relacionados com as problemáticas da classe Em tempos atuais, tem havido um


(Mayorga, 2014). intenso debate para que repensemos a prática
A partir dessa constatação, percebe- de combate e resistência às desigualdades
se que o sujeito latino se encontra embebido sociais, no Brasil, a partir de uma
nos amplos discursos colocados em torno de perspectiva interseccional (Crenshaw, 2002).
sua experiência marcada por eixos de Uma perspectiva que leve em consideração a
desigualdade que dizem de um povo emergência de sujeitos silenciados que
marcado por discursos e práticas reinventam processos democráticos que não
heteronormativas, racistas, sexistas e são, apenas, aqueles, tradicionalmente,
classistas que apontam para a colonialidade compartilhados a partir do espectro político
do saber/poder denunciada, fortemente, da esquerda (Mayorga, 2014). Sendo assim,
pelas feministas negras (Lugones, 2014). o próprio campo narrativo e da Psicologia
Separar esses conflitos, certamente, Social Comunitária têm se utilizado das
despolitizaria a potência analítica dessas fragilidades que os arranjos epistêmico-
trajetórias e, por isso, o aporte epistêmico- teórico-metodológicos acumularam e vêm
teórico-metodológico narrativo dialoga produzindo teorias e técnicas, validadas
muito bem com o campo de análise- científica e eticamente, que podem colaborar
intervenção das relações de poder que para novas articulações em torno das
marcam as dinâmicas psicossociais e práticas de pesquisa narrativas no âmbito
comunitárias (Castro & Mayorga, 2018a). comunitário (Gomes, 1999).
A intersecção entre as pesquisas
narrativas (auto)biográficas e a Psicologia Reflexões finais: decolonizando as
Social Comunitária recaem sobre o desejo de pesquisas narrativas no âmbito da
compreender o outro a partir da sua Psicologia Social Comunitária
experiência e trajetória imersa em um campo
sócio-histórico, já que a experiência, por si O fato de que a realidade e os
só e ensimesmada, também não responde a problemas dos países do Sul Global sejam
uma verdade do sujeito. Assim como uma decorrentes dos processos de colonização e
estrutura sócio-histórica não determina, em de um neoliberalismo atual selvagem que
absoluto, nada que seja fora dos anseios – reatualiza lógicas coloniais tem levado a
por vezes antagônicos – dos sujeitos em uma Psicologia – que busca romper com o
comunidade. Dessa forma, as pesquisas universalismo
narrativas podem operar como dispositivo de eurocêntrico/moderno/colonial – a repensar,
transformação social: um ponto central para continuamente, as suas metodologias de
a Psicologia Social Comunitária. Pode-se pesquisa e reforçado o caráter político das
perguntar a partir dessa articulação: de que práticas psicológicas nacionais (Almeida,
forma os sujeitos dão contorno e sustentação Silva & Pedro, 2012). As “lentes” com as
aos seus desejos, intenções e medos? Como quais alguns psicólogos têm olhado para os
eles chegam a lidar com tensões, problemas da desigualdade, no contexto
contradições, conflitos e dificuldades? Qual brasileiro, têm, também, focado os valores e
o potencial interpelador entre esse sujeito e as potencialidades que temos a partir da
essa comunidade ampla que o perpassa a produção de um corpo-geográfico-
partir desse magma (Castoriadis, 1982) epistêmico que, historicamente, resiste às
narrativo contraditório, paradoxal, mas que, violências decorrentes dos efeitos da
também, possibilita zonas e fronteiras de colonização/genocídio/epistemicídio dos
contato e livre trânsito?, como apontado por nossos saberes emancipatórios da diáspora
Gomes (2017). (Alvez & Delmondez, 2015; Gomes, 2017;

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Castro, R. D. & Mayorga, C. Decolonialidade e pesquisas narrativas: contribuições para a Psicologia Comunitária

Grosfoguel, 2016). Considerando os efeitos que essencializa, totaliza e psicologiza as


ainda presentes da colonização das/nas experiências humanas. Dessa forma, falar a
mentes, corpos e saberes das populações partir de um lugar não se restringiria ao ato
ameríndias e negras da diáspora, assumimos de emitir palavras, mas, sobretudo, de poder
que temos enfrentado a produção de um existir e ser reconhecido pela linguagem do
conhecimento sobre as narrativas, muitas mundo e pelas regras do jogo que permitem
vezes, embebida por um poder que ou não que esses grupos possam exercer a
hierarquiza, fortemente, as sua cidadania. Trata-se, portanto, de tornar
experiências/saberes entre o Norte e o Sul visíveis os mecanismos pelos quais certos
Global. Nesse sentido, contra- discursos parecem essencialmente
hegemonicamente, os estudos feministas embebidos em autoridade, enquanto outros
decoloniais têm atuado como um conjunto permanecem relegados ao descrédito e à
de reflexões epistêmicas-teóricas- desvalorização de suas
metodológicas que, a partir do lugar do Sul vozes/demandas/propostas no campo
Global, apresentam como ponto de partida, democrático (Collins, 2016; Haraway, 1995;
na produção do conhecimento, a liberdade, a Ribeiro, 2017).
autonomia e a (re)humanização das Isso implica dizer que é preciso
populações negras e das mulheres latino- reinventar muitas vezes, no âmbito das
americanas (Curiel, 2007; Grosfoguel, 2016; pesquisas (auto)biográficas, os modos com
Lugones, 2014; Mayorga et al., 2013; os quais escutamos e somos interpelados
Mayorga, Araújo Menezes & Reyes, 2017). pelos relatos proferidos por sujeitos,
Levando-se em consideração o historicamente, subalternizados (Spivak,
debate em torno das pesquisas narrativas- 2010), de modo que nos direcionemos a um
biográficas, levantado por Bolívar Botía projeto ético no qual rompamos com o pacto
(2002), temos que as narrativas são a da desumanização imposto pela colonização
experiência compreendida como um relato e, europeia, que transformou vozes potentes
também, como um modus operandi de em ruídos, por vezes, inaudíveis. Sendo
investigação que constrói sentidos a partir assim, no contexto das pesquisas em
das enunciações que se pretendem pesquisar- Psicologia Comunitária, seria interessante
intervir. Nessa compreensão, tornar a vida que ao interagirmos com os sujeitos
uma narrativa é, também, criar o próprio eu; marcados por eixos de desigualdades
operando, portanto, as pesquisas narrativas coloniais pudéssemos pensar sobre nós
como um projeto ético do que a vida foi e, mesmos e a própria sociedade, reconhecendo
potencialmente, pode ser. Dessa forma, ao se que, em última instância, o trabalho
negar o endosso aos princípios modernos e interventivo em comunidade termina por ser
positivistas da ciência, a oralidade é bem- uma intervenção em nós mesmos por meio
vinda como condição sem a qual outras das potências interpeladoras dos relatos
experiências – que colocaram impedimentos narrativos que ali circulam, denunciando, em
à perspectiva da epistemologia do ponto zero grande medida, que a questão do lugar de
patriarcal-racista-colonial (Castro-Gomez, fala é, também, muitas vezes, sobre a
2003) – jamais seriam audíveis. (in)habilidade de quem ouve.
Nesse sentido, se o pessoal é político Dessa forma, defende-se, aqui, a
– conforme anuncia o feminismo (Hanish, possibilidade de que, nas pesquisas
2016; Haraway, 1995, Ribeiro, 2017) –, é (auto)biográficas narrativas e comunitárias,
urgente que reconheçamos que a existência e possamos não só introduzir pequenas doses
a experiência humana estão circunscritas a de sentimento e experiência de vida nas
um lugar social e epistêmico, não um lugar formas existentes de teorização da ciência,

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mas, sobretudo, apontar a necessidade de invés de rejeitarem a modernidade para


uma revisão radical da premissa que se recolherem num absolutismo
dicotomiza emoção e pensamento na fundamentalista, as epistemologias de
produção do conhecimento (Jaggar & Bordo, fronteira subsumem/redefinem a retórica
1997), trazendo, então, para a disputa emancipatória da modernidade a partir
das cosmologias e epistemologias do
epistêmica, outros projetos ético-políticos subalterno, localizadas no lado oprimido
por meio dos quais não tenhamos medo do e explorado da diferença colonial, rumo
quinhão humano que marca as pesquisas em a uma luta de libertação descolonial, em
humanidades. Se os modelos narrativos são, prol de um mundo capaz de superar a
ao mesmo tempo, modelos de mediação modernidade eurocentrada. [...] O
mutáveis entre o sujeito e a comunidade, pensamento de fronteira não é um
eles são, também, projetos de sujeitos e fundamentalismo antimoderno. É uma
sociedade que tornam a vida coletiva uma resposta transmoderna descolonial do
disputa interpretativa em torno das possíveis subalterno perante a modernidade
“lentes” de análise das pesquisas. O que nos eurocêntrica. (Grosfoguel, 2008, p. 138)
permite conceber a “realidade” como algo
em constante transformação e reconstrução. Toda essa mobilização, queiramos ou
Em contextos coloniais, como o não, alcançou a produção da ciência, do
latino-americano e o brasileiro, há restos e conhecimento e da política (Gomes, 2017),
marcas no corpo e no conhecimento colocando-nos algumas questões que se
daqueles que tiveram as suas humanidades tornaram pontos de análise importantes para
retiradas pelo poder da metrópole, o que nos a sociedade como um todo e, especialmente,
exige um esforço colossal em alterar as para alguns campos do conhecimento como
bases de sustentação das nossas a Psicologia Social Comunitária. Na
metodologias de análise-intervenção. E, sob construção, então, de análises-intervenções,
a óptica da perspectiva decolonial, muitas por meio dos relatos narrativos
das mobilizações comunitárias do Brasil comunitários, teremos que lidar com as
contemporâneo têm sido caracterizadas performances daqueles sujeitos
como espaços políticos e culturais de luta e subalternizados que desenvolveram uma
resistência a partir de marcadores da intensa hostilidade contra os termos do
diferença baseados na colonialidade, no contrato social colonial de cujos benefícios
sexismo, no racismo e no patriarcado, que eles participam muito pouco. E, nesse
estabeleceram separações entre humanos e sentido, devemos atuar, na (re)construção
inumanos. No entanto, em vez de ficarem coletiva dessas narrativas, de modo que
assujeitados ao padrão de poder nomeado de possamos ouvi-las à luz da dor, do ódio, dos
colonialidade, vários atores sociais têm se paradoxos, dos complexos de inferioridade,
feito sujeitos, articulando interpretações e da revolta e do ressentimento que marcam as
dialogando de forma emancipatória com trajetórias dos subalternos brasileiros. Mas,
marcadores de suas diferenças, que são, se é certo que o ressentimento é o avesso da
estrategicamente, articulados para gerar política, devemos atuar em nossa prática
mobilização, solidariedade e ganhos comunitária, de modo que possamos,
democráticos, produzindo, em suma, também, atentar-nos para como esses
projetos decoloniais de resistência e sujeitos têm se fortificado a ponto de
reexistência (Bernardino-Costa, 2015). derrubarem suas posições ressentidas para
O pensamento crítico de fronteira é a transmutá-las em políticas de resistência e
resposta epistêmica do subalterno ao disputa (Kehl, 2011).
projeto eurocêntrico da modernidade. Ao

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Longe, portanto, de assumirmos, por significações, rompendo com o local do


meio dos relatos comunitários, uma postura subalternizado, apenas, como vitimização
assistencialista diante do mal-estar com o (Costa & Brandão, 2005; Kehl, 2011).
qual somos confrontados, é importante que As pesquisas narrativas comunitárias
possamos colaborar no endereçamento que deveriam se valer dessa prática, tomando
esses sujeitos fazem à sociedade em busca como consideração que a melhor forma de
de elaboração, denúncia e combate às lidar com o testemunho do outro é a
desigualdades que os marcam. Isto é, conversação e não o interrogatório (Heller,
devemos suportar o ressentimento que vem 1989), de modo que valha muito mais a
do relato do outro, não para aprisioná-lo no pena, aqui, a análise-intervenção do que a
ódio de si e nem no discurso da culpa de nós moralização. Ainda assim, é importante que
pesquisadores. A ideia, aqui, não é, jamais, se evite o perigo de romantizar a perspectiva
colaborar para que esses sujeitos se afixem do subalternizado, que não está isenta de
nesses lugares que foram construídos para reavaliação crítica como qualquer outro local
eles. Mas, a partir de suas narrativas e enunciativo (Haraway, 2005). A
experiências pensantes e propositivas, historicização (auto)crítica dos processos de
devemos potencializar um outro modo de se resistência coletiva dos subalternizados será,
(re)inventar o sujeito, a sociedade, a assim, o elemento de rememoração,
democracia e a política. Ou seja, as práticas elaboração e construção da ação política e da
narrativas comunitárias não devem, jamais, reinvenção subjetiva, de modo que nossa
secundarizar a altivez dos contradiscursos da análise-intervenção seja capaz de fomentar
hegemonia e nunca ignorar as alianças malhas coletivas de resistências
históricas dos subalternizados que os comunitárias.
permitiram construir e inventar outros Não será fazendo apelo ao sentido de
mundos possíveis marcados por menos humanidade, ao sentimento de dignidade, ao
violações e violências. amor ou à caridade, que será possível criar
Precisamos, nessa direção, uma equidade entre grupos históricos
responsabilizar-nos pela dor coletiva que um produzidos de maneira desigual, uma vez
projeto de sujeito e sociedade – que todos esses elementos “humanizantes” já
(des)organizado por todos nós marcados se encontram marcados pelo poder colonial.
pelos infortúnios da colonialidade do O que é possível tentar, por outro lado, não
saber/poder – tem produzido no mundo, sem desafios, é colaborar para que os
sendo fundamental que não totalizemos o sujeitos, em comunidades desiguais, possam
mal-estar que alguns relatos provocam, mas, se libertar do arsenal de complexos
por outro lado, devemos focar, eticamente, germinados e alimentados por eles e pelos
nos deslocamentos que eles são capazes de outros no seio da situação colonial (Fanon,
proporcionar às narrativas tradicionais. 2008). Isso nos exige
Alguns atores coletivos, nessa
direção, têm convocado a sociedade – não imaginar uma política do humano que
para atestar os seus lugares de vítimas – para seja, fundamentalmente, uma política do
implicar toda a comunidade latina e semelhante, mas num contexto em que,
brasileira na elaboração do trauma da cabe admitir, o que partilhamos logo de
início são as diferenças. E são elas que,
desigualdade colonial. O que requer o
paradoxalmente, precisamos pôr em
testemunho e ação de interlocutores que comum. Isso passa pela reparação, isto é,
possam constituir um campo simbólico que por uma ampliação da nossa concepção
interpele a narrativa da desigualdade para
que ela possa se abrir para novas

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de justiça e de responsabilidade. de uma perspectiva afirmativa, feminista e


(Mbembe, 2018, p. 307) política (Curiel, 2007; Lugones, 2014). Isso
significa apostar em uma produção
Dessa forma, o “mimimi”3 terá que conceitual-teórica-metodológica-epistêmica
ser, imediatamente, reposto na disputa que se dedique muito mais à (re)invenção do
narrativa. Não para que ele seja campo de pesquisa e menos no
essencializado ou psicologizado. Muito pelo determinismo de análises narrativas
contrário, será importante que ele seja construídas sob égides colonizadoras para
questionado como essência da vitimização e pesquisas realizadas com populações no
reconfigurado como condição de Brasil.
proclamação da diferença em direção a um A escolha pelo uso das narrativas,
projeto mais amplo de mundo equitativo – portanto, para além de um capricho
ainda por vir – em que nos livremos dos metodológico das pesquisas
fardos causados pelos infortúnios da contemporâneas, pode funcionar, de fato,
colonialidade do saber/poder (Mbembe, como um campo de atuação de uma pesquisa
2018). Definitivamente, é preciso que que radicalize o que a Psicologia Social
politizemos os efeitos psicossociais da Comunitária tem chamado de transformação
violência que recai sobre populações negras, social, autocrítica, autonomia e análise-
mulheres, pobres e LGBTTIQs, no Brasil, intervenção. Nesse sentido, o campo
transformando os “mimimis” em denúncias decolonial se atenta ao fato de que, apenas,
– jamais totais ou naturalmente políticas –, com outras narrativas – políticas, simbólicas,
em mais uma narrativa legítima na disputa culturais e intelectuais – dos povos
pela democracia. tradicionais e dos grupos subalternizados
O perigo de uma narrativa única e que outros saberes podem se tornar
universal tem se mostrado, no decorrer da relevantes e visíveis para a sociedade
História, como um catalisador de genocídios (Castro & Mayorga, 2018b). De modo que,
e epistemicídios que, em vez de serem coletivamente, transformemos produções
coibidos, são reatualizados de forma ressentidas – ou aquelas, aparentemente,
sofisticada no tempo contemporâneo pelas vitimizantes – em políticas narrativas de
sociedades colonizadas. Compreendemos, resistências decoloniais na comunidade. A
portanto, que a investigação decolonial ética possível, nesse sentido, é uma ética da
realoca e interpela o olhar construído em prática de pesquisa narrativa e comunitária
torno dos sujeitos inscritos nos campos que se debruce sobre os paradoxos dos
disciplinares das ciências sociais e humanas, sujeitos em sociedade, na qual se abandone a
de modo que seja primordial que, em nossos perspectiva da ordem, do determinismo, da
processos de pesquisas narrativas linearidade e do reducionismo em direção a
comunitárias, possamos valorizar a um saber que assuma a circularidade, a
experiência dos sujeitos de pesquisa a partir desordem, a complexidade e a emergência
criativa de novos significados que resistem
3
“Mimimi” é uma onomatopeia e, também, ao que está, aparentemente, na ordem
uma expressão utilizada, comumente, em meios natural/colonial (Castoriadis, 1982; Costa &
informais, para imitar ou descrever, pejorativamente, Brandão, 2005; Scott, 2005). “É por este
alguém que reclama demais. Em tempos atuais, o
“mimimi” tem sido utilizado para se referir às trabalho especificamente político, ou seja,
demandas e interpelações de uma série de setores intencional, constantemente renovado e
civis organizados em torno da defesa dos Direitos frequentemente conflituoso, que o sujeito
Humanos, principalmente, mulheres, negros e político traz sua contribuição única,
LGBTTIQs. imprevisível e variável à definição do que é

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Castro, R. D. & Mayorga, C. Decolonialidade e pesquisas narrativas: contribuições para a Psicologia Comunitária

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acontece, então, não como um princípio práticas. Psicologia &
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