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Tribunal Regional Federal da 5ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico


Consulta Processual

11/07/2020

Número: 0807901-56.2020.4.05.8100
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL
Partes
Tipo Nome
REU EMPRESA DE TECNOLOGIA E INFORMACOES DA PREVIDENCIA SOCIAL -
DATAPREV
REU UNIÃO FEDERAL
AUTOR DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

Documentos
Id. Data/Hora Documento Tipo
4058100.1848888 11/07/2020 INICIAL-ACP-prorrogação do prazo de Documento de Identificação
1 09:51 requerimento-AFE
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO DO CEARÁ
Rua Costa Barros, nº 1227, Aldeota, Fortaleza/CE
CEP: 60.160-281; tel.: (085) 3474-8750; E-mail: dpu.ce@dpu.gov.br

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ___ª VARA DA


SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FORTALEZA-CE

PAJ Nº. 2020/035-03548

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, instituição essencial à função jurisdicional


do estado, no exercício das suas funções constitucionais (CF/88, art. 134, caput) e legais
(LC 80/94 e LC 132/09), vem, perante Vossa Excelência, com base no art. 1º, IV e art. 5º,
II da Lei 7.347/1985; art. 4º, VII da LC 80/94, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE


URGÊNCIA

em face da UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público, na pessoa do


ilustre Chefe da Advocacia Geral da União, com endereço à Rua Vilebaldo Aguiar, nº 96,
Cocó, Ed. Duets Office Towers, Fortaleza/CE, CEP: 60192-010 e DATAPREV, Empresa
de Tecnologia e Informações da Previdência Social – empresa pública vinculada ao
Ministério da Economia, com sede na SAS Quadra 01, Bloco E/F, Brasília/DF, CEP
70.070-931, representada por seu Presidente, pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos.

I – DAS PRERROGATIVAS DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

São asseguradas aos membros da Defensoria Pública da União as prerrogativas


elencadas no art. 44 da Lei Complementar 80/94, a fim de que haja melhor atuação na

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defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, principalmente as


prerrogativas da intimação pessoal com remessa dos autos, prazos processuais em dobro
e atuação independentemente de mandato.
Desse modo, requer desde já a observância das prerrogativas previstas na
referida Lei Complementar.

II – DOS FATOS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em 30 de janeiro de 2020,


que o surto da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) constitui uma
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da
Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Em 26 de
fevereiro é confirmado o primeiro caso de coranavírus no Brasil e em 11 de março de
2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia.
A título de esclarecimento, a definição de epidemia para a OMS corresponde à
propagação de uma nova doença em um grande número de indivíduos, sem imunização
adequada para tal, em uma região específica. Já pandemia diz respeito a uma doença que
se alastrou em escala mundial, em mais de dois continentes.
Segundo o Ministério da Saúde1, coronavírus é uma família de vírus
responsáveis por infecções respiratórias. A nova variação do agente teria sido descoberta
em 31.12.2019, com os casos registrados na China. Conforme dados do Ministério da
Saúde do Painel Coronavírus (2). No Brasil, segundo levantamento do consórcio de
veículos de imprensa, que consolida dados das secretarias estaduais foi computado até às
13hs do dia 10 de julho de 2020 69.406 (sessenta e nove mil e quatrocentos e seis)
mortes e 1.768.970 (um milhão setecentos e sessenta e oito mil e novecentos e

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Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/
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Disponível em: https://covid.saude.gov.br/
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setenta) casos de COVID-19 no país, destes casos aproximadamente 42.907 são novos
(os números apresentados são mera ilustração em recorte momentâneo, haja vista a
alteração diária). Logo abaixo tem-se os números por região (dados sujeitos a
atualizações):

Conforme interpretação dos gráficos apresentados pelo próprio Ministério da


Saúde, no portal do Ministério da Saúde ainda há expressivo aumento no número de
casos da doença no Brasil.

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Com o objetivo principal de diminuir a disseminação, a morbidade e a


mortalidade causada pelo coronavírus, a Organização Mundial de Súde – OMS passou a
recomendar a adoção de estratégias conhecidas como intervenções não
farmacológicas - INF (Nonpharmaceutical interventions - NPI), que visam inibir a
transmissão entre humanos, desacelerar a explosão da doença, e consequentemente
diminuir e retardar o pico de ocorrência na curva epidêmica. Cabe ressaltar que estas
intervenções são utilizadas quando não existe medicamento específico, vacina ou
tratamento para o enfrentamento de um surto, epidemia ou pandemia que colocam
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em risco à saúde e vidas das pessoas.


Assim entre as estratégias adotadas estão, por exemplo: lockdown,
shutdown, quarentena, isolamento e distanciamento social. Dentre estas estratégias o
isolamento comum e o distanciamento social geralmente não são obrigatórias e não
geram multas ou detenções, apesar de afetarem imensamente o comércio e as
atividades laborais de grande parte da população. Já o lockdown ou isolamento social
rígido é uma paralisação total dos fluxos e deslocamentos das pessoas de uma certa
região, município ou bairro/localidade. Neste caso a circulação de carros e pessoas
também é reduzida, sendo autorizada apenas a saída de casa para a compra de
alimentos, medicamentos e transporte de indivíduos para hospitais. A finalidade de todas
estas estratégias é diminuir o contato físico entre pessoas e o risco de transmissão do
coronavírus para promover o achatamento da curva de crescimento dos casos de COVID-
19, doença causada pelo novo coronavírus.
Durante os meses de abril, maio e junho, de 2020, diante do súbito e constante
aumento do número de mortes causadas por este novo vírus e após ponderação das
medidas que deveriam ser adotadas para controle dos casos de Covid-19 no Brasil,
muitos estados e municípios do país foram levados a adotar medidas de restrição
de locomoção/ circulação de pessoas, alguns estados como Ceará, Maranhão,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Norte e municípios do interior do Amazonas adotaram medidas mais
severas como o isolamento social rígido ou Lockdown em suas capitais e em vários
municípios do interior mais afetados pela pandemia. Cabe ressaltar que atualmente
no mês de julho ainda existem municípios em Lockdown, inclusive, é fato notório
que, em alguma localidades, após reabertura precipitada, medidas de isolamento
posterior se fizeram necessárias. Além disso ainda não se tem conhecimento se muitas
cidades (localidades) ultrapassaram ou não o pico da pandemia. Os especialistas dizem
que ainda há a possibilidade de haver novos picos e ondas dessa epidemia no Brasil, de
modo que ainda permanece uma situação de incerteza. O Distrito Federal é em claro
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exemplo disso atualmente.


É evidente que a adoção de tais estratégias não farmacológicas ou
medidas de isolamento social resultam em limitação temporária ou suspensão de
várias atividades econômicas, podendo em muitos causar desemprego ou
impossibilidade de trabalho para profissionais autônomos, cuja consequência se
relaciona com o benefício emergencial objeto desta ACP. Tendo em vista isso, e frente
à grande quantidade de trabalhadores informais, desempregados e pessoas socialmente
vulneráveis, os governantes foram demandados a tomar medidas capazes de garantir
minimamente a subsistência dessas pessoas.

No Brasil, a partir deste cenário de pandemia global o Congresso Nacional


aprovou a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, a qual dispõe acerca das medidas
para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do Coronavírus responsável pelo surto de 2019. Essa lei diz em seu artigo 3º, I
e II:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância


internacional decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito
de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: (Redação dada pela
Medida Provisória nº 926, de 2020)
I - isolamento;
II - quarentena.

No mês seguinte, em 20 de março foi publicado o Decreto Legislativo nº 63, o


qual reconhece, para os fins do art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Portaria/DLG6-2020.htm
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2000, a ocorrência do estado de calamidade pública em decorrência da COVID-19.

Com o alastramento do novo vírus pelo Brasil, os trabalhadores vulneráveis,


como autônomos, trabalhadores tradicionais (como por exemplo pescadores,
marisqueiras, agricultores familiares e vendedores ambulantes de um modo geral), além
dos trabalhadores informais e microempreendedores de todas regiões do país se viram
em situação de risco diante da impossibilidade de trabalhar e obter seu próprio sustento, já
que em muitas cidades as prestações de serviços não essenciais foram proibidas e o
comércio foi fechado. A pandemia também impactou e foi intensificada nos meses de
junho e julho sobretudo nas cidades de pequeno porte, no litoral dos Estados e
também no meio rural. Além disso a recomendação médica é que a parcela da
população considerada de alto risco (idosos e pessoas com cormobidades, como por
exemplo com diabetes, obesidade, hipertensão), devem ainda permanecer em estado de
total isolamento social até o surgimento de uma vacina eficaz.

Diante de todos estes impactos negativos da pandemia do COVID, o Congresso


Nacional, em 2 de abril de 2020 aprovou a Lei nº 13.982, que institui o Auxílio
Emergencial, estabelecendo medidas excepcionais de proteção social a serem
adotadas durante o período de enfrentamento à pandemia de Coronavírus. Este
benefício emergencial concedido as famílias, momentânea ou definitivamente com a renda
comprometida, foi criado no auge do isolamento social para proteger os cidadãos mais
vulneráveis da forte crise econômica decorrente da pandemia do novo Coronavírus
(COVID-19). Na oportunidade, foi informado e o auxílio deveria beneficiar cerca de 54
(cinquenta e quatro) milhões de pessoas. Até 2 de julho de 2020, em consulta ao portal
da transparência e nos dados da Controladoria Geral da União- CGU, o governo
federal concedeu o pagamento do auxílio emergencial a 53.874.896 (cinquenta e três
milhões e oitocentos e setenta e quatro mil e oitocentas e noventa e cento pessoas),
o que corresponde aproximadamente a mais de ¼ (um quarto) da população brasileira e a
quase metade da população economicamente ativa do país.
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A Lei nº 13.9824 de 2 de abril de 2020 que instituiu o auxílio emergencial em


seu artigo 2º estabelece que

Art. 2º Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publicação desta Lei, será
concedido auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao
trabalhador que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos:
I - seja maior de 18 (dezoito) anos de idade, salvo no caso de mães adolescentes;
(Redação dada pela Lei nº 13.998, de 2020)
II - não tenha emprego formal ativo;
III - não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial ou beneficiário do
seguro-desemprego ou de programa de transferência de renda federal, ressalvado,
nos termos dos §§ 1º e 2º, o Bolsa Família;
IV - cuja renda familiar mensal per capita seja de até 1/2 (meio) salário-mínimo ou
a renda familiar mensal total seja de até 3 (três) salários mínimos;
V - que, no ano de 2018, não tenha recebido rendimentos tributáveis acima de R$
28.559,70 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e nove reais e setenta centavos);
e
VI - que exerça atividade na condição de:
a) microempreendedor individual (MEI);
b) contribuinte individual do Regime Geral de Previdência Social que contribua na
forma do caput ou do inciso I do § 2º do art. 21 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de
1991; ou
c) trabalhador informal, seja empregado, autônomo ou desempregado, de qualquer
natureza, inclusive o intermitente inativo, inscrito no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) até 20 de março de 2020, ou
que, nos termos de autodeclaração, cumpra o requisito do inciso IV.

Em seguida a primeira parcela do auxílio emergencial começou a ser paga pela


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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13982.htm
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Caixa Econômica Federal no dia 9 de abril – segundo a ordem de prioridade, os primeiros


a receber foram os brasileiros que já estavam inscritos no Cadastro Único e que não
recebem Bolsa Família.
Diante da continuidade da pandemia e aumento de infectados pelo Coranavírus
no Brasil, a União Federal publicou o Decreto 10.412, de 30 de junho de 2020 (5). Este
prorrogou o auxílio emergencial previsto neste artigo 2º da supracitada lei por mais
dois meses, todavia impôs de forma incoerente e NÃO ISONÔMICA um prazo de
requerimento fatal até 02 de julho, tão somente dois dias após a promulgação do
Decreto. De acordo com o texto do Decreto

“Art. 9º-A Fica prorrogado o auxílio emergencial, previsto no art. 2º da Lei nº


13.982, de 2020, pelo período complementar de dois meses, na hipótese de
requerimento realizado até 2 de julho de 2020, desde que o requerente seja
considerado elegível nos termos do disposto na referida Lei.” (NR)

Percebe-se que a lei 13.982/2020 impõe requisitos para a concessão do


benefício do auxílio emergencial, no entanto NÃO há previsão expressa de data limite para
o seu requerimento, como será posteriormente explanado nos tópicos seguintes desta
inicial.

Como veremos mais adiante, a imposição de data limite para requerimento


do auxílio emergencial irá atingir pessoas potencialmente vulneráveis, como por
exemplo, aqueles que não conseguiram requerer o benefício no prazo informado em
razão de problemas estruturais de inacessibilidade, impactando sobretudo aqueles
cidadãos que passaram a preencher os requisitos previstos (elegíveis) após a data
de 2 de julho de 2020.

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10412.htm
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Ressalta-se ainda que durante a publicação deste Decreto a UNIÃO- Ministério


da Cidadania tinha conhecimento da probabilidade de haver uma nova onda de surtos da
COVID-19 no Brasil e, consequentemente, de novos isolamentos, principalmente após
reabertura das economias, como é o caso de alguns estados norte-americanos os quais
estão apresentando números de novos casos da doença bastante elevados, como o
Texas, a Flórida e a Califórnia, além de vários países como por exemplo o Reino Unido, o
qual registrou aumento de mortes considerável, conforme dados retirados de notícias
veiculadas na imprensa6.

Diante do exposto, em primeiro de julho de 2020, esta Defensoria, logo após


ter conhecimento da publicação do Decreto 10.412 de 20 de junho de 2020, e ao perceber
a ilegalidade da imposição da data limite para requerimento auxílio emergencial em
descompasso com o período de vigência do benefício, bem como da violação ao princípio
da isonomia enviou Ofício ao Secretário Executivo do Ministério da Cidadania (Ofício
nº 3761638/2020 – DPU CE/DRDH CE) ,em anexo, relatando a situação e solicitando que
fosse analisada a possibilidade de adequação do limite temporal de requerimento, de
modo a possibilitar que o cidadão se inscreva após 02/07/2020. Destacou-se, ainda, que a
medida não aumentaria o período global do benefício. Houve, em 03/07/2020,
confirmação de recebimento do documento (conforme imagem do e-mail abaixo e
documento em anexo). No entanto, até o prezado momento ainda não tivemos qualquer
resposta do Ministério da Cidadania.

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Disponível em: https://noticias.r7.com/saude/possibilidade-de-2-onda-de-covid-19-aumenta-risco-de-novos-
isolamentos-12062020 e em https://g1.globo.com/google/amp/jornal-nacional/noticia/2020/06/12/estados-americanos-
sofrem-com-segunda-onda-de-infeccao-pela-covid-depois-de-reabrir-economias.ghtml
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Em seguida, em 07 de julho deste ano, com o objetivo de obter informações


mais precisas sobre a parcela da população que será prejudicada pela limitação temporal
imposta pelo Decreto 10.412 de 20 de junho de 2020, esta Defensoria remeteu o OFÍCIO
- Nº 3773435/2020 - DPU CE/DRDH CE a DATAPREV (em anexo), Empresa Pública
responsável pelo suporte tecnológico ao Governo Federal na identificação das famílias
elegíveis a serem atendidas pelo Auxílio Emergencial instituído pela Lei nº. 13.982, de 02
abril de 2020.

A DATAPREV, conforme dito na resposta de OFÍCIO N. 1451/2020/CGPR/PR


de 09 de julho de 2020, assinado pelo Coordenador Geral do gabinete da presidência da
empresa (em anexo), tem a missão de identificar, entre os mais de 200 milhões de
brasileiros, aqueles que atendem os critérios de elegibilidade definidos pela União, no
caso Ministério da Cidadania, para terem reconhecido seu direito a receber o referido
auxílio emergencial, além de desenvolver aplicações aptas a viabilizar atividades
complementares ao processo de pagamento do auxílio emergencial, de que trata o art. 2º
da Lei Federal nº 13.982, de 2 de abril de 2020. Ainda de acordo com a resposta do ofício,
para fins de processamento, o público elegível ao auxílio emergencial está subdividido em
três grupos. O 2, por sua vez, é composto por inscritos no Cadastro Único do Governo
(CadUnico) que Grupo 1 é composto pelos requerentes EXTRACAD, que compreende os
microempreendedores individuais (MEIs), contribuintes individuais (CIs) e trabalhadores
informais. O Grupo são beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF). O Grupo 3 por
aqueles inscritos no Cadastro Único do Governo (CadUnico) e que não são beneficiários
do PBF.

Mais adiante, na supramencionada resposta de Ofício foi informado que até 09


de julho foram executados pela DATAPREV processamentos que derivaram no direito
de 64,1 milhões de cidadãos, a receberem o auxílio emergencial do Governo Federal

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destinado à população mais vulnerável do País. Do total de CPFs identificados como


elegíveis, 34,4 milhões pertencem ao Grupo 1, composto pelos microempreendedores
individuais (MEIs), contribuintes individuais (CIs) e trabalhadores informais, que
concluíram seu cadastro no aplicativo Caixa Auxílio Emergencial ou portal da Caixa
Econômica Federal. Outros 19,2 milhões são do Grupo 2, composto pelos inscritos
no CadUnico que são beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF); e os demais
10,5 milhões fazem parte do Grupo 3, composto pelos inscritos no CadUnico e que não
são beneficiário do PBF.

Dessa forma, no esteio do que se argumentará, a presente demanda visa


obter provimento judicial capaz de solucionar tal problemática com a finalidade de
que seja restabelecido e prorrogado o prazo de inscrição, por dois meses para
recebimento do benefício em sua totalidade, ou, ao menos, que seja permitida a
prorrogação do prazo de requerimento para que o cidadão se habilite para os dois
meses de prorrogação, tendo em vista a situação de evidente ilegalidade de imposição
de data limite para realização de novos requerimentos aos auxílios emergenciais e a clara
violação ao princípio da isonomia no decorrer de uma pandemia ainda sem nenhum prazo
cientificamente comprovado para terminar no Brasil e no mundo.

III – DA ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA

III.I – DA COMPETÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

Esta Instituição entende que a competência para processar e julgar os fatos


narrados nesta ACP pertence ao Poder Judiciário Federal, pautando-se no artigo 109,
inciso I, da Constituição Brasileira de 1988, já que a União e empresa pública federal
figuram como réus.

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III.II – DO CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA E DA LEGITIMIDADE ATIVA DA


DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

A Ação Civil Pública é regida pela Lei da Ação Civil Pública (LACP) (Lei nº
7.347/1985) além do Código de Defesa do Consumidor (CDC) como se pode observar:

Art. 1º, IV, da LACP:

Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

Art. 21 da LACP:

Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que


for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do
Consumidor. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 11.9.1990).

Art. 90 do CDC:

Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e


da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil,
naquilo que não contrariar suas disposições.

Esses dispositivos evidenciam o cabimento de ação civil pública no que se


refere a direito coletivo estrito senso e individual homogêneo, mesmo que não trate de
matéria consumerista, haja vista o diálogo das fontes que compõe verdadeiro
microssistema coletivo, como prevê o art. 81, parágrafo único, II e III, do CDC:

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

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II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste


código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os


decorrentes de origem comum.

Outrossim, a Defensoria Pública tem legitimidade para propositura de ação civil


pública para tutelar direitos individuais homogêneos como se pode ver no art 5º, II, da
LACP e nas jurisprudências do STF:

Art 5º da LACP:

Art. 5º- Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação
dada pela Lei nº 11.448, de 2007)

II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. REGÊNCIA: CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL/1973. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA
AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA (INC. II DO ART. 5º DA LEI N.
7.347/1985, ALTERADO PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007). TUTELA
DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO SENSU E
DIFUSOS) E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. ACESSO À JUSTIÇA.
NECESSITADO: DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
QUE GARANTEM A EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
PREVISTAS NOS INCS. XXXV, LXXIV E LXXVIII DO ART. 5º DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. A LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA
PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA NÃO ESTÁ
CONDICIONADA À COMPROVAÇÃO PRÉVIA DA HIPOSSUFICIÊNCIA
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DOS POSSÍVEIS BENEFICIADOS PELA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.


AUSÊNCIA DE CONTRADIÇÃO, OMISSÃO OU OBSCURIDADE. A
QUESTÃO SUSCITADA PELA EMBARGANTE FOI SOLUCIONADA NO
JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 733.433/MG, EM
CUJA TESE DA REPERCUSSÃO GERAL SE DETERMINA: “A
DEFENSORIA PÚBLICA TEM LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA
DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM ORDEM A PROMOVER A TUTELA
JUDICIAL DE DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS DE QUE SEJAM
TITULARES, EM TESE, PESSOAS NECESSITADAS” (DJ 7.4.2016).
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS (ADI 3943 ED, Relator(a):
Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 18/05/2018, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-153 DIVULG 31-07-2018 PUBLIC 01-08-2018).

Ademais, a Defensoria Pública tem por função institucional a orientação jurídica


e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, se configurando como instituição
essencial à função jurisdicional do Estado, já que garante o direito fundamental à
assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados, conforme assegura o art. 5º,
LXXIV, da Constituição Federal, intrinsecamente ligado ao direito fundamental do acesso à
justiça, consagrado no art. 5º, XXXV, da CRFB/88. Tem-se dentre as funções
institucionais da Defensoria Pública prover ação civil pública em defesa de direitos difusos,
coletivos ou individuais homogêneos:

Art. 4º da Lei Complementar nº 80/1994:

VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de


propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas
hipossuficientes; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

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VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e


individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV
do art. 5º da Constituição Federal; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132,
de 2009).

X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados,


abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e
ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua
adequada e efetiva tutela; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

Assim, ficam demonstrados o cabimento desta Ação Civil Pública e a


legitimidade ativa da Defensoria Pública da União, tendo em vista que, no presente caso,
a ação trata da data limite imposta pelo Decreto 10.421 que, modificando a Lei 13.982,
prevê a prorrogação do prazo do Benefício Emergencial por mais dois meses, limitando-se
às hipóteses de requerimentos realizados até a data de 02/07/2020. Tal ocorrido pode
atingir aqueles que não conseguiram requerer o benefício no prazo informado em
decorrência de problemas estruturais de inacessibilidade ao aplicativo da Caixa, de
comunidade tradicionais e pessoas vivem em lugares remotos e isolados, de
pessoas que ainda não tem conhecimento que possuem direito ao referido benefício
ou, ainda, a aqueles que passaram a preencher os requisitos previstos para recebe-
lo somente após a data do prazo estipulado pelo Decreto 10.421.

Enfim, esta exordial demonstrará que este Decreto impactará imensamente a


todos cidadãos que irão estar impossibilitados de trabalhar por promulgação de novas
medidas de isolamento ou que serão dispensadas do emprego e não poderão exercer
suas atividades de forma autônoma, em razão da pandemia e da crise econômica gerada
por ela. Tratam-se de pessoas e/ou grupos em estado de vulnerabilidade social,
portanto, justifica-se a atuação desta instituição.

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IV– DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

IV.I– DA AUSÊNCIA DE DATA LIMITE PARA REQUERIMENTO DO AUXÍLIO


EMERGENCIAL EM LEI FORMAL

Como dito anteriormente, após um período de análise do cenário global e de


ponderação das medidas que deveriam ser adotadas para controle dos casos de Covid-19
no Brasil, muitos Estados e Municípios foram levados a efetivar medidas de restrição da
locomoção/circulação de pessoas. Dessa forma, alguns Estados como o Ceará, adotaram
medidas mais severas como o Lockdown.
Isto posto, medidas como essas resultaram em limitação ou suspensão temporária
das atividades econômicas, gerando inúmeras consequências para aqueles indivíduos que
trabalham informalmente, assim como aqueles que ficaram desempregados em
decorrência de eventuais questões financeiras.
Assim, ante a massa de trabalhadores informais, desempregados, e pessoas
socialmente vulneráveis, o Poder Executivo foi demandado a tomar medidas a garantir
minimamente a subsistência dessas pessoas.
Como já explanado anteriormente, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº. 13.982
de 2 de abril de 2020, com o objetivo de estabelecer medidas excepcionais de proteção
social a serem adotadas durante o período de enfrentamento da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente do Covid-19, instituindo o benefício de
Auxílio emergencial, conforme se observa pelo art. 2º da referida lei:

Art. 2º Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publicação desta Lei, será
concedido auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao
trabalhador que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos:

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I - seja maior de 18 (dezoito) anos de idade, salvo no caso de mães


adolescentes; (Redação dada pela Lei nº 13.998, de 2020)
II - não tenha emprego formal ativo;
III - não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial ou beneficiário do
seguro-desemprego ou de programa de transferência de renda federal, ressalvado,
nos termos dos §§ 1º e 2º, o Bolsa Família;
IV - cuja renda familiar mensal per capita seja de até 1/2 (meio) salário-mínimo ou
a renda familiar mensal total seja de até 3 (três) salários mínimos;
V - que, no ano de 2018, não tenha recebido rendimentos tributáveis acima de R$
28.559,70 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e nove reais e setenta
centavos); e
VI - que exerça atividade na condição de:
a) microempreendedor individual (MEI);
b) contribuinte individual do Regime Geral de Previdência Social que contribua na
forma do caput ou do inciso I do § 2º do art. 21 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de
1991; ou
c) trabalhador informal, seja empregado, autônomo ou desempregado, de qualquer
natureza, inclusive o intermitente inativo, inscrito no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) até 20 de março de 2020, ou
que, nos termos de autodeclaração, cumpra o requisito do inciso IV.

À vista disso, observa-se que não houve definição expressa da data limite em
02/07/2020, mas apenas correlação cronológica entre o período do benefício e a
possibilidade de requerimento. Desse modo, como previsto inicialmente, três meses, o
prazo de requerimento para o benefício de auxílio emergencial seria, de fato, em
02/07/2020.
Por outro lado, o Decreto nº. 10.412 de 30 de junho de 2020, alterando a redação
do Decreto nº. 10.316 de 7 de abril de 2020, assinalou em seu art. 9º-A a prorrogação
do auxílio emergencial, senão vejamos:

Art. 9º-A Fica prorrogado o auxílio emergencial, previsto no art. 2º da Lei nº


13.982, de 2020, pelo período complementar de dois meses, na hipótese de
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requerimento realizado até 2 de julho de 2020, desde que o requerente seja


considerado elegível nos termos do disposto na referida Lei.

Assim, o ato complementar, tomando a correta medida de prorrogar o período do


benefício, acabou desvencilhando-se da correlação direta entre o período do benefício e a
possibilidade de requerimento, de modo que o limite de requerimento fixado em
02/07/2020, viola a Lei nº. 13.979 de 6 de fevereiro de 2020, uma vez que esta não
definiu data limite expressa para requerimento do auxílio emergencial.
Nesse sentido, há uma expressa violação ao postulado da legalidade, em
razão da divergência do estabelecido na Lei nº. 13.979 e o completo do Decreto nº.
10.412, de modo que um ato infralegal não pode legislar e limitar o alcance da lei nesse
aspecto, além de ir de encontro a mesma, pois esta requer a elegibilidade e a correlação
cronológica entre o período do benefício e a possibilidade de requerimento.
Portanto, a Administração (Poder Executivo Federal) não poderá exigir prazo de
data limite para requerimento do auxílio emergencial por meio de ato infralegal, tendo em
vista que estes atos devem ser subordinados as leis, sendo normas secundárias que não
podem criar direitos, tampouco limitá-los.
Isso porque, de acordo com Neto (2019), as normas infralegais estão abaixo das
leis, de modo que, por serem normas secundárias, não podem contrariar as normas
primárias (legislação constitucional e infraconstitucional), sob pena de invalidade.
Assim, pode-se afirmar que serão nulas de pleno direito normas infralegais que afrontem
normas de hierarquia superior.7
Nessa perspectiva, a doutrina possui entendimento consolidado sobre essa
temática, notadamente a partir da análise da hierarquia das normas, de modo que os
Decretos, os Regulamentos, as Instruções Normativas, Regimentos, entre outros,
são comandos emanados do Poder Executivo que são exclusivamente destinados a
normatizar a correta aplicação das leis, e não gerar direitos ou impor obrigações.

7 Neto, João Celso. A hierarquia das normas e sua inobservância. 2019. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/73280/a-hierarquia-das-normas-e-sua-inobservancia>. Acesso em: 07 jul. 2020.
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Diante disso, Maria Sylvia Zanella Di Pietro8 leciona que ‘’os atos pelos quais a
Administração exerce seu poder normativo têm em comum com a lei o fato de emanarem
normas, ou seja, atos com efeitos gerais e abstratos", ou seja, são distintos da lei, porque
os regulamentos não têm o condão de inovar, de criar o direito novo, de forma primária, à
ordem jurídica.9
Sob esse viés, em julgamentos de casos específicos que discorrem sobre atos
normativos infralegais, o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça é justamente
nesse sentido, em que a obediência às disposições normativas de peso hierarquicamente
inferior deve estar atrelada ao limite da legislação federal e constituição. Segue alguns
julgados:

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. AGRAVO


REGIMENTAL. INDENIZAÇÃO DE ESTÍMULO OPERACIONAL. HORA
EXTRAORDINÁRIA. EXPEDIÇÃO DE DECRETO PELO GOVERNADOR
DO ESTADO. FIXAÇÃO DE LIMITE MÁXIMO. ALTERAÇÃO DA LEI
POR ATOS NORMATIVOS INFRALEGAIS. IMPOSSIBILIDADE. PEDIDO
DE LIMITAÇÃO À EDIÇÃO DE LEGISLAÇÃO SUPERVENIENTE.
INOVAÇÃO RECURSAL. 1. De acordo com a jurisprudência, o decreto
expedido com finalidade de regulamentar a lei não pode inovar na
ordem jurídica, dispondo de modo contrário ao que determina a
norma que lhe é hierarquicamente superior. 2. Incabível a inovação
recursal em sede de embargos de declaração ou agravo regimental. 3.
Agravo regimental improvido.

8 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 22ªed. São Paulo: Atlas, 2009.
9 Gabriel, Ivana Mussi. Poder Regulamentar no sistema jurídico brasileiro. 2009. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/13119/poder-regulamentar-no-sistema-juridico-brasileiro/1>. Acesso em: 07 jul.
2020.
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(STJ - AgRg nos EDcl no RMS: 24412 SC 2007/0141789-7, Relator:


Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 15/09/2015, T6 -
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/10/2015)

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 554.206 - PR (2014/0171232-0)


RELATORA : MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES AGRAVANTE :
MUNICÍPIO DE CURITIBA PROCURADOR : DJALMA ANTÔNIO
MULLER GARCIA E OUTRO (S) - PR012431 AGRAVADO : ART
FÓRMULA FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO LTDA - MICROEMPRESA
ADVOGADO : VALTER ADRIANO FERNANDES CARRETAS E OUTRO
(S) - PR025735 DECISÃO Trata-se de Agravo em Recurso Especial,
interposto pelo MUNICÍPIO DE CURITIBA, em 11/11/2013, contra decisão
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, que inadmitiu o Recurso
Especial interposto contra acórdão assim ementado: "APELAÇÃO CÍVEL.
REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO.
PRESCRIÇÃO DE FÓRMULAS COM ASSOCIAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS
ANOREXÍGENAS ENTRE SI OU COM OUTRAS MEDICAMENTOSAS.
PRELIMINAR DE NULIDADE POR NÃO TER ENFRENTADO TODOS OS
ARGUMENTOS EXPOSTOS PELO MUNICÍPIO APELANTE COM SUAS
RAZÕES DE DEFESA. ALEGAÇÃO AFASTADA. LIVRE
CONVENCIMENTO DO JUIZ. ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA
DA AUTORIDADE COATORA POR INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO
AFASTADA. O MUNICÍPIO COMO ENTE FEDERATIVO ESTÁ SUJEITO
ÀS LEIS REGULADORAS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA E
TEM POR ATRIBUIÇÃO EXECUTAR SERVIÇOS DE VIGILÂNCIA
RELATIVOS À MEDICAMENTOS, DROGAS, INSUMOS
FARMACÊUTICOS E CORRELATOS EM ÂMBITO MUNICIPAL.
COMPARECIMENTO DA AUTORIDADE MUNICIPAL RESPONSÁVEL
PELO ATO TIDO COMO COATOR EM JUÍZO APRESENTANDO

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COMPETENTES INFORMAÇÕES. NULIDADE AFASTADA. AUTUAÇÃO


COM BASE NA PORTARIA 344/98 DA ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL
DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA) PROIBIÇÃO DE MANIPULAÇÃO DE
SUBSTÂNCIA ANOREXÍGENA EM FÓRMULAS SEPARADAS.
IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO NÃO PREVISTA EM LEI.
RESTRIÇÃO DE DIREITO NÃO PREVISTA NA LEGISLAÇÃO FEDERAL
DE REGÊNCIA. ATO ILEGAL. APELAÇÃO DESPROVIDA COM A
CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA RECORRIDA EM SEDE DE REEXAME
NECESSÁRIO" (fl. 834e). Alega a parte agravante, nas razões do
Recurso Especial, além da existência de divergência jurisprudencial,
violação aos arts. 35 da Lei 5.991/73, 7º e 75 da Lei 6.360/76. Para tanto,
defende: a) que "o ato normativo atacado é reconhecidamente legal e não
inova o ordenamento jurídico ou extrapola o poder regulamentar, posto
que se encontra estribado na legislação federal em vigor e em
consonância com a política sanitária da União" (fl. 863e); b) que "o
legislador ordinário conferiu ao Ministério da Saúde a prerrogativa de
baixar normas visando o controle sanitário farmacêutico, tarefa inerente
ao seu poder de polícia indispensável para o cumprimento das atribuições
de fiscalização e vigilância da saúde pública, não havendo, portanto,
qualquer inovação na legislação, por parte do art. 47, da Portaria nº
344/98" (fl. 864e); c) a existência de interpretação jurisprudencial
divergente dada ao art. 7º da Lei 6.360/76, entre o acórdão recorrido e
julgado do TRF da 4ª Região. Requer, ao final, que "seja o presente
recurso admitido e, oportunamente, provido, para o fim de determinar
reformar o decisum recorrido, reconhecendo a legalidade da Portaria nº
344/1998 do Ministério da Saúde e do seu art. 47, diante das previsões
constantes das Leis Federais nº 5991/70 e 6360/76 e denegando a
segurança" (fl. 869e). Em contrarrazões, a parte ora agravada pugna pelo
não conhecimento do Recurso Especial e, caso conhecido, seja improvido
(fls. 874/896e). O Recurso Especial teve seu seguimento negado, na

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origem (fls. 900/901e), o que ensejou a interposição do presente Agravo


(fls. 905/916e). [...] Assim sendo, a ANVISA, enquanto agência
reguladora, tem apenas o poder de editar normas eminentemente
técnicas, sendo que a proibição da manipulação de certos tipos de
medicamentos extrapola tal função, não podendo ser imposta ao
particular, ainda que sob o pretexto de proteção à saúde. Ou seja, as
agências reguladoras têm competência para regulamentar e fiscalizar, por
meio de resoluções, as atividades que lhes são afetas. Entretanto, tais
resoluções submetem-se ao Princípio da Legalidade, de modo que não
podem impor restrições ou criar direitos e obrigações não previstas em lei,
sob pena de desvio de finalidade. (...) Por outro lado, as resoluções, por
se tratarem de ato normativo derivado, não podem inovar o disposto na
lei, apenas complementar e explicar sua forma de execução, sem,
contudo, impor limitações. Nesse sentido é o ensinamento de Hely
Lopes Meirelles: (...) Nesta linha, cabe ressaltar o teor do Princípio
da Reserva Legal, com previsão no artigo 5º, inciso II da Constituição
Federal, que consagra a liberdade de conduta do indivíduo em
realizar apenas aquilo que for expressamente designado por lei. No
caso em exame, não está o apelado vinculado ao cumprimento de
meras Portarias que dispõem em contrário do estabelecido pela
legislação, uma vez que Resoluções, Decretos e Portarias não tem
força de lei. Dito isto, a obediência às disposições normativas de
peso hierarquicamente inferior deve estar atrelada ao limite da
legislação federal e constitucional, impedida de extrapolar os
ditames legais, ainda mais, ao restringir direito individual ou
coletivo. No caso concreto, a norma estabelecida no artigo 47 da Portaria
344/98 é ilegal, pois são as portarias atos administrativos derivados, não
podendo criar obrigações sem respaldo legal, conforme leciona Maria
Sylvia Zanella: (...) Todavia, as portarias, por se tratarem de ato normativo
derivado, não podem inovar o disposto na lei, mas apenas explicar sua

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forma de execução. Dessa forma, a Portaria 344/98, em seu artigo 47


acabou inovando as leis federais que disciplinam sobre o controle
sanitário farmacêutico e impondo restrições a direito, o que acabou por
contrariar, também, o disposto no art. 5º, inciso II, da Constituição
Federal, pelo qual "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.". Logo, vale dizer que não poderia
a impetrante ser autuada por infração ao artigo 47, da Portaria nº 344/98,
na medida em que somente executa o que está contido no receituário
médico, quanto à recomendação de posologia. Insta salientar que a
interpretação do artigo 47 da portaria nº 344/98 leva à conclusão de que
tal vedação é restritiva quanto ao aviamento de uma mesma fórmula que
associe as substâncias descritas na lista"C2", quando da preparação de
medicamento de uso sistêmico, porém, não há proibição em caso de
manipulação em fórmulas separadas. [...] Nesse contexto, como ressaltou
a parte ora agravada, em suas contrarrazões ao Recurso Especial, tendo
o acórdão recorrido fundamento constitucional, não impugnado, mediante
Recurso Extraordinário, incide, no ponto, a Súmula 126 do STJ, segundo
a qual "É inadmissível Recurso Especial, quando o acórdão recorrido
assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer
deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta
Recurso Extraordinário". [...] Em face do exposto, com fundamento no art.
253, parágrafo único, II, a, do RISTJ, conheço do Agravo, para não
conhecer do Recurso Especial. I. Brasília (DF), 28 de abril de 2017.
MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES Relatora

(STJ - AREsp: 554206 PR 2014/0171232-0, Relator: Ministra


ASSUSETE MAGALHÃES, Data de Publicação: DJ 05/05/2017)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO.


AUXÍLIO-TRANSPORTE. MEDIDA PROVISÓRIA 2.165-36/2001.
PAGAMENTO DO BENEFÍCIO MEDIANTE DECLARAÇÃO DO
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BENEFICIÁRIO. INSTRUÇÃO NORMATIVA DO DEPARTAMENTO DE


POLÍCIA RODOVIÁRIA. EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DO
BILHETE DE PASSAGEM. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 05/2002 DO
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL.
LEGALIDADE. 1. O aresto regional está em sintonia com a orientação
jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, firme no sentido de
que os atos normativos infralegais, como as instruções normativas,
não podem inovar no ordenamento jurídico, impondo restrições que
a Lei federal não previu ou autorizou, devendo manter-se
subordinadas ao texto legal (AgRg no REsp 1230633/RN, Relator
Ministro HAMILTON CARVALHIDO, DJe 29/03/2011). 2. Agravo interno a
que se nega provimento.

(STJ - AgInt no REsp: 1323295 DF 2012/0061071-6, Relator: Ministro


SÉRGIO KUKINA, Data de Julgamento: 26/04/2016, T1 - PRIMEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 11/05/2016)

Destarte, o limite de requerimento fixado à data de 02/07/2020, determinada


pelo Decreto nº. 10.412 de 2020 viola, expressamente, o disposto na Lei nº. 13.979
de 2020, a qual não delimitou data limite para o requerimento, mas tão somente
uma correlação cronológica entre o período do benefício e a possibilidade de
requerimento.
Assim, entender em sentido contrário, levaria a hipótese, por exemplo, de
um cidadão que perca seu emprego ou um autônomo que seja impedido de
trabalhar em razão de decretação de bloqueio de circulação (lockdown), a partir de
02/07/2020, ainda no momento da pandemia e vigente o benefício, fique
desemparado por uma restrição estabelecida em ato infralegal, que sequer poderia
criar uma limitação não contemplada em Lei.

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IV.II– DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA

Um dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro é a promoção do bem-estar


de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
Esse objetivo, expressamente prevista no artigo 3.º, inciso IV, da Constituição da
República, tem a finalidade de compelir o poder estatal a promover, efetivamente, medidas
tendentes a neutralizar – ou ao menos reduzir – o processo de marginalização política,
econômica e/ou social a que são submetidas determinadas “minorias” na sociedade
nacional.
Dessa forma, essas medidas vão desde a elaboração de políticas públicas
específicas destinadas à proteção de determinados subgrupos, até a edição de leis gerais
para a proteção de determinadas categorias.
Diante disso, a necessidade da criação de auxílio emergencial é uma medida
de urgência, e de proteção social, com o objetivo de beneficiar todos aqueles
cidadãos que estão desemparados, economicamente, em decorrência dos efeitos
que a pandemia vem gerando, os quais será enfatizado a diante.
Essas medidas surgem justamente para assegurar a efetivação do princípio
constitucional da igualdade, em que todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, como bem preceitua o art. 5ª da Carta Magna. Portanto, respectivo
princípio prevê a igualdade de aptidões e de possibilidades dos cidadãos de usufruir de
tratamento isonômico pela lei.
Assim, o princípio da igualdade divide-se em igualdade formal e material. A
igualdade material é caracterizada pelo tratamento isonômico às partes, ou seja, tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Já
a igualdade formal nada mais é do que a igualdade jurídica em que todos devem ser
tratados de maneira igual.

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Diante da expressa ilegalidade de um ato infralegal em determinar uma


restrição que sequer possuía previsão na Lei nº. 13.982 de 2 de abril de 2020,
observa-se que há uma direta violação ao princípio da isonomia.
Explica-se. A data limite, estabelecida pelo Decreto nº. 10.412 de 30 de junho de
2020, para o requerimento do auxílio emergencial faz com que um indivíduo que perca seu
emprego por decretação de medidas de isolamento mais rígidas, ou por qualquer razão
decorrente da pandemia, após a data de 02/07/2020 (imposta como limite ao
requerimento), fique totalmente desemparado.
Nesse sentido, estes cidadãos, privados da possibilidade de trabalho, em
suas variadas possibilidades de realização, após o prazo determinado para o
requerimento do auxílio emergencial receberão tratamento diferenciando, embora
ainda vigente o benefício e presente a pandemia, de modo que a maioria desses
indivíduos se encontrarão nas mesmas circunstâncias que outros indivíduos que
tenham realizado o requerimento antes da data imposta em ato infralegal.
Portanto, indivíduos que estão em igualdade de situação social e econômica
por conta da pandemia irão receber tratamento diferenciados pelo estabelecimento
de um prazo limite para o requerimento do auxílio emergencial, prazo este que viola
não só o princípio da legalidade, mas também o da isonomia.

IV.III– DA PROTEÇÃO SOCIAL INSUFICIENTE E DA DECRETAÇÃO DE MEDIDAS DE


ISOLAMENTO MAIS RÍGIDAS

A pandemia do Covid-19, apesar de está em controle em algumas regiões e


capitais do Brasil, ainda segue forte e avança em outras regiões, causando nas últimas
semanas mais de 1.000 (mil) mortes diárias no Brasil. Diante disso, segundo relatório mais
recente da Organização Mundial da Saúde- OMS, o Brasil é o segundo país no ranking

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mundial com o maior número de casos novos (30.476 mil pessoas infectadas) e 552
mortes, desde o 01 de julho de 2020.10
Isso porque, de acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde,
anexado aos autos, em relação ao coeficiente de incidência no mundo ao final da semana
epidemiológica 26 (referente ao dia 21 a 27/06 de 2020), o Brasil aprece na 13ª posição
com um coeficiente de 6.251 casos/1 milhão de habitantes (página 3 do referido
documento). Cabe ressaltar, contudo, que o Brasil é um país continente, de enorme
tamanho e com densidades populacionais bem distintas, e por isso, as cidades e regiões
(norte, nordeste, centro, sudeste e sul) apresentam coeficientes de transmissibilidade
distintos.
Não obstante a isso, a semana epidemiológica estudada neste boletim encerrou
com total de 246.088 casos novos de Covid-19, o que representa um aumento de 13%
(+29.023 casos) no número de casos novos em relação à semana epidemiológica 25,
onde constatou 217.065 casos (página 8 do referido documento). Dessa maneira, a
média diária de novos registros foi de 35.155 contra 31.009 da semana anterior.
Nesse sentido, o aumento de casos novos registrados desta semana apenas
demonstra que o país ainda se encontra em fase de aceleração, com um aumento
progressivo no registro de casos novos a cada semana. Dessa forma, diante do
aumento significativo de casos novos, vários estados brasileiros ainda estão em
forte isolamento social ou em lockdown- medida mais rígida e diferente da
quarentena, uma vez que há, de fato, a restrição ao trânsito de pessoas, de modo
que a população de cada Estado ou Município que estabelecer essa imposição só
poderá sair de casa em casos realmente necessários-.
Assim, em uma breve análise do Boletim em comento, na região Norte, o Estado
do Pará apresentou o maior número de casos novos durante a semana epistemológica 26,

10 Brasil fica em 2º no mundo em novas mortes e casos em 24H. 2 de julho de 2020. Disponível em:
<https://oestadoonline.com.br/2020/07/02/brasil-fica-em-2o-no-mundo-em-novas-mortes-e-casos-em-24-h/>.
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seguido pelo Estado do Amapá. Já na região Nordeste, o Estado da Bahia apresentou


o maior número de casos novos na semana epidemiológica 26 (entre os dias 21 a
27/06), seguido do Ceará e Maranhão, respectivamente (vide página 13 do
documento). Por essa razão, o Governador da Bahia decretou toque de recolher em 11
cidades metropolitanas, com decretação de lockdown na Capital11, e cinco cidades do
Estado do Ceará adotam lockdown, dentre elas, Iguatu, Mombaça, Piquet Carneiro, Cariús
e Quixelô, justamente pelo grande avanço de casos nessas regiões.12
Ainda assim, os casos confirmados da doença, nos municípios cearenses, somam
em torno de 126.142 pessoas, com 6.563 mil mortes, segundo a plataforma IntegraSUS,
atualizado até dia 07/07/2020, estando Sobral em lockdown desde 1º de junho de 2020,
sendo o município com a maior incidência de contaminados pelo coronavírus no Brasil, de
acordo com um estudo feito pela Universidade Federal de Pelotas.13
Já nos Estados da região Sudeste, São Paulo e Minas Gerais apresentaram o
primeiro e o segundo maior número de casos novos na semana epistemológica 26 (página
13 do documento). Em Minas Gerais, atualmente, várias cidades estão em lockdown,
e São Paulo sofre com o aumento dos casos no interior do Estado, de modo que

11 Governador da Bahia decreta toque de recolher em 11 cidades metropolitanas. 04 de julho de 2020.


Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/07/04/governador-da-bahia-decreta-toque-de-
recolher-em-11-cidades-metropolitanas>.
12 Cinco cidades do Centro-Sul cearense adotam ‘lockdown’ para conter avanço do coronavírus. 24 de junho
de 2020. Disponível em: <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/regiao/cinco-cidades-do-centro-sul-
cearense-adotam-lockdown-para-conter-avanco-do-coronavirus-1.2959020>.
13 Ceará contabiliza 124.952 casos confirmados da Covid-19 e registra 6.556 óbitos. 07 de julho de 2020.
Disponível em: < https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/07/07/ceara-contabiliza-124845-casos-
confirmados-da-covid-19-e-registra-6512-obitos.ghtml>.
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algumas regiões regrediram para a faixa vermelha do Plano São Paulo, cogitando
medidas mais duras.14
Na região Sul, Santa Catarina apresentou os maiores números de casos novos
na semana epidemiológica 26, seguido do Estado do Paraná, de modo que nenhum
Estado da região Sul apresentou redução no número de casos e/ou óbitos novos em
relação à semana epidemiológica anterior (página 14 do referido documento).
Em seguida, na região Centro-Oeste, o Distrito Federal e Goiás apresentaram o
primeiro e o segundo maior número de casos na semana epidemiológica (página 14 do
documento). Nesse sentido, no Distrito Federal foi decretado estado de calamidade
pública, sendo um exemplo de que tudo pode mudar e piorar em curto prazo nesta
pandemia, já que havia sinais de que a pandemia estaria sob controle na região, após um
início de surto turbulento, e logo com a reabertura gradual da economia os dados de
infectados e mortes começaram a aumentar exponencialmente.15
Além de todas essas informações, o Boletim Epidemiológico do Ministério da
Saúde traz um gráfico extremamente pertinente, com dados referentes à evolução do
número de casos novos confirmados por Semana Epidemiológica, segundo 10 países com
maior número de casos (figura 4 do documento), demonstrando um crescimento
ascendente no Brasil, conforme se observa em uma rápida análise da linha crescente no
gráfico abaixo:

14 Avanço da covid-19 no interior paulista leva prefeitos na faixa vermelha a cogitar lockdown. 26 de junho de
2020. Disponível em: <https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/saude/avanco-da-covid-19-no-interior-paulista-
leva-prefeitos-na-faixa-vermelha-a-cogitar-lockdown,3644f547e24ad419e8320ffe7cf6bf925eyu8vyb.html>.
15 DF passa de modelo no combate à Covid-19 a estado de calamidade pública. 29 de junho de 2020.
Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/06/df-passa-de-modelo-no-combate-a-covid-
19-a-estado-de-calamidade-publica.shtml>.
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Ademais, são recorrentes as notícias que demonstram a situação de vários


estados brasileiros, cada um com suas particularidades e medidas sendo adotadas, como,
por exemplo, a determinação recente, pela Justiça Federal, que prefeitos de 21 cidades do
Mato Grosso adotassem o sistema de fechamento total (lockdown) para combater os
casos de coronavírus16, ou a recomendação feita pelo Conselho Municipal de Saúde a
decretação de lockdown em Belo Horizonte, devido ao avanço da doença e a ocupação
crítica dos leitos.17

16 Justiça Federal determina que prefeitos de 21 cidades de MT adotem ‘’lockdown’’ contra Covid-19. 30 de
junho de 2020. Disponível em: < https://www.jornalodiario.com.br/primavera-do-leste/destaques/justica-
federal-determina-que-prefeitos-de-21-cidades-de-mt-adotem-lockdown-contra-covid-19/222195>.
17 Belo Horizonte atende a critérios emergenciais para implementação de lockdown. 3 de julho de 2020.
Disponível em: < https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2020-07-03/belo-horizonte-atende-a-criterios-
emergenciais-para-implementacao-de-lockdown.html>.
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Por fim, de acordo com Nota Técnica emitida pela Fiocruz, existe uma
tendência à interiorização da epidemia, que está chegando de forma acelerada aos
municípios de menor porte do país, de modo que os gráficos contidos no Boletim
epidemiológico do Ministério da Saúde apontam justamente para essa tendência do
aumento de casos nos interiores das capitais brasileiras, com cerca de 60% de casos até
27 de junho de 2020, conforme se denota na Figura 22, página 21 do Boletim em
comento.
Dessa forma, diante de todos esses dados levantados, comprova-se que os
picos da pandemia do Covid-19 nos Estados do Brasil nunca ocorreram de maneira
uniforme, isso porque cada região e estado do país possui densidade populacional
e realidade econômico-social distinta, incluindo também diferentes medidas de
governo adotadas por cada Governador, e, em alguns casos, até Prefeito.
Diante disso, em um levantamento feito pelo Estadão, apontou-se que, após o
retorno das atividades não essenciais, houve aumento da média de infectados por dia em
São Paulo, Belo Horizonte e Vitória, no Sudeste. No Sul, três capitais também estão com
mais casos, como Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, enfatizando que o aumento do
covid-19 não é uniforme entre as capitais, conforme destaco trechos da notícia18:

18 Infecções aumentam em pelo menos 12 capitais que fizeram reabertura; HB está na lista. 05 de julho de
2020. Disponível em: <
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/07/05/interna_gerais,1162882/infeccoes-aumentam-em-pelo-
menos-12-capitais-que-fizeram-reabertura.shtml>.
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Sendo assim, além da iminência de decretação de medidas mais rígidas em


algumas regiões brasileiras, conforme supracitado, há possibilidade de haver uma
‘’segunda onda’’ da pandemia de Covid-19 em várias partes do Brasil,
principalmente agora a partir do mês de julho, com eventuais flexibilizações e
reabertura econômica, como é o caso de Brasília, em que o comércio reabriu e os casos
cresceram.
Dessa forma, o Diretor-Regional da Organização Mundial da Saúde para a
Europa, Hans Kluge, em entrevista realizada no dia 3 de junho de 2020, informou que ‘’a
segunda onda não é inevitável, havendo um risco claro de ressurgimento da
infecção’’, de modo que, apesar de alguns países terem uma diminuição nos casos de
contágio, ainda existem riscos concretos em muitos outros países.19
Ademais, de acordo com o Infectologista Carlos Fortaleza, do Departamento de
Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
em entrevista, a segunda onda de contágio ‘’é uma possibilidade em qualquer

19 OMS: Segunda onda da covid-19 é ameaça real, mas pode ser evitada. 03 de junho de 2020. Disponível
em: <https://noticias.r7.com/saude/oms-segunda-onda-da-covid-19-e-ameaca-real-mas-pode-ser-evitada-
03062020>.
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doença epidêmica transmissível’’, desde que a população não esteja imunizada


contra ela, como é o caso do coronavírus.20
Outrossim, na mesma entrevista, a Professora-adjunta do Departamento de
Medicina Preventiva e Social, e Coordenadora do curso de Epidemiologia da Universidade
Federal de Minas Gerais ressalva que a dinâmica de epidemia no Brasil é diferente, de
modo que outras ondas virão, diante da flexibilização das medidas de isolamento. Segue
abaixo trechos da entrevista:

Dito isso, é muito provável que cidadãos que possuíam renda antes de 02 de
julho de 2020, passem a viver em estado de extrema vulnerabilidade social, pois há
grande probabilidade que os governantes municipais e/ou estaduais adotem novas
medidas de isolamento social, fazendo que os planos de abertura econômica
retrocedam, e assim causem fechamento do comércio, proibição de circulação de
pessoas, atraso no retorno as aulas escolares, dentre outras medidas.
20 Entenda a segunda onda de covid-19 e qual a situação do Brasil. 20 de junho de 2020. Disponível em: <
https://noticias.r7.com/saude/entenda-a-segunda-onda-de-covid-19-e-qual-a-situacao-do-brasil-20062020>.
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Nesse sentido, a data limite para o requerimento do auxílio emergencial de 2


de julho de 2020 não atende as necessidades do Brasil como um todo, uma vez que
nos próximos meses (julho e agosto) há grande possibilidade de várias cidades do
Brasil entrarem em lockdown, prejudicando os trabalhadores, sobretudo os
informais e autônomos, que poderão perder sua fonte de sustento e ficarão
totalmente desamparados.
Isto posto, a limitação imposta pelo Decreto nº. 10.412 de 30 de junho de 2020
para o prazo de requerimento do auxílio emergencial, além de evidente violação ao
princípio da legalidade, demonstra a insuficiência da devida proteção social, na
medida em que desempregos e falta de trabalho para autônomos, em decorrência
do bloqueio de circulação, continuarão a ocorrer mesmo após a data de 02/07/2020.

IV.III– DA EXISTÊNCIA DE DIFICULDADES PARA O REQUERIMENTO DO AUXÍLIO


EMERGENCIAL POR MEIO DO APLICATIVO

Diante do exposto, além das medidas de isolamento mais rígidas em algumas


regiões do Brasil, que, ao serem decretadas, gerarão desempregos em massa e
instabilidade financeira para aqueles indivíduos que já estão em estado de vulnerabilidade
social, o próprio aplicativo da Caixa Econômica Federal vem apresentando diversas
dificuldades e empecilhos para os cidadãos que requerem o auxílio emergencial.
Nesse sentido, por conta das dificuldades geradas pelo sistema da Caixa,
juntamente com o estabelecimento da data limite para o requerimento do auxílio
emergencial, muitos indivíduos podem vir se prejudicar por não conseguir efetivar o
requerimento até a data limite por conta de instabilidades e erros do próprio sistema.
Assim, inúmeras são as dificuldades encontradas pelos cidadãos, desde a
efetivação do requerimento, até dificuldades para sacar o valor referente ao auxílio

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emergencial. Segue abaixo alguns relatos, extraídos da reportagem feita pela


FOLHAPRESS21, de cidadãos que tiveram dificuldades com o aplicativo da Caixa:

21 Relatos extraídos da reportagem: Dificuldade com Caixa Tem motiva fila do auxílio emergencial. 05 de
maio de 2020. Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2020/05/dificuldade-com-
caixa-tem-motiva-fila-do-auxilio-emergencial-
ck9ukc73301eo01o8e0l7op27.html#:~:text=O%20aplicativo%20permite%20a%20transfer%C3%AAncia,por
%C3%A9m%2C%20isso%20nem%20sempre%20funciona.>.
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Além disso, segundo relatório Controladoria-Geral da União (CGU)22, responsável


pelo Fala.BR, emitida no mês de maio, 68% das manifestações sobre o auxílio
emergencial são de pessoas que tiveram o benefício negado. De acordo com o relatório,
‘’nas manifestações, os cidadãos alegam se enquadrar nas exigências por estarem
desempregados, sem vínculos, ou não se encontrarem na situação descrita como
motivo de negativa do benefício, e pedem revisão ou alguma medida para receber o
auxílio devido.’’
Ainda assim, o relatório mostrou que há relatos de pessoas que tiveram
dificuldades de contestar a negativa por meio do aplicativo, tendo em vista supostos erros
que ocorrem na solicitação, e de cidadãos que não conseguiram soluções pelos telefones
apropriados.
Outrossim, em uma publicação do Portal Correio23, a maioria das reclamações diz
respeito ao cadastro dos CPF’s tanto dos titulares do benefício, como de seus
dependentes e parentes de primeiro grau. Em um dos relatos expostos, foi discorrido que
o prazo estipulado pela Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev)

22 Não contemplados com auxílio emergencial buscam orientação no Fala.BR. Relatório aponta que mais de
mil pessoas recorreram à plataforma. 12 de maio de 2020. Disponível em:
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-05/nao-contemplados-com-auxilio-emergencial-
buscam-orientacao-no-falabr>.
23 Beneficiários relatam problemas para obter auxílio emergencial. 20 de maio de 2020. Disponível em:
<https://portalcorreio.com.br/beneficiarios-relatam-problemas-para-obter-auxilio-emergencial/>.
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para verificação e disponibilização do auxílio emergencial não teria sido cumprido, como
se segue:

Ademais, em recente publicação24, trabalhadores reclamam de fila e falhas para


acessar o aplicativo da Caixa Tem, sendo relato problemas no dia 04 de julho de 2020 em
que, segundo a reportagem, seria o terceiro dia seguido que o sistema registra
instabilidade. A Caixa, no entanto, reiterou um posicionamento informando que na primeira
semana de julho ocorrem os processamentos de fechamento e início de mês, somados
aos lançamentos dos créditos dos benefícios emergenciais, o que faz gerar instabilidades
em alguns serviços.
Dito isso, observa-se a existência de empecilhos e dificuldades no momento
de requerer o auxílio emergencial, ou, até mesmo, de outros serviços referentes ao
seu processamento, em que faz com que aquele cidadão que venha a ter o
preenchimento de todos os requisitos necessários para o recebimento do auxílio
não o receba.
Nesse seguimento, determinar uma data limite, diversa do intervalo de tempo
de vigência do benefício, para o requerimento do auxílio emergencial, frente à todas

24 Trabalhadores reclamam de fila e falhas para acessar aplicativo Caixa Tem. 4 de julho de 2020.
Disponível: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/07/04/auxilio-emergencial-fgts-aplicativo-
caixa-tem-problemas-instabilidade.htm>.
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as circunstâncias e falhas causadas pelo próprio sistema da Caixa Econômica


Federal, é cercear o direito que o trabalhador autônomo ou desempregado venha a
ter, já que, por exemplo, um indivíduo pode perfeitamente, por dificuldades
operacionais, não ter condição técnica e material de ter realizado o requerimento
antes da data limite de 02/07/2020.
Desse modo, a não prorrogação do prazo do requerimento do auxílio emergencial
apenas irá intensificar as consequências que irão ser geradas para diversos trabalhadores
que não conseguiram requerer no prazo legal por dificuldades e empecilhos que o próprio
aplicativo da Caixa vem causando, conforme mencionado.

IV.IV– DA CRISE ECONÔMICA E DO DESEMPREGO EM MASSA POR CONTA DA


PANDEMIA

É importante destacar um dos reflexos gerados não só pelas medidas de


isolamento social mais rígidos, mas também pela pandemia como um tudo, que circunda
na crise econômica e nos desempregos em massa, afetando, principalmente, indivíduos
que antes de qualquer decretação de medida de isolamento já viviam em estado de
vulnerabilidade social.
Diante disso, de acordo com a Nota Informativa Uma Análise da Crise gerada pela
Covid-19 e a Reação de Política Econômica- em anexo-, emitida pelo Ministério da
Economia, em 13 de maio de 2020, a sucessão de efeitos do coronavírus sobre a
economia brasileira podem ser descritos em três períodos.
O primeiro período diz respeito ao lapso temporal de fevereiro até o final de
março, em que a economia recebeu os primeiros choques decorrentes da pandemia. O
segundo período, que merece destaque, marcado por choques e crise sobre o emprego, e
a renda, sendo referente ao período de abril a julho. Dessa forma, no segundo período, a
crise econômica surge, gerando uma queda no emprego e na renda dos trabalhadores de
forma imediata, conforme disposto na referida nota técnica:
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No período 2, a crise econômica se aprofunda. A queda no emprego e na


renda dos trabalhadores informais é praticamente imediata. A queda
no emprego e na renda dos trabalhadores formais também ocorre, mas
com alguma defasagem. Isso ocorre devido aos custos associados à
demissão de trabalhadores formais e à interrupção imediata nas
contratações de novos trabalhadores. Tentando evitar tais custos, as
empresas buscam alternativas antes da demissão do empregado. Contudo,
à medida que a crise se aprofundar, os impactos no emprego e renda dos
trabalhadores do setor formal serão severos. (...)

Espera-se grande aumento no número de falência de empresas,


principalmente das micro e pequenas empresas, que terão severos
problemas de caixa, decorrentes das restrições ao comércio de bens e
serviços determinadas por estados e municípios, bem como da retratação
natural da demanda, embora tenham custos fixos mantidos, como
pagamento de aluguéis, juros, salários e impostos.

Ainda de acordo com a Nota Informativa, o terceiro período, que corresponde ao


período de agosto de 2020 até 2021, será o de retomada econômica, sendo caracterizado
por contas públicas deficitárias, desemprego em alta, produção e renda em baixa, e
número de estabelecimentos comerciais em queda. Ou seja, os impactos na economia
em decorrência da pandemia serão e estão sendo devastadores, com previsões de
que os meses de julho/agosto/setembro sejam marcados por forte aumento do
desemprego e o aprofundamento da crise econômica no País.
Isso porque, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE,
a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios- PNAD, um total de 12,4
milhões de pessoas foram afastadas no trabalho, devido ao distanciamento social,
entre o período de 07/06/2020 a 13/06/2020, sendo a maior proporção de pessoas
afastadas a de trabalhadores domésticos sem carteira assinada, com cerca de 33,6% dos
trabalhadores.
Além disso, dentre as 12,4 milhões de pessoas que foram afastadas do
trabalho, em decorrência do isolamento social, 9,7 milhões de pessoas foram
afastadas SEM remuneração, o que enfatiza o desemparo econômico que muitos

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cidadãos estão vivendo. Outrossim, é importante mencionar que a taxa de desocupação


subiu quase 2% entre o mês de maio e junho, demonstrando o crescente índice de
desemprego gerado pela pandemia.25 Segue abaixo gráfico evolutivo da taxa de
desocupação no Brasil entre 03/05/2020 até 13/06/2020:
:

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Subutilização da força de trabalho- Taxas de


desocupação. 2020).

Não obstante a isso, o IBGE informou dia 30/06/2020 que a pandemia da Covid-19
destruiu 7,8 milhões de postos de trabalho no Brasil, até o mês de maio, sendo a primeira
vez na história da PNAD Contínua que registra menos da metade das pessoas em idade
para trabalhar empregadas, de modo que o mercado de trabalho brasileiro fechou mais
331,9 mil vagas em maio.26

25 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados coletados a partir: <https://covid19.ibge.gov.br/pnad-


covid/trabalho.php>
26 Pandemia aniquilou 7,8 milhões de postos de trabalho no Brasil. 30/06/2020. Disponível em:
<https://cidadeverde.com/noticias/327295/pandemia-aniquilou-78-milhoes-de-postos-de-trabalho-no-brasil>.
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Isso sem ressaltar que o primeiro mês de isolamento destruiu 8,6 milhões de
empregos no Brasil, sendo os principais afetados, entre o mês de março e abril,
dentro da população ocupada, os trabalhadores informais e os autônomos.27
Outro dado relevante divulgado em janeiro de 2020 na Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (PNAD- continuidade) que utilizou dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi a alta do trabalho informal no Brasil, que
cresceu 0,3% no país em 2019. O índice representa um aumento de 1 milhão de
pessoas nessa condição de informalidade. Com isso, a taxa de informalidade passa a
ser de 41,1% da força de trabalho, totalizando um contingente de 38,4 milhões de
pessoas. É o maior número desde 2016. Cabe ressaltar que a informalidade considera o
conjunto dos trabalhadores sem carteira assinada, incluindo trabalhadores domésticos,
empregadores sem CNPJ, pessoas que atuam por conta própria sem CNPJ e ainda os
trabalhadores familiares auxiliares. Este último grupo engloba aqueles que atuam no
segmento sem remuneração.
Diante disso, o auxílio emergencial tem como objetivo primordial beneficiar os
cidadãos que ficaram parcial ou totalmente desamparados por conta, principalmente, de
medidas de isolamento mais rígidas, ou aqueles que estão na iminência de ficarem
desempregados ou aqueles que estão na informalidade e portanto são vulneráveis ainda
pois dificilmente irão conseguir obter trabalho formal nesta época de profunda crise
econômica.
Isso porque, de acordo com a Nota Informativa Análise da Abrangência,
focalização e do efeito distributivo do auxílio emergencial baseado na PNAD COVID-19,
emitido em 8 de julho de 2020 pelo Ministério da Economia, a partir da análise de dados,
concluiu-se que o auxílio emergencial teve um impacto significativo entre os

27 Primeiro mês de isolamento destruiu 8,6 milhões de empregos no Brasil. 09 de maio de 2020. Disponível
em: < https://www.faroldabahia.com.br/noticia/primeiro-mes-de-isolamento-destruiu-86-milhoes-de-
empregos-no-brasil>.
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domicílios de baixa renda per capita, onde os efeitos da pandemia foram mais
severos.
Nesse sentido, esses domicílios são caracterizados por pessoas que não
possuem uma fonte de renda advinda do mercado de trabalho formal, bem como de
pessoas sem qualquer tipo de renda, tratando-se de brasileiros que, de modo geral,
sobreviveram apenas com os rendimentos recebidos do auxílio emergencial,
conforme exposto na Conclusão 2 da referida nota informativa.
Por tudo isso, observa-se que a imposição da data limite para o requerimento do
auxílio emergencial, assim como a não prorrogação desse prazo, atingirá dois grandes
grupos:
1) Os indivíduos que estarão impossibilitados de trabalhar por determinação
eventual de nova medida de isolamento, quarentena, lockdown, entre outros, bem
como as pessoas que serão dispensadas do trabalho (em alguma de suas diversas
vertentes), não podendo exercer suas atividades de forma autônoma, pela pandemia
e pela crise econômica concomitante a pandemia;
2) Os indivíduos que não preenchiam os requisitos elegíveis para receber o
benefício antes da data final de 02 de julho de 2020, assim como os cidadãos que
não conseguiram requerer no prazo imposto por problemas estruturais de
inacessibilidade, por viver em lugares remotos, por não possuírem celular, e, até
mesmo, por não saberem manusear corretamente o aplicativo da Caixa. Portanto,
essas dificuldades ocorrem, principalmente, aos cidadãos que vivem em extrema
vulnerabilidade social.

V– DA TUTELA DE URGÊNCIA

Em decorrência do exposto, a imposição de um prazo limite para o requerimento


do auxílio emergencial, através do Decreto nº. 10.142, impacta diretamente vários
indivíduos que se encontram em situações precárias de subsistência, sendo essas

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circunstâncias agravadas cada dia mais por conta do atual cenário pandêmico em que
vivemos.
Diante disso, reforça-se a necessidade de que a tutela antecipatória seja utilizada
como mecanismo de distribuição isonômica do ônus do tempo do processo. Isso porque, o
pleito ora formulado se refere ao restabelecimento e prorrogação do prazo de
requerimento do auxílio emergencial, benefício esse de caráter alimentar,
substitutivas da renda daqueles que tiveram suas atividades profissionais
inviabilizadas seja direta, ou indiretamente, pelas medidas sociais restritivas decorrente
da pandemia.
Assim, o Código de Processo Civil de 2015 prevê duas espécies de tutelas
provisórias (art. 294 CPC/2015), quais sejam: tutela de evidência, fundada no alto grau de
probabilidade do direito invocado e a tutela de urgência, fundada a afastar o dano ou o
ilícito em caso de probabilidade do direito associado ao risco de demora. Nesse sentido o
art. 300 do Código de Processo Civil em vigor:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos


que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o
caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos
que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada
se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida
quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Nesse sentido, a probabilidade do direito alegado resta suficientemente


demonstrada por toda a documentação contida nos documentos anexados, em especial
documentos oficiais oriundos dos entes públicos envolvidos (OMS, Ministério da
Economia, DATAPREV), reforçada pelas notícias veiculadas em diversos meios de

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imprensa nacional, cujas informações confirmam a verossimilhança do requerimento de


prorrogação do prazo em comento.
Quanto ao perigo de demora, as consequências geradas e aquelas que podem
insurgir ao longo dos dias já foram exaustivamente discorridas, de modo que, dezenas de
milhões de indivíduos poderão ser imensamente prejudicados caso não haja
prorrogação do referido prazo, já que se trata de uma questão de subsistência e
segurança alimentar, sendo a situação, a cada dia que passa, agravada, tendo em
vista o número do potencial de impactados pela pandemia aumentar diariamente.
Por fim, destaca-se que aguardar o trânsito em julgado para determinar que a ré
efetive a prorrogação do prazo de requerimento do auxílio emergencial significaria o
mesmo que negar jurisdição aos direitos coletivos aqui lesados, justamente pela
imposição de um prazo que já está em vigor.
É necessário, ademais, que esta demanda seja analisada prioritariamente
por esse juízo federal, por se tratar de ação em que se discutem verba de natureza
alimentar para grande parcela da população brasileira que se enquadra nos
requisitos dispostos para o recebimento do auxílio emergencial, cujos grupos
familiares compreendem cidadãos em situação de vulnerabilidade social
intensamente agravada pela pandemia.
Assim, todos os atos processuais decorrentes do pedido de tutela de
urgência, formulado nesta oportunidade, devem ser praticados em regime de
urgência.

VI- DOS PEDIDOS

Como Instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a Defensoria Pública


da União, incumbida da orientação jurídica e a defesa dos necessitados, nos termos da
Constituição Federal, requer, perante Vossa Excelência:

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1) A concessão liminar de tutela provisória de urgência, uma vez que


presentes os seus requisitos, para que seja determinado à UNIÃO FEDERAL e à
DATAPREV que seja restabelecido e prorrogado, pelo período de vigência do
benefício, o prazo para requerimento do auxílio federal emergencial,
restabelecendo-se em sua plenitude os sistema para solicitação, habilitação e
liberação do benefício, tendo em vista o caráter emergencial e de subsistência,
assim como da extrema necessidade de manter a segurança alimentar dos
cidadãos;
2) O julgamento totalmente PROCEDENTE da presente demanda, com a
confirmação da medida antecipatória, para que a União Federal e a DATAPREV
restabeleçam e prorroguem o prazo de inscrição de novos requerimentos, pelo mesmo
período da prorrogação do benefício em si, do Auxílio Federal Emergencial,
restabelecendo-se em sua plenitude os sistema para solicitação, habilitação e liberação do
benefício, para que o benefício seja recebido em sua totalidade;

3) Subsidiariamente, que se permita a prorrogação do prazo de requerimento,


a fim de que os cidadãos se habilitem para receberem, pelo menos, os dois meses de
prorrogação;

4) A intimação pessoal da Defensoria Pública da União, de todos os atos


processuais e a contagem dos prazos processuais em dobro, na forma do inc. I do art.
44 da Lei Complementar nº 80/94;

5) A citação dos réus para, querendo, apresentarem resposta;

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6) a condenação dos Réus ao pagamento das custas judiciais e honorários


sucumbenciais, estes últimos a serem revertidos ao fundo de aparelhamento da Defensoria
Pública da União, nos termos do artigo 4°, inciso XXI, da Lei Complementar Federal n° 80/94;

Protesta e requer, desde logo, a produção de todos meios probatórios admitidos em


direito.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), para fins meramente
processuais

NESTES TERMOS, PEDE DEFERIMENTO.


Fortaleza/CE, 11 de julho de 2020.

WALKER TEIXEIRA DEDÊ E PACHÊCO


Defensor Público Federal
Defensor Regional de Direitos Humanos

Processo: 0807901-56.2020.4.05.8100 48
Assinado eletronicamente por:
WALKER TEIXEIRA DEDE E PACHECO - Procurador
20071109474975200000018511572
Data e hora da assinatura: 11/07/2020 09:51:58
Identificador: 4058100.18488881
Para conferência da autenticidade do documento: https://pje.jfce.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam 48/48

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