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A POSIÇÃO DO NÃO-SABER
“Não entendo. Isto é tão vasto que ultrapassa qualquer
entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender
pode não ter fronteiras. Sinto-me muito mais completa
quando não entendo. (...) Só que de vez em quando vem a
inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas
pelo menos entender o que não entendo.”
Clarice Lispector, A Descoberta do Mundo, 1999.
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Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social. NOB/SUAS. Construindo as bases para a
implantação do Sistema Único de Assistência Social. Brasília, Julho de 2005. MDS. Edição Eletrônica.
sócioeducativo em determinados momentos, o que por sua vez, transparecem a princípio
serem pouco ou nada convidativa ou disposta à construção.
A metodologia do trabalho de rede inclui um processo de co-construção num
contexto em que todos os elementos envolvidos (equipe técnica das medidas, instituições
e adolescentes) sejam empoderados, uns pelos outros, de autonomia. Podemos nomear
a constituição deste grupo em torno do problema (cumprimento da medida sócio
educativa) como rede social. De maneira que todos consigam participar de maneira
autêntica do processo em questão, nesse caso, o processo de cumprimento da medida do
adolescente, incluíndo responsabilização, acompanhamento, construção da atividade,
articulação e encaminhamento.
A metodologia de trabalho das medidas sócioeducativas da PBH tem desenvolvido
um excelente trabalho de escuta com adolescentes, mas avalio que este zelo e escuta,
deve ser estendido à rede socioassistencial com a qual trabalhamos, sem a qual torna-se
impraticável o trabalho do técnico.
Esse processo de co-construção num contexto de autonomia requer que o
profissional abdique da idéia de provocar mudança ou transformação do adolescente ou
da instituição. Torna-se necessário adotar uma posição de não saber. Explico: o técnico,
de fato, não é detentor de todo o conhecimento, mas lhe é atribuído esse poder, o poder
de executar a medida. Contudo, o profissional não tem o direito de lhes dizer o que fazer,
mas sim coordenar a conversação de maneira que todos os envolvidos construam. Logo,
torna-se muito mais interessante um “expert em contexto” do que um “expert em
conteúdo”. Conduzindo as conversações para que não somente o adolescente possa se
expressar, mas também a instituição.
LISPECTOR, Clarice. Não Entender. In: A Descoberta do Mundo. Rio de Janeiro: Rocco,
1999. pág. 172.