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Juristas críticos ou críticos juristas?

Arnaldo Lemos Filho (Professor Titular de Sociologia Geral e Jurídica da


Faculdade de Direito da PUC de Campinas e da UNIP de Campinas)
Glauco Barsalini (Professor de Sociologia Geral e Jurídica da Faculdade de
Direito de Itu, Padre Anchieta, da UNIP de Campinas e de São José dos
Campos)

"Do ponto de vista do advogado,a


investigação sociológica é estranha a seu quadro de
referência. Poder-se-ia dizer que, com
referência ao edifício conceitual do Direito, a atividade
do sociólogo seja de caráter subterrâneo. O advogado só se
ocupa daquilo que se poderia chamar de concepção oficial da
situação. Com muita freqüência, o sociólogo lida com
concepções em nada oficiais. Para o advogado, o essencial
consiste em saber como a lei considera certo tipo de
criminoso; para o sociólogo, é igualmente importante ver
como o criminoso considera a lei" (BERGER, Peter.
Perspectivas Sociológicas, p. 39, 1993)

Todos os cursos de Direito têm como disciplina obrigatória, em seu


primeiro ano, Sociologia Geral. Em 1997, por deliberação do
Ministério da Educação, esses cursos tiveram de incluir nova cadeira,
intitulada Sociologia Jurídica. Com isso, o curso de Ciências
Jurídicas e Sociais, assim denominado o curso de Direito, passa a
oferecer para os estudantes duas matérias diretamente ligadas às
Ciências Sociais. Crescem, dessa forma, as oportunidades do professor
de Sociologia em, não somente transmitir conceitos dessa ciência, mas
também desenvolver a consciência crítica em seus alunos,
característica basilar do cientista social.

Agarrando essa nova oportunidade, propusemo-nos, ao longo do ano de


1997,à promoção de um curso dividido em duas etapas: a primeira,
essencialmente teórica, destinava-se a transmitir alguns conceitos
básicos das Ciências Sociais, e a estudar, de forma tópica, alguns
fundamentos dos clássicos, relacionando-os com os momentos históricos
de sua formalização; a segunda, diversamente, seria constituída do
enlace entre o estudo teórico e a pesquisa de campo, tendo como
referência temas afins, tanto às Ciências Sociais, quanto às
Jurídicas.

Nossa preocupação, todavia, não estava no cumprimento exato do


programa que havíamos elaborado mas, sim, em algo maior. Visávamos
desenvolver no aluno de Direito a criticidade do cientista social. O
programa constituía, para nós, sobretudo um meio de atingirmos tal
fim, qual fosse: o desenvolvimento do olhar crítico do estudante
frente à realidade social, dentro da qual se insere o Direito.

Wright Mills em seu livro "A imaginação sociológica", referindo-se ao


"homem comum", o homem que interpreta a realidade a partir do senso-
comum, não fazendo mais que reproduzi-lo tal como a ele se
apresentou, afirma:

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"O que precisam, e o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito
que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de
perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode
estar acontecendo dentro deles mesmos. É essa qualidade, afirmo, que
jornalistas e professores, artistas e público, cientistas e editores
estão começando a esperar daquilo que poderemos chamar de imaginação
sociológica", e continua, "a imaginação sociológica capacita seu
possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de
seu significado para a vida íntima e para a carreira exterior de
numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos,
na agitação de sua experiência diária, adquirem freqüentemente uma
consciência falsa de suas posições sociais." (MILLS, Wright. A
imaginação sociológica, p. 11)

Caberia a nós, portanto, plantar em cada aluno o germe daquilo que


redundaria, no futuro, em imaginação sociológica, ou seja, em
consciência crítica sobre a realidade social, sobre a sua própria
realidade.

Em uma sociedade como é a nossa, orquestrada por determinações


legais, em que a forma se impõe sobre o mérito, camuflando não
raramente os verdadeiros conteúdos, e cujo poder de comando está 
justamente nas mãos daqueles que compreendem com precisão essa forma,
ou seja, daqueles que entendem de lei, faz-se necessário formar novas
gerações de juristas, capazes de compreender sociologicamente a
sociedade, animados pelo espírito da criticidade; enfim, professores
da imaginação sociológica.

O sociólogo português José Madureira Pinto enseja grande contribuição


sobre o assunto, através de seu artigo "Epistemologia e Didática da
Sociologia", escrito em 1983, com Posfácio produzido em 1991.

Esse professor insere o conceito de "ruptura das evidências". Para


ele, a ciência está  e é (pela própria condição de produto social)
embebida no senso-comum. Ela parte do senso-comum, e por ele é
assimilada, dentro de um processo dinâmico, socialmente estabelecido.
Assim, é necessário que ela sempre supere a si mesma, justamente para
que continue a existir, de modo que guarde diferença em relação ao
senso-comum, apesar de a ele estar sempre submetida.

Dessa forma, quando traz algo novo, algo revolucionário para o seio
da sociedade, tem isso assimilado, mas não no plano profundo a que se
propõe estabelecer a nova discussão, e sim na esfera superficial do
senso-comum.

Com isso, é fácil encontrarmos "não cientistas sociais" falando de


luta de classes, economia burguesa, ou mesmo de ética na política. O
difícil é encontrarmos "não sociólogos" que pronunciem esses termos
e, até‚ emitam pareceres sobre os mesmos, e que realmente saibam o
que eles significam, quais os seus fundamentos históricos e
materiais, por que existem, e, o mais importante, como de fato se
processam, incidindo diretamente sobre a vida de cada um de nós.

Para Madureira Pinto, é através de uma catarse intelectual e afetiva


que o sujeito rompe com as evidências, superando a visão em que
insiste o senso-comum, e atingindo a consciência científica. Para que
isso ocorra, sugere, em suas palavras, "a rápida diluição das

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fronteiras que separam a sala de aula dos contextos potenciais da
observação metódica e da intervenção prática sobre o real." (PINTO,
José Madureira, p. 204)

Preocupados com a "ruptura das evidências", portanto, com a superação


do senso-comum, é que propusemos uma inovação no desenvolvimento
programático do curso de sociologia.

A escassa bibliografia em relação à Sociologia do Direito,


caracterizada por uma visão eminentemente positivista da sociedade,
nos levou à realização de um curso em que a pesquisa de campo,
acompanhada de seminários, levasse os alunos a relacionar os
conceitos adquiridos, com a dinâmica da realidade social.

Entendemos que a melhor maneira de promovermos a "diluição das


fronteiras entre a sala de aula e a realidade" seria, justamente,
pormos os alunos em contato direto com essa realidade social.

Dessa forma, dividimos os trabalhos em quatro grandes temas, quais


sejam: "A Desigualdade Social", "Estado e Ideologia", "O Trabalho", e
"Movimentos Sociais". Destes, cada grupo (oito em cada sala, sendo
que ministrávamos o mesmo curso em duas salas), tirou um sub-tema.
Assim, surgiram temas como "A Prostituição Infantil", "Acidentes de
Trabalho", "A Violência nos Meios de Comunicação de Massa",
"Habitação", dentre outros.

A regra era que cada um dos grupos deveria pesquisar bibliografias


sobre o seu tema. Após proceder a essas leituras, levantar dados
produzidos por órgãos governamentais ou da sociedade civil,
estatísticos ou não, e, finalmente, entrar em contato com aqueles
que, na realidade social, estão diretamente envolvidos com esses
temas, entrevistando-os, conversando com eles, entrando em suas
casas. Enfim, realizando de fato uma pesquisa de campo. Todo esse
esforço não configuraria um trabalho restritamente sociológico,
destinado somente ao campo de interesse da Sociologia. Porém, esse
conjunto conteudístico deveria ser relacionado com o direito (a
jurisprudência e a lei), mas relacionado de maneira sociológica, e
não meramente formal. O que pretendíamos, com isso, era justamente
promover a descoberta, para a maioria dos primeiranistas, da
criticidade, e, conseqüentemente, o exercício do raciocínio crítico,
ou seja, da "imaginação sociológica".

Pois bem. Os trabalhos foram feitos, tendo-se naturalmente alguns se


destacado mais que outros. Porém, notamos, tanto nos seminários,
quanto nos trabalhos escritos, que nosso objetivo central não fora
atingido. As pesquisas de campo foram realizadas, e, diga-se de
passagem, muito bem realizadas. Os levantamentos de dados, com
riqueza de detalhes. As bibliografias e as legislações, lidas.
Todavia, aquilo tudo não parecia ter atingido organicidade.

Os alunos não estabeleceram uma relação orgânica entre todos aqueles


elementos, de modo que o seu esforço levantou dados muito importantes
e realidades dignas de registro que configuraram em suas cabeças,
porém, como "departamentos" distintos, que, por terem naturezas
diferentes, devem continuar separados.

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Em última análise, seu olhar sobre o objeto de estudo foi
fragmentário, marca da visão própria ao senso-comum. Pode-se dizer
que apenas sentiram o aroma da criticidade, por terem entrado em
contato com bibliografias e realizado pesquisas, mas que, de fato,
não descobriram a criticidade e, com isso, logicamente, não
exercitaram a "imaginação sociológica".

Pondo em teste essa forte impressão que nos ficou, resolvemos


submeter os mesmos alunos a um pequeno questionário de tipo
qualitativo. Pedimos que respondessem, por escrito, às seguintes
questões:

O que você achou da metodologia de trabalho aplicada pela disciplina


Sociologia, durante o 2o semestre, utilizando-se de seminários,
pesquisas e trabalhos em grupo? Quais são os pontos positivos e
negativos dessa metodologia?
Art. 5o. da Contituição Federal Brasileira: "Todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXII- é garantido o direito de propriedade;
XXIII- a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante
justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
previstos pela Constituição";

"O advogado só se ocupa daquilo que se poderia chamar de concepção


oficial da situação. Com muita freqüência, o sociólogo lida com
concepções nada oficiais. Para o advogado, o essencial consiste em
saber como a lei considera certo tipo de criminoso; para o sociólogo,
é igualmente importante ver como o criminoso considera a lei" (Peter
Berger, Perspectivas Sociológicas, Ed. Vozes, 1983, p. 39).

Após estudar Sociologia Geral e Jurídica, como estudante de direito,


como você analisa os incisos do artigo 5o da C.F.?'

Responderam ao questionário 133 alunos, sendo 66 da turma A e 67 da


B. Resolvemos analisar um conjunto amostral de 12% das respostas de
cada sala, totalizando 24% dentro do universo dos 133 alunos.
Separamos os alunos em quatro categorias: aqueles que,
individualmente, através de nota de prova durante o primeiro
semestre, foram mal (notas entre 2,0 e 4,9); os que foram regulares
(entre 5,0 e 6,9); os que foram bem (entre 7,0 e 8,4); e os que foram
muito bem (entre 8,5 e 10). Dentro dessas categorias, escolhemos
aleatoriamente dois alunos, totalizando-se na somatória das quatro
categorias, oito alunos, chegando-se aos 12% do total de cada sala.

Porém, dentre esses oito alunos, escolhemos um, fugindo à regra da


aleatoriedade. Tanto na turma A, quanto na B, escolhemos um aluno que
destoava em idade em relação aos outros, sendo mais velho, tendo mais
experiência de vida, e já  tendo passado por outros cursos
universitários. Fizemos isso embasados na hipótese de que, talvez,
alguns alunos já ingressem na faculdade embuídos do espírito de
criticidade, tão almejado por nós. E, acreditando na possibilidade de

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que o escolhido seja alguém com certa experiência intelectual e de
vida ‚ bem maior do que a de outra pessoa que acabe de sair do 2 o
grau e beire os 20 anos de idade.

Selecionamos, aqui, as respostas de dois alunos de cada turma, a


título ilustrativo, para que o texto não se torne enfadonho.

Aluno O.S.: "1) A atividade em classe é bastante sólida para que os


alunos possam treinar a expressar-se com maior desenvoltura. Acho
válida a experiência. Um aspecto pouco negativo ‚ que o nível das
apresentações depende do esforço e capacidade dos alunos, porém em
nossa classe podemos afirmar que a média foi de bons trabalhos.
Podemos ter uma visão um tanto crítica destes incisos, uma vez que
foi visto em diversos aspectos que a propriedade nem sempre atende à
função social. Há casos em que a propriedade possa refletir uma
situação de exploração dos mais fracos e necessitados, em vantagem de
alguns poderosos. Como estudantes de direito não podemos nos ausentar
a estes fatos e (devemos) lutar pela melhoria.";

Aluno A.C.: "1) A metodologia adotada, para a matéria, em minha


opinião, foi correta, já que mesclou parte teórica (1 o semestre) com
parte prática - pesquisas, trabalhos (no 2 o semestre). Como ponto
positivo principal, o segundo semestre trouxe em face dos seminários,
uma maior aproximação, não só entre os integrantes de cada grupo,
como de grupos entre si. Como ponto negativo, a falta de tempo de
alguns dos alunos...
2) Há  uma interligação direta entre Direito e Sociologia. No caso
dos incisos, essa interligação se acentua, já que os aspectos legal e
social estão bastante explícitos, tanto no "caput", como nos incisos
sob análise. Não há  como separar as duas disciplinas, principalmente
neste caso.";

Aluna F.C.: '1) Eu achei que as aulas, da forma que foram ministradas
no 2o semestre, foram muito mais proveitosas, e (de) por minha
parte, tive maior interesse e participação. Para mim, o único ponto
negativo foi que nem todo o grupo se interessou pelo trabalho, nem
todo mundo participou.
2) Os incisos do artigo 5o são importantes para a regulamentação de
normas que regem o convívio social no que é referente a (à)
propriedade, sua e alheia; juridicamente preserva o direito do
cidadão e sociologicamente tenta impossibilitar desavenças entre os
cidadãos, tenta impor a "paz social".'

Aluna F.S.: '1) A metodologia de trabalho aplicada pela disciplina


Sociologia, durante o 2o semestre utilizando-se de seminários,
pesquisas e trabalhos em grupo foi muito boa. É sempre uma
experiência a mais de Direito onde os alunos devem ser desinibidos.
No final do curso também será feita uma monografia, tem que ter
pesquisa também, então com o seminário você conhece também um pouco
do que é e como se faz pesquisa de campo, entrevistas, enfim. Então a
vantagem maior: alguma experiência adquirida principalmente quando se
pesquisa, as pessoas da sala se comunicam mais, dão idéias, isso é
importante (o relacionamento) (,) etc. Desvantagem: o aluno não se
sente "obrigado" a estudar a matéria dada no semestre, mas também vai
da consciência de cada um, pois quem não estuda não assimila.
2) Após estudar Sociologia Geral e Jurídica, como estudante de
direito gostaria antes de responder objetivamente a questão (,) dizer

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que os seminários do 2o. semestre ajudaram para dar uma visão não só
jurídica (,) mas também sociológica das desigualdades sociais, das
ideologias e o Estado, ou seja, o papel do Estado, dos movimentos
sociais (,) etc. Então a partir, principalmente, desses seminários
pude verificar que na teoria o que está  estatuído, incisos XXII,
XXIII, XXIV são muito bonitos, mas não em muita, ou quase nenhuma
aplicação prática. É garantido o direito de propriedade, para quem? O
que se vê são muitos desabrigados, sem-teto. A propriedade atenderá
sua função social, mas não para todos. E assim por diante. A lei
estabelecerá  o procedimento para despropriação por necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, mas "quase nunca" com
justa e prévia indenização. E assim é a lei, e assim é o Brasil.'

Observe-se que todas as respostas à primeira pergunta seguem o mesmo


sentido. A prática dos seminários e das pesquisas de campo tiveram
aceitabilidade total entre os alunos, tendo essa avaliação se
repetido em todos as dezesseis respostas lidas.

A dinâmica originada pelo método de construção do conhecimento, que


tem como ponto de partida o envolvimento direto do aluno com a
pesquisa, comprova-se muito mais atraente, para os alunos, do que a
tradicional aula expositiva.

Não nos desfizemos aqui, evidentemente, da aula teórica expositiva.


Sem ela, as dificuldades em se desenvolverem as pesquisas seriam, sem
sombra de dúvidas, muito maiores; ou até, no limite, o aluno não
conseguiria cumprir esse intento, pela ausência completa de
referenciais dos quais pudesse partir.

O caminho do trabalho prático, aliado ao teórico, e, sobretudo,


consubstanciado no contato direto do estudante com a realidade do
mundo que o cerca, tem se confirmado, no mínimo, o mais sedutor. E a
educação depende da sedução. Só aprende aquele que se sente atraído
pelo aprender, seja pelo objeto desse aprender, seja pelos meios que
o aprendizado oferece, ou seja, pelo gosto que essa entidade, em si
mesma, oferece àqueles que dela têm sede.

Vamos agora à segunda questão. Note-se que há um elo de ligação entre


a primeira e as duas últimas respostas. Todas elas reproduziram
discursos científicos, sejam eles do campo das Ciências Sociais,
sejam do terreno do Direito. A primeira, abordou a luta de classes; a
terceira, fez a apologia do direito, baseada na idéia de que a lei é
boa, os homens é que são maus; a quarta, trabalhou também a idéia de
luta de classes, porém reproduzindo com mais completude chavões
sociológicos.

E a segunda resposta? A do aluno A.C. destoou das demais (não somente


das aqui apresentadas, mas de todos as outras doze lidas). Observe-se
que A.C. foi o único a relacionar, de fato, o Direito com a
Sociologia, a lei com o pensamento sociológico. A lei, objeto do
Direito, tem por substrato o objeto da Sociologia. E A.C. compreendeu
isso. Enfim, ele conseguiu estabelecer a relação dada em determinado
nível entre as Ciências Sociais e as Ciências Jurídicas,
compreendendo o significado da cadeira Sociologia Jurídica.

A questão é: O curso de Sociologia Geral e Jurídica conseguiu


despertar nos alunos a criticidade, levando-os a assumirem

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verdadeiramente uma postura crítica frente a vida, postura que enseja
o desenvolvimento da "imaginação sociológica", ou não foi além de
inculcar nos mesmos a ideologia da criticidade, algo distante da
reflexão sociológica e próximo ao doutrinamento sociológico, as
formulações sociológicas apreendidas e difundidas de maneira
superficial pelo senso comum?

A.C. foi um dos dois selecionados que possuíam outros cursos


superiores e maior experiência de vida. Provavelmente já  possuía o
"raciocínio consciente", a "postura crítica" frente à vida. Sendo
assim, conseguiu interpretar o novo desafio, a tal Sociologia
Jurídica. Ou talvez ele já  viesse há muito tempo remoendo dentro de
si um complexo conteudístico que esperava apenas por uma oportunidade
para aflorar na forma de consciência sobre a realidade.

O fato é que, das dezesseis respostas lidas referentes à segunda


questão, apenas uma demonstrou verdadeira compreensão sobre a
Sociologia Jurídica, somente uma conseguiu relacionar a sociologia
com o direito. As demais, reproduziram um discurso sociológico ou
jurídico. Poucos, nem isso fizeram.

Ainda que precariamente, naturalmente pelas limitações dessa


pesquisa, podemos concluir que a quase totalidade dos estudantes de
Direito não adquire a postura crítica, mas assimila a ideologia da
criticidade, ou seja, não rompe com as evidências, não supera o modo
de pensar característico do senso comum.

Vários fatores contribuem para isso. Desde o elevado número de alunos


por sala, aos fatos de serem primeiranistas, a maioria muito novos,
saídos recentemente do segundo grau, ou, os mais velhos,
trabalhadores há  anos submetidos ao encapachante processo de
produção do capitalismo industrial, e a toda herança ideologica que
ele traz.

Mas há um elemento maior. Não podemos nos esquecer de que se trata de


um curso de Direito, e não de Sociologia, de Ciências Jurídicas, e
não Sociais, ainda que o título de Ciências Jurídicas carregue
consigo o “status” de Ciências Sociais.

Cabe aqui lembrarmos do fragmento elaborado por Peter Berger, que


inicia esse artigo. O advogado trabalha com o visível; o sociólogo,
com o invisível. O primeiro lida com o oficial; o segundo, com o não
oficial, o subterrâneo.

Dessa forma, todos os outros fatores elencados e a se elencarem, que


não contribuem para o advento da postura crítica, são secundários. O
principal diz respeito à própria natureza do curso de direito,
consolidada no século XX, a partir das formulações do teórico Hans
Kelsen, durante o século XIX. A Ciência Jurídica estrutura-se sobre
um infindável arcabouço técnico por excelência, sustentando-se no
primado da forma sobre o conteúdo, da técnica sobre as relações
sociais em si, do oficial sobre o não oficial.

Mesmo assim, o Direito precisa da Sociologia pois, como já afirmamos


anteriormente, o substrato de seu objeto é o próprio objeto da
Sociologia.

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Dessa forma, percebemos que no processo educativo a estratégia de
realização de seminários e pesquisas de campo, integrada ao conteúdo
teórico transmitido na sala de aula, é muito frutífera, mesmo que
corramos o risco de formarmos juristas com certa noção da realidade
social, ao invés de cientistas sociais instrumentalizados com o saber
jurídico.

Além disso, temos a convicção de que a experiência pedagógica,


realizada no primeiro ano na cadeira de Sociologia, incentiva o aluno
de Direito à pesquisa, e sugere o desenvolvimento de um projeto de
monografia jurídica, uma das exigências atuais na formação desse
profissional.

8
BIBLIOGRAFIA:

BERGER, Peter. Perspectivas Sociológicas: uma visão humanística.


Ed. Vozes, 6a edição, Petrópolis, 1993.

MILLS, C. Wright. A Imaginação Sociológica. Ed. Zahar, 5a.


edição, Rio de Janeiro.

PINTO, José Madureira. "Epistemologia e Didáctica da Sociologia."


In: ESTEVES, António Joaquim, STOER, Stephen R. (orgs.) A
Sociologia na Escola: Professores, Educação e Desenvolvimento.
Edições Afrontamento.

FONTES:

Questionário realizado com os primeiros anos A e B da Faculdade de


Direito Padre Anchieta, de Jundiaí, São Paulo.

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