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NOTAS SOBRE “FUNDAMENTOS DA TEORIA DOS SIGNOS”, DE

CHARLES W. MORRIS
Sylvio Allan

Refletindo o espírito intelectual de sua época de publicação (1938), «Fundamentos» se insere no projeto do
empirismo científico norte-americano de levar adiante o ideal positivista lógico de unificação das ciências sob
a tutela de uma «metaciência», aliado à tradição pragmatista na filosofia norte-americana. Publicado
originalmente sob a forma de artigo no primeiro volume da «International Encyclopedia of Unified Science»,
e posteriormente reimpresso como a primeira parte de «Writings on the General Theory of Signs» (Morris,
1971), «Fundamentos» pode ser compreendido sob diferentes aspectos. Primeiro, como uma proposta de
sistematização de uma teoria dos signos, denominada «Semiótica», caracterizada como uma ciência geral
dos processos de significação subjacentes às atividades humanas. Segundo, como um instrumento (organon)
norteador das ciências humanas e sociais, em particular (mas também com implicações para as ciências
biológicas e naturais), no que concerne à construção e refinamento dos discursos (linguagens científicas)
específicos a cada uma destas ciências, e consequentemente, para a caracterização dos seus problemas
específicos de investigação. Terceiro, como texto didático, representa uma das principais e mais influentes
introduções ao estudo da semiótica na tradição anglo-saxônica.

Podemos identificar as principais bases intelectuais deste texto na teoria triádica dos signos de Charles S.
Peirce e no behaviorismo social de George H. Mead. Do sistema semiótico peirceano, Morris assimilou
algumas referências terminológicas e lógico-filosóficas, que permaneceram no obscurantismo até a
publicação dos principais escritos de Peirce, a partir da década de 1930. De Mead, seu orientador de 1
doutorado em filosofia, Morris herdou a ênfase na interação simbólica (sígnica) como condição para a
constituição da «mente», em termos de comportamento socialmente determinado. Além disso, a formação
acadêmica de Morris na Universidade de Chicago, um dos pilares do pragmatismo, o imbuiu da perspectiva
objetiva acercada ação humana na realidade, característica deste pensamento.

A importância do estudo dos signos, como acentuada por Morris neste texto, se dá pela observação de que
todas as atividades simbólicas humanas são intrinsecamente atividades sígnicas, i.e., envolvendo processos
semióticos. Não somente os discursos e os objetos de estudo científicos se utilizam de sistemas de signos,
como a própria mente humana se expressa por ou equivale ao processo semiótico. Neste sentido, os signos
permeiam toda atividade humana e investigar o funcionamento destes sistemas sígnicos é parte crítica para
a compreensão dessas atividades. E o primeiro passo rumo a essa investigação parte da elaboração de um
«discurso semiótico, ou uma linguagem geral dos signos», pela qual a semiótica pode analisar o
funcionamento dos sistemas sígnicos em geral; incluindo, os discursos científicos e seus produtos específicos,
em particular. Em outras palavras, o discurso semiótico é tanto uma linguagem geral dos signos quanto uma
«metalinguagem» das linguagens de signos específicos.

.....

O termo «semiose» (do grego sēmeíōsis) foi proposto por Peirce para designar uma «atividade ou
processosígnico», no qual (1) «algo» que está no lugar de (2) «outro» sob (3) «certo aspecto» para
«alguém». Peirce (1960/2005) denominou (1) o «representamen», (2) o «objeto» e (3) o «interpretante».
Morris redefiniu esses termos como (1) o veículo sígnico (ou signo propriamente dito), (2) o «designatum», e
manteve (3) o «interpretante». Incluiu, ainda, o (4) «intérprete» para especificar o agente para o qual algo
funciona como um signo, uma vez que no sistema semiótico de Peirce, fundamentado numa perspectiva da
lógica, não há a referência ao intérprete, e sim, ao efeito (interpretante). No caso de Morris, que segue uma
tendência claramente mais psicológica e científica do que Peirce, o intérprete é um agente crítico para a
semiose, na medida em que interliga os três elementos sígnicos anteriores.

Morris define signo como «algo» (S) na presença do qual se tome em consideração (I) outro algo (D). Semiose
é, portanto, um processo de mediação de uma atividade (ou uma disposição para a ação), no qual algo
adquire uma função de signo. Aquilo que media a atividade é o veículo sígnico (S); a atividade é o
interpretante (I); daquilo que se toma em consideração em virtude da presença do signo é o designatum (D).
O agente de I é o intérprete. Estes três termos (S, D e I) definem relações semióticas, e não entidades ou
objetos reais. Com efeito, S somente é signo para I em relação à D; I somente é interpretante de D em
virtude da presença de S; e D somente é designatum de S para I. A distinção ente os termos é, como no caso
dos relata significante - significado de Saussure (1916/2006), meramente um artifício analítico.

Comparando esta definição de semiose com as de condicionamento respondente e operante, diríamos que
estímulo condicional (SC) e estímulo discriminativo (SD) são os veículos sígnicos (S), respondente condicional
(RC) e operante discriminado (OD) são os interpretantes, estímulo incondicional (SI) e eventos consequentes
(S+, S-) são designata. A resposta condicional de salivação do cão é um interpretante da apresentação de um
estímulo sonoro, (o veículo sígnico) que designa a apresentação de alimento (designatum), o qual elicia uma
resposta incondicional de salivação do cão (também um interpretante).A apresentação de um estímulo visual
discriminativo é o veículo sígnico para a resposta operante do rato de pressionar uma barra (interpretante)
produzir a liberação de alimento (designatum), porque o estímulo visual está correlacionado à maior
probabilidade de reforçamento da resposta pela obtenção de alimento, i.e., designa a obtenção de alimento
para a resposta de pressionar a barra. 2

Essa caracterização dos componentes semióticos como termos relacionais é importante, primeiramente,
porque a semiótica não deve se ocupar de entidades ou objetos individuais à parte da semiose, mas das
relações na semiose. Uma palavra, um gesto, um som, um conceito, uma paisagem... não são originalmente
componentes semióticos. Somente quando passam a mediar uma atividade em relação a outro algo, como
por exemplo, um gesto de acenar mediando uma interação de dois indivíduos em relação ao conceito de
saudação, se tornam parte do funcionamento semiótico enquanto signos, interpretantes e designata.
Portanto, a semiótica não se ocupa desses fenômenos isolados de um contexto semiótico. Em termos
comportamentais, poderíamos dizer que fora da semiose somente há um «universo indiferenciado».

Segundo, dissemos que signos, designata e interpretantes são relações, não entidades. Estas relações
semióticas são fenômenos reais e objetivos, embora não materiais. Designata não correspondem a objetos
específicos da realidade; signos podem aludir ao mesmo objeto, mas com diferentes designata. Isso porque
diferentes interpretantes podem ser produzidos na presença destes signos em relação a diferentes designata
do mesmo objeto. Por exemplo, «casa», enquanto objeto material, pode ser interpretado na presença de
signos visuais (e.g., uma imagem de uma casa em diferentes suportes) como uma fotografia, um filme, um
desenhoou uma imagem de síntese de uma casa. Na presença de signos sonoros (e.g., os fonemas /kaza/,
/houz/,/domus/), como uma palavra nos idiomas português, alemão e latino, respectivamente. Inclusive,
signos podem possuir designata de objetos inexistentes, como «Casa do Super-Homem», que pode ser
designado por um signo impresso (a sentença escrita), sonoro (a sentença falada) ou visual (uma imagem),
embora não exista de fato um objeto material correspondente à Casa do Super-Homem. Mesmo assim, estes
signos designam algo (i.e., possuem designata), porque intérpretes possuem uma disposição para agir diante
destes signos (i.e., interpretá-los) como relações de designação.

Nestes casos, Morris diz que signos possuem designatum, mas não denotatum. Isto é, signos podem tanto
designar quanto denotar, mas somente a designação é uma condição necessária e suficiente para o signo.
Denotata são entidades ou classes de entidades «reais», existentes. Designata são aspectos ou conjuntos de
aspectos pertinentes para signos funcionarem como signos, independentemente destes aspectos existirem
ou não.

Denonata Realidade
indiferenciada

Designata

Isso é útil para lidar com certos problemas conceituais envolvendo referentes inexistentes. Por exemplo, o
problema filosófico da referência de termos com extensão nula. Como afirmar que a sentença «Casa do
Super-Homem» significa à casa do Super-Homem de fato, se não há uma classe de coisas as quais esta
sentença pode ser aplicada? Para a semiótica, a referência desta sentença é o aspecto pertinente
(designatum) para que a sentençaseja interpretada como um signo. O signo «Casa» denota «habitação, 3
propriedade, imóvel». Mas o signo «Casa do Super-Homem» não pode denotar uma habitação, propriedade
ou imóvel pertencente a um indivíduo chamado Super-Homem porque o signo «Super-Homem» também
não denota coisa alguma. No entanto, «Casa do Super-Homem» pode designar «habitação, propriedade ou
imóvel pertencente a um super-herói kryptoniano chamado Super-Homem, cujo alter-ego é Clark Kent»
porque estes aspectos são pertinentes para que a sentença «Casa do Super-Homem» seja interpretada como
um signo.

Casa do Super-Homem

Clark Kent
habitação

Super-herói propriedade

kryptponiano imóvel

Casa

imóvel
habitação
propriedade
Do mesmo modo, signos não correspondem necessariamente a uma entidade material. Quando Morris
atribui ao signo um «veículo», ele pode estar se referindo ao suporte material com a qual o signo se
manifesta ao intérprete. No entanto, enquanto relação de designação, o signo não necessita em princípio de
um suporte material de expressão. Na tradição semiológica estruturalista, por exemplo, Hjelmslev propõe
em «Prolegômenos a uma teoria da linguagem» (1961/1975) uma distinção no «plano de expressão» do
significante(i.e., o equivalente sausssureano ao termo “significante”) entre «substância» e «forma». A forma
da expressão se refere à estrutura formal do significante, incluindo suas regras de constituição. A substância
do significante é os diversos meios materiais pelos quais o significante pode ser expresso (e.g., impresso,
vocalizado, fotografado...). A forma da expressão corresponderia ao «tipo» e a substância da expressão ao
«token». Na primeira tricotomia dos signos, elaborada por Peirce, há também uma distinção no nível do
representamen (o equivalente ao veículo sígnico) entre quali-signo, sin-signo e legi-signo. O primeiro é a
qualidade sígnica imediata (e.g., uma sensação x). O segundo é uma singularização do quali-signo (e.g., uma
sensação x causada por y). O terceiro é uma lei ou ideia geral culturalmente convencionada que relaciona o
quali-signo a todas as possibilidades de sin-signos (e.g., uma sensação x está convencionalmente associada a
todas as ocorrências de y). Como Peirce trata o representamen como conceito lógico (portanto, abstrato), ele
não se ocupa da ontologia do fenômeno associado a este conceito. Uma qualidade, um efeito e uma lei são
fenômenos reais, mas enquanto relações, não enquanto entidades materiais. É possível que Morris
caracterize o veículo do signo como expressão empírica, na uma tentativa de incorporar um caráter científico
ao seu projeto semiótico, nos moldes do positivismo lógico.

No entanto, é importante ressaltar que a natureza empírica do signo pode não ser um fato. Isso parece
importante quando lidamos com casos de percepção não-verídica (e.g., ilusões, alucinações) ou de
imaginação, nos quais os signos perceptuais não estão materialmente presentes. Imaginar a casa do Super-
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Homem, alucinar com uma paisagem no deserto ou ter a ilusão de movimento das margens de uma estrada
são interpretantes (i.e., imaginar, alucinar, ter uma ilusão) de signos inexistentes (casa do Super-Homem,
paisagem no deserto, movimento das margens de uma estrada), mas que, no entanto, produzem tais
interpretantes porque designam aspectos pertinentes de eventos, existentes ou não. Notem que, para a
semiótica, a questão de qual a natureza destes signos é irrelevante. Para ela, o fundamental é que estes
eventos, existentes ou não, são capazes de funcionar como signos e, portanto, de participar de processos
semióticos. Assim, a semiótica não estaria comprometida seja com o materialismo seja com o dualismo
ontológico, mas sim com um «pragmatismo relacional».

O que dizer do interpretante e intérprete? Se o intérprete é o agente da semiose, parece óbvio que este
corresponda a uma entidade material, seja ela orgânica ou não. Mas se considerarmos que a semiose
também ocorre em níveis macro-estruturais (como no caso das instituições sociais), se torna mais difícil
assimilar o intérprete como uma entidade individualizada. Quem é o intérprete de uma teoria científica: o
cientista ou a comunidade científica? Ou das artes em geral? Ou das políticas públicas? Acaso
empreendimentos científicos, artísticos e governamentais não são meramente sistemas de signos que
designam diferentes fenômenos (e.g., naturais, estéticos e sociais) sob diferentes interpretações (e.g.,
hipóteses, juízos de valores, planejamento de ações etc.)?

O intérprete é atual ou potencial? Por exemplo, uma língua morta é um sistema de signos, embora não exista
de fato um intérprete. Isso por que ela designa eventos, mediante regras sintáxicas «potencialmente»
capazes de serem interpretadas como tais, caso houvesse um intérprete atual. O código de trânsito, por
exemplo, é um sistema de signos para intérpretes «em potencial», porque o conjunto de regras constituinte
deste sistema leva em consideração todos os cidadãos «capazes» de interpretar o código de trânsito como
um sistema de signos, e não que «de fato» o interpretem desse modo.

Se um signo não depende de um intérprete atual para funcionar como signo, o interpretante é uma
«ocorrência discreta» (token) ou uma «disposição» (tipo)? O juízo estético se manifesta como ocorrências
discretas ou como disposições para avaliar o conceito de «belo» nos fenômenos naturais e nas obras
artísticas?Ao produzir uma obra de arte (sistema de signos),o artista leva em consideração manifestações
fatuais ou possíveis do seu público-alvo, como interpretações de sua obra? Mesmo no caso de uma obra
aberta, como as telenovelas, cuja progressão narrativa pode ser alterada segundo a reação do público, as
opções do teledramaturgo para a composição do sistema de signos devem levar em consideração efeitos
interpretantes hipotéticos, porque é sempre possível que dois espectadores atuais divirjam na interpretação
do mesmo signo. Neste caso, o teledramaturgo deve lidar com interpretações «ideais» de um público médio.

Um terceiro aspecto da definição de semiose é que ela não se compromete com «psicologismos» na
justificação de processos semióticos a partir de experiências subjetivas (privadas). A semiótica de Morris não
refuta ou defende experiências subjetivas do signo; no entanto, ela considera dispensáveis análises
semióticas justificadas nessas experiências, na medida em que estas não são causalmente relevantes para o
processo semiótico.Por isso Morris evita incorporar o conceito de «significado» ao discurso semiótico, já que
este conceito é historicamente fundamentado numa concepção mentalista. Diz-se que o significado de algo é
um conceito mental inacessível à observação exterior, mas acessível à experiência subjetiva e, somente por
mediação sígnica, compartilhado com outros indivíduos. Morris analisa o termo «experiência» como um
conceito «relacional», e não uma «pseudo-coisa», no sentido de que «eu tenho uma experiência x» não
significa que eu estou numa condição especial com algo que é uma experiência x, mas que eu estou numa
«relação de experiência» (RE) com algo que é x. E RE implica em responder de modos adequados às 5
propriedades de x. Se o responderessas propriedades é direto, a experiência é «direta»; senão, é «indireta».
Portanto, o interpretante é uma experiência indireta com as propriedades pertinentes do designatum, mas
uma experiência direta com o signo. Se a experiência que eu mantenho com x é ocasional, sendo possível
que outro intérprete mantenha uma relação de experiência com x, a experiênciaé «factualmente subjetiva».
Se é impossível que outro intérprete mantenha uma experiência com x, dada restrições da natureza, a
experiência é «intrinsecamente subjetiva». Se outros intérpretes mantêm uma experiência com x, a
experiência é «factualmente intersubjetiva». E se é possível outros intérpretes manter em uma experiência
com x, a experiência é «intrinsecamente intersubjetiva». Mesmo que dois ou mais intérpretes não possam
ter exatamente a mesma experiência com x, isto não significa que não possam ter uma experiência direta
com x ou que um não possa interpretar (por meio de signos) a experiência direta do outro com x.Basta que
um determine as interpretações do outro na presença de x e interprete do mesmo modo a x. O importante é
que a análise semiótica do significado (incluindo, da subjetividade da experiência semiótica) deve levar em
conta os modos de responder aos signos, e estes são passíveis de descrição objetiva.

...............

Talvez o ponto mais importante de “Fundamentos” seja a classificação dos níveis de relação dos
componentes semióticos (veículo sígnico, designatum, interpretante),das dimensões semióticas derivadas
desses níveis (sintática, semântica, pragmática) e das subdisciplinas correspondentes a essas dimensões
(sintaxe, semântica, pragmática). Tomando como modelo a taxonomia semiótica de Peirce a partir de
diversas combinações entre os componentes semióticos (representamen, objeto e interpretante) e as
categorias fenomenológicas (primeiridade, secundidade,terceiridade), Morris propôs três possíveis níveis
semióticos. O primeiro consiste na relação formal entre os veículos sígnicos. Esta dimensão é denominada
«dimensão sintática da semiose» e a disciplina correspondente a esta dimensão é denominada «sintaxe». O
segundo nível consiste na relação dos veículos sígnicos com seus denotata. Esta dimensão é denominada
«dimensão semântica da semiose» e a disciplina correspondente a esta dimensão é denominada
«semântica». Finalmente, o terceiro nível consiste na relação dos veículos sígnicos com seus
interpretantes/intérpretes. Esta dimensão é denominada «dimensão pragmática da semiose» e a disciplina
correspondente a esta dimensão é denominada «pragmática».

Cada uma das disciplinas semióticas é irredutível às demais no que concerne à perspectiva dada à semiose;
assim como, cada qual deve formular uma linguagem, um método e problemas próprios e específicos a tal
perspectiva. No entanto, estas disciplinas são interdependentes na compreensão da semiose enquanto um
processo geral de significação, pois a semiose não é ontológica ou epistemologicamente redutível à sua
dimensão sintática, semântica ou pragmática. A sintaxe estuda as possíveis relações entre os signos, mas de
nada adianta isso para a compreensão da semiose se não considerarmos a «denotação» como função
intrínseca do signo, i.e., a condição de signos estarem no lugar de outro algo. Mas a denotação é sempre algo
no lugar de outro algo «para alguém», i.e., é o produto de uma interpretação. Do mesmo modo, a semântica
estuda as condições nas quais os signos podem designar eventos e objetos,mas isto implica no conhecimento
das regras de constituição dos signos e dos possíveis modos de interpretação. Finalmente, a pragmática
identifica os efeitos da significação sobre a conduta dos intérpretes,mas depende dos parâmetros formais e
das condições de denotação sob os quais se dão estes efeitos. Ainda mais, termos como «signo»,
«designatum», «interpretante», «semiose», «sintaxe», «semântica» e «pragmática» não são conceitos
sintáticos, semânticos ou pragmáticos; mas semióticos. Quer dizer, embora os discursos sintático, semântico
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e pragmático sejam necessários para a construção de um corpus de conhecimentos legítimos acerca da
dimensão semiótica correspondente, eles são insuficientes para justificar a si mesmas enquanto ciências
semióticas e seus níveis de análise enquanto dimensão semiótica. Neste sentido, a semiótica é uma ciência
que deve, por um lado, fornecer uma linguagem especializada e uma teoria geral sobre os signos para a
aplicação nas correspondentes dimensões semióticas; por outro lado, deve combinar os resultados das
investigações de suas subdisciplinas para uma compreensão geral da significação.

A relação entre sintaxe, semântica e pragmática está para a semiótica assim como, por exemplo, a relação
entre álgebra, aritmética e geometria para a matemática; ou entre citologia, anatomia e fisiologia para a
biologia. Isto é, cada uma dessas disciplinas é um ramo de investigação legítimo e irredutível, mas oferece
cada qual apenas uma perspectiva dos objetos que a matemática ou a biologia buscam conhecer.

A sintaxe é das três disciplinas semióticas a mais antiga e a mais desenvolvida, principalmente, pelas
contribuições da lógica (clássica e formal), da matemática e da linguística. É constituída por um ramo voltado
para o estudo da estrutura lógico-gramatical dos sistemas formais (sintaxe lógica ou pura) e outro voltado
para as estruturas dos sistemas informais (sintaxe empírica ou descritiva). Por exemplo, a sintaxe lógica deve
ocupar-se das linguagens da ciência, enquanto a sintaxe empírica deve ocupar-se da percepção, da estética e
das linguagens naturais. Segundo a sintaxe, por linguagem entenda-se um sistema de signos correlacionados
entre si por «regras sintáticas», a saber, «regras de formação» (combinações independentes e possíveis
entre os elementos do sistema) e «regras de transformação» (combinações de combinações de elementos
do sistema). Neste caso, a sintaxe lógica desconsidera as propriedades particulares dos veículos sígnicos,
concentrando-se apenas nas suas possíveis combinações formais. As correlações formais entre os signos
determinam a «estrutura sintática» dos sistemas de significação (ou «linguagens»). Na verdade, tais
correlações equivalem às combinações de respostas dadas pelos intérpretes aos veículos sígnicos. Sejam S1 e
S2 dois signos que designam o mesmo objeto Ds (designatum) para I (interpretante), os processos semióticos
envolvendo as relações S1 – Ds – I e S2 – Ds – I são equivalentes (e.g., sinonímia) porque certos parâmetros
pragmáticos determinaram as possíveis permutações sintáticas entre S1 e S2. O que a sintaxe lógica faz é
converter estes parâmetros em regras formais. Por isso dissemos que o interpretante corresponde menos à
ocorrências discretas do que disposições.

Considerando a estrutura sintática da linguagem, os signos podem variar quanto ao grau de especificidade
do objeto designado e da expectativa de interpretação. Signos «indéxicos» (índices) podem designar objetos
singulares, como o gesto de apontar ou pronome demonstrativo «este». Equivalem à categoria do sin-signo
na taxonomia de Peirce. Signos «caracterizadores» podem designar objetos com ampla extensão, como o
substantivo “homem”. Equivalem à categoria do legi-signo na taxonomia de Peirce. Signos «universais»
podem designar qualquer coisa, como o pronome relativo «algo». Índices produzem menor expectativa
acerca do objeto designado do que caracterizadores, assim como universais produzem expectativas quase
nulas acerca do objeto designado. Embora signos universais tenham a vantagem de maior abrangência de
designação, são pouco úteis para os sistemas formais, porque geram ambiguidades. Neste caso, são mais
comumente utilizados nas linguagens naturais. Por outro lado, linguagens simbólicas, como a lógica e a
matemática, utilizam frequentemente combinações de índices e caracterizadores, dadas as vantagens de
especificação de um e de expectativa do outro. Existe ainda uma categoria especial de signos que funcionam
como «especificadores das relações entre signos». Exemplos disso são os prefixos (e.g., anti-matéria, pré-
nupcial, anônimo),sufixos (e.g., lentamente, legislador, doente), as desinências (e.g., canto, menina,
comendo), as posições dos termos (e.g., meusigno especial antecedente amigosigno dominante americanosigno especial consequente),
os sinais de pontuação e de acentuação, os parênteses, a fonte e tamanho dos caracteres... Na língua falada,
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tem-se as pausas, a entonação e a ênfase. Estes signos especiais são constituintes de uma «metalinguagem»,
funcionando, como «metasignos»; não se confundem, portanto, com os signos constituintes da linguagem
aludida pela metalinguagem.

A semântica é a ciência semiótica que estuda as relações entre os signos e seus denotata. Em outras
palavras, a semântica se ocupa das condições de denotação dos signos. Ela busca tanto formular um discurso
e uma teoria semântica (semântica pura) quanto avaliar as condições semânticas aplicadas aos sistemas
semióticos (semântica descritiva).As primeiras contribuições para a semântica foram dadas pela linguística
(voltada para as condições de uso de termos concretos), pela gramática filosófica (que buscou identificar
correlações linguísticas na natureza) e pelo empirismo clássico (que estudou as condições de designação dos
signos linguísticos). No entanto, Morris considera que a semântica se desenvolveu pouco em termos de
estudo experimental e de discurso. Acredita que o behaviorismo possa oferecer avanços no primeiro
aspecto. Quanto ao segundo, destaca as contribuições de Carnap e Reichenbach em analisar a relação de
designação de estruturas linguísticas formais, e de Tarski, ao definir formalmente certos conceitos capitais
para o discurso semântico.

A semântica propõe que as condições de aplicação de signos a objetos ou eventos são determinadas por
«regras semânticas». Tais regras não são propriamente prescrições arbitrárias dos usuários de uma
linguagem, pois dependem mais de hábitos dos usuários (imaginem, por exemplo, as dificuldades de se
formular regras explícitas para o uso de pronomes relativos sem se pautar em atividades cotidianas).
Portanto, regras semânticas (e sintáticas) operam em um nível restrito de possibilidades.
Uma regra semântica especifica que um signo S denota x, sob condições p. Qualquer x que satisfaça p é
denotado por S. Apontar, por exemplo, é um índice que designa aquilo para o que se aponta (ou para o que
se atrai a atenção), sob quaisquer condições. O índice não se confunde com seu denotatum, nem o
caracteriza; apenas especifica a orientação espaço-temporal do denotatum. Um signo caracterizador, por
outro lado, especifica o denotatum, seja por ambos compartilharem as mesmas propriedades (no caso dos
signos icônicos), seja porque (no caso do símbolo) o denotatum pertence a uma classe de objetos que
funcionam como ícones para outros denotata. Assim, regras semânticas determinam como signos
caracterizadores (ícones ou símbolos) devem ser aplicados. No caso de orações (e.g., «este cavalo é
branco»), as regras semânticas determinam que índices («este») e caracterizadores («cavalo», «é»,
«branco») compartilhem o mesmo designatum (a proposição de que o cavalo é branco) e,
consequentemente, o mesmo denotatum, quando este satisfizer a regra.

Um problema clássico para a semântica trata da relação isomórfica entre linguagem e realidade. Isto é, a tese
de que existem correspondências formais entre a linguagem e os objetos ou eventos não-linguísticos. Uma
variante dessa tese incorpora a mediação dessa correspondência por representações mentais. Morris afirma
que o problema dessa questão está em desconsiderar em qual nível lógico os designata se encontram: alguns
designata (e, às vezes denotata) estão relacionados a signos pertencentes a um discurso propriamente
semântico, portanto, denotativo. Outros designata estão relacionados a signos pertencentes a um discurso
propriamente semiótico, portanto, metalinguístico; neste caso, tais signos não denotam entidades, mas
designam «relações semânticas entre signos». São equiparáveis aos signos especiais que discutimos acerca
da sintaxe, os quais implicam em relações sintáticas entre signos. O termo «não», por exemplo, na sentença
«O cavalo não é branco» não é um signo que denota «não-branco»; é um signo que designa uma operação
lógica sobre os signos «é» e «branco»; «é» também é um signo especial, designando uma operação lógica
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sobre o signo «branco»; e «branco» é um signo que designa (e pode denotar) um objeto branco. Quer dizer,
«o», «não» e «é» são signos metalinguísticos (pertinentes ao discurso semiótico), enquanto que «cavalo» e
«branco» são signos denotativos (pertinentes ao discurso semântico). Existem ainda casos de signos
especiais que especificam o comportamento dos intérpretes aos signos. Os sufixos «-vel», «-iço» e «-ício»,
por exemplo, designam a possibilidade de o intérprete praticar ou sofrer uma ação, como em «louvável»
(que pode ser louvado), «sensível» (que pode ser sensibilizado), «movediço» (que pode se mover) e
«fictício» (que pode ser falso). Nestes casos, tais signos possuem uma dimensão semântica (embora aludam
a fatores pragmáticos), mas não dentro de um discurso propriamente semântico, e sim, dentro de um
discurso semiótico. Parece óbvio deduzir que o erro é tratar signos como «o», «não», «é», «-vel», «-iço» e «-
ício» como pertences à mesma categoria lógica de signos como «cavalo», «branco», «louvável», «sensível»,
«movediço» e «fictício»; consequentemente, de tentar identificar correspondência formal dos primeiros
termos com objetos não-linguísticos.

A «pragmática» foi cunhada do «pragmatismo» (Peirce, James, Dewey e Mead, dentre outros), no que esta
concerne à consideração dos aspectos práticos das relações entre os usuários e a linguagem e o
conhecimento científicos. A pragmática, no entanto, se ocupa também de outras relações entre os
intérpretes e os signos (que não apenas o discurso científico), destacando os aspectos «bióticos»
(psicológicos, biológicos e sociológicos) da semiose. Engloba tanto a formulação de uma teoria e linguagem
acerca da dimensão pragmática da semiose (pragmática pura) quanto à aplicação da teoria e linguagem
pragmáticas aos casos específicos (pragmática descritiva). As bases da pragmática podem ser remontadas à
retórica, lógica e filosofia da mente. «Da Interpretação» (Aristóteles), por exemplo, estabeleceu os
fundamentos da teoria semiótica: (1) a caracterização do intérprete do signo como «mente» e do
interpretante como «conceito ou juízo»; (2) a atribuição à mente da função de assimilar conceitos acerca dos
objetos e de suas propriedades e; (3) à linguagem verbal da função de representar estes conceitos; (4) a
natureza arbitrária e cultural dos signos linguísticos; (5) a correspondência das relações entre signos
linguísticos com as relações entre conceitos (e entre objetos e propriedades designados por estes
conceitos).As contribuições do pragmatismo para a pragmática se deram pela: (1) caracterização do
intérprete do signo como um «organismo», e do interpretante como«hábito de responder, na presença de
signos, a objetos ausentes»; (2) definição da semiose como processo de considerar as propriedades
relevantes de objetos ausentes por intermédio de objetos presentes (signos).

A dimensão pragmática da semiose também é determinada por regras correspondentes (regras


pragmáticas). Então o funcionamento de sistemas de significação, numa perspectiva semiótica, depende da
combinação de regras sintáticas, semânticas e pragmáticas. Regras pragmáticas especificam as condições sob
as quais o intérprete possui certos hábitos na presença de veículos sígnicos. Quer dizer, especificam classes
de respostas. O interpretante de índices é, por exemplo, atentar para certa situação. O interpretante de
ícones e símbolos é criar expectativas em relação à certa situação. O interpretante de uma oração (na
dimensão sintática) ou de uma proposição (na dimensão semântica) é um juízo. O interpretante dos atos de
fala é aquilo que os atos de fala realizam.

A linguagem verbal, numa dimensão pragmática, é um sistema de signos linguísticos que media classes de
respostas de indivíduos pertencentes ao mesmo grupo social, sob condições socialmente especificadas. A
compreensão da linguagem verbal é responder adequadamente às regras sintáticas, semânticas e
pragmáticas do seu uso em dado grupo social. Notem que esta definição de Morris para a linguagem verbal
antecede em uma década «O conceito de mente», de Ryle, em uma década e meia as «Investigações
filosóficas», de Wittgenstein, e em duas décadas o «Comportamento verbal», de Skinner, as três obras
também propondo definições de linguagem verbal pautadas no desempenho de falantes mediado 9
socialmente. Possivelmente, a influência behaviorista nesta definição de Morris venha da análise de George
Mead sobre o comportamento simbólico em «Mente, Self e Sociedade» (1934) e «Filosofia do ato» (1938),
ambos trabalhos contemporâneos à «Fundamentos». Embora uma definição similar já tivesse sido anunciada
por Ferdinand de Saussure no início do século XX, a influência da semiologia estruturalista de Saussure
permaneceu restrita aos campos da linguística e da teoria literária (com exceção da antropologia
estruturalista de Lévi-Strauss, na década de 1920) até o advento da semiologia francófona com Roland
Barthes na década de 1960. Como Morris não cita Saussure em «Fundamentos», podemos considerar que a
semelhança entre as definições de linguagem verbal é mera coincidência.

...............

Um último aspecto de «Fundamentos» que vale a pena destacar trata da «generalidade» dos signos, i.e., da
extensão à qual os signos podem ser aplicados. Retomando a distinção entre sin-signo e legi-signo, que são
um particular ou uma regra, respectivamente, Morris afirma que todo veículo sígnico é um particular (um
sin-signo), pois o funcionamento da semiose tem um interpretante específico determinado pela presença
deste signo. No entanto, o mesmo signo possui generalidade (i.e., um legi-signo), na medida em que ele é
membro de uma classe de objetos capazes de exercer a mesma função sígnica, i.e., de funcionarem como
signos para o mesmo interpretante. Por isso as propriedades individuais do veiculo sígnico são irrelevantes
para o processo semiótico; o relevante é a função que este assume neste processo.

A generalidade e particularidade do signo podem, sim, depender de variações, tanto quantitativas quanto
qualitativas, nas suas propriedades formais. Poder-se-ia denominar «generalidade» aquelas propriedades
comuns aos veículos sígnicos que são relevantes para que estes exerçam a mesma função sígnica; e
«particularidade», aquelas propriedades específicas a um veículo sígnico individual relevantes para que este
(e não outro) exerça uma função sígnica específica. O estilo e o tamanho da fonte de caracteres impressos, o
timbre e a entonação de um som, a intensidade e a frequência de onda de uma fonte luminosa podem variar
entre os objetos de modo a serem interpretados como mais ou menos relevantes para o funcionamento
semiótico. Os limites dessas variações talvez possam ser esclarecidos por métodos experimentais. Mas sua
utilidade prática é indiscutível. Um historiador da arte, como Heinrich Wolfflin, por exemplo, buscará
identificar propriedades «estéticas» gerais em um conjunto de obras de arte (veículos sígnicos) que lhe
permitam categorizá-las (interpretante) como pertinentes a uma tradição clássica na pintura e arquitetura,
como a «linearidade» (delineamento claramente definido) das figuras e formas, a «planificação»
(distribuição em camadas planas) dos temas, o «fechamento» e «equilíbrio» dos elementos em torno de um
eixo central, e a «pluralidade» de figuras autônomas em um conjunto. Ao mesmo tempo, ele identificará
limites nos quais estas propriedades são particulares em relação a outras, como a «pictorialidade» (a não
delimitação) das figuras e formas, a disposição dos temas em «profundidade», a «abertura» e
«instabilidade» dos elementos em relação a um eixo central, e a «unidade» composicional dos elementos em
relação ao conjunto, que o levam a interpretar como pertinentes a uma tradição barroca.

«Generalidade» e «particularidade» são termos semânticos, já que tratam de relações entre signos e
denotata. Não obstante, é possível se identificar aspectos de particularidade e generalidade dos signos em
cada uma das dimensões semióticas.Na dimensão sintática, veículos sígnicos podem ser combinados de
modos particulares (e.g., 23 = 8; ácido + doce = agridoce;p ↔~q), mas que podem ser generalizados para
outras combinações (e.g., 23 = 2 x 2 x 2 = 8; agridoce = acridoce = acidulce = acridulce = ácido + doce; p v q,
~p ∴ q). A particularidade e generalidade, nesses casos, estão nas regras de formação e transformação
sintática, não nas propriedades dos veículos sígnicos.
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Na dimensão semântica, um signo é um particular quando pode denotar um objeto ou situação (e.g.,
«Aquiles»), e é um geral quando pode denotar vários (e.g., «troianos») ou quaisquer objetos ou situações
(e.g., «ser»). Do mesmo modo, um objeto ou uma situação é um particular quando pode ser denotado por
um signo (e.g., o assassino de Heitor), e é um geral quando uma classe de objetos ou situações pode ser
denotada pelo mesmo signo (e.g., classe dos homens nascidos em Troia, e dos seres).

Na dimensão pragmática, um interpretante é um particular quando uma expectativa pode ser satisfeita pela
designação de um objeto ou situação específicos, na presença de um veículo sígnico (e.g.,parar o carro
diante da luz vermelha do semáforo). Quando expectativas similares podem ser satisfeitas pela denotação de
classes de objetos ou situações, na presença de classes de veículos sígnicos, o interpretante é um geral.

Na semiologia estruturalista de Saussure, particularidade e generalidade podem ser traduzidos em termos de


«eixos» ou relações sintáticas entre os signos: o eixo «sintagmático» indica que signos linguísticos podem ser
combinados em uma «vetorialidade» específica, dada pelas regras sociais subjacentes a um idioma. No caso
da língua portuguesa, a ordenação de artigos e pronomes possessivos antecedendo substantivos, e de verbos
sucedendo substantivos, se dão num vetor horizontal, no qual cada termo deve ser disposto um seguido do
outro (e.g., [o] [meu] cavalo fala). A particularidade destes signos está na exigência de que sua posição no
eixo sintagmático seja preservada para que as regras gramaticais da língua portuguesa sejam seguidas. O
eixo «associativo» (ou paradigmático) indica que os signos linguísticos são comutáveis, podendo ser
substituídos por outros, segundo as mesmas regras sociais determinantes das relações sintagmáticas, desde
que os signos ocupem as mesmas posições (e apenas um por vez) daqueles os quais eles vêm a substituir. A
generalidade de «[o] [meu] cavalo fala» está na possibilidade de um falante da língua portuguesa selecionar,
segundo seu repertório linguístico, outros termos membros da classe dos artigos para substituir «o», outros
termos membros da classe dos pronomes possessivos para substituir «meu», outros termos da classe dos
substantivos para substituir «cavalo» e outros termos membros da classe dos verbos para substituir «fala». A
substituição pode se dar tanto em termos de similaridade de sentidos (sinonímia), como «corcel» ou
«pangaré» no lugar de «cavalo»; «verbaliza» ou «oraliza» no lugar de «fala»; de semelhança formal ou
fonética (paronímia), como «ô», no lugar de «o»; «teu» no lugar de «meu»; «carvalho», no lugar de
«cavalo», «cala», no lugar de «fala»; de diferença de sentidos (antonímia), como «os», no lugar de «o»;
«minha», no lugar de «meu»; «cachorro», no lugar de «cavalo»; «dorme», no lugar de «fala». Percebam que
relações sintagmáticas e associativas podem designar relações sígnicas nas três dimensões semióticas de
Morris: implicam em combinações sintagmáticas e associativas entre signos linguísticos (dimensão sintática),
designam objetos pela comutação de signos linguísticos (dimensão semântica), expressam modos como as
comunidades verbais organizam signos linguísticos em um discurso (dimensão pragmática).

Veja, portanto, que quando falamos em particularidade e generalidade, podemos estar nos referindo à
forma do veículo sígnico, às combinações de veículos sígnicos, às denotações de objetos ou situações, às
expectativas acerca de denotações. Ainda é possível se falar em generalidade da «ação social» quanto ao
compartilhamento de signos entre membros do mesmo grupo social, como no caso das práticas culturais. Em
todos esses casos, contudo, Morris enfatiza que não há entidades às quais podemos atribuir particularidade
ou generalidade. Estes não são «termos-objetos», embora algumas vezes possam ser traduzidos para a
linguagem-objeto como se referindo a entidades. Mas, dentro de um discurso semiótico, particularidade e
generalidade são conceitos «relacionais» e, portanto, são fenômenos tão objetivos e reais quanto à própria
semiose.
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Referências

Hjelmslev, L. (1975). Prolegômenos a uma teoria da linguagem(pp. 53-64). Tradução de J. Teixeira Coelho
Netto. Coleção Estudo. São Paulo: Perspectiva. Originalmente publicado em 1961.

Mead, G. H. (1934). Mind, Self, and Society. Editado por Charles W. Morris. University of Chicago Press.

Mead, G. H. (1938).The Philosophy of the Act. Editado por Charles W. Morris et al. University of Chicago
Press.

Morris, C. W. (1938). «Foundations of the Theory of Signs.» EmWritings on the General Theory of Signs, pp.
13-71.The Hague: Mouton. Originalmente publicado em 1938.

Peirce, C. S. (2005). Semiótica (pp. 45-62). Em Charles Hartshorne e Paul Weiss (orgs.), The collected papers
of Charles Sanders Peirce. Tradução de J.Teixeira Coelho Netto. Coleção Estudo. São Paulo:
Perspectiva. Originalmente publicado em 1960.

Saussure, F. (2006). Curso de linguística geral (pp. 142-147). Organizado por Charles Bally e Albert
Sechehaye, e Albert Riedlinger (colaborador). Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Isodoro
Bilkstein. São Paulo: Cultrix. Originalmente publicado em 1916.
Questões para reflexão:

1) Charles Morris elaborou um projeto de semiótica como uma ciência dos signos que, segundo ele,
permitiria a unificação das ciências humanas e sociais, a partir de uma teoria e uma linguagem geral acerca
dos discursos e objetos de estudo científicos. Quais contribuições para a análise do comportamento
poderíamos derivar do projeto semiótico de Morris?

2) A semiótica de Morris é fundamentada em um modelo de behaviorismo científico que enfatiza as relações


entre o comportamento e seu contexto social. Poderíamos dizer que a semiótica de Morris é um projeto de
ciência do comportamento, na medida em que Morris entende comportamento como ação simbólica regida
por sistemas de significação. No entanto, a análise do comportamento, enquanto proposta melhor delineada
até o momento de uma ciência do comportamento, ainda não se estabeleceu como uma disciplina autônoma
em relação à psicologia. A semiótica comportamental de Morris poderia representar um caminho para que a
análise do comportamento atingisse esta autonomia?

3) Vários termos e processos semióticos apresentados por Morris possuem correlatos no discurso analítico-
comportamental. No entanto, o quadro conceitual da análise do comportamento tem sido aplicado a um
espectro de fenômenos comportamentais mais restritos do que aqueles sobre os quais a semiótica se
debruça. Isso implica que a análise do comportamento pode (e deve) assimilar elementos do discurso
semiótico, caso deseje ampliar seu escopo de investigação?

4) A análise do comportamento tem destacado o papel das consequências do comportamento como critério
para o funcionamento do processo comportamental. Em termos semióticos, poderíamos dizer que a análise
do comportamento acentua os aspectos «pragmáticos» deste processo. Se considerarmos o processo
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comportamento um processo semiótico, não seria a análise do comportamento uma disciplina restrita a uma
dimensão do processo comportamental, i.e., à dimensão pragmática do comportamento? Neste sentido, não
seria a análise do comportamento limitada na tentativa de uma investigação do processo comportamental
como um todo, assim como Morris afirma que sintaxe, semântica e pragmática são disciplinas que lidam
apenas com dimensões semióticas, mas não dão conta do processo semiótico como um todo? Nesse caso, a
análise do comportamento deveria aceitar sua limitação explicativa deste processo ou almejar se tornar uma
ciência geral do comportamento?

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